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Ter caído de um avião é só o começo dos problemas de Rob, um pacífico fazendeiro que só queria voltar para casa e cuidar de seus cavalos. Agora, ele está em um lugar desconhecido e se vê ameaçado pelas criaturas mais perigosas, todas comandadas pelo terrível Doutor Sujeira, um griefer que pretende obter controle sobre todas as fronteiras.
Mas trabalhar em equipe poderá ser o maior desafio na batalha contra o Doutor Sujeira.
Rob está perdido. O que deveria ser um simples retorno para casa se torna o pior dos pesadelos quando ele cai do avião num canto isolado do Mundo da Superfície. Agora, Rob precisará se unir ao mais estranho dos grupos para encontrar o caminho de volta. Turner e Stormie são valentes e espertos, enquanto Jools e Kim conseguem resolver até os problemas mais difíceis.
uma aventura não of icial de
NANCY OSA
é autora de Cuba 15, premiado romance humorístico para jovens adultos. Sua sede por aventura e paixão pela construção de mundos levaram-na a adorar Minecraft, onde cada dia é uma nova jornada e a sobrevivência depende de criatividade – e da ajuda de alguns bons amigos.
A BATALHA DA DA COLINA ZUMBI
A BATALHA DA COLINA ZUMBI
Usando suas habilidades em treinar cavalos, ele forma uma tropa e recruta os amigos que faz durante sua jornada. Juntos, lutando contra zumbis, esqueletos ou creepers, o Batalhão Zero precisará se unir, ou o Mundo da Superfície estará perdido.
Nancy Osa
ACOMPANHE ROB E OS DEMAIS MEMBROS DO BATALHÃO ZERO EM UMA AVENTURA ATRAVÉS DE UM TERRENO MORTAL NESTE PRIMEIRO LIVRO DA SÉRIE OS GUARDIÕES DO MUNDO DA SUPERFÍCIE
Série Os Guardiões do Mundo da Superfície - 1
Minecraft
ISBN: 978-85-8286-258-2
9 788582
862582
WWW.EDITORANEMO.COM.BR
Nancy Osa
No entanto, alguns obstáculos surgem para atrapalhar seus planos. O Doutor Sujeira está dominando todas as fronteiras e espalhando o caos. Caberá a Rob e a seus novos amigos derrotar o vilão e devolver a paz ao mundo.
A Batalha da Colina Zumbi é o primeiro livro de uma série que reúne humor, aventura e ação na medida certa para qualquer pessoa que já tenha jogado Minecraft ou para aqueles que ainda vão jogar. Uma montanha-russa com todos os monstros e mistérios que constroem uma boa história.
NANCY OSA
A BATALHA DA COLINA ZUMBI Os Guardiões do Mundo da Superfície Livro 1 61 biomas... 6 amigos... 1 mundo
Tradução de Ana Carolina Oliveira
2a Reimpressão
Copyright © 2015 SkyHorse Publishing, Inc. Publicado mediante acordo com SkyHorse Publishing, Inc. Copyright © 2015 Editora Nemo Título original: Defenders of the Overworld #1: The Battle of Zombie Hill Todos os direitos reservados à Editora Nemo. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora. Os Guardiões do Mundo da Superfície 1: A Batalha da Colina Zumbi é uma obra original de fanfiction de Minecraft que não está filiada a Minecraft, MojangAB, Notch Development AB ou Scholastic, Inc. É uma obra não oficial e não está sancionada nem depende de aprovação dos criadores de Minecraft. Minecraft® é uma marca registrada de MojangAB gerente editorial
revisão
Arnaud Vin
Eduardo Soares
editores assistentes
capa
Carol Christo Eduardo Soares
Carol Oliveira (sobre ilustração de Victória Queiroz/VicTycoon)
preparação
diagramação
Jim Anotsu
Guilherme Fagundes
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Osa, Nancy A batalha da colina zumbi: Uma aventura não oficial de Minecraft / Nancy Osa; tradução de Ana Carolina Oliveira. -- 1. ed. ; 2. reimp. -- São Paulo : Nemo, 2016. – (Série Os Guardiões do Mundo da Superfície, 1) Título original: Defenders of the Overworld #1: The Battle of Zombie Hill ISBN 978-85-8286-258-2 1. Aventuras e aventureiros 2. Ficção - Literatura infantojuvenil 3. Ficção - Literatura juvenil I. Título. 15-09295
CDD-028.5
Índices para catálogo sistemático: 1. Aventuras : Ficção : Literatura infantojuvenil 028.5 2. Aventuras : Ficção : Literatura juvenil 028.5 A NEMO É UMA EDITORA DO GRUPO AUTÊNTICA
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Para meus amigos miners e redstones da Academia Reynolds, Nick, Sean e Colton. E para Ken, Marc e Charles.
