Então, conheci minha irmã - A morte as separou, um diário as uniu

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i s r e o D y e l r u H e n i t Chris

u o , r a p e s ; s a e t r o A m um d i A r i o as uniu


Tradução: Cristina

Calderini Tognelli


Copyright © 2011 Christine Hurley Deriso Copyright © 2011 Flux, um selo de Llewellyn Wordwide Ltd. Copyright © 2014 Editora Gutenberg Título original: ...Then I Met My Sister Todos os direitos reservados pela Editora Gutenberg. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja cópia xerográfica, sem autorização prévia da Editora. GERENTE EDITORIAL

REVISÃO

Alessandra J. Gelman Ruiz Denis Araki

Camile Mendrot Patrícia Vilar Malvina Tomáz

ASSISTENTES EDITORIAIS

CAPA

Carol Christo Felipe Castilho

Marcelo Martinez – O laboratório secreto DIAGRAMAÇÃO

PREPARAÇÃO DE TEXTO

Christiane Morais

EDITOR ASSISTENTE

Karina Danza Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil

Deriso, Christine Hurley Então, conheci minha irmã : a morte as separou, um diário as uniu / Christine Hurley Deriso ; tradução Cristina Calderini Tognelli. -- Belo Horizonte : Editora Gutenberg, 2014. Título original: ...Then I Met My Sister ISBN 978-85-8235-128-4 1. Ficção juvenil I. Título. 14-01052

CDD-028.5 Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura juvenil 028.5

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Um

–S

ua mãe. Gibs indica a plateia com a cabeça e eu sigo a direção do seu olhar. Mamãe está sentada ao lado da mãe de Leah Rollins, no meio do auditório lotado. Trocam algumas palavras discretamente, inclinando-se na direção uma da outra, ambas seguram a programação do Dia de Premiação da Chapel Heights High School diante da boca. Mamãe se apega à fantasia de que Leah Rollins e eu ainda somos amicíssimas (Leah se afastou de mim no nono ano), e sem dúvida está dizendo à mãe dela que nós, garotas, temos de nos encontrar um dia desses. Enquanto mamãe inspeciona a nossa turma de segundo ano do ensino médio, que já está acomodada no palco para encarar aquela parte da programação, seu olhar cruza com o meu. Ela acena, com a mão perto do peito, enquanto os dedos de unhas muito bem-feitas se agitam. Gibs viu minha mãe apenas umas poucas vezes, contudo, ela é facilmente reconhecível no meio de uma multidão: corpo esbelto, terninho bem alinhado, cabelos loiros e lisos, olhos azuis reluzentes, bronzeado artificial. Aos 57 anos, ela é mais velha que a maioria das mães dos meus colegas, porém seus cuidados habituais com a aparência surtem bastante efeito. A única coisa que a envelhece é sua expressão. Seus olhos são ansiosos, e o sorriso, tenso. 7


– Por que ela está aqui? – sussurra Gibs. E, em seguida, tenta consertar: – Quero dizer... No entanto, não há como consertar, por isso ele repete: – Por que ela está aqui? – Porque é lunática. A voz do diretor se arrasta, e ele não demora a chamar Gibs pela enésima vez. – Maior média geral em História, Gibson Brown. Gibs me lança um olhar de desculpas e segue para o centro do palco, para receber seu certificado, o rabo de cavalo castanho balançando a cada passo desengonçado. Quando ele retorna para perto de nós, afrouxa a gravata e junta mais aquele certificado à pilha que se acumula debaixo da cadeira. – Maior média geral na história, Gibs? – pergunto, arrumando uma mecha longa de cabelo loiro atrás da orelha. – Quer dizer que ninguém, em toda a história, conseguiu uma média geral maior do que você? Bem impressionante! Ele dá um sorriso torto. – É a matéria, Summer – diz ele. – História, a matéria. O diretor volta a falar em seu tom monótono. – Maior média geral em Inglês da turma avançada, Gibson Brown. A plateia ri quando Gibs tem de voltar ao centro do palco. – Talvez Gibson e eu devamos trocar de lugar – o diretor brinca. Mais risadas. Gibs, por fim, tem a chance de descansar um pouco quando o diretor segue para os Prêmios de Maior Empenho. Pode parecer lógico que as excelentes notas de Gibs indiquem empenho exemplar, mas não, os Prêmios de Maior Empenho vão para os perdedores que passam raspando com notas C e deixam os professores contentes, ao se manter calados durante as aulas. Eu passo raspando com Cs, mas não fecho a boca na sala de aula, portanto, nada de Prêmio de Maior Empenho para mim. O que nos leva de volta à pergunta de Gibs: por que minha mãe está aqui? 8


Isso foi o motivo de uma discussão acalorada durante o café da manhã: – Então... a cerimônia do Dia de Premiação começa às nove, certo, Summer? Olhei para minha mãe cheia de suspeitas, enquanto ela lavava a louça na pia. – Por que quer saber? – Porque eu vou, claro! O garfo retiniu, quando escorregou dos meus dedos e caiu no prato. – E por quê? – Ora, Summer. Fique quieta e termine de comer. – Odeio desapontá-la, mãe, mas vou sair de mãos abanando. Mamãe evitou meu olhar, só continuou a esfregar o prato até ele brilhar, enquanto me dizia que estaria lá para dar apoio a todos os alunos, inclusive a mim, nem que fosse somente pelos esforços de cada um. Portanto, meu fracasso nas categorias de empenho deve tê-la atingido com tudo. Eu deveria sentir culpa. Deus bem sabe que minha mãe merece um Prêmio de Maior Empenho por toda a reclamação, insistência, barganha e súplica às quais recorre na tentativa de me empurrar para o status de estudante-modelo. Gibs acredita que meus resultados medíocres vêm de uma atitude passivo-agressiva, e eu aceito essa teoria, uma vez que ela é muito mais interessante do que a verdade, isto é, que sou uma preguiçosa. Some a isso o fato de eu ser péssima em Matemática – sou realmente muito ruim em Matemática. Eu até tento, mesmo que seja só para evitar os olhares aflitos de mamãe enquanto me debato com a lição de casa, tentando resolver os malditos problemas. Simplesmente não consigo, o que torna a teoria passivo-agressiva de Gibs ainda mais interessante. A cerimônia finalmente chega ao fim, com a observação do diretor de quanto todos nós somos excelentes, com ou sem prêmio; 9


