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Papel da cultivar
from Cultivar GC 258
Diante da proposta de integração de ferramentas para o manejo de nematoide na cultura da soja a genética merece atenção especial, pois o modo como o material cultivado reage diante da espécie envolvida reflete na população desses micro-organismos e consequentemente na produtividade
Asoja é a cultura de maior destaque no cenário brasileiro e mundial. Os diversos avanços tecnológicos têm contribuído significativamente para o cultivo dessa oleaginosa nos diferentes trópicos. Em decorrência de um sistema altamente intensivo e produtivo, inúmeros desafios vêm sendo enfrentados por parte dos produtores, principalmente no que se refere à elevada diversidade de problemas fitossanitários, distribuídos nas sementes, nas raízes e na parte aérea das plantas.
No que se refere aos problemas associados ao complexo solo, os nematoides parasitos de plantas apresentam um papel de destaque, pois atacam o principal órgão da planta, “as raízes”, em seu período de maior vulnerabilidade. De natureza biotrófica, são dependentes das plantas para sua alimentação, desenvolvimento e reprodução. Em função da diversidade desse grupo de difícil manejo, e de sua capacidade de parasitar inúmeras culturas, esses micro-organismos vêm aumentado em densidade populacional no solo nos diversos estados produtores, resultando, assim, em prejuízos diretos e indiretos à cultura da soja.
Os prejuízos mais significativos encontrados nas lavouras brasileiras são atribuídos aos nematoides-das-galhas (Meloidogyne javanica e M. incognita),
Figura 1 - Número de nematoides por 100cm³ de solo Figura 2 - Número de nematoides por grama de raiz
Fonte: Instituto Phytus, Planaltina - DF 2019/20. Dados apresentados no V Seminário Phytus (2020).
Fonte: Instituto Phytus, Planaltina - DF 2019/20. Dados apresentados no V Seminário Phytus (2020).
nematoide-das-lesões (Pratylenchus brachyurus), nematoide-de-cisto (Heterodera glycines) e nematoide-reniformes (Rotylenchulus reniformis). Além dessas espécies, tem aumentado a ocorrência de nematoides emergentes, como é o caso de Helicotylenchus dihystera, Scutellonema brachyurus, Tubixaba tuxaua e Aphelenchoides besseyi.
Em levantamentos realizados pelo Instituto Phytus-DF, na safra 2019/20, foi observada a ocorrência das principais espécies associadas à cultura da soja. Em análise de 1.354 amostras de solo e raízes, verificaram-se as seguintes espécies: Meloidogyne spp. (M. javanica e M. incognita), P. brachyurus, H. dihystera, R. reniformis e H. glycines (Figuras 1 e 2). Analisando esses dados e considerando as ocorrências das espécies em três níveis populacionais – 100, 200 e 300 indivíduos/espécimes por 100cm³ de solo e/ou por grama de raiz –, observaram-se as espécies de maior predominância na região Centro-Norte, sendo nas raízes a P. brachyurus, e no solo, a H. dihystera. Outra espécie encontrada nas análises foi o nematoide-gigante, Tubixaba tuxaua, entretanto em níveis abaixo dos mencionados anteriormente.
Nesses resultados, o nematoide-das-lesões radiculares Pratylenchus brachyurus – atualmente reconhecido como um dos maiores problemas à cultura da soja devido à sua ocorrência generalizada e à capacidade de interferir negativamente na produtividade (30% - 50%) – foi a espécie de maior predominância nas raízes das plantas de soja. O aumento populacional dessa espécie nas lavouras está relacionado a diversos fatores, sendo os principais associados ao modelo agrícola adotado nos últimos anos, à utilização de estreita base genética, ao cultivo contínuo de espécies de plantas hospedeiras multiplicadoras e ao não diagnóstico dessa espécie presente na área.
Para o sucesso no cultivo é fundamental que o produtor, a partir do conhecimento prévio da(s) espécie(s) de fitonematoide(s) presente(s) na sua lavoura, escolha e realize o plantio de genótipos resistentes ou com baixo fator de reprodução, para reduzir a densidade populacional do patógeno. Outra alternativa muito eficiente tem sido o uso de nematicidas químicos no manejo de nematoide. Essa técnica surgiu na década de 1960 e, atualmente, existem 14 produtos registrados para o manejo da cultura da soja. Os nematicidas, de maneira geral, são produtos tecnológicos eficazes, de fácil uso, e quando aplicados via tratamento de sementes ou sulco de semeadura, protegem o sistema radicular em suas fases iniciais, garantindo uma boa formação, permitindo, assim, o cultivo em áreas com a presença desses micro-organismos.
A integração das técnicas de manejo é fundamental, e a escolha de cultivares resistentes quando disponíveis e/ou com
Fotos Paulo Santos baixo fator de reprodução é peça-chave na estruturação de um programa de manejo eficiente no controle de fitonematoides a médio e longo prazo. Contudo, ainda não são claras a relação de cultivares com baixo fator de reprodução associadas a nematicidas e a resposta de incrementos de produtividade advindos dessa integração.
Pensando em entender melhor as respostas do tratamento de sementes em cultivares com diferentes fatores de reprodução e seu impacto na produtividade, conduziu-se um experimento a nível de lavoura comercial, utilizando um nematicida químico via tratamento de sementes associado a quatro cultivares de soja. O ensaio foi conduzido em área de produção comercial de soja naturalmente infestada por P. brachyurus (nematoide-das-lesões) localizada no município de São João D’Aliança, Goiás.
As cultivares utilizadas foram CD2728 IPRO, CD2700 IPRO, BMX-Foco IPRO e BMX-Única IPRO, todas de hábito de crescimento indeterminado, tratadas e não tratadas com o nematicida à base de imidacloprido 150g/L + tiodicarbe 450g/L na dose de 0,7ml/100kg de sementes. O plantio foi realizado no dia 25 de novembro de 2019, em blocos ao acaso com seis repetições. As avaliações ocorreram 60 dias após a emergência das plantas para determinação do número de espécimes de P.
Nematoides se destacam por atacarem as raízes, principal órgão da planta
Figura 3 - Valores médios de produtividade das diferentes cultivares de soja com e sem nematicida. São João da Aliança - GO, 2020
Figura 4 - Efeito do uso de nematicida no incremento de produtividade em cultivares de soja
Médias seguidas de mesma letra minúscula não diferem estatisticamente entre si e comparam as cultivares quanto à ausência e à presença de nematicida, enquanto que médias seguidas de mesma letra maiúscula não diferem estatisticamente entre si e comparam a ausência e a presença de nematicida dentro das cultivares, de acordo com o teste de Scott-Knott (p<0,05).
brachyurus nas raízes e do número de ovos. Além disso, avaliou-se a produtividade de grãos.
A média populacional de P. brachyurus coletada antes da instalação do experimento variou de 29 a 45 espécimes por grama de raiz. O número de espécimes de P. brachyurus nas raízes das cultivares de soja, aos 60 dias após a emergência, variou entre os tratamentos com e sem nematicidas, sendo que em todas as cultivares de soja tratadas com nematicidas foram observadas reduções nos números finais de Pratylenchus brachyurus associados ao tecido radicular, tendo reflexo direto no número de ovos, o que apresentou resposta similar de redução, exceto para a cultivar BMX-Única IPRO (Tabela 1).
Para variável de produtividade houve incrementos numéricos em todas as cultivares associadas a nematicidas, sendo esses incrementos significativos para as cultivares BMX-Foco IPRO e BMX-Única IPRO (Figura 3).
Ao comparar o incremento de produtividade das cultivares de soja tratadas com nematicida versus as sem nematicida (Figura 3), foi observado um acréscimo em sacas por hectare em todas as cultivares tratadas, atingindo os respectivos valores 5,81; 4,26; 2,74 e 1,54 para as cultivares BMX-Única IPRO, CD2700 IPRO, BMX-Foco IPRO e CD2728 IPRO. Esses resultados apontam um benefício na utilização de nematicida com reflexo direto na produtividade. Esse reflexo direto está ligado ao modo de ação dessa ferramenta de manejo, que ao proteger as raízes iniciais, garante um bom esta-
Tabela 1 - Comparação das médias obtidas por cultivar, com e sem nematicida, para as variáveis espécimes de P. brachyurus e número de ovos na raiz de soja, aos 60 DAE. São João da Aliança - Goiás, 2020
Cultivares
CD 2728IPRO CD2700 IPRO BMX-FOCO IPRO BMX-ÚNICA IPRO
Ciclo de maturação 110 105 113 106 Pratylenchus brachyurus Espécimes Ovos Sem Nematicida Com Nematicida Sem Nematicida Com Nematicida 1463,7 aA* 583,7 bB 878,0 aA 440,3 bA 1684,7 aA 1045,3 aB 878,0 aA 483,3 bA 948,3 bA 903,3 aA 348,0 aA 240,0 bA 1574,0 aA 451,0 bB 1025,0 aA 1297,7 aA
*Médias seguidas de mesma letra minúscula na coluna não diferem estatisticamente entre si e comparam as cultivares quanto à ausência e à presença de nematicida, enquanto que médias seguidas de mesma letra maiúscula na linha não diferem estatisticamente entre si e comparam a ausência e a presença de nematicida dentro das cultivares, de acordo com o teste de Scott-Knott (p<0,05).
belecimento das plantas por interferir diretamente no processo de infecção desse nematoide nas raízes, e quando realizada, culmina em danos diretos advindos da sua alimentação nos tecidos radiculares e indiretos pela abertura da porta de entrada para outros patógenos de solo.
Por se tratar de um grupo de difícil controle e de erradicação praticamente impossível, agregar tecnologias que interfiram na interação nematoide-planta é fundamental à estruturação eficiente do ambiente de produção, haja vista que essas tecnologias têm influência direta na taxa de reprodução do nematoide nas raízes. No tocante a isso, é de suma importância “frear” ou diminuir o aumento populacional desse nematoide no solo para os próximos cultivos.
Apesar da resposta de controle ter sido variável entre cultivares de soja, a taxa de reprodução do nematoide nas raízes foi menor onde o nematicida estava associado. Diante da proposta de integração de ferramentas para o manejo de nematoide, objetivando a continuidade na cultura da soja, a genética apresenta um papel de destaque, pois, dependendo da sua reação diante da espécie de nematoide envolvida, seu efeito direto pode somar-se à integração com outras ferramentas de manejo, maximizando assim a redução populacional de nematoides tanto no solo quanto nas raízes.
Portanto, o produtor deve estar atento quanto às suas escolhas quando estiver cultivando em solos com presença de nematoides, e procurar trabalhar com cultivares de menor fator de reprodução, associando isso ao uso de nematicidas químicos ou biológicos, e intercalando a rotação ou a sucessão de culturas não hospedeiras, de maneira a diminuir a população inicial de uma safra para outra. Deste modo, permitindo a convivência com esses micro-organismos e preservando os níveis de infecção e as fontes de resistência.
