Época de morangos

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rimeira vista p Ă r o Um am para sempre? r a r u d p ode


Copyright © 2014 Rafaella Vieira Copyright © 2014 Editora Gutenberg

Todos os direitos reservados pela Editora Gutenberg. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora.

GERENTE EDITORIAL

Alessandra J. Gelman Ruiz EDITOR ASSISTENTE

Denis Araki

REVISÃO

Malvina Tomáz CAPA

Diogo Droschi

ASSISTENTE EDITORIAL

Felipe Castilho Carol Christo

DIAGRAMAÇÃO

Christiane Morais

PREPARAÇÃO

Geisa Oliveira

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil

Vieira, Rafaella Época de morangos / Rafaella Vieira. -- Belo Horizonte : Editora Gutenberg, 2014. ISBN 978-85-8235-123-9 1. Ficção brasileira 2. Literatura juvenil I. Título. 13-13634

CDD-028.5

Índices para catálogo sistemático: 1. Literatura juvenil 028.5

EDITORA GUTENBERG LTDA. São Paulo Av. Paulista, 2.073, Conjunto Nacional, Horsa I, 23º andar, Conj. 2301 Cerqueira César . 01311-940 São Paulo . SP Tel.: (55 11) 3034 4468 Televendas: 0800 283 13 22 www.editoragutenberg.com.br

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Para Edgar. NĂŁo importa quanto tempo passe, serĂĄ sempre o garoto mais lindo da escola.


Nota da autora

Esta obra é baseada em fatos reais e foi inspirada livremente no meu diário. Algumas partes foram inventadas, outras não. O que importa é que vivi essa época com o coração a mil e com a esperança de que tudo era possível.


“There is no choice, I belong to your life. Because I, I live to love you some day; You’ll be my baby And we’ll fly away And I’ll fly with you!” “I’ll Fly With You” Gigi D’Agostino


Prólogo

Amor não é uma questão de contar os anos. É fazer com que os anos contem. Wolfman Jack Smith

Você já olhou para alguém e teve a certeza de que queria ficar com essa pessoa pela vida inteira? Talvez você nunca tenha vivido um amor assim. E, nesse caso, eu lamento por você. Porém você também tem sorte, porque nunca sofreu. Porque, sim, amar é sofrer, mas é também viver, enlouquecer e olhar para essa pessoa e saber que o mundo faz sentido. É estranho e absurdo, mas meu maior medo sempre foi que um de nós dois morresse e eu não tivesse falado quanto eu o amava. Quanto o amo. Como não há ninguém como ele no mundo todo. As lembranças mais marcantes da minha vida são as daquele tempo, quando o conheci. E contar esta história é como voltar para aquela época, em que a vida era doce... Doce como morangos. Esta história é sobre aquele tipo de amor que só acontece uma vez na vida, mas que, quando acontece, faz você olhar para trás e sentir que tudo valeu a pena.

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Capítulo 1

Minha mãe nos abandonou quando eu tinha praticamente 6 anos e meu irmão, 3. Nós morávamos em uma casa antiga, à beira-mar, no bairro de Candeias, e me lembro de ter chorado muito quando ela foi embora dentro de um carro verde-metálico. Pelo vidro da janela, pude ver que ela também chorava. Eu estava sentada no degrau da porta com meu irmão pequeno no colo, e nossa empregada estava atrás, alisando meus cabelos e tentando me consolar, enquanto as lágrimas não paravam de cair. Com a separação de meus pais, ficou decidido que meu irmão Jean e eu ficaríamos com meu pai, porque minha mãe não tinha condições. Ela voltou para a casa dos meus avós e resolveu fazer faculdade. Depois de um tempo, percebi que aquilo foi bom, porque eles pararam de brigar, ficaram amigos e passaram a nos dar mais atenção. Quer dizer, o tanto de atenção que ela estava disposta a dar. Mas eu já havia me conformado. Mais ou menos. Era fim de ano, eu tinha sido aprovada para o 8º ano do colégio, e pensava que aquelas férias seriam puro tédio, porque eu havia sido coagida a ficar na casa da minha avó paterna, já que papai havia viajado e mamãe também (separadamente, é lógico). Pelo menos, eu podia contar com a presença da minha prima Jaque, que ia me ver todas as tardes e ficava falando da 13


