2º TRIMESTRE 2021
AMINOÁCIDOS FUNCIONAIS
E A SUA CORRELAÇÃO COM O SISTEMA IMUNE p. 18 Alícia Zem Fraga
Uma visão técnica e inovadora da suinocultura nacional.
suinobrasil.porcino.info /suínobrasil
04
Boas práticas de biosseguridade em granjas comerciais de suínos
18
Alicia Zem Fraga
Thamires Allue Dantas
Zootecnista, Universidade Federal de Viçosa Mestre em Zootecnia, Universidade Estadual Paulista (UNESP) campus de Jaboticabal Doutoranda em Zootecnia, UNESP, campus de Jaboticabal e L’institut national de recherche pour l’agriculture, l’alimentation et l’environnement (INRAE)
Médica veterinária Mestre em ciências veterinárias
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Uso racional de antimicrobianos na suinocultura Jéssica Aparecida Barbosa Médica Veterinária; MsC em Nutrição e Produção de Monogástricos e Doutoranda em Produção e Nutrição de Suínos
Aminoácidos funcionais e a sua correlação com o sistema imune
28
IN 113 e suas implicações sobre a suinocultura nacional Osmar Antônio Dalla Costa Pesquisador Embrapa Suínos e Aves
suinobrasil.porcino.info 1 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021
34
40
Explorando o desenvolvimento da disenteria suína
46
Plano Brasil Livre da Peste Suína Clássica em ação
Roberto Guedes
Cândida Azevedo
Universidade Federal de Minas Gerais
Zootecnista, MsC Zootecnia, Doutoranda em Ciência Animal e Pastagens e Editora Grupo de Comunicação AgriNews
Guilherme Takeda
Como o balanço eletrolítico em fêmeas periparto afeta a produtividade das matrizes? Cesar Augusto Pospissil Garbossa¹ e Leonardo da Silva Fonseca²
(Chefe da Divisão de Sanidade dos Suídeos/ CAT/CGSA/DSA/SDA e auditor fiscal agropecuário do DSA)
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¹Professor na área de Nutrição e Produção de Suínos da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo ²Professor na área de Suinocultura, Bioclimatologia e Bem-Estar Animal da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
Micoplasmose em suínos entendendo a dinâmica da infecção a partir de uma perspectiva de multicausalidade MV, MSc, DSc. Nathalia María del Pilar Correa Valencia
60
Desafio do brasil contra a entrada da peste suína africana Carlos Alberto Magioli Médico Veterinário Auditor Fiscal Federal Agropecuário
66
Enfrentando o desafio do manejo de transição Victor Fernández Segundo Veterinário no Departamento de Produção VALL COMPANYS SA.
2 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021
CADEIA PRODUTIVA DE SUÍNOS EM FOCO
A
suinocultura é uma atividade consolidada e em franca expansão no Brasil. O ano de 2021 promete ser um ano desafiador para os suinocultores, tendo em vista que as margens de lucro vêm se reduzindo consideravelmente nos últimos meses e, para a sustentabilidade da cadeia, é necessário adotar uma postura profissional, baseada na gestão da propriedade. Ao mesmo tempo, é necessário manter-se atualizado nos avanços da cadeia suinícola. O conhecimento das principais doenças que acometem o suíno, bem como os avanços em tecnologias, nutrição, genética, manejo e legislação da cadeia, são hoje o diferencial de produtores e técnicos de campo envolvidos na atividade, uma vez que a suinocultura nacional está inserida num cenário global que demanda este tipo de posicionamento. E pensando na evolução da suinocultura nacional, chega a 2ª Edição da Revista SuínoBrasil. Esta edição conta com a colaboração de grandes pesquisadores do setor, para explorar temas nas áreas de Patologia, Nutrição, Manejo, Biosseguridade, Sanidade, Bem-estar animal e Controle Sanitário. E nesta segunda edição trazemos como capa o artigo da Doutoranda em Zootecnia, UNESP, campus de Jaboticabal e L’institut National de Recherche pour l’agriculture, l’alimentation et l’environnement (INRAE), Alicia Zem Fraga. Nele a Zootecnista elucida como a formulação de dietas que visam atender às necessidades nutricionais específicas conforme o estado de saúde do animal pode atenuar os efeitos negativos do desafio sanitário. Tendo em vista que o principal objetivo da suinocultura moderna é a maior rentabilidade do sistema de produção, e sabendo que a saúde animal está diretamente relacionada aos resultados obtidos, têm-se dado maior atenção à sanidade dos rebanhos, e a Médica
Veterinária e Mestre em Zootecnia, Thamires Allue Dantas, aborda as “Boas práticas de biosseguridade em granjas comerciais de suínos”. E, atrelada à preocupação com a sanidade do rebanho, há uma crescente demanda para reduzir a utilização de antibióticos, de forma a permitir o desenvolvimento de sistemas sustentáveis de produção animal. A Médica Veterinária Mestre e Doutoranda (UFLA), Jéssica Barbosa, aborda as diretrizes reforçando a importância da desaceleração da resistência antimicrobiana e o conceito de saúde única na produção de suínos. Além destes destaques, esta edição conta com a colaboração dos Professores Dr. César Augusto Pospissil Garbossa (FMVZ/USP) e Leonardo da Silva Fonseca (UFVJM) com o artigo “Como o balanço eletrolítico em fêmeas periparto afeta a produtividade das matrizes?”. E, também, o Professor Dr. Roberto Guedes (UFMG) com o artigo “Explorando o desenvolvimento da disenteria suína”. E para finalizar, a EMBRAPA Suínos e Aves está presente em mais uma edição, desta vez em uma entrevista especial com o Pesquisador em Bem-estar Animal Dr. Osmar Dalla Costa, esclarecendo as novas regras da IN 113 que estabelece as boas práticas de manejo e bem-estar animal nas granjas de suínos de criação comercial. E os profissionais do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), o Médico Veterinário Guilherme Takeda, Chefe da Divisão de Sanidade dos Suídeos, traz atualizações sobre o “Plano Estratégico Brasil Livre da PSC”; e o Médico Veterinário e Auditor Fiscal Federal Agropecuário, Carlos Alberto Magioli, apresenta o “Desafio do Brasil contra a entrada da PSA”, ambos ressaltando o papel fundamental exercido pelos profissionais do órgão na manutenção do controle sanitário do rebanho nacional, que garante ao Brasil posição de destaque na suinocultura global.
EDITOR GRUPO DE COMUNICACIÓN AGRINEWS S.L.
PUBLICIDADE Cândida P. F. Azevedo +55 (19) 99195-8144 suinobrasil@grupoagrinews.com
Luis Carrasco +34 605 09 05 13 lc@agrinews.es REDAÇÃO Cândida P. F. Azevedo ADMINISTRAÇÃO Inés Navarro Tel: +17866697313 info@grupoagrinews.com www.suinobrasil.com Preço da assinatura anual: Brasil 30 $ Extranjero 90 $
Boa leitura!
3 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021
BOAS PRÁTICAS DE
BIOSSEGURIDADE EM
GRANJAS COMERCIAIS DE SUÍNOS Thamires Allue Dantas - Médica veterinária Mestre em ciências veterinárias
biosseguridade
XXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXíXXX
T
endo visto como principal objetivo da suinocultura moderna a maior rentabilidade do sistema de produção, e sabendo que
a saúde animal está diretamente relacionada
Além disso, a prevenção
aos resultados obtidos, têm-se dado maior
também é importante para a
atenção à sanidade dos rebanhos. Mais do que
segurança alimentar e saúde
tratar enfermidades, a prevenção de doenças é
pública quando se trata de
importante tanto para o bem-estar animal quanto
patógenos zoonóticos.
para a produtividade econômica.
4 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Boas práticas de biosseguridade em granjas comerciais de suínos
Somado a isso, a percepção de que a relação entre saúde e biosseguridade estão altamente relacionadas tem aumentado nos últimos anos com o surgimento e reemergência de diversas doenças de difícil controle, como a disseminação do vírus da diarreia epidêmica suína nas Américas ou do vírus da peste suína africana (PSA) na Europa e na Ásia (ROWLANDS et al., 2008; STEVENSON
et al., 2013; ZHOU et al., 2018). E como resultado, o conceito e a percepção das doenças mudaram do indivíduo para a granja e, da granja para a região. Sendo assim, manter as doenças afastadas é um dos elementoschave na produção animal.
Uma vez garantida as medidas internas, deve-se impedir a entrada de possíveis agentes infecciosos no sitio de produção, e
biosseguridade
para isso, são necessárias: medidas de controle de acesso de pessoas e veículos, A biosseguridade pode ser definida como a aplicação de medidas
realização de quarentena para a introdução de novos animais,
que visam reduzir a probabilidade de
garantia de qualidade do sêmen,
introdução e disseminação de patógenos,
alimentos e água e
sendo o principal objetivo evitar a transmissão, seja entre ou dentro do sistema de produção (ALARCÓN; ALBERTO;
MATEU, 2021). Dentre as medidas internas a serem tomadas podem ser citadas medidas relativas à:
isolamento de outras unidades de produção a fim de minimizar a transmissão pelo ar (ALARCÓN;
ALBERTO; MATEU, 2021). MAGALHÃES e MAGALHÃES (2017)
correta limpeza e desinfecção das instalações,
atribuíram a mais de 95% dos casos de doenças em diferentes sistemas de produção, associação direta com a
controle efetivo de vetores
entrada de animais (suínos ou de outras
(pássaros, roedores e insetos) e
espécies animais), sêmen, transporte,
cumprimento dos protocolos de biosseguridade pelos colaboradores da unidade de produção.
ração, água, entrada de visitantes, roedores, insetos e pássaros. Sendo estes fatores passíveis de correção por um bom sistema de biosseguridade na propriedade.
5 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Boas práticas de biosseguridade em granjas comerciais de suínos
Ademais, sabe-se que a forma mais comum de contaminação
Através da adoção dessas medidas de
do rebanho é através da
controle na inserção de novos animais ao
aquisição de animais para reposição. Sendo que para minimizar estes riscos deve-se adquirir animais de uma
rebanho, pode-se verificar se os animais são portadores de determinadas doenças e assim, impedir a tempo a entrada de
granja GRSC (Granjas de Reprodutores
agentes patogênicos diversos ao rebanho
Suídeos Certificadas), ou seja, um sistema
que poderiam resultar em grandes perdas
de produção de suínos de melhoramento genético e multiplicação que mantêm um
econômicas.
programa de biosseguridade com controles sorológicos e acompanhamento periódico do estado de saúde dos suínos (SOBESTIANSKY, 2002).
Vale salientar que, a prática da quarentena só pode ser realizada de maneira precisa se a granja contar com uma correta biosseguridade,
Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária
permitindo o isolamento total do sítio e
biosseguridade
Abastecimento, granjas
de produção e com o quarentenário corretamente posicionado.
GRSC são obrigatoriamente livre para as doenças Peste Suína Clássica, Brucelose, Tuberculose, Doença de Aujeszky, Sarna e livre ou controlada para Leptospirose. Adicionalmente, a granja pode ser opcionalmente livre para quaisquer das seguintes doenças: Rinite Atrófica Progressiva, Pneumonia Micoplásmica, Pleuropneumonia Suína e Disenteria Suína.
Além disso, animais recém-adquiridos devem ser mantidos em quarentena, por um período correspondente ao período médio de incubação conhecido para a doença objeto dessa medida e/ou pelo tempo suficiente para realização de provas e testes diagnósticos (ISHIZUKY, 2000). O quarentenário deve localizar-se do lado de fora do sítio de produção, do lado oposto aos ventos dominantes e de preferência com algumas barreiras físicas entre ambas.
6 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Boas práticas de biosseguridade em granjas comerciais de suínos
Uma vez assegurada a entrada de animais livres de doenças que não pré-existentes na granja, deve-se trabalhar com medidas para manter um bom status sanitário no plantel. Roedores, pássaros, moscas, animais silvestres e domésticos, e até mesmo os animais de estimação, constituem fontes de transmissão de enfermidades, devendo ser controlados e mantidos o mais afastado possível das
Da mesma forma, os outros vetores são
instalações.
importantes na transmissão de doenças, e devem ser controlados. Como exemplo, já foi descrito que moscas podem voar até uma distância de 1,5 km, ou seja, podem carrear doenças entre diferentes galpões da mesma propriedade, entre diferentes granjas e até mesmo da composteira para
biosseguridade
os galpões (MAGALHÃES; MAGALHÃES, 2017). Com isso, vale citar a importância de um correto manejo da composteira, o que evita que os agentes patogênicos, em alta contração na composteira, voltem Os roedores, por exemplo, são responsáveis, pela transmissão de pelo
a circular nos galpões, através, principalmente, dos vetores.
menos 32 doenças diferentes aos homens e animais (SOBESTIANSKY, 2002), além de danificar sacarias, depósitos de alimentos e ainda podem provocar incêndios ao roerem a capa de proteção de fios e cabos elétricos, ocasionando curto circuito. O
Em síntese, a adoção de um correto
controle deve ser feito pela diminuição
programa de biosseguridade nos auxilia
da oferta de alimentos aos ratos e uso
no controle de doenças pré-existentes na
estratégico de raticidas (ISHIZUKY, 2000).
granja e principalmente que novas doenças sejam inseridas no plantel. Por outro
Adicionalmente, La, Phillips e Hampson (2016) relataram a detecção de Brachyspira hyodysenteriae em cães domésticos, roedores e pássaros e propuseram que esses animais poderiam introduzir o agente aos leitões.
lado, o estado de saúde do rebanho deve ser constantemente avaliado através de monitorias sanitárias, que através de exames periódicos, avalia o status sanitário do sitio de produção e faz a vigilância de doenças
(VITAGLIANO, 2002).
7 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Boas práticas de biosseguridade em granjas comerciais de suínos
Uma vez conhecido o status sanitário do rebanho, é mais fácil de se detectar a inserção de novas doenças, assim como estabelecer um diagnóstico preciso sobre o quadro clinico instalado na propriedade. Pode-se afirmar que um bom programa de biosseguridade auxilia no diagnóstico de doenças de uma unidade de produção de suínos. Além do mais, já é bem estabelecido que uma melhor biosseguridade pode ajudar a melhorar a produtividade e contribuir para reduzir o uso de antimicrobianos
biosseguridade
(ALARCÓN; ALBERTO; MATEU, 2021).
