Orlando - Uma biografia

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M imo

Virginia Woolf Orlando · Uma biografia

Com a publicação de Orlando, a Autêntica Editora inaugura a coleção Mimo+. É a mesma Mimo já conhecida por livros como Alfabeto (Paul Valéry), O casaco de Marx (Peter Stallybrass), Meu coração desnudado (Charles Baudelaire), Os últimos dias de Immanuel Kant (Thomas De Quincey), entre outros. Ela é precedida por livros cujas características editoriais já prenunciavam a coleção que agora recebe o aditivo “+”: O Pintor da Vida moderna (Charles Baudelaire); Mrs Dalloway, Ao Farol, O tempo passa, O sol e o peixe (todos de Virginia Woolf ). Na era do livro digital, as características sensoriais do tradicional livro impresso continuam a ter o seu charme próprio, insubstituível. O livro de papel é feito, sem dúvida, sobretudo para ser lido. Mas também para ser cheirado, tocado, visto, exposto, mostrado. Ele é um objeto sensual, táctil, visual. Um objeto para ser amado, fruído, desfrutado. Um livro bem transado é sempre uma festa para os olhos, para as mãos, para a alma. É esse o espírito da coleção Mimo+. Fazer e publicar livros que apelem aos sentidos, que aticem o desejo, que sejam atraentes e irresistíveis. A estética, quase desnecessário dizê-lo, é, aqui, fundamental. Elegância, classe, sofisticação. Capricho nos aspectos gráficos, visuais, plásticos do livro. Capas duras, sobrecapas atraentes, ilustrações internas (às vezes), papéis de impressão de primeira qualidade. Livros bem vestidos, afinal. Mas aparência não é tudo, bem sabemos. A Mimo+ continuará observando os mesmos e rigorosos critérios editoriais de sua antecessora: escolha das melhores obras da literatura clássica de ficção, traduções esmeradas e cuidadosas, aparato de notas e textos críticos adicionais. Enfim, a Mimo+ centra-se no prazer proporcionado por um bom texto literário e por um texto literário bem traduzido, bem como nos prazeres estéticos e visuais daquilo que lhes serve de suporte: o livro. A Mimo+ é a celebração do puro prazer do livro.

Orlando, um arremedo de biografia, descreve a vida do personagem homônimo, descendente de uma ancestral família aristocrática inglesa, que, no começo da narrativa, vive no século XVI, é homem e tem 16 anos. Acompanhamos sua vida por cerca de quatro séculos, na maior parte dos quais se mantém com a idade de 30 anos. No meio da narrativa, enviado pelo rei Charles II, como embaixador da Inglaterra, a Constantinopla, ele passa por uma transformação radical. Além de homenagear Vita Sackville-West, a aristocrata que serviu de modelo para a figura de Orlando, e de jogar com as convenções da biografia tradicional, Virginia explora aqui alguns dos seus temas preferidos: a incongruência entre, de um lado, o tempo do relógio e do calendário e, de outro, o tempo vivido, subjetivo; o caráter fragmentado, múltiplo e incerto da subjetividade; e, sobretudo, a instabilidade e a artificialidade da identidade sexual. A presente edição é enriquecida com as ilustrações da edição original de 1928, quatro delas a cores, extensas notas e posfácio de Silviano Santiago.

Virginia Woolf Orlando Uma biografia

Leia também, de Virginia Woolf, pela Autêntica: • Mrs Dalloway • O tempo passa • Ao Farol • O sol e o peixe

ISBN: 978-85-8217-628-3

9 788582 176283

Tradução e notas Tomaz

Tadeu Posfácio Silviano Santiago

A figura de Orlando é inspirada em Vita SackvilleWest, a nobre inglesa com a qual Virginia teve um caso em meados da década de 1920. Quando se conheceram, em dezembro de 1922, Vita estava casada com Harold Nicolson e Virginia com Leonard Woolf. Não podiam ser mais diferentes. A origem de Virginia estava na classe média intelectualizada. A de Vita, numa destacada família da nobreza britânica, os Sackville-West. Virginia tinha uma vida sexual recatada. A de Vita, ao contrário, não podia ser mais agitada: sua paixão por mulheres vinha de longe, e teve muitos casos, sucessivos e simultâneos, ao longo da vida. Em comum, tinham a vida de escritora. Quando se conheceram, ambas já haviam publicado alguns livros e gozavam de razoável fama. Na verdade, Vita foi mais prolífica e fez mais sucesso que Virginia. Mas faltava-lhe aquilo que mais admirava em Virginia: o talento. O que Vita escrevia não podia ser mais tradicional. Virginia, por sua vez, não parou de experimentar. No começo, a estranheza foi mútua. Apesar de também ser uma mulher que gostava de mulheres, Virginia não deixava de encarar com certa desconfiança as inclinações lésbicas da nova amiga. Vita, por sua vez, tinha restrições ao intelectualismo de Virginia. A aproximação continua por mais de dois anos. Mas é apenas em dezembro de 1925 que o caso entre as duas se torna realmente sério. O intenso envolvimento não durou, entretanto, mais que dois anos. Com uma nova paixão na vida de Vita, a relação começa a arrefecer. É nessa época que Virginia deslancha o projeto de Orlando. O livro é uma espécie de sutil vingança contra Vita por sua infidelidade. Mas é também uma homenagem à mulher que tanto amou. E com o romance, Virginia, de certa forma, restitui a Vita a mansão ancestral da família, Knole, que, com a morte do pai, passara ao varão mais velho do clã. Mas a paixão entre as duas chegara ao fim. Orlando é, pois, Vita. Ou quase. E Orlando é a versão literária do romance, da paixão, do envolvimento afetivo e sexual entre duas mulheres extraordinárias.


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