Minha vida fora de série - 4ª temporada

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PAULA PIMENTA

temporada 12ª reimpressão


Copyright © 2017 Paula Pimenta

Todos os direitos reservados pela Editora Gutenberg. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora.

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Rejane Dias projeto gráfico de capa

Diogo Droschi fotografia de capa

Daniel Mansur (Studio Pixel) modelo

Be Machado diagramação

Larissa Carvalho Mazzoni revisão

Carol Christo Cecília Martins Renata Silveira

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil Pimenta, Paula Minha vida fora de série, 4ª temporada / Paula Pimenta. – 1. ed. 12. reimp. – Belo Horizonte : Gutenberg, 2023. ISBN 978-85-8235-458-2 1. Ficção brasileira 2. Literatura juvenil I. Título. 17-06796

CDD-869.3

Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura brasileira 869.3

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Para o Miu Miu. Meu Mr. Mistoffelees da vida real. Que me ensinou a amar gatos... E que me dá muita sorte!


N ota da au tor a : Quando escrevi Fazendo meu filme 2 e 4, livros que – como este – também se passam no exterior, optei por deixar que a Fani narrasse pra gente as conversas que tinha com os personagens estrangeiros, já que não eram tantos assim. Nos poucos diálogos em inglês, foi inserida uma legenda em português no rodapé das páginas. Porém, neste livro, o Rodrigo realmente fez uma imersão! Você verá que ele vai conquistar muitos amigos canadenses e consequentemente conversar em inglês praticamente a história inteira... Por isso, para o livro fluir melhor, decidi manter em inglês apenas algumas expressões e as mensagens, e escrevi os diálogos em português. Assim você vai poder seguir com mais emoção todos os passos do nosso poetinha preferido! Obrigada por acompanhar o Rodrigo nesta temporada! Aperte o cinto e boa viagem! Paula Pimenta


Agradecimentos Branca de Neve: Obrigada. Ariel: Sem problemas. Da próxima vez você poderia tentar mergulhar em águas mais calmas... (Once Upon a Time)

À mamãe, por continuar sendo a primeira leitora dos meus livros, por fazer pressão para que eu escreva logo os capítulos seguintes, por me ajudar com as citações de seriados e por todas as opiniões. Ao Kiko, por ser o melhor companheiro de viagem, por ter a maior paciência do mundo, por ouvir capítulo por capítulo narrado em voz alta, por dar os melhores conselhos e por ser ao mesmo tempo meu melhor amigo e o amor da minha vida. À Elisa e à Aninha, por, mesmo com toda correria da vida, continuarem vindo ler os capítulos à medida que eu escrevo para que eu possa analisar a expressão facial de vocês. À Mariana Garcia, por ter me “obrigado” a viajar para o Canadá e por ter me guiado pelos lugares mais lindos e interessantes de Vancouver e Toronto! O Rodrigo também adorou! Às minhas leitoras que participaram do intercâmbio de Toronto e viveram comigo várias aventuras que viraram capítulos deste livro. Adoro vocês, “família Targus”! À Anna Clara e à Clarissa, por serem as maiores administradoras de páginas do Facebook que você respeita!


Aos mais de 600 leitores que enviaram vídeos para o concurso de depoimentos. Fiquei emocionada e gostaria de dar um abraço em cada um de vocês! E à Marcela, à Maria Luiza, à Natalie, à Bruna, à Isadora, à Eline, à Hayane e ao Wesley, pelas lindas palavras que tanto enfeitaram a contracapa e as orelhas do livro! Aos meus amigos da editora, por continuarem entendendo que eu preciso escrever muito e estourar o prazo mil vezes... E por produzirem meus livros em tempo recorde e com o maior capricho! Ao Miu Miu, à Snow e à Pretinha, por me mostrarem como entender os gatos e por inspirarem o Lucky! À Priscila, por deixar que o Rodrigo usasse o espaço da vida fora de série dela para contar sua própria história...


