rico em ouro e diamantes. Uma das teses aqui defendida é a de que o território das Minas não nasceu espontaneamente do arrojo bandeirante, nem da aventura, entendida como ação não calculada ou codificada. O território se fez no entrecruzar das memórias, a partir de uma ampla experiência coletiva de exploração, centrada na noção política e cultural de descobrimento. Por isso, esta pesquisa buscou reunir fragmentos de um tempo estendido, compondo o quadro criativo de uma singularidade no interior da América portuguesa, denominada Minas Gerais.
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Historiografia
de
M inas Gerais
Adriana Romeiro
Série Universidade
construções simbólicas que deram corpo e significado ao sertão
Francisco Eduardo de Andrade
Francisco Eduardo de Andrade
Como o título já indica, este livro trata de práticas e
A invenção das Minas Gerais
nada é gratuito. É nesse jogo dinâmico que se configura a realidade histórica, entendida sobretudo como entidade simbólica, inseparável, por sua vez, da conjuntura política: com argúcia, o autor mostra o quanto a fortuna dos sertanistas esteve inextricavelmente ligada ao cálculo político da Coroa. Aliás, um dos capítulos mais reveladores é aquele em que a trajetória dos velhos sertanistas paulistas é esmiuçada com um aporte documental assombroso: depois dos valiosos serviços prestados à Coroa, principiavam uma longa negociação a respeito de sua remuneração. Especialistas nas técnicas de sobrevivência nos matos, perdiam-se em meio aos labirintos da corte portuguesa, atordoados por uma lógica que lhes parecia incompreensível, vendo soçobrarem as tão cobiçadas mercês régias. A ingratidão régia e o ressentimento amargo constituem o lado oculto de uma história nunca antes contada. Este livro inaugura, depois de tantos anos, uma nova fase nos estudos do bandeirismo paulista, revigorados pela sistemática pesquisa documental e por abordagens originais. Já não era sem tempo.
ISBN 978-85-60778-32-4
ISBN 978-85-7526-366-2
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9 788575 26366 2
A invenção das Minas Gerais Empresas, descobrimentos e entradas nos sertões do ouro da América portuguesa
Tema consagrado pela historiografia, o bandeirismo despertou amor e ódio entre os estudiosos das primeiras décadas do século XX. Com raras exceções, a exemplo de Sérgio Buarque de Holanda, o que estava em jogo nas interpretações então correntes era o propósito de exaltar ou vilipendiar os sertanistas e descobridores de metais e pedras preciosos no continente americano, ecoando intenções políticas nada ingênuas. O resultado disso foi o ostracismo a que o tema permaneceu condenado, identificado com as apropriações ideológicas que acabaram por contaminá-lo. Revisitá-lo, rompendo com as abordagens tradicionais, impôs aos historiadores um desafio colossal. E foi esse o desafio que Francisco Eduardo de Andrade se propôs a enfrentar, debruçando-se sobre a trajetória dos bandeirantes e sertanistas paulistas que devassaram os sertões mineiros entre fins do século XVII e início do XVIII. Rechaçando os princípios de uma história événementielle, afeita à narrativa descarnada das fontes, o autor preferiu sondar os significados mais profundos que permitiram a constituição histórica do bandeirismo, apreendendo-o como uma invenção de homens ao longo do tempo. Ao fazê-lo, Andrade se distancia das velhas interpretações e descortina um universo completamente original, exalando um frescor que seduz e fascina o leitor: das suas análises, o velho bandeirante paulista não emerge mais como o protagonista solitário de uma epopéia colonial, mas como a confluência de saberes, práticas e experiências, em que se entrecruzam a cultura, a política, o social, num cenário onde