Gregório de Matos – Volume 5

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João Adolfo Hansen Marcello Moreira apresentação, edição, notas e glossário

Para que todos entendais. Poesia atribuída a

Gregório de Matos e Guerra. Letrados, manuscritura, retórica, autoria, obra e público na Bahia dos séculos XVII e XVIII • Volume 5

PROEX


Copyright © 2013 João Adolfo Hansen e Marcello Moreira Copyright © 2013 Autêntica Editora Todos os direitos reservados pela Autêntica Editora. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora.

CAPA

REVISÃO

Diogo Droschi (sobre imagem de Ulisse Aldrovandi)

João Adolfo Hansen Marcello Moreira

DIAGRAMAÇÃO

INDICAÇÃO E CONSULTORIA EDITORIAL

Christiane Morais Ricardo Furtado Waldênia Alvarenga Santos Ataíde

Joaci Pereira Furtado EDITORA RESPONSÁVEL

Rejane Dias

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Hansen, João Adolfo Para que todos entendais : poesia atribuída a Gregório de Matos e Guerra : letrados, manuscritura, retórica, autoria, obra e público na Bahia dos séculos XVII e XVIII, volume 5 / João Adolfo Hansen, Marcello Moreira. -- Belo Horizonte : Autêntica Editora, 2014. ISBN 978-85-8217-299-5 1. Matos, Gregório de, 1633-1696 - Crítica e interpretação 2. Poesia brasileira I. Título. 14-03759

CDD-869.9109

Índices para catálogo sistemático: 1. Poesia : Literatura brasileira : História e crítica 869.9109

Belo Horizonte Rua Aimorés, 981, 8º andar . Funcionários 30140-071 . Belo Horizonte . MG Tel.: (55 31) 3214 5700 São Paulo Av. Paulista, 2.073, Conjunto Nacional, Horsa I, 23º andar, Conj. 2301 Cerqueira César . São Paulo . SP . 01311-940 Tel.: (55 11) 3034 4468 Televendas: 0800 283 13 22 www.editoragutenberg.com.br


Universidade de São Paulo Reitor João Grandino Rodas Vice-Reitor Hélio Nogueira da Cruz

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Diretor Sérgio França Adorno de Abreu Vice-Diretor João Roberto Gomes de Faria

Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Literatura Brasileira Vagner Camilo

Este livro foi publicado por indicação e com apoio do Programa de Pós-Graduação em Literatura Brasileira.


Agradecimentos

À CAPES, à Área de Literatura Brasileira do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP, especialmente aos colegas Cilaine Alves Cunha, Vagner Camilo, Hélio de Seixas Guimarães e Murilo Marcondes de Moura, que se empenharam nesta edição, às bibliotecárias do Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro pelo constante apoio na disponibilização dos manuscritos durante as muitas visitas à Biblioteca Celso Cunha, ao Adauto, por se deixar roubar pelos manuscritos, a Marta Maria Chagas de Carvalho, pela sua inteligência e generosidade extraordinárias, aos amigos Alcir Pécora, Leon Kossovitch, Luiz Costa Lima, Adma Fadul Muhana, Luisa López Grigera e Maria do Socorro Fernandes de Carvalho, pela presença no deserto.


Il faut beaucoup de mots pour détruire un seul mot (Francis Ponge. La table 8, 4 janvier 1968. In La table. Montréal: Éditions du Silence, 1982)


Princípios críticos para a fatura de um a edição do corpus poético colonial atribuído a Gregório de Matos e Guerra