O comandante da cavalaria observou a última de suas tropas atravessar às pressas com seus cavalos o portal oculto para o Nether. Os soldados maltrapilhos tinham percorrido um longo caminho, desde seus dias como jogadores individuais. Como tinham chegado ali? Agora, uma viagem para o Nether era mais segura do que passear por uma trilha, ao luar. Aquele tinha sido o passeio noturno mais bárbaro da vida de Roberto. O que começou como uma coisa sem importância, uma brincadeira – uma corrida à meia-noite, poxa vida! – se tornara um massacre. Zumbis com armaduras de diamante, esqueletos encantados e griefers imortais tinham deixado seu batalhão encurralado, colocando seu artilheiro e os aldeões em perigo mortal. A decisão de subir a montanha tinha sido sua, e agora não havia como descer. Um movimento errado significaria o fim de todos eles. No último momento, Rob teve de cortar o mal pela raiz, para evitar mais derramamento de sangue. Fugir do Mundo da Superfície – ele percebeu – poderia ser a única forma de algum dia salvar o território. Por mais que sentisse falta de seu lar, esse lugar merecia ser libertado da tirania griefer, e as pessoas, livres para ir aonde quisessem. Stormie tinha lhe mostrado isso. Rob guiou Sabre na direção do portal para o Nether e deu uma última olhada para o céu, todo preto-púrpuro, brilhando com estrelas cintilantes. Ele podia não ser daquele mundo, mas estava lá. E iria defendê-lo... não importava aonde isso pudesse levá-lo.
CAPÍTULO 1
N
um segundo, Rob estava folheando a revista de bordo, feliz por estar voltando para casa na fazenda, e, no seguinte, estava caindo. Alguma coisa terrível tinha acontecido com o avião. Mas onde ele estava agora? E onde estavam os outros passageiros? Apesar de ele nunca ter caído de trinta mil pés, estava claro que era o que estava acontecendo. “Eu deveria estar mais assustado”, ele pensou, enquanto despencava através da cobertura irregular de nuvens. A terra lá embaixo se abria como um mapa: o oceano azul, cercado por areia branca, uma faixa de árvores verdes. E – mais além – tiras de campo aberto, cortado por formações rochosas. Seu rosto se molhou, quando pegou o final de uma tempestade de chuva, e depois se secou instantaneamente, quando caiu pela atmosfera, em direção à paisagem que se agigantava abaixo. Ia cair nas ondas volumosas, ele percebeu. De repente, um medo debilitante tomou conta dele. A gravidade puxava seu corpo para baixo, a uma velocidade que ele nunca tinha experimentado, nem mesmo no galope mais rápido. Seus gritos desesperados se desintegravam 9
no ar – talvez porque não havia ninguém para ouvi-los. Enquanto o chão azul subia para engoli-lo, Rob sentiu, mais do que ouviu, o barulho envolvente da água. Mergulhou cada vez mais fundo, e seu cérebro conseguiu produzir um pensamento final, talvez inútil: “Viajar não é lá essas coisas...”. # O medo terrível, o impacto e a falta de oxigênio tinham levado Rob a desmaiar, mas não deve ter sido por muito tempo. Quando, em seguida, retomou consciência de seu corpo, ainda estava debaixo d’água, surpreso por estar vivo. Esse choque ativou seus braços e pernas, e ele começou a chutar e balançar o corpo, tentando encontrar o caminho de volta para a superfície. Algo encostou em sua caixa torácica, e ele sentiu um corpo longo e gelatinoso passar rápido. “Que diabos foi isso?” – ele se espantou e em seguida respondeu à sua própria pergunta, com uma vaga lembrança das aulas de ciências: uma lula! O que pôde ver em seguida foi que tinha emergido na linha d’água agitada, tossindo e engolindo ar. No entanto, não conseguia fazer uma pausa para se concentrar na respiração. Assim que parou de bater as pernas, começou a afundar. Instintivamente, recomeçou a nadar, com a respiração curta, até que parou de sentir seu coração como uma pedra explodindo. Com olhos lacrimejantes, observou todas as direções, sem ver nada além de blocos rolantes de líquido. Chegou à conclusão de que tinha duas opções: entrar em pânico ou não. 10
