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Manejo coletivo

Praga extremamente nociva, com poder para dizimar canaviais, a broca da cana-deaçúcar, Diatraea saccharalis, exige muita atenção e planejamento. Integrar medidas de controle, realizar o monitoramento adequado e manejar de modo regionalizado estão entre as estratégias indispensáveis para se obter sucesso contra este inseto

Apesar de todos os prognósticos positivos e como ocorre com as culturas de importância econômica, a cana-de-açúcar é atacada por inúmeras pragas, com destaque para a broca da cana-de-açúcar, Diatraea saccharalis. Trata-se de uma praga extremamente nociva à cana-de-açúcar, capaz de dizimar canaviais inteiros se não tomadas as devidas medidas de controle.

O aumento da infestação da praga nos canaviais está ligado a fatores climáticos, grandes áreas de expansão, plantio de variedades suscetíveis, aumento das áreas fertirrigadas e principalmente pela negligência aos detalhes que compõem o Manejo Integrado desta praga.

DESCRIÇÃO E BIOLOGIA

O ciclo biológico completo, de ovo a adulto, da broca da cana-de-açúcar D. saccharalis dura em torno de dois meses, existindo até seis gerações anuais, dependendo das condições climáticas.

As fêmeas ovipositam nas folhas, de preferência na face dorsal. Cada postura pode conter de cinco a 50 ovos, agrupados de forma semelhante a escamas de peixes. A fecundidade média desta espécie é de aproximadamente 400 ovos. Inicialmente, os ovos são amarelos, com o desenvolvimento embrionário ficam alaranjados e, posteriormente, é visível a cápsula cefálica da lagarta ainda no interior do ovo. Seis dias após a postura, se os ovos estiverem fecundos, ocorre a eclosão das lagartas.

As lagartas recém-eclodidas são de cor branca, tornando-se de coloração creme com o desenvolvimento, apresentando algumas manchas escuras espalhadas pelo corpo. Alimentam-se, no início, do parênquima foliar, no interior da bainha da folha; após a primeira ecdise, penetram pela parte mais mole do colmo e, perfurando-o, abrem galerias de baixo para cima. Essas galerias podem ser de duas formas: longitudinais, na maioria dos casos, e, às vezes, transversais. Passam por seis instares, durante um período médio de 28 dias, dependendo das condições climáticas. A lagarta prestes a se transformar em pupa cessa a alimentação, limpa e amplia a galeria onde se desenvolveu, abre um orifício para o exterior, fecha-o com fios de seda e serragem e transforma-se em crisálida. É de coloração castanha e tem a duração de oito dias, variando o tempo de acordo com as condições climáticas. Mede aproximadamente de 16mm a 20mm de comprimento.

Os adultos de D. saccharalis são amarelo-palha, com pontuações escuras nas asas anteriores, as asas posteriores são esbranquiçadas, medem aproximadamente 25mm de envergadura. Apresentam longevidade aproximada de oito dias, possuem hábito noturno e ficam escondidos durante o dia. A oviposição ocorre principalmente no início do anoitecer.

Fotos José Francisco Garcia

Lagartas após a primeira ecdise, penetram pela parte mais mole do colmo e, perfurando-o, abrem galerias de baixo para cima Prestes a se tornar pupa o inseto mede aproximadamente de 16mm a 20mm de comprimento Adultos de D. saccharalis são amarelo-palha, com pontuações escuras nas asas anteriores e as asas posteriores são esbranquiçadas

FLUTUAÇÃO

POPULACIONAL

Em geral, o ciclo de D. saccharalis inicia-se em setembro-outubro, normalmente, após a emergência de adultos provenientes da geração de inverno na região. Esses adultos, geralmente, procuram canas novas para efetuar suas posturas. A segunda geração verifica-se entre dezembro e fevereiro; a terceira entre fevereiro e abril, e em maio e junho se inicia a quarta geração, que pode se prolongar por alguns meses.

PREJUÍZOS

As lagartas causam prejuízos diretos, pela abertura de galerias, ocasionam perda de peso da cana e que podem levar a planta à morte, “coração morto”, especialmente em canas novas. Quando fazem galerias circulares (transversais), seccionam o colmo, provocando sua quebra pela ação de ventos. Enraizamento aéreo e brotações laterais também ocorrem devido ao seu ataque.

