A maldição do verdadeiro amor (Sucesso no TikTok)

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Da mesma autora de: Era uma vez um coração partido A balada do felizes para nunca Caraval Lendário Finale


TRADUÇÃO:

Lavínia Fávero


Copyright © 2023 Stephanie Garber Copyright desta edição © 2023 Editora Gutenberg Título original: A Curse for True Love

Todos os direitos reservados pela Editora Gutenberg. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora.

editora responsável

ilustração de capa

Flavia Lago

Lisa Perrin

editoras assistentes

projeto gráfico de capa

Natália Chagas Máximo Samira Vilela

Hodder & Stoughton adaptação de capa

preparação de texto

Fernanda Marão

Juliana Sarti diagramação

revisão

Claudia Gomes Vilas Boas

Guilherme Fagundes

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil

Garber, Stephanie A maldição do verdadeiro amor / Stephanie Garber; tradução Lavínia Fávero. -- São Paulo : Gutenberg, 2023. -- (Era uma vez um coração partido; v. 3) Título original: A Curse for True Love ISBN 978-85-8235-718-7 1. Fantasia 2. Ficção norte-americana 3. Vampiros - Ficção I. Título. II. Série. 23-170832

CDD-813 Índice para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura norte-americana 813 Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415

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Paço dos Lobos Floresta do Arvoredo da Alegria

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Magnífico Norte



PARTE IV

Felizes para sempre



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Evangeline

E

vangeline Raposa sempre acreditou que, um dia, quando menos esperasse, faria parte de um conto de fadas. Quando era menina, sempre que um novo carregamento de mercadorias chegava à loja de curiosidades do pai, corria imediatamente para ver o que tinha nas caixas. Examinava cada objeto e se perguntava: Será que vai ser este? Seria o objeto que a faria cair dentro de uma fantasia? Certa vez, chegou uma caixa enorme, contendo apenas uma maçaneta. Maçaneta essa que era de um tom raro de verde, de pedra preciosa, que reluzia na luz, feito mágica. Evangeline ficou convencida de que, se encaixasse a maçaneta na porta certa, quando ela se abrisse, teria acesso a um outro mundo, e seu conto de fadas teria início. A maçaneta, infelizmente, nunca deu acesso a nada fora do comum. Mas Evangeline nunca perdeu a esperança de que, um dia, quando menos esperasse, estaria em outro lugar. Para Evangeline, ter esperança, imaginar e acreditar na magia sempre foi tão natural quanto respirar. E, apesar disso, de repente, respirar ficou muito difícil quando, por fim, inesperadamente, encontrou-se em outro lugar, nos braços de um belo jovem que dizia ser seu marido. Marido. A palavra fez sua cabeça girar. Como? Como? Como? Ela estava desconcertada demais para formular uma pergunta que contivesse mais do que essa única palavra. Na verdade, não conseguia sequer dizê-la em voz alta. Se aquele rapaz não a estivesse segurando, Evangeline poderia ter caído no chão. Era coisa demais para assimilar e coisa demais para perder, tudo ao mesmo tempo. 11


Uma de suas últimas lembranças era de estar sentada ao lado do pai, em seu leito de morte, em casa. Só que até essa memória estava danificada. Parecia que a morte do pai era parte de um retrato desbotado, mas não apenas isso – partes dele haviam sido arrancadas de forma impiedosa. Evangeline não conseguia se lembrar claramente dos meses que antecederam a morte do pai nem de nada do que acontecera depois disso. Não recordava sequer como ele contraíra a febre que o matou. Só sabia que, como a mãe, o pai falecera – e que falecera havia um bom tempo. – Sei que deve ser assustador. Imagino que você se sinta só, mas você não está sozinha, Evangeline – declarou o desconhecido que disse ser seu marido, abraçando-a mais apertado. O rapaz era alto, o tipo de rapaz alto que fazia Evangeline se sentir pequena nos braços dele, um abraço tão apertado que dava para sentir que o jovem também estava tremendo. Não tinha como ela imaginar que o desconhecido estivesse tão apavorado quanto ela, mas era visível que ele demonstrava uma autoconfiança que não tinha. – Você tem a mim… e não há nada que eu não faria por você. – Mas não me lembro de você – disse Evangeline. Estava com uma certa relutância de se afastar do desconhecido. Mas tudo aquilo era tão desconcertante… Ele era desconcertante. Uma ruga profunda se formou entre as sobrancelhas do desconhecido quando ela se desvencilhou. Mas o rapaz declarou, com toda a paciência, em um tom grave e tranquilizador: – Eu me chamo Apollo Acadian. A jovem ficou esperando um clarão de reconhecimento ou apenas uma faísca, por mais minúscula que fosse. Precisava de algo conhecido, algo em que se segurar, para que não sentisse mais uma vez que estava prestes a desfalecer, e Apollo olhava para ela como se quisesse ser esse algo. Ninguém nunca olhara para Evangeline com tanta intensidade. O rapaz a fez pensar em heróis de contos de fadas. Ombros largos, maxilar pronunciado, olhos castanho-escuros e ardentes, 12