É a coisa mais maravilhosa e incrível do mundo. O Amor é esperança. Abastece nossos sonhos. E se você está apaixonado, precisa aproveitar. Porque o amor pode não durar para sempre... (Once Upon a Time)



Prólogo Leroy: E as suas lembranças boas? Mary Margaret: O que quer dizer? Leroy: Não teve momentos com ele que você tenha amado? Você se arrepende deles? Mary Margaret: Não, é claro que não. Leroy: Não é a isso que a vida se resume? Se agarrar às lembranças felizes... (Once Upon a Time)

De: Priscila <pripriscilapri@aol.com>

Para: Rodrigo <rrrrrodrigooooo@gmail.com> Enviada: 03 de janeiro, 23:59 Assunto: Aniversário Querido Rodrigo,

Hoje foi o meu aniversário. Na verdade, ainda é, pelo menos por um minuto. Eu já estava deitada, mas como amanhã algo muito importante vai acontecer na minha vida, acabei perdendo o sono. Aí você já sabe. Comecei a pensar, a pensar, a pensar... E, como sempre, você apareceu no meio desses pensamentos. Vou admitir: foi estranho não receber seus parabéns hoje. Quando te conheci eu tinha acabado de fazer 13... A partir daquela idade você sempre esteve presente. Hoje completei 20 anos e o meu dia foi maravilhoso... Mas faltou uma coisa. Faltou você. 11


Em vários momentos eu lembrei que você sempre inventava alguma surpresa, que sempre chegava com flores, que sempre aparecia com um poema... Ah, os seus poemas. Como eu sinto falta deles!

Confesso que agora mesmo, pouco antes de me deitar, dei uma olhada minuciosa nas minhas redes sociais, para ver se não encontrava no meio das felicitações algum recadinho seu... Sei que você excluiu seu endereço de e-mail e as suas redes logo depois do nosso término, mas sei também que um tempo depois voltou com tudo, claro que sei... Eu te procurei, mesmo sabendo que não deveria fazer isso. E te encontrei. Estava tudo igual, com uma única diferença: Eu não estava entre seus amigos. Então entendi que você percebeu que, em vez de se excluir do mundo digital, era mais fácil apenas me tirar dele. Mas ainda assim eu tinha esperança de que você aparecesse hoje de surpresa. Claro que não esperava nenhum poema ou declaração de amor, lógico que não. Um simples “parabéns” já seria suficiente. Mas não tinha nada. Inclusive recebi mensagens de pessoas que eu não via há muitos anos... Algumas até bastante surpreendentes. Mas nenhuma de você. A que eu mais esperava.

Rô, na verdade escrever tudo isso é desnecessário. Eu não vou enviar esse e-mail, não mesmo. Vou guardar na pasta de rascunhos nunca enviados, junto com as senhas que nunca lembro e com a lista de seriados que ainda quero assistir. Na verdade, é capaz de amanhã, ao acordar, eu deletar e fingir que nunca escrevi isso... Afinal, jurei para mim mesma que aquela carta que te mandei meses atrás – e que sei (por fontes seguras) que chegou até você – seria minha última tentativa. E é por isso que não vou mandar esse e-mail. De jeito nenhum. Que sentido teria? Como eu disse, isso é apenas um desabafo. Um antídoto para a insônia. Algo que resolvi fazer para limpar a cabeça e conseguir descansá-la no travesseiro sem pesar 12


tanto. Acho que deu certo, estou começando a ficar sonolenta...

Ainda bem, preciso descansar, pois amanhã vai ser um grande dia! Você nem imagina para onde vou viajar... Gostaria tanto de te contar, Rô... Acho que você ia gostar de saber. Mas vou deixar por conta da sua imaginação. Da mesma forma que continuo te inventando na minha.

Não sei o que você fez nesse meu dia. Se sorriu. Se chorou. Se está ao lado de alguém. Se por acaso se lembrou de mim... Mas, de qualquer forma, eu me lembrei de você. E já me conformei com isso. Sei que vou me lembrar de você para sempre. Um beijo, com muita saudade. Priscila.