Somado a este fato, há um movimento global para diminuição do uso de antibióticos, o que gera preocupação devido à uma possível exacerbação de agentes existentes, que estão sob controle do uso de antimicrobianos atualmente (MAGALHÃES; MAGALHÃES, 2017). A restrição do uso de antibióticos na produção animal se dá por diversos fatores, e dentre eles pode-se citar: resíduos na carcaça, desenvolvimento de cepas bacterianas resistentes aos antimicrobianos usados na produção animal e resistência aos usados também na medicina humana; bem como às exigências de legislações e mercados (VIEITES et al., 2020).
8 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Boas práticas de biosseguridade em granjas comerciais de suínos
Além disso, o uso de antimicrobianos nas dietas dos suínos favorece a disbiose nesses animais, uma vez que devido ao seu amplo espectro de ação, os agentes antimicrobianos podem eliminar ou diminuir o crescimento de microrganismos no intestino, podendo ser estes patogênicos ou benéficos ao animal (GRESSE et al., 2017).
O estabelecimento de uma microbiota estável é um dos pilares de uma boa saúde intestinal, juntamente com digestão e absorção eficazes
biosseguridade
de alimentos, ausência de doença gastrointestinal, eficiente estado imunológico e, por fim, bem-estar animal (BISCHOFF, 2011). E estes fatores, levam o animal a expressar um melhor desempenho e estado de saúde.
Conclusão Por fim, pode-se associar um bom programa de biosseguridade ao controle de doenças e diminuição do uso de antimicrobianos, estando diretamente relacionados a saúde animal. Com isto, o animal pode expressar seu máximo desempenho produtivo, além de estar em pleno bem estar animal, o que leva a um sistema de produção de acordo com as exigências do mercado consumidor e em máxima produtividade e lucratividade. Boas práticas de biosseguridade em granjas comerciais de suínos
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9 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Boas práticas de biosseguridade em granjas comerciais de suínos
USO RACIONAL DE
ANTIMICROBIANOS NA SUINOCULTURA
sanidade
Jéssica Aparecida Barbosa - Médica Veterinária; MsC em Nutrição e Produção de Monogástricos e Doutoranda em Produção e Nutrição de Suínos.
A
descoberta dos antimicrobianos a décadas atrás trouxe uma nova
perspectiva no âmbito de saúde humana e animal no que diz respeito ao tratamento e controle de enfermidades (MORÉS, 2014). Na produção animal, os antimicrobianos tem sido utilizados desde a década de 1950 e seu uso aumentou de forma direta com a intensificação da produção intensiva ao longo dos anos a fim de promover saúde e melhorias na produtividade (GONZALEZ RONQUILLO;
ANGELES HERNANDEZ, 2017)
10 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Uso racional de antimicrobianos na suinocultura
Além disso, a descoberta de genes bacterianos resistentes a antibióticos que são utilizados na saúde humana, como por exemplo, o gene de resistência a colistina mediado por plasmídeo (mcr1) que foi encontrado em Escherichia coli de suínos e em humanos na China (LIU
et al., 2016), reforçou ainda mais o debate sobre a possível transmissão horizontal
sanidade
de resistência antimicrobiana e a necessidade de ações para uso de forma racional desses agentes. Dessa forma, iniciativas globais começaram a surgir na tentativa de minimizar o agravamento da resistência antimicrobiana.
Embora o uso desses agentes são importantes na manutenção da
Em 2006, o uso de antibióticos como
saúde e bem-estar animal dentro
promotores de crescimento (APC)
dos sistemas, o uso em larga
nas dietas de suínos foi banido pela
escala principalmente em doses subterapeuticas como promotores de crescimento levantou preocupações a respeito da seleção de bactérias multirresistentes a várias classes de antibióticos (MORÉS, 2014; WHO, 2018).
União Europeia (GAGGÌA; MATTARELLI; BIAVATI,
2010), e vários outros países também já implementaram ou vem implementando políticas de restrição nos próximos anos
(MARON; SMITH; NACHMAN, 2013).
11 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Uso racional de antimicrobianos na suinocultura
Padrão atual de utilização global de antimicrobianos
Uma estimativa feita por Van Boeckel et al.
(2015) revelou que a média global de uso de antimicrobianos varia em torno de 172 mg/kg de suíno produzido.
Lekagul et al. (2019) fizeram uma revisão sistemática envolvendo 25 artigos No Brasil, Ministério da Agricultura,
publicados entre 2000 e 2017 sobre
Pecuária e Abastecimento também
uso de antimicrobianos na América
restringiu nos últimos anos diversos
do Norte e Europa e encontraram
APCs (DUTRA, 2017) e recentemente
resultados interessantes referentes ao
implementou o Programa de
padrão de uso dos antibióticos:
Vigilância e Monitoramento da Resistência aos Antimicrobianos
sanidade
para avaliar os riscos, tendências e padrões na ocorrência de
as fases de lactação e pós-
disseminação de resistência por
desmame foram os períodos
meio de alimentos de origem
mais comuns de administração
animal (MAPA, 2021).
de antibióticos via oral nas granjas, e o grupo de penicilinas e
Antes de traçar estratégias com
tetraciclinas foram os mais
enfoque no uso prudente dos
utilizados na maioria dos países
antimicrobianos na produção de suínos, é necessário ter uma visão macro sobre como está o padrão atual de utilização global desses agentes (LEKAGUL; TANGCHAROENSATHIEN;
YEUNG, 2019).
25
granjas
o maior uso também foi associado ao tamanho das granjas, onde quanto maior a granja, maior a utilização de antibióticos.
Trazendo para a nossa realidade, o trabalho realizado por Dutra (2017) em 25 granjas de diferentes regiões do país revelou que a média brasileira de uso dos antimicrobianos é de 358,0 mg/kg de suíno produzido. Adicionalmente, esse elevado consumo foi associado a utilização em média de pelo menos sete princípios ativos diferentes e a exposição por longos períodos.
12 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Uso racional de antimicrobianos na suinocultura
Esses resultados evidenciam o uso excessivo de antibióticos nos nossos sistemas de produção quando comparado a média global.
Uma questão importante que precisamos entender é: por que o padrão de utilização de antimicrobianos nos nossos sistemas de produção ainda se encontra excessivo?
Fatores que influenciam a utilização de antimicrobianos De acordo com Morés (2014), várias condições que são impostas aos animais dentro do sistema de produção
sanidade
criam um ambiente propício para manifestações de várias enfermidades, e influenciam no maior ou menor uso de antibióticos nas dietas ou parenteral. Um fator importante é a idade de desmame precoce que tem sido praticada na maioria das granjas brasileiras. A transição do desmame acontece no período em que o trato gastrointestinal e a imunidade adaptativa ainda estão em desenvolvimento (MOESER et al., 2017; SMITH et al., 2010). Como consequência dessa imaturidade, o estresse do desmame pode levar a danos estruturais no intestino e favorecer a diarreia pós-desmame, levando a um baixo desempenho e aumento do uso de antimicrobianos para minimizar esses danos (MCLAMB
et al., 2013; RHOUMA et al., 2017).
13 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Uso racional de antimicrobianos na suinocultura
Diante dessas condições, fica evidente que a utilização dos antimicrobianos é necessária na prerrogativa de bem-estar e saúde animal nos atuais modelos produtivos e que banir completamente o seu uso não é uma boa estratégia. A mistura de lotes de leitões de diferentes origens no pós desmame ou no crescimento e terminação e a alta densidade animal
Neste sentido, o que devemos buscar
também possuem relação positiva
são medidas que favoreçam o uso cada
com o uso de antimicrobianos (LEKAGUL;
vez mais prudente dos antimicrobianos
TANGCHAROENSATHIEN; YEUNG, 2019)
a fim de garantir um equilíbrio entre animal, ambiente e patógeno e por
Outros fatores como programa de limpeza
consequência melhorar o desempenho.
e desinfecção ineficientes, o baixo vazio
sanidade
sanitário e outras práticas que aumentam o nível de estresse no rebanho também
Diversos pesquisadores e especialistas
criam condições ideais para o aumento
evidenciam que o melhor caminho para
da pressão de infecção e a ocorrência de
alcançar sucesso no panorama do uso
enfermidades (MORÉS, 2014). Ademais, o uso
racional de antimicrobianos é trabalhar
de vários princípios ativos diferentes ainda é
com soluções integradas levando em
uma prática cultural que foi estabelecida ao
consideração as estratégias de manejo,
longo dos anos para maximizar a eficiência
nutrição e sanidade em conjunto (MORÉS, 2014;
produtiva (DUTRA, 2017).
POSTMA et al., 2015).
14 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Uso racional de antimicrobianos na suinocultura
Em relação aos manejos, várias práticas precisam ser reforçadas ou revistas nas granjas a fim de aumentar o status sanitário e reduzir a pressão de infecção. A garantia da ingestão adequada de colostro na maternidade nas primeiras horas de vida
Outros aspectos que precisam ser
do leitão é crucial tanto para o melhor
considerados incluem:
desenvolvimento intestinal quanto para a modulação da resposta imune e proteção contra patógenos na maternidade
(DALLANORA et al.,2014; QUESNEL et al., 2012).
limpeza, desinfecção e vazio sanitário, revisão dos protocolos de vacinação,
sanidade
investimento em
A idade ao desmame também
biosseguridade interna e
é um manejo a ser trabalhado!
externa,
Ao avaliar o desmame de leitões aos 19, 22, 25 e 28 dias de idade, Faccin
et al. (2020) encontraram melhora no desempenho na fase de creche e redução na taxa de remoção de leitões conforme o aumento da idade. Além disso, a percentagem de animais que perderam peso na primeira semana pós-desmame também diminuiu com o aumento da idade. Embora ainda não existe resposta sobre qual a melhor idade de desmame tardio para todos os sistemas, vários benefícios são evidenciados com o desmame
implementação de melhorias na ambiência, e monitoramento da qualidade da água fornecida aos animais (MORÉS, 2014). Essas são estratégias básicas, mas que influenciam positivamente na manutenção do status sanitário dos animais e na redução da necessidade de utilização de antimicrobianos
(DUTRA, 2017; MORÉS, 2014; POSTMA et al., 2015).
entre 24 e 28 dias, e é necessário a avaliação individual de cada granja sobre qual a melhor idade para trabalhar no sistema (COLSON et al., 2006;
FACCIN, 2018).
15 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Uso racional de antimicrobianos na suinocultura
Em relação aos óleos essenciais, os efeitos
Estratégias nutricionais No âmbito nutricional, várias alternativas dietéticas que sejam capazes de melhorar a saúde intestinal e o desempenho estão se tornando cada vez mais aparentes nos últimos anos. Dentre as várias estratégias disponíveis temos como exemplo: os ácidos orgânicos,
observados na saúde e desempenho dos animais estão associados às propriedades antimicrobianas, imunomoduladoras, antioxidantes e de melhora na morfologia intestinal (ZHAI et al., 2018). Adicionalmente, alguns estudos também evidenciam o efeito benéfico dos óleos essenciais na modulação da microbiota de leitões por meio da promoção do crescimento de espécies bacterianas benéficas (LI et al., 2018; RUZAUSKAS
et al., 2020).
óleos essenciais,
sanidade
probióticos, prébióticos e fibras (LIU et al., 2018b; PANDEY; KUMAR; SAXENA, 2019).
Os ácidos orgânicos, inorgânicos ou seus sais têm sido amplamente investigados de forma isolada ou na forma de blends e apresentam um papel multifuncional interessante ao longo do TGI. A capacidade de acidificar o meio e reduzir o pH gástrico reflete no aumento da atividade enzimática proteolítica e melhora na digestibilidade dos nutrientes
(LIU et al., 2018b; RHOUMA et al., 2017). Além disso, o efeito antimicrobiano direto influencia na manutenção da integridade intestinal e consequente melhora no desempenho
(SUIRYANRAYNA; RAMANA, 2015).
Os probióticos de forma individual ou em combinação podem atuar como moduladores da microbiota intestinal através da produção de bacteriocinas e por mecanismos de exclusão competitiva impedindo a proliferação de microrganismos patogênicos
(HOU et al., 2015; LIAO; NYACHOTI, 2017).
16 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Uso racional de antimicrobianos na suinocultura
Outros efeitos relacionados a modulação da resposta imune, restituição da integridade e função da barreira intestinal, e melhora na digestibilidade também tem sido observados com consequente melhora no desempenho
(GAGGÌA et al., 2010; PANDEY et al., 2019). Um dos principais efeitos que os prébióticos conferem à saúde intestinal é na modulação da microbiota intestinal através do estímulo seletivo de crescimento e atividade de bactérias benéficas como Bifidobacterium e Lactobacillus (LIU et al.,
2018b), que diretamente estimulam a fermentação e produção de ácidos graxos de cadeia curta
CONCLUSÃO
(AGCC) como acetato, butirato e propionato,
Diante do exposto, fica evidente que a
que exercem um efeito importante sobre o metabolismo (CALLAWAY et al., 2008; VAN DER AAR; MOLIST;
VAN DER KLIS, 2017).
adequação do uso dos antimicrobianos é uma necessidade e será inevitável nos próximos anos, e que alcançar este cenário ainda configura um desafio nos nossos diversos modelos
sanidade
de produção atuais. Para que isso ocorra, é necessário o engajamento de toda cadeia produtiva para traçar diretrizes que reforcem a importância da desaceleração da resistência antimicrobiana e o conceito de saúde única. Vale ressaltar que é pouco provável Embora as fibras dietéticas foram vistas como vilãs por muito tempo, atualmente várias pesquisas vem demonstrando os seus efeitos benéficos na saúde intestinal (LIU et al., 2018a). Resumidamente, elas atuam na produção de secreções gástricas e pancreáticas e na digestibilidade dos nutrientes e na modulação da população microbiana intestinal reduzindo a proliferação de bactérias patogênicas e promovendo o crescimento de bactérias
que a utilização de um único aditivo ou que um único manejo seja capaz de reduzir a utilização de antimicrobianos em larga escala. Dessa forma, definir um plano estratégico que seja baseado em soluções integradas de manejo, sanidade e nutrição se torna uma estratégia promissora para atingir a premissa do uso prudente de antimicrobianos na suinocultura.
fermentativas benéficas no intestino (CHEN et
al., 2020; HEO et al., 2013) . Ao modular a microbiota intestinal, as fibras podem reduzir a incidência de diarreia em leitões e consequentemente
Uso racional de antimicrobianos na suinocultura
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melhorar o desempenho (LINDBERG, 2014).