Paulo Santos, Cristiano Bellé, Gracieli Rebelatto e Samara Sousa, Instituto Phytus Kayro Rodrigues da Costa e Lucas Moreira, (Upis – Faculdades Integradas) Jorge Bleno da Silva Verssiani, (IFNMG – Campus Arinos)
Mobilidade monitorada
Como o monitoramento de esporos da ferrugem-asiática pode ajudar na construção de um banco de dados que possa favorecer e antecipar o manejo contra essa doença, responsável por graves prejuízos aos produtores de soja
Aferrugem-asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi, é uma das doenças mais severas para a cultura da soja (Glycine max). Trata-se de um fungo biotrófico e sua movimentação ocorre através do vento (Melching et al., 1976). A falta de conhecimento da dinâmica de dispersão da ferrugem-asiática prejudica as ações efetivas de controle, onde o entendimento do modo de dispersão da doença pode fornecer ferramentas que ajudem na previsibilidade da chegada e evolução da epidemia, resultando em melhores controles e redução de danos. Isso comprova a real necessidade de aplicação de pesquisas para monitorar o processo de desenvolvimento e dispersão da P. pachyrhizi, em determinada região.
Diante deste contexto um trabalho foi realizado com o objetivo monitorar a mobilidade dos esporos da P. pachyrhizi em Santo Ângelo, região das Missões, Noroeste do Rio Grande do Sul. O experimento foi conduzido na área experimental da Universidade Regional Integrada, no munícipio de Santo Ângelo, durante a safra 2019/20.
A instalação do experimento considerou a livre circulação de ar e a proximidade com lavouras de soja. O monitoramento foi realizado com a coleta de lâmina, através de um coletor de esporos, que consiste em uma haste metálica para fixação ao solo, ligado a um tubo alongado e cilíndrico feito de PVC.
A presença de esporos da P. pachyrhizi na região das Missões, no Rio Grande do Sul (Figura 1), na safra de 2019/2020, já foi constatada a partir do início dos trabalhos, em 1º de novembro de 2019. Vale ressaltar que em resultados de outros coletores, em anos anteriores, foi possível
verificar a presença de esporos durante todos os meses do ano, variando apenas em quantidade.
Com uma umidade relativa do ar média em torno de 84% entre as datas de 8 de novembro e 6 de dezembro e temperatura do ar que variou entre 20°C e 28°C, as condições ambientais caracterizaram-se como ótimas para a ocorrência da infecção, desenvolvimento e esporulação da ferrugem-asiática. Marchetti et al. (1976) demonstram o efeito da temperatura e a duração do período de molhamento na germinação e infecção por esporos de P. pachyrhizi, onde pode-se concluir que o fungo é capaz de germinar entre as temperaturas de 7ºC e 30ºC, com faixa ótima de 15ºC a 25ºC.
No dia 6 de dezembro 2019, foi identificada pelo coletor a contagem máxima realizada durante o experimento, totalizando 417 esporos coletados. Até este momento, as condições meteorológicas exigidas pela ferrugem-asiática estavam contempladas e a evolução da produção de inóculo vinha em crescimento. Isso mostra que as relações do triângulo entre patógeno – ambiente – hospedeiro, formando a doença, estavam ocorrendo em plantas guaxas e/ou vindo de plantas doentes de outras localidades.
Por se tratar de um patógeno biotrófico de grande habilidade de deslocamento a longas distâncias, a direção dos ventos passa a ser uma informação importante. Na América do Sul, o ventos contra-Alísios passam sobre a região Amazônica e transportam umidade e partículas sólidas em níveis mais altos para a região Sul do Brasil em função da barreia imposta pela Cordilheira dos Andes. Esses ventos são de direção Norte-Noroeste e quentes. Além dos contra-Alísios, a passagem de frentes frias gera ventos de Norte-Noroeste em níveis mais baixos, próximos à superfície, conhecidos popularmente como Vento Norte. São ventos de curta duração (alguns dias), mas de velocidade alta, com máximos observados na estação da primavera.
Os dados de vento da Estação Meteorológica do Inmet em Santa Rosa, município localizado a Noroeste de Santo Ângelo, indicaram a ocorrência de ventos de direção Norte-Noroeste na região das Missões durante a realização
Fotos Marcelo Madalosso
Coletor de esporo da Phakopsora pachyrhizi
do experimento, principalmente os dias 21/11/2019 e 29/11/2019, com velocidades altas acima de 30km/h.
Além de alterar o comportamento do vento, a passagem de frentes frias na região Sul do Brasil provoca a formação de chuvas. As chuvas frontais geram volumes baixos até altos, duram por horas a dias e ocorrem em grandes regiões principalmente no inverno e na primavera. As chuvas nessa região se formam ainda pela ocorrência de aquecimento intenso do ar, e são chamadas de convectivas. As chuvas convectivas apresentam altos volumes, ocorrência localizada e por algumas horas, principalmente durante as tardes de primavera e verão, quando o aquecimento se intensifica.
Independentemente do processo de formação, a chuva é a principal responsável pela limpeza da atmosfera, carregando de volta para a superfície todas as partículas que ficam em suspensão, incluindo os esporos. A água da chuva também é interceptada pelas folhas das plantas e fornece, juntamente com a água formada pelo orvalho, o molhamento necessário para a germinação e infecção pelos esporos.
Por outro lado, a chuva também é responsável pelo impacto da gota na folha e a liberação dos esporos da pústula. Após isso, o vento fica responsável pelo deslocamento a longas distâncias. Em períodos secos, após a formação da pústula, a liberação e mobilidade do patógeno
Figura 1 - Relação entre as condições ambientais e a presença de esporos da P. pachyrhizi, na safra (2019/2020)
Marcelo Madalosso
A falta de conhecimento da dinâmica de dispersão do fungo causador da doença prejudica as ações de controle
são dificultadas. Por isso que, após as precipitações, os componentes climáticos e fitopatológicos se somam para potencializar a epidemia (Figura 1).
Com base nestes pontos, os dados do coletor foram comparados com os do site do Consórcio Antiferrugem (Embrapa) (Figura 2). Esta ferramenta é utilizada para registrar os primeiros casos de sintomas visuais de ferrugem em áreas de soja, tanto comerciais como espontâneas.
Analisando as duas informações, do coletor e do Consórcio, foi possível verificar que as informações corroboraram. O primeiro relato de ferrugem em área comercial registrado no site do Consórcio Antiferrugem foi em 11/12/2019 na cidade de Porto Vera Cruz, Rio Grande do Sul, cerca de 100km distante do coletor de esporos. Com base nisso, foi possível cruzar as informações e relacionar a identificação do aumento vertiginoso de esporos no coletor à eminente evolução da epidemia.
Após esta data, a coleta de esporos no coletor regrediu a valores muito baixos. Isso ocorreu devido ao fato de o Rio Grande do Sul ter sido acometido por um longo período de estiagem e baixa umidade relativa. Automaticamente, o número de casos relatados no Consórcio Antiferrugem também teve baixa representatividade.
Os dados permitem inferir que, se não estivesse ocorrido a estiagem, a elevação da epidemia de ferrugem poderia atingir níveis de danos severos, como é de costume para este patossistema.
Além disso, é importante ressaltar que o coletor de esporos é uma ferramenta que possibilita estudar a dispersão do patógeno e a formação de um banco de dados que, futuramente, podem ajudar nas aplicações. Iniciar, parar ou aumentar os intervalos de aplicação com base no coletor de esporos é obra do acaso e não tem segurança técnica.
Portanto, o conhecimento da aerobiologia de esporos de P. pachyrhizi permite relacionar o nível de coleta dos esporos com as condições meteorológicas de determinada região. Assim, futuramente esse banco de dados poderá servir de ferramenta para antecipar o manejo desta que é uma das doenças que mais acarretam prejuízos ao produtor rural.
Eduardo Argenta Steinhaus, Luiz Eduardo Braga, Eduarda Casarin Kronhardt, Laura Isabel da Luz de Ataide e Marcelo Gripa Madalosso, Universidade Regional Integrada, Campus Santo Ângelo – Grupo de Proteção de Plantas Angelica Durigon, Universidade Federal de Santa Maria, Departamento de Fitotecnia
Figura 2 - Consórcio Antiferrugem, primeiro foco da ferrugem-asiática no RS (Safra 2019/2020)
Marco Antonio Tamai
Como anda a eficiência dos acaricidas contra o ácaro-rajado (Tetranychus urticae) e o ácaro-verde Dupla perversa (Mononychellus planki), duas espécies agressivas que afetam especialmente as folhas e provocam prejuízos na cultura da soja
No Cerrado do Oeste da Bahia, duas espécies de ácaros-praga destacam-se pela importância econômica, sendo o ácaro-rajado (Tetranychus urticae Koch) nas culturas de algodão, soja e feijão, e o ácaro-verde [Mononychellus planki (McGregor)] na soja. Estes organismos alimentam-se de células superficiais das faces inferior e superior das folhas, ocasionando, em ataque intenso, redução da taxa fotossintética da planta em decorrência dos danos foliares e da desfolha precoce, com reflexo negativo na produtividade e qualidade dos frutos e fibra.
Os sinais característicos da infestação destes ácaros na soja e no feijão começam com a presença de numerosas pontuações esbranquiçadas dispersas na face superior dos folíolos, progredindo, em situação de população elevada e período longo de ataque, para o escurecimento da face inferior, clorose, seca e queda do folíolo. Nas reboleiras, as plantas são de porte menor, com folíolos mais claros, e em caso de infestação por ácaro-rajado também com presença de fios de seda ligando e/ou cobrindo folíolos e plantas. Já no algodoeiro, o ácaro-rajado produz manchas avermelhadas na face superior da folha, que progridem para necrose e seca do tecido afetado, sendo comuns na inserção do pecíolo com o limbo foliar e entre os lóbulos da folha.
Na soja, o ácaro-rajado e o ácaro-verde são mais comuns em folíolos dos terços apical e médio, e em menor população no baixeiro. Em muitas lavouras acompanhadas pela Universidade do Estado da Bahia, em Luís Eduardo Magalhães/BA, nas safras de 2017/18 a 2019/20, a infestação pelas duas espécies era simultânea no mesmo talhão e folíolo da planta, sempre em populações
Fotos Marco Antonio Tamai
Escurecimento da face inferior de um folíolo de soja causado pelo ácaro-verde
Fios de seda do ácaro-rajado cobrindo o ponteiro da planta de soja
muito desiguais para uma ou outra espécie. No algodoeiro, o ácaro-rajado é encontrado nos terços apical e médio, com populações mais elevadas a partir da metade do ciclo da cultura. As reboleiras dos ácaros surgem nas bordas dos talhões, dispersando-se progressivamente para o interior da área por ação do vento e também do homem (aderidos à roupa dos monitores).
Altas populações destes ácaros nas lavouras normalmente ocorrem em anos mais secos, com ocorrência de veranicos longos e temperaturas diárias elevadas. Nestas condições há uma redução no tempo de desenvolvimento dos ácaros (ovo-adulto), com maior número de gerações/safra, e também o aumento na taxa de sobrevivência pela menor remoção de ácaros das plantas por ação direta das gotas de chuva e do vento. A baixa umidade relativa do ar desfavorece a ocorrência de doenças fúngicas nas populações de ácaros, como também na qualidade das aplicações para seu controle. A resistência aos acaricidas, principalmente para o ácaro-rajado, é um fenômeno amplamente comprovado e que resulta em falhas de controle, alastramento da infestação na lavoura e comprometimento da produção. Os efeitos dos produtos piretroides nas populações de ácaros fitófagos são variados, em especial para o ácaro-rajado, com alguns produtos contribuindo para o aumento populacional e dispersão na lavoura e outros, como a bifentrina e a fenpropatrina, com propriedade acaricida.
