FILOBATAILLE
O TRADUTOR: Fernando Scheibe é doutor em Teoria Literária pela UFSC (com tese sobre o conceito de soberania na obra de Georges Bataille) e tradutor. Traduziu, entre outros, Divagações de Stéphane Mallarmé, O erotismo de Georges Bataille, a revista Acéphale (1936-1939), Locus Solus de Raymond Roussel, Ontologia do acidente de Catherine Malabou, A semelhança informe ou o gaio saber visual segundo Georges Bataille de Georges Didi-Huberman, e boa parte da obra de Mœbius.
GEORGES BATAILLE Teoria da religião
“A ausência de Deus é mais divina do que Deus”: é nesse espaço de um sagrado aberto que se move GEORGES BATAILLE (1897-1962). A partir de um complexo dispositivo (Hegel + Nietzsche + Freud + Mauss + surrealismo levado às últimas consequências...) tecido na carne da experiência interior, Bataille leva o pensamento ao extremo, onde o humano se dá na transgressão do humano e, desgarrados, encontramos nossa mais inútil, nossa mais preciosa soberania.
“Sacrificar não é matar, mas abandonar e dar. A execução não é mais que a exposição de um sentido profundo. O que importa é passar de uma ordem duradoura, em que todo o consumo dos recursos está subordinado à necessidade de durar, para a violência de um consumo incondicional; o que importa é sair de um mundo de coisas reais, cuja realidade decorre de uma operação a longo prazo e nunca no instante – de um mundo que cria e conserva (que cria em proveito de uma realidade duradoura). O sacrifício é a antítese da produção, feita com vistas ao futuro, é o consumo que só tem interesse para o próprio instante. É nesse sentido que ele é dom e abandono, mas aquilo que é dado não pode ser um objeto de conservação para o donatário: o dom de uma oferenda a faz passar precisamente para o mundo do consumo precipitado. É o que significa ‘sacrificar à divindade’, cuja essência sagrada é comparável a um fogo. Sacrificar é dar como se dá o carvão à fornalha. Mas a fornalha costuma ter uma inegável utilidade, a que o carvão está subordinado, ao passo que, no sacrifício, a oferenda é furtada a qualquer utilidade.”
GEORGES
BATAILLE Teoria da religião
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Como e por que ler este texto no século XXI no Brasil? A leitura que se fará dele hoje é substancialmente diferente da que foi feita pelos seus contemporâneos franceses, que ouviram a conferência “Esquema de uma história das religiões”, que serviu de base ao livro, também publicada neste volume. Teoria da religião permanece uma das tentativas mais profundas de pensar uma alternativa ao modelo econômico do mercado, do valor de troca, da produção. Há neste livro uma reflexão energética, uma referência provocadora aos animais, e às religiões totêmicas, e um lugar reservado ao islamismo extremamente atuais. Teoria da religião continua um livro profundamente enigmático. Leiamos ou releiamos Bataille.
ISBN 978-85-8217-578-1
9 788582 175781
Esquema de uma história das religiões
Teoria da religião, de Georges Bataille (escrito em 1948, mas publicado postumamente), é um livro inclassificável. É ao mesmo tempo um livro de antropologia, de economia, de sociologia, de história da religião (no singular). A religião é compreendida aqui em um movimento geral que abrange a totalidade da história da vida social. O cristianismo – a religião moral, humanizada, capitalista, a “religião nos limites da razão” – é remetido a um plano etnográfico, que tem na vida animal, no que Bataille chama de intimidade ou imanência, o seu grau zero ou a sua ontologia. É nas “sociedades primitivas” que Bataille encontra o sagrado, que o surgimento do mundo do trabalho virá interromper, introduzindo uma separação no interior da intimidade animal. Esta só vislumbrada de novo na operação suntuária do potlatch, no sacrifício – do animal, do homem, do Deus.
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Tradução Fernando Scheibe
João Camillo Penna