mas, excelência à parte, nós, os alunos deficientes em premiação, devemos aspirar receber nossa pilha de certificados na cerimônia do ano seguinte. Discursos motivadores, porém, sempre têm o efeito contrário em mim. Priscilla Pratt inicia ao piano uma versão entusiasmada de Ode à alegria, de Beethoven, como música de encerramento. Priscilla e eu costumávamos ir juntas às aulas de piano. Contudo, desisti das aulas, e lá está Priscilla, entretendo multidões com seu virtuosismo arduamente conquistado. Ela praticou as escalas. Mamãe move os lábios, dizendo algo desse tipo. Concordo com a cabeça: “Sim, mãe. Priscilla é demais.” Mas ela tem de bater nas teclas com tanta força? O som é estridente, aqueles acordes minúsculos se chocando contra as paredes do auditório tal qual balas de uma metralhadora. – Que bom que Beethoven era surdo, ou ele estaria revirando no túmulo – sussurro para Gibs, enquanto caminhamos lentamente na fila para sair do palco. – As principais religiões diriam que Deus restaura todos os sentidos após a morte – diz Gibs por sobre o ombro. – Então Beethoven está sofrendo agora, o que é bem desalentador. – Psiiiiu! Sempre que a senhora Treat nos repreende para ficarmos quietos, ela o faz mais alto do que qualquer conversa que esteja tentando silenciar, atraindo todos os olhares para si. Sem necessidade, ela empurra nossos braços para nos indicar a direção, como se ficássemos fora de rumo sem o seu braço gorducho nos guiando para fora do palco. Quando ela franze o cenho (e naquele momento o estava fazendo para mim), ela se parece com Mao Tsé-Tung. Com certeza, mamãe vai dar um jeito de se deparar com a senhora Treat durante a recepção, a fim de se derramar em elogios quanto ao excelente trabalho de organização do maravilhoso evento. Nós nos infiltramos no átrio do auditório (sem alegria nenhuma, apesar dos esforços de Priscilla e de Beethoven), onde 10


vejo a cabeça da minha mãe se erguendo para me procurar. Ela está ao lado da mãe de Leah Rollins, que começa a balançar o programa do Dia de Premiação no ar quando me vê. Gemo enquanto as duas mães abrem caminho em meio à multidão, vindo ao meu encontro. – Summer!... – chama a mãe de Leah. Parece ser a primeira palavra de uma frase, mas o que ela diria, pois Leah e eu não somos mais amigas, especialmente depois da minha desanimadora participação na premiação? Por isso ela só diz o meu nome. – Olá, senhora Rollins. – Leah não estava maravilhosa? – comenta minha mãe, como se tivéssemos acabado de vê-la na Broadway. A senhora Rollins dispensa o elogio com um gesto e diz: – Ela não conseguiu tantos prêmios quanto eu esperava. – Em seguida, nota Gibs, que paira nervoso perto de mim. – Mas quem é que tem chance com esse rapaz na turma? Verdade, Gibs detonou tudo quando se transferiu para Chapel Heights no início do ano. Ele ter tirado Leah do primeiro lugar na classificação da turma deve ter irritado demais a senhora Rollins. – Sim, meu jovem, você certamente foi muito impressionante – diz mamãe para Gibs. A única coisa que faz com que ela pare de prestar atenção no rabo de cavalo dele é a mão cheia de premiações. – Obrigado – diz ele, tímido. – Summer, não vai nos apresentar ao seu amigo? – ela pergunta . – É o Gibs – respondo. – Gibson Brown. Vocês já se encontraram. – Verdade? Quando? – Algumas vezes – digo, impaciente. – No café da manhã da Associação de Pais e Mestres de cinco dias atrás, por exemplo. Foi na época em que o rabo de cavalo ainda a distraía, antes que mamãe soubesse que ele era brilhante. – Você o conhece, Susanne – incita a senhora Rollins. – A família dele se mudou de Cleveland para cá no meio do ano letivo. O pai dele é um cirurgião renomado. 11


Com ou sem rabo de cavalo, o prestígio de Gibs subiu vertiginosamente até o teto. – Hummm... – murmura mamãe, erguendo uma única sobrancelha bem delineada. – Bem, Gibson, continue assim – diz a senhora Rollins, mas desejando mesmo é que ele vá para o inferno. – Barbara, precisamos reunir nossas meninas em breve – diz minha mãe para ela. – Ah, falando em Leah – responde a senhora Rollins, ficando na ponta dos pés para espiar o outro lado da multidão –, lá está ela com todos os seus... amigos. – Ela prende a respiração antes da última palavra, mas já é tarde demais, por isso me lança um olhar sem graça. Eu sorrio corajosamente. – É melhor me apressar – ela disse, corando e partindo na direção de Leah. O olhar da minha mãe a segue, melancólico. Depois, ela se vira para Gibs e para mim. – Bem – ela diz –, estou muito orgulhosa por vocês dois. Acho que ela acabou de declarar Gibs como sendo “seu”. Graças a Deus, ela tem algo com que se alegrar.

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