Taylor Swift - A história completa

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Chas Newkey-Burden

A HISTÓRIA COMPLETA


Chas Newkey-Burden tradução: Ro dr igo S e a br a

TAYLOR SWIFT A HISTÓRIA COMPLETA


Originalmente publicado em língua inglesa pela HarperCollins Publishers Ltd. sob o título TAYLOR SWIFT: THE WHOLE STORY Copyright © 2014 Chas Newkey-Burden Copyright © 2014 Editora Gutenberg

Todos os direitos reservados pela Editora Gutenberg. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora. gerente editorial

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editor assistente

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diagramação

Christiane Morais de Oliveira

assistentes editoriais

Felipe Castilho Carol Christo revisão

Tiago Garcias Eduardo Soares

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Newkey-Burden, Chas Taylor Swift : a história completa / Chas Newkey-Burden ; tradução Rodrigo Seabra. -- 1. ed. -- Belo Horizonte : Editora Gutenberg, 2014. Título original: Taylor Swift: The Whole Story. ISBN 978-85-8235-192-5 1. Cantoras - Estados Unidos - Biografia 2. Swift, Taylor I. Título. 14-08687

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Índices para catálogo sistemático: 1. Cantoras norte-americanas : Biografia 782.42166092

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Meus agradecimentos a Chris Morris, Amy McCulloch e Rachel Kenny.


I N T R O D U Ç Ã O

No fim de 2013, Taylor Swift olha para o ano que passou e mal pode acreditar em como os últimos doze meses foram importantes para ela. Seu quarto disco, Red, elevou seu total de álbuns vendidos para a casa dos 26 milhões. Enquanto isso, suas músicas foram baixadas mais de 75 milhões de vezes, fazendo dela a artista mais bem-sucedida em meio digital de todos os tempos. As conquistas de Taylor ficam ainda mais impressionantes quando as comparamos com as de outros artistas. No começo daquele ano, por exemplo, ela se tornou o primeiro nome desde os Beatles a figurar como número um nas paradas por seis semanas ou mais, com três álbuns consecutivos. Tudo isso ela conseguiu antes mesmo de completar 24 anos. Apesar da pouca idade, Taylor foi tratada como uma veterana da indústria da música quando, em novembro de 2013, a Associação da Música Country norte-americana entregou a ela o Pinnacle Award, um prêmio especial que equivale a uma honraria pelo conjunto da obra. Normalmente premiações desse porte costumam ser concedidas a artistas que já passaram dos 50 anos. Na cerimônia de entrega foi exibido um vídeo-homenagem no qual Julia Roberts, Justin Timberlake e Mick Jagger dão declarações entusiasmadas sobre o talento e a influência da jovem cantora. Enquanto a indústria da música country trata Taylor como uma senhora experiente, os adolescentes que formam o mercado de música pop demonstram aos berros sua apreciação pela jovem que consideram alguém como eles. Publicações musicais sérias falam dela com reverência, enquanto revistinhas de fofocas de celebridades se mostram obcecadas por sua vida amorosa. E quem mais, senão Taylor, poderia levar o banjo para o universo pop de maneira tão graciosa e descolada, sem fazer nenhum esforço? 7


Ela é a princesa dos paradoxos. Enquanto muitos artistas se sentem limitados pelas fronteiras que separam a música da sua imagem pública, Taylor passeia tranquilamente de um lado para o outro. Aliás, além de beber nas águas do pop, ela também já escreveu rocks de arena ousados e até mesmo flertou com o dubstep. Essa moça de tantos contrastes consegue, em um mesmo disco, sussurrar letras com abordagens meigas e tocantes sobre amor e relacionamentos e disparar refrões furiosos falando de vingança, desafiando autoridades e denunciando injustiças. Ela é deslumbrante de um jeito óbvio, uma bela loira de pernas longas que ainda assim costuma brincar com o papel de esquisitinha e desajeitada. Em uma época de produções de palco escandalosas como as de Rihanna e Lady Gaga, Taylor Swift se destaca como a boa moça da família americana – uma diva bem comportada, com a doçura de uma torta de maçã, símbolo de seu país. Apenas semanas após sua amiga Miley Cyrus criar controvérsia mundial com sua dança provocativa (o twerking) em uma festa de premiação, a elegantíssima Taylor chamava atenção nas manchetes a seu próprio modo, dividindo um microfone com o príncipe William e com Jon Bon Jovi em um evento chique de caridade em Kensington Gardens. E aquele ano, que havia começado em Manhattan com um beijo em Harry Styles, o arrasa-corações do One Direction, terminaria em um high-five com o rapaz que um dia virá a ser o rei da Inglaterra. Nesse meio-tempo, a influente revista The New Yorker estampava na capa a chamada: “A maior estrela pop do mundo”. A respeitada – e em geral tão séria – Rolling Stone também se unia ao coro em favor de Taylor. Com foco nas apresentações da turnê Red, a revista mensal era só elogios: “Ver Taylor Swift ao vivo em 2013 é ver um maestro no melhor momento de sua carreira”. Nas aparências, Taylor sempre se mostrou muito tranquila, agindo como se todas essas experiências fossem apenas coisas normais do dia a dia. Mas, por dentro, mal devia acreditar no quanto sua vida havia se tornado emocionante. É um mundo muito distante daquele no qual ela cresceu.