Alguns técnicos e pesquisadores relatam que existe uma relação de causa e efeito entre o manejo químico da ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi) e outras doenças da soja, com a explosão populacional de ácaros nas lavouras, porém falta informação para sua melhor compreensão. Na safra 2017/18, a equipe do professor Marco Antonio Tamai, da Universidade do Estado da Bahia (dados não publicados), presenciou, em Luís Eduardo Magalhães/BA, a ocorrência de epizootia de um fungo da ordem Entomophthorales dizimando a população do ácaro-rajado em uma lavoura de soja que tinha recebido duas aplicações de fungicidas para controle da ferrugem. Os ácaros mortos apresentavam corpo amarelo-palha, sendo encontrados na face inferior dos folíolos. Os espécimes de ácaros-verde presentes nos mesmos folíolos não foram infectados pelo fungo, demonstrando especificidade do entomopatógeno.
Um fator também pouco estudado é o efeito das cultivares e variedades de soja e algodão na reprodução dos ácaros, o que permite concluir que são vários os fatores bióticos, abióticos e de manejo que atuam, de maneira isolada ou associada, para que as populações destes organismos estejam crescentes em diversas regiões produtoras do País.
No Brasil há diversos trabalhos que estimaram a perda de produtividade pelo ataque de ácaros tetraniquídeos na soja, família à qual pertencem os ácaros rajado e verde, podendo chegar a 50% da produtividade, segundo Silva e Gassen (2005), e até 60% da produtividade em caso de ataque severo no período de enchimento dos grãos (Moscardi et al., 2012). As perdas podem ser ainda de 270kg/ha (Arnemann et al., 2006), chegar até 4,5 sacas de soja/ha (Roggia e Sosa-Gomez, 2012) e ficar entre 426,7kg/ha e 493,1kg/ha (Fiorin, 2014).
Na mais ampla e atualizada revisão sobre manejo de pragas da soja no Brasil, feita pela Embrapa Soja, é descrito como a principal dificuldade do manejo de ácaros o fato de ainda não se conhecer um procedimento adequado para sua amostragem na lavoura, e o momento correto para se recomendar a aplicação do acaricida (Moscardi et al., 2012).
Com o objetivo de gerar informações atualizadas referentes à eficiência de acaricidas no controle destes ácaros na soja, a Universidade do Estado da Bahia (Barreiras/BA), em parceria com a empresa Círculo Verde Assessoria Agronômica e Pesquisa (Luís Eduardo Magalhães/BA), conduziu, nas safras 2018/19 e 2019/20, quatro ensaios, sendo três em estufa (ácaro-rajado) e um em campo (ácaro-verde). Os ensaios tiveram duas aplicações de acaricidas, espaçadas em dez dias, sendo a infestação inicial do ácaro-rajado nas plantas de 28, 40 e 64 ácaros/folíolo no primeiro, segundo e terceiro ensaios, respectivamente, e classificadas, nesta ordem, como infestações média, alta e muito alta. No ensaio com o ácaro-verde a infestação inicial era de 41 ácaros/folíolo.
Os resultados de controle do ácaro-rajado são apresentados
nas Tabelas 1, 2 e 3. A abamectina foi muito eficiente nas doses de 500ml/ha (9g i.a.), 600ml/ha (10,8g i.a.) e 700ml/ha (12,6g i.a.) nos três ensaios, não havendo diferença significativa entre as doses, mostrando consistência no desempenho em diferentes níveis populacionais. A ação deste acaricida foi rápida, com controle médio do ácaro entre 69% e 95% nas três doses, o que ocorreu com apenas cinco dias da primeira aplicação, aumentando progressivamente com o passar do tempo até atingir valores médios acima de 92%, após 15 dias da segunda aplicação. Também foi muito eficiente nos três níveis de populações do ácaro (ensaios) o propargito nas doses de 800ml/ha (576g i.a.) e 1L/ha (720g i.a.), sendo equivalente à abamectina. O inseticida-acaricida diafentiurom a 800ml/ha (400g i.a.) foi muito efetivo sobre a população de 40 ácaros/folíolo, também equivalente à abamectina. O produto espiromesifeno (600ml/ha= 144g i.a.) teve seu desempenho muito influenciado pela infestação inicial do ácaro-rajado nos folíolos, com boa performance abaixo de 20 ácaros/folíolo, ou seja, devendo ser posicionados no início da ocorrência da praga na lavoura.
Os resultados de controle do ácaro-verde são apresentados na Tabela 4. Nota-se que quase todos os acaricidas eficientes ao ácaro-rajado também foram para o ácaro-verde, o que é uma vantagem no manejo, pois ambas as espécies podem ocorrer ao mesmo tempo na lavoura. Abamectina nas doses de 400ml/ha (7,2g i.a.), 500ml/ha (9g i.a.) e 600ml/ha (10,8g i.a.) proporcionou controle próximo a 80% após nove dias da aplicação. Os produtos espiromesifeno, aplicado a 600ml/ha (144g i.a.), e diafentiurom, a 800ml/ha (400g i.a.), tiveram desempenho muito semelhante à abamectina. Já propargito foi menos eficiente que os demais.
Nas safras 2017/18 e 2018/19, no Oeste da Bahia, foram observadas lavouras de soja nos estádios R5 e R6 com populações muito elevadas do ácaro-verde, com folíolos apresentando até 120 ácaros. As infestações se iniciaram na fase vegetativa, progredindo continuamente até o final do ciclo da cultura. Na safra 2019/20 foi encontrado um folíolo com 232 ácaros e centenas de ovos, uma mostra do potencial reprodutivo desta praga na lavoura.
Considerando os quatro ensaios, pode-se afirmar que o produtor dispõe de boas Tabela 1 - Eficiência de controle (%) de T. urticae (adulto + ninfa) pelos tratamentos acaricidas aos 5 e 10 dias após a primeira aplicação (DA1) e aos 5, 10 e 15 dias após a segunda aplicação (DA2), em infestação natural em estufa (Primeiro Ensaio). Barreiras/BA, 2019
Tratamento 1. Abamectina6
2. Espiromesifeno 3. Propargito7 Dose (pc./ha)1 700,0 mL 600,0 mL 1,0 L
Dose (i.a./ha)2
12,6 g 144,0 g 720,0 g 5.DA13,4
86,36 97,89 97,40 10.DA1 99,50 99,33 99,33
5.DA25
99,53 100,00 99,76 10.DA2 100,00 100,00 100,00 15.DA2 100,00 100,00 100,00
1Dose do produto comercial por hectare. 2Dose do ingrediente ativo por hectare. 3Eficiência de controle calculada pela fórmula de Abbott (1925). 4DA1: dias após a primeira aplicação. 5DA2: dias após a segunda aplicação. Tratamento adicionado com Agris® (0,25% v/v)6 ou Iharol Gold® (0,5% v/v)7 .
Tabela 2 - Eficiência de controle (%) de T. urticae (adulto + ninfa) pelos tratamentos acaricidas aos 5 e 10 dias após a primeira aplicação (DA1) e aos 5, 10 e 15 dias após a segunda aplicação (DA2), em infestação natural em estufa (Segundo Ensaio). Barreiras/BA, 2019
Tratamento 1. Abamectina6
2. Espiromesifeno 3. Propargito7 4. Diafentiurom Dose (pc./ha)1 700,0 mL 600,0 mL 1,0 L 800,0 mL
Dose (i.a./ha)2
12,6 g 144,0 g 720,0 g 400,0 g 5.DA13,4
69,48 54,23 23,05 81,01 10.DA1 65,56 --66,91 88,63
5.DA25
86,65 31,29 98,95 95,02 10.DA2 92,22 47,04 99,65 85,48 15.DA2 99,19 --95,15 ---
1Dose do produto comercial por hectare. 2Dose do ingrediente ativo por hectare. 3Eficiência de controle calculada pela fórmula de Abbott (1925). 4DA1: dias após a primeira aplicação. 5DA2: dias após a segunda aplicação. Tratamento adicionado com Agris® (0,25% v/v)6 ou Iharol Gold® (0,5% v/v)7 .
Tabela 3 - Eficiência de controle (%) de T. urticae (adulto + ninfa) pelos tratamentos acaricidas aos 5 e 10 dias após a primeira aplicação (DA1) e aos 5, 10 e 15 dias após a segunda aplicação (DA2), em infestação natural em estufa (Terceiro Ensaio). Barreiras/BA, 2019
Tratamento 1. Abamectina6
2. Abamectina6
3. Abamectina6
4. Propargito7 5. Propargito7 Dose (pc./ha)1 500,0 mL 600,0 mL 700,0 mL 800,0 mL 1,0 L
Dose (i.a./ha)2
9,0 g 10,8 g 12,6 g 576,0 g 720,0 g 5.DA13,4
82,95 89,42 95,15 85,98 97,31 10.DA1 86,12 95,70 98,76 99,02 99,61
5.DA25
92,49 96,91 99,12 99,56 99,70 10.DA2 97,09 99,73 99,73 99,73 97,49 15.DA2 98,39 98,19 92,96 92,36 94,39
1Dose do produto comercial por hectare. 2Dose do ingrediente ativo por hectare. 3Eficiência de controle calculada pela fórmula de Abbott (1925). 4DA1: dias após a primeira aplicação. 5DA2: dias após a segunda aplicação. Tratamento adicionado com Agris® (0,25% v/v)6 ou Iharol Gold® (0,5% v/v)7 .
Tabela 4 - Eficiência de controle (%) de Mononychellus planki (adulto + ninfa) pelos tratamentos acaricidas aos 4 e 9 dias após a aplicação, em infestação natural a campo. Luís Eduardo Magalhães/BA, março/2020
Tratamento 1. Abamectina5
2. Abamectina5
3. Abamectina5
4. Espiromesifeno 5. Propargito6 6. Diafentiurom Dose (pc./ha)1 400,0 mL 500,0 mL 600,0 mL 600,0 mL 800,0 mL 800,0 mL
Dose (i.a./ha)2
7,2 g 9,0 g 10,8 g 144,0 g 576,0 g 400,0 g 4.DA13,4
55,55 56,25 60,35 70,12 29,88 63,67 9.DA1 81,07 81,99 75,89 75,40 56,17 84,25
1Dose do produto comercial por hectare. 2Dose do ingrediente ativo por hectare. 3Eficiência de controle calculada pela fórmula de Abbott (1925). 4DA1: dias após a aplicação. Tratamento adicionado com Agris® (0,25% v/v)5 ou Iharol Gold® (0,5% v/v)6 .
opções de acaricidas para o manejo dos ácaros rajado e verde na soja, devendo este ser implementado seguindo os conceitos de manejo da resistência.
C C
Marco Antonio Tamai, Universidade do Estado da Bahia Mônica Cagnin Martins, Círculo Verde Assessoria Agronômica e Pesquisa Douglas Pereira dos Santos, Andrew Fhellype Mariano dos Santos, Joyce Pereira de Souza Paes e Jackelyne de Castro Oliveira, Universidade do Estado da Bahia Fábio Cruz da Silva e Augusto Jorge Cardozo Caetano, Círculo Verde Assessoria Agronômica e Pesquisa
Folha de algodão apresentando lesões causadas pelo ácaro-rajado
Norte seguro
Como se dão o desenvolvimento e o crescimento do milho em diferentes superfícies, em função da declividade do terreno e da exposição aos raios solares que incidem sobre as plantas
Asemeadura é uma das etapas mais importantes na implantação de uma lavoura. Muitos são os fatores, bióticos e abióticos, que interferem na produtividade do milho. O potencial de uso e de ocupação de terras depende das características ambientais do local. No caso do milho, os fatores edafoclimáticos são os mais importantes para o desenvolvimento da cultura.
