Wáluk

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Tradução: Fernando Scheibe



Tradução: Fernando Scheibe


A Teresa Garbí, que nos presenteia com sua calorosa amizade.

Copyright texto e ilustrações © 2011 Ana Miralles e Emilio Ruiz Todos os direitos reservados. Publicado mediante acordo com Astiberri Ediciones. © 2014 Editora Nemo Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora Nemo. Editor Wellington Srbek Revisão Aline Sobreira Lúcia Assumpção Ilustração da capa Ana Miralles Design e maquetação Manuel Bartual www.estudiomanuelbartual.com Letreiramento Cleber Campos

Miralles, Ana Wáluk / Ana Miralles, Emilio Ruiz ; tradução Fernando Scheibe. -- São Paulo : Nemo, 2014.

Título original: Wáluk. ISBN 978-85-8286-030-4 1. Histórias em quadrinhos I. Ruiz, Emilio. II. Título.

13-13437 Índices para catálogo sistemático: 1. Histórias em quadrinhos 741.5

EDITORA NEMO Av. José Maria de Faria, 470, Mezanino – Térreo –  Lapa de Baixo 05038-190 – São Paulo – SP

CDD-741.5


Qual é o seu animal preferido? – Qual é o seu animal preferido? – perguntaram-me uma vez. – Puxa, não sei, gosto de muitos animais – respondi –, não posso me decidir por um em específico. – Ah, vai – replicou meu amigo –, todos gostamos de muitos animais, mas estou perguntando de qual você gosta mais, acima dos outros. Naquele momento, como não sabia quase nada sobre animais, nomeei o primeiro que me veio à cabeça: o cachorro, embora tenha me lembrado dos hamsters, dos canários, dos pintassilgos... E também dos fascinantes bichos-da-seda, que marcaram minha vida, se bem que, pensando bem, achava estes últimos menos interessantes, porque não se parecem muito conosco. A conclusão a que cheguei logo depois foi a de que só podemos gostar muito daquilo que conhecemos profundamente, e, dado que nunca conheci um ornitorrinco tão bem quanto meu cachorro, era natural que este me parecesse mais fascinante, já que me entendia e me agraciava com um carinho incondicional. Os livros de fotos, os documentários na televisão e as visitas aos zoológicos vieram complicar as coisas. Ver animais selvagens é uma experiência e tanto. Não é a mesma coisa ver um avestruz na TV e vê-lo de verdade, a poucos metros de distância. E o que dizer de nadar ao lado de uma gigantesca baleia azul? Essa deve ser a experiência mais enorme que se possa ter, agravada pelo fato de que as máscaras de mergulho deixam as coisas duas vezes e meia maiores.

Quando conheci Ana Miralles, minhas dúvidas sobre meus animais favoritos aumentaram ainda mais, porque ela era fascinada por gatos, por sua elegância, agilidade e beleza. Sem se importar com seu profundo egoísmo e com sua capacidade de utilizar os humanos como se fossem seus escravos. Finalmente, também me deixei atrair pelos felinos. Não podia ver um documentário sobre eles sem pensar no meu gato. Adorava os leopardos, tigres e guepardos. É natural sentir atração por suas formas espetaculares e suas proezas físicas, como a de correr a velocidades incríveis ou ser capaz de subir em árvores para caçar gazelas, ou ainda abater terríveis búfalos... É fácil se deixar seduzir pelos felinos. Mas um dia me disseram para ver um velho documentário. Os estudiosos diziam que era o primeiro documentário da história sobre a vida no Ártico: Nanook, o esquimó, de um tal de Robert Flaherty. No começo do documentário, que na verdade é uma ficção, vemos chegar um esquimó em seu pequeno caiaque. Seu corpo aparece pelo buraco feito numa pele que serve de vedação para evitar que a água gelada e o frio penetrem. Assim que ele aporta e sai, atrás dele, por esse mesmo buraco, como se aquilo fosse a escotilha de um submarino, sai uma família inteira, inclusive o cachorro... Surpreendente! Não dá mais para parar de ver. Seu ritmo lento não tem nada a ver com os filmes contemporâneos sobre animais, como Madagascar ou O Rei Leão, mas nem por isso é menos divertido e curioso.


Como estava dizendo, gostamos mais dos animais que têm algo a ver conosco. No caso dos ursos polares, não se pode deixar de lado a cultura inuit, a dos esquimós que vivem nos lugares mais remotos da Terra, nas condições de vida mais extremas que possamos imaginar. Sua cultura se desenvolveu, durante milhares de anos, ao redor dos ursos, das focas, das raposas e de outros companheiros da região. A grande peculiaridade do povo inuit é a de ter vivido integrado à paisagem, quase sem se deixar perceber. Sua pegada no mundo sempre foi leve, respeitosa com a Terra. Eles são uma esperança para o mundo atual, assombrado por inúmeros problemas ambientais. Sua cultura é também sua arte. São magníficos artistas que trabalham a escultura de uma forma sublime. Conhecem e respeitam os ursos como ninguém, porque tiveram de observá-los muito bem para caçá-los. Sem suas peles, sem sua gordura, não se poderia viver no Ártico. O urso polar é o animal mais interessante que se possa imaginar. Podemos começar por suas qualidades estéticas: ele é bonito, suas formas são depuradas, parece uma obra de arte. Seu aspecto é elegante, sem comparação com o de outros animais que, sem nos serem especialmente antipáticos, parecem-nos desarmônicos, desproporcionais, por mais que repitamos para nós mesmos que são bonitos. Nunca conheci alguém que dissesse que seu animal preferido era o gnu ou a hiena. A seguir, podemos acrescentar suas qualidades físicas. O urso tem sentidos apuradíssimos, tanto o olfato, melhor do que o de qualquer cachorro trufeiro, como um tato, um equilíbrio e uma audição excelentes, que lhe permitem deslocar-se sobre finas camadas de gelo em busca de tocas de foca.

Talvez o que mais surpreenda, no entanto, seja a rapidez de seus movimentos, sua enorme força e sua agilidade. O urso polar é especialista em surpreender os desavisados, sejam animais ou humanos. – Mas está tão longe! – dizem alguns. – É o que você pensa! O urso quase tem poderes para se teletransportar. É rápido como o raio, e sua agilidade põe à prova qualquer fabricante de cercas e grades do mundo. Saltam alturas inconcebíveis para corpos de seu peso e tamanho. São muitos os casos registrados de homens que desapareceram de seus barcos surpreendidos por um urso, sobretudo em plataformas petrolíferas dessas latitudes. É tiro e queda. Empurram e derrubam o que for, por mais sólido que pareça. São superpoderosos. O pior pesadelo é dar de cara com um urso polar no meio da tundra gelada. Se não tiver armas ou um helicóptero para fugir, já era. Causam-nos admiração e medo. Suas características são a beleza e a agilidade. Seu aspecto é feroz, mas, por vezes, humano: coçamse, e tenho certeza de que roncam, embora não deseje nunca me aproximar o suficiente para comprová-lo. São uns animais irresistíveis e exercem uma atração irrefreável sobre nós. Hoje em dia, quando as mudanças climáticas já são uma realidade científica e as empresas de navegação de todo o mundo incluem rotas de verão no Ártico para seus barcos, enquanto os países da região lutam por recursos naturais como o gás e o petróleo, o mundo dos ursos desaparece, e vemos se agarrarem a um pedacinho de gelo no meio do mar, esgotados de tanto nadar. Por isso, mais do que nunca devemos nos lembrar deles. Não quero que os ursos do Ártico desapareçam. O urso polar é meu animal favorito.


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