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1 Dexter: A vida não tem que ser perfeita... Só tem que ser vivida. (Dexter)

Quando cheguei àquela cidade e a primeira coisa que vi foi um gato, eu deveria saber. Naquele momento, ao descer na estação de trem e não avistar ninguém além daquele pequeno ser preto e branco me olhando como se estivesse apenas me esperando, ou melhor, como se eu estivesse atrasado para o nosso encontro, eu tinha que ter entendido que aquela seria bem mais que uma simples viagem de feriado. Já havia muito tempo que ninguém me lançava um olhar como aquele, e, ainda que fosse apenas um gato, não tive como não me lembrar de como era quando a minha vida ainda tinha raízes. Agora, depois de mais de seis meses sem nada me prendendo, sem compromisso com ninguém, eu já tinha até esquecido como era ter que dar explicações, ter que avisar sobre meus horários, ter que viver constantemente com a sensação de que eu devia satisfação a alguém. Eu também já havia quase me esquecido de como era ter alguém sempre me esperando. De como era bom ter alguém me esperando. Talvez por isso aquele gato tenha chamado tanto a minha atenção. Olhei para os lados, procurando um possível dono, alguém que estivesse com ele, pois parecia um gato bem cuidado, mas a estação estava completamente deserta, como se fizesse parte de uma cidade fantasma. Me aproximei então com cuidado e estendi a mão na altura de sua cabeça. Já tinha vários anos que eu havia aprendido – da pior forma possível – que gatos gostam de fazer o primeiro movimento. Depois de muitos 15


arranhões, entendi que eles não são como os cachorros, que já nascem carentes e estão sempre mendigando qualquer forma de afeto. Não. Os gatos estudam a pessoa antes, para ver se ela é merecedora de atenção. Pensando agora, da mesma forma que julgamos os cães, os gatos devem nos achar carentes e mendigos de amor... Mas o fato é que aquele gato, por alguma razão, me considerou digno. Após dar uma leve farejada nos meus dedos, começou a se esfregar na minha mão e, assim que acariciei o seu pelo, passou a ronronar furiosamente. Subitamente me lembrei da Snow, a gata da Priscila. Já tinha tempos que eu não pensava nela... Na gata, pois a imagem da minha ex-namorada voltava com regularidade à minha mente, eu já tinha me acostumado com aquilo. Deixei as lembranças tomarem conta de mim por alguns segundos. Eu realmente tinha saudade dos bichos dela. Dos meus também, claro, mas era uma saudade diferente. Eu sabia que o Bombril e a Estopa estavam bem cuidados pelos meus pais e pelo Daniel, e que assim que eu voltasse eles estariam me esperando. Já a Snow, o Floquinho, o Pavarotti, a Duna, o Biscoito, o Rabicó e até os coelhos da Priscila... Eu provavelmente nunca mais iria ver. Dei um suspiro, cocei a cabeça do gatinho uma última vez e então fui em direção às escadas que levavam à saída. Eu não havia dado dois passos quando percebi que ele estava me seguindo. “Ei, você não pode vir comigo”, falei me virando para o gato. “Volte pra sua casa, seus donos devem estar preocupados.” Ele ficou me olhando, totalmente indiferente às minhas palavras. De repente me toquei... Claro que não tinha me entendido! Mesmo que soubesse a linguagem dos humanos, aquele gato era canadense, não entenderia o meu português. Repeti tudo em inglês, mas aquilo só serviu para que ele chegasse mais perto e passasse a se esfregar também nas minhas pernas. Neguei com a cabeça, sem saber o que fazer, e então resolvi parar de dar atenção a ele. Se quisesse me seguir, tudo bem, uma hora ele cansaria. Peguei o celular e digitei no GPS o endereço de onde eu ficaria hospedado. Eu já tinha pesquisado antes e sabia que o 16