O milho ocupa a segunda posição das culturas mais produzidas no Brasil, sendo precedido pela soja. Nas safras de 2019, foram mais de 17 milhões de hectares de área cultivada, representado aumento de 5,3% em relação à safra anterior. A produção estimada para o ano de 2019, de 99,984 milhões de toneladas, representou aumento de 23,9% em relação à produção anterior.
O milho é uma cultura de grande importância para a alimentação humana e animal, geração de energia com a produção de combustíveis e matérias-primas para outros fins. Analisar o espaço, baseado em informações de topografia do terreno e temperatura do dossel vegetativo, pode fornecer tecnologias de manejo acessíveis ao produtor rural.
O potencial de uso e de ocupação de determinada área depende bastante das características ambientais do local. O milho necessita que os índices dos fatores climáticos, especialmente a temperatura, a precipitação pluviométrica e o fotoperíodo, atinjam patamares considerados ótimos, para que o seu potencial genético de produção se expresse ao máximo.
Em áreas onde a declividade do terreno varia, a radiação total recebida durante um ciclo produtivo difere, podendo haver interferência no desenvolvimento da cultura. Os processos fisiológicos são influenciados por fatores climáticos (precipitação, radiação solar e temperatura) e parâmetros físico-químicos do solo (disponibilidade hídrica e nutrientes), fatores estes que geram parâmetros para serem correlacionados em diferentes terrenos, observando a alteração na produtividade.
A deficiência hídrica pode limitar o funcionamento das atividades das plantas, como redução da absorção e acúmulo de nutrientes, alteração na proporção raiz/ parte aérea e produção de massa seca total; devido à redução do crescimento radicular e à água servir de meio pelo qual os nutrientes minerais se deslocam do solo solução para as raízes da planta.
Com o objetivo de avaliar o crescimento do milho em diferentes superfícies, em função da declividade do terreno e da exposição aos raios solares incidentes nas plantas, um trabalho foi realizado no Departamento de Engenharia e Ciências Exatas da Unesp/FCAV, Campus de Jaboticabal, São Paulo, Laboratório de Instrumentação, Automação e Processamento (Liap).
O trabalho foi conduzido em estrutura que simula superfícies com exposições aos raios solares (Norte e Sul) e declividades (0%, 10%, 30% e 50%), com 10,5m2 (3,5m x 3m).
As superfícies foram preenchidas com solo previamente homogeneizado, classifi-
Wenderson Araujo CNA
Figura 1 - Régua graduada. Jaboticabal, SP, 2018
cado como Latossolo Vermelho Escuro, Eutrófico. O clima da região é do tipo Cwa, precipitação média anual de 1.400mm, temperatura média anual de 22°C e umidade relativa média do ar de 70%.
O trabalho foi realizado no período de safra 2018/19. Irrigadas, foi utilizado turno de rega de três e quatro dias durante o ciclo da cultura. A reposição de água no solo, no turno de rega, foi realizada de acordo com a soma da evapotranspiração da cultura.
O híbrido de milho utilizado foi o Pioneer P4285VYHR, que possui gene Roundup Ready e tecnologia Leptra. Foi realizado revolvimento manual do solo na linha de semeadura.
A semeadura foi realizada de forma manual, com auxílio de régua graduada, (Figura 1), sendo depositada uma semente por cova a cada 0,4m, totalizando sete plantas por linha, respeitando a população de 55 mil plantas por hectare. O espaçamento entre as linhas foi de 0,45m.
Na semeadura foi utilizada adubação de 250kg/ha do formulado 08-28-16. Foi realizada adubação de cobertura 20-00-20 aos 30 dias após semeadura (DAS). Por fim, realizou-se adubação nitrogenada aos 60 DAS.
Os dados meteorológicos referentes ao período de condução do experimento foram fornecidos por Estação Meteorológica Automatizada, marca Davis Instruments, instalada próximo à área experimental, com abrangência do ciclo da cultura do milho. A estação foi equipada com sistema de aquisição de dados Vantage Pro Plus Wireless, onde foram mensuradas radiação solar global; temperatura e umidade relativa do ar; velocidade do vento e precipitação
Figura 3 - Temperatura máxima, média e mínima do período de condução do experimento. Temp. Méd= Temperatura média; Temp Máx= Temperatura máxima; Temp Mínima=Temperatura mínima
Figura 2 - Tensiômetros com vacuômetros tipo Bourdon. Jaboticabal, 2019
pluviométrica e a evapotranspiração de referência (ETo).
Foram instalados, no centro de cada superfície, dois tensiômetros com vacuômetros tipo Bourdon. Estes foram calibrados em relação a tensiômetros de mercúrio, sendo um instalado a 20cm e o outro a 40cm de profundidade (Figura 2). A irrigação foi realizada por gotejamento com seis mangueiras, gotejadores espaçados a 20cm, vazão de 90L/h.
COMPONENTES METEOROLÓGICOS
Na Figura 3, são apresentadas as temperaturas máxima, mínima e média do período de condução do experimento. Observou-se que a maior temperatura foi de 36,11°C aos 14 dias após a semeadura e a temperatura mínima foi de 14,6°C, aos 40 dias após a semeadura.
Na Figura 4, foram apresentados os valores de umidade máxima, média e mínima do ar. Observou-se, em vários dias, umidade máxima de 100% e a mínima, próximo à colheita do experimento, de 24%.
De acordo com a literatura, os valores obtidos neste trabalho de temperatura e umidade estão dentro do recomendado para o correto desenvolvimento do milho, onde a temperatura ideal está em torno de 35°C e a umidade acima de 50%.
Na Figura 5 observam-se os valores de radiação solar global durante a condução do experimento. Observou-se que a quantidade de radiação incidente no dossel da cultura do milho foi diferente nos tratamentos. As superfícies horizontais (0) acumularam maior quantidade de radiação global, 2212,91 MJ m -2 d-1 e, consequentemente, maior quantidade de radiação fotossinteticamente ativa,
Figura 4 - Umidade máxima, média e mínima do ar durante o período de condução do experimento. Umid. Méd= Umidade média; Umid. Máx= Umidade máxima, Umid. Mín=Umidade mínima
Figura 5 - Valores de Radiação Global e Radiação fotossinteticamente ativa durante a condução do experimento. Rad Global = Radiação Global; Rad PAR= Radiação fotossinteticamente ativa
Figura 6 - Valores para altura de plantas obtidos no experimento, em cm
911,91 m -2 d-1. Seguida das superfícies horizontais, o tratamento 10%S recebeu 2201,3 MJ m -2 d-1 de radiação global e 907,1 MJ m -2 d-1 de PAR. Os demais tratamentos acumularam valores entre 2203,0 e 1989,5 MJ m -2 d-1 e 907,9 e 819,2 MJ m -2 d-1 para radiação global e PAR, respectivamente.
Para a variável altura de plantas, Figura 6, foram encontradas maiores médias nas superfícies 30S, 10S e 30N, respectivamente. Observou-se que os valores não acompanharam os maiores valores de radiação. Pela quantidade de radiação recebida ser bastante próxima, estimam-se valores de altura de planta próximos também.
COMPONENTES FITOTÉCNICOS
Para a variável massa de matéria seca de plantas (MMS) foram observados maiores valores 10N, 30S e 10S, respectivamente (Figura 7). Maior quantidade de MMS é interessante para o produtor, seja qual for a finalidade da produção do milho: alimentação animal, cobertura do solo. Aumentar a quantidade de MMS sem reduzir a massa de grãos é tarefa a ser seguida, pois os grãos têm maior valor agregado e maior valor nutricional para alimentação humana e animal.
Para a variável produtividade (Figura 8), observaram-se maiores médias nas superfícies 30N, 10S e 50S. A maior média de produtividade, 13,2t/ha, foi obtida na superfície 30N, seguida de 12,5t/ha na superfície 10S. Estes valores estão acima da média dos encontrados no Brasil, que é de 5,35t/ha.
Esses valores foram obtidos devido aos tratos na condução da cultura, onde foram realizados adubação, irrigação e controle de plantas daninhas. As condições do solo da região, onde predomina maior quantidade de argila, quantidade de radiação, umidade e temperatura, também podem ter influenciado no correto desenvolvimento da cultura. Como já mencionado neste trabalho, o conjunto das condições edafoclimáticas faz com que a cultura atinja o máximo do potencial genético.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A exposição a que as plantas foram submetidas pode influenciar no desenvolvimento da cultura do milho. Neste experimento foi encontrada maior produtividade quando as plantas foram expostas ao Norte, a 30% de declividade do terreno. As condições geográficas do terreno devem ser levadas em consideração para implantar culturas em campo, a fim de que se possa aproveitar melhor os insumos disponíveis e os que serão ofertados.
Jean Lucas Pereira Oliveira, Marcelo Rodrigues Barbosa Júnior, José Eduardo Pitelli Turco, Carlos Eduardo Angeli Furlani e Armando Lopes de Brito Filho, Unesp
Figura 7 - Valores para massa de matéria seca de plantas obtidos no experimento, em t/ha
Figura 8 - Valores para produtividade de grãos obtidos no experimento, em t/ha
Controle exigente
O manejo da lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda, tem se tornado cada vez mais desafiador, uma vez que a praga avança para outros países e continentes, continua a reduzir a produtividade e a elevar custos, além de mostrar capacidade de se tornar resistente a tecnologias disponíveis no mercado
OManejo Integrado de Pragas (MIP) foi desenvolvido com uma visão ampla, considerando o complexo de insetos fitófagos que poderia reduzir a produtividade do cultivo e, consequentemente, a lucratividade de quem produz. Obviamente, está também embutida no conceito a sustentabilidade do sistema produtivo, no que diz respeito à alta qualidade, não só do produto, mas também do ambiente onde foi produzido. Infelizmente, a utilização fiel do MIP ao longo do tempo foi sendo reduzida. Por decisão única do produtor ou até influenciado por outros, é comum considerar como pragas importantes (chaves) apenas uma ou poucas espécies, as quais ao longo dos anos recebem maior número de intervenções para o controle, independentemente do seu nível populacional, e em geral com o uso de pulverizações com macro ou micro-organismos. Em áreas individuais extensas é comum a aquisição notadamente de produtos químicos, considerando como alto grau de “certeza” que determinada praga estará presente na lavoura e demandará medidas de controle. Se tal praga não demandar o controle, o produto ficará armazenado para o próximo plantio ou poderá ser utilizado para o controle de outra espécie. Portanto, é possível aplicar um produto que não é apropriado,
Ivan Cruz
Figura 1 - Captura diária de mariposas de Spodoptera frugiperda em armadilha colante contendo feromônio sintético como atraente
Figura 2 - Captura acumulada de mariposas de Spodoptera frugiperda em armadilha colante contendo feromônio sintético como atraente
Figura 3 - Parasitismo natural acima de 40% em larvas de Spodoptera frugiperda coletadas em milho em municípios de Minas Gerais ou, pior, aplicar sem que seja registrado para a praga do momento, incidindo na lavoura do milho.