17 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Uso racional de antimicrobianos na suinocultura
AMINOÁCIDOS FUNCIONAIS E A SUA CORRELAÇÃO COM O SISTEMA IMUNE Alícia Zem Fraga
sistema imune
Zootecnista, Universidade Federal de Viçosa Mestre em Zootecnia, Universidade Estadual Paulista (UNESP) campus de Jaboticabal Doutoranda em Zootecnia, UNESP, campus de Jaboticabal e L’institut national de recherche pour l’agriculture, l’alimentation et l’environnement (INRAE) Orientadores: Luciano Hauschild (UNESP/Jaboticabal) Paulo Henrique Reis Furtado Campos (Universidade Federal de Viçosa)
18 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Aminoácidos funcionais e a sua correlação com o sistema imune
A demanda por produtos de origem animal é impulsionada pelo crescimento demográfico e melhoria da renda da população.
As altas temperaturas e umidade relativa geralmente observadas em regiões tropicais e subtropicais, favorecem a proliferação e
Estima-se que até 2030 a população e o consumo mundial de carne suína per capita irão aumentar em torno de 1,2% (FAO, 2020; OECD, 2021).
disseminação de vetores e/ou patógenos, resultando em maior pressão patogênica no ambiente (Campos et al., 2017).
Nesse cenário de expansão, a intensificação da produção animal, associada às condições climáticas (Fraga et al., 2019), densidade de
o grau de higiene das instalações (Chatelet et al., 2018), constantemente expõe os animais a diferentes condições de desafio sanitário.
Adicionalmente, existe uma crescente demanda para reduzir a utilização de
sistema imune
alojamento (Almeida et al., 2020) e
medicamentos de forma a permitir o desenvolvimento de sistemas sustentáveis de produção animal. O uso de antibióticos, por exemplo, foi associado a uma maior pressão de seleção de bactérias resistentes com sérios riscos para a saúde humana e animal (Pakpour et al., 2012) levando alguns países a proibirem seu uso como promotores de crescimento na ração. Neste contexto, pressupõe-se que os animais de produção estarão cada vez mais expostos aos desafio sanitários.
19 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Aminoácidos funcionais e a sua correlação com o sistema imune
RESPOSTAS METABÓLICAS E FISIOLÓGICAS DE SUÍNOS EM CONDIÇÕES DE DESAFIO SANITÁRIO As barreiras químico-mecânicas são a primeira proteção dos animais contra patógenos. Estas incluem a pele, pH estomacal, secreção de enzimas e muco (Riera et al., 2016). Como resposta a maior produção de muco, são observados aumento na exigência de treonina (Tre; Ospina-Rojas et al., 2014), principal aminoácido (AA) constituinte das mucinas
sistema imune
intestinais e imunoglobulinas (Ceron et al., 2016).
Adicionalmente, um dos sinais clínicos em quadros de infecção e inflamação é febre. Nestas condições, citocinas pró-inflamatórias como interleucinas (IL) IL-1, IL-6 e
Em seguida, a resposta imunológica
fator de necrose tumoral-alfa
pode ser desencadeada por dois
(TNF-α) atuam como citocinas
mecanismos de defesa (imunidade
pirogênicas e estimulam a
inata e a adquirida) que são
síntese de prostaglandina E2,
influenciados pela natureza do
que é o mediador central da
estímulo e pelos estados imunológico
resposta febril (Netea et al.,
e nutricional do animal (Le Floc’h et
2000).
al., 2014b; Lu et al., 2017).
20 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Aminoácidos funcionais e a sua correlação com o sistema imune
Além de potencializar a produção de células de defesa, esse tipo de resposta estabelece mecanismos de memória a longo prazo
Como resposta imediata pós desafio (imunidade inata), ocorre aumento das concentrações plasmáticas de citocinas, maiores níveis
que explica o fato de animais poderem se recuperar após exposição prolongada (Nicholson et al., 2016).
de glicocorticoides (Campos et al., 2017), alterações de sensibilidade à insulina e tireoidianos (Castro et al., 2013).
Suínos respondem aos desafios sanitários por meio de ajustes neuroendócrinos e metabólicos na tentativa de restaurar a homeostase animal e integridade do corpo. Em estudo com suínos que receberam sucessivas aplicações de Escherichia coli (LPS), Escribano et al. (2014) observaram maior concentração salivar de haptoglobina, proteína C reativa,
Dependendo da magnitude e da natureza do desafio, são observadas
cortisol e imunoglobulina quando comparado ao grupo controle (sem aplicação),
respostas específicas e de memória imunitária (imunidade
o que indica ativação do
adquirida) que incluem a
sistema imunológico em
síntese de linfócitos T e B
condição de desafio sanitário.
(Riera et al., 2016).
21 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Aminoácidos funcionais e a sua correlação com o sistema imune
sistema imune
menores níveis circulantes de hormônios
Além dessas alterações metabólicas,
Uma vez que em condições de desafio
a redução no consumo de alimentos
sanitário os suínos podem se encontrar
(anorexia) também é uma resposta
em estado anoréxico, são observadas
dos animais alojados em ambiente
alterações metabólicas (como lipólise
sanitariamente desafiador.
do tecido adiposo e proteólise do músculo esquelético) para aumento
Mesmo a nível subclínico, cujas consequências não são visualmente observadas, Kyriazakis et al. (2008) observaram redução de 75-80% no consumo alimentar.
da disponibilidade de nutrientes destinados a síntese de células imunes (Le Floc’h et al., 2004). Por exemplo, o catabolismo do músculo esquelético contribui para aumento dos níveis
sistema imune
circulantes de AA que, por sua Contudo, em uma condição de desafio
vez, podem ser utilizados no
mais intenso (tempo e/ou dose do
fígado para a síntese de proteínas
patógeno), no qual sinais clínicos são
de fase aguda (e outras células
observados, o consumo alimentar
de defesa do corpo), bem como
pode ser próximo de zero (Kyriazakis
substrato para a gliconeogênese
et al., 2008).
(Le Floc’h et al., 2004).
Sob essas condições, ocorrem mudanças no metabolismo de nutrientes que são redirecionados do crescimento para suportar as respostas imunológicas.
22 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Aminoácidos funcionais e a sua correlação com o sistema imune
Fatores como esses podem comprometer a lucratividade dos sistemas de produção. Nesse sentido, em estudo com suínos em crescimento alojados em ambiente de baixo, moderado e alto desafio sanitário, Cornelison et al. (2018) observaram que o rendimento de carcaça foi maior para os animais alojados em desafio moderado em relação ao alto (74.1 vs. 73.6%).
sistema imune
Além disso, as perdas econômicas em ambiente moderado, quando comparado com de baixo desafio, variaram entre $8,49 a $10,44 por suíno comercializado,
Suínos em crescimento e terminação
enquanto que perdas no alto desafio em relação ao de baixo, oscilaram entre $20,44 a $26,10.
mantidos em más condições sanitárias apresentaram melhora na eficiência alimentar quando alimentados com dieta de maior nível de AA (+ 20% nos níveis de metionina, treonina e triptofano; van der Meer et al. 2016). Similarmente, animais na fase pós desmame alojados em má condição de higiene, ao serem alimentados com dieta de maior aporte de triptofano (+17%), apresentaram aumento no consumo de ração (Le Floc’h et al., 2009).
Uma alternativa para minimizar os efeitos negativos dos desafios sanitários no desempenho dos animais, consiste na suplementação de AA para a resposta imune (Kipper et al., 2011).
Percebe-se, portanto, que o status nutricional e o sistema imunológico estão interligados.
23 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Aminoácidos funcionais e a sua correlação com o sistema imune
POTENCIAL USO DE ESTRATÉGIAS NUTRICIONAIS PARA SUÍNOS EM DIFERENTES CONDIÇÕES DE DESAFIO Aminoácidos funcionais são definidos como aqueles AA que regulam as principais vias metabólicas para melhorar a saúde, sobrevivência, crescimento, desenvolvimento,
sistema imune
lactação e
Dentre os AA funcionais, incluem: metionina e cisteína (Met e Cis), triptofano (Trp), glicina (Gli), glutamina (Glu), arginina (Arg), Tre (Li et al., 2007).
reprodução de organismos ou que formam peptídeos ou proteínas biologicamente ativos (Wu, 2010; Le
Estes estão envolvidos em várias
Floc’h et al., 2018).
vias metabólicas importantes além do crescimento, incluindo a
Alguns AA funcionais estão envolvidos no sistema imunológico regulando
1
A ativação de linfócitos T, linfócitos B,
2
O estado redox celular e a expressão
3
modulação do funcionamento do sistema imunológico (Htoo, 2018).
células natural killer e macrófagos, Estudos recentes gênica e A produção de anticorpos, citocinas e outras substâncias citotóxicas (Li et al., 2007).
(Sun et al., 2016; Zhou et al., 2016) ressaltaram a função imunometabólica da Met (segundo AA limitante para suínos), cujo metabolismo pode gerar antioxidantes intracelulares, como glutationa e taurina. Adicionalmente, existem evidências que a estimulação do sistema imune afeta o metabolismo do Trp.
24 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Aminoácidos funcionais e a sua correlação com o sistema imune
Em condição de sistema imune ativado,
Análise das respostas
o interferon (IFNy) ativa a enzima
plasmáticas dos AA a diferentes
indoleamina 2,3-dioxygenase (IDO)
desafios fornece algumas
cuja função é o catabolismo do Trp em
indicações sobre as mudanças
quinurenina.
no metabolismo dos AA quando
a funções essenciais de resposta imunológica (Le Floc’h et al., 2010; Le Floc’h et al., 2004).
a saúde está comprometida (Le
sistema imune
Esta, por sua vez, está relacionada
Floc’h et al., 2018). Por exemplo, menores concentrações plasmáticas de
Além disso, cerca de 10 a 13% das
Arg foram observadas em suínos
glicoproteínas presentes no muco
co-inoculados com Mycoplasma
é constituída pelo aminoácido Tre
hyopneumoniae e H1N1 virus
(Pluske et al., 2018).
(Le Floc’h et al., 2014a) provavelmente para suportar a maior demanda para síntese de componentes imunológicos. De fato, Arg é um AA funcional que serve como precursor para a síntese de poliaminas, óxido nítrico (um potente mediador da resposta imune) e participa da síntese de outros AA, como creatina e ornitina, que estão envolvidos em importantes funções imunológicas (Li et al., 2007).
25 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Aminoácidos funcionais e a sua correlação com o sistema imune
Adicionalmente, o estresse oxidativo, um mecanismo associado à resposta inflamatória, reduziu as concentrações plasmáticas de Trp e aumentou as de quinurenina em leitões desmamados (Lv et al., 2012). Tais mudanças no metabolismo do Trp induzidas pela inflamação estão associadas ao papel funcional deste AA durante os estados inflamatórios (Le Floc’h et al., 2018).
Todavia, em termos de nutrição animal, os efeitos dos desafios sanitários
sistema imune
no metabolismo dos animais e nas exigências nutricionais são raramente considerados. No Brasil, para formulação das dietas para suínos em crescimento e terminação, os níveis de AA normalmente utilizados são para maximizar a deposição de proteína em uma condição ideal de produção (sanidade, temperatura, alojamento, etc).
Nesse sentido, leitões recém-desmamados desafiados por Escherichia coli, apresentaram maior eficiência alimentar ao receberem dietas com maiores níveis de AA (acréscimo de 33 e 13% na relação triptofano/lisina e AA sulfurados/lisina, respectivamente) em relação a dieta convencional (Capozzalo et al., 2016).
Sendo assim, por não considerar o aumento da utilização de AA em situações de ativação do sistema imune, os programas nutricionais apresentam limitações em um contexto prático de produção. Sob essas condições, ocorre um desequilíbrio entre os nutrientes dietéticos e aqueles necessários para funções imune e de produção.
26 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Aminoácidos funcionais e a sua correlação com o sistema imune
PERSPECTIVAS FUTURAS Estudos que consideram as A eficiência da utilização de Trp para deposição de proteína corporal de suínos em crescimento foi reduzida durante desafio por LPS devido ao aumento do uso de Trp para funções imunológicas e portanto, um maior nível de Trp na dieta (aumento de 7%) foi necessário para manter a deposição de proteína corporal em níveis semelhantes a de suínos saudáveis (de Ridder et al., 2012).
interações entre saúde e nutrição de suínos em um contexto prático ainda é um potencial a ser explorado. A formulação de dietas que visam atender as necessidades nutricionais específicas conforme o estado de saúde do animal pode atenuar os efeitos negativos do desafio sanitário, além de ser uma potencial alternativa ao uso de drogas.
Similarmente, aumento da demanda metabólica de Tre (para apoiar a síntese de imunoglobulinas,
sistema imune
Nesse contexto, o recente progresso nas ciências “ômicas” possibilita melhor entendimento da relação entre os nutrientes e genes.
proteínas de fase aguda e mucinas) foi relatado em suínos de peso corporal de 10 kg desafiados com síndrome respiratória e reprodutiva porcina (McGilvray et al., 2019. Contudo, esses resultados carecem de abordagens práticas para serem extrapolados para animais criados em condições comerciais.
