Copyright © 2021 Marta Lagarta (texto)
Copyright © 2021 Angelo Abu (ilustração)
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Edição geral
Sonia Junqueira
Edição de arte
Diogo Droschi
Revisão
Julia Sousa
Informações paratextuais
Renata Amaral de Matos Rocha
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Lagarta, Marta
A casa que assoviava [livro eletrônico] / Marta Lagarta ; ilustrado por Angelo Abu. -- 1. ed. -- São Paulo : Gutenberg, 2022.
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ISBN 978-65-86553-69-7
1. Literatura infantojuvenil I. Abu, Angelo. II. Título.
22-137838
Índices para catálogo sistemático:
CDD-028.5
1. Literatura infantil 028.5
2. Literatura infantojuvenil 028.5
Inajara Pires de Souza - Bibliotecária - CRB PR-001652/O
Rua Carlos Turner, 422, sala 201
Silveira . 31140-520
Belo Horizonte . MG
Para o querido Batiuska Vasily Gelevan, que me deu a ideia de escrever este livro, e para a amigamada Militza Putziguer, que ajudou na tradução.
História inspirada no conto popular russo Tepemok (pronuncia-se “teremóc”), nome de um tipo de cabana pequena, de dois andares, construída fora das áreas urbanas.
Longe, bem longe, lá looonge... morava uma casa. A Casa Croscasa. Toda feita de troncos de árvore. Toda, não: os telhados eram de palha. Os telhados?
Sim, eram dois telhados. O de baixo e o do quartinho de cima, parecendo uma torre, onde ficava a chaminé. Chaminé que sempre assoviava na hora certa.
— Casa, Casinha, você mora aí sozinha? — foi chegando e perguntando a Rata Croscata, enfeitada com um laço de fita no rabinho.
Lá do alto, a chaminé respondeu com um breve assovio:
— Fiu...
Escutou? Um breve assovio significa “venha morar comigo”.
A Rata Croscata, dançando o rabinho, foi. Ficaram superamigas! A Casa e a Rata.
Entardecia. O Sol bocejava de sono, e a Lua, acordando, escovava os dentes.
Foi aí que, de repente, uma forte ventania tomou conta da floresta.
As plantas voando, os animais se entocando, vaivém pra lá, vem-vai pra cá... Uma cegonha meio tonta com tanto vento apareceu. Cegonha nascida e criada com uma asa menor que a outra.
Ela, a Cegonha Crosconha, quis saber:
— Casa, Casinha, você mora aí sozinha?
— Não, não, agora mora mais alguém! Eu, a Rata Croscata, vivo aqui também — disse a Rata lá de cima, da janela do quartinho.
E, tomando fôlego, a chaminé respondeu com dois longos assovios:
— Fiiu... fiiu...
Escutou? Dois assovios longos significam “venha morar conosco”.
A Cegonha Crosconha, ainda meio zonza, foi. Ficaram superamigas! A Casa, a Rata e a Cegonha.
Pronto. Escureceu. Todo mundo dormindo. Silêncio, por favor: psiu! E então?
Calma, elas ainda estão dormindo. Casas, ratas e cegonhas costumam ter sono profundo, sonho comprido. Espera só mais três pouquinhos.
Eba, acordaram! Céu claro, Sol manso... Brilhavam as cores do campo e... o pelo quase vermelho de um raposo. Olha só, ele vem trazendo um sapo nas costas!
O Raposo Croscoso e o Sapo Croscapo perguntaram em coro:
— Casa, Casinha, você mora aí sozinha?
— Não, não, agora mora mais alguém! Eu, a Rata Croscata, vivo aqui também.
– Mais eu! A Cegonha Crosconha!
Foi o que responderam as duas superamigas lá de cima, da janela do quartinho.
E, tomando fôlego, a chaminé respondeu com três longos assovios:
— Fiiiu... fiiiu... fiiiu... Escutou? Três longos assovios significam “venham morar conosco”.
O Raposo Croscoso e o Sapo Croscapo, dando saltos de alegria, foram. Ficaram superamigos! A Casa, a Rata, a Cegonha, o Raposo e o Sapo.
Já no outro, outro dia... Cuidado! Dentes afiados, uma capivara mascarada apareceu. Será do bem ou do mal? Roerá a Casa inteira?
Nada disso.
Baita foliã, ela vinha era de um baile de Carnaval! A Capivara Croscara sempre foi camarada. E, em ritmo de marchinha, cantarolou:
— Ô abre alas, que eu quero passar... Casa, Casinha, você mora sozinha? Eu sou da lira, não posso negar... Casa, Casinha, você mora sozinha? (Bis)
Lá de cima, da janela do quartinho, responderam as superamigas:
— Não, não, agora, mora mais alguém! Eu, a Rata Croscata, vivo aqui também.
— Mais eu! A Cegonha Crosconha!
Logo em seguida, de uma das janelas de baixo, ouviu-se o coro dos superamigos:
— Mais nós! O Raposo Croscoso e o Sapo Croscapo!
E tomando fôlego, a chaminé respondeu com cinco longos assovios.
— Fiiiiiu... fiiiiiu... fiiiiiu... fiiiiiu... fiiiiiu...
Escutou?
O resto você já sabe. Nem precisa contar.
Toda animada, jogando confete para o alto, a Capivara Croscara foi morar na Casinha.
Ficaram superamigos! A Casa, a Rata, a Cegonha, o Raposo, o Sapo e a Capivara.
Agora, para terminar a história, só está faltando um elefante. Só isso. Quer dizer... tudo isso. ***
O Elefante Croscante era muito solitário. Não gostava de andar com a manada, nem gostava de se comunicar. Gostava mesmo era de levar a tromba pra passear.
Mas quando ele avistou a Casinha, tudo ficou diferente, sei lá por quê. Mistério paquidérmico, talvez.
Primeiro, com uma enorme timidez, ele quis saber:
— Casa, Casinha, você mora aí sozinha?
Como sempre, os superamigos responderam o mesmo mesmíssimo, e a chaminé assoviou. Seis longos assovios.
É claro que o Elefante foi convidado a morar com eles.
Mas como um animal tão grande passaria por uma porta estreita? De que maneira?
Alargando a porta ou estreitando o Elefante?
— Faz que nem o Papai Noel, sabe como é: se espreme pela chaminé! — gritou a Rata.
— Ideia biruta, não vai dar certo! — alertou a Cegonha — Espalha a palha, afunda o teto.
— Encolhe a pança, não perca a esperança! — encorajaram o Raposo e o Sapo, em coro.
Enfim, em ritmo de marchinha, a Capivara cantarolou: — Cava um buraco, pra poder passar, cava um buraco, pra poder passar... Se é da lira, sabe que vai dar... Se é da lira, sabe que vai daaaaaar!
De orelhas bem abertas, o Elefante escutava, atento. Demorou algum tempo para se decidir. Ele era tímido e recolhido, mas muito inteligente. Pensou tanto, tanto, que resolveu descansar o pensamento.
Foi nesse exato instante que pipocou uma ideia brilhante:
Fazer uma alavanca!
O Elefante Croscante enfiou a tromba por debaixo da Casa e forçou, forçou, forçou... até arrebentá-la.