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GERENTE EDITORIAL
REVISÃO
Alessandra J. Gelman Ruiz EDITOR ASSISTENTE
Renata Sangeon Lúcia Assumpção
Denis Araki
DIAGRAMAÇÃO
ASSISTENTES EDITORIAIS
Christiane Morais
Carol Christo Felipe Castilho
CAPA
Diogo Droschi
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil
Morais, Bárbara A ameaça invisível : trilogia Anômalos, volume 2 / Bárbara Morais. -- 1. ed. -- Belo Horizonte : Editora Gutenberg, 2014. ISBN 978-85-8235-169-7 1. Ficção brasileira I. Título. 14-05690
CDD-869.93 Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura brasileira 869.93
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Nossa vida começa a terminar no dia em que permanecemos em silêncio sobre as coisas que importam. Martin Luther King
Agradecimentos
Vários escritores dizem em entrevistas que você precisa reaprender a escrever a cada novo livro e, até começar A Ameaça Invisível, eu achava isso uma bobagem. “Imagine só, este aqui é a continuação, eu já conheço o mundo, os personagens, sei o que vai acontecer! Claro que será fácil...”, pensava. Descobri da pior maneira que eu estava errada, e sinto que é meu dever agradecer a todos que me ajudaram no processo desta continuação. Primeiro, agradeço a você, leitor, que recebeu meus anômalos com carinho e acompanhou a Sybil na primeira parte da sua jornada. Sem vocês, este livro não estaria aqui! Esta história é para vocês e espero que apreciem da mesma maneira que apreciaram o primeiro. Depois, à minha família. Meus pais são um apoio fundamental em todo esse processo e a empolgação deles com o lançamento destes livros não tem limites. Muito obrigada por serem tão carinhosos e compreensivos! Minha irmã continua sendo a pessoa que ouve todas as minhas histórias em primeira mão e eu não poderia deixá-la de fora. Aos meus tios e tias, primos e primas, que sempre são os primeiros nas filas de autógrafos e vibram comigo cada vez que veem os livros nas livrarias, muito obrigada por tudo. Sou muito grata à Gui Liaga, minha agente literária, que foi quem fez tudo isso acontecer. Obrigada por ser tão 7
empolgada e amar esta história tanto quanto eu! E por ser a fã número um do Hassam e me lembrar de todos os detalhes sobre ele. Eu acho que este livro não estaria aqui se não fossem pelos horários em que eu, Taissa Reis e Lucas Rocha trabalhamos juntos, cada um com seu livro ou tradução. Muito obrigada por me acompanharem nos sprints! Dayse Dantas, você deveria ganhar o prêmio de Organizadora de Enredos, porque faz isso melhor que ninguém. Obrigada por ter emprestado seu ouvido para a história deste livro e por suas opiniões valiosas. Ao meu grupinho de apoio de escrita – Iris Figueiredo, Carol Christo, Jim Anotsu, Mary Mueller, Pâm Gonçalves e Victor Castrillo –, obrigada pelas risadas, cobranças e surtos no Whatsapp. Para a Nathalia Campos e para a Gabi Graciosa, obrigada por terem sido minhas leitoras beta. Para a Babi Dewet, porque a gente competiu para ver quem terminava de escrever as continuações primeiro (e eu ganhei, haha)! Quando chegar a minha vez de me despedir de Anômalos, vou querer conselhos, viu? Para todo mundo da Editora Gutenberg, que sempre são extremamente atenciosos e divertidos: Alessandra, Rejane, Carol, Felipe, Sabrina, Tatiane, Judith, Raquel, Ludmila... ufa! É tanta gente que não cabe todo mundo, mas muito obrigada por serem tão animados e entusiasmados com este livro quanto eu. Como, infelizmente, minha anomalia não é uma supermemória, eu tenho certeza de que esqueci alguém, então um beijão para todos que me acompanharam nessa empreitada! Espero que possam usar suas roupas amarelas com mais orgulho. :) 8
Capítulo 1