Aminoácidos funcionais e a sua correlação com o sistema imune
BAIXAR EM PDF "Projeto de Doutorado FAPESP 2018/11807-6"
27 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Aminoácidos funcionais e a sua correlação com o sistema imune
Pequisador da Embrapa Suínos e Aves
DR. OSMAR DALLA COSTA entrevista
IN 113 E SUAS IMPLICAÇÕES SOBRE A SUINOCULTURA NACIONAL
Estabelecer se o animal está em bem-estar não é uma tarefa fácil. Essa empreitada torna-se cada vez mais complicada, especialmente quando se deseja atender a um consumidor alvo que utiliza
Homeostasia – equilíbrio das funções fisiológicas
embasamentos do senso comum em seu
Estados mentais e físicos – como prazer, dor
critério de julgamento. Cientificamente, no
e felicidade (senciência)
entanto, os manejos podem ser avaliados de diversos ângulos, isso porque definições de bem-estar levam em consideração um conjunto de conceitos que incluem:
As cinco liberdades (Livre de fome e sede; Livre de desconforto; Livre de dor doença e injúria; Livre para expressar os comportamentos naturais da espécie e Livre de medo e de estresse) Necessidades da espécie
Dessa forma, para avaliar um determinado manejo, todos esses aspectos podem ser considerados.
28 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | IN 113 e suas implicações sobre a suinocultura nacional
E foi considerando a senciência do animal que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) no uso das atribuições que lhe conferem, publicou a Instrução Normativa (IN) número 113, de 16 de dezembro de 2020. A IN, que entrou em vigor dia 1º de fevereiro de 2021, tem como objetivo estabelecer as boas práticas de manejo e bemestar animal nas granjas de suínos de criação comercial. E para esclarecer alguns pontos da IN que é composta por 11 capítulos e 54 artigos, nosso convidado especial é o Zootecnista e Pesquisador, há 35 anos, da Embrapa Suínos e Aves, Osmar Antônio Dalla Costa.
E antes de responder as perguntas, o Pesquisador fez um breve comentário sobre a seguinte afirmativa: “Bem-estar animal não se restringe às instalações e equipamentos. O bem-estar animal é um termo mais amplo
de elaboração da IN 113 é Zootecnista, formado pela Pontifícia Universidade Católica - RS PUCRS, Dalla Costa possui mestrado em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa e doutorado
que requer uma observação de todo o sistema de produção. Para garantir condições
emtrevista
O Pesquisador que compôs a Comissão Técnica
de bem-estar na produção requer uma boa instalação, bom manejo e principalmente qualificação da mão de obra.
em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Atuou como membro da comissão do CRMV-SC, gestão 2004-2011 na comissão de bem-estar animal. O pesquisador desenvolve estudos nas áreas de bem-estar, qualidade de carne, sistema de eutanásia para suínos, sistema de insensibilização dos suínos, sistema de produção de suínos e manejo.
Muitas vezes os nossos colaboradores da cadeia produtiva de suínos acreditam que estão produzindo animais, mas a realidade é que eles estão produzindo suínos de alto valor agregado que irá se transformar em proteína de alto valor nutritivo, consumido pelo mercado nacional e internacional.
E, além disso, também trabalha com os programas de treinamento e qualificação da mão de obra na produção de suínos (manejadores nas granjas, frigorífico e transportadores (motorista) de suínos. E possui publicações tanto de artigos científicos, quanto capítulos de livros nas áreas de produção, manejo, bem-estar
O pesquisador destaca ainda a atualidade do mercado consumidor, “Cada dia mais exigente, na busca por um produto de maior qualidade e valor agregado e que preze pelo bem-estar ao longo da cadeia produtiva.”
e qualidade dos suínos.
29 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | IN 113 e suas implicações sobre a suinocultura nacional
E no século 21, a exigência é de uma migração para os sistemas de produção da década de 60 e Um dos temas mais discutidos quando falamos de bem-estar animal são as gaiolas de gestação. Os dois primeiros parágrafos do artigo 16 (Abaixo) diz respeito ao alojamento de fêmeas na fase de gestação e alojamento de cachaços em baias. Explique os dois parágrafos.
1
cadeia produtiva de um modo geral, tendo em vista que a manutenção das matrizes durante o período de gestação em boxes, compromete o bem-estar. E a partir desta IN, fica estabelecido que as matrizes em gestação devem permanecer em boxes no máximo 35 dias.
A manutenção das fêmeas após a cobertura em gaiolas de gestação é tolerada e limitada a 35 (trinta e cinco) dias em sistemas de alojamento individual.
2
isso implica em uma mudança de paradigma na
As granjas que utilizam gaiolas de
Essa IN concede uma ampla liberdade aos suinocultores para escolher qual o melhor sistema de alojamento.
gestação e gaiolas de alojamento para cachaços terão prazo até 1º de janeiro de
entrevista
2045, para adaptar suas instalações para a gestação coletiva e baias para machos.
Na visão do pesquisador as novas regras de migração dos sistemas de alojamentos de animais reprodutores se darão com tranquilidade, pois a indústria suinícola já está
“Ao nos depararmos com essa imposição da Instrução Normativa de limitação do período de alojamento das matrizes em boxes de gestação e que, a partir de 2045 deverá ser eliminado o sistema de alojamento de boxes para os machos
atenta à demanda do mercado. Atualmente, as grandes cadeias produtivas já adotaram o sistema de baia coletiva, mantendo de 50 a 60% das matrizes em baia coletiva.
me faz recordar do início da minha carreira na
Com treinamento e qualificação da mão de obra
suinocultura, em que há registros na década de
é possível aperfeiçoar o manejo e superar os
60, onde todos os animais eram alojados em
índices produtivos.
baias coletivas. Com a evolução da suinocultura, e uma necessidade de maior controle dos índices zootécnicos e gerenciamento das granjas, houve essa mudança no sistema de alojamento.”
30 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | IN 113 e suas implicações sobre a suinocultura nacional
Ainda sobre as gaiolas de gestação, a gente se depara constantemente com vídeos apelativos, repassando informações de forma errônea sobre o dimensionamento das gaiolas de gestação, que é abordado no artigo 17. Sendo assim, explique sobre o dimensionamento das gaiolas levando em consideração as cinco liberdades.
Outro ponto importante a ser destacado e que
Art. 17. As gaiolas utilizadas para o manejo reprodutivo, inseminação e intervalo desmame cobertura, devem ser dimensionadas adequadamente para permitir que as fêmeas: levantem-se e fiquem em repouso sem tocar simultaneamente os dois lados da
nos embarcadouros. Qual a importância e vantagens da adoção de rampas com inclinação de 25º ? Durante muitos anos as preocupações com aspectos produtivos eram apenas em torno da: Fonte de água,
gaiola;
emtrevista
1
já lhe rendeu vários trabalhos é o uso de rampas
Mão-de-obra,
2
levantem-se sem tocar as barras superiores e laterais da gaiola.
Iluminação e Tratamento dos dejetos
Com a adequação dos sistemas de produção as
E pouca atenção era dada à retirada dos animais
matrizes possuem liberdade para expressar seu
das instalações e, com isso, muitas vezes essa
comportamento e as novas dimensões foram
estrutura do embarcadouro era improvisada.
realizadas buscando uma melhor área entre
A consequência, da falta de planejamento era
os coeficientes técnicos econômicos e, além
a construção de estruturas inapropriadas, em
disso, respeitar as cinco liberdades do bem-estar
que os produtores e colaboradores possuíam
animal.
dificuldades para efetuar a embarcação desses animais, principalmente nos embarques em caminhões de piso duplo ou triplo, a inclinação
Ao considerar as novas estruturas as matrizes terão condições de interagir entre os grupos sociais, liberdade para beber água, escolher área limpa e área suja dentro da baia, além da possibilidade de existir subdivisões de grupos dentro das baias, permitindo a interação entre as matrizes de um modo geral.
elevada dificultava a entrada dos animais. Com a IN foi possível estabelecer um limite máximo de inclinação para as rampas de embarque, com o limite de 250, em carrocerias de dois pisos, a propriedade deverá adequar as instalações para uma rampa de aproximadamente cinco a seis metros de comprimento, em que a inclinação é reduzida, facilitando assim o manejo de embarque dos suínos. 250
31 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | IN 113 e suas implicações sobre a suinocultura nacional
Dalla Costa destaca quais os princípios de um embarcadouro adequado de suínos, são eles: Paredes laterais não vazadas Piso antiderrapante Boa iluminação Largura adequada de no máximo 1,10 a 1,20 metros Áreas de fuga “Com adequação ao grau de inclinação dos embarcadouros, os suinocultores terão um grande benefício: bem-estar para os animais, reduzindo o número de animais cansados, machucados ou até mesmo mortos e bem-estar aos manejadores, a partir do fornecimento de uma instalação
No passado um bom manejador era aquele que carregava um suíno de 120/150 quilos e colocava em um caminhão, hoje a busca é por profissionais que entendam o comportamento animal e que tenham conhecimento da importância da relação homem animal e consiga executar as atividades que lhe são atribuídas sem o uso da força física. Os suínos tem força, e nós seres humanos temos inteligência e habilidade, portanto a nossa atuação no campo tem que ser através da nossa habilidade e inteligência.
adequada para o colaborador. Um benefício
entrevista
significativo para a produção de suínos, para os suínos e para os manejadores.”
Bem-estar animal deve ser visto a partir de um ângulo multifatorial onde deve-se analisar instalação, genética e manejo diante da responsabilidade social que devemos ter na produção.
O primeiro equipamento proibido é o bastão elétrico! Osmar Dalla Costa relembra que nos primeiros anos de sua carreira o uso deste equipamento era comum. “Prática que ficou no passado!” O pesquisador ressalta que a tranquilidade é essencial para a condução do suíno e que o uso das próprias mãos e da fala auxiliam no processo. E além disso, cita quais equipamentos são permitidos, são eles: Chocalho Bandeiras Vassoura de plástico Remo
O capítulo III aborda “Manejo e relação humano animal” e cabe relembrar uma entrevista concedida à SuínoBrasil em setembro
Tábua de manejo Lona
de 2020, em que o senhor fez a seguinte afirmação “Na produção de suínos não é mais necessário o uso da força física, mas sim da força intelectual. Através do entendimento do comportamento animal e do uso da inteligência a nosso favor”. Sobre a condução de animais, quais equipamentos e comportamentos são permitidos e quais são proibidos? Sobre este tema o Pesquisador ressalta a importância da capacitação dos colaboradores,
32 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | IN 113 e suas implicações sobre a suinocultura nacional
Cabe ressaltar que os instrumentos citados devem ser utilizados apenas para condução
O Pesquisador ressalta que, a IN foi elaborada
e não para agredir o suíno. E, além disso,
para permitir que, ao longo dos próximos 20 anos,
para facilitar o manejo recomenda-se
seja realizada a reestruturação de toda a cadeia
trabalhar com lotes menores no momento
produtiva.
do transporte. Outra informação importante para apresentar, é a idade ao desmame. Qual idade estabelecida Como os produtores tem reagido à IN 113?
pela IN 113 e prazo para adaptação das granjas?
No início dos trabalhos os suinocultores
Em décadas passadas o desmame do suíno era
apresentaram uma certa aversão às novas regas
realizado quando os animais completavam 42, 35
que eram repassadas.
dias e atualmente, a média de desmame é de 21 dias. E a IN amplia a idade ao desmame, e esta ampliação tem como embasamento resultados científicos que comprovaram melhora no desempenho, sistema imunológico e melhor
emtrevista
Toda mudança gera alguma reação, principalmente quando a legislação exige adequações nas instalações. Atualmente, os suinocultores compreendem a importância do atendimento à IN, tendo em vista que a não adequação à curto, médio e longo prazo, em 2030, 2045 o produtor terá que abandonar a atividade por não atender as novas regras
desempenho na fase de creche e terminação. Com a implantação da IN 113 a idade média do desmame deve ser de no mínimo 24 dias. De acordo com o 2o parágrafo do artigo 25, as granjas que atualmente desmamam leitões com média de idade de 21 dias têm até 1o de janeiro de 2045 para adaptarem suas instalações para desmame com idade média de 24 dias ou mais.
“A cadeia produtiva não precisa ter medo da Instrução Normativa, o produtor deve pensar na ampliação do seu sistema de produção, para atender a um mercado consumidor cada vez mais exigente.”
IN 113 e suas implicações sobre a suinocultura nacional
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33 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | IN 113 e suas implicações sobre a suinocultura nacional
EXPLORANDO O DESENVOLVIMENTO DA
DISENTERIA SUÍNA
patologia
Roberto Guedes Universidade Federal de Minas Gerais
A Disenteria Suína, uma doença causada por Brachyspira hyodysenteriae e caracterizada pelo aparecimento de diarreia muco hemorrágica, está ressurgindo em muitos países ao redor do mundo.
34 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Explorando o desenvolvimento da disenteria suína
Como enfrentar o desafio da Disenteria Suína no novo cenário da produção de suínos sob a restrição do uso de antibióticos? A chave é conhecer nosso adversário ...
Para que ocorra a Disenteria Suína, é necessária a infecção por B. hyodysenteriae, B. suanatina ou B. hampsonii, embora não seja suficiente para desencadear a doença, pois outros fatores influenciam, como a interação com a microbiota e a dieta dos animais. A presença de muco favorece sua sobrevivência e proliferação por criar um ambiente anaeróbio, além de ser fonte de nutrição e proteção contra o fluxo intestinal.
A Disenteria Suína é uma doença de grande impacto em suínos domésticos, embora também acometa os suídeos selvagens, causando infecção pela via fecal-oral. As bactérias podem infectar e ser eliminadas pelas fezes de outras espécies como patos, gansos, galinhas, gaivotas, cães e roedores, sendo estes últimos especialmente importantes porque podem eliminar as bactérias pelas fezes por longos períodos de tempo (Até 6 meses).
