Uma segunda parte de A história de vida de Buscón, chamado Don Pablos de Segóvia, vagabundo exemplar e espelho dos malandros; inspirada na primeira, como narrou em seu tempo Don Francisco Gómez de Quevedo y Villegas, cavaleiro da ordem de Santiago e senhor de Juan Abad
UMA SEGUNDA PARTE DE A HISTÓRIA DE VIDA DE BUSCÓN, CHAMADO
DON PABLOS DE SEGÓVIA, vagabundo exemplar e espelho dos malandros;
inspirada na primeira, como narrou em seu tempo Don Francisco Gómez de Quevedo y Villegas, cavaleiro da ordem de Santiago e senhor de Juan Abad
PREFÁCIO
Surgido no Século de Ouro Espanhol, o romance picaresco narra, em primeira pessoa, a vida de um canalha. Vagabundo, mendigo, ladrão ou vigarista, esse herói viverá incríveis aventuras, servirá a muitos senhores e conviverá com as mais diversas camadas da sociedade. Entre as grandes ob ras produzidas pelo gênero, A história de vida de Buscón, chamado Don Pablos de Segóvia, vagabundo exemplar e espelho dos malandros, publicada em 1626, destaca-se pela acidez de seu humor. Francisco de Quevedo, grande figura da literatura ibérica, retrata com seu estilo ultrajante mas refinado as desventuras cruéis e grotescas de um canalha pitoresco. Ao final desse romance ambientado na Espanha, o pícaro Don P ablos embarca para a América – as Índias, como se dizia na época. Quevedo anuncia uma continuação, que jamais escreveria.
Ei-la aqui.
Para Nathalie, que viu nascer e crescer este projeto... e tantos outros!
Um grande obrigado a Hermeline e a Jean pela preciosa contribuição nas cores deste álbum, e a Alex Alice por ter generosamente partilhado seus conhecimentos de pintura a óleo, ao ponto de salvar a capa.
Na versão francesa, o subtítulo da obra, assim como alguns diálogos das páginas 9, 10, 79 e 127 foram criados seguindo Francisco de Quevedo, La vie de l’aventurier don Pablos de Segovia in Romans picaresques espagnols, traduzido por Jean-Francis Reille e Maurice Molho.
© Éditons GALLIMARD.
Na mesma versão, a citação da página 6 é proveniente da tradução de Louis Viardot de L’Ingénieux Hidalgo Don Quichotte de la Manche, publicada em 1836 pelas Editions Dubochet et Cie.
Na edição brasileira, a citação da página 6 provém da tradução de Ernani Ssó de Dom Quixote de la Mancha, publicada em 2012 pela Penguim Companhia. As demais foram livremente traduzidas a partir dos textos que figuram na versão original francesa que serviu de base à presente edição.
Publicado originalmente em língua francesa com o seguinte título: Les Indes Fourbes by Alain Ayroles and Juanjo Guarnido
© Editions Delcourt, 2019
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direção editorial
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editor responsável
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assistente editorial Alex Gruba
revisão
Eduardo Soares
adaptação de capa e miolo Viviana Mara
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Ayroles, Alain
Nas Índias traiçoeiras: ou uma segunda parte de A história de vida de Buscón, chamado Don Pablos de Segóvia, vagabundo exemplar e espelho dos malandros / roteiro Alain Ayroles ; arte e cores Juanjo Guarnido ; tradução Renata Silveira -- 1. ed. -- São Paulo : Nemo, 2023.
Título original: Les indes fourbes
ISBN 978-85-8286-590-3
1. Histórias em quadrinhos I. Guarnido, Juanjo. II. Título. 23-163475
Índices para catálogo sistemático:
1. Histórias em quadrinhos 741.5
Tábata Alves da Silva - Bibliotecária - CRB-8/9253
CDD-741.5
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Roteiro
Alain Ayroles
Arte e cores
Juanjo Guarnido
Cores das páginas 75, 77 a 79, 81 a 84: Jean Bastide
Assistente de cores: Hermeline Janicot Tixier
Tradução: Renata Silveira
“Ouvi dizer que essa que chamam Fortuna é uma mulher bêbada e cheia de caprichos, mas principalmente cega, quer dizer, não vê o que faz, nem sabe quem derruba nem a quem aclama.”