lugar ficava a poucos quarteirões dali, mas precisava saber o caminho exato a seguir. Vi que era até mais perto do que eu pensava e comecei a caminhar, seguindo a direção que o dispositivo apontava. Enquanto andava, fui observando aquele novo cenário. Prédios altos e imponentes se misturavam com casas vitorianas, sem que um ameaçasse o outro. Então quer dizer que Toronto era assim... uma cidade tradicional e ao mesmo tempo moderna. Bem diferente de Vancouver, onde eu estava morando. Lá, as áreas residenciais ficavam distantes do centro da cidade, onde estavam os prédios comerciais. Acabei me lembrando do pequeno apartamento que aluguei nas minhas primeiras semanas no Canadá. Poucos dias foram suficientes para eu saber que não conseguiria dividir o espaço com o João Marcelo, conforme meu plano inicial. Meu irmão já nasceu bagunceiro, mas a minha mãe de alguma forma conseguia manter o controle da situação, fazendo com que ele pelo menos arrumasse o básico e não deixasse o “chiqueiro” do quarto dele invadir o resto da casa. Mas agora, ali, como ele era o dono do apartamento inteiro e sem a minha mãe para dar broncas, era até difícil enxergar o chão do local, todo dominado por roupas amarrotadas, partituras e instrumentos musicais. Isso sem falar na cozinha... Apesar da máquina de lavar louça praticamente fazer o trabalho sozinha, a pia estava constantemente cheia de pratos, talheres e garfos usados. Cheguei a pensar que o João não soubesse que, para a máquina funcionar, ele antes precisava colocar a louça suja lá dentro... Mas logo percebi que meu irmão sabia disso muito bem. Quando ele convidava alguma garota para passar a noite, a louça miraculosamente aparecia (limpa) no armário. Além disso, ele recolhia tudo do chão e jogava no quarto de hóspedes – que era exatamente o meu quarto. Mas não foi apenas isso que me fez concluir que não conseguiria ficar lá. Na verdade, se fosse só a bagunça, eu provavelmente teria suportado. O que realmente fez com que eu quisesse pôr os pés para fora da casa dele na velocidade da luz foi o fato de ele não parar de falar na Priscila nem por um segundo sequer. Tudo que eu mais queria naquela época era me esquecer da existência 17


dela, mas meu irmão parecia querer me torturar, aquele era o único assunto que ele queria ter comigo. Decidi então me mudar para o apartamento da Sara, que já havia me convidado várias vezes. Eu sabia que minha irmã era mais sensível e organizada e que lá eu não teria nenhum problema com bagunça nem com temas proibidos para os meus ouvidos. Mas tinha algo naquele lugar que eu também não suportava... o Ethan, o namorado dela. Quer dizer, o noivo! Essa foi a primeira novidade que escutei, ainda no aeroporto, no dia da minha chegada. Mas só de ver o tamanho daquele diamante no dedo da minha irmã, senti que algo não estava cheirando muito bem. Pelo que eu conhecia do Ethan, das poucas vezes que ele tinha ido ao Brasil com a Sara, eu sabia que era extremamente pão-duro, do tipo que exige que as contas dos restaurantes sejam minuciosamente divididas pelo consumo de cada um e que nunca dá gorjetas. Para ter dado um anel daquela magnitude para a minha irmã, ele devia ter aprontado... E muito. Logo descobri que eu estava certo, pois o João me contou que a Sara o havia pegado na cama com outra... no próprio apartamento dela! Inicialmente ela terminou o namoro, disse que nunca mais queria vê-lo, mas no minuto em que ele apareceu com aquele anel, dizendo que queria ficar com ela para sempre e que só havia ficado com a outra garota por estar bêbado, ela o perdoou. Só que eu não conseguia fazer o mesmo. Só de saber que o sujeito havia sido canalha com a minha irmã àquele ponto, eu tinha vontade de matá-lo! E era exatamente por isso que eu não conseguia olhar para a cara dele. Além de ter enganado a minha irmã, ele me lembrava de que eu também havia sido traído... E que era exatamente por essa razão que eu estava ali naquele momento. Foi quando eu senti a necessidade de alugar um local só para mim. Um carro buzinando me fez voltar para o presente. Olhei para o celular e vi que a rua que eu estava procurando já era a próxima. O gato continuava me seguindo e eu comecei a ficar preocupado. Já estávamos a uns dois quilômetros da estação. Por 18