Embora a Disenteria Suína aparentemente tenha sido mantida sob controle em muitas regiões, continua sendo um grande problema para muitos produtores, com vários fatores que contribuíram para o ressurgimento da doença:
Possui o gene nox que codifica a enzima NADH oxidase, que protege as bactérias contra a toxicidade do oxigênio. Existem variações no grau de patogenicidade da bactéria, de forma que dependendo da microbiota e da dieta alimentar, a doença pode ou não se manifestar, dependendo das interações dessas condições com as características da cepa presente. Portanto, a circulação de cepas de baixa patogenicidade dificulta a implementação de um programa de prevenção.
patologia
A Brachyspira hyodysenteriae é uma espiroqueta Gram-negativa anaeróbia com forma helicoidal e 7 a 14 flagelos periplasmáticos. Seus flagelos facilitam seu movimento sobre a mucosa do cólon, que é rico em células caliciformes e muco.
TRANSMISSÃO
MORFOLOGIA E SOBREVIVÊNCIA
Desmascarando B. hyodysenteriae
Restrições ao uso de antimicrobianos, principalmente promotores de crescimento, que podem ter mascarado ou atenuado o quadro clínico da doença.
O aparecimento de novas espécies patogênicas de Brachyspira, como B. hampsonii na América do Norte e B. suanatina nos países nórdicos.
Graves falhas na biosseguridade que facilitam a contaminação de sistemas intensivos de produção com cepas presentes apenas nas unidades de reprodução.
35 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Explorando o desenvolvimento da disenteria suína
Para enfrentar a Disenteria Suína, é fundamental conhecer os mecanismos patogênicos que levam à sintomatologia observadas em animais. B. hyodysenteriae causa uma infecção nos enterócitos cecal e colônico, causando descolamento do epitélio de revestimento e inflamação da lâmina própria e da submucosa intestinal.
DIAGNÓSTICO
PATOGENIA
Reconhecendo os efeitos da Disenteria Suína
Por se tratar de uma doença importante e de forte impacto econômico, é fundamental a confirmação da suspeita clínica por meio do exame de lesões macroscópicas e confirmação por técnicas laboratoriais. Quais amostras devemos analisar para confirmar o diagnóstico de Disenteria Suína?
patologia
Essas alterações levam a uma forte redução da capacidade de absorção intestinal com a perda de fluidos e nutrientes, assim como o aparecimento de hemorragias microscópicas na mucosa lesada.
SINTOMATOLOGIA
Consequentemente, o animal desenvolve diarreia com muco que em poucos dias evolui para diarreia muco hemorrágica, principalmente em leitões desmamados, de transição e de engorda, bem como em suínos reprodutores e javalis.
Inicialmente, observam-se fezes pastosas verde-amareladas e, à medida que a doença progride, evoluem para aquosas com sangue, muco e fibrina. Dependendo da resposta individual, os animais se recuperam, embora seu desenvolvimento seja comprometido com o aumento da mortalidade e diminuição do ganho de peso em animais de transição e de engorda.
36 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Explorando o desenvolvimento da disenteria suína
É imprescindível a necropsia dos animais mortos, bem como o sacrifício e posterior necropsia de alguns animais com apresentação aguda da doença, a fim de verificar se as lesões são compatíveis com a doença e coletar amostras para envio ao laboratório. Porções do intestino grosso com lesões macroscópicas compatíveis devem ser enviadas para o laboratório: Fixado em formaldeído para exame histopatológico. Amostra fresca para realização de técnicas de biologia molecular e isolamento bacteriano. Porções do intestino delgado, linfonodos mesentéricos e fígado também devem ser enviadas para fazer um diagnóstico diferencial com outros patógenos entéricos.
A importância de ter as ferramentas de prevenção e controle adequadas Caso o laboratório confirme tratar-se de Disenteria Suína, deverá ser instituído um tratamento associado à modificação do fluxo de animais na granja, intensificando as medidas de limpeza e desinfecção. É aconselhável eliminar animais muito fracos ou em baixo estado corporal que se recuperaram da infecção, pois eles podem continuar a eliminação da bactéria pelas fezes por longos períodos, contaminando o ambiente.
Uma vez confirmado o diagnóstico, é muito importante implementar um programa de erradicação da doença na propriedade o quanto antes, e três ações fundamentais devem ser realizadas:
1
1 Tratamento dos animais com o antibiótico apropriado
Devemos lembrar que reforçar a quarentena dos animais de reposição com a análise das fezes por PCR é uma alternativa viável que deve ser acompanhada por observação clínica contínua dos animais. Normalmente, para essas análises, 30 amostras de fezes são retiradas de diferentes animais e enviadas ao laboratório onde se formam pools de 5 amostras que são analisadas por PCR ou utilizadas para o isolamento da bactéria. No caso de um dos pools apresentar resultado positivo, as 5 primeiras amostras utilizadas são analisadas individualmente.
patologia
Existem vários produtos antimicrobianos que possuem atividade contra B. hyodysenteriae e o ideal seria o isolamento e a determinação da sensibilidade aos antibióticos da cepa que está circulando na granja.
Como acontece com qualquer outra doença infecciosa, todos os aspectos relacionados à prevenção da entrada de suínos, fômites e vetores biológicos contaminados com a bactéria serão de extrema importância.
Porém, tal fato nem sempre é possível, então a próxima opção seria escolher um tratamento com base nas informações existentes sobre a sensibilidade das cepas que circulam no país ou região. Em geral, Pleuromutilinas, Valnemulina e Tiamulina funcionam bem, junto com Tilvalosina e Clortetraciclina. Por outro lado, nutracêuticos à base de tomilho e alfarroba apresentam resultados promissores no controle do problema.
37 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Explorando o desenvolvimento da disenteria suína
2
3 Controle dos roedores para impedir a disseminação de bactérias através de vetores biológicos.
A Disenteria Suína é causada por uma bactéria cujo mecanismo de transmissão e comportamento epidemiológico são bem conhecidos, sendo possível controlá-la com sucesso. A grande limitação dessa doença continua sendo a ausência de uma vacina universal eficaz, visto que existe grande variabilidade entre as cepas de B. hyodysenteriae e as mesmas vacinas e os testes sorológicos que podem ser eficazes em uma região podem não ser eficazes em outra.
patologia
3
2 Limpeza, higiene e desinfecção das instalações para reduzir a pressão de infecção.
Diante do exposto, é importante lembrar que a melhor estratégia é evitar a contaminação, sendo essencial a adoção de medidas de biosseguridade para prevenir a disseminação de patógenos, uma das chaves para o sucesso no controle da Disenteria Suína, sendo fundamental:
Explorando o desenvolvimento da disenteria suína
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Evitar a entrada do patógeno realizando quarentenas e testes específicos (PCR ou isolamento). Evitar contaminação por fômites, controlando visitas, obrigatoriedade de banho, troca de roupa, cerca perimetral, etc. Realizar um bom controle de roedores.
38 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Explorando o desenvolvimento da disenteria suína
COMO O
BALANÇO ELETROLÍTICO EM
FÊMEAS PERIPARTO AFETA A DAS
PRODUTIVIDADE
MATRIZES?
Cesar Augusto Pospissil Garbossa¹ Leonardo da Silva Fonseca² nutrição
¹ Professor na área de Nutrição e Produção de Suínos da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo ²Professor na área de Suinocultura, Bioclimatologia e Bem-Estar Animal da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
As fêmeas suínas evoluíram significativamente em relação aos aspectos produtivos, principalmente nas últimas décadas, no que diz respeito ao tamanho da leitegada. Essa evolução foi possível devido à intensa seleção genética e às mudanças associadas ao manejo, às quais as matrizes foram submetidas. Particularmente, para se produzir um maior número de leitões, bem como leite em quantidade e qualidade, há o aumento da exigência nutricional. Portanto, a nutrição animal precisou acompanhar essa evolução, para garantir o desempenho produtivo através do aporte nutricional adequado.
40 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Como o balanço eletrolítico em fêmeas periparto afeta a produtividade das matrizes?
Dessa forma, vários pontos devem ser considerados nas dietas periparto (104 dias de gestação), no entanto, um desses pontos, que muitas vezes é pouco considerado, é o balanço eletrolítico (BE) da dieta. Sódio (Na), potássio (K) e cloro (Cl) são macro minerais com
Ainda, vale ressaltar que a relação desses
distribuição nos fluidos e tecidos moles do
três elementos é mantida de forma
organismo, que agem em conjunto com
equilibrada no sangue, sendo Na, K e Cl
íons de fosfato e bicarbonato atuando
decisivos na regulação dos processos
sobre:
vitais. A relação entre esses minerais fundamenta-se na manutenção ideal entre
controle homeostático orgânico,
cátions e ânions no plasma.
manutenção da pressão osmótica,
De uma forma geral, as rações dos suínos são formuladas a partir de matérias-primas de origem vegetal, as quais possuem um
nutrição
equilíbrio acidobásico,
alto teor de potássio. No entanto, essas controle da passagem dos nutrientes
rações são pobres em sódio. Nesse sentido,
para as células e
com o objetivo de suplementar o sódio, há um desequilíbrio no fornecimento de Cl-,
metabolismo da água.
cujas necessidades são aproximadamente 20% inferiores às de Na+.
Assim sendo, para atender às exigências de Na+, é mais adequado utilizar bicarbonato de sódio e/ou formular as rações atendendo ao BE, o qual se relaciona com o equilíbrio iônico dos fluídos orgânicos, que regulam o balanço acidobásico, para manutenção da homeostase orgânica. O BE pode ser calculado a partir da equação BE = (Na+ + K+ + Ca++ + Mg++) – (Cl- + H2PO4- + HPO4- + SO4-) e é expresso em mEq/kg de ração.
41 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Como o balanço eletrolítico em fêmeas periparto afeta a produtividade das matrizes?
Sabe-se que o BE pode influenciar o desempenho e a digestibilidade dos nutrientes em suínos nas fases de creche e crescimento/terminação, sendo associado ao melhor desempenho, bem como maior consumo de água pelos leitões. Somado a isso, o BE possui a capacidade de modular o pH da urina e das fezes, podendo resultar em decréscimo na emissão de amônia e, assim, minimizar o odor dos dejetos frescos dos suínos. De uma forma geral, acredita-se que o BE negativo causa a diminuição do consumo de ração, enquanto o BE positivo pode maximizar
O ambiente em que os animais são mantidos também pode influenciar nos níveis de Na+, K+ e Cl- do plasma, sendo que a concentração de K+ e Na+ diminui à medida que a temperatura ambiental se eleva, no entanto, a concentração de Claumenta com o aumento da temperatura ambiente (Belay e Teeter, 1993).
o desempenho dos animais.
Como mencionado anteriormente, a maximização do desempenho produtivo em porcas é um grande desafio para os
nutrição
nutricionistas. Uma das tecnologias disponíveis para garantir esse benefício é a manipulação De acordo com o NRC (2012), o BE ótimo para
do BE, haja vista alguns pesquisadores
suínos é de 250 mEq/kg, porém estas rações
demonstrarem efeitos positivos da
normalmente não são corrigidas quanto ao
regulação do BE sobre a lactação e o
BE, tendo valores menores quando ocorre
desempenho reprodutivo em bovinos
redução da proteína bruta e suplementação
leiteiros.
com aminoácidos industriais.
42 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Como o balanço eletrolítico em fêmeas periparto afeta a produtividade das matrizes?
Em estudo recente, conduzido por Ao et al. (2020) avaliando os efeitos da alteração do BE (165 ou 300 mEq/kg) na dieta de matrizes suínas em gestação, observou-se que porcas alimentadas com a dieta de gestação de 165 mEq/kg, apresentaram maiores número total de leitões nascidos, número total de leitões nascidos vivos e peso da leitegada ao nascimento, quando comparadas às fêmeas alimentadas com a dieta de gestação de 300 mEq/kg.
No trabalho de Ao et al. (2020), o qual avaliou BE em dietas de gestação, verificouse que as fêmeas que receberam a dieta com 165 mEq/kg desmamaram um maior número de leitões, bem como aumentaram o peso da leitegada ao desmame, em comparação com as fêmeas alimentadas com a dieta de 300
Porém, outros autores relataram que a
De forma semelhante, outros estudos (Tilley,
variação do BE da dieta (-100, 0, 162 e 300
1997; Hines et al., 2000; DeRouchey et al.,
mEq/kg), do dia 90 da gestação ao parto,
2003) verificaram que a diminuição do BE
não afetou o número de leitões nascidos
da dieta de lactação aumentou a taxa de
vivos, nem o peso da leitegada ao nascimento
sobrevivência de leitões durante a lactação.
nutrição
mEq/kg.
(Cheng et al., 2015). Esse fato foi associado pelos autores à menor exposição ao desafio bacteriano ao De forma semelhante,
qual os leitões foram submetidos, devido à
estudos de outros
diminuição do pH urinário e das infecções
pesquisadores, avaliando
do trato urinário das porcas alimentadas
diferentes níveis do BE
com dietas de baixo BE (Dee et al., 1994;
nas dietas pré-parto, não
Hines et al.,
2000).
observaram efeitos sobre o número total de leitões nascidos vivos, nem sobre o peso da leitegada ao nascimento (Dove e Haydon, 1994; DeRouchey et al., 2003). No trabalho de DeRouchey et al. (2003), relatou-se que o número total de leitões nascidos vivos ou o peso da leitegada ao nascimento não são influenciados pelo BE (0, 100, 200, 350 e 500 mEq/kg) em dietas a partir do dia 109 da gestação.
43 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Como o balanço eletrolítico em fêmeas periparto afeta a produtividade das matrizes?
nutrição
Esse fato foi comprovado por DeRouchey et
Sabe-se que os ânions possuem efeito de
al. (2003), que demonstraram que o pH do
modulação sobre as células imunológicas,
sangue e da urina, bem como as bactérias
capacidade de redução dos radicais livres, bem
urinárias totais, diminuíram à medida que o BE
como podem melhorar a resposta imune e,
foi reduzido de 500 para 0 mEq/kg em dietas
consequentemente, maximizar a resistência às
de lactação.
doenças.
Cheng et al. (2015) observaram aumento Wang e Liu (2011) observaram uma queda na taxa de diarreia dos leitões em decorrência da diminuição do BE de dietas de lactação para -71,12 mEq/kg, o que possibilitou um maior peso médio ao desmame.
plasmático de IgG, IgA e IgM no dia 107 da gestação, IgG no dia do parto, bem como IgG e IgA no dia do desmame em porcas alimentadas com uma dieta de gestação com BE de -100 mEq/kg, em comparação com porcas recebendo dietas com BE de 162 mEq/kg.
