FILOAGAMBEN
O TRADUTOR: Davi Pessoa, professoradjunto de língua e literatura italianas na UERJ, é autor de Terceira margem: testemunha, tradução (Editora da Casa, 2008). Atua também como tradutor de filosofia e literatura italianas, tendo já traduzido A razão dos outros e Ou de um ou de nenhum (Lumme, 2009 e 2010), ambos de Luigi Pirandello; Georges Bataille, filósofo (Edufsc, 2010), de Franco Rella e Susanna Mati; Desgostos: novas tendências estéticas e Ligação direta: estética e política (Edufsc, 2010 e 2011), de Mario Perniola; Nudez e Meios sem fim: notas sobre a política (Autêntica, 2014 e 2015), de Giorgio Agamben.
GIORGIO AGAMBEN O tempo que resta Um comentário à Carta aos Romanos
GIORGIO AGAMBEN nasceu em 1942, em Roma, e laureou-se em Direito, em 1965, com uma tese sobre Simone Weil. Em 1966, participou do primeiro Seminário de Le Thor, que Heidegger realizou a convite de René Char. Entre 1974 e 1975, fez pesquisas em Londres na Warburg Institute Library. Entre 1982 e 1993, assumiu a tarefa de apresentar ao público italiano uma edição completa das obras de Walter Benjamin pela editora Einaudi, de Turim. Nesse processo, acabou descobrindo textos inéditos de Benjamin na biblioteca de Paris. Por discordâncias com a editora, abandonou o projeto. Entre 1986 e 1993, foi diretor de programa do Colégio Internacional de Filosofia de Paris. A partir de 1988, passou a ensinar na Itália, primeiro em Macerata, depois em Verona e, por fim, no Istituto Universitario di Architettura di Venezia (IUAV), de onde se demitiu em 2009.
“Esse tempo ulterior não é, porém, um outro tempo, algo como um tempo suplementar que se acrescenta, de fora, ao tempo cronológico; ele é, por assim dizer, um tempo dentro do tempo – não ulterior, mas interior – que mede apenas a minha defasagem em relação a ele, o meu ser em desvio e em não-coincidência em relação à minha representação do tempo [...]. Podemos, então, propor uma primeira definição do tempo messiânico: ele é o tempo que o tempo leva para acabar – ou, mais exatamente, o tempo que empregamos para fazer acabar, para concluir a nossa representação do tempo. [...] o tempo operativo que urge no tempo cronológico e o trabalha e transforma a partir do interior, tempo do qual precisamos para fazer findar o tempo – nesse sentido: tempo que nos resta. Enquanto a nossa representação do tempo cronológico, como tempo no qual estamos, nos separa de nós mesmos, transformando-nos, por assim dizer, em espectadores impotentes de nós mesmos, – espectadores que olham sem tempo o tempo que escapa, o seu incessante faltar a si mesmos –, o tempo messiânico, como tempo operativo, no qual apreendemos e realizamos a nossa representação do tempo, é o tempo que nós mesmos somos – e, por isso, o único tempo real, o único tempo que temos.”
GIORGIO
AGAMBEN O tempo que resta Um comentário à Carta aos Romanos
O presente trabalho procura confrontar este duplo desafio: trazer à luz a experiência cristã do tempo, isto é, do tempo do Messias, para dispor de uma ideia do tempo à altura da dimensão histórica do homem. Dividido em seis jornadas, o livro se ocupa das dez primeiras palavras da Carta de Paulo aos romanos. Cada uma delas é objeto de um comentário erudito que se alimenta das mais diversas fontes: da própria Escritura, da filosofia, dos midrashim judaicos, do direito romano, da literatura, etc. Todas se encaminham para o mesmo lugar, até um agora que já não é um ponto na sucessão do círculo ou da linha, mas um tempo que resta, que se contrai para abrir o presente à sua dimensão mais íntima. Dois livros de Agamben são originalmente seminários, A linguagem e a morte, em que aparece pela primeira vez a figura do homo sacer, e o presente trabalho. Na minha opinião, eles representam, em grande parte, os pilares conceituais de sua vasta obra.
ISBN 978-85-8217-509-5
9 788582 175095
Num de seus primeiros livros, Infância e História, Giorgio Agamben sustenta que a cultura moderna não conseguiu elaborar uma ideia do tempo de acordo com sua concepção da história. Isso se deve, explica, à herança grega que, para além de suas diferenças, segue presente na representação cristã do tempo que a cultura moderna secularizou. De fato, retomando uma expressão de Santo Agostinho, quer se trate do círculo, quer se trate da linha, ou seja, da temporalidade circular dos antigos ou da linearidade dos cristãos, o tempo é sempre concebido como uma sucessão contínua de pontos. E, desse modo, a experiência cristã do tempo permanece presa na subordinação ao espaço.
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Tradução Davi Pessoa Cláudio Oliveira
Edgardo Castro