Stardust

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Léonora Miano Stardust

Léonora Miano Stardust

tradução Dorothée de Bruchard

Copyright © 2022 The Quilombo Publishing

Esta edição é publicada sob acordo com The Quilombo Publishing em colaboração com seus agentes devidamente designados, Books And More Agency #BAM, Paris, França, e LVB&Co. Agência e Consultoria Literária, Rio de Janeiro, Brasil. Todos os direitos reservados.

Copyright desta edição © 2024 Autêntica Contemporânea

Título original: Stardust

Todos os direitos reservados pela Autêntica Editora Ltda. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora.

editoras responsáveis

Ana Elisa Ribeiro

Rafaela Lamas

preparação

Sonia Junqueira

revisão

Marina Guedes

capa

Diogo Droschi

ilustração de capa

Anna Cunha

diagramação

Waldênia Alvarenga

Cet ouvrage, publié dans le cadre du Programme d’Aide à la Publication Atlantique noir de l’Ambassade de France au Brésil et de la Saison France-Brésil 2025, bénéficie du soutien du Ministère de l’Europe et des Affaires Etrangères.

Este livro, publicado no âmbito do Programa de Apoio à Publicação Atlântico Negro da Embaixada da França no Brasil e do Ano FrançaBrasil 2025, contou com o apoio do Ministério Francês da Europa e das Relações Exteriores.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Miano, Léonora

Stardust / Léonora Miano ; tradução Dorothée de Bruchard. -- Belo Horizonte, MG : Autêntica Contemporânea, 2024.

Título original: Stardust

ISBN 978-65-5928-430-6

1. Ficção francesa I. Título.

24-206568

Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura francesa 843

Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427

CDD-843

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Prólogo

Stardust foi o primeiro romance que compus com a intenção de publicá-lo. Escrito há mais de vinte anos, narra um momento marcante da minha vida, o período em que fui acolhida num centro de reinserção e acolhimento emergencial do 19º Arrondissement de Paris. Eu era então uma jovem mãe de vinte e três anos, sem domicílio e sem visto de permanência. Se falo aqui em composição e qualifico o texto como romance, é porque ele não constitui um diário dos meses passados naquela instituição. Os eventos vividos não são todos relatados. Algumas personagens foram omitidas, muitas situações não são descritas, as que o são nem sempre obedecem à exata cronologia. Meu desejo, mais que tudo, era me debruçar sobre minha vida no interior daquele abrigo, me libertar das histórias, dos rostos que, anos depois, continuavam a me assombrar. Por ser ele um texto tão pessoal, esperei um longo tempo para oferecê-lo aos leitores. Não queria ser definida por esses fatos passados, ser a sem-teto que escreve livros. Conheço a sociedade francesa e sua propensão a confinar suas minorias sobretudo nos aspectos degradantes – ou percebidos como tais – de suas trajetórias. Aos quase cinquenta anos, após numerosas publicações e algumas belas recompensas, não tenho nada a provar. É, então, mais fácil revelar que fui, outrora, essa jovem em situação de precariedade extrema. Também é hora de permitir que os que me têm acompanhado nesses anos todos me conheçam melhor, quiçá me compreendam. Dos meus prenomes, Louise é aquele a que respondo naturalmente na

vida de todo dia, além de Léonora. Quanto à minha filha, seu nome é uma versão japonesa de Bliss.

Embora Stardust tenha sido burilado ao longo dos anos, já que eu incansavelmente retornava a ele, o tema, o tom, o fraseado não podiam ser mudados. O que o foi: o título, os nomes das protagonistas – não raro, eu mantivera os verdadeiros – e o foco narrativo. O romance foi originalmente escrito na segunda pessoa do plural, o que o tornava uma invocação ressoando alto demais nos meus ouvidos para cumprir a função libertadora que eu esperava dele. A terceira pessoa do singular afasta os perigos inerentes a uma travessia do próprio infortúnio. A palavra pode falhar em libertar, recriar a desgraça com seu poder performativo. Acrescente-se que, face a uma sociedade que não se identifica conosco, o emprego do eu parece pouco pertinente. A força do eu vem de sua capacidade de representar um nós que não existia verdadeiramente para a jovem que eu era.

Tenho por ela um carinho imenso. Seu orgulho é o orgulho dos gravemente feridos. Tantos gritos formam a matéria dos seus silêncios. Sua fúria, que remontava aos dramas da infância, às violências também, por muito tempo habitou minha escrita. Sou-lhe grata por não ter posto fim aos seus dias no ano em que fez trinta anos, exaurida por provações que não cessaram com sua saída do centro de acolhimento, cansada de galgar infindavelmente a mesma montanha e não ver tomar forma o seu destino de cantora. O que mais uma vez a deteve foi a imagem de sua filha, a visão da menina deparando com o corpo sem vida da mãe. Porque se limitou a uma noite sem dormir e enfrentou com garra os dias que se seguiram, assinei meu primeiro contrato de edição e reingressei na universidade em 2004. Tínhamos trinta e um anos.

É uma França esquecida, a que se encontra em Stardust. Uma França de antes do euro, de quando a renda mínima de inserção (RMI) ainda não fora substituída pela de solidariedade

ativa (RSA). Esses detalhes constituem o cenário da história. O que realmente conta transcende o tempo. Hoje, como ontem, é possível entrar na França de maneira absolutamente regular e depois perder o direito de nela residir. Hoje, como ontem, acidentes da vida empurram pessoas de todas as origens e condições sociais para o fosso da exclusão. Stardust conta minha entrada na idade adulta e expõe uma profunda aspiração à verticalidade que nunca me deixou. Estas páginas são dedicadas à minha filha e à minha avó materna. Seu amor e confiança foram minha armadura e minha bússola.

Para Yasuna Para Régine

Up from a past that’s rooted in pain I rise…

Leaving behind nights of terror and fear I rise

Maya Angelou

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