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Um

C A P Í T U L O

C

omo as coisas poderiam ter sido diferentes... Não era para Taylor Swift ter se transformado em cantora e compositora; era para ela ter sido corretora de ações. Seus pais até mesmo escolheram seu nome de batismo já tendo em vista a carreira nos negócios. A mãe, Andrea, quis um nome neutro para sua filha, que servisse tanto para um menino quanto para uma menina, justamente para que, quando crescesse e fosse procurar emprego na área de finanças, predominantemente masculina, ninguém soubesse de antemão se ela era homem ou mulher. Embora fosse um plano nascido do puro amor maternal, não viria a se tornar realidade. Ao contrário, hoje, milhões e milhões de fãs no mundo inteiro sabem exatamente qual o sexo da primogênita de Andrea mesmo sem nunca tê-la visto pessoalmente. Em sua música “The Best Day”, que de forma emocionada evoca uma infância cheia de descobertas, Taylor fala de seu pai “maravilhoso, cujo forte é me fazer mais forte”. O pai maravilhoso em questão é Scott Kingsley Swift, que estudou Administração na Universidade de Delaware. Na época em que morou no alojamento estudantil Brown, fez muitos amigos, entre eles, Michael DiMuzio, que cruzaria anos mais tarde o caminho profissional de Taylor. Scott se formou com honras de primeiro da classe e se dedicou a construir sua carreira com igual determinação. É possível que essa tendência para os negócios esteja nos genes; seu pai e seu avô também trabalhavam com finanças. Scott montou seu próprio banco de investimentos, chamado Swift Group, que dava assessoria de investimentos e trabalhava sob a chancela do grupo Merrill Lynch. Ele se juntou ao mundialmente conhecido grupo na década de 1980 e ascendeu rápido, chegando a ser vice-presidente. Com frequência, precisava viajar a trabalho. Foi justamente em uma dessas viagens, na cidade de Harris, no Texas, que ele conheceu uma 9


moça seis anos mais nova chamada Andrea Gardner Finlay. Como ele, ela também trabalhava com negócios – era gerente de marketing em uma agência de publicidade – e era também uma pessoa extremamente determinada e dedicada ao seu trabalho. Os dois logo perceberam que tinham muita coisa em comum, mas Andrea estava mais focada em sua carreira e não fazia planos de casamento quando Scott apareceu em sua vida. Ela tinha trabalhado duro para entrar no ramo de negócios, que, no fim dos anos 1970, era território quase exclusivo dos homens. Mesmo assim, conquistou seu lugar e se sentia imensamente orgulhosa de tê-lo feito. Como Taylor depois viria a contar em um programa de entrevistas, sua mãe, antes de conhecer Scott, “tinha sua própria carreira, morava sozinha” e era financeiramente independente. Esse aspecto do passado despertou na jovem um grande respeito por Andrea e veio moldar sua própria maneira de ser quanto à vida profissional e pessoal. Por ter trabalhado tanto e ter sido tão forte naqueles tempos, Andrea não se mostrava disposta a se distrair com qualquer coisa. Quando conheceu Scott, porém, seu coração falou mais alto e eles logo se apaixonaram. Casaram-se no Texas no dia 20 de fevereiro de 1988 e logo em seguida se mudaram para a Pensilvânia, estabelecendo-se nas vizinhanças de West Reading, no condado de Berks. Então, aos 30 anos de idade, Andrea descobriu que estava grávida. Sua menina nasceu em 13 de dezembro de 1989 na região vizinha de Wyomissing. Deram-lhe o nome de Taylor Alison, e desde cedo a garotinha já dava sinais de sua propensão ao estrelato que viria anos depois. Isso porque, horas após seu nascimento, ela já havia impressionado ao menos um membro da equipe do hospital. Foi um pediatra que disse a Andrea: “É uma menina de ótima personalidade, mas ela sabe muito bem o que quer e como consegui-lo”. Na época, Andrea ficou se perguntando de que raios o médico estava falando. Afinal, como ele podia conhecer tão bem a personalidade de um bebê que tinha apenas horas de vida? Com o tempo, Andrea concordaria que a descrição tinha sido bem certeira. A condição de primogênita de Taylor é um tanto pertinente para aqueles que acreditam na “teoria da ordem de nascimento”, que diz que muito do seu caráter e das experiências futuras são determinadas pela sua posição como filho da família – o primeiro filho, o do meio, o caçula ou um filho único. O caso é que primogênitos desfrutam de atenção constante de seus pais até a chegada de um irmãozinho. Características típicas de um primogênito incluem uma necessidade muito forte de 10


agradar e uma tendência acentuada a se adequar às normas. No entanto, são eles também que demonstram mais responsabilidade e liderança quando em situações de crise. Eles podem ainda ser afetuosos e atenciosos, mas estão sempre vulneráveis a momentos de excessiva autocrítica e de ciúmes – emoções que afloram no momento em que descobrem que eles não são mais a única criança da casa e percebem que a atenção e os cuidados dos pais agora estão direcionados para outra pessoa. Para os astrólogos, os traços ambíguos são próprios de Sagitário, signo de Taylor. Aqueles nascidos sob esse signo podem ser, pelo lado positivo, honestos, generosos e bastante carismáticos. Já pelo outro lado, tendem a ser descuidados, superficiais e pecar pela falta de tato com as pessoas. Outros sagitarianos famosos incluem Nicki Minaj, Jimi Hendrix, Frank Sinatra e Brad Pitt. Taylor começou sua vida em um lugar que tinha pertencido ao pai de Scott, uma fazenda de pinheiros de quatro hectares, localizada na cidade de Cumru. A propriedade propiciava uma renda extra para a família e permitia que eles vivessem com ótima qualidade de vida durante a infância da menina. Para ela, aquele lugar era imenso – “e era o lugar mais mágico e maravilhoso do mundo”, segundo descreve. Podia correr para todo lado e deixar a imaginação fluir como quisesse, algo que se provaria fundamental para seu desenvolvimento emocional e criativo. Enquanto tantas circunstâncias podem levar a um esvaziamento das aspirações artísticas de uma criança, a infância de Taylor, ao contrário, fomentou e encorajou seus sonhos. Em seu inspirador livro Guia prático para a criatividade – O caminho do artista, Julia Cameron descreve de maneira contundente o quanto isso é importante para qualquer jovem criativo. Se os sonhos de Taylor tivessem sido demolidos quando criança, ela poderia ter ido mexer com finanças, como seus pais planejaram originalmente, e se tornaria mais uma artista não realizada a vagar pelo mundo. Aos 3 anos, Taylor ganhou um irmãozinho com a chegada de Austin, nascido em 4 de março de 1993. Dois anos depois, Andrea decidiu deixar sua carreira de lado e se tornar mãe em tempo integral. Sua influência sobre Taylor foi fortíssima. “Com toda certeza, ela me educou para ser lógica e prática”, afirma a filha. “Fui criada tendo como modelo uma mulher muito forte, e acho que é por isso que hoje eu não gosto de deixar nada pela metade.” Taylor fala de seus pais usando palavras que contrastam um pouco, mas que são bem medidas. A personalidade racional e pé no chão de Andrea é compensada pela natureza de Scott, que, de acordo 11