A lagarta-do-cartucho-do-milho, Spodoptera frugiperda, foi identificada em 1797, e até há pouco tempo estava confinada nas Américas. Atualmente já se encontra em vários países da África e da Ásia. É a principal praga do milho no Brasil, e apesar da existência de vários produtos comerciais e de sementes de plantas geneticamente modificadas (milho Bt), continua reduzindo a produtividade da lavoura, aumentando o custo de produção e diminuindo a lucratividade do agricultor. Tal fato sugere, e já está confirmado por estudos científicos, que esta praga é capaz de se tornar resistente às tecnologias utilizadas, sejam baseadas em produtos químicos ou até mesmo plantas de milho Bt, ou que tais tecnologias não estão sendo utilizadas adequadamente. Portanto, é fundamental a implementação de um programa correto de manejo da praga que irá propiciar ganhos tanto para o agricultor como para o consumidor. Além disso, logicamente, o próprio ambiente será beneficiado, uma vez que o MIP por princípio tem por objetivo também a sustentabilidade da cadeia produtiva. O sucesso esperado no manejo da praga pode não ocorrer sem um planejamento prévio e considerando vários critérios técnicos, incluindo possíveis efeitos colaterais indesejáveis do método de controle escolhido, principalmente em relação aos organismos não alvos, em especial a fauna de insetos benéficos, entre eles os agentes de controle biológico natural.
A presença do inseto na lavoura pode ser percebida em praticamente todos os estágios de desenvolvimento da planta. No entanto, injúrias em estágios iniciais de desenvolvimento são as que rapidamente chamam a atenção do agricultor, mas significam também que a larva já está presente, sendo então necessário quantificar esta presença e confrontar com o seu nível de dano econômico para então tomar uma decisão sobre a necessidade de efetuar o controle.
ESTRATÉGIA DE MANEJO
Inicialmente, dois pontos básicos devem ser considerados na implantação
Fotos Ivan Cruz
Armadilha para o monitoramento da lagarta-do-cartucho
de um programa de manejo de S. frugiperda. O primeiro deles é sobre o potencial médio de redução na produção de grãos de uma planta após ser danificada por uma larva sadia, atualmente considerado em torno de 30%. O segundo ponto é em relação ao nível de dano econômico (NDE), qual seja, o nível populacional da praga presente na área de produção que, se não for controlada eficientemente, causaria uma perda econômica no mínimo igual ao custo de seu controle. Devem ser incluídos neste custo o gasto na aquisição do produto e o valor a ser pago pelos serviços utilizados antes, durante e depois da aplicação. Obviamente, a perda econômica é função da queda na produtividade esperada e do preço do milho. Considerando que há similaridade do custo total para o controle da praga, independentemente de diferentes níveis tecnológicos utilizados na produção, é fácil entender que o nível de dano econômico irá variar. Assim sendo, individualmente uma unidade produtiva deve ter seu NDE próprio. Conhecendo o potencial da praga em reduzir a produção da planta, o valor econômico da produção e o custo total envolvido no controle, pode-se então determinar o NDE (valor calculado).
Conhecendo o NDE para determinada exploração agrícola e em um ano específico, a etapa seguinte é confrontar o valor calculado para o NDE com a real incidência da praga na área. Se a incidência da praga for num patamar próximo ou superior ao valor indicado pelo NDE, o controle deve ser efetuado, pois há alta probabilidade de perdas econômicas caso a praga não seja controlada. Tal afirmativa, porém, não é tão simplista; está correta no sentido de tomar a decisão sobre a necessidade do controle, porém aplicar o produto não é suficiente para se obter eficiência.
O agricultor deve estar atento às variáveis que podem afetar significativamente o desempenho da aplicação. Uma delas é o estágio de desenvolvimento da praga, pois larvas de idades diferentes demandam ajustes de doses do produto utilizado, seja ele químico ou biológico. E esta diferença no estágio de desenvolvimento das larvas é função do fluxo de entrada das mariposas na lavoura e da época em foi realizado o levantamento para determinar a infestação real da praga. Portanto, o levantamento, muitas vezes realizado com base apenas no sintoma de dano aparente, pode não estimar adequadamente a presença da larva e/ou seu estágio de desenvolvimento.
Verificar a presença da larva, computar sua distribuição percentual por faixa etária e fazer, se necessário, os devidos ajustes na dose do produto a ser aplicado são um método melhorado de monitoramento e tomada de decisão sobre necessidade de controle. Porém, é um método dispendioso e requer cuidados especiais para não danificar a planta. Em geral, devem ser amostradas, nos dois sistemas mencionados, entre 1% e 2% das plantas da área cultivada, podendo ser considerados pontos de amostras contendo entre 50 plantas e 100 plantas. Quanto maior o número de pontos, selecionados ao acaso, melhor será a qualidade da informação.
Outra alternativa para o monitoramento de S. frugiperda em milho é através do uso de armadilha contendo um piso colante removível e o feromônio sexual sintético da praga (http://agrofit. agricultura.gov.br/agrofit_cons/principal_agrofit_cons). O objetivo deste método é identificar a presença da mariposa na área-alvo ao longo do ciclo da cultura, e deve ser utilizado um pouco antes ou no dia do plantio do milho. A tomada de decisão para o controle da praga é dada em função da captura acumulada média de três mariposas por armadilha (http://dx.doi.org/10.18512/1980-6477/ rbms.v9n2p107-122), considerando que uma armadilha é suficiente para monitorar cinco hectares em áreas homogêneas. Ou seja, três ou mais mariposas capturadas significam alta probabilidade de se ter uma população de larvas com potencial para reduzir a produtividade de milho, cujo valor econômico é no mínimo igual ao custo do controle, dentro de um patamar de produtividade esperado de 150 sacos de milho por hectare. Utilizando este critério, e se a pulverização for a estratégia escolhida, ela deverá ser efetuada dez dias após a captura acumulada de três mariposas. As larvas estarão com cerca de sete dias e muito suscetíveis ao produto a ser aplicado, seja ele químico ou microbiológico.
O monitoramento continuado com as armadilhas indicará as oscilações no fluxo de mariposas ao longo do ciclo do milho (Figuras 1 e 2). As Figuras 1 e 2 mostram dados de captura de mariposas durante um ano todo, em Sete Lagoas, Minas Gerais. Em ambientes agrícolas com a flutuação de mariposas e com baixa incidência de agentes de controle natural, o potencial de redução da produtividade de milho com certeza será alto, e esta situação é provável que ocorra em diversos ambientes agrícolas no Brasil, envolvendo a cultura do milho.
É essencial, portanto, para se ter sucesso no controle de S.
Spodoptera frugiperda é a principal praga em milho no Brasil
Figura 4 - Parasitoides predominantes em larvas de S. frugiperda coletadas em milho em 97 municípios de Minas Gerais em um período de oito anos
Figura 5 - Efeito dos principais parasitoides sobre a lagarta-do-cartucho, Spodoptera frugiperda
frugiperda em milho, que o produtor, individualmente ou através de cooperativas ou de sindicato rural, tenha conhecimento da flutuação da praga, mesmo em área sem plantio de milho, considerando que a larva pode utilizar como fonte de alimento mais de 60 famílias de plantas. Este monitoramento é fundamental para a produção de milho escalonado, como é o caso de milho para venda in natura ou aquele produzido para a agroindústria.
Observando a flutuação da praga ao longo do tempo, surge uma grande dúvida sobre o número necessário de aplicações para o controle durante o ciclo da cultura do milho, especialmente considerando o curto período residual obtido com produtos via pulverização. Isto sem considerar a grande pressão populacional sobre as plantas de milho Bt, com vários exemplos de perda de eficiência no controle da praga. Portanto, é necessário utilizar alternativas sustentáveis para o manejo da praga, que sozinhas ou integradas com outras de mesmo princípio propiciem controle duradouro da praga-alvo e mantenham as demais em patamar aceitável. Uma alternativa é a inserção prioritária do controle biológico, especialmente com a utilização e o manejo de organismos macrobiológicos como os insetos benéficos (parasitoides e predadores).
CONTROLE BIOLÓGICO
CONSERVATIVO E
CONTROLE BIOLÓGICO
APLICADO
Apesar de pouco utilizado no passado, atualmente cresce a demanda para a utilização do controle biológico de insetos-pragas. E a incidência de agentes de controle natural de larvas de S. frugiperda em áreas comerciais de milho indica o quanto o método pode ser útil no manejo integrado da praga. A utilização de insetos benéficos pode ocorrer através da aquisição e do uso de produtos de biofábricas (controle biológico aplicado) e/ou através da conservação dos insetos benéficos já presentes no ambiente agrícola. Neste caso, exercendo o controle natural da própria S. frugiperda e de outras espécies fitófagas.
Monitoramento realizado em 97 municípios de Minas Gerais, em período de oito anos, através de coletas de larvas de S. frugiperda em plantas de milho e em propriedades rurais, indicou a presença de inimigos naturais em 99%. A Figura 3 mostra os municípios com índices de parasitismo entre 40,4% e 71,4%. Maior ou menor incidência de populações de espécies de pragas é função, entre outros fatores, da biodiversidade de benéficos.
Entre todos os parasitoides, Chelonus insularis, Campoletis flavicincta e Eiphosoma laphygmae, juntos, representaram 74,1% das espécies obtidas (Figura 4). A espécie C. insularis coloca seus ovos no interior dos ovos de S. frugiperda, porém permite a eclosão das larvas da praga; as duas outras espécies são exclusivas de larvas pequenas, e, para todas, a larva parasitada reduz em mais de 90% a ingestão do alimento antes de ser morta. Uma única fêmea de C. flavicincta pode parasitar e matar acima de 200 larvas pequenas de S. frugiperda (Figura 5). A presença destes parasitoides e de outras espécies de insetos benéficos predadores, tais como a tesourinha, Doru luteipes, espécies de percevejos, como Zelus e Podisus, joaninhas e bicho-lixeiro, com certeza pode ser grande aliada do agricultor no controle do complexo de pragas do milho, especialmente quando o agricultor passa a utilizar práticas que não reduzam a sobrevivência e o desenvolvimento populacional destes insetos benéficos.
USO DO PARASITOIDE DE OVOS,
TRICHOGRAMMA PRETIOSUM
A espécie Trichogramma pretiosum, um inseto minúsculo, está com uso crescente no Brasil, em milho e em outros cultivos, em função do seu modo de ação e de liberação, de sua eficiência e mobilidade e do custo competitivo. A utilização desta modalidade de controle de S. frugiperda pode ser pensada tanto como alternativa ao uso de um produto químico sem perda de eficiência quanto como estratégia de evitar a eliminação muito precoce de diferentes espécies de organismos benéficos de grande importância na manutenção do equilíbrio bioecológico, atuando na redução de outras espécies de insetos fitófagos. Adicionalmente, deve ser considerado o fato de não haver pragas resistentes ao controle biológico com a vespa Trichogramma e de ser uma tecnologia que não gera passivo ambiental.
A espécie T. pretiosum é um parasitoide exclusivo de ovos e passa todas as fases de desenvolvimento, com exceção da fase adulta, dentro dos ovos de S. frugiperda, e o fato de ser exclusiva de ovos impede a eclosão de larvas e consequentemente evita qualquer dano foliar. O inseto pode ser liberado no campo de diversas maneiras, desde a liberação manual até a liberação via drone, neste caso para grandes áreas. Ao contrário do controle efetuado via pulverização, que precisa atingir a larva ou o local onde se encontra na planta e em todas as plantas, a vespa Trichogramma, em virtude de sua mobilidade, pode ser liberada em grupos, em alguns pontos da área plantada com milho. Em média, as fêmeas são liberadas em uma densidade de 60 mil por hectare, distribuídas em 20 pontos equidistantes.
