a a m a Frederik Peeters
1. O cheiro da poeira quente
Frederik Peeters
1. O cheiro da poeira quente Tradução: Fernando Scheibe
Copyright © 2011 Gallimard Copyright © 2014 Editora Nemo Título original: Aâma 1. L'odeur de la poussière chaude Todos os direitos reservados à Editora Nemo. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora.
editor
Wellington Srbek revisão
Aline Sobreira Eduardo Soares letreiramento
Cleber Campos
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Peeters, Frederik Aâma : o cheiro da poeira quente / Frederik Peeters ; tradução Fernando Scheibe. -- São Paulo : Nemo, 2014. Título original: Aâma 1. L’odeur de la poussière chaude ISBN 978-85-8286-027-4 1. Histórias em quadrinhos I. Título. 14-00842 Índices para catálogo sistemático: 1. Histórias em quadrinhos 741.5
EDITORA NEMO Av. José Maria de Faria, 470, Mezanino – Térreo – Lapa de Baixo 05038-190 – São Paulo – SP
CDD-741.5
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Estou chorando...
Por que razão?
Não faço ideia...
não me sinto triste. sinto-me bastante calmo. sinto o vento no meu rosto. sinto o chão que vibra. uma pequena crepitação. uma pequena pulsação regular...
Onde estou?
Não faço ideia...
Nenhuma ideia... Nenhuma lembrança...
4
Lilja...
Alguma outra coisa?
Sim...
Minha filha... Minha filhinha...
N達o... Nada...
5
Estou vazio... completamente limpo, como se as lágrimas tivessem levado tudo.
Alguém!
Alguém está chegando! dali...
É isso.
Estou enxergando bem! Minha visão está perfeitamente clara! Tão clara que chega quase a ferir meus olhos... É estranho... Afinal, sou míope, não?
Sim... normalmente, sou míope...
!
loc
Ver
!
tico
tás
Fan
Verloc!
Meu nome! Chamo-me Verloc...
O senhor está vivo! Bom dia, meu nome é Verloc.
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Ha, ha! Estou muito contente! O senhor parece bem!
É assombroso, o senhor viu? Todo o resto desapareceu! Pfft! Em cinzas! Até a moça!
Como se sente?
Quem é o senhor?
Não deve me chamar de senhor.
Não tenho nenhuma lembrança... não sei o que estou fazendo aqui. O senhor precisa me ajudar!... ...Você precisa me ajudar! Diga-me o que sabe sobre mim.
Mh...
Onde estamos?
Estamos no planeta Ona (ji).
Setor galáctico s-u-26, latitude 36.25, longitude 61.03.
Meu nome é Churchill.
O que estou fazendo aqui?
Robô especial. Fabricação sob medida... Funções principais: proteção pessoal, busca, perseguição, vigilância, exploração, negociação e diplomacia...
Quem é você?
E o que mais?! Não sei... conte-me alguma coisa!... Quem sou eu? Por que me conhece?
O que... o que houve com suas pernas?
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Talvez devêssemos primeiro tentar chegar à colônia... Vou ver se a comunicação voltou a funcionar...
Não! Quero saber!
imediatamente!
Tome. Espere...
Suas lembranças... O que é isso?
...ou, pelo menos, uma boa parte delas...
É um livro? ...de papel?!
...papel de verdade...
Cheiro de infância. Conheço este caderno. Primeira página. Sim. É minha letra.
Que sensação estranha...
Vou ler:
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Segunda-feira, 25 de junho. Hoje é um grande dia! Faz meses que arrasto para todos os lados este precioso caderninho virgem, prometendo que registrarei nele minha vida, ou meus pensamentos, ou anedotas quaisquer, mesmo listas de compras, sei lá, e até agora fui incapaz de escrever uma só palavra.
E, de repente, acontece. Sento-me, pego uma caneta, uma caneta de verdade, com tinta de verdade, e escrevo... Caramba, faz tanto tempo que não escrevo... Mesmo na escola, não me lembro de ter escrito à mão, assim. Aliás, é uma vergonha, tenho a impressão de ter a letra de uma criança de sete anos.
Meus dedos estão duros.
Escrever... como se faz isso? Sujeito, verbo, complemento... Formularei meus pensamentos como vierem.
primeiro, onde estou?
Estou na nave de meu irmão. A caminho do planeta ONA (ji).
Atrás de mim está Churchill, com quem acabo de passar uma hora conversando. Bom, praticamente só eu falei. Numa desordem e numa confusão assombrosas, tentei resumir para ele as circunstâncias que me levaram até aquela poça onde ele e meu irmão me encontraram.
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