Lembrou-se do pior cenário que já tinha enfrentado – andar num cavalo selvagem a pinotes, por um ninho de cascavéis – e decidiu fazer agora o que tinha feito então. “Apenas permaneça vivo”, disse a si mesmo. “É melhor focar no que tem de ser feito.” Rob se virou, observou a posição do sol e resolveu nadar na direção oposta, até que encontrasse ajuda. Tinha perdido seu chapéu de caubói, mas ainda usava seus safões, camisa e colete, agora grudados em seu corpo. Engraçado: essa água também parece quente. Não... apenas... não é fria. Pelo menos, não acrescentaria hipotermia a seus males. Continuou a caminhar pelas ondas mornas, longe do sol, que tinha acabado de ultrapassar seu ponto mais alto no céu. Minuto após minuto, ele se forçava a seguir. De vez em quando, virava-se para descansar de costas, contando até dez, e em seguida retomava seu lento e constante progresso. Mas… progresso em direção a quê? A alguma coisa? Ele se perguntou se havia tubarões, arraias ou mobs de outros animais nessa versão do mundo. Haveria terra seca, um barco, ou alguma outra forma de resgate? Como os eventos recentes o fizeram lembrar, só descobriria os próximos desenvolvimentos ao encontrá-los. # Braçada após braçada, ele cruzava os pedaços do mar – estimulado pelas lembranças de sua casa no campo. A água esfriava aos poucos, enquanto o dia deslizava em 11
direção ao anoitecer. Rob se perguntava se teria de passar a noite no mar, sentindo frio, fome e cansaço. Conseguiria sobreviver a isso? “Não consigo, nunca fui capaz de fazer nada”, murmurou. Resolveu permanecer positivo, não importava quão sombrio o horizonte pudesse parecer. Rolou de costas para descansar por dez segundos e garantir que ainda nadava na direção certa. Era tão bom flutuar! “Talvez um segundo ou dois a mais não fariam mal”, pensou, admirando a paleta escurecida do céu, que tinha se tornado bronze e assumido matizes de rosa e roxo. O descanso extra fez com que se virar e continuar remando ficasse mais difícil, mas se forçou a fazê-lo. À distância, uma faixa branca parecia contornar o oceano. Estaria tendo alucinações? Reunindo o que restava de força, Rob levantou o corpo na braçada seguinte e suspirou. Era terra firme! Alívio, emoção e desespero tomaram conta dele, impulsionando seus membros cada vez mais rápido, uma tentativa de chegar ao fim do arco-íris de hoje. Mas as horas nadando tinham causado um desgaste enorme. Rob mal podia sentir os dedos dos pés e das mãos. “E estou com tanta fome!”, pensou. Felizmente, não sabia como sua barra de comida estava baixa. Forçou mais – suas braçadas curtas o moviam lentamente pela rebentação. Mas, finalmente, viu o quebra-mar. A praia era real! Estaria seguro aquela noite. Uma vez no raso, Rob ora se levantava, ora se arrastava até a costa. O calvário tinha terminado. Ele sobreviveria. Deitou-se na areia, ofegante como um peixe, pensando que nunca tinha visto um pôr do sol tão bonito. 12
# O ar frio secou as últimas gotas de água do mar de sua cabeleira negra, mas deixou suas roupas úmidas. Devagar, Rob ergueu-se e cambaleou pela praia. As dunas se estendiam em direção ao interior até bem longe, mas ele conseguia ver tufos quadrados – árvores – que apontavam uma floresta ou selva. Haveria comida e água lá. Mas estava ciente de que não tinha energia para percorrer distância alguma naquele dia. A luz do sol desaparecia, e tudo que ele desejava era parar de se mover e mergulhar em um sono profundo. No entanto, a ideia de cochilar na praia aberta deixou Rob nervoso. Todo caubói que se preza sabe que deve se proteger à noite, de preferência ao lado de uma boa fogueira. Examinou a costa vazia. Nem um pedaço de madeira inflamável, nem mesmo algas marinhas secas à vista, e o espaço aberto não oferecia nenhum abrigo natural. Rob estava por conta própria. Sorriu. A solidão tinha seus prós e contras: pelo menos, não havia ninguém para incomodá-lo. Ainda assim, considerou uma boa ideia dormir acima do chão, se pudesse. O único recurso disponível era areia, em grande quantidade. Decidiu, então, amontoar um tanto para formar uma prateleira. Isso iria tirá-lo do chão e afastar... qualquer coisa que precisasse ser afastada. Mas, ao manusear a areia, descobriu que ela não era solta, como em casa, na ravina seca. Não conseguia montar uma torre com ela. Na verdade, a areia já se mantinha unida, em blocos organizados. Talvez conseguisse empilhar tudo e fazer uma coluna. 