trajes que indicavam o tipo de riqueza que evoca imagens de baús do tesouro e castelos. Trajava um casaco vermelho-escuro de gola alta, com requintados bordados em dourado, nos punhos e nos ombros. Por baixo, usava uma espécie de gibão – pelo menos, Evangeline achava que era esse o nome daquela peça de roupa. Os homens de Valenda, sua cidade natal, se vestiam de modo bem diferente. Mas era óbvio que não estava mais em Valenda. Esse pensamento trouxe uma nova onda de pânico, que fez palavras saírem pela sua boca aos borbotões. – Como cheguei aqui? Como nos conhecemos? Por que não me lembro de você? – perguntou. – Suas lembranças foram roubadas por alguém que estava tentando nos separar. Uma emoção passou pelos olhos castanhos de Apollo, como se ele estivesse com raiva ou dor, Evangeline não sabia dizer. Queria poder se lembrar dele. Mas, quanto mais tentava, pior se sentia. A cabeça doía, e tinha a sensação de que seu peito fora esvaziado, como se ela tivesse perdido mais do que apenas suas lembranças. Por um segundo, a agonia foi tão profunda e brutal que levou a mão ao coração, na esperança de encontrar um buraco. Mas não havia nenhum ferimento. O coração ainda estava lá, dava para sentir as batidas. Contudo, por um instante devastador, Evangeline imaginou que não o encontraria, que seu coração estava tão despedaçado quanto ela. E foi aí que lhe ocorreu, não um sentimento, mas um pensamento: um pensamento agudo e fragmentado. Ela tinha que contar algo importante para alguém. Evangeline não conseguia se lembrar do que era, mas tinha a sensação de que todo o seu mundo girava em torno daquela única coisa que precisava contar. Só de pensar, seu sangue ferveu. Tentou recordar que coisa era aquela e para quem precisava contar – será que era para aquele tal de Apollo? Será que essa era a razão de suas lembranças terem sido roubadas? – Por que alguém está tentando nos separar? – perguntou. 13


Poderia ter feito muitas outras perguntas. Poderia ter perguntado de novo como foi que se conheceram e há quanto tempo eram casados. Só que, de repente, Apollo aparentou estar nervoso. Lançou um olhar furtivo para trás de Evangeline e falou, baixinho: – É complicado. A jovem seguiu o olhar do rapaz até a estranha porta de madeira onde estava encostada. Em cada lado da porta havia um anjo guerreiro de pedra, mas tinham uma aparência mais realista do que estátuas de pedra deveriam ter. As asas estavam abertas, salpicadas de sangue seco. Ao vê-las, sentiu mais uma pontada no peito: teve a impressão de que o corpo ainda se recordava, apesar de a mente ter esquecido. – Você sabe o que aconteceu aqui? – perguntou Evangeline. Por uma fração de segundo, Apollo ficou com uma cara quase de culpa, mas poderia muito bem ser apenas de tristeza. – Prometo que vou responder a todas as suas perguntas. Mas agora precisamos sair daqui. Precisamos ir embora antes que ele volte. – Ele quem? – O vilão que apagou todas as suas lembranças. Apollo pegou na mão de Evangeline, amparando-a com firmeza. Então rapidamente tirou a jovem daquele recinto, com a porta e os anjos guerreiros. A luz difusa do fim da manhã iluminava estantes de manuscritos com fitilhos e pingentes, amarrados com fitas. Dava a impressão de que estavam em uma biblioteca antiquíssima. Mas, à medida que avançavam, parecia que os livros ficavam cada vez mais novos. O chão de pedra empoeirada deu lugar a um mármore reluzente, o pé-direito foi ficando mais alto, a luz se tornou mais dura, os manuscritos deram lugar a volumes encadernados com couro. Mais uma vez, Evangeline tentou procurar algo de conhecido naquela luz do fim da manhã. Algo que pudesse fazê-la recordar. Seus pensamentos estavam menos turvos, mas nada lhe era familiar. Era mesmo outro lugar, e, pelo jeito, estava ali havia tempo suficiente para conhecer heróis e vilões e se encontrar no meio de uma batalha entre eles. 14