com Taylor, “é meu ursão de pelúcia, que vive me dizendo que tudo o que eu faço é perfeito”. Ao passo que Andrea é descrita como “realista”, a filha diz que Scott vive “com a cabeça nas nuvens” e é um otimista. Mas ele não é necessariamente o tempo todo aquele pai babão que sempre acha que o copo está meio cheio. Seu aconselhamento financeiro muito bem ponderado tem sido de grande valor para Taylor, especialmente depois que ficou famosa. “Do ponto de vista dos negócios, ele é brilhante”, explica. Mas, muito embora os pais tivessem todo um planejamento financeiro elaborado para a menina desde que nasceu, ela mesma decidiu seguir outros caminhos. Ainda aos 3 anos, começou a cantar, e mesmo naquela idade já impressionava as pessoas com sua versão do clássico “Unchained Melody”, dos Righteous Brothers. Adorava a sensação de cantar de maneira inspirada aquelas palavras, e descobriu cedo que tinha uma excelente memória para letras e melodias. Quando Scott e Andrea a levavam ao cinema, ela voltava para casa cantando músicas da trilha sonora. De alguma forma conseguia decorar a letra e a melodia ouvindo apenas uma vez. Taylor contou ao Daily Mail que seus pais ficavam “horrorizados” com sua memória musical. “Eu conseguia lembrar mais de música do que de qualquer outra coisa”, ela diz. De onde veio essa mágica? Para encontrar a aptidão musical na família, precisamos saltar uma geração e ir conhecer a avó materna de Taylor, Marjorie Finlay. Carismática e animada, Marjorie se tornou uma cantora de ópera admirada em muitos países. Casou-se com um homem cujo emprego na indústria do petróleo o obrigava a viajar pelo mundo, e assim acabou se apresentando em lugares tão díspares quanto Estados Unidos, Cingapura e Porto Rico. Dez anos depois de ter sua filha Andrea, Marjorie e sua família migraram para os Estados Unidos. Ali ela se viu com uma gama de novas oportunidades, incluindo uma afiliação à Grande Ópera de Houston. Participou de musicais como O barbeiro de Sevilha, de Rossini, e A noiva vendida, de Smetana, e de outras produções menos eruditas, como Amor, sublime amor [West Side Story], de Bernstein. Também trabalhou na televisão, apresentando um programa líder de audiência na América Latina chamado The Pan American Show. Era uma figura vivaz e às vezes cômica. Taylor conta à revista Wood & Steel que o espanhol de sua avó era tão ruim que se tornou piada para muitos espectadores, que a consideravam “inacreditavelmente engraçada”. Seu carisma foi então herdado por sua neta. O próprio Scott já notou diversas similaridades entre sua sogra e a filha. “As duas têm aquela 12


habilidade mágica de entrar em uma sala e lembrar dos nomes de todo mundo”, ele diz. “Taylor tem inclusive a mesma graciosidade e o mesmo tipo físico da mãe de Andrea. Minha sogra tinha a qualidade única de chegar em um lugar e cativar todo mundo de imediato.” Taylor se lembra da emoção enorme que era ver sua avó cantar, e também percebeu logo a atração exercida por Marjorie, algo que a deslumbrou. “Ela aparecia em um lugar e todo mundo se virava para vê-la, não importava o que estivessem fazendo”, disse Taylor ao Sunday Times. Para a jovem, aquela qualidade indecifrável que ela identificou em Marjorie dava à senhora uma característica muito admirada pelas crianças. Era o que fazia da avó alguém “diferente de todo mundo”, nas palavras de Taylor. E a neta queria muito ter aquela mesma qualidade. Apesar de ter essa herança dentro da indústria do entretenimento, Taylor cresceu em uma família mais convencional. Os Swifts são, por exemplo, bastante católicos. Taylor começou seus estudos na escola Alvernia Montessori, dirigida por freiras. “Ela sempre gostou de cantar”, disse a diretora da escola, Anne Marie Coll, ao Reading Eagle. A família podia sempre ser vista na igreja, e esse hábito ajudou Taylor a ganhar experiência de canto, já que ela se esmerava nos hinos. Foi aos 6 anos que começou a ouvir música de maneira mais séria. Uma das primeiras artistas a chamar sua atenção foi LeAnn Rimes, a cantora de country e pop que ficou famosa aos 14 anos. Taylor teve de descobrir sozinha os encantos de Rimes, uma vez que aquele tipo de música não era muito comum em seu ambiente familiar. Andrea, por exemplo, era fã de coisas mais puxadas para o rock, como o Def Leppard. Taylor diz que a mãe ouviu muito as músicas deles quando estava grávida. No entanto, os Swifts podem ser considerados “uma família bem eclética no que se refere a gostos musicais”, o que significa que Taylor teve como procurar suas próprias preferências. “LeAnn Rimes foi meu primeiro modelo na música country”, diz ao Guardian. “Ganhei o primeiro disco dela quando tinha 6 anos. E eu adorava o fato de que ela fazia música e tinha uma carreira mesmo sendo tão jovem.” Ela viria ainda a se apaixonar por outros artistas, como Shania Twain e as Dixie Chicks. Começou então a explorar a história da música country, indo mais fundo e descobrindo, para seu deleite, cantoras mais antigas, como Dolly Parton e Patsy Cline. Segundo conta, “caiu de amores” por aquela sonoridade e pelas histórias que são próprias do gênero. “Eu me identificava com aquilo. Não sei dizer bem por quê. Para mim, foi uma coisa instintiva.” Aos 10 anos, estava absolutamente fascinada por Shania 13


