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INTOXICAÇÃO DECORRENTE DA AUSÊNCIA DE EPI´S PODE TER CAUSADO LESÃO NO CÉREBRO DE HOMEM Fonte: Terra
Os últimos três anos da vida de Otávio Aparecido Costa Sanches, 54 anos, estão resumidos nas poucas linhas escritas por ele em quatro agendas. Morador em Lins, no interior de São Paulo, o homem convive com um problema na memória e se lembra apenas dos quatro últimos dias que viveu. O restante ele nem sabe que existiu. Todas as recordações sobre a juventude, os amigos e familiares, por exemplo, foram apagadas. Por isso, ele passou a anotar os fatos mais importantes em agendas. São páginas e páginas de anotações que servem de memória e também para que ele não desaprenda a escrever. “É como quando você lê um livro de história. Você sabe que aquilo aconteceu, mas você não vivenciou. É assim que eu me sinto ao ler o que eu mesmo escrevi. Sei que aquilo aconteceu porque está escrito, mas eu não lembro”, explica. Seis horas por dia, em média, ele dedica a rever todas as anotações feitas, além de estudar português, matemática, geografia e as placas de trânsito no computador. Noções básicas para conviver em sociedade. O que levamos anos para aprender, Otávio memoriza em algumas horas. Todos os dias, acompanhado da esposa, Sueli da Silva Costa Sanches, 54, ou do filho, Fábio da Silva Costa Sanches, 31, ele dirige pelas ruas do bairro para não esquecer como é, e para não se perder. Sueli conta que o problema surgiu em meados de 2004. “Ele me contava que passava por uma rua, mas não lembrava do quarteirão anterior. Que alguns pedaços do caminho ele não sabia como tinha percorrido. E também não comia, só tomava água, leite, tinha insônia, sempre ficava nervoso e teve depressão. Depois veio o esquecimento”, lembra. Ela diz que o fato determinante para que a família procurasse um médico foi quanto Otávio não se recordou de um amigo de infância. “Perguntei sobre um amigo dele, que eles cresceram juntos, mas ele não estava lembrando. Eu não conseguia acreditar que ele não se lembrava. Pegamos o carro, passamos em frente à casa do rapaz e ele não reconheceu. Entrei em desespero”, lembra. Naquele ano, os exames feitos no Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox) da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Botucatu (SP) apontaram uma lesão no lóbulo temporal direito do cérebro causada pela exposição excessiva e intoxicação por organofosforado, substância encontrada em inseticidas. Com isso o homem foi afastado do trabalho para tratamento médico.
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