sentido e identidade, por meio da imagem tornada mercadoria, à existência vazia do consumidor.16 O capitalismo aprendeu, assim, a confeccionar e a entregar, com imagens sintetizadas industrialmente, os dispositivos imaginários de que o sujeito precisa para aplacar o desejo. O capitalismo agora se reconhece como um mascate dos amuletos, das senhas, das cifras e das chaves que abrem portas no psiquismo dos fregueses. É o mercador dessas centelhas infinitesimais, irredutíveis, essenciais ainda que efêmeras, que o sujeito ativa para gozar. Agora, o capitalismo provê as faíscas que, para o sujeito desamparado, ocupam o lugar do objeto do desejo. Eis aqui, enfim, uma novidade mais grave, uma novidade cujo dorso de silício polido se pronuncia no skyline do tempo que se conta em séculos. Por trás do negócio da extração dos dados, que já foi descrito de forma prosaica nas capas das publicações jornalísticas, existe outro, mais esquivo à percepção imediata, mas muito mais volumoso. Expandidas, as relações industriais transbordam do chão de fábrica, das plantas industriais convencionais, inundam toda a sociedade e se tornaram relações superindustriais. Todas as imagens acessíveis em todas as telas e as linguagens que trafegam pelos meios de comunicação se tornaram mercadorias e são fabricadas industrialmente, ou, melhor, superindustrialmente. Impregnados de valor de troca, esses produtos atravessam a imaginação das pessoas. Por meio disso, o capital avança sobre as subjetividades e sobre as subjetivações. Anzóis libidinais e o valor da imagem da mercadoria
Tendo aprendido a confeccionar imagens e signos, o capitalismo forjou técnicas para arrebanhar o olhar e extrair os dados que estão ali, na superfície do olhar. Todos os processos imaginários que antes
FRANK, Gustavo. No topo de lista do mercado de moda, Nike é mais valiosa do que nunca. UOL, 14 ago. 2020.
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