sua paixão incontrolável pelo Joshua Jackson e sobre como ela queria ter a sorte da Katie Holmes, por tê-lo namorado enquanto eles filmavam a primeira temporada de Dawson’s Creek. A gente se divertia muito falando bobagens. Todo dia ela chegava com uma ideia diferente e grandes novidades. Quando não podia ir me ver, passávamos horas no celular tirando a maior onda: – Um ano comendo sorvete Haagen-Dazs grátis ou ficar presa na Câmara Secreta com o Daniel Radcliffe? – Que pergunta, Jaque! Câmara Secreta com o Dan pelo resto da vida, é óbvio. Agora eu: quibe apimentado do Califórnia grátis ou um beijo do Tom Welling ao som de Save Me? – Beijo do Tom, óbvio! – ela berrou e eu dei uma gargalhada. Minha avó veio ver se eu estava passando bem e ficou: – Desliga esse telefone, Jordana. Isso não é brincadeira de criança! Ignorei e voltei a falar com a Jaque: – Ai, ele é supergato! – Eu beijaria o Tom todinho, com ou sem pimenta – ela falou. – Ai, nem me fale! – E olha que eu quase tava deixando o Flávio ser mais ousado nesse fim de semana, porque, tudo bem que ele não é nenhum Tom Welling, mas com certeza me faz perder o fôlego. Quando ele quis, sabe, pegar no... – ela parou no meio da frase. – Mãe, é você?! – O que foi? – Ai mãe, que susto! Não, nada, ela saiu... Já sei! Pega papel e caneta aí. Vamos inventar uma parada considerada. – Tá. – Concordei e fui atrás do bloquinho, enquanto vovó Odete me esculhambava lá de longe, dizendo para meu avô tomar uma providência e arrancar o telefone de minha mão (porque, na arcaica concepção dela, falar muito tempo 14


ao celular podia causar câncer) e eu me fazendo de surda. – Tô pronta, qual é? – Não dá pra falar de sexo aqui, porque a chatíssima da minha mãe fica rondando como um zumbi. Quando eu menos espero, ela surge no corredor e me dá um susto. Eu ri. Tia Margarida era assim mesmo. – Não ria da minha desgraça, Jordana. É sério. Ela parece a Mulher de Branco daquela história macabra que o Nando vive contando. Uma assombração do além. – Eu sei. – Umas meninas mais velhas lá da escola estavam no banheiro, falando sobre você-sabe-o-quê, e agora eu tive essa ideia... Depois eu repasso para todo mundo! Vai ser nosso código secreto, que ninguém mais vai saber. – Certo, pode falar. – Lá vai... Escreve aí que eu tô escrevendo aqui também. É muito importante registrar esse momento significativo da nossa vida de adolescente para a posteridade. – Tá, fala logo, Jaque, tô ficando curiosa! – “Manual de fases de amassos”. Tá anotando? – Óbvio! – A gente vai dividir todas as coisas em fases. Ai, meu Deus, só de falar já fico imaginando o Flávio sem camisa na piscina, sábado no clube... – Desembucha, Jaque! – gritei, impaciente. – Take it easy, baby. – Take it easy o caramba! Minha avó já tá pensando em mil maneiras de me expulsar daqui da casa dela. – Melhor ainda! Sabe o que a gente devia fazer? A gente devia roubar um carro e viajar pelo país, como em On The Road. – É, ótima ideia. Então, Jaque, você vai falar dessa porcaria de “Manual de fases” ou não? – “Fases de amassos”. Escreve aí, fase 1: beijos de língua, andar de mãos dadas, abraços... O romance, sabe? Coisa light. 15


– Sei. – Tá anotando tudo, né? – Oxe, Jaque! Quantas vezes tenho de repetir que estou aqui anotando palavra por palavra? – OK. Partimos para a fase 2: agarração mais ousada, pegar nas partes íntimas um do outro por cima das roupas... A coisa quente, tá ligada? – Tô. Agora tá ficando mais interessante. – A fase 3 é quando começa a pegar fogo mesmo: tocar nas partes íntimas sem roupas, ai, imagina o Flávio... – Tô imaginando. – Menti, porque na verdade estava imaginando o Chris Evans naquela cena de Não é mais um besteirol americano. – E aí, o incêndio completo... Fase final... Não sei por que, mas acho que deve ser a melhor coisa do mundo! – Jordana! Desligue o telefone agora, senão vou aí lhe dar uma surra de cinturão! – Vovó berrou, e dessa vez percebi que ela estava falando muito sério. – Jaque, eu vou ter de ir, antes que a vovó decida me bater de verdade. – É, também vou, porque percebi que a Mulher de Branco está no corredor, dando seus passeios assombrosos para ter informações sobre nossa vida sexual. Eram aqueles momentos com a Jaque que me faziam sair da realidade, esquecer as tristezas e me sentir feliz. *** No dia seguinte, algo inesperado aconteceu e fez tudo mudar na minha vida. Minha outra avó, por parte de mãe, me convidou para fazer uma viagem à Disney naquelas férias mesmo. Eu nem acreditei. E, por incrível que pareça, meus pais não se opuseram. Foi uma correria para preparar tudo. Com um pouco de receio, tive de deixar meu querido cachorro, Bubby, aos cuidados de Jaqueline, a Louca. Ela jurou 16