O único lugar em que me sinto segura é embaixo d’água. Os minutos em que fico submersa no azul translúcido da piscina procurando formatos e padrões na luz dispersa nos ladrilhos, em silêncio total, são de uma paz extraordinária. É quase como estar deitada numa nuvem, sem problemas e preocupações, quase um sonho se transformando em realidade. É claro que tudo acaba no momento em que coloco a cabeça para fora d’água e volto para o mundo real. Na parte mais rasa da piscina pública, entre as várias cabeças de diversos tamanhos, duas se destacam. É Andrei em sua tentativa eterna de ensinar Sofia a nadar, com paciência quase negativa. Do lado de fora da água, no gramado do parque, Tomás e Leon estão sentados sobre uma toalha, comendo sanduíches. É mais um dos dias de férias que estão me enlouquecendo lentamente. O problema das férias é que eu não tenho nada para fazer e posso me dedicar em tempo integral a pensar em todas as coisas em que não devo. Me manter ocupada é a melhor forma de evitar o redemoinho de medos e angústias que minha cabeça se tornou desde que a missão aconteceu, três meses atrás. Já não bastavam as noites horríveis com os pesadelos de sempre: agora minhas horas de sono são dedicadas às tragédias das últimas semanas. A mistura de bombas e 9
fome, de naufrágios e mortes, crianças com rostos cadavéricos e ameaças deixou toda a experiência de dormir extremamente indesejada. É quase um milagre que eu não tenha virado um zumbi. O tamanho das minhas olheiras assusta. Nado na direção de Andrei e Sofia com um suspiro. Quando chego perto, consigo ver uma pequena cicatriz no ombro do garoto e lembro que não estou sozinha. A garota de cabelo cacheado que tenta boiar, com medo, tem olheiras tão profundas quanto as minhas, e Leon com certeza também tem sua quota de pesadelos. A missão era o nosso segredo, o único assunto que ninguém além de nós podia saber. – Eu não vou relaxar minha cabeça! Se fizer isso, vou afundar e engasgar com a água – escuto Sofia protestar e Andrei a solta na piscina, passando as mãos no rosto, irritado. Ela afunda um pouco e fica em pé, com uma expressão revoltada. Decido que Andrei merece uma lição por isso, então me aproximo furtivamente. – Sofia, você já relaxou a cabeça sem perceber e não morreu. Não precisa ficar tão tensa assim – responde Andrei, arrepiando com as duas mãos o cabelo loiro e molhado. É estranho vê-lo com o cabelo tão curto, mal chegando a cobrir suas orelhas, e sempre me sinto desconfortável quando lembro que ele só o cortou em solidariedade a mim. – Andreeei! – Sofia choraminga e se encosta na borda da piscina, chateada. – A gente podia voltar a bater perna na beirada, eu gosto disso. – Você precisa aprender a boiar se quiser chegar a nadar – seu tom é um pouco mais gentil dessa vez. Sofia finalmente me vê parada atrás deles, e peço silêncio. Ela dá um meio-sorriso, prevendo o que vem a seguir. – Você quer que eu chame Sybil para te ajudar? 10
– Não! – ela fala, de forma desesperada. Eu me encolho, esperando que Andrei se vire a qualquer segundo, antecipando seu movimento, o que não acontece. – Você precisa me ensinar, para aprofundar nossos vínculos de irmão e irmã. – Foi mal, Zorya Novak – ele levanta as duas mãos, chamando-a com o nome de sua mãe. Zorya havia se tornado guardiã legal de Sofia assim que voltamos da missão e, ao longo dos últimos meses, fez o máximo possível para tentar aproximar os dois. – Se você quer que eu te ensine, vai ter que aprender a confiar em mim, tudo bem? É exatamente o momento que escolho para atacar: jogo a maior quantidade de água que consigo e subo em suas costas, derrubando-o na piscina. Andrei é pego de surpresa, mas consegue me segurar pela cintura e me afundar. Me seguro em seu ombro e espero me aproximar do chão para pegar impulso com um pé e trocar as posições, fazendo-o encostar no fundo. Mesmo embaixo d’água, consigo