Em memória de Gilles
Copyright © 2022 Casterman. Todos os direitos reservados.
Copyright desta edição © 2023 Editora Nemo
Título original: Le petit frère
Todos os direitos reservados à Editora Nemo. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora.
Poema “O adeus”, de Guillaume Apollinaire (tradução de Paulo Hecker Filho)
Páginas 10, 11, 12, 38, 142 e 222: excerto da música “Le Printemps”, de Michel Fugain & Le Big Bazar (1976)
Página 145: referência à letra da música “Le Testament”, de Georges Brassens (1956), e ao romance O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry (1943)
Página 189: excerto da música “Supplique pour être enterré sur la plage de Sète”, de Georges Brassens (1966)
Página 203: reprodução da capa da Métal Hurlant n.° 6 (1976)
Página 207: reprodução da capa da Métal Hurlant n.° 2 (1975)
Página 208: reprodução de uma prancha do autor publicada na Métal Hurlant n.° 15 (1977)
Página 209: reprodução da capa da Métal Hurlant n.° 15 (1977)
Página 210: reprodução de pranchas retiradas da Métal Hurlant n.° 19 (1977)
direção editorial
Arnaud Vin
editor responsável
Eduardo Soares
assistente editorial
Alex Gruba
revisão
Eduardo Soares
Julia Sousa
adaptação de capa e miolo
Viviana Mara
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Tripp, Jean-Louis
Meu irmão caçula / Jean-Louis Tripp ; tradução Renata Silveira. -- 1. ed. -- São Paulo : Nemo, 2023.
Título original: Le petit frère
ISBN 978-85-8286-588-0
1. Histórias em quadrinhos I. Título. 23-167834
Índices para catálogo sistemático:
1. Histórias em quadrinhos 741.5
Tábata Alves da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9253
CDD-741.5
A NEMO É UMA EDITORA DO GRUPO AUTÊNTICA
São Paulo
Av. Paulista, 2.073 . Conjunto Nacional
Horsa I . Sala 309 . Bela Vista
01311-940 . São Paulo . SP
Tel.: (55 11) 3034 4468
www.editoranemo.com.br
SAC: atendimentoleitor@grupoautentica.com.br
Belo Horizonte
Rua Carlos Turner, 420 Silveira . 31140-520
Belo Horizonte . MG
Tel.: (55 31) 3465 4500
Tradução Renata Silveira“Colhi esta folha de grama O outono lembra se encerra Já não nos veremos na terra O tempo aroma esta grama Recorda quem te espera e ama”
Guillaume Apollinaire
Aconteceu em Finistère, na Bretanha...
Aquele 5 de agosto de 1976 era o penúltimo dia de nosso périplo de uma semana pelos Monts d’Arrée. Tínhamos que chegar a Saint-Herbot para passar a noite e estávamos um pouco atrasados...
Vale dizer que havíamos passado um bom tempo jogando cadeirabol no Réservoir Saint-Michel, perto de Brasparts.
Ha! Ha! Cadeirabol... Inventamos esse esporte na hora da sobremesa, com cadeiras de praia e uma bola inflável...
Registramos as regras por escrito...
Jogamos a tarde inteira!
Na casa de mamãe tem uma foto tirada logo antes da partida, na qual corremos com a louça para podermos jogar...
Mais tarde nos empanturramos de amoras enormes que pegamos no caminho...
Era fim de tarde, o vento tinha som de insetos e cheiro de fumaça.
No verão de 1976 tivemos uma onda de calor. À nossa volta, nas colinas, víamos fumaça de incêndios que queimavam as terras.
Para dizer a verdade, tenho poucas lembranças dessas férias antes desse dia...
O que vou contar aconteceu em seguida...
Foram as últimas férias que passamos em família. Estavam a Jacotte, irmã da minha mãe, e o JeanClaude, marido dela...
Tinha também a Michèle, irmã do Jean-Claude, e o noivo dela, o Michel...
Estava a minha mãe (meus pais eram divorciados, e meu pai estava de férias na Espanha com a nova esposa dele).
A Caroline, minha namorada, e eu (tínhamos 18 anos)...
E também os meus irmãos: o Dominique, de 14 anos... E o Gilles, que faria 12 em novembro.
Tínhamos saído de Brasparts e pegado a rodovia CD14 no sentido St-Herbot. Eram 21h. Ainda estava claro.
Não me lembro o que cargas d’água ele queria, mas quando abriu um armário uma panela de pressão caiu na cabeça do Gilles, e tinha uma hora que ele estava deitado no reboque com uma luva molhada sobre o galo, enquanto a Carol e o Dômi liam.
Eu guiava a segunda carruagem, e minha mãe nos seguia de bicicleta.
Raramente conseguíamos pegar uma rodovia asfaltada. Fazíamos a maior parte do trajeto em estradas nas quais, quando muito, encontrávamos tratores.
Já não me lembro de algumas coisas... Minha mãe conta que um dia ficamos atolados numa ladeira e tivemos que pedir ajuda para sair...
E também que mudamos o itinerário de última hora para vermos um dólmen* , e não estava previsto passarmos pela CD14. Não me lembro de nada disso...
* Monumento neolítico geralmente considerado como túmulo, típico da Europa, embora também possa ser encontrado em certas regiões da África e da Ásia. (N.E.)
Mas lembro que bifurcamos na CD14, quase no meio do caminho entre Loqueffret e Saint-Herbot...
Ali o acostamento, além de cercado por uma valeta, tinha uma largura boa...
Permitindo que a caravana ocupasse apenas metade do lado direito da pista.
Também me lembro de uma hora que o Dômi veio se sentar ao meu lado.
Pouco depois, o Gilles acordou...
Uufaa!!!
Hehe... melhorou?
Ahaam!!!
Ele se juntou a nós na plataforma.
Opa! Já estamos chegando?
Falta menos de um quilômetro...
E a cabeça, melhorou?
Senta aí rapidinho...
Ei, ei, vamos nos acalmar um pouco...
Espera, sua cara tá toda suja de amora.
Nããão!!! Com a sua baba, não!!! E ela fede!
Ahn?!
Ahh... qual é!!!
Então tá... tudo bem...
Fica aí todo sujo...
Acho que vou cantar “Primavera” de novo...
Hehe...
Ok, você venceu, não canto mais...
,
Vou passar pelo outro lado!
Mas já cansei dessa carroça!!!
Vou continuar a pé!
Caraaamba!!! Uaaau... a valeta é superfunda!!! Pois é, cuidado!
Você acabou de acertar uma panela de pressão na cabeça!
Esse aí é o lado da rua...
Primeiro desce o estribo...
E... olha para trás para ver se vem carro...
Espera aí! Peraí! Peraí!
Ok, ok!