Os prejuízos indiretos são consideráveis, uma vez que, através de orifícios e galerias, penetram fungos que causam a podridão-vermelha do colmo, podendo abranger toda a região compreendida entre as diversas galerias. Os fungos causadores da podridão-vermelha, Colletotrichum falcatum e Fusarium subglutinans, invertem a sacarose, diminuindo a pureza do caldo e o rendimento industrial no processo de produção de açúcar e/ou álcool. No caso da cana destinada apenas à produção de álcool, os micro-organismos que contaminam o caldo concorrem com as leveduras no processo de fermentação alcoólica, diminuindo o rendimento.

Para cada 1% do Índice de Intensidade de Infestação Final ocasionado pela praga (número de entrenós atacados pelo complexo broca/podridão-vermelha), ocorrem prejuízos de 1,14% na produção de cana (TCH) e mais 0,42% na produção de açúcar ou 0,25% na produção de álcool.

AMOSTRAGEM

VIA ARMADILHA

Atualmente, armadilha à base de feromônio, através da utilização de fêmeas virgens, tem sido a base em programas de detecção, monitoramento populacional e controle de D. saccharalis em todas as regiões produtoras de cana-de-açúcar.

Quando se faz opção pelo uso dessa ferramenta, é fundamental conhecer os aspectos bioecológicos e comportamentais desta praga, pois, assim, será possível interpretar adequadamente as informações oriundas das avaliações, além de determinar como a população está distribuída na área.

De acordo com o hábito de oviposição de D. saccharalis, estas armadilhas deverão ser instaladas na região do dossel, dessa forma, estas acompanham a altura da planta ao longo do seu desenvolvimento. Através da junção das folhas das plantas paralelas, e posterior amarração, essa armadilha fica então posicionada na entre linha da cultura. Sabendo que 74% dos adultos voam 200 metros de raio, o que perfaz uma área de 12,5 hectares, recomenda-se dimensionar uma armadilha para até 50 hectares.

O "atrativo sexual" é composto por três fêmeas virgens e mais três pupas fêmeas do mesmo lote, perfazendo assim um total de seis formas biológicas, as quais serão aprisionadas em gaiola tipo "bob" e este acondicionado dentro da armadilha.

Em campo, no momento da instalação, a organização das armadilhas através de identificação nominal é fundamental, bem como a sua localização geográfica. Este planejamento é a base para o alto rendimento operacional que esta operação exige, bem como necessária para o mapeamento das informações coletadas. Essas armadilhas devem ser instaladas dentro da área a ser amostrada, na bordadura dos carreadores.

A leitura das armadilhas deve ser realizada

Através de orifícios e galerias penetram fungos que causam a podridão vermelha do colmo

Armadilha à base de feromônio para a amostragem da praga

três noites após a sua instalação, anotando-se o número de machos capturados em cada armadilha. O nível de controle determinado para esta praga é de ≥ seis machos/armadilha em 30% do total de armadilhas.

A frequência amostral na época úmida é quinzenal, posicionando assim o controle químico e biológico (Cotesia flavipes). Na época seca, o monitoramento é mensal, posicionando apenas o controle biológico através da liberação de C. flavipes.

Durante o período úmido utilizam-se os dois métodos de controle - químico e biológico (C. flavipes) - sendo que o controle químico deverá ser realizado seis dias após a constatação do nível de controle, e 14 dias após esta pulverização, liberam-se quatro copos de 1.500 vespas de C. flavipes por hectare. Fora desse período, para o mesmo nível de controle, liberam-se apenas quatro copos de 1.500 vespas de C. flavipes por hectare após 20 dias da avaliação destas armadilhas, tomando-se como base a mesma porcentagem (30% do total de armadilhas).

MÉTODOS DE CONTROLE

A estratégia de controle deve levar em conta a fenologia da planta, as variedades mais suscetíveis ao ataque, os viveiros, as áreas irrigadas e principalmente o potencial produtivo, para o futuro planejamento da tomada de decisão.

CONTROLE CULTURAL

No Manejo Integrado desta praga, o plantio de variedades resistentes, o corte da cana sem desponte, a moagem rápida, a eliminação de plantas hospedeiras das proximidades do canavial, principalmente milho, milheto e sorgo, após suas colheitas, são medidas eficazes para diminuir a população da praga.

CONTROLE BIOLÓGICO

Existem diversos inimigos naturais capazes de controlar a praga.