Neste livro, tratamos dos códigos bibliográficos e linguísticos do corpus poético colonial que se atribui a Gregório de Matos e Guerra (1633/1636-1696) publicado nos manuscritos do Códice Asensio-Cunha. Pondo de lado modelos idealistas, românticos e teleológicos de interpretação deles, remetemos sua historicidade à materialidade contingente das práticas simbólicas que os produziram, discutindo a pertinência dos lugares comuns críticos que lhes são aplicados pela crítica textual praticada no Brasil. Presentes em praticamente todos os escritos sobre crítica textual produzidos no país, os lugares postulam e divulgam princípios que, segundo os textos mais compulsados, devem nortear a fatura de edições críticas. Naturalizados, são repetidos exaustivamente, sem reflexão sobre a sua validade transistórica frente às múltiplas tradições textuais que sobredeterminam. Em primeiro lugar, vamos descrever o modus operandi proposto nos escritos sobre crítica textual e, cruzando o campo filológico com o historiográfico, criticá-los. Pressupomos que, se a crítica textual e a filologia são disciplinas históricas, hoje é impossível pensá-las dissociadas das discussões feitas desde o século XIX por filósofos e historiadores sobre a prática historiográfica, e, consequentemente, filológica e crítico-textual. A revisão que fazemos visa constituir categorias e conceitos teóricos e procedimentos analíticos aptos para propor uma história da crítica textual no Brasil que evidencie a historicidade da prática filológica, especificando seus anacronismos reproduzidos nas histórias literárias brasileiras. 11


Diferentemente da história e demais ciências humanas, a filologia tem descurado de investigar seus pressupostos, códigos e procedimentos, parecendo não se dar conta de que também eles têm sua história. Não se pode, a despeito de ela ser uma disciplina histórica, afirmar que tenha projetado investigar sua própria historicidade, propondo-se a fazer uma metafilologia num empreendimento análogo ao da escrita de uma metahistória, que tem por objetivo especificar, analisar, teorizar e criticar os códigos e convenções da historiografia1. Como a filologia e a crítica textual desempenham papel fundamental na construção do passado, pois são formas de mediação histórica, a análise crítica das condições institucionais e teórico-metodológicas de sua produção é indispensável para compreender seu papel de mediação. Arnaldo Momigliano asseverava que o juízo sobre a competência disciplinar de um historiador deveria basear-se na avaliação de sua familiaridade com as fontes e, principalmente, na apreciação da solidez de seu método histórico2, considerando-se, obviamente, que a interpretação das fontes, a despeito da familiaridade que se possa ter com elas, depende da solidez do método, o que faz da crítica do método a condição prévia de qualquer possibilidade de solidez. Stephen Bann diz que o momento em que a história se afirma como campo disciplinar coincide com o do abandono da retórica normativa como forma matricial de produção de representações, propondo que um sinal deste processo foi a tendência da própria literatura em adotar o paradigma histórico, como no “romance histórico” ou no romance “realista” ou “naturalista”. Produtos indisfarçadamente literários faziam-se passar como se tivessem aquela BANN, Stephen. Introdução: As Invenções da História. In: As Invenções da História. Ensaios sobre a Representação do Passado. São Paulo: Editora Unesp, 1994, pp. 13-25 [p. 14].

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MOMIGLIANO, Arnaldo. The Rhetoric of History and the History of Rhetoric: On Hayden White’s Tropes. In: SHAFFER, E. S. (Ed.). Comparative Criticism, A Yearbook. Cambridge: Cambridge University Press, 1981, vol. 3, pp. 259-268 [p. 264].

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transparência do real que o historiador havia afirmado programaticamente.3 Um dos índices desse processo de adesão da literatura ao paradigma histórico de cientificidade é facilmente constatável na relação que se estabelece entre ela e a crítica biográfica, que interpretava os opera litterarum em conformidade com a biografia de seu autor. A vida do autor era, muitas vezes, construída com base em supostas informações “objetivas” extraídas dos próprios textos, como se pode observar nas leituras dos poetas coloniais empreendidas pelo Cônego Januário da Cunha Barbosa4 em suas “vidas”, e, ainda, em outros empreendimentos histórico-literários 3

