Madeleine, resistente
1. A rosa engatilhada
Agradeço a Éloïse, resistente.
A Renaud, pelo número de telefone.
A Jorge, pelo estímulo, a Dominique, pelo bracelete.
A Miriam, por todas as “chaves”.
A Robert, pelas releituras teatrais.
A Anna, pelo 4º.
A David, pelas sessões.
A Gilles, pela saga Gagli.
A Marion e Clara, por seu bisavô Paul.
A Armelle e Anne-Marie, pelas memórias de Folies.
A Audrey, pela casa na Zone Rouge.
A Oscar, pelo fôlego.
A Philippe, pela sintaxe e pela semântica.
A Stéphane, pela retomada de alto nível.
A Julie, pelo acompanhamento homérico.
A Julien, Mathieu, Agnès, Camille, Laetitia, Sylvie e toda a equipe Dupuis, pelo comprometimento.
A José-Louis, pela elegância.
A Dominique, pelo azul.
A Françoise, pela vida.
E claro, mais uma vez, hoje e sempre, a Madeleine, por tudo...
E o resto!
JD + ELOISE
Agradeço a Madeleine e Jean David por me convidarem para esta aventura.
A meus pais.
A Sally, Layna e Jasmine. Obrigado por todo o amor e o inabalável apoio.
DB
ARTE DOMINIQUE BERTAIL ROTEIRO JD MORVAN & MADELEINE RIFFAUD ARQUIVOS ÉLOÏSE DE LA MAISON
TRADUÇÃO RENATA SILVEIRA
Madeleine, resistente
1. A rosa engatilhada
“Então, Rainer... Vai finalmente abrir a boca, certo? Este é o ano do cinquentenário da Libertação. Temos que contar a verdade, dizer como aconteceu... Se continuar de bico fechado, ninguém vai se lembrar de todos os nossos camaradas mortos aos 17 anos. É isso o que quer?”
Foi isso o que Raymond Aubrac me disse em 1994. Éramos amigos havia muito tempo, mas naquele dia era minha memória que ele estava visitando. Ele tinha vindo reanimá-la.
Respondi que, falando assim, claro, não poderia recusar... E comecei a me lembrar. Tínhamos uma mensagem para passar, a do princípio da Resistência: jamais chorar pelo estado do seu país ou pelo seu próprio destino. Nenhuma causa está perdida a menos que você desista.
NÃO SOU UMA VÍTIMA.
SOU UM RESISTENTE.
Foi com isso em mente que as pessoas aguentaram firme nas prisões da Gestapo, nos maquis ou nos campos de concentração. Essa fórmula pode ser aplicada em todos os aspectos da vida. É uma verdade universal, uma forma de assimilar acontecimentos.
Espalhar esta mensagem é o meu trabalho. Em quadrinhos? Por que não?!
Eu não tinha pensado nisso até Jean David entrar em contato comigo. Ele me ligou para me apresentar seu trabalho e logo o cortei. “História em quadrinhos? Mas isso é para crianças! Realmente querem me usar de qualquer jeito!”
Ainda assim falei da ligação para meu amigo, o diretor Jorge Amat, que disparou sem papas na língua: “Madeleine, não achei que você fosse tão tola”. E ele, que sempre sabe de tudo, me explicou: “Você errou feio, uma história em quadrinhos é uma ótima! Podemos contar tudo hoje em dia, então será o melhor jeito de transmitir sua mensagem para um novo público”.
Ele estava certo, e eu deveria ter me lembrado: quando pequena, li Les Facéties du sapeur Camember [As aventuras do sapador Camember], de Christophe. Era minha diversão!
Eu não percebia na época, mas esse quadrinho era extraordinário: puro anticolonialismo. Acabei recebendo Jean David em minha casa e nos tornamos amigos.
Um dia ele veio acompanhado de seu editor, José-Louis Bocquet. Meu cuidador, que estava presente, abriu um álbum que José-Louis havia trazido (Les Esclaves oubliés [Os escravos esquecidos], de Tromelin). Depois de um tempo, perguntei se ele poderia servir bebidas aos nossos convidados. Ele respondeu: “Desculpe, Madeleine… Fui totalmente sugado pela história!”. Compreendi o quanto os quadrinhos são um veículo poderoso do imaginário. Em 1994, portanto, eu disse sim a Aubrac e, assim como todos os combatentes da resistência ainda vivos que nunca haviam contado nada, passei adiante minhas memórias. Para estudantes, ouvintes ou historiadores, nas salas de aula, na tevê, nas escolas. As crianças têm perguntas tão específicas... Elas me ajudaram a tirar tudo das profundezas do meu cérebro. Hoje, digo sim a Jean David e a Dominique.