PREDADORES São responsáveis - naturalmente - por eliminar uma expressiva parcela, principalmente, de ovos e de lagartas recém-eclodidas. As formigas, pertencentes a gêneros como Solenopsis sp., Pheidole sp., Camponotus sp., entre outras, formam o principal contingente, sendo complementado por coleópteros, neurópteros e dermápteros. Em alguns locais, mais de 90% da população inicial da praga é controlada por esse complexo de inimigos naturais.

PARASITOIDE DE LAGARTAS

A vespinha C. flavipes foi introduzida no Brasil em 1974 e vem se destacando em diversos locais como extremamente eficiente no controle de D. saccharalis. Apresenta vantagens pela facilidade de multiplicação em laboratório em relação às moscas Lydella minense e Paratheresia claripalpis que foram utilizadas anteriormente.

CONTROLE QUÍMICO Este método de controle deve ser visto como ferramenta prioritária a ser utilizada em situações que exigem resposta rápida e eficiente de controle, sob o risco de, não o tendo, agravar sobremaneira os prejuízos. Essa ferramenta deve ser analisada com muito critério, principalmente as características de cada molécula química e seu potencial de controle. ÍNDICE DE INTENSIDADE

DE INFESTAÇÃO FINAL

A amostragem do Índice de Intensidade de Infestação Final (I.I.I. Final) é realizada coletando-se colmos de cana-de-açúcar no momento da colheita. Em campo, deve-se amostrar quatro pontos, ao acaso, sendo estes representados por cinco colmos cada, tomados aleatoriamente, totalizando 20 colmos avaliados. Para o cálculo da I.I.I. Final abre-se longitudinalmente cada um dos colmos coletados, contando-se o número de entrenós e aqueles que se encontram lesionados pelo complexo broca/podridão-vermelha. Os dados obtidos são aplicados à fórmula:

I.I.I. Final =

n° de Internódios Broqueados n° Total de Internódios

Determinado o Índice de Intensidade de Infestação Final, têm-se diferentes graus de infestação, Aceitável (≤ 1,0); Baixo (1,1 a 3,0); Médio (3,1 a 6,0); Alto (6,1 a 9,0) e inaceitável (≥ 9,1), sendo esses valores expressos em porcentagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Uma vez que D. saccharalisé um inseto-praga capaz de causar enormes prejuízos à cultura da cana-de-açúcar, é preciso realizar um planejamento de manejo que integre diversas medidas de controle, como o etológico, o cultural, o biológico e o químico. Todas estas medidas de controle devem ser efetuadas durante todo o ano, de acordo com as condições climáticas adequadas a cada uma delas. A utilização de armadilhas com feromônio é uma ferramenta imprescindível na tomada de decisão, especialmente para a realização dos controles químico e biológico e, consequentemente, na redução dos danos causados por essa praga. Também é importante ressaltar que o manejo para o controle desta praga deve ser regionalizado e não pontual, exigindo ação conjunta de todos. O manejo coletivo é o ponto fundamental para o sucesso no combate a D. saccharalis.

José Francisco Garcia, Global Cana - Soluções Entomológicas

A vespinha C. flavipes vem se destacando no controle de D. saccharalis

Armas poderosas

Em um cenário em que a velocidade da ocorrência da resistência no campo é maior que a da descoberta de novas moléculas e do tempo necessário para o registro de novos agroquímicos, o vazio sanitário e a calendarização da semeadura se tornam medidas essenciais para a sustentabilidade da produção de soja no Brasil

Asoja é a principal commodity brasileira. Na safra 2019/20 estima-se que o Brasil produziu cerca de 124,8 milhões de toneladas, novo recorde de produção do grão (Fonte Conab Setembro/2020). Os recordes associados a safra de soja nos últimos anos, no Brasil, se deve principalmente à adoção de novas tecnologias no campo e principalmente a medidas de manejo integrado de pragas e doenças. A soja é ameaçada por dezenas de pragas e doenças que são muito favorecidas pelo clima tropical brasileiro. Uma das doenças mais temidas pelos agricultores é a

Ferrugem Asiática da soja causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi. A doença foi reportada no Brasil na safra de 2001/02 e demonstrou todo o seu potencial destrutivo para a cultura ao longo de alguns anos. Em poucos dias essa doença pode desfoliar totalmente as plantações e levar a grandes perdas

Cláudia Godoy

de produtividade dos grãos.

Na América do Sul, a doença começou no Paraguai e se alastrou pelo estado do Paraná, sendo encontrada também em plantas de soja voluntária e na soja safrinha no Brasil. Na safra seguinte (2002/03), as perdas com a doença ficaram estimadas em cerca de 2 bilhões de dólares. Ainda na safra 2012/13, as perdas com a ferrugem foram estimadas em torno de 1,5 bilhão de dólares (Aprosoja/MT, 2013).

