Arte, literatura e os artistas

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A tradução e a edição da obra de Freud envolvem múltiplos aspectos e dificuldades. Ao lado do rigor filológico e do cuidado estilístico, ao menos em igual proporção, deve figurar a precisão conceitual. Embora Freud seja um escritor talentoso, tendo sido agraciado com o Prêmio Goethe sobretudo pela qualidade literária de sua prosa científica, seus textos fundamentam uma prática: a clínica psicanalítica. É claro que os conceitos que emanam da Psicanálise também interessam, em maior ou menor grau, a áreas conexas, como a crítica social, a teoria literária, a prática filosófica, etc. Nesse sentido, escolhas terminológicas nunca são anódinas. A coleção Obras Incompletas de Sigmund Freud pretende não apenas oferecer uma nova tradução, direta do alemão e atenta ao uso dos conceitos pela comunidade psicanalítica brasileira, como também uma nova maneira de organizar e de tratar os textos. Um convite para que o leitor desconfie do caráter apaziguador que o adjetivo “completas” comporta.

“Há algum tempo na companhia de um amigo taciturno e de um jovem, mas já famoso e conhecido poeta, fiz um passeio em meio a uma florescente paisagem de verão. O poeta admirava a beleza da natureza a nossa volta, mas sem que pudesse se alegrar por isso. Perturbava-o a ideia de que toda aquela beleza estava destinada a perecer, de que no inverno ela desapareceria dali [...]. Mas contesto o poeta pessimista, que associa a transitoriedade do belo com sua desvalorização. Ao contrário, há um aumento de valor! O valor da transitoriedade é raro em nossa época. A limitação das possibilidades de fruição eleva sua preciosidade. Considero incompreensível que a ideia da transitoriedade do belo possa perturbar nossa alegria diante dele. No que diz respeito à beleza da natureza, após sua destruição pelo inverno, ela voltará novamente no próximo ano, e esse retorno em relação à duração de nossa vida deveria ser caracterizado como eterno. Vemos a beleza do corpo humano e do rosto se desvanecer no interior de nossa própria vida, mas esta efemeridade acrescenta, com seus estímulos, uma nova beleza.”

FREUD

Obras incompletas de Sigmund Freud

O b ras

incompletas

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• Neurose, psicose, perversão • Conceitos fundamentais da psicanálise • Histeria, obsessão e outras neuroses • Amor, sexualidade e feminilidade • Fundamentos da clínica psicanalítica

ISBN 978-85-8217-603-0

9 788582 176030

Prefácio e notas Ernani Chaves Posfácio Edson Luiz André de Sousa

S i g m u n d

arte, literatura E os artistas

Sigmund Freud

• Sobre a concepção das afasias • As pulsões e seus destinos (edição bilíngue) • Compêndio de psicanálise e outros escritos inacabados (edição bilíngue)

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Tradução Ernani Chaves

F REUD

O que a Psicanálise tem a dizer sobre a arte, a literatura e os artistas? Ou, por outro lado: em que medida o que aprendemos com a arte, com a literatura e com os artistas pode nos abrir caminhos na clínica psicanalítica? Que aproximações podemos fazer entre o trabalho do artista e o do psicanalista? Em que eles se distanciam? Tem a arte o poder de atenuar o sofrimento psíquico? Possui o artista uma melhor disposição para sublimar? Os textos reunidos nesta coletânea constituem a quase totalidade das incursões de Freud nesses domínios e contêm os principais elementos para responder a essas indagações. Mas qual o estatuto dessas incursões? É como leigo que o criador da Psicanálise investiga os processos criativos do poeta ou enfrenta o problema clássico do estatuto da “catarse”? É por puro diletantismo que ele aborda uma lembrança de infância de Leonardo da Vinci ou uma de Goethe? O que dizer da cuidadosa leitura do mármore, atenta aos detalhes quase imperceptíveis do Moisés de Michelangelo e dos paradoxos da sublimação nele implicados? Por que razões Freud recorre a Shakespeare quando se trata de abordar as metamorfoses do desejo e as modificações da imagem da mãe ao longo da vida, ou a Dostoiévski quando aborda os mecanismos de atenuação e ocultamento do desejo de morte do pai? O que as diferenças entre o chiste, o cômico e o humor nos ensinam sobre o Supereu? Completam a coletânea um dos mais belos textos de Freud, que narra um passeio em companhia do poeta Rainer Maria Rilke e de Lou Andreas-Salomé e, ainda, o discurso proferido quando recebeu o Prêmio Goethe.


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