BANN, Stephen. Analisando o Discurso da História. In: As Invenções da História. Ensaios sobre a Representação do Passado. São Paulo: Editora Unesp, 1994, pp. 51-86 [p. 55]. Januário da Cunha Barbosa, em seu Parnazo Brasileiro, impresso em 1829, apresenta um dos lugares-comuns mais empregados no século XIX para a justificação da composição de um florilégio, o do enaltecimento da pátria pela preservação da poesia de seus melhores engenhos, que a engrandecem. A escrita das vidas desses poetas, ainda não efetuada no tempo da impressão do Parnazo Brasileiro, afigurava-se tarefa premente, mas dificultosa, pois os próprios poemas encontravam-se dispersos em manuscritos de arquivos particulares e as notícias de poetas, sobretudo os do século XVIII, fechadas nas gavetas de móveis sob tutela de parentes e amigos, a quem, no entanto, o Cônego pedia auxílio, solicitando a todos o envio, para o seu endereço, de manuscritos, que lhes seriam devolvidos após terem sido feitas as devidas cópias: “Fôra bom ajuntar á esta collecção huma noticia biográfica de tantos Poetas, que honrão o nome Brasileiro com producções distinctas, mas esta tarefa oferece maiores dificuldades, sem com tudo desanimar a quem espera ainda offerecer ao conhecimento do mundo as memorias dos Illustres Brasileiros, que fazem honra á Litteratura Nacional. A esperança em que estou de ser coadjuvado n’esta empresa de gloria Nacional, por todas as pessoas, que possuem poesias e noticias dos nossos bons Poetas, até hoje sepultados em archivos particulares, obrigam-me a pedir, que as confiem ao Editor do Parnazo Brasileiro, remetendo-as á sua morada, Rua dos Pescadores n° 112 (porte pago), onde se dará recibo para a entrega do original, depois de copiado.” (BARBOSA, Januário da Cunha. Parnazo Brasileiro ou Colecção das Melhores Poezias dos Poetas do Brasil, Tanto Ineditas, Como Ja Impressas. Rio de Janeiro, Typographia Imperial e Nacional, Tomo I, 1829, pp. 3-4). As vidas desses poetas brasileiros foram levadas a termo na série biográfica publicada na Revista do IHGB, dentre as quais se encontra a de Gregório de Matos e Guerra. No Parnazo Brasileiro, no entanto, não há poesias atribuídas ao poeta baiano entre as que nele foram editadas.

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análogos publicados no Segundo Reinado5; ou, no que João Manuel Pereira da Silva, em seu Parnaso Brasileiro, sumaria informações contidas na Vida do Excelente Poeta Lírico, o Doutor Gregório de Matos Guerra – memória panegírica composta segundo preceitos do gênero epidítico com a qual principiam muitos códices em que foi coligida a poesia atribuída a Gregório de Matos e Guerra. Complementarmente à sua leitura biográfica e anacrônica da Vida, lê os poemas como expressão de um eu sincero, cujo caráter se torna patente pela preferência dada à composição de sátiras e poemas maledicentes que nos informam sobre as peripécias do homem-poeta na cidade da Bahia: “De todos os poetas porém do século 17° foi mais conhecido e reputado Gregorio de Mattos, nascido na Bahia em 1623. Sua vida toda de emoções; ora protegido pelas primeiras autoridades, ora por ellas detestado e perseguido; duas vezes exilado para Angolla, por causa de suas satyras crueis, mordentes e ferinas; pobre, miseravel, cheio de vicios, tudo concorreo para delle fazer uma celebridade da epocha. Tinha porém muito espirito e graça; suas satyras são picantes; e nos versos reina uma certa licção do mundo, e de malignidade, que os torna muito agradáveis á leitura: é a causticidade e o sarcasmo elevado ao maior grau.” (Cf. PEREIRA DA SILVA, João Manuel. Parnaso Brazileiro ou Seleção de Poesias dos Melhores Poetas Brazileiros desde o Descubrimento do Brazil: Precedida de uma Introducção Historica e Biografica sobre a Literatura Brazileira. Tomo I, Seculos XVI, XVII e XVIII. Rio de Janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert, 1843, pp. 27-28). A leitura da Vida, no século XIX, não como efetuação de preceitos retóricos e poéticos, mas como vivido empírico, torna premente a ponderação de Roland Barthes sobre a relação entre discurso histórico e “real”, pois um texto ficto, como o é a Vida, pode, a depender dos critérios de legibilidade adotado pela recepção, ser interpretado como subgênero histórico e, portanto, como uma forma de acesso ao “real”. Em The Discourse of History, Roland Barthes pergunta-se: “Does the narration of events, which in our culture from the time of the Greeks onwards, has generally been subject to the sanction of historical ‘science’, bound to the unbending standard of the ‘real’ and justified by the principles of ‘rational’ exposition – does this form of narration really differ, in some specific trait, in some undubitably distinctive feature, from imaginary narration, as we find it in the epic, the novel, and the drama? And if this trait or feature exists, then in what level of the historical statement must it be placed?” (BARTHES, Roland. The Discourse of History. In: SHAFFER, E. S. (Ed.). Comparative Literature, a Yearbook. Cambridge: Cambridge University Press, 1981, vol. 3, pp. 3-20 [p. 7]). A diferenciação entre história e ficção encontrar-se-ia apenas no que Louis Mink define como distinção “entre ficção e história fazendo diferentes reivindicações de verdade para suas descrições individuais” (MINK, Louis. Narrative Form as a Cognitive Instrument. In: CANARY, Robert H. & KOZICKI, Henry (Ed.). The Writing of History. Madison: 1978, [p. 149]), como parecem deixar claro as apropriações biográficas da Vida no século XIX brasileiro. A leitura da Vida como vivido pode tornar-se compreensível caso nos recordemos de que o bios antigo, praticado nos séculos XVI e XVII, vale-se de expedientes discursivos comuns ao gênero biográfico crescentemente cultivado durante o século XIX. Em ambos, por exemplo, encontram-se o que Roland Barthes denomina shifters, ou “transferentes”, termo jakobsoniano que designa as condições sob as quais o