No entanto, a pesquisa realizada por Cheng et al. (2015) não demonstrou quaisquer efeitos benéficos do BE (-100, 0, 162/198 e 300 mEq/kg) do dia 90 da gestação ao dia 21 da lactação, sobre o desempenho da leitegada e composição do colostro e leite.
44 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Como o balanço eletrolítico em fêmeas periparto afeta a produtividade das matrizes?
demonstrado que porcas consumindo dietas com BE de 165 mEq/kg apresentaram um menor nível de cortisol sérico no dia do parto e no dia do desmame, quando comparadas às porcas que receberam dietas com 300 mEq/kg, o que indicou que a dieta de gestação com menor BE pode, potencialmente, aliviar o estresse agudo em alguns momentos, como durante o parto e
Os resultados de estudos com a alteração do BE da dieta durante a fase final da gestação são controversos. Nesse sentido, mais
nutrição
No estudo de Ao et al. (2020) foi
estudos devem ser realizados a fim de se estabelecer o BE ideal da dieta para a fase final de gestação, visando assegurar desempenho satisfatório da matriz e de sua respectiva leitegada.
no desmame e, assim, melhorar a resposta imune.
Um ponto a ser ressaltado é que BE negativos podem resultar em diminuição do consumo voluntário de ração (Escobosa et al., 1984; Patience et al., 1987; DeRouchey et al., 2003; Cheng et al., 2015). Esse efeito está possivelmente associado à acidose metabólica causada pelo aumento do nível de Cl- plasmático, derivado da ingestão de CaCl2 (Yen et al., 1981), o que é corroborado por Oetzel (1993), em sua afirmação de que a adição de sais aniônicos pode reduzir a
Como o balanço eletrolítico em fêmeas periparto afeta a produtividade das matrizes?
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palatabilidade da dieta.
45 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Como o balanço eletrolítico em fêmeas periparto afeta a produtividade das matrizes?
PLANO BRASIL LIVRE DA PESTE
SUÍNA
CLÁSSICA EM AÇÃO
reportagem
Cândida Azevedo (Editora SuìnoBrasil) e Guilherme Takeda (Chefe da Divisão de Sanidade dos Suídeos/ CAT/CGSA/DSA/SDA e auditor fiscal agropecuário do DSA)
O
Brasil é o quarto maior produtor e exportador mundial de carne suína. Em 2020, ano marcado pela pandemia da Covid-19, a cadeia
suinícola bateu recorde histórico, com uma produção de 4,436 milhões de toneladas o setor atendeu 77% da demanda doméstica e exportou 1,021 milhão de toneladas. A receita cambial das vendas chegou a US$ 2,270 bilhões, resultado 42,2% maior que o alcançado em 2019, com US$ 1,597 bilhão.
46 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Plano Brasil Livre da Peste Suína Clássica em ação
A manutenção e a abertura de mercados dependem dos padrões de qualidade e competitividade, do fortalecimento
PSA e PSC no Brasil
do status sanitário e da capacidade de certificação dos serviços veterinários oficiais. Nesse contexto, as doenças infecciosas, caracterizadas por surtos súbitos, que muitas vezes tomam proporções epidêmicas, representam uma ameaça. Dentre os aspectos que podem levar à emergência de doenças infecciosas em animais domésticos, estão: intensificação da produção, mutações nos patógenos, mudanças no meio ambiente,
vivos, material genético, insumos e produtos de origem animal e intensa movimentação de pessoas.
reportagem
intensificação do comércio de animais O primeiro registro da PSA no Brasil ocorreu em maio de 1978, quando restos de alimentos servidos em voos internacionais foram desviados, de forma clandestina, do Aeroporto Internacional do Galeão para uma suinocultura particular em Paracambi, Rio de Janeiro, dando origem ao surto de PSA no território nacional.
De acordo com o agente infeccioso, os países são considerados livres, endêmicos ou com a presença da doença em certas áreas. Essa condição sanitária é a principal referência para o comércio seguro de animais e seus produtos entre os países. Entre as doenças mais relevantes para o comércio internacional
E em 05 de dezembro de 1984, o Brasil foi reconhecido como país livres da PSA e desde então, não há relatos da doença no país, devido à adoção de medidas de prevenção e conscientização para a melhoria da biosseguridade, assim como estão sendo reforçadas ações pelos órgãos oficiais responsáveis pelo setor.
de produtos suínos, a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE) destaca a Peste Suína Africana (PSA) e a Peste Suína Clássica (PSC).
47 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Plano Brasil Livre da Peste Suína Clássica em ação
No Brasil, a PSC foi erradicada nas principais regiões produtoras de suínos (tecnificada), após o programa de imunização com vacina viva, em 1993. Em 2001 os estados do RS, SC, PR, SP, RJ, MG, ES, BA, SE, MS, MT, GO e o DF foram declarados livre de PSC, e foi criado o
A ZL é mantida por meio de medidas de vigilância epidemiológica, que inclui avaliação de ausência de atividade viral comprovada por ações de monitoramento sorológico periódico.
Plano de Contingência para PSC. A PSC é definida como uma doença de notificação obrigatória, conforme a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE).
As 11 unidades da federação que compõe a ZnL representam cerca de
reportagem
50% do território nacional e detém cerca de 18% do rebanho suíno, o que representa mais de cinco milhões de animais, distribuído em pequenas Sendo uma enfermidade altamente transmissível, de alto poder de difusão e gravidade, podendo se estender além das fronteiras nacionais; causada por um vírus RNA. A manifestação clínica da doença pode ser aguda, subaguda e crônica.
A condição de zona livre (ZL) de PSC passou a ser estabelecida oficialmente pela OIE em 2015, com aplicação de medidas de acordo com código sanitário da OIE e envio de missões ao Brasil. No ano de 2016, foi publicada a Instrução Normativa N° 25, de 19 de julho, na qual estabelece procedimentos para o trânsito de suínos e derivados entre as unidades da Federação reconhecidas pela
propriedades rurais (subsistência), envolvendo os seguintes estados: Alagoas Amazonas Amapá Ceará Maranhão Pará Paraíba Pernambuco Piauí Rio Grande do Norte Roraima
OIE como livre de PSC.
48 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Plano Brasil Livre da Peste Suína Clássica em ação
reportagem
Fonte: OIE.
Zonas livres de PSC no Brasil Zona livre de PSC composta pelos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul em setembro de 2014. Zona Livre de PSC composta pelos estados Acre, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rondônia, São Paulo, Sergipe, Tocantins e o Distrito Federal em setembro de 2015. Zona do Brasil sem o status oficial da PSC
49 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Plano Brasil Livre da Peste Suína Clássica em ação
Caracterização da PSC A PSC é causada por um vírus RNA da família Flaviviridae, gênero Pestivirus, sendo atualmente descritos três genótipos. A variação na manifestação clínica da doença dificulta o diagnóstico preciso, podendo causar confundimento com outras doenças, no entanto o diagnóstico laboratorial é indispensável para a rápida detecção e evitar a disseminação do vírus. As formas mais frequentes de diagnóstico utilizados para a detecção do vírus da PSC são através da detecção do vírus ou antígenos virais, e provas que visam a
reportagem
detecção de anticorpos contra o vírus da PSC. No primeiro caso se busca a identificação do vírus presente em animais infectados (PCR). No segundo caso, se busca a resposta sorológica (ELISA) dos suínos, frente o contato prévio com o vírus circulante, ou reação vacinal.
A utilização de suínos necropsiados é o método mais apropriado para coleta de fragmentos de órgãos e facilidade para a detecção viral. A ocorrência de PSC acarreta graves consequências à saúde do rebanho, ao bem-estar animal, à produção suinícola, às exportações e aos seus produtos comercializados.
50 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Plano Brasil Livre da Peste Suína Clássica em ação
Plano Estratégico Brasil Livre da PSC Em dezembro de 2020 a Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS) convocou as suas afiliadas (CE, BA, MT, MS, GO, MG, DF, ES, SP) para tratar do tema Peste Suína Clássica (PSC) na zona não livre (ZnL). A reunião contou com os representantes do Departamento de Saúde Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Na oportunidade o Diretor do Departamento de Saúde Animal (DSA) do MAPA, Geraldo Moraes participou do encontro para
mas alguns países, como Austrália,
explicar as diretrizes do
Nova Zelândia, Canadá, Estados
Plano Estratégico Brasil livre
Unidos, Chile, Argentina, Paraguai e
de Peste Suína Clássica e
Uruguai, são livres. Nos anos 1990, grandes surtos ocorreram na Holanda, Alemanha, Bélgica e Itália. No Japão,
quais são as perspectivas de execução do mesmo para 2021.
onde a PSC não ocorria desde 1992, foi novamente detectada em setembro de
O Chefe da Divisão de Sanidade dos Suídeos/
2018 e desde então vários focos foram
CAT/CGSA/DSA/SDA e auditor fiscal
relatados à OIE.
agropecuário do DSA, Guilherme Takeda, apresentou o Plano Brasil Livre de PSC, contextualizando as lideranças da suinocultura a importância de atuar de forma conjunta, iniciativa privada e governo.
“
Tem que haver união para realizar as premissas do Plano, pois são várias etapas que vão desde o fortalecimento do Serviço Veterinário Oficial (SVO), do sistema de vigilância para as doenças dos suínos, incluindo a implantação de um programa de vacinação sistemática contra a PSC de forma regionalizada,” ponderou Takeda.
51 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Plano Brasil Livre da Peste Suína Clássica em ação
reportagem
A doença tem distribuição mundial,
Projeto Piloto: Plano para Erradicação da Peste Suína Clássica no Estado de Alagoas Em maio de 2021 o MAPA e a Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária de Alagoas (ADEAL) deram início ao “Plano para Erradicação da Peste Suína Clássica no Estado de Alagoas” cujo objetivo é vacinar todo o rebanho de suínos do estado, com a campanha ocorrendo de forma semestral em duas etapas e com duração de 30 dias.
Além disso, há produtores que, em sua maioria são produtores de subsistência,
Takeda compartilhou com a Redação
tiveram seus animais sacrificados pela
da SuínoBrasil as fases de execução do
ocorrência da PSC, o Médico Veterinário
Projeto Piloto, destacando:
informou que, todos os produtores que tiveram seu rebanho sacrificado pela
“
reportagem
Foi vencida a etapa de planejamento e em maio iniciou-se a fase de execução do Projeto Piloto em Alagoas, com a divulgação e sensibilização dos produtores, visando sua plena participação da primeira etapa de vacinação que ocorrerá em junho/2021.
”
ocorrência da PSC receberam indenização, paga através de recursos público ou privado.
Além da vacinação, estão sendo realizadas diversas atividades para viabilizar a implantação do Projeto, incluindo:
Outro tema abordado foi a
instituição de uma Equipe Gestora
receptividade dos produtores com a
Estadual;
implementação do Plano: edição de atos normativos que “Está sendo feito um forte trabalho de
permitam a execução do Projeto;
conscientização junto aos pequenos produtores e também com aqueles da
elaboração de material educativo
suinocultura tecnificada, comunicando
sobre a PSC;
o que é a peste suína clássica e como será o processo de vacinação em Alagoas. Os suinocultores alagoanos receberam muito bem o Plano Estratégico Brasil livre de PSC, pois enxergam a vacinação como proteção de seu rebanho contra essa grave doença.”
capacitação de vacinadores contratados pela iniciativa privada para realizar a vacinação dos suínos; fortalecimento das capacidades da Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária de Alagoas.
52 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Plano Brasil Livre da Peste Suína Clássica em ação
Questionado sobre o prazo para finalização do
Ao final do processo para que sejam
plano e reconhecimento oficial do país como
executados os estudos de validação
livre da PSC, o Chefe da Divisão de Sanidade dos
da condição como livre de peste suína
Suídeos pontua que o tempo para que se atinja a
clássica, serão necessárias pelo menos
condição de livre de peste suína clássica depende
duas etapas de vacinação com cobertura
da execução do Plano em toda Zona não Livre.
em propriedades e rebanho acima de 90%, com ausência de focos no período.
“
“É importante ressaltar que ao finalizar as duas etapas da campanha de vacinação o Projeto Piloto em Alagoas como um todo será avaliado e o modelo utilizado poderá ser revisado”, destaca Takeda.
Por fim, Guilherme Takeda conclui que, o projeto piloto em Alagoas busca
A vacinação contra a peste suína
iniciar uma intervenção organizada e
clássica é uma das ferramentas, fundamentais para o sucesso do Plano:
reportagem
consistente na zona não livre de peste
mas três premissas mostram-se
suína clássica, evitando retrocessos no processo de controle e erradicação da doença e, principalmente, mitigar
1. Institucionalização: necessidade de sensibilização e engajamento de autoridades e demais atores envolvidos no
o risco do vírus da PSC atingir as principais áreas de produção suína do país, o que causaria impactos sociais e
controle e erradicação da PSC.
econômicos ainda mais graves.
2. Sustentação e gestão financeira:
Este é o primeiro passo para a
disponibilização suficiente
execução de uma política pública que irá beneficiar tanto as comunidades
e oportuna de recursos
locais, que tem na criação de suínos
financeiros, tanto públicos
uma alternativa de fonte alimentar
quanto privados, com clara
e de renda, quanto a suinocultura
definição de compromissos, atribuições e responsabilidades no acompanhamento da gestão
industrial nacional, que mantem sua competitividade no mercado
financeira do Plano.
internacional diretamente relacionada à
3. Fortalecimento das capacidades
controles sanitários.
qualidade e confiança conferidas pelos
dos SVE: a execução das ações previstas demanda adequações e
Plano Brasil Livre da Peste Suína Clássica em ação
investimentos no sistema oficial
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de saúde animal nos estados
Referências bibliográficas a pedido
53 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Plano Brasil Livre da Peste Suína Clássica em ação
MICOPLASMOSE EM SUÍNOS
ENTENDENDO A DINÂMICA DA INFECÇÃO A PARTIR DE UMA PERSPECTIVA DE MULTICAUSALIDADE patologia
MV, MSc, DSc. Nathalia María del Pilar Correa Valencia
E
m meados do século XIX, John Snow demonstrou que a cólera em humanos era causada pelo consumo de água contaminada com matéria fecal de indivíduos “infectados”, ao constatar que os casos dessa doença na cidade de Londres estavam agrupados em áreas onde a a água consumida estava contaminada com fezes.
