Vladimir Safatle
PHILIPPE VAN HAUTE é professor de Antropologia Filosófica na Radboud University Nijmegen (Holanda) e professor extraordinário de Filosofia na University of Pretoria (África do Sul). É membro da Escola Belga de Psicanálise e da Sociedade Internacional de Psicanálise e Filosofia (SIPP/ISPP). Publica principalmente acerca das relações entre filosofia e psicanálise. É autor de Against Adaptation: Lacan’s “Subversion” of the Subject (Other Press).
FILOMARGENS “As diferentes formas de distúrbio psicológico não se posicionam contra a normalidade psicológica; ao contrário, elas mostram uma disposição específica que está ativa na vida interna normal, apesar de ser expressa de maneira excessiva na patologia. Por essa razão a perspectiva patoanalítica nos estimula, de acordo com Freud, a assumir uma atitude ao estilo antigo, isto é, uma atitude de respeitosa modéstia com relação àqueles que sofrem em razão de doenças psíquicas, pois suas vidas simbolizam problemas que também determinam nossas existências. De maneira crua e excessiva, a histeria, a neurose obsessiva e a paranoia dão forma a problemáticas antropológicas que também podem se expressar de modo refinado e aceito socialmente por meio da literatura, da religião e da filosofia.”
TOMAS GEYSKENS é doutor em Filosofia. É também psicanalista, ligado à Escola Belga de Psicanálise. Trabalha em uma instituição para adultos com deficiência intelectual e severos transtornos emocionais em Roosdaal, na Bélgica. É autor, notadamente, de Our Original Scenes: Freud’s Theory of Sexuality (Leuven University Press). A TRADUTORA: Mariana Pimentel Fischer Pacheco é mestre e doutora em Filosofia do Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), pós-doutoranda no Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora do Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise (LATESFIP) da USP.
Philippe Van Haute • Tomas Geyskens PSICANÁLISE SEM ÉDIPO?
que define a especificidade do anthropos. Não seria o caso de inicialmente denunciar, como condição para toda forma de “cura”, a verdadeira pedagogia do desejo que parece assombrar nossos conceitos de normalidade? Por outro lado, aparece uma antropologia que se serve continuamente da produção de anomalias e desvios como condição para sua própria realização, o que nos leva a uma visão muito mais rica e complexa da experiência humana.
Philippe Van Haute Tomas Geyskens
PSICANÁLISE SEM ÉDIPO? Uma antropologia clínica da histeria em Freud e Lacan
978 85 513 0120 3
9 788551 301203
www.autenticaeditora.com.br
Tradução Mariana Pimentel
Em Psicanálise sem Édipo?, Philippe Van Haute e Thomas Geyskens partem dos estudos de Freud e de Lacan sobre a histeria a fim de defender duas teses maiores. Primeiro, trata-se de se perguntar sobre o que existe na latência da teoria freudiana da sexualidade, para além da insistência no caráter normativo de modelos de socialização do desejo baseados na estrutura de conflitos própria ao complexo de Édipo. Essa latência indica a possibilidade de uma peculiar “psicanálise sem Édipo”, a saber, uma psicanálise mais capaz de lidar com a polimorfia da sexualidade humana. Nesse sentido, os esforços de Van Haute e de Geyskens se inscrevem em uma elaboração psicanalítica original do impacto da crítica do familiarismo, tal como desenvolvido em um importante setor da filosofia contemporânea, como podemos ver, por exemplo, em Foucault e em Deleuze e Guattari. No entanto, o verdadeiro objetivo se desvela mais à frente, explicitando-se no último capítulo deste impressionante livro. Trata-se da defesa de uma antropologia filosófica baseada naquilo que os autores entendem por “patoanalítica”. Abandonando o esquema tradicional de compreensão das relações entre normalidade e patologia, na qual uma antropologia normativa encontra expressão perfeita em um conceito de normalidade que servirá de orientação para as múltiplas modalidades de intervenção clínica, Van Haute e Geyskens procuram inverter esse sistema de valores. Dessa forma, as patologias se demonstram indissociáveis das formas de expressão da antropologia. Como dizia Lacan, não há sujeito sem sintoma. Da mesma forma, não há antropologia, não há reflexão sobre a natureza humana sem pathos. Tal perspectiva nos abre a orientações inovadoras, tanto para a clínica quanto para a reflexão filosófica. Pois se trata, por um lado, de se perguntar o que significa curar um pathos que expressa, à sua maneira, o