Twain. O que mais impressionava Taylor era a natureza independente da cantora e o fato de que “ela mesma escrevia todas as suas músicas”. Como declarou à revista Time, “aquilo significava muito para mim, mesmo aos 10 anos de idade. O que importava eram as histórias que ela contava naquelas músicas – eram histórias saídas de sua vida”. Nesse meio-tempo, Taylor seguia demonstrando vez por outra aquela mesma aura de estrela que sua avó famosa possuía. Talvez Marjorie tivesse conferido diretamente à neta todo o seu carisma. Andrea se lembra de organizar fotos de família para o Natal quando Taylor tinha apenas 5 anos. Segundo conta em entrevista à revista Sugar, a filha “posava de verdade” para as fotografias. De fato, isso transparecia tanto que o próprio fotógrafo sugeriu que Taylor tentasse uma carreira como modelo infantil em Los Angeles. Preocupada com a má reputação desse tipo de atividade, Andrea decidiu que aquele não seria um bom caminho para sua menina. Taylor, por sua vez, permanecia procurando uma carreira nas artes, mas não se limitava somente à música. Ela disse ao Washington Post que escrever se tornou uma obsessão quando ainda era bem nova. “Escrever é algo que acontece involuntariamente para mim”, conta. “Eu estou sempre escrevendo.” Essa obsessão começou com um fascínio por poesia e por “tentar encontrar a perfeita combinação de palavras, com a quantidade perfeita de sílabas e a rima perfeita para fazer com que aquilo ganhasse vida no papel”. Assim como acontecia com a música, descobriu que os poemas que lia também ficavam em sua cabeça. Repetia as rimas mais envolventes que tinha lido e então tentava criar alguma coisa que se parecesse com aquilo. Nas aulas de Literatura, a maioria dos colegas reclamava quando a professora mandava escrever poemas. Não era o caso de Taylor. Antes mesmo de se dar conta, já tinha produzido três páginas de versos, muitos dos quais já mostravam grande valor. No quarto ano do ensino fundamental, a jovem participou de um concurso nacional de poesia com uma obra de sua autoria chamada “Monstro no meu armário”. A competição a deixou empolgada. O poema trazia versos como “Há um monstro em meu armário e eu não sei o que fazer / Você alguma vez já o viu? / E ele alguma vez já te atacou?” [There’s a monster in my closet and I don’t know what to do / Have you ever seen him? / Has he ever pounced on you?]. Ele foi depois acrescido de novos versos. Taylor o selecionou com cuidado em meio a seus escritos. “Escolhi o mais engenhoso que eu tinha. Não queria pegar um muito sombrio”, ela disse. Após vencer o concurso, Taylor se viu “consumida” pelo desejo de estender aquele sucesso e escrever rimas cada vez melhores. 14


Ela também adorava ler histórias, especialmente A árvore generosa, um livro infantil escrito e ilustrado por Shel Silverstein. Publicado nos anos 1960, o livro conta a história da amizade entre uma árvore e um homem. Taylor também adorava a série Amelia Bedelia, criada por Peggy Parish e escrita mais recentemente por seu sobrinho Herman Parish. Tais histórias se transformaram em uma paixão para a jovem, que adorava tanto lê-las quanto recontá-las. “Tudo o que eu queria fazer era falar dessas histórias e ouvir mais ainda”, disse à jornalista e apresentadora Katie Couric. “Eu deixava minha mãe louca.” A menina se recusava a ir dormir se ninguém lesse uma história para ela. “E sempre queria ouvir uma nova”, salienta. Toda essa leitura acendeu uma centelha criativa em sua cabeça. Andrea lembra que “Taylor escrevia o tempo todo” quando criança. Diz que, se a filha não tivesse feito sucesso com a música, provavelmente seria escritora ou jornalista. Aliás, ainda é possível que ela siga esse primeiro caminho. Afinal, durante um verão, em férias escolares, Taylor chegou a escrever um romance inteiro. Era um texto de 350 páginas sobre o qual nunca falou muito – mas também nunca negou que o publicaria. Pode ser que os fãs ainda venham a ler essa história. Certamente atrairia muita atenção e venderia bastante. Os eventuais leitores não devem se surpreender se esse romance tiver também um lado meio sombrio. Quando criança, Taylor costumava sonhar com conversas imaginárias e tramas inteiras envolvendo os esquilos e os pássaros que eram caçados e mortos em torno de sua casa pelos gatos da região, o que sugere uma faceta um tanto sombria sob toda aquela aparência da boa garota norte-americana de cabelos loiros. Taylor também escrevia contos que impressionavam seus professores, porque demonstravam que a jovem tinha conhecimentos em sua língua muito superiores aos esperados naqueles anos escolares. Ela diz que deve muito de sua imaginação criativa à fazendinha de pinheiros. Foi correndo livre por lá que a menina criou suas “histórias e contos de fadas a partir de fatos corriqueiros”, segundo se lembra. A fazenda também propiciou um trabalho interessante para Taylor em sua juventude. Foi dada a ela uma função peculiar: catar os ovos de louva-a-deus que ficavam nas árvores. Essa tarefa era muito importante para evitar que as casas ficassem infestadas de bichos. A jovem percorria as árvores, uma a uma, e ia removendo todos os ovos que encontrava. A importância de seu trabalho ficou clara em uma ocasião quando se esqueceu de checar as árvores. Os louva-a-deus chocaram aos montes e invadiram as casas da região. “Havia centenas de milhares deles”, contou 15