13
Os dias de truques com um laço no rancho tinham feito de Rob um ótimo saltador. Com todo o resto de sua força, pulou no ar, agarrou um bloco de areia e ajeitou-se em cima dele. Para garantir, pôs um segundo bloco debaixo de seus pés, no momento em que o sol mergulhava no horizonte. – Agora posso tirar um cochilo – disse, e no instante seguinte dormiu. Mas não demorou muito, e um barulho estranho o acordou. – Uuuuh... oooh... O gemido grave não se parecia com coisa alguma que Rob já tivesse ouvido no rancho – não era como o mugido de uma vaca em perigo, ou o ganido de Jip, seu cão favorito. – Uuh-oohhhh... Era como se o gemido sobrenatural cortasse o ar. As pálpebras de Rob pareciam feitas de concreto e tinham se fechado, encrostadas de sal e areia – mas se forçou a abrilas. Conforme sua visão clareava, identificou uma silhueta vindo na sua direção, no escuro. O gemido ficava mais alto à medida que a criatura se aproximava, arrastando os pés de maneira brusca, que fez com que o coração de Rob fosse parar na garganta. Ele se sentou em sua coluna de areia. O intruso o notou e aumentou o passo. “Ainda está longe”, concluiu. Talvez eu possa aumentar um pouco esta torre, antes que ele chegue aqui. Seu corpo estava pesado com o sono e fraco por causa da fome e da sede, mas conseguiu saltar sobre a coluna e acrescentar outro bloco de areia debaixo de seus pés. Ainda assim, a criatura berrante chegou mais perto. 14
Sob o brilho da lua refletida no oceano, Rob pôde identificar uma figura verde, que parecia humana, mas que certamente não agia como tal... e se movimentava como se estivesse viva, embora não parecesse. Ele inspirou o ar e teve vontade de vomitar, com o odor não muito diferente do que costumava vir do interior da geladeira descuidada de sua casa. Com o raciocínio comprometido, Rob levou um tempo para reconhecer os olhos fundos, a carne em decomposição e o andar cambaleante como sinais dos mortos-vivos. Todos os filmes de zumbi que já tinha visto passaram por sua cabeça. “Um zumbi!” A coisa fedia como um experimento de ciência. E não havia para onde correr. O monstro, agitado, claramente queria Rob: arrancar seus membros; matá-lo; ou – ainda pior – transformá-lo em um deles. Rob não sabia se a coisa poderia alcançá-lo a três blocos de altura... e não queria descobrir. Sozinho, com medo e desarmado, Rob estaria à mercê do zumbi se ele decidisse atacar. Não era isso que um bom caubói faria, mas Rob fechou os olhos bem apertados e esperou o fim. O barulho dos gritos e do avanço arrastado do zumbi tinha abafado os movimentos de outro visitante. Quando, finalmente, Rob abriu um olho, ficou chocado ao encontrar, já ao pé de sua coluna, um segundo inimigo de duas pernas. Sua pele verde furta-cor estava intacta, mas seus olhos e boca sobressaíam enormes e escuros. Rob nunca tinha visto nada parecido nos filmes. – Vamos, saia daqui! – gritou, como se estivesse de volta no campo, tentando afugentar um coiote. Seu grito não surtiu efeito. Por um instante, teve esperança de que os dois intrusos fossem brigar entre si. 15