O Trichogramma pode ser liberado no estágio de pupa dentro de um ovo de um hospedeiro alternativo, geralmente ovo da traça das farinhas, Anagasta kuehniella, muito próximo da emergência do adulto ou na fase adulta. A fêmea recém-emergida imediatamente começa a busca pelo ovo de S. frugiperda para colocar seu próprio ovo e assim perpetuar a espécie. Um indicativo de parasitismo dos ovos da praga é que eles se tornam enegrecidos cerca de quatro dias após receberem o ovo do Trichogramma. Uma geração de T. pretiosum se completa em cerca de dez dias, contrastando com o ciclo entre 30 dias e 40 dias de S. frugiperda.
A eficiência do Trichogramma depende da sincronização entre liberação no campo e presença de ovos da praga. Para que isto ocorra, o monitoramento deve ser voltado para a identificação da postura ou, melhor ainda, através da captura de mariposa na armadilha com feromônio. A tomada de decisão para o controle da praga é baseada na captura média acumulada de três mariposas por armadilha, com liberação do parasitoide logo a seguir. Os insetos são adquiridos de biofábricas comerciais, que são geralmente associadas a uma empresa prestadora do serviço de liberação, usualmente via drone.
Em locais onde não se tem conhecimento sobre a população de agentes de controle biológico natural ou quando ela é pequena ou inexistente, a liberação do Trichogramma pode ser realizada em três etapas, liberando em cada ocasião um terço da densidade global.
PULVERIZAÇÃO
Se o produtor optar pela utilização de uma medida de controle via pulverização, o produto, preferencialmente microbiano ou químico, deve ser escolhido em função de características positivas, além da eficiência sobre a praga e seu custo. Sem o conhecimento prévio, a escolha é uma tarefa árdua, considerando a existência acima de 200 marcas de produtos comerciais disponíveis (http://agrofit.agricultura.gov.br/agrofit_cons/!ap_praga_detalhe_ cons?p_id_cultura_praga=3531). A ineficiência da aplicação pode ser atribuída à escolha incorreta do tipo de bico de pulverização, do volume de água, da pressão de aplicação, do estágio de desenvolvimento da planta, de chuvas logo após a aplicação etc. Larvas que recebam doses insuficientes para matá-las vão gradualmente adquirindo resistência ao produto aplicado, e assim, com o passar do tempo, este grau de resistência vai aumentando na população da praga, demandando novas aplicações, aumentando o custo de produção e causando desequilíbrio biológico.
Ivan Cruz, Embrapa Milho e Sorgo
Instalação de armadilha com feromônio para monitorar o inseto
Dano foliar provocado pela lagarta-do-cartucho em milho
Incêndios florestais: a culpa é do agronegócio?
Antecipo a resposta: tem culpa, sim, mas é limitada e circunscrita. In limine, vamos estabelecer o pano de fundo. 1) Nem todo o incêndio deriva de desmatamento, nem todo o desmatamento redunda em incêndio. 2) Nem todo o desmatamento é criminoso: existem os limites estabelecidos pelo Código Florestal. 3) existem tecnologias de manejo de pastagens ou culturas, que mitigam ou eliminam os riscos de incêndio.
INCÊNDIOS NOS BIOMAS
Incêndios na Amazônia têm sido recorrentes, associados com desmatamento ou devidos à estiagem. Mas não é caso único no mundo, pois, a cada mês, em algum lugar do mundo existem incêndios florestais, decorrentes do período seco ou de desmatamentos (https://visibleearth.nasa.gov/images/145421/ building-a-long-term-record-of-fire/145421f). O problema é global e a solução terá que ser global.
Em 2020, os incêndios no Pantanal se iniciaram em janeiro, agravando-se a partir de agosto, atingindo grande magnitude, por estar excepcionalmente seco. Choveu pouco nas cabeceiras dos rios que o formam; o nível do Rio Paraguai, que em setembro costuma atingir alta de 3m, este ano baixou 28cm. No Pantanal, não há relação entre desmatamento e incêndios, o bioma é savana sazonalmente inundável e contém florestas esparsas.
No Cerrado e na Caatinga, os incêndios também são frequentes. A diferença é que sua vegetação é resiliente, recuperando-se após o fogo, fruto de uma convivência que remonta a priscas eras. Na Mata Atlântica, os incêndios foram esparsos, favorecidos pela alta temperatura e baixa umidade.
OS FATOS
No Brasil, o número de focos de incêndio na vegetação nativa cai desde 2004, embora em 2019 e 2020 tenham atingido os maiores valores desta década, de acordo com o INPE. E 90% dos focos de incêndio ocorrem entre julho e outubro. O que não exime a sociedade, os governos e os produtores rurais de sua parcela de culpa. Cada qual tem seu papel em prevenir, reduzir riscos, não favorecer incêndios, fiscalizar e aplicar a legislação e tomar medidas precoces no combate aos incêndios.
Não obstante, do meu ponto de vista, torna-se essencial uma ação coordenada internacional, substituindo as acusações mútuas, a procura por um culpado, a negação do problema e as justificativas pelos incêndios, por atitudes concretas para debelar o problema. Incêndios florestais constituem o maior emissor individual de gases de efeito estufa no Brasil e um dos principais em caráter global. As emissões são responsáveis diretas pelas mudanças climáticas globais que afetam a qualidade da vida no planeta Terra. E muito prejudicam a agropecuária.
OS MITOS
Há diversos interesses envolvidos no tema. Exemplo: em fevereiro de 2019, a revista Nature publicou um artigo com uma tese esdrúxula, estrambótica e sem base factual. De acordo com os autores, em função da guerra tarifária entre EUA e China, os chineses retaliariam diminuindo as compras de soja dos EUA. O Brasil ocuparia o espaço, e parte da floresta amazônica seria derrubada para produzir soja. De imediato, desconstruímos totalmente a teoria (https://www.embrapa.br/en/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1111175/does-the-brazilian-soybean-production-increase-pose-a-threat-on-the-amazon-rainforest). O tempo se encarregou de mostrar de que lado estava a verdade.
É um mito considerar a expansão da fronteira agrícola como a causa principal da ocorrência de desmatamentos e incêndios. Dois argumentos basilares: 1) A área de pastagens diminuiu quase 30Mha nesta década. A área de soja cresceu quase 15Mha nos últimos 15 anos, porém o desmatamento diminuiu de 2,8Mha para 0,35Mha anuais, no mesmo período: enquanto um cresce outro decresce. E o milho migrou quase totalmente da safra de verão para a de outono, utilizando a mesma área da soja. 2) Os grandes fornecedores de insumos e compradores de grãos não transacionam com produtores rurais que não cumprem integralmente o Código Florestal.
É um mito considerar a exploração pecuária no Pantanal a causa dos incêndios. Ao contrário, o cientista Arnildo Pott, com 40 anos de experiência no bioma, mostra como o pastejo pode ser um redutor do risco de incêndios: há mais incêndios onde há menos gado ou na sua ausência (https://www.portaldbo.com. br/boi-e-o-bombeiro-o-pantanal-ficcao-ou-realidade/).
AS CAUSAS
Nem todo o incêndio é criminoso. Existem causas naturais (fogo espontâneo, excesso de calor, efeito lente de vidros, raios) e acidente sem dolo. Contudo, pode haver uso de técnicas agrícolas inadequadas, como queimadas sem controle. O responsável por uma propriedade agrícola pode desrespeitar os preceitos técnicos recomendados. Solução: orientação técnica.
Muitos incêndios decorrem da derrubada de mata em assentamentos rurais. Sem título da terra, o assentado não tem acesso ao crédito e precisa, de tempos em tempos, expandir a área de cultivo, pelo esgotamento da fertilidade natural. Solução: regularização fundiária e fiscalização.
Porém, as causas principais são criminosas: madeireiros que invadem terras públicas, reservas indígenas ou propriedades rurais, para extração de madeira – normalmente vendida no mercado internacional. O círculo vicioso do tráfico internacional de drogas se aplica aqui: a culpa é de quem desmata criminosamente ou de quem compra a madeira ilegal? De ambos. E a solução deve ser buscada nas duas pontas, evitando e punindo a derrubada, seguida pelos incêndios. E reprimindo o tráfico internacional de madeira não certificada. Além de uma grande concertação internacional com metas claras para reduzir o problema a um mínimo.
Decio Luiz Gazzoni O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja
Demanda de alimentos bate recorde histórico em tempos de pandemia
No mês de março de 2020 o mundo se via perplexo com a explosão do coronavírus, com temor dos reflexos econômicos e do risco de derrocada dos preços agrícolas em função da dificuldade de movimentação ou até mesmo do plantio da safra, como temia o Hemisfério Norte. Mas no setor, a pandemia acabou fazendo aumentar a demanda, com a população confinada em casa. O consumo de alimentos, principalmente básicos, se concentrou no domicílio. Houve recorde de cotações da soja, do milho, do arroz e agora do trigo também. Quase três meses antes de fechar o ano, o Brasil registrou mais de 102 milhões de toneladas de soja exportadas até a primeira quinzena de outubro, frente ao último recorde, de 101,6 milhões de toneladas ao longo de todo o ano de 2018. Isso causou escassez no mercado interno, o que obrigou o governo à retirada da Tarifa Externa Comum (TEC) para produtos importados de fora do Mercosul. O país passou a ser grande importador para atender à demanda, uma vez que o clima também trouxe atrasos à safra. Desta forma, as cotações dos principais produtos avançaram forte e como no mercado global o quadro é muito parecido, dificilmente os consumidores irão ver produtos baratos nas gôndolas dos supermercados nos próximos meses. Isso dá maior fôlego aos produtores para investir em tecnologias, melhorar a produtividade e colher mais em cima da mesma área, para atender à demanda crescente que continuará em 2021. O mundo precisa de alimentos e a safra mundial dos principais grãos está abaixo do que vem sendo consumido. Isso dá garantia aos produtores de que haverá bons anos pela frente.
MILHO
“A safra do milho sumiu.” Esta era a frase mais ouvida nestas últimas semanas no setor de ração. Principalmente dos pequenos consumidores, que precisam manter compras constantes. Com isso, o governo retirou a TEC das importações e desta forma o setor esperava que o mercado iria recuar, fato que não ocorreu. Pelo contrário, houve alta ainda maior porque os valores de liquidação do cereal importado estavam maiores que o nacional. Com o milho importado em alta em cima do movimento de Chicago (acima dos 4,15 dólares), o grão dos EUA, que é a melhor opção do momento, não chega à casa do consumidor abaixo dos R$ 82,00. Há ainda a necessidade de atender à demanda do começo de ano, porque o milho da primeira safra já sofre comprometimento devido à seca e haverá pouca oferta até o meio de fevereiro. A pressão seguia forte no mês de outubro, com poucos vendedores internos, dando sinais de que o mercado seguiria firme neste restante de ano.
SOJA
O Brasil exportou até o final da primeira quinzena de outubro mais de 86,5 milhões de toneladas do grão, batendo o recorde histórico anual de 83,5 milhões de toneladas de 2018. Com dois meses e meio para fechar o ano, contabilizava folga de três milhões de toneladas acima do recorde anterior. As cotações se encontravam na faixa dos R$ 160,00 aos R$ 165,00 a saca. O clima seco atrasou o início do plantio e assim a oferta do grão deve se concentrar a partir de março.