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concerne à Europa do século XIX, na composição de vidas de poetas franceses “medievais” a partir da leitura de poemas e, complementarmente, na leitura biográfica deles a partir da vida, como bem o demonstrou Daniel historiador fixa a transição da sua declaração para as condições sob as quais ela foi feita: há “transferentes” do tipo “auditivo” (listening) ou testemunhal (testimonial), que, por se estruturarem com base na primeira pessoa do singular dos tempos presente e pretérito do indicativo, como vi, ouvi, soube, pelo que sei (BARTHES, Roland. Op. cit., pp. 7-8), produzem a impressão da participação do locutor no que ele se põe a narrar, o que incrementa, para os antigos, a fides do discurso histórico, e, para os homens do século XIX, o caráter verídico da história narrada em primeira pessoa. O discurso histórico, ainda conforme Roland Barthes, opera, como qualquer outro discurso narrativo, segundo duas grandes categorias, a dos “existentes” e a dos “ocorrentes”, ou seja, seres ou entidades e seus predicados possíveis: “Em um exame preliminar, pôde-se observar que ambas as categorias formam listas que são, em certa medida, fechadas, e, por conseguinte, acessíveis à compreensão. Formam, em uma palavra, coleções cujas unidades se repetem em combinações sujeitas a variações. Desse modo, em Heródoto os ‘existentes’ podem ser reduzidos a dinastias, príncipes, generais, soldados, pessoas e lugares. Essas coleções, na medida em que são de certo modo fechadas, devem observar certas regras de substituição e transformação. As unidades achadas em Heródoto, por exemplo, dependem largamente de um único léxico, o da guerra” (Idem, pp. 12-13). É óbvio, para qualquer estudioso de retórica, que os “existentes” de Roland Barthes, como acima exemplificados, são loci, lugares, que variam de acordo com a matéria tratada por um autor, o gênero praticado etc., o que nos leva novamente ao caráter liminar entre fictio e história. A leitura biográfica torna o verossímil do bios verdade histórica, pois, como já o demonstrou João Adolfo Hansen, a “Vida do Excelente Poeta Lírico, o Doutor Gregório de Matos Guerra”, ao ser apropriada por Januário da Cunha Barbosa e demais letrados ligados ao IHGB, transforma-se como discurso, já que passa a ser lida “como um discurso fora do ato que o produziu”, pois “”os tempos eram românticos e a ficção não foi lida como ficção. As tópicas do gênero encomiástico ‘vida’ petrificaram-se como vida empírica e o peso desta expeliu, como vivido psicológico, o verossímil como sentido” (HANSEN, João Adolfo. A Sátira e o Engenho. Gregório de Matos e a Bahia do Século XVII. 2 ed. rev. Cotia: Campinas, Ateliê Editorial /Edunicamp, 2004, p. 34). Ao ser lido como registro do vivido, o verossímil ganha um estatuto ontológico distinto, pois, como o assevera Roland Barthes, “the historical fact is linguistically associated with a privileged ontological status: we recount what has been, not what has not been, or what has been uncertain” (BARTHES, Roland. Op. cit., p. 14). Essa leitura da Vida como vivido cria o paradoxo característico do discurso histórico: “The fact can only have a linguistic existence as a term in a discourse, and yet it is exactly as if this existence were merely the ‘copy’ purely and simply of another existence situated in the extra-structural domain of the ‘real’. This type of discourse is doubtless the only type in which the referent is aimed for a something external to the discourse, without it ever being possible to attain it outside this discourse (Idem, p. 17).