Phakopsora pachyrhizi (agente causal da ferrugem da soja) é um fungo biotrófico obrigatório, ou seja, necessita do seu hospedeiro vivo (soja) para completar seu ciclo de vida. Desta forma, as lavouras de entressafra, ou a “soja safrinha” são as principais responsáveis por manter o inóculo da ferrugem vivo no campo que também é beneficiado pela alta ocorrência de plantas guaxas (emergidas voluntariamente) remanescentes da colheita das sementes. Essas plantas são a fonte de inóculo primário para a safra seguinte. No Brasil, ainda há fontes de inóculo praticamente permanentes vindos de países vizinhos como Bolívia e Paraguai, uma vez que, esses países não detêm de um calendário de plantio.

A melhor estratégia para redução dos inóculos no campo é a ausência do hospedeiro. Essa estratégia favorece também a redução de insetos, outra preocupação que os agricultores enfrentam nas suas lavouras. A implantação do vazio sanitário da soja (período de ausência no campo) no Brasil ocorreu entre os anos de 2006 e 2007 em decorrência, principalmente, dos problemas enfrentados pelos sojicultores com o fungo causador da Ferrugem Asiática da Soja, Phakopsora pachyrhizi. Essa medida de manejo vigente até os dias de hoje, não reduz somente os inóculos de ferrugem mas também de outras doenças que vêm afetando a produção e elevando os custos de produção, devido a maior necessidade de aplicações de fungicidas. O período mínimo sem soja no campo é de 60 dias durante o vazio sanitário. Treze Estados brasileiros e o Distrito Federal adotaram essa medida através de instruções normativas.

Mas para que esse período seja eficiente é necessário que os produtores destruam plantas vivas de soja em suas fazendas, chamadas de plantas voluntárias (tigueras e guaxas). O produtor deve destruir as plantas por meio da aplicação de herbicidas ou por remoção física.

O FRAC-BR (Comitê de Ação a Resistência à Fungicidas do Brasil) tem alertado para mais um problema relacionado a presença de plantas voluntárias durante o período de vazio: a presença de inóculos de ferrugem da soja resistentes à fungicidas.

O fungo causador da Ferrugem Asiática tem desenvolvido ao longo dos anos várias mutações em seu genoma que conferem a capacidade de sobrevivência mesmo após a aplicação de fungicidas. A resistência surge devido a um processo chamado pressão de seleção, quando sucessivas aplicações de fungicidas com o mesmo mecanismo de ação são realizadas sobre as populações dos fungos e selecionam indivíduos mais adaptados à presença de fungicidas que possuem o mesmo mecanismos de ação.

No início do surgimento da doença no Brasil, os fungicidas mais utilizados para o seu controle foram os dos grupos dos

Frequência da Mutação sdhc-I86F em Soja Guaxa safras 2017 a 2019

Figura 1

Figura 2

Figura 3

C C

Figura 4 - Progresso da ferrugem asiática no Brasil durante a safra 2019/2020

Fonte: Aplicativo do Consórcio Anti-ferrugem 2019/2020 - Contribuição: BASF S.A

triazóis e das estrobilurinas. Em 2007, cerca de 5 anos após a utilização dos triazóis para o controle da ferrugem, surgiram os primeiros relatos de perda de eficácia destes fungicidas devido à resistência desenvolvida pelo fungo. Em 2012 foi a vez da perda da eficácia das estrobilurinas, sendo também constatada a resistência genética nas populações do fungo.

O caso mais recente e mais rápido de adaptação a fungicidas deste fungo foi reportado na safra 2015/16. Em três anos de utilização dos fungicidas do grupo das carboxamidas nas lavouras, populações do fungo da ferrugem asiática apresentaram resistência a fungicidas de mesma classe química, através de uma alteração genética em um dos genes que codificam a proteína alvo das carboxamidas nas células fúngicas. A adaptação genética ocorreu no gene da enzima Succinato Desidrogenase C, ocorrendo a substituição do aminoácido isoleucina (I) por fenilalanina (F) na posição 86 da sequência da proteína (mutação sdhC -I86F). Os indivíduos mutantes rapidamente se espalharam pelas áreas produtoras no Brasil.

