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Esta coleção de HQs, na qual Bolland escreve e desenha, o leva para longe das armas & testosterona, para um mundo de sagacidade e fantasia criado exclusivamente por ele.
“O jeito dele (Bolland) de fazer o inacreditável parecer incrivelmente crível e o quanto está claro que se diverte ao fazer isso são os motivos pelos quais seus colegas estão entre seus maiores fãs.” - Brian Saner Lamken, Comicology Magazine
“Adoro os trabalhos mais pessoais de Bolland. É aquela mistura inglesa estranha entre a precisão e a loucura, o doce e o azedo, o alegre e o triste, como se fosse o resultado de um experimento perverso de cruzamento entre Heath Robinson e Alan Bennett.” - Neil Gaiman “Quando redescobri os quadrinhos, já adulto, a arte de Brian Bolland estava entre as coisas que mais me animavam em relação às HQs, e mostrava como elas eram ma-ravilhosas e como poderiam ser mais. Ele é um mestre.” - Michael Allred
“Na última terça-feira, o Sr. Brian Bolland exibiu um show de slides mostrando cem anos de Scrane End em fotos. As pessoas da plateia acharam muito informativo. Chá e biscoitos foram servidos por membros da W.I. e todos passaram por bons bocados lá.” - Barbara Wootley (Mrs.) Chair, Scrane End Women's Institute
“Eu o encontrei algumas vezes, mas ele gosta de se guardar para si mesmo. Tem sempre uma fumaça saindo de trás de suas árvores e um tipo de cheiro estranho. O que ele fica queimando lá é algo que só Deus sabe!” - Margaret Willinger, vizinha
“Briand Bolland é uma maravilha neurológica, ligado sem nenhuma falha de transmissão entre sua mente extraordinária e sua mão firme como estátua que desenha, com suas imagens parecendo cópias perfeitas, feitas em transfer e ainda molhadas vindas do seu cérebro, impressas sem perda de qualidade. Aqui se encontra toda a arte que os esculpidores do século 18 trouxeram à vida através de uma visão que é, ao mesmo tempo, eterna e contemporânea, feita por um dos ilustradores mais notáveis e incríveis de sua época, com cada prato do banquete visual sendo devorado rapidamente por seu público agradecido e faminto. Reserve agora seu assento e aproveite as iguarias.” - Alan Moore
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Brian Bolland
No fim dos anos 1970, Brian Bolland deixou uma marca indelével nas mentes de muitos fãs britânicos de HQs com seu trabalho incrivelmente original – e muitas vezes controverso – em Juiz Dredd, na revista 2000 AD. Ele acabou por atrair o público americano com Camelot 3000 e Batman: A Piada Mortal, sendo popular até hoje e ainda muito procurado para fazer capas.
A Atriz e o Bispo Uma Introdução A atriz em um dos seus primeiros papéis como puabi, uma escrava suméria.
Bom, “A Atriz e o Bispo” nasceu como um desenho levemente ofensivo que fiz para um portfólio francês (incluído em algum lugar deste álbum), mas o que acontece com a arte em quadrinhos é que ela, essencialmente, conta histórias, mesmo quando é uma única imagem. Gostei desses personagens e quis saber mais a respeito deles. Quando Garry Leach e Dave Elliot me pediram para fazer algo para a primeira edição da A1, a Atriz e o Bispo já estavam ali esperando na coxia.
Caso você não saiba, eles existem há muito tempo como personagens de um chiste sacana velho e repisado. Me interrompa se já ouviu essa, mas alguém inocentemente poderia dizer algo como “É muito grande, eu não aguento”, e outra pessoa falaria “Disse a atriz para o bispo”. Risinhos. E a conversa foi para o espaço. Peixe e fritas, gato e rato, a princesa e o sapo, Charles e Camilla, a atriz
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e o bispo. Essas palavras estão sempre juntas. Descobri que gostava mais dos dois personagens do que imaginava, e queria saber a história deles. As pessoas esperam uma história bem indecente. Bom, não dá para ignorar o fato de que ele é um senhor que não usa calças e ela, uma mulher mais jovem, com um passado cheio de histórias e uma variedade de trajes ousados. No entanto, achei que a coisa menos interessante que poderia fazer era transformá-los em pornografia. Muito melhor fazê-los morar em um retiro calmo, de uma casa meio afastada em um subúrbio londrino; e qualquer propensão que eles tenham a algo cabe a você, leitor, conjecturar em sua sórdida imaginação.
Em relação ao ritmo dramático das histórias, bom, tenho duas imagens bem visuais das quais parecem sair todas as minhas ideias. Uma é aquele trecho do filme em que dois apaixonados correm em direção um ao outro, em câmera lenta, em um campo de milho. Quando chegam ao ponto onde deveriam se encontrar, eles erram completamente o abraço. A outra vem dos desenhos animados. O trecho em que o Coiote, impulsionado pela motivação única de pegar o Papa-Léguas, passa da beira do abismo e continua correndo e correndo. Depois de um tempo, ele percebe que o chão não está lá, e só então ele cai. A hora em que ele está correndo no ar me fascina. Todos fazemos isso. Corremos em cima do nada. Correndo e errando.