– Quem? – insistiu. – Quem roubou minhas lembranças? Apollo perdeu o passo. Em seguida, começaram a andar mais rápido do que antes. – Prometo que vou te contar tudo, mas temos que sair daqui… – Por todas as deusas! – exclamou alguém. Evangeline se virou e deu de cara com uma mulher de trajes brancos, parada no meio das estantes de livros. A mulher – uma espécie de bibliotecária, ela supôs – encostou a mão na boca e cravou o olhar. Sua expressão era de assombro, olhos arregalados e fixos, pousados em Apollo. Outra bibliotecária apareceu no corredor. Esta soltou um suspiro de assombro e desmaiou prontamente, derrubando uma pilha de livros, bem na hora que a primeira bibliotecária gritou: – É um milagre! Mais bibliotecários e estudiosos apareceram, todos gritando exclamações semelhantes. Evangeline se encolheu nos braços de Apollo, porque não demorou para os dois ficarem cercados de gente. Primeiro pelos bibliotecários, depois por criados e cortesãos. E, por fim, chegaram guardas de peito largo e armaduras reluzentes, que entraram correndo, sem dúvida atraídos pelos clamores. O cômodo em que estavam devia ter um pé-direito de pelo menos 13 metros. Mas, de repente, parecia pequeno e sufocante, porque mais e mais pessoas desconhecidas foram se aproximando do casal. – Ele voltou… – Ele está vivo… – É um milagre! – repetiram todos, agora com um tom respeitoso e lágrimas escorrendo pelo rosto. Evangeline não sabia o que estava acontecendo. Tinha a sensação de que estava testemunhando o tipo de coisa que costuma acontecer em igrejas. Seria possível que tivesse se casado com um santo? Olhou para Apollo e tentou recordar o sobrenome dele. “Acadian”, o rapaz dissera. Ela não conseguia se lembrar de nem mesmo uma única história a respeito de Apollo Acadian, mas era óbvio que essas 15


histórias existiam. Ao conhecê-lo, imaginou que era alguma espécie de herói, mas aquelas pessoas olhavam para Apollo como se ele fosse ainda mais do que isso. – Quem é você? – sussurrou Evangeline. Apollo aproximou a mão dela dos lábios e deu um beijo em seus dedos que a fez estremecer. – Sou aquele que jamais vai permitir que alguém te faça mal novamente. Algumas das pessoas próximas suspiraram ao ouvir essas palavras. Então Apollo levantou a outra mão para as pessoas que cochichavam, em um gesto que universalmente significa “calem-se”. Elas silenciaram na mesma hora. Algumas até ficaram de joelhos. Foi estranho ver tanta gente se calar tão depressa – parecia que nem sequer respiravam enquanto a voz de Apollo ecoava sobre suas cabeças. – Percebo que alguns de vocês estão com dificuldade para acreditar no que estão vendo. Mas o que veem é real. Estou vivo. Quando saírem daqui, contem para todo mundo que encontrarem pela frente que o Príncipe Apollo morreu e enfrentou o inferno para conseguir voltar. “Príncipe.” Evangeline mal teve tempo de processar essa palavra e tudo o que a acompanhava – porque, quase no mesmo instante em que Apollo terminou de falar, soltou a mão dela e tirou o gibão de veludo, depois a camisa de linho. Várias das pessoas ali reunidas soltaram um suspiro de assombro, incluindo Evangeline. O peito de Apollo era perfeito, lisinho e musculoso, e, logo acima do coração, tinha uma tatuagem vibrante – duas espadas formando um coração, com um nome no meio: “Evangeline”. Até aquele momento, tudo lhe parecia um delírio febril do qual poderia ter acordado. Mas ver o próprio nome no peito de Apollo lhe deu uma sensação de perpetuidade, coisa que não havia sentido ao ouvir as palavras dele. Aquele rapaz não era um desconhecido. Era alguém que a conhecia intimamente, ao ponto de gravar o nome de Evangeline no próprio coração. 16


Em seguida, Apollo se virou, exibindo outra imagem que aturdiu não apenas Evangeline, mas todos os presentes. As belas, altivas e retas costas de Apollo estavam cobertas por uma teia de violentas cicatrizes. – Estas marcas são o preço que paguei para poder voltar! – gritou ele. – Quando digo que enfrentei o inferno, estou falando sério. Mas eu tinha que voltar. Tinha que consertar o que foi feito de errado na minha ausência. Sei que muitos de vocês acreditam que foi meu irmão, Tiberius, quem me matou. Mas não foi ele. Murmúrios chocados se espalharam entre as pessoas ali reunidas. – Fui envenenado por um homem que eu acreditava ser meu amigo – vociferou Apollo. – Lorde Jacks é o homem que me matou. Ele também roubou as lembranças da minha esposa, Evangeline. Não descansarei enquanto Jacks não for encontrado e pagar com a própria vida por seus crimes!

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