



Copyright © Anna Göbel
Todos os direitos reservados pela Editora Inventadeira. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora.
Edição geral
Sonia Junqueira
Projeto gráfico
Diogo Droschi
Fotografia
Daniel Mansur
Revisão
Ana Carolina Lins Brandão
Informações paratextuais
Renata Amaral de Matos Rocha
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Göbel, Anna
O maluco do céu [livro eletrônico] / texto e ilustrações Anna Göbel. -- 1. ed. -- Belo Horizonte, MG : Inventadeira, 2022.
HTML
“Livro adaptação de lenda caribenha”
ISBN 978-65-84631-07-6
1. Literatura infantojuvenil I. Göbel, Anna. II. Título.
22-137859
CDD-028.5
Índices para catálogo sistemático:
1.Literatura infantil 028.5
2.Literatura infantojuvenil 028.5
Inajara Pires de Souza - Bibliotecária - CRB PR-001652/O
Rua Carlos Turner, 420, sala 2 Silveira . 31140-520
Belo Horizonte . MG


No começo de todos os começos, tudo era azul. Era azul o céu, era azul o mar, até o ar era azulado.

E a Terra?
Bom, a Terra dormia no fundo do mar. Dormia um sono pesado, profundo, até que aconteceu uma coisa que mudou tudo...
Mas... vamos por partes.

Tudo começou com este rochedo, que ficava no fundo do mar. Ele ficava o tempo todo olhando pra cima, tentando ver o céu pra descobrir o que o deixava tão intrigado:
– Por que será que a água muda o tempo todo?

– Ai, que vontade de subir! De botar meu cocuruto fora da água e desvendar esse mistério! Mas... como?! Eu sou tão pesado!

– Ei! Psiu! Você conhece o mundo lá em cima?
Todo bicho, toda planta que passava por ali ouvia essa pergunta. Logo, ele virou alvo de piadas e fofocas e até ganhou um apelido: “Maluco do Céu”!

Mas o rochedo não estava nem aí: perguntava, perguntava e perguntava...
– Ei! Psiu! Você conhece o mundo lá em cima?
Rochedos costumam ser muito teimosos...


Os anos foram passando, o rochedo, perguntando, até que, numa manhã, algo fundamental aconteceu.
Numa pequena fresta do rochedo, havia uma concha bem pequenininha. Dentro dela, morava um siri menor ainda.
Naquela manhã, o sirizinho acordou, bocejou, espreguiçou e disse:
– Ah, não aguento mais esta vida chata na concha! Que tédio! Não acontece nada! Credo!
O siri deu um longo suspiro, pensou, pensou, saiu da concha, olhou em volta e resolveu:
– Por que tenho de ficar se posso ir embora?! Como não pensei nisso antes?! Está decidido: vou embora!
Fuuuiiiiiii!
E foi mesmo!




Saiu flutuando, livre, solto, sozinho na imensidão do mar...
Ah, que delícia! Ah, que gostoso! De braços abertos e olhos fechados, o siri deixava-se levar pelas ondas do mar – pra lá, pra cá...


...e, de olhos fechados, não percebeu quem estava se aproximando e... e...


Não, porque, justamente na hora em que o peixão ia devorar o siri, uma onda forte o jogou contra o rochedo, que logo lhe ofereceu um esconderijo e o salvou!
Um pouco mais tarde, meio tonto ainda do susto, o siri ouviu uma voz: – Ei! Psiu! Você conhece o mundo lá em cima?




Surpreso, o siri quis saber:
– Então é você o famoso Maluco do Céu?! Já tinha ouvido muito falar de você – maluco, porém gente fina! Puxa, você me salvou! E sabe de uma coisa? Vou te ajudar a ir lá pra cima, pra fora da água, porque nada é impossível!

O rochedo ficou todo emocionado, porque era a primeira vez que alguém falava pra ele: “Teu sonho é possível!”.



É, mas agora o siri estava encrencado. Na empolgação de ajudar o amigo, não tinha se dado conta: como podia ele, tão pequeno, ajudar o rochedo, tão grandão?
Pensou e pensou, pensou de novo, até que veio a ideia:
– Já sei! Vou fazer cócegas na barriga da Terra!
O quê?! Cócegas na barriga da Terra? Chiii, agora já são dois os malucos desta história! E se isso pega?!


– Que maluco, que nada! Veja só: o fundo do mar é a barriga da Terra. Então lá venho eu, com as minhas patinhas, e começo, , a... dança da cosquinha!
Assim pensou, assim fez: dança que te dança, coça que te coça, e dança, e coça... Quem sabe o que pode acontecer se a Terra rachar de rir?!
Como bom dançarino...



...o sirizinho conquistou o coração de muitas mulheres-siri, e a todas, , ensinou a dança da cosquinha!
E você sabe: quando mulher-siri e homem-siri ficam juntinhos, não demoram a chegar...



...filhotes-siri! Muitos e muitos, e mais muitos, que já nasciam dançando o ! Era aquela família enorme de irmãos e primos e tias e tios, todos dançando dia e noite, noite e dia...
E você sabe que, onde tem dança, tem alegria, e alegria é algo muito, muito contagioso! Não demorou nada...


...e outros bichos entraram na dança.
Primeiro, vieram as medusas: um monte de irmãs que, com suas saias macias, , faziam a barriga da Terra se arrepiar!
E você sabe, também: onde tem saias, não demoram a chegar...










...os peixes-vassoura, exímios dançarinos e alegres festeiros que, , davam piruetas em volta das medusas e as faziam girar sem parar, que divertido!


Era um
sem fim, e cada vez chegavam mais bichos que vinham de longe pra participar da festa. Encontravam-se todos ao pé do rochedo e... dança que te dança, coça que te coça, e era assim noite adentro, até o dia clarear!

Chegou uma hora em que... a Terra não aguentou mais! O rochedo foi o primeiro a sentir o tremor. Começou fraquinho, foi crescendo, veio vindo, saído bem do fundo da barriga da Terra, e virou uma gargalhada estrondosa, como nunca se viu igual...
– SEGUREM-SE! – o rochedo ainda teve tempo de gritar.

E o riso da Terra explodiu que nem um vulcão:
– e a Terra revirava.
– e a Terra chacoalhava.
– e a Terra estremecia.
Era tanta cócega acumulada que a Terra nem conseguia respirar direito, de tanto rir. Quando, por fim, ela conseguiu se acalmar, tudo estava diferente...
Algumas partes da Terra tinham subido e boiavam na superfície das águas...

...formando os cinco continentes: América, Europa, Ásia, África e Oceania – que maravilha!

E o nosso rochedo?
Bom, o rochedo virou uma linda montanha que chegava quase ao céu. Do alto de seu cocuruto, conseguia ver o amanhecer, o entardecer, as chuvas e os ventos, o dia e a noite... E, embora não entendesse por que todas essas mudanças aconteciam, ele estava muito, muito feliz!
E os bichos?












Ah, alguns ficaram vivendo na água; outros, como o nosso siri, saíram, foram para a praia. Mas nenhum deles deixou de dançar, porque tinham aprendido que a dança traz alegria ao coração, e alegria...