O tom também é dado pelo grande Viv Stanshall, da Bonzo Dog Doo Dah Band, e seu breve monólogo na música “Rockaliser Baby”, o qual cito aqui em sua totalidade: “Em setembro de 1937, comprei um novo ferro elétrico de passar para minha esposa. Ela continua usando todos os dias e ele nunca precisou ser consertado”.
A atriz disse ao bispo: “ Não acha um pouco CURioso Não termos notí cias há tempos De Deus, aquele bobo teimoso?”
E o Bispo disse à atriz: “ Sua impaciência a faz sofrer. Olhe pra mim. Espero há muito tempo por uma mensagem, e nada de ela aparecer.”
“ ao todo-poderoso uma questão devemos lançar: Como podemos salvar este mundo doente?” Mas a resposta ainda está por chegar.
“ Uma vez, num banheiro em Crewe, PENSEi TER Visto uma mensagem que dizia: Deus esteve aqui na terça, mas ele só estava de passagem.”
Eles esperaram semanas, meses e anos, mas não apareceu nenhum sinal, nenhuma voz poderosa como um trovão, telefonema ou linha direta, afinal.
“ AtÉ tentei ligar pra ele, Mas ele não está na lista, Não deve ter residência fixa, tal qual um vigarista.”
A atriz disse ao bispo: “ Bom, me parece mesmo um problema que o mundo seja um barco desgovernado sem alguém comandando todo o esquema.”
“ Tenho a estranha sensação De que caí no conto do vigário” , o bispo falou, “ e se tem algo que não suporto é ser feito de otário!”
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A atriz assistiu ansiosa Mas nenhuma palavra foi proferida Enquanto ele apanhava um guia de viagem, sobre o criado de madeira envelhecida.
Naquela noite eles jantaram enguia gelatinosa E cozido de hamster na cerveja, E navegaram pelos Norfolk Broads, Com a lua cheia de estonteante beleza.
“ Jovem atriz quer realizar seus sonhos e as suas fantasias, não seja tí mido, garoto levado, ligue 62362 e sorria.”
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De debaixo de sua batina ele pegou Uma chave prateada brilhante em seu veículo de passeio, Que se encaixava .. Seu citroen 2CV elegante.
Então, quando a refeição acabou, Com os espí ritos ébrios e sonolentos, Ela segurou em sua mão enrugada, E cambalearam juntos para os aposentos.
Aquele “ deus” era só um pensamento abstrato Seu trem ainda não tinha chegado, Suas necessidades humanas eram patentes, em Crewe, naquele dia desventurado.
Eles aceleraram pela estrada E não pararam para descansar Até chegarem na cidade de wroxham Quando o sol já começava a baixar.
Os pensamentos dele voaram para um dia cinzento, Quando estava sentado na casinha, e Ele leu algo escrito por deus, mas logo abaixo havia esta linha:
agora balançando em Norfolk broads, Em um êxtase pagão e carnal, Não, nada poderia ser mais divino do Que aquele ritual.
O barco deles era como um mundo perfeito, com sua pintura clara e recente, o motor parecia um organismo vivo, e seu leme era reto e imponente.
quão bom, quão jovem esse homem sagrado Já tinha sido, mas enquanto dormia, ela pensava em outro, e no segredo que consigo trazia.
Ele entrou no quarto dela, e ficou até quase uma hora, recebeu tudo que ela tinha para dar e mais, e então foi-se embora.
Ele veio e foi e não deixou dinheiro, Mas mesmo assim ela sabia que nunca nada seria melhor, do que o que houve em Crewe naquele dia.
Mas então o casal continuou dormindo, o sol batendo como um açoite, O senhor da religião E a dama da noite.
Esse homem era mesmo bom, mas outro fora muito mais capaz. Um estranho homem velho com longa barba branca, mas forte e selvagem e sagaz.
A atriz e o bispo dormiram, E o que sonharam não há quem saiba. E pensaram em ficar um dia ou dois, Naquele lugar próprio de fábula.
O telefone estava tocando, Em rayners lane, no apartamento, quem ligou tentou por meia hora, não se sabe com qual intento.
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uma vez por semana, as peônias o bispo ia batizar, e abençoava os gnomos do jardim, por assim dizer, para não enferrujar.
lá dentro, a atriz cuidava da casa, desentupia o ralo e limpava, Enquanto pensava no dia em que de crewe para Rayner’s Lane se mudara.
“ Sabe de uma coisa” , ela falou, “ é uma vergonha que nunca nos encontramos Ou socializamos de forma alguma com as Pessoas da rua em que moramos.”
“ Por que não damos uma festa aqui, assim todos poderiam ver que belos e amistosos vizinhos nós dois podemos ser.”
então, uma fila se formou uma noite, uma semana depois, Em frente à porta rosa e amarela Da casa número 22.
foram Os turner, os cuthberts E até os geres os prestigiar, A Sra. Beak com Tracy e Um homem com roupa de mergulhar.
Todos convergiram ao 22, E logo pôde ser visto em cada rosto Sorriso de amizade onde antes havia desconfiança e desgosto.
Dar uma festa
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O bispo conversou com a Sra. Sly, Da casa número 54, E ela disse: “ nossa, já vi seu rosto antes, e isso é fato” .
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