que, quando eu voltasse, o cão estaria inteiro, mas duvidei um pouco daquilo. A Jaque queria muito ir com a gente, mas tia Margarida não deixou. Então fomos, vovó, vovô, meu primo Nando e eu. Foi uma viagem e tanto. Eu não conseguia parar de ver de novo e de novo na minha mente o filme de todos os lugares que conhecemos: Orlando, Tampa, Palm Beach, Fort Lauderdale, Miami... Nunca houve uma viagem como aquela. Durante aqueles dias, meus avós demonstraram ser completamente malucos (minha avó achou que os Piratas do Caribe eram pessoas de verdade fantasiadas e que queriam sequestrar a gente!), mas tudo bem. Porém o fato mais especial, e que fez com que tudo fosse tão inesquecível e mágico, aconteceu quando estávamos no Magic Kingdom. Eu estava saindo da Casa Mal-assombrada – que de assombrada não tinha nada e mais parecia uma brincadeira de Halloween – quando o avistei. Eu vi o Príncipe Encantado. Sim, eu vi o Príncipe Encantado, mas não era um daqueles caras fantasiados que ficam pelo parque. Era o garoto mais especial do mundo. Ele era lindo, alto, loiro, de olhos azuis, e olhou para mim de um jeito diferente enquanto eu andava com as mãos nos bolsos. Jamais vou me esquecer daquele olhar. Ele passou por mim me encarando, e eu sabia que não era aquele tipo de olhar, assim, por estar achando esquisito meu moletom verde-abacate. Era um olhar no estilo quero-você-e-quero-agora. Meu coração sofreu um choque elétrico, fiquei vermelha de vergonha, mas não consegui desviar os olhos dele. Ele usava uma camiseta vermelha, calça jeans clara e tênis branco. Depois que passamos um pelo outro, eu me virei e vi que ele também tinha se virado para continuar me olhando. Nenhum garoto havia me olhado assim antes, e eu estava certa de que era um daqueles momentos 17


mágicos que só acontecem uma vez na vida. Coisas mágicas que acontecem na terra da magia. Aquilo deve ter durando alguns segundos apenas, mas pareceu uma eternidade, pois o tempo parou para mim. E eu queria mesmo congelar aquele instante, mas descobri que coisas estranhas também aconteciam por ali. Meu momento mágico foi quebrado quando ouvi a voz da minha avó, que estava logo adiante. Naquele exato instante, ela estava começando a discutir – em português – com o rapaz que vendia sorvete. Parei de encarar o Príncipe Encantado e virei a cabeça para o lado oposto, suspirando, e assisti a uma cena bizarra: – Do-is sor-ve-tes de co-co! – Vovó Cléo falava pausadamente e berrando para o vendedor, fazendo gestos com os dedos. Era mais mímica que outra coisa. Minha avó parecia ter extrapolado todos os limites da insanidade. Quando virei para trás novamente, na direção do garoto, ele já tinha desaparecido. Na hora, desejei poder me teletransportar dali imediatamente para onde o Príncipe Encantado estivesse, e sumir de uma situação tão constrangedora. Muito obrigada mesmo, vovó. Eu gostaria de deixar registrada minha imensa gratidão. – Vovó, o que a senhora quer? – perguntei, arregalando os olhos, para que percebesse o fato de que estávamos em um país em que a língua oficial era o inglês. Enquanto isso, meu primo Nando parecia que ia parir um rinoceronte, de tanto rir. – Oxe, eu quero dois sorvetes de coco! – e virou-se para mim achando-se injustiçada porque o vendedor não estava entendendo. Olhei mais uma vez para ver se o Príncipe Encantado ainda estava lá. Não, ele tinha mesmo sumido. Eu não podia culpá-lo. Afinal, ele merecia uma princesa e não o membro de um clã de degenerados. 18


Eu fiquei com a sensação de que seria impossível vê-lo de novo na minha vida.

mensagem

Jaque! Foi a melhor viagem do mundo! Eu e o Nando zoamos horrores! Mas, infelizmente, está comprovado: nossos avós são malucos mesmo. Tô indo aí pegar o Bubby, espero que ele ainda esteja vivo, ou você vai pagar com a própria vida. Bjos, Jordana

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