Pierre Ménard – Dom Quixote de la Mancha, segunda parte – capítulo LXVI
PRÓLOGO
Saiba apenas que os passei em meio à indigência,
à dissimulação
e à malandragem
Apesar dos meu s esforços consta ntes,
nunca consegui sair de minha condição miserável.
Miserável eu era,
apesar dos tesouros imaginários e das joias de mentirinha,
miserável eu p ermaneceria.
Por isso resolv i par tir para as Índias, para ver se minha sorte melhoraria mudando de mundoCAPÍTULO I
Em que Pablos conta ao aguazil sua história de vida.
Foi assim que, numa bela manhã, com o coração cheio de esp erança,
o Novo Mundo.
embarquei paraPOr DEuS, vÁ DiReTo aO PoNtO ! DE OnDe tIrOu iStO ? FaLe!
FAlE, sEnÃo...
SAuDaÇõEs, SeNhOr aGuAzIl-mOr.
QUeM É EsSe iNfElIz ?
UM MiSeRáVeL. ACaBa dE vIr aTé mIm pArA DaR-Me EsTa bOlSa…
POsSo lHe fAlAr ?
REcEbEmOs a cOnFiRmAçÃo, SeNhOr: AmAnHã, À AlVoRaDa, O ÚlTiMo cOmBoIo cHeGaRá a CUsCo.
E eM CeRcA De uMa sEmAnA, SUa EXcElÊnCiA O CoRrEgEdOr vIrÁ ToMaR PoSsE De tOdA A CaRgA Em nOmE Do rEi.
SUa GRaÇa o cOrReGeDoR NãO DeIxArÁ De eXaLtAr a pRoBiDaDe dE VoSsA GrAçA. SErViR à cOrOa é mInHa úNiCa pAiXãO.
…Da pArTe dE DoN DiEgO.
FAlE À VoNtAdE, sEnHoR ReYeS, o pAtIfE eStÁ MeIo mOrTo.
NÃo vAi sObRaR Um tOsTãO FuRaDo.
UM ÍdOlO InCa ? TAiS ObJeToS ToRnArAm-sE mUiTo rArOs ! COmO EsSe mIsErÁvEl cOnSeGuIu isso ?
E pOr qUe dIaBoS IrIa eNtReGá-lOqUeReR A MiM ?
O sEnHoR pErGuNtOu a eLe ?
EU DiSsE: cOnTe-mE TuDo ! ”, eLe rEsPoNdEu: TuDo ? ”, Eu dIsSe: TuDo ! ”…
...E O AnImAl cOmEçOu a nArRaR A ViDa iNtEiRa !
REsPoNdA O senhor aguazil, andarilho, diga-lhe o que sabe.
VOcÊ EsTaVa cOm eLe ? VOcÊ FoI AtÉ Lá ? FAlE, dEsGrAçA !
D-D-DOn DIeG-G-G…
DEuS Do cÉu ! O que é esta cOiSa ?
ISsO ? ReCeIo qUe sEjA A... cAbEçA... dE...
POrQuE Se qUeReM CoNcEbEr o iNcOnCeBíVeL...
DIrEi aO SeNhOr tUdO O QuE QuIsEr oUvIr...
ESsE pObRe-dIaBo nÃo pArEcE NaDa bEm.
MAs pEçO A VoSsAs gRaÇaS QuE Me oUçAm aTé o fIm...
…terão de conhecer os fatos que precederam minha terrível e maravilhosa odisseia.
mas captei por alto o que queriam dizer.
Foi esse o começo de minha ascensão? Sem conseguir enriquecer,
Evidentemente eu ainda não entendia aqueles negros,
encontrei quem fosse mais miserável que eu! Pois se tudo o que eu tinha era a mim mesmo,
aquela gente nem isso tinha.
EStAmOs lOnGe dE CaSa ? EStÁ pErDeNdO SeU TeMpO ! É óBvIo qUe o bRaNcO NãO SaBe dE NaDa ! VAmOs pOuPá-lO PoR EnQuAnTo. VAi nOs eNsInAr a uSaR IsTo.