mais que eu soubesse que gatos têm um ótimo senso de direção e que ele não teria o menor problema em voltar para lá, eu temia que ele fosse atropelado no caminho. Balancei a cabeça e me concentrei em achar o lugar. Verifiquei o GPS mais uma vez. Se ele estivesse certo, assim que eu virasse a esquina chegaria ao meu destino. Andei um pouco mais rápido, mesmo sem motivo. Eu não estava com pressa, não tinha nada marcado naquele dia. Não devia satisfação a ninguém... a não ser a mim mesmo. De repente, avistei uma placa: Aberdeen Avenue. Sim, eu estava no local exato! Guardei o celular e olhei em volta, antes de continuar andando. Era uma pequena avenida residencial, muito arborizada, que parecia ter parado no tempo. Eu poderia jurar que estava na era vitoriana. Todas as casas eram parecidas, feitas de tijolinho e telhado de madeira, com um pequeno lance de escada na frente. Andei mais um pouco e vi o número que estava procurando: 21. Eu esperava encontrar alguma placa que indicasse que ali era uma pousada, mas não havia nada. Era uma casa normal, antiga, como todas da vizinhança. Só faltava eu estar com o endereço errado... Antes de tocar a campainha, achei melhor checar. Peguei o celular novamente, mas dessa vez para mandar uma mensagem para o Klaus, um dos primeiros amigos que eu tinha feito em Vancouver e o responsável por eu estar naquele lugar.

Klaus, you gave me the wrong address for the B&B! Can u check, plz?*

Enquanto esperava a resposta, sentei na escada me sentindo subitamente cansado. Porém, no minuto em que fiz isso, o gato, * Klaus, você me deu o endereço errado da pousada! Pode checar, por favor?

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que eu não havia percebido que estava bem ao meu lado, pulou no meu colo e se aninhou, como se eu realmente fosse seu dono e ele estivesse acostumado a fazer aquilo todos os dias! “Ei, qual é?”, falei me levantando depressa. O gato, entretanto, cravou as garras na minha calça, o que me fez sentar novamente, antes que ele enfiasse as unhas mais fundo. “Você não pode ficar comigo, eu nem moro nessa cidade!” Alheio às minhas palavras, ele apenas se aconchegou ainda mais e voltou a ronronar, como se minhas pernas fossem o lugar mais seguro e confortável em que ele já tivesse deitado. Respirei fundo e olhei mais uma vez para o celular, torcendo para que o Klaus já tivesse respondido. Ele ainda nem tinha visualizado! Olhei para a rua, buscando de novo algum indício de que tivesse uma pousada por ali, mas tudo que avistei foram casas e mais casas. Se pelo menos eu tivesse anotado o telefone do local... Mas o Klaus tinha me assegurado de que estava tudo certo! Segundo ele, sua tia, que era a dona, tinha reservado o melhor quarto para mim, apenas por ele ter dito que era para o seu melhor amigo. Melhor amigo... Na verdade eu ainda não o considerava assim. Se comparado aos meus amigos brasileiros, ele era apenas um colega. Mas eu também não podia ser injusto. Em um dos meus primeiros dias em Vancouver, quando eu ainda estava devastado por causa do término com a Priscila, tinha sido ele que, ao descobrir que eu não estava bem, não sossegou enquanto não sentiu que eu estava adaptado à nova cidade. Parecia já ter tanto tempo... Mas nem seis meses tinham se passado desde então. Comecei a acariciar o gato, que já estava até dormindo no meu colo, encostei a cabeça no corrimão da escada e então passei a relembrar tudo que tinha acontecido... Desde o momento da minha “fuga” do Brasil.

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