a Jay Leno durante uma entrevista no Tonight Show. “E havia muitos filhotes, e ninguém podia matá-los, ou significaria má sorte para o Natal.” No entanto, apesar de pequenas falhas como essa, nunca sofreu punições muito duras durante a infância – acima de tudo porque sua maior crítica era ela própria. Era Taylor quem mais exigia uma boa conduta de si mesma. “Quando eu fazia alguma travessura, eu mesma me mandava de castigo para o quarto”, contou ao Daily Mail. Andrea não era exatamente uma mosca-morta – muito pelo contrário –, mas normalmente hesitava em punir a filha, porque a menina era quase sempre “muito severa consigo mesma”. Taylor ainda não sabia o que queria fazer da vida quando crescesse. Quase sempre dizia para as pessoas que seria corretora de ações, mas, apesar de a família atuar nesse meio, ela nem entendia o que aquilo queria dizer. Os amigos diziam que queriam ser astronautas ou bailarinas, “e eu aparecia com ‘Quero ser consultora financeira’”. Tinha sido bem difícil para Andrea e Scott se ajustar à realidade da vida no campo, especialmente para Scott, que levava uma vida entre dois extremos: durante o dia, na cidade, tinha um emprego de alto escalão no setor financeiro; à noite, vinham as obrigações da vida de camponês. Mas Taylor florescia em contato com a vida rural. Adorava fazer trilha com pôneis, pegar carona nos tratores, construir fortes no celeiro, rodar pelos pomares e adotar bichinhos selvagens que apareciam nas redondezas. Essa vida muito ligada à terra, com tanto amor à natureza, influenciou sua música nos anos que viriam. De modo mais imediato, entretanto, isso teve um impacto na aparência da mocinha: seu cabelo se tornou embaraçado e rebelde. Taylor depois viria a declarar que adorou crescer em um lugar com “tanto espaço”, onde era livre para ser “uma criança maluquinha de cabelo embaraçado”. Ao se aproximar do marco que representam os 10 anos de idade, Taylor, já tão afeita à música country, começou a juntar o pop às suas preferências musicais – ou pelo menos assim ela tentava. Entre os artistas que ouvia nessa época estavam Natasha Bedingfield, as Spice Girls e o grupo Hanson. Traços desse pessoal podem ser encontrados no quarto disco de Taylor, chamado Red. Também ouviu os Backstreet Boys e Britney Spears, criando coreografias para seus maiores sucessos junto com uma amiga. O pop não foi exatamente uma paixão duradoura para Taylor, mas foi divertido enquanto durou. Aos 10 anos, decidiu que sua vontade era se apresentar em público. Já tinha participado de pequenas produções locais, incluindo até o 16


papel de um garoto chamado Freddie Fala-Rápido em uma peça. Para Taylor, o fato de ser um papel masculino – e, acima de tudo, o vilão da história – não fazia diferença. “Eu pensei: ‘Tudo bem, eu me visto de menino, desde que eu possa cantar aquela música’”, relembra. O incentivo seguinte veio quando ela assistiu à companhia de teatro local para crianças, chamada Associação Teatral Infantojuvenil do Condado de Berks, encenando A fantástica fábrica de chocolate, o clássico de Roald Dahl. Ela adorou a peça e sentiu que ela mesma deveria estar no palco. Dias depois, lá estava a menina de volta ao teatro, fazendo um teste para um papel em uma montagem de Annie. Causou uma impressão boa o suficiente para se juntar ao grupo. Ali, Taylor conheceu outros jovens que eram como ela, de um jeito que ela julgava muito importante: todos tinham aquela vontade enorme de se apresentar e de ser bem-sucedidos naquela área. Havia muita competitividade e até mesmo inveja, mas ao menos a garra demonstrada por aquelas crianças daria a Taylor um renovado impulso, porque ela necessariamente tinha de melhorar cada vez mais e manter o foco. Foi naquele local que suas ambições ganharam corpo. Com o tempo, foi percebendo que tinha muitas qualidades consideradas boas dentro da Associação Teatral. Para começar, era alta, o que significava que tinha o domínio de palco necessário para os papéis principais. Quando chegou para seu primeiro teste, achou que sua altura seria uma desvantagem, por fazê-la se destacar demais entre os outros. Isso veio se somar aos episódios de ansiedade que ela já vinha apresentando naqueles tempos. Felizmente, conseguiu o papel em Annie, ainda que fosse pequeno e bem misturado ao resto do elenco. De acordo com uma fonte consultada, praticamente todo mundo que fez aquele teste ganhou um papel na produção. A confiança adquirida com a experiência em Annie a ajudou, contudo, a conseguir seu primeiro papel principal. Seria em uma montagem da famosa história A noviça rebelde. Ela encenou seu papel com enorme segurança – tanta que, ao contrário do que era norma na Associação, não tirou folga no resto do fim de semana. Em vez disso, foi convocada para todas as apresentações. Logo em seguida, conseguiu também o papel de Sandy na produção de Nos tempos da brilhantina. Enquanto cantava as músicas, Taylor percebeu que estava instilando em sua performance uma veia decididamente country. “Era só isso que eu ouvia em casa, então acho que saiu assim naturalmente”, contou ao canal de TV Great American Country. 17