ARROZ
O mercado do arroz teve recorde de cotação em reais, acima dos R$ 110,00 a saca no Rio Grande do Sul e R$ 140,00 nos estados centrais. Mesmo com cotações recordes em outubro houve poucas
Curtas e boas
vendas, o que forçou o governo a retirar a TEC das importações do produto de fora do Mercosul para importações de até 400 mil toneladas. Foram negociados alguns navios de arroz em casca dos EUA, que estava em plena colheita e conseguia colocar o produto competitivo nos portos do Sul do Brasil. Também houve negócios com arroz na Ásia, principalmente na Índia, mas há atrasos nos embarques, falta de contêineres na origem e desta forma o mercado interno vai se mantendo firme. O plantio avança para o final no Sul, em novembro. A safra tende a mostrar números pouco diferentes do último ano, dando sinais de indicativos novamente fortes para 2021.
Vlamir Brandalizze Twitter@brandalizzecons www.brandalizzeconsulting.com.br Instagram BrandalizzeConsulting ou Vlamir Brandalizze
TRIGO - O mercado do trigo mostra forte alta nos níveis internacionais por conta de problemas nas safras dos maiores exportadores mundiais. Com isso, o Brasil vai ter indicativos internos fortes em 2021 porque não se consegue importar abaixo de R$ 1.500,00 por tonelada neste momento.
EUA - O mercado local segue forte porque tanto soja como milho já mostram vendas na exportação muito acima dos anos anteriores. Em pouco tempo não haverá mais soja para ser exportada pelos norte-americanos. Em outubro, quase 80% do que estava previsto para ser exportado até o mês de agosto de 2021 já tinha sido negociado.
CHINA - O país segue comprando grandes volumes de grãos para recuperar os estoques, que estavam nos menores níveis em muitos anos. Já importaram recorde de soja, milho e também trigo. Antes mesmo de fechar o ano, já vai superando os anteriores e deixando o mercado global desabastecido.
ARGENTINA - Os argentinos sofrem com a La Niña e registram grandes perdas no trigo por conta da seca. Junto a isso há indicativos de que terão problemas com o milho e a soja nesta temporada. O país poderá ter menos para exportar em 2021, ajudando a alimentar a pressão altista no mercado internacional, porque o mundo bate recorde de consumo enquanto os exportadores registram problemas com as safras.
Faltou água
Como qualquer composição de seres vivos, o inoculante está sujeito aos efeitos do estresse hídrico na nodulação da soja
Para entender o problema que o estresse hídrico causa sobre a nodulação da soja e, consequentemente, sobre o aporte de nitrogênio para a pal. Se houver, nesta fase, de dez a 12 nódulos, é uma boa indicação de que há bactérias vivas no solo e que no correr dos próximos dias haverá uma boa nodulação. planta, duas premissas são necessárias: 1 - nenhum ser Entre 20 e 30 dias deverá ser feita uma nova verifivivo vive sem água, e 2 – o inoculante é um produto com cação. Em paralelo, é necessário observar a parte aérea, seres vivos. para ver se não há o típico sintoma de folhas amarele-
A partir de 15 de setembro, inicia-se a semeadura de cidas, indicando baixo suprimento de nitrogênio. Nesta soja no Brasil, com o fim do vazio sanitário e o início das segunda verificação, mais uma vez é necessário contar chuvas no Centro-Oeste. Neste ano, entretanto, com o o número de nódulos na coroa da raiz e na raiz princiatraso das chuvas, o agricultor ficou em um dilema: ou pal. Aí o tamanho dos nódulos já deverá ser maior, bem “semeava no pó”, jogando as sementes inoculadas em como o número, entre 20 e 30. A partir daí, verificadas um solo seco, sem condições de umidade suficiente para estas condições e com uma boa umidade, a nodulação provocar a germinação das sementes e deverá caminhar para fornecer um muito menos a sobrevivência das bacté- bom suprimento de nitrogênio duranrias, ou atrasava a semeadura, perdendo te todo o ciclo. a janela ideal para a soja e atrasando o Entretanto, se as condições de falta plantio do milho na segunda safra. de água foram de tal maneira severas Claro que cada agricultor sabe trabalhar sua área e medir seus riscos melhor O uso de que inviabilizaram a nodulação, a correção do N na lavoura faz-se necessáque ninguém. A verdade é que nenhuma inoculante em ria. O uso de inoculante em pulveridas duas soluções é a ideal, mas a agri cultura está desde sempre sujeita à na tureza, que tem suas próprias leis. pulverização pós-semeadura zação pós-semeadura ainda não está validado, embora haja diversos casos de sucesso para remediar situações
Desta forma, há agricultores que se- ainda não está de falha na nodulação. Nestes casos, mearam com o solo superseco, aguardando as chuvas tardias, e outros que validado, embora deve-se usar de três a cinco doses de inoculante líquido por hectare, diluídos ainda aguardam a regularização do sis- haja diversos em 100L de água, e pulverizar com a tema hídrico para implantar a lavoura. Outros, mais precavidos, ainda dividiram casos de sucesso barra baixa, jato dirigido para o pé da planta, fora da hora do sol forte e com a área em duas e semearam uma metade para remediar o solo úmido. A fase da planta ideal pae aguardam para semear a outra. situações de falha ra esta aplicação é V3, embora possa ir Mas, seja qual for a situação, o importante é que, de agora em diante, quem na nodulação até V4. Em geral, consegue-se recuperar a nodulação e o suprimento de N. semeou em solo seco faça um criterioso Quando a nodulação não ocorrer ou monitoramento da lavoura, observando for muito pequena, aí deve-se recorrer frequentemente como está a nodula- a um agrônomo para ver a conveniênção de sua soja. É fato que, em solo que cia econômica de aplicar fertilizante permaneça sob condição de ausência de nitrogenado, o que somente deverá umidade por alguns dias, a mortalidade ser o último caso. das bactérias do inoculante será quase Portanto, reitera-se a conveniência que total. Os inoculantes com protetores celulares, que garantam uma sobrevivência de sete ou 15 dias, poderão aumentar a chance de sucesso, pela maior resistência das bactérias à falta de água.
Doze a 15 dias após a emergência, deve-se fazer uma vistoria, arrancando algumas plantas com a raiz o mais intacta possível e observar a nodulação. Nesta fase já deve existir uma nodulação inicial, naturalmente com nódulos pequenos, localizados na coroa da raiz e na raiz princide se ter o máximo cuidado com o inoculante, tendo a consciência de que se trata de um produto fundamental para o cultivo da soja, fornecendo o nutriente exigido em maior quantidade pela cultura.
Solon C. Araújo, Consultor da ANPII
Produza mais
Como melhorar a eficiência agrícola da lavoura, realizar o manejo correto, reduzir perdas e aumentar a produtividade da soja com sustentabilidade
Estudos apontam para um crescimento da população mundial, que poderá atingir 9,8 bilhões de pessoas em 2050, segundo expectativas da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Isso sem contar com o aumento da população urbana, a melhoria da renda em vários países, a ampliação da expectativa de vida e as mudanças nos padrões alimentares, que também impactarão a demanda por alimentos, energia e água.
O Brasil precisará concentrar esforços para aumentar ainda mais a produção em seus campos, com sustentabilidade, e agregar valor à sua produção
Vale refletir que os impactos das mudanças climáticas podem representar desafios para a agricultura brasileira, principalmente nas regiões com distribuição irregular de chuva e altas temperaturas. Segundo a FAO, “as mudanças climáticas vão afetar a agricultura global de forma desigual, melhorando as condições de produção em alguns locais, mas afetando outros”.
A agricultura brasileira está se desenvolvendo muito rapidamente e o agronegócio está em pleno crescimento. Diante desse cenário, é imprescindível que o produtor rural esteja atualizado sobre as principais tecnologias e os sistemas de cultivo que garantam boa produção com sustentabilidade.
Os principais produtos da agropecuária brasileira são a soja, a cana-de-açúcar, o café, a carne de gado e o milho. A soja (Glycine max (L.) Merril) é a oleaginosa de maior importância mundial, devido à sua alta concentração de óleo e proteína. Essa cultura é amplamente difundida no território brasileiro, sendo cultivada em praticamente todos os estados. Na safra passada, a área plantada foi de aproximadamente 37 milhões de hectares e a produtividade média, de 3.379 quilos por hectare, segundo dados
Figura 1. Necessidade média diária de água (mm.d-1) para a soja durante seu ciclo. (Adaptado de Berlato e Bergamaschi, 1978)
soja é o resultado do número de grãos multiplicado pelo peso médio dos grãos colhidos. Para aumentar esse coeficiente deve-se estar atento aos componentes de rendimento - a população de plantas bem estabelecida, o máximo de entrenós por planta, de vagem por entrenó, de grãos por vagem e o ótimo peso de mil grãos obtidos. Para isso, independentemente das condições climáticas, a eficiência agrícola tem que ser a melhor possível.
da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Para contribuir com os produtores rurais na missão de elevar a produtividade da soja, um grupo de especialistas voluntários criou o Comitê Estratégico Soja Brasil (Cesb), há 12 anos. Uma das estratégias do comitê foi convidar os produtores para participarem do Desafio de Altas Produtividades. O recorde brasileiro é de 149 sacas por hectare, ocorrido na safra de 2016/2017, no Paraná.
Na safra 2019/2020, a média dos dez recordistas foi de 115,7 sacas por hectare, ou seja, mais que o dobro da produtividade nacional. Além disso, para cada R$ 1,00 aplicado nas lavouras, os recordistas obtêm um retorno de aproximadamente R$ 2,50, o que representa lucro de 125%.
Segundo Paulo Sentelhas, membro do Cesb e professor da Esalq/ USP, a produtividade potencial da soja é determinada por fatores como o genótipo (cultivar), o arranjo de plantas, a radiação solar e a temperatura (máxima e mínima).
A água é o fator limitante da produtividade e, a partir da sua disponibilidade, estima-se a produtividade atingível. A soja necessita, em média, de 5,8mm de água por dia, sendo o florescimento seu período crítico, quando necessita de cerca de 7,4mm (Figura 1).
Para a obtenção da produtividade real da lavoura, o manejo é de fundamental importância, pois controla os fatores que são redutores da produtividade, como plantas daninhas, doenças, pragas, estresse biótico etc.
A relação entre a produtividade atingível e a produtividade potencial resulta da eficiência climática de cada ano. Já a relação entre a produtividade real e a atingível resulta da eficiência agronômica (Figura 2).
Não é possível alterar a eficiência climática de cada ano, pois ela depende de fenômenos naturais. No entanto, a eficiência agronômica depende das atitudes do produtor e pode ser melhorada com conhecimento e manejo de alta qualidade.
A produtividade da lavoura de O QUE FAZER PARA
MELHORAR A EFICIÊNCIA
AGRÍCOLA NA LAVOURA?
Trabalhei 28 anos contribuindo para o desenvolvimento de cultivares superiores de soja, no programa de melhoramento da Embrapa, e a grande maioria dos ensaios foi conduzida em fazendas. Nos últimos 12 anos, observando as tecnologias oferecidas pelas instituições de pesquisas e as práticas utilizadas pelos recordistas, é possível concluir que não basta fazer o básico bem feito. É preciso realizar um pouco mais e entender a interação da planta de soja com o ambiente de produção e, a partir daí, tomar decisões.