A importância do trabalho desenvolvido por John Snow na Inglaterra reside no rompimento com os paradigmas existentes na época, nos quais ainda prevalecia a forte crença na teoria miasmática da doença, também conhecida como «teoria antipoluição». A metodologia científica estabelecida por Snow é atualmente conhecida como «método epidemiológico», que tem sido utilizado ao longo da história tanto para a investigação das causas como para a solução de surtos de doenças transmissíveis.
Esta constatação foi derivada de um processo de mapeamento dos poços de água em um mapa do bairro do Soho, localizando o poço contaminado na
Por isso, John Snow é considerado o
Broad Street, no centro da epidemia.
pai da epidemiologia moderna, já
Snow recomendou que a comunidade fechasse a bomba d’água, reduzindo assim o número de casos da doença.
que conseguiu controlar a doença, mesmo 30 anos antes do nome do microrganismo (Vibrio cholera).
54 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Micoplasmose em suínos: Compreendendo a dinâmica da infecção de uma perspectiva de multicausalidade
As bases lançadas por Snow somam-se aos avanços da conhecida Idade de Ouro da Microbiologia (final do século XIX e início do século XX), a saber, amostragem em massa, imunização, tratamentos específicos, controle de vetores, uso de animaissentinela, entre outros, levando à construção de redes multifatoriais da doença.
É a partir desse modelo epidemiológico que convido o leitor a realizar a leitura deste artigo, que tenho certeza que fornecerá as ferramentas necessárias para o controle efetivo da micoplasmose em suínos.
O desenho dessas redes deve levar em consideração o modelo tradicional de conhecido como tríade epidemiológica, que inclui três componentes:
Pesquisas diagnósticas recentes indicam que a doença respiratória clínica em suínos é frequentemente polimicrobiana, como resultado
agente infeccioso,
de uma infecção combinada com um ou mais
hospedeiro suscetível
e co-infecção no conhecido complexo infeccioso
ambiente favorável que permite
vírus e bactérias¹, interagindo da dinâmica de pré respiratório suíno (PRDC, da sigla em inglês2).
patologia
causalidade em doenças infecciosas
(e muitas vezes potencializa) a interação do agente e do hospedeiro, possibilitando a ocorrência da doença.
55 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Micoplasmose em suínos: Compreendendo a dinâmica da infecção de uma perspectiva de multicausalidade
Dentro deste complexo encontra-se Mycoplasma hyopneumoniae [MHYO],
Como ocorre o processo patológico?
um dos principais agentes que afetam o sistema respiratório em suínos e o agente causal da pneumonia enzoótica [PE]3.
O gênero Mycoplasma, com mais de 100 espécies, lida com um grande grupo de bactérias G - .
1
O epitélio traqueal afetado esfolia as células epiteliais ciliadas e não ciliadas, geralmente perdendo suas conexões intercelulares.
Durante sua longa evolução de Gram- a Gram+, eles perderam - além dos genes para a biossíntese da parede celular aqueles necessários para muitos processos
patologia
biossintéticos, a um ponto em que se tornaram totalmente dependentes do hospedeiro para sua sobrevivência. Alguns contêm menos de 500 genes, o que os aproxima do conceito de célula
As células epiteliais são então
mínima, ou seja, o número mínimo de
arredondadas, esfoliadas e
genes necessários para preservar a vida4.
depois lisadas, dando origem
O efeito somático do MYHO começa com a adesão e destruição completa da barreira muco ciliar e a hiperplasia das células epiteliais da traqueia, brônquios e bronquíolos5, afetando o sistema de limpeza
a uma população de organelas celulares, como mitocôndrias
2
e cílios intercalados com muco
para formar o exsudato clássico encontrado no lúmen traqueal6.
da mucosa ao interromper a funcionalidade e conformação dos cílios na superfície epitelial.
Muco
Células epiteliais ciliadas Células epiteliais
56 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Micoplasmose em suínos: Compreendendo a dinâmica da infecção de uma perspectiva de multicausalidade
3
Além disso, a infecção por
MHYO também está comumente associada à imunoestimulação e imunossupressão7—entendida como imunomodulação, dados os efeitos mitogênicos inespecíficos sobre linfócitos8 ou citocinas secretadas por macrófagos ativados9.
Quando a infecção MHYO não é complicada por patógenos concomitantes, a doença pode seguir um curso subclínico com sinais clínicos leves, tais como10: tosse crônica não produtiva ganho de peso médio diário reduzido conversão alimentar afetada. Quando patógenos secundários estão envolvidos, os sinais clínicos incluem11: dificuldade para respirar febre
A fase clínica da PE é observada principalmente em suínos em crescimento e terminação e é
patologia
Em consideração ao exposto anteriormente, é fácil entender como o MYHO predispõe os animais a infecções por outros patógenos respiratórios, incluindo bactérias, parasitas e vírus.
morte
caracterizada por alta morbidade (≈100%) e baixa mortalidade (≈6%)12 embora suínos de todas as idades sejam suscetíveis à infecção por MHYO, geralmente não se observa em animais com menos de 6 meses de idade13.
A prevalência da doença clínica é particularmente alta - mas não exclusiva, em animais que estão no estágio de terminação e até a idade de abate, e a gravidade dos sinais clínicos é definida pela cepa de MHYO envolvida, a pressão da infecção, a presença de infecções secundárias e gestão e condições ambientais.
57 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Micoplasmose em suínos: Compreendendo a dinâmica da infecção de uma perspectiva de multicausalidade
O contato direto entre animais infectados e suscetíveis é a principal via de transmissão da MHYO, uma vez que a bactéria é eliminada pelo trato respiratório dos indivíduos infectados pela exalação de gotículas microscópicas durante os episódios de tosse e pelo contato direto pelo nariz14.
E assim, epidemiologicamente falando, é fundamental ter em mente que as porcas e os leitões são considerados o principal reservatório de MYHO para todo o sistema de produção.
Acredita-se que a circulação MYHO ocorra entre porcas multíparas e marrãs, que são capazes de manter o patógeno dentro da granja e são responsáveis pela maior parte da disseminação de bactérias, para leitões recém-nascidos.
Os leitões são considerados livres desta bactéria ao nascer, uma vez que a transmissão via uterina não foi documentada e os primeiros eventos de exposição ocorrem durante o período de
patologia
lactação, quando os leitões estão em contato
Sendo assim, a adição constante de marrãs e o nascimento constante de populações de leitões proporcionam condições necessárias para manter a transmissão ativa do patógeno17.
com as matrizes que excretam o microrganismo15.
Na verdade, a duração do período de lactação tem sido sugerida como um fator de risco para a colonização de leitões com MHYO antes do desmame16.
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Além disso, a infecção MHYO tem um longo período de incubação ou latência (dependendo do estágio), podendo chegar a 240 dias18, o que complica a fase de transmissão da doença —já lenta, observada em sistemas de produção.
Não há muito a dizer sobre o efeito do meio ambiente como um componente da tríade, considerando a habilidade quase inexistente de MYHO de sobreviver fora do hospedeiro.
Devido à ameaça econômica que representa para a indústria suína, e considerando que a distribuição geográfica da MHYO é considerada global21, seu estudo deverá gerar avanços substanciais na qualidade, oportunidade e abrangência de diagnósticos e análises. Essas abordagens devem ter como objetivo o melhor entendimento de quais cepas
A introdução de MYHO através de fômites não parece ser de alto risco para as granjas, além disso a limpeza e desinfecção periódica dos sistemas de produção parecem ser medidas eficazes contra esta bactéria19.
estão presentes ao longo do tempo nos diferentes sistemas de produção, por meio do uso de técnicas, tais como: a tipagem molecular de isolados;
patologia
E
analisar a dinâmica da infecção (estabelecimento e monitoramento da disseminação da doença); e, a concepção de vacinas eficazes e estratégias de vacinação adequadas.
Entretanto, qualquer fator ambiental que represente um fator de risco para a competência imunológica do suíno, entra em ação dinamicamente no comportamento da PE, por exemplo, mudanças bruscas de temperatura, alta umidade, poluentes —incluindo amônia, baixa circulação de ar , entre outros20.
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Tudo isso sem descuidar das estratégias de manejo que visam reduzir a carga ao nível do sistema de produção para a prevenção da disseminação de MHYO entre animais suscetíveis.
Por fim, convido o leitor, com base nas informações fornecidas, a propor estratégias de manejo corretamente fundamentadas, levando em consideração as peculiaridades
Micoplasmose em suínos: Compreendendo a dinâmica da infecção de uma perspectiva de multicausalidade
epidemiológicas deste importante agente infeccioso, conseguindo seu controle efetivo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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DESAFIO DO BRASIL CONTRA A ENTRADA DA PESTE SUÍNA AFRICANA
Controle sanitário
Com a globalização da economia, redução das barreiras tarifárias e aumento das trocas comerciais entre os países, há a possibilidade do incremento dos riscos do intercâmbio internacional de agentes etiológicos de enfermidades entre animais, tornando-se de grande importância a fiscalização pelos serviços veterinários oficiais nas fronteiras internacionais, considerado uma excelente estratégia de defesa contra o ingresso de doenças.
Carlos Alberto Magioli Médico Veterinário Auditor Fiscal Federal Agropecuário São acentuadas as dificuldades para o controle e combate de determinadas doenças exóticas algumas de rápida propagação a causar prejuízos não somente pela grande mortalidade de animais em regiões indenes, como pela mobilização de estrutura de pessoal e material para a erradicação ou controle destas, podendo ainda resultar tanto em proibições internacionais às exportações de animais e produtos do país acometido, quanto na oferta de alimentos no próprio mercado interno, devido às restrições ao trânsito de animais e produtos, cujas implicações comerciais determinam o enfraquecimento do comércio local, aumento do desemprego e consequente escassez de renda.
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A peste suína africana (PSA) é uma doença altamente contagiosa, causada por um vírus que não acomete o homem, sendo exclusiva de suídeos domésticos e asselvajados (javalis e cruzamentos com suínos domésticos), observada desde o início do século 20 no sul e leste africanos e inicialmente caracterizada pelos aspectos clínicos e patológicos semelhantes à peste suína clássica, sendo posteriormente observado serem as duas enfermidades distintas. Em setembro de 2018, o vírus foi detectado em suínos de subsistência na China e na Romênia e em javalis na Bélgica. Nestes surtos, a fonte comum de infecção foram restos de alimentos contendo produtos não cozidos, derivados de suínos, contaminados com o vírus.
É uma doença de notificação obrigatória aos órgãos oficiais internos e internacionais de controle de saúde animal, com potencial para rápida disseminação e com significativas consequências sociais e econômicas, não existindo vacina ou tratamento.
Controle sanitário
A PESTE SUÍNA AFRICANA
A Organização Internacional de Saúde Animal, OIE recomenda que a prevenção em países livres depende da implementação de políticas de importação apropriadas e medidas de biossegurança, garantindo que nem suínos vivos infectados nem produtos derivados de suínos sejam introduzidos em áreas livres da doença.
Isso inclui garantir o descarte adequado de resíduos de alimentos de aeronaves, navios ou veículos vindos de países afetados e policiamento das importações ilegais de suínos vivos e produtos derivados de suínos dos países afetados.
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PESTE SUÍNA AFRICANA NO BRASIL
Controle sanitário
Fato marcante para exemplificar a importância das recomendações da Organização Internacional de Saúde Animal, foi a entrada da peste suína africana no Brasil no ano de 1978, que se deu a partir de restos de alimentação de bordo de voos provenientes da península ibérica, levados inadvertidamente para uma criação de suínos situada no Município de Paracambi/ RJ propiciando rápida proliferação com identificação de 224 focos com sacrifício de sessenta e seis mil suínos e indenizações de dois milhões de dólares, incluídos os prejuízos financeiros pela perda de animais. Entrada da peste suína africana no Brasil no ano de 1978.
Os trabalhos de erradicação custaram ao país cerca de vinte milhões de dólares e como consequência imediata houve a intensificação da fiscalização de portos, aeroportos e agencias de correios. Acrescenta-se o impacto social imenso não somente para as produções comerciais, como também para o homem do campo que tinha na criação caseira de suínos sua fonte de alimento e de recursos financeiros. 20.000.000
BRASIL
É pertinente afirmar que o risco de introdução de patógenos através de animais vivos e seus produtos é proporcional ao volume do comércio entre países, requerendo maior atenção dos serviços oficiais nas fronteiras internacionais, como estratégia de controle, notadamente por bagagens de viajantes muitos dos quais ignoram o perigo que pode representar um, a seu ver simples, alimento contaminado. Como o Brasil é um grande produtor e exportador, notadamente nos casos dos alimentos de origem animal, de carnes bovina, suína e de aves, tem nas regras estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e reconhecidas pela Organização Mundial do Comércio (OMC) as determinantes para as ações de controle das fronteiras, uma vez que, doenças transmissíveis de gravidade e poder de disseminação rápido com consequências econômicas para o comércio internacional como febre aftosa, encefalopatia espongiforme bovina, pestes suínas africana e clássica, doença de Newcastle e influenza aviária, podem servir como justificativa para a suspensão das compras por países importadores.
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VIGILÂNCIA AGROPECUÁRIA INTERNACIONAL (VIGIAGRO) As ações de vigilância agropecuária incluem a fiscalização de cargas internacionais e de bagagem de passageiros, acompanhadas ou não, aplicando medidas de apreensão e interdição, quando passíveis de veicular agentes de doenças que constituam ameaça à agropecuária nacional.