E naquele momento nasceu algo que iria acompanhá-la em toda a sua história: havia decidido que “música country é o que eu tenho de fazer”. Enquanto isso, ia levando a sério a perspectiva de fazer mais musicais. Viajou para Nova York para testes nos circuitos Broadway e off-Broadway. Kirk Cremer, seu preparador vocal, se tornou seu empresário não oficial nessas tentativas. Ele assegurou que Taylor se apresentasse com fotos de nível profissional e sempre estava ao lado da jovem nos compromissos em Manhattan. Taylor relembra essa época em uma conversa com o Inquirer Entertainment, dizendo que “ficava em uma fila em um corredor comprido junto com um monte de gente”. Algum tempo depois ela conseguiria ainda outro papel principal em uma montagem de Adeus, amor. Nessa peça, seu papel era o de Kim MacAfee, a moça que nutria uma paixão secreta por um astro do rock. A produção teve bem menos sucesso que as anteriores e foi marcada por inúmeros problemas. No entanto, àquela altura, ela já tinha decidido que seu futuro estava mesmo na música country, então não foi difícil lidar com a decepção. A partir daquele momento de iluminação, ela deu início a um processo que continua até hoje em intensidade cada vez maior. Sua urgência era a de criar oportunidades para cantar suas músicas favoritas em frente a um público. Isso começou no karaokê, e ela começou usando o equipamento da Associação Teatral. Escolhia as músicas e então cantava para os colegas de elenco em festinhas. Gostava tanto de fazer isso que se sentia fazendo “a melhor coisa do mundo”. Nessas performances, recebeu muitos elogios. Uma noite em particular, enquanto Taylor estava lá na frente arrasando em um clássico qualquer do country, alguém chegou para sua mãe e disse que aquilo era o que a menina deveria fazer da vida. Era uma sensação que cada vez mais tomava conta da própria Taylor e de sua família. O que precisava fazer era ir adiante e procurar públicos diferentes. Um dos lugares escolhidos foi o Pat Garrett Roadhouse, onde mais uma vez participou de concursos de karaokê. O bar enfumaçado não parecia o melhor lugar para uma pré-adolescente, mas seus pais entenderam o que aquilo significava para ela e permitiram que fosse lá e competisse, desde que eles sempre a acompanhassem em cada centímetro do trajeto. Houve até uma vez em que outro pai da Associação Teatral os acusou de serem aquele tipo detestável de pais que exploram seus filhos, mas Taylor prefere enxergar isso como incentivo, não como pressão familiar. 18


Em entrevista ao canal Country Music Television, ela fala mais sobre pressão e influência da família. Taylor acredita que virar para uma criança e dizer que ela pode ser o que quiser e que deve sempre ir atrás de seus sonhos é apenas metade do processo. A outra metade consiste em os pais acreditarem mesmo naquilo que dizem – “e meus pais realmente acreditavam”, diz a cantora. Mas esclarece que seu pai e sua mãe jamais a pressionaram nesse sentido. Na verdade, complementa, se eles tivessem feito isso, ela provavelmente nunca teria sido tão bem-sucedida quanto foi. De modo que a menina, então, continuou a frequentar o bar do Pat Garrett toda semana. Os pais podiam não ser insistentes, mas a própria Taylor era, com muito orgulho. “Eu era tipo uma luz irritante acesa o tempo inteiro”, conta ao CMT News. “Não os deixava em paz. Eles faziam esses concursos de karaokê, e eu continuava indo até ganhar.” Taylor também levava seu violão para muitos outros palcos, incluindo cafés e até reuniões de escoteiros. Sua persistência valeu a pena, pois um sucesso ainda maior estava chegando rapidamente. Em uma ocasião particularmente especial, venceu um concurso de karaokê com uma música de LeAnn Rimes, chamada “Big Deal”. Como parte de seu prêmio, ganhou a oportunidade de abrir o show da lenda da música country Charlie Daniels. Depois de conquistar o público geralmente desatento dos bares de karaokê, Taylor começou a mirar plateias maiores. Na sua lista de prioridades, vinham lá no alto as equipes de esportes, que sempre precisavam de alguém que cantasse o hino nacional antes das partidas. Os Reading Phillies, o time de beisebol local, foram um dos primeiros a convidarem a moça. Depois de ganhar experiência com algumas performances, passou a almejar ainda mais. Para ela, essa questão era simples: “Eu percebi que, cantando só aquela música, eu aparecia na frente de vinte mil pessoas sem nem mesmo ter contrato com uma gravadora”, disse depois à Rolling Stone. Ela cantou na abertura do torneio de tênis US Open e depois em uma partida dos Philadelphia 76ers. Era abril de 2002. Taylor apareceu maravilhosamente patriótica no palco, com uma camiseta repleta de bandeiras norte-americanas. Quando depois assistiu à apresentação, riu do quanto parecia estar nervosa. E ela realmente estava, segundo conta, mas ainda assim qualifica a experiência como “espetacular”. Enquanto saía do campo após a apresentação, Taylor viu o famoso rapper Jay-Z sentado na plateia. Assim que passou por ele, o astro estendeu a mão para um high-five com a mocinha, dando os parabéns. Ela 19