Mas, para seu horror, aquele que tinha surgido despercebido começou a tremer e assoviar alto. O zumbi ignorou o creeper, tentando em vão atacar Rob, que ainda estava agachado em sua pequena ilha de areia, logo acima da cabeça do demônio. O creeper começou a enviar pulsos de luz na escuridão, e Rob o viu inchar, até ficar com o dobro de seu tamanho. Engoliu em seco. “Chegou a hora!”, pensou, preparando-se para morrer. Então a coisa explodiu com um estrondo. Rob estava em um lugar alto o suficiente para escapar dos danos da explosão, mas seu alívio por não ter sido destruído durou exatamente um nanossegundo. Mais uma vez, sentiu que caía, impotente, na direção do terrível zumbi! Pelo menos o creeper tinha se aniquilado junto com o quarto improvisado de Rob. Voou areia em todas as direções, enquanto a coluna caseira desmoronava. O caubói náufrago parecia cair em câmera lenta, um mergulho tão prolongado como o do avião que o havia levado a essa zona mortal. Possuía muito tempo para temer seu fim. Enfim, bateu no chão. – Uuuf! Esperou. Não houve nenhum rugido em resposta. Seus braços e pernas ainda estavam ligados ao corpo. Não estava morto. E – fez uma rápida checagem mental – estava quase certo de que não tinha se tornado um zumbi. No entanto, Rob tinha alguns ferimentos, e mal conseguia se mover. Sob a fraca luz do luar, viu o monte de 16
areia – tudo o que restava de sua coluna. De repente, o monte se moveu. Algo se contorcia debaixo dele. Rob deu um pulo para trás quando um gemido abafado acompanhou outro solavanco do monte de areia. Em seguida, o chão ficou imóvel; o gemido parou abruptamente. A areia que caiu deve ter sufocado o zumbi. Mexer com o corpo era a última coisa que Rob queria fazer. Mas tinha que se certificar de que o inimigo havia sido neutralizado. Assim como seu velho cachorro, Jip, arrastou-se de barriga e escavou o monte para desenterrar o corpo em decomposição. Para seu alívio, o zumbi não se moveu. Estava prestes a abandonar o monte, quando sentiu um pequeno objeto duro na areia. Mais algumas cavadas revelaram um longo objeto triangular: uma cenoura! O zumbi tinha deixado o vegetal cair quando morreu. O azar virou sorte. E, rapidamente, Rob enfiou metade da cenoura crua na boca e mastigou, melhorando sua barra de comida e saúde com um acréscimo. Se ele tivesse conseguido fazer uma fogueira e encontrado um pouco de carne, teria preparado um ensopado com mais benefícios, mas a cenoura já era um bom começo. Sentiu-se melhor, mais forte. Talvez sobrevivesse à noite, afinal de contas. Assim que começou a relaxar, uma onda de gemidos avançou em sua direção. – Uuuuh, oooh!... Mais zumbis? O monstro devia ter chamado seus amigos, antes de ter sido sufocado pela areia. Desta vez, Rob sabia o que fazer. Não havia como prever quais mobs inimigos estavam por lá, na escuridão, vindo em seu caminho – ou quais poderes tinham. Com o 17
que restava de força, teria de reconstruir sua coluna melhor e mais alta. Trabalhou noite adentro cavando a areia, desajeitado, até atingir arenito natural. Eureca! Esses blocos formariam uma base mais estável, que poderia resistir a danos, embora provavelmente não a uma explosão. Rob esperava não receber a visita de outro creeper naquela noite. Cavou, assentou, saltou e empilhou até ficar de pé no topo de uma coluna de areia com doze blocos de altura. O arenito na base criou uma plataforma sólida. Rob sentiu-se confiante de que qualquer coisa à espreita na escuridão não conseguiria escalar sua nova torre. Deu uma olhada na lateral da estrutura. Nada. Mas, para garantir, ficaria acordado mais um pouco, vigiando. # Rob agachou-se em sua coluna, mastigando a outra metade da cenoura e esperando que a manhã chegasse antes de qualquer outra coisa. O que parecia sem importância antes, agora tinha se tornado vital. Desejou ter a faca que carregava em casa. Deveria ter comido aquele pacotinho de comida no avião, trazido seu saco de dormir – poderia usá-lo para espantar o frio. Mas, acima de tudo, deveria ter prestado mais atenção em onde estava quando caiu do céu. Sim, as coisas que antes tinham passado despercebidas poderiam ajudá-lo a permanecer vivo agora... Pelo menos, tempo suficiente para encontrar o caminho de volta para casa. 18