Para comprovar este trabalho diuturno da Vigilância Agropecuária, dados de tese de doutorado do autor Carlos Alberto Magioli, dão conta que no período de janeiro do ano de 2010 a dezembro do ano de 2014 foram realizadas pelo Serviço de Vigilância Agropecuária no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro em 9.586 voos fiscalizados, 17.233 apreensões, totalizando 29.239,446kg de 86 tipos de produtos de origem animal diversos, originários de 93 países de todos os continentes.
Controle sanitário
Desta forma a Vigilância Agropecuária Internacional (VIGIAGRO), criada com a publicação da Portaria SDA nº 297, de 22 de junho de 1998, é o segmento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que atua na fiscalização da importação e exportação, bem como no trânsito internacional de animais, seus produtos, subprodutos, materiais de multiplicação animal, materiais de pesquisa e insumos, tendo unidades estrategicamente distribuídas em portos marítimos e fluviais, aeroportos internacionais, postos de fronteira e aduanas especiais as quais cabe esta importante tarefa de salvaguardar a pujança da agropecuária Brasileira grande produtora e exportadora de alimentos para o mundo.
As atividades da Vigilância Agropecuária Internacional do Brasil na área animal têm como meta impedir a entrada de animais ou de produtos de origem animal que de alguma forma possam introduzir patógenos, principalmente exóticos, que em território brasileiro venham a concorrer para a disseminação de doenças entre os animais, mais especificamente nos de produção.
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CONTROLE E APREENSÕES DE CARGAS De importância é o fato de que em todos os países de origem das apreensões, grassa alguma doença das listadas como de não ocorrência no Brasil e que, por não terem os produtos qualquer certificação quanto a sua segurança zoo-sanitária não se enquadram no descrito pela organização Internacional de Saúde Animal que considera seguros para o comércio aqueles produtos ou animais isentos de enfermidade, infecção ou infestação.
Controle sanitário
Sendo assim é fácil deduzir que, esta quantidade de produtos que tiveram suas entradas no território brasileiro impedida, quando avaliada sobre a ótica de potencial perigo sanitário, poderia representar danos consideráveis a pecuária nacional. Quanto aos produtos motivo das apreensões grande parte tem como base a carne suína ou a tem como uma das matérias primas de sua composição como, apresuntado, bacon, banha, carne suína, copa, embutido, linguiça, lombo, mortadela, orelha de suíno, paio, pele suína, presunto, salame, salsicha, salsichão, torresmo, toucinho, todos eles representando risco sanitário, mesmo os submetidos a tratamento térmico durante o seu processamento industrial pela possibilidade de não terem alcançado a temperatura e o tempo necessário para a inativação do vírus.
Está posto assim, sobre a expressiva importância dos desafios requeridos para a Vigilância Agropecuária Internacional do Brasil com vistas a defender os limites geográficos brasileiros da entrada de patógenos causadores de doenças para os animais, sejam de companhia e principalmente de produção e dentre eles o da peste suína africana se destaca seja pela experiência das graves consequências de sua incidência na década de 1970 nesse país, seja pela atual disseminação em diversos países de vários continentes. Esta importância está retratada pela Organização Internacional de Saúde Animal para a qual a complexa epidemiologia da peste suína africana não é possível ser controlada sem uma resposta coordenada dos diferentes setores envolvidos que além dos Serviços Veterinários, inclui autoridades de controle de fronteiras, a indústria de produção de suínos, universidades, organismos de gestão florestal, associações, organizações turísticas e organizações de transporte de animais sendo a comunicação clara e transparente essencial para que todos esses atores compreendam plenamente seus papéis e responsabilidades na implementação das medidas necessárias.
É oportuno assinalar que bagagens de passageiros são os meios mais prováveis pela quais os produtos, em grande parte ilegais, entram nos diversos países que a cada momento, intensificam as metodologias utilizadas para a fiscalização do maior número de bagagens, considerando que, devido ao fluxo de passageiros mesmo em aeroportos com menores trânsitos internacionais, não é possível a fiscalização de todas as bagagens.
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ATUAÇÃO DOS AUDITORES FISCAIS FEDERAIS AGROPECUÁRIOS
No caso específico das ações voltadas para o impedimento do acesso de suídeos ou produtos de origem animal que tenham a carne suína como matéria prima ou ingrediente, há uma atenção permanente para o mapeamento da disseminação mundial dos focos de peste suína africana de modo a ser intensificada da fiscalização de bagagens de passageiros e de cargas, sabidamente originários destas regiões ou que tenham transitado por regiões indenes.
CONCLUSÃO Entretanto os desafios continuam a exigir cada vez mais atenções nos controles sanitários, competência nas metodologias de atuação e principalmente informações precisas sobre a epidemiologia das doenças dos animais com potencial para interferirem no agronegócio brasileiro, que de acordo com Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) desponta em futuro próximo como na liderança mundial na produção de alimentos.
Controle sanitário
No Brasil, desta mesma forma também se busca a intensificação dos controles nas barreiras sanitárias internacionais através do trabalho dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários atentos às orientações da Secretária de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento através de legislações específicas ou gerais e das informações de órgãos internacionais de sanidade animal.
Fruto deste trabalho está o reconhecimento internacional do Brasil como livre de peste suína africana, status que aumenta a responsabilidade nos controles nas barreiras sanitárias internacionais sejam marítimas, aéreas ou terrestres a manter o Brasil na dianteira da produção de alimentos no mundo. Desafio do Brasil contra a entrada da peste suína africana
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ENFRENTANDO O DESAFIO DO MANEJO DE TRANSIÇÃO Víctor Fernández Segundo Veterinário no Departamento de Produção VALL COMPANYS SA.
Desmame, uma etapa "complicada"
manejo
Na produção de suínos, cada fase é de fundamental importância para a otimização da produção. O custo econômico do leitão, antes do seu abate, é de responsabilidade de todos os agentes envolvidos no seu correto crescimento e adaptação ao ambiente que o cerca, para atingir o máximo desempenho. O objetivo do presente artigo é apresentar o manejo necessário para viabilizar essa expressão do desempenho produtivo dos leitões na 2ª fase do sistema de produção, comumente conhecida como transição. FASE I
FASE II (TRANSIÇÃO)
O desmame é um dos desafios imunológicos mais complicados que o leitão terá de enfrentar ao longo de sua vida. Nesse momento, uma série de mudanças ocorrerão, tanto fisiológicas quanto ambientais, que colocarão seu estado imunológico à prova. O leitão ao desmame, no sistema de produção intensivo, é um animal imaturo. É necessária uma adaptação fisiológica, psicológica e nutricional ao novo ambiente que o rodeia e, é aqui que o manejo desempenha um papel fundamental..
Nosso objetivo é auxiliar o leitão a superar com sucesso esta fase complicada e estressante, com o objetivo de iniciar a ingestão de água e ração o mais rápido possível.
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Limpeza e desinfecção
SALA COMPLETAMENTE VAZIA E LIMPA Antes dos leitões chegarem à salade creche, o ambiente deve estar completamente vazio. Deve ter sido aplicado um protocolo de limpeza e desinfecção adequado, retirando-se toda a matéria orgânica remanescente com água pressurizada, e, a seguir, aplicandose sabão e por fim desinfetante. Uma vez realizado o protocolo de limpeza, a sala deve estar completamente seca.
Comedouro 1 boca / 5 leitões
Zona sólida aquecida 0.04 m2/ leitão 0,2m2/ leitão
Baias com poucos animais, com densidade menor ou igual a 0,2 m2 / leitão Comedouros com no mínimo uma boca para cada 5 animais
Aquecimento
Piso parcialmente ripado, tendo uma área sólida aquecida (mínimo 0,04m² / leitão) e o restante ripado de plástico Um ponto de água para cada 18 animais Disponibilidade de comedouros iniciais em cada baia
Zonas sólidas
Isso ajudará os animais a encontrar um ambiente confortável e evitar correntes de ar, já que teremos aquecido as superfícies em contato com o ar da sala.
comedouros iniciais
PREPARAÇÃO DA SALA Em uma situação ideal, busca-se:
Não deve haver nenhum traço dos produtos químicos usados, áreas como comedouros e tigelas de água devem ser inspecionadas minuciosamente para verificar se não há resíduos. É imprescindível ativar o sistema de aquecimento pelo menos 12 horas antes da chegada dos leitões.
Piso ripado
manejo
Lotação das salas: devemos estar preparados
1 ponto de água / 18 leitões
É aconselhável espalhar o pó secante sobre áreas sólidas. Os leitões muitas vezes chegam desorientados e tendem a urinar e defecar na área aquecida. Assim evitaremos que o piso fique molhado. Em granjas onde existe um extensa área sólida (granjas do tipo engorda), sempre recomenda-se colocar uma camada de palha picada por cima, além do pó secante. Os leitões acham a área de palha muito confortável, usando-a como área de descanso. Além disso, há redução do estresse de adaptação a um novo ambiente, pois a palha permite que eles expressem seus comportamentos habituais, tateando e ingerindo-a.
67 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Enfrentando o desafio do manejo de transição
Comedouro inicial Temperatura, ventilação & isolamento
manejo
Deve haver um comedouro inicial em cada baia, contendo uma mistura de água e hidratante. Este ponto é sempre importante, mas torna-se ainda mais importante quando os animais chegam transportados de caminhão e no verão, com altas temperaturas. Antes da chegada dos animais é necessário ter uma curva de temperatura e ventilação, para controlar o fator ambiental. Na chegada dos animais, recomenda-se que a temperatura desejada seja fixada em 26ºC, desde que haja sistema de aquecimento no piso (manta térmica ou piso radiante). A ventilação mínima deve ser ajustada de acordo com a potência do exaustor e a capacidade da sala. Vale ressaltar que, é necessário ter uma sala bem isolada é essencial, pois vai permitir uma boa ventilação sem perder a temperatura.
Destaca-se a importância de um bom isolamento em termos econômicos no aquecimento, uma vez que praticamente não perdendo a temperatura nas paredes e no teto, o gasto com o aquecimento da divisão é reduzido consideravelmente. É por isso que recomenda-se isolar todas as superfícies em contato com o exterior.
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Verificação preliminar
Um dos elementos chave para uma triagem
Os comedouros devem ser preenchidos levando em consideração o consumo diário de ração. Isso é importante porque a alimentação "Lacto-starter" é muito cara!
recuperam a condição corporal e param de
Uma vez realizada a recepção dos leitões na sala, será a vez realizar a triagem, ou seja, separá-los por tamanho. Uma boa triagem sempre deve ser feita removendo os animais maiores primeiro, com os menores restantes, finalmente.
Os leitões mais fracos, bem como os menores, devem ser agrupados em baias específicas (enfermarias). Eles devem estar sempre na área mais quente da sala, que geralmente é o centro e, ter uma densidade menor do que as demais baias.
para separar os leitões “recuperados” das enfermarias, ou seja, os animais que apresentar sinais de fraqueza. Isso permitirá ter sempre os animais mais fracos sob controle e, por sua vez, que eles não tenham que disputar por comida ou água com animais mais fortes e saudáveis. Com animais triados, os medicamentos pertinentes devem ser administrados, agrupando assim o estresse em um período de tempo reduzido. Este agrupamento de estresse é importante para que, o mais rápido possível, os leitões comecem a se alimentar.
manejo
Medicamentos
O que se busca é uma mistura de aromas e sabores que atraiam os leitões a iniciar a ingestão o mais rápido possível. Por isso, deve-se colocar em pequena quantidade na tremonha, pois quanto mais prolongarmos sua exposição ao meio ambiente, maior será a perda de suas propriedades.
bem-sucedida é deixar as baias livres
Iniciación de Pienso
Triagem
Todos os bebedouros e comedouros devem ser verificados quanto ao funcionamento adequado, bem como os sistemas de ventilação.
Administração da ração lacto-starter
Recepção dos leitões: "mãos à obra"
Quando tivermos os animais "triados" e medicados, é hora iniciar o fornecimento do novo alimento, a ração. Embora sempre tenham ração disponível na moega, é necessário realizar “mingaus” nos comedouros iniciais. São simples e muito eficazes, basta misturar o "Lacto-starter" com água e um agente reidratante. É aconselhável torná-los mais aguados nas enfermarias e um pouco mais sólidos nas demais baias. Um padrão a ser atendido seria o fornecimento por 3 dias em todos os comedouros e estendê-los para 1 semana nas enfermarias.
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Finalização do processo
Durante o resto da educação, o trabalho será mais rotineiro, embora não menos importante. APLICAR UM ANTIBIÓTICO DE AMPLO ESPECTRO AOS ANIMAIS "CIUR" Todos os animais devem ser observados um a um diariamente, e antibióticos injetáveis devem ser administrados a animais que apresentem sinais de fraqueza ou apatia. Caso não haja melhora, eles devem ser separados do restante do grupo.
manejo
TRIAGEM NAS ENFERMARIAS: Para isso deve-se deixar baias livres, que nos ajudarão a tirar da enfermaria os animais que recuperarem a vitalidade.
CIUR - CRESCIMENTO INTRAUTERINO RETARDADO: Os animais menores são os que mais apreciarão uma quantidade correta de "Lacto-starter" e "Pre-starter". Portanto, devemos administrar a alimentação para que não haja desperdícios.
Em muitas granjas encontra-se tremonhas duplas, mas recomenda-se, dados os resultados, que as tremonhas sejam compartilhadas por animais de tamanhos similares. Pode-se aumentar a quantidade de ração inicial nos funis que alimentam pequenos animais e avançar o "Starter" nos funis compartilhados por animais maiores. É possível igualar o tamanho dos animais o mais breve possível.
Enfermaria
Enfrentando o desafio do manejo de transição
Leitões recuperados
GERENCIAMENTO DAS CARGAS: Ao final do processo de criação, quando ocorre o carregamento dos animais para o abate, uma boa opção é realizar o primeiro carregamento com os leitões maiores. Desta forma, pode-se reduzir a densidade do resto da sala e permitir um maior crescimento dos animais mais retardados. Com isso, é possível adaptar as cargas ao peso alvo e reduzir a variabilidade entre os animais.
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70 SuínoBrasil Segundo Trimestre 2021 | Enfrentando o desafio do manejo de transição
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