ficou extasiada; diz que se vangloriou daquele encontro “por, tipo, um ano inteiro”. Que belo troféu para a pequena aspirante a cantora! Cantar o hino nacional ficou cada vez mais fácil com o tempo, mas admite que ainda ficou ansiosa quando teve de se apresentar em uma partida da World Series entre os Philadelphia Phillies e os Tampa Bay Rays. Diz que o “desafio”, como ela chama, vinha do fato de que “quarenta mil pessoas estavam caladas no estádio e ela era a única cantando”. Taylor se lembra de que aquele primeiro momento de silêncio que experimentou foi “surreal”. E ela então partiu para fazer o que qualquer artista naquela posição tem de fazer, por mais pavoroso que seja: preencher o silêncio com sua própria voz melodiosa. “Foi bem assustador no começo”, conta à revista Elle Girl. Algo que aprenderia com o tempo é que a melhor maneira de lidar com aquele nervosismo era simplesmente continuar cantando. “A cada show que faço, vai ficando mais fácil”, explica. E começou a perceber que aquela técnica funcionava melhor do que qualquer outra. Quando tentou, por exemplo, a velha tática de imaginar todos na plateia só com as roupas de baixo, descobriu que aquilo não funcionava para ela “de jeito nenhum”. Pode ser novidade para muita gente que a conheceu naquela época saber hoje sobre tamanho nervosismo, uma vez que a menina aparentava extrema autoconfiança. Seu empresário, Kirk, que inclusive já se apresentava como tal, ficou tão impressionado com o contínuo progresso da jovem que arranjou para que ela gravasse algumas faixas no estúdio de seu irmão mais velho, Ronnie. Entre as músicas registradas, havia covers de algumas de suas artistas preferidas, incluindo “Here You Come Again” (Dolly Parton), “One Way Ticket” (LeAnn Rimes) e “There’s Your Trouble” (Dixie Chicks), entre outras. Ela adorou entrar em estúdio, ficar à frente do microfone, usando headphones. Quando viu a mesa de controle ficou se perguntando para que servia tudo aquilo. Mas, acima de tudo, sentiu que estava se transformando em uma artista profissional, exatamente como suas heroínas. Os ídolos da música country a influenciaram de maneiras diversas. A inspiração e os modelos vieram principalmente de três cantoras, como ela mesma explica à revista Rolling Stone. “Eu percebi que Shania Twain demonstrava uma independência enorme e um apelo que cruzava as barreiras do gênero musical; enquanto isso, Faith Hill trazia de volta o glamour à moda antiga, junto com sua beleza e graça; e as Dixie Chicks tinham um ar de ‘não estou nem aí para o que você acha’. Eu adorava 20


essas características nessas mulheres, o que elas eram capazes de fazer e o que elas traziam para a música country.” Taylor estava sendo influenciada não apenas como cantora, mas também como mulher; era o girl power em sua essência, mas com um sotaque country. Sua vida nos palcos estava se mostrando muito excitante, enquanto a vida em família se tornava cada vez mais prazerosa e confortável. O trabalho duro de seus pais compensou enormemente e mudou para muito melhor a vida dos Swifts. A nova casa de seis quartos era uma bela e invejável construção que ficava em um local privilegiado, na Grandview Boulevard, número 78, na cidade de Reading, estado da Pensilvânia. Segundo relatos, ela tinha até um elevador e uma piscina coberta, acrescida de uma banheira de hidromassagem. A casa em estilo neoclássico era bem grande e espaçosa, com seus 470 m 2. Uma avaliação posterior da residência descreve “um escritório bem iluminado”, onde Taylor praticava violão. Quando a casa voltou ao mercado, no verão de 2003, foi avaliada em 799.500 dólares. Na época em que a família foi para lá, Taylor ficou com o sótão. Dada a imensidão da casa, isso significava que ela de fato tinha um andar inteiro para si, composto por três quartos e um banheiro. Na prática, era quase como se a menina tivesse seu próprio apartamento aos 11 anos. Quando os amigos vinham visitar, ficavam chocados, e alguns inclusive com inveja, quando viam o luxo em que ela vivia. No grupo de teatro havia crianças de todos os níveis sociais, e algumas delas nem imaginavam que alguém podia viver com tanta opulência. Taylor era uma garota de recursos, mas fazia o que podia para mitigar os olhares enciumados. Nas férias, a família se mudava para a bela casa de veraneio em Stone Harbor, no estado de Nova Jersey. Os norte-americanos se refugiam lá aos montes, vindos de toda a costa leste e mesmo de mais longe. O New York Times descreve a região como “quarteirões e mais quarteirões de pequenas mansões genéricas e lojas elegantes” e como uma das cidades mais ricas dos Estados Unidos. O local ficou bem conhecido posteriormente graças ao tosco, porém divertido, reality show televisivo Jersey Shore. Para Taylor, a cidade é parte fundamental de sua história. “É um lugar onde construí muitas lembranças da minha infância”, ela diz. Taylor – que, em certa feita, disse à revista Sea Ray ter “vivido com um colete salva-vidas” até os 4 anos de idade – sempre adorou aquele resort à beira-mar, onde sua família adquiriu a propriedade quando ela tinha apenas 2 anos. Ela considera Stone Harbor um lugar “mágico”. Amava nadar no mar e praticar esportes aquáticos, incluindo velejar e 21