ouvir as risadas abafadas de Sofia. Não é muito difícil para Andrei me agarrar e nos puxar para cima, mas assim que colocamos a cabeça para fora, jogo água em sua cara. Ele vira o rosto, mas, em vez de me soltar, me levanta tanto que tiro os pés do fundo. Dou um berro e finco os dedos em seus ombros. – Não vou deixar você ganhar dessa vez – diz, com uma risada. – Eu te odeio – declaro, e Sofia ri mais ainda. – Sofia, você é a juíza. Quem ganhou? – Não, calma aí! Você sempre ganha quando ela escolhe – o garoto exclama, indignado. – Como eu inventei esse jogo, então é justo que eu escolha. Não seja um bebê chorão, maninho. – Sofia 11
provoca, com um meio sorriso. – Mas... bem, a regra diz que, para ganhar, Sybil tem que se desvencilhar de você por mais de 30 segundos. Como isso não aconteceu, então você ganhou. – Mas eu peguei ele de surpresa! – reclamo e, como resposta, Andrei praticamente me levanta e me coloca em seu ombro, como um homem das cavernas. Sinto meu coração acelerar e dou dois soquinhos em suas costas. – ANDREI! – Não tem como discutir sobre a vitória dele, Sybil – Sofia comenta, entre risadas. – O placar está em três a um, agora. – A primeira vitória de muitas – Andrei fala com orgulho antes de soltar minhas pernas e me mandar direto para a água, sem aviso nenhum. Mas eu estou rindo também e me sinto mais leve quando volto à tona. Era um dos muitos jogos que Sofia havia inventado nos dias de férias que havíamos passado ali até então e, com certeza, o mais divertido. Nas três primeiras vezes, Andrei havia se distraído com as coisas mais idiotas, mas agora estava pegando o jeito. Eu precisava de uma estratégia nova, e isso seria distração o suficiente para nós três. – Sou uma boa perdedora, ao contrário de algumas pessoas – comento e sento na borda da piscina. – Vocês querem ajuda? – Não precisa – Sofia responde, e Andrei dá um sorriso meio orgulhoso, como se estivesse fazendo um bom trabalho. – Mas se ele me maltratar, vou precisar que bata nele. – Eu sempre me comporto – ele diz, exasperado, e dou uma risada. – Minha nossa, vocês duas! Faço um sinal e Andrei se aproxima. Me inclino na direção dele e falo baixinho: 12
– Tenha paciência. Ela não é como a gente, que não morre afogado. Você precisa trabalhar isso. – Vou tentar. E você trate de convencer Tomás a entrar na piscina. Não faz sentido ele ter medo – Andrei encosta os cotovelos na borda da piscina, ao lado de minhas pernas. – Eu sei. Vou ver se troco um picolé por um mergulho – respondo e passo a mão para arrumar a bagunça que está seu cabelo. – Não, não faz isso – reclama, segurando minha mão. – O cabelo fica todo grudado na cabeça, é horrível. – Como se você pudesse ficar horrível – comento e me levanto. – Deixa eu ir atrás de Tomás. – Boa sorte – ele deseja, com um sorriso, antes de voltar para onde Sofia tenta boiar sozinha, sem muito sucesso. Caminho entre as toalhas de banho e cestas de piquenique espalhadas pelo parque. O sol de verão esquenta minha pele morena e tenho vontade de me estirar preguiçosamente e tirar um cochilo. Estou quase chegando ao lugar onde Leon e Tomás nos esperam quando vejo uma figura que se destaca do ambiente descontraído como um holofote. Não é comum ver pessoas vestidas de terno em um parque com piscina, mas quem passa por ele não parece reparar. Ao ver que o encaro, faz um sinal para que me aproxime. Dou um passo para trás, olho para o outro lado e vejo uma figura similar, despercebida pela multidão. Do lado oposto, mais uma. E outra perto de onde estão Tomás e Leon. É óbvio que estou cercada. Meu estômago se revira e me sinto enjoada, porque de duas, uma: ou estou enlouquecendo de vez ou Fenrir, depois de três meses de espera, finalmente precisa de mim. 13
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