Para minha absoluta surpresa, cá estou eu, uma autora de história em quadrinhos. Minhas memórias continuam aqui, acredito que ainda mais precisas. Eu as refinei para continuar a missão que Aubrac me confiou. Sempre busquei a verdade. No campo, durante a Ocupação, na Resistência lutando contra os nazistas, nas prisões da Gestapo em Paris, bem como durante a libertação de Paris. Depois da guerra, como jornalista, prossegui para o Magreb, para a Ásia, para qualquer lugar onde houvesse povos miseráveis lutando contra os opressores.
Ah, não é fácil, não saí ilesa dessa brincadeira e ainda sinto meus ossos quebrados. Mas se eu tivesse de fazer tudo de novo, eu faria!
Não sou um ícone. Não sou uma mulher extraordinária. O que eu fiz, centenas de outros, milhares ao redor do mundo, também fizeram.
E você também pode. A única coisa extraordinária nesta história é que ainda estou viva para contá-la.
MADELEINE RIFFAUD
Folies. Somme, agosto de 1931.
Rosas...
Sabe, sempre tive uma relação particular com elas.
Uma vez aposentado, meu avô arrumou umas mudas de roseiras e fez um jardim só delas.
Inventou variedades extraordinárias.
Transformou a escola onde vivíamos num esplendor.
Rainer Maria Rilke – usei seu primeiro nome como nome de guerra quando entrei para a Resistência – faleceu vítima de leucemia após ter espetado o dedo num espinho de roseira.
Quando ele morreu, as rosas também morreram.
Todas.
E anos depois, Paul Éluard me diria: “Compre-me uma rosa quando vier. Não duas, hein. Apenas uma”.
“Sabe, ela nasce, ela cresce e ela morre.”
Nunca tive medo da morte.
Devo mencionar que nasci em meio à guerra. A anterior, durante a qual os homens viviam enterrados.
Meu pai foi voluntariamente aos 18 anos, sem que ninguém pedisse.
Parece que é de família.
Agiu feito herói e depois se amotinou. Saiu com menções honrosas e a perna esquerda em frangalhos.
Conheceu minha mãe na escola normal, no início dos anos 1920.
Pediram transferência para o mesmo setor e, como ninguém escolhia estes lados, foram mandados para cá, para Somme, no coração de Santerre.
Um país de servos e camponeses desde a Idade Média que a Primeira Guerra não poupou.
Não é à toa que a região fora incluída na Zona Vermelha.
Aqui, tudo o que pôde ser oferecido aos professores foram barracões de madeira na periferia de cidades mártires.
Anos depois, refizeram as fazendas, reergueram as casas e construíram uma escola. A escola dos meus pais.
Foi onde nasci.
Morávamos no andar de cima, três gerações sob um mesmo teto.
Sob um céu pós-tempestade.
Sobre a terra recheada de cadáveres e de bombas que ainda explodem se tocadas.
Entre dois cemitérios de cruzes brancas.Eu tinha 6 anos, um gato, amigos.
Eu idolatrava meu avô.
Minha vida era subir em árvores e ler.
Foi nessa idade que aprendi que sempre há dramas escondidos nos sorrisos.
Ei, Madeleine, quer ver uma coisa que dá medo?
Ah, os irmãos Laforce e o Goret.
Mais tarde. Quero acabar esse capítulo. Viu, eu disse que ela não consegue.
É, mas pensei que ela fosse mais corajosa que as outras meninas.
Pfff, são todas iguais.
Vocês vão ver só se sou medrosa!
Os poemas de Madeleine Riffaud foram extraídos da coletânea Cheval Rouge, prefaciada por Vladimir Pozner e ilustrada por Abidin Dino, pela Éditeurs français réunis em 1973.
Madeleine, résistante 1 - La Rose dégoupillée © DUPUIS 2021, by Riffaud, Bertail, JDMorvan www.dupuis.com
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Riffaud, Madeleine
Madeleine, resistente : a rosa engatilhada / Madeleine Riffaud ; tradução Renata Silveira. -- 1. ed. -- São Paulo : Nemo, 2023.
Título original: Madeleine, résistante
ISBN 978-85-8286-586-6
1. Autobiografia 2. Histórias em quadrinhos I. Título.
23-159420
Índices para catálogo sistemático:
1. Histórias em quadrinhos : Autobiografia 741.5 Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415
CDD-741.5
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