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Padilha Pacheco da Costa para a poesia atribuída a François Villon6. O poeta e a sua vida eram considerados eventos a serem recuperados por meio do agenciamento da pesquisa histórico-filológica e, porque testemunhos de um eu que neles se expressava com “sinceridade”, era inconcebível a instabilidade dos próprios textos poéticos, que se ofereciam ao leitor em forma plural e movente. Os filólogos do século XIX, ao agirem em paridade com Ranke e Thierry, buscavam reunir o maior número possível de documentos concernentes à vida do poeta, além de coligir sua obra. Na medida em que os papeis constituídos como documentos ou fontes primárias de pesquisa – de documentos cartoriais a cancioneiros poéticos e a todos os membros da tradição textual estudada – estavam especificados no conspectus siglorum, para o caso dos últimos, ou discriminados em notas e referências, no caso dos primeiros, o estudo como um todo estava aberto ao exame minucioso. Esse aparato erudito de notas e referências era condição para que se pudesse afirmar, como o fez Thierry, que a narrativa histórica recontava, ao mesmo tempo em que provava, pela exaustão do levantamento documental e de seu tratamento e interpretação, constando entre as fontes os documentos de natureza poética, pois eram meios preciosos que tornavam acessíveis as disposições afetivas mais recônditas do assim chamado “espírito” das nações: I have consulted none but original texts and documents, either for the details of the various circunstances narrated, or for the characters of the persons and populations that figure in them. I have drawn so largerly upon the texts, that, I flatter myself, little is left in them for other writers. The national traditions of the less known populations and old popular ballads, have supplied me with infinite 6

PACHECO DA COSTA, Daniel Padilha. Testamento do Vilão: Invenção e Recepção da Poesia de François Villon. São Paulo: FFLCH-USP, tese de doutorado, 2013, mimeo.

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indications of the mode of existence, the feelings, and the ideas of men at that period and in places wither I transport the reader.7

O texto estabelecido pela crítica filológica visa abolir qualquer dúvida quanto ao fato de as palavras do poema serem as que foram efetivamente desejadas e expressas pelo autor. O fato de o serem é, por sua vez, condição de que, histórica e filologicamente, sejam apresentadas como provas autovalidadoras dos estados psicológicos de um eu que se manifesta romanticamente nelas, exprimindo a alma do seu povo. Seria possível escrever a história da crítica textual obedecendo a um critério cronológico, mas, como se sabe, a história não precisa, a despeito do que diziam os preceptistas da ars historica desde o século XVI, começar pelo princípio, pois pode iniciar em media re, sobretudo quando o que se propõe patentear tem sua arkhé, ou origem, como ocorre no Brasil, em textos românticos, modernistas e modernos posteriores àqueles que cronologicamente seriam os primeiros. É por esses textos filológicos arquetípicos que começamos a demonstrar o que propomos. Segismundo Spina, Leodegário A. de Azevedo Filho e as fundações da filologia neolachmanniana: texto e genuinidade Dois dos livros publicados no Brasil sobre crítica textual receberam o favor do público desde seu aparecimento, Introdução à Edótica, de Segismundo Spina, e Iniciação em Crítica Textual, de Leodegário A. de Azevedo Filho. O livro de Leodegário A. de Azevedo Filho teve uma única 7

THIERRY, Augustin. History of the Conquest of England by the Normans, its Causes and its Consequences, in England, Scotland, Ireland, & on the Continent. Translated from the Seventh Edition by William Hazlitt. London: David Bogue, vol. I, 1847, p. XXI.

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