Uma pontada aguda de solidão atravessou seu corpo. Cantarolou a melodia que cantava para Jip, antes de deixá-lo em sua casa de cachorro à noite. Depois pensou no potro que havia começado a treinar para guia e no pônei que tinha selado. Imaginou se iria vê-los de novo, ou à sua amada fazenda. Em casa, o ar tinha cheiro doce, não salgado como ali, à beira-mar. No campo, havia espaço para perambular, mas Rob nunca se sentia vulnerável como naquele lugar, mesmo estando doze blocos acima do solo. Sobretudo, a vida no rancho era pacífica: adormecia com o chilrear dos grilos, o uivo de um coiote solitário, ou o mugido de uma vaca rebelde, não com gemidos, explosões e desabamentos de colunas de areia. Respirou profundamente. Então, soltou um suspiro mais determinado – o que significava que ele estava pronto para tudo. – Vou voltar para casa! – prometeu, impulsionado pelo som da própria voz. – Sobrevivi ao acidente de avião, sobrevivi a ficar à deriva no oceano e sobrevivi a dois ataques de monstros – cerrou os punhos. – Vou fazer o que for preciso para voltar para o rancho! Rob se enrolou em sua cama de areia e caiu no sono. # Embora tenha ouvido gemidos durante a noite, Rob estava tão exausto, que não se levantou. Sabia que tinha feito tudo que era possível para se proteger. Quase ao amanhecer, um cheiro horrível incomodou suas narinas, fazendo-o se virar na coluna. Mas não estava preparado para o que viu. 19
Os mobs zumbis haviam chegado. Perambulavam ao pé da coluna, com seus olhos de mortos-vivos, procurando por Rob. Enquanto os raios de sol se arrastavam ao longo do horizonte, os zumbis tentavam se esconder na sombra projetada pela torre, mas o sol não estava alto o suficiente para produzir nem uma penumbra. Rob observou a gangue de monstros explodir em chamas: Pum! Pum! Pum! Balançaram, estalaram e chiaram, antes de pegar fogo e desaparecer. – Maravilha! Rob deu alguns socos no ar, sentindo-se como em um filme. Em seguida, seu estômago roncou. “Talvez tenham deixado mais cenouras”, pensou, descendo com dificuldade de seu poleiro de areia. Mas, quando chegou à praia, tudo que encontrou foram montes de carne apodrecida. – Ugh! Nojento! Não daria aquela lavagem nem para seu cachorro. Deixou o lixo na areia e partiu em busca do contorno de árvores que tinha avistado no dia anterior. Pelo menos, lembrou-se de um ponto de referência que poderia ser útil. Rob andava pelas dunas enquanto o sol se levantava, lançando um brilho quente em seus ombros. Isso o fez pensar nos dias ensolarados que passava arrumando as cercas no rancho, assobiando para um de seus cavalos, com Jip trotando ao lado deles. Talvez, além do contorno das árvores, encontrasse a região montanhosa que tinha visto no dia anterior. Desejou se lembrar em que direção tinha sido, mas não adiantava chorar sobre o leite derramado... “Uhmm... leite...”, pensou, saboreando a ideia de uma bebida morna e fresca, acabando de sair da vaca. 20
Perdido em devaneios, quase não notou um sinal estranho. Ao colocar o pé em uma depressão na areia, mal pôde acreditar: a cavidade era a forma exata de seu pé! Era sem dúvida uma pegada – a pegada de outra pessoa. O peito de Rob ficou apertado, de esperança e medo. Uma pegada poderia ser bom, se significasse que tinha encontrado uma pessoa amigável, que o ajudaria. Mas poderia ser péssimo, se essa pessoa fosse um inimigo que lhe desejasse mal. Ainda assim, seria bom se conseguisse, disfarçadamente, seguir o desconhecido, para uma área com recursos ou comida que pudesse usar... No entanto, poderia ser ruim, se a pegada pertencesse a um mob hostil. Rob procurou rápido outra pegada correspondente, ou sinais de que outros teriam passado por ali. Não havia nada. – Quem por acaso deixa uma única pegada? – perguntou em voz alta, com o medo vencendo sua batalha de emoções. Sentiu-se mais exposto do que nunca, na extensão deserta da praia. Se agachou, olhando sobre os dois ombros. Depois, deu um impulso na areia e correu o mais rápido que pôde para o contorno das árvores à distância.
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