No estudo de monitoramento de soja guaxa realizado pelo FRAC-BR foi detectada a presença de inóculo resistente de Ferrugem Asiática com alta frequência da mutação I86F nos anos de 2017, 2018 e 2019 em praticamente todas as regiões de soja do Brasil (Figuras 1, 2 e 3).

Essas plantas voluntárias mantêm a alta frequência de mutantes no campo. No caso do estudo, apenas uma mutação foi estudada (sdhC-I86F que confere perda de sensibilidade às carboxamidas), mas essas plantas podem carregar ferrugem mutante com redução de sensibilidade também para triazóis e estrobilurinas.

A Figura 4 corrobora com os dados apresentados anteriormente e ilustra a presença de soja voluntária (guaxa) com ferrugem em diversas localidades do Brasil. Estas plantas, ao hospedarem populações do patógeno com maior frequência de mutação, servem de “ponte verde” entre as épocas de plantio e contribuem para que populações menos sensíveis aos fungicidas se multipliquem com maior intensidade e, consequentemente, infectem as plantas oriundas de nova semeadura.

Os dados reforçam a importância do vazio sanitário para a redução de populações resistentes e alertam para a importância de outra medida fitossanitária que tem se tornando fundamental para a produção de soja no Brasil: a calendarização da semeadura.

A calendarização da semeadura ou plantio da soja é a determinação de uma data-limite para semear a soja na safra. Essa medida foi estabelecida por normativas estaduais somente em sete Estados produtores de soja: Goiás, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina, Tocantins, Bahia e Mato Grosso do Sul. O principal objetivo da calendarização é reduzir o número de aplicações de fungicidas ao longo da safra e, com isso, reduzir a pressão de seleção de resistência do fungo aos fungicidas.

Semeaduras tardias de soja podem receber inóculo do fungo desde os estádios vegetativos, exigindo a antecipação da aplicação de fungicida e demandando maior número de aplicações de fungicidas. Quanto maior o número de aplicações, maior a exposição dos fungicidas e maior a chance de acelerar o processo de

Marcelo Madalosso Grafico 1 - Evolução da frequência da mutação sdhc-I86F conforme as épocas de plantio de soja Contribuição Syngenta Proteção de Cultivos - LTDA

seleção de populações resistentes. O gráfico 1 ilustra os valores máximos e medianas da evolução da frequência da mutação sdhC I86F entre as safras 2017 e 2020, cujos valores percentuais se elevam à medida que os plantios são realizados ao longo da safra iniciada no mês de Setembro de cada ano correspondente.

Encontrar fungicidas com novos mecanismos de ação capazes de controlar populações resistentes têm se tornado um dos maiores desafios das empresas de defensivos agrícolas no mundo. A velocidade a ocorrência da resistência no campo é maior que a presteza da difícil tarefa de descobrir novas moléculas com novos mecanismos de ação, bem como é maior do que o longo processo de registro de novos agroquímicos no Brasil. Dentro desse contexto, a única alternativa para garantir a longevidade das tecnologias disponíveis são as práticas de manejo.

O vazio sanitário e a calendarização da semeadura da soja são estratégias antirresistência com objetivos diferentes para o manejo da ferrugem-asiática da soja e que favorecem o controle de outras doenças e pragas que afetam a cultura. São armas poderosas que devem ser respeitadas e fomentadas, e que contribuem para a sustentabilidade da sojicultura brasileira.

Existe uma falsa sensação por parte dos produtores de que a ferrugem está sob controle no Brasil e muitos movimentos têm surgido questionando essas medidas fitossanitárias. Entretanto, os produtores não podem e não devem arriscar. A Ferrugem pode destruir as lavouras e reduzir a produtividade em 90%, principalmente no cenário atual, em que os fungicidas não exercem mais todo o potencial de controle devido à resistência do fungo.

O melhor caminho é utilizar boas práticas agrícolas que tem garantido o sucesso do Brasil na produção do grão. Ou seja, realizar uma boa dessecação; respeitar o período de vazio sanitário da soja e os calendários de plantio; eliminar plantas de soja voluntárias nos arredores das suas propriedades; aplicar fungicidas de forma preventiva, respeitando os intervalos corretos; fazer uso de uma boa tecnologia de aplicação; rotacionar e associar diferentes grupos quimicos de fungicidas, além de utilizar fungicidas multissítios no sistema. Somente com estas medidas, a produção de soja no país poderá ser sustentável por mais safras e poderá manter maiores níveis de produtividade por área plantada.

Frac-BR

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