andar de jet ski, muito embora, de maneira geral, nunca tenha sido uma pessoa muito dada a esportes. Às vezes conseguiam ver um golfinho, e era uma experiência maravilhosa ficar perto de tanta beleza natural. “Havia tantos lugares para explorar, fosse investigando uma ilhota no braço de mar ou descobrindo uma sorveteria nova na Rua 96”, ela diz. Quando entrava na Springer’s, sua sorveteria preferida por lá, ficava tomada pela indecisão. A lista de sabores era tão grande, que era muito difícil escolher um só. Ela geralmente ficava satisfeita com flocos. A lojinha, conduzida com orgulho pela família Humphreys, é uma das favoritas de Taylor. Também adorava ir a um restaurante italiano na mesma rua, onde devorava saladas Caesar e pizzas. Ela conta que, graças aos verões da família em Stone Harbor, “não poderia ter tido uma infância melhor”. A casa dos Swifts ficava bem em frente a uma reserva de pássaros, de modo que Taylor podia apreciar a vista de seus amigos emplumados sem nem sair do quarto. Apenas abria a janela, pegava os binóculos e se deliciava com todas aquelas aves. Em alguns dias, inclusive, não fazia quase nada além disso, de tão encantada que ficava. Em outros, no entanto, acordava disposta a aprontar, especialmente na parada anual de barcos que marca o Dia da Independência norte-americana. “No dia 4 de julho, a gente se juntava no deque enquanto os barcos estavam passando e jogava balões de água neles”, ela conta ao Philly. com. A jovem também se renovava criativamente durante esses verões. Muitos artistas dizem que estar próximo à água é uma experiência mágica, que desperta a criatividade, e esse certamente parece ser o caso de Taylor. “Me foi permitido ser uma criança meio esquisitinha, fora do usual e imaginativa. Ser desse jeito era, para mim, a melhor parte de passar esse tempo na praia”, lembra Taylor. Parte dessa energia criativa se mostrou na forma de experimentos musicais e arroubos literários, como no caso do já mencionado romance. A jovem decidiu escrevê-lo porque sentia falta dos amigos. Colocá-los no papel fazia com que se sentisse mais próxima deles. “Eu mandava capítulos inteiros para o pessoal lá da minha cidade”, ela diz. Já outra parte dessa energia era direcionada para atividades domésticas. Taylor desde cedo mostrou sinais de que tinha jeito para dona de casa. Por exemplo, tomou posse do quarto que ficava sobre a garagem e o transformou em seu refúgio particular, um santuário no qual ela era a rainha. “Pintei o quarto de muitas cores e passava o dia todo lá, mesmo que não tivesse nada pra fazer, só sentada no meu clubinho – porque eu podia dizer que ele era meu”, conta. 22


Havia uma coisa – ou melhor, uma pessoa – que ela não tinha como chamar de sua, por mais que quisesse. Era um garoto que morava ao lado da residência de verão dos Swifts e que tomou de assalto sua imaginação. Ele passava bastante tempo na casa dela, uma vez que seus pais eram amigos dos pais de Taylor. Não demorou muito para que começasse a sentir uma vontade enorme de ficar mais próxima dele. Na verdade, Taylor decidiu que queria se casar com o garoto. O problema é que, enquanto desejava em silêncio que ele a chamasse para sair, ele só ficava contando, em detalhes, a respeito das outras meninas em que estava de olho. A rejeição que sentiu nessa paixão não correspondida deu a ela a fagulha criativa para escrever uma de suas primeiras canções. “Eu me sentia meio que invisível”, confessa. “Claro que sentia. Então escrevi uma música falando disso.” Como veremos, aquela composição veio fazer parte do primeiro disco da cantora, ainda que apenas como faixa-bônus. Ela ainda escreveu uma segunda música sobre seus dias na praia, chamada “Smoky Black Nights”. A cantora a descreve como “uma demozinha que eu fiz quando tinha 11 anos”. Apesar da decepção e da música que ela originou, Taylor aproveitava para relaxar e se divertir à beça. Mas sua ânsia por novas oportunidades de se apresentar para o público não se dissipava durante esses verões longe de casa. Ela inclusive encontrou bons palcos lá mesmo na praia, na Terceira Avenida e na Rua 98. “Eu cantava no karaokê do Henny’s e fazia shows com o violão durante horas a fio no Coffee Talk, que era um pequeno café na Rua 98”, ela diz. “Arrastava meus pais para aqueles lugares o tempo todo, e os amigos deles também apareciam e enchiam minha caixinha de gorjetas.” Ela fazia apresentações realmente longas às vezes, e até ficava sem músicas para tocar. Daí, só pela vontade de continuar no palco, inventava músicas novas na hora mesmo. Apresentações ao vivo, golfinhos, muita risada e uma paixão não correspondida: aqueles eram os verões idílicos dos Swifts, e Taylor realmente se esbaldava na diversão e no drama daqueles tempos. Àquela altura, ela já tinha aperfeiçoado bastante sua técnica instrumental. Sua primeira guitarra veio aos 8 anos, mas tinha deixado o instrumento de lado depois de tentar tocar por algum tempo e se ver desmotivada para continuar. Muito tempo depois, um homem apareceu para consertar o computador da família. Vendo a guitarra encostada, se ofereceu para mostrar a Taylor alguns acordes. Ela rapidamente retomou o interesse pelo instrumento, e o homem voltou depois para ensiná-la mais algumas vezes. Andrea conta que não passou muito tempo e a filha 23


estava tocando tanto que as cordas feriam seus dedos. “Ela estava obcecada em aprender de um jeito que eu nunca tinha visto antes”, observa. A determinação de seus antepassados, especialmente do lado da mãe, estava realmente despontando com tudo em Taylor. Ela começou a gostar da ideia de tocar um instrumento diferente: um violão semiacústico de 12 cordas. Quando um professor disse que ela jamais dominaria algo tão sofisticado, Taylor só se viu com uma opção: provar que ele estava errado. “Na verdade, tudo o que sei eu aprendi nesse violão de 12 cordas, e foi justamente porque esse cara me disse que eu nunca conseguiria tocar bem, que os meus dedos eram pequenos demais. A cada vez que alguém me fala que eu não consigo fazer alguma coisa, é aí que eu quero fazer mais ainda.” Essa teimosia e a determinação de provar que as coisas podem ser feitas vêm ajudando bastante Taylor desde aquela época. Quando voltava para casa, na Pensilvânia, sentia-se tão renovada e inspirada que a vontade de realizar seus sonhos se tornava ainda mais forte. Taylor queria se tornar uma cantora country. Mas, para conseguir isso, percebeu que teria de convencer sua família a se mudar para outra cidade a muitos quilômetros dali. Para uma menina de 11 anos, claro, era mais fácil falar do que fazer. Mas Taylor sabia como ser insistente.

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