O Nordeste do Brasil, por exemplo, tem uma radiação solar fantástica. A temperatura mínima normalmente está próxima do ideal para a cultura da soja. Porém, a temperatura máxima fica acima do ideal. Ainda assim, nessa região, as médias dos
Figura 2 - Fatores que afetam a produtividade da soja (Adaptado de Sentelhas et al, 2015)
Tabela 1 - Degradação de inseticidas em Latossolo argiloso de cerrado (Dourados/MS), sob diferentes sistemas de manejo (Portilho et al. 2014: Ciência Rural 45 (1): 22-28)
Sistema de Manejo
ILP PD PC Glicosidase
Fosfatase ácida g pnf g soil-1.h-1
356 188 99 1206 612 291 Bifentrina Permetrina TD 50= meia vida no solo 14 9 25 22 44 47
Observação: ILP (Integração Lavoura-Pecuária); PD (Plantio Direto); PC (Plantio Convencional).
recordistas do Cesb têm sido as maiores do País.
Acompanhando produtores, percebe-se que o manejo, capaz de reduzir o impacto dos fatores redutores da produtividade, tem contribuído para o sucesso de suas lavouras. É comum ocorrerem períodos de estiagem ou até mesmo safras com maior ou menor concentração de água no início, meio ou final do ciclo da soja.
A compactação do solo limita o desenvolvimento das raízes e, nos períodos de veranicos, a concentração superficial das raízes faz com que as plantas utilizem essa reserva de água em um curto período de tempo (Figura 3).
A falta de umidade adequada no solo danifica as raízes, abrindo lesões por onde entram micro-organismos patogênicos, como fungos e nematoides das lesões radiculares, o que reduz a produtividade e pode até matar as plantas. No final do ciclo da soja, é possível ver reboleiras de plantas mortas antecipadamente nas lavouras, o que diminui muito a média dos talhões (Figura 4).
Para alcançar médias tão altas, nessas condições, os recordistas utilizam tecnologias para aprofundar o perfil do solo e a sua capacidade de armazenamento de água.
A correção e adubação do perfil solo, entre 0 e 20 cm, é realizada com base nos resultados da análise das amostras, com o objetivo de corrigir o pH, eliminar o alumínio tóxico e ofertar os macros e micronutrientes necessários para o bom desenvolvimento da lavoura. Nas profundidades abaixo de 20cm, são eliminadas as resistências química e física, permitindo o aprofundamento das raízes.
Associadas a essas práticas, são utilizadas plantas de cobertura, após a safra de soja ou integradas com a segunda safra de milho, para eliminar a compactação do solo. Essas plantas fornecem palhada para a superfície do solo e, com suas raízes profundas, matéria orgânica, contribuem para ciclagem de nutrientes em profundidade e melhorar a estrutura e a saúde do solo (Figura 5).
As plantas de cobertura também contribuem para o aumento da biomassa microbiana do solo, o que eleva a atividade enzimática que age na matriz do solo, catalisando reações como decomposição da matéria orgânica, ciclagem de nutrientes, formação da matéria orgânica, e na estrutura do solo (agregação e porosidade), além da biorremediação de pesticidas, de poluentes e de metais pesados.
Em experimentos realizados em solos bem manejados com palhada e raiz, como em sistemas com integração lavoura-pecuária, que utilizam a braquiária como opção de palhada, a degradação de inseticidas
Figura 3 - Solo compactado com sistema radicular superficial
como a bifentrina e a permetrina foi maior, enquanto nos solos com menor atividade biológica, como no caso do plantio convencional, a degradação foi muito menor (Portilho et al., 2014) (Tabela 1).
Essa matéria orgânica recente nem sempre é, imediatamente, acompanhada do aumento da matéria orgânica do solo, mas é muito importante para a melhoria das qualidades química, física e biológica estabelecidas.
FERRAMENTAS QUE AUXILIAM O MANEJO
Para tornar a atividade agrícola mais produtiva e rentável, as instituições de pesquisa oferecerem uma série de tecnologias que têm ajudado o produtor a entender sua lavoura e podem apoiá-lo quanto às decisões que deve tomar ao longo da safra.
No caso das inúmeras enzimas existentes no solo, as principais, que são usadas como indicador da saúde do solo, são a β-glicosidase, ligada aos estágios finais da decomposição da celulose, e a arilsulfatase, relacionada à ciclagem do enxofre orgânico. Com a determinação da atividade dessas enzimas pela Bio-análise do Solo (BioAS), tecnologia recentemente lançada pela Embrapa, é possível determinar se o solo está saudável ou em vias de degradação.
Vou dar exemplos do que pode ocorrer com um solo: pode apresentar na análise de solo uma boa quantidade de matéria orgânica, mas baixa atividade enzimática. Esse é um indicador de que o manejo não está bom, podendo estar a caminho da degradação. No entanto, se um solo com baixa matéria orgânica apresentar alta atividade enzimática, é um indicativo de que manejo está bom e caminha para um solo saudável e resiliente. O que se espera é que os solos apresentem bons níveis de matéria orgânica e elevada atividade enzimática. Com isso, em anos de baixa eficiência climática, as plantas sofrerão menos pelo estresse por falta de água.
Figura 4 - Reboleiras de plantas de soja mortas precocemente antes do final do ciclo da soja
As boas práticas utilizadas para manter o equilíbrio químico, físico e biológico do solo reduzem a população de patógenos causadores de lesões nas raízes e proporcionam maior absorção de água e nutrientes.
Em altas temperaturas, as plantas absorvem mais água e, com a falta desse recurso, entram em estresse e fecham seus estômatos. Essa situação impõe às plantas um gasto energético extra, o que resulta em maior custo metabólico despendido pelas plantas na biossíntese de compostos secundários e no estabelecimento de estratégias de adaptação ao estresse. Esse gasto maior energético leva à redução da produção de biomassa vegetal, o que afeta diretamente o potencial produtivo das plantas.
Para evitar os problemas causados pelos estresses, as pesquisas têm investido no desenvolvimento de cultivares geneticamente adaptadas e em produtos para auxiliar a planta a se recuperar rapidamente dessa situação.
O controle biológico oferece micro-organismos que contribuem para o controle do complexo de doenças e pragas no solo, como nematoides e outros. Além disso, esses micro-organismos benéficos propiciam o aumento do volume de raízes, resultando em maior absorção de água e nutrientes e consequente redução de estresses.
A escolha de cultivares de soja adaptadas aos ambientes, com resistência genética às principais doenças e com alta estabilidade, é fator determinante para a obtenção de altas produtividades. Existe no mercado uma grande oferta de cultivares para a região produtora de soja do País. Alguns genótipos são altamente produtivos e devem ser plantados nas melhores áreas e, de preferência, nas melhores épocas de plantio. Algumas variedades respondem muito bem à época de plantio, principalmente por causa da sua exigência por água e luz.
Devido à segunda safra, os produtores têm optado por cultivares com ciclo mais curto (até 105 dias). Essas cultivares de ciclo muito precoce permitem o plantio da segunda safra mais cedo. No entanto, são sensíveis e exigentes e não têm tempo para se recuperarem de estresse, caso esse venha a ocorrer. Necessitam ser cultivadas nas melhores áreas, onde não sofrerão com a falta de nutrientes e de água ou com ataque severo de pragas e de doenças.
Em áreas com alta população de nematoides de galha (Meloydogine javanica e Meloydogine incógnita) e, ainda, de nematoide de cisto da soja (Heterodera glycines), o produtor deve optar por cultivares geneticamente resistentes. Esses patógenos são difíceis de serem controlados quimicamente, exigindo um manejo integrado. Essas cultivares têm demonstrado ser a melhor estratégia para a redução da população de nematoides da soja. Deve-se associá-las ao cultivo de culturas não hospedeiras, como crotalárias, braquiárias, aveia-branca, nabo-forrageiro etc. O equilíbrio químico, físico e biológico do solo, juntamente com cultivares geneticamente resistentes associadas ao uso de micro-organismos de controle biológico, reduz a população dos nematoides e resolve esse problema. O uso isolado de qualquer uma dessas táticas não tem eficiência.
CUIDADOS NA PRINCIPAL
ETAPA DA LAVOURA
O plantio é a etapa de maior importância para o resultado da colheita. A escolha da melhor cultivar para cada ambiente de produção, com uso de sementes de alta qualidade, é de essencial importância para o êxito da lavoura. Sementes com alto vigor contribuem para um rápido desenvolvimento da lavoura, consequentemente, para um maior ganho de matéria seca total acumulado na fase inicial, como raiz e parte aérea (Figura 6).
A germinação é outro fator importante, pois cada 1% de germinação corresponde a uma planta nascida em 100. Ou seja, em 1.000kg de semente com 85% de germinação, 150kg de sementes não irão nascer. Portanto, o produtor deve investir em sementes com alta qualidade fisiológica e sanitária para um bom estabelecimento de sua lavoura.
Também é importante fazer o tratamento de sementes de qualidade para garantir a população e o
arranjo de plantas ideais e o rápido estabelecimento da lavoura. A semente é veículo para transmissão de uma grande quantidade de patógenos causadores de doenças, como já alertado anteriormente. O tratamento deve ser realizado com a combinação e utilização de fungicidas, para proteger a semente, além do uso de inseticidas. Pragas de solo e de superfície podem ser controladas com esse tratamento, como o coró, o torrãozinho, o tamanduá-da-soja e a vaquinha, com destaque para a lagarta-elasmo. Essas são pragas que têm causado grandes problemas no estabelecimento da lavoura.
Os produtores estão atentos a esses problemas e utilizam tratamentos que podem ser realizados na fazenda (On farm) ou Tratamento Industrial de Sementes (TSI).
A soja tem um alto teor de óleo e proteína e é muito exigente em nitrogênio. A inoculação com bactérias fixadoras de nitrogênio (Bradyrhizobium) supre as necessidades da planta e por isso deve ser efetuada utilizando inoculantes de qualidade e na dosagem correta, evitando a mistura desses biológicos com os fungicidas. A associação de micro-organismos indutores de enraizamento, como Azospirillum, Bacillus amyloliquefaciens e outros, contribui para o aumento do volume de raízes e maior absorção de água e nutrientes e, consequentemente, para reduzir os danos causados por patógenos de solo às raízes.
O tratamento de sementes feito na fazenda exige um cuidado especial com a sequência dos produtos – fungicidas, inseticidas e biológicos, nessa ordem – e
com o volume de calda, que não deve ultrapassar 800ml por 100kg de sementes. Volume de calda superior a esse pode causar danos físicos à semente, como enrugamento do tegumento e soltura da casca, o que reduz o vigor e a germinação, baixa a qualidade física e causa problemas com a distribuição das sementes no plantio.
Já o Tratamento Industrial de Sementes (TSI) traz algumas facilidades, pois evita o manuseio de produtos químicos na propriedade, possibilita melhor cobertura e aderência dos produtos aplicados e fluidez, facilitando que as sementes deslizem entre elas e melhorando a plantabilidade.
Associado a isso, o plantio deve ser realizado com perfeição, com a velocidade correta para obtenção de uma excelente distribuição de sementes, evitando falhas, plantas duplas e desuniformidade na profundidade. Uma vez passada a plantadeira, o potencial produtivo da lavoura está determinado e o que se pode fazer a partir daí é reduzir as perdas causadas pelos fatores redutores – plantas daninhas, pragas e doenças.
O QUE FAZER PARA REDUZIR
AS PERDAS NAS LAVOURAS?
As plantas daninhas exigem um manejo estratégico e eficiente. Em muitas lavouras, involuntariamente, o produtor pode selecionar populações de ervas daninhas devido a seu sistema de manejo e elas se tornam um grande problema.
Existem várias ervas de difícil controle, mas o capim-amargoso e a buva têm sido as mais problemá-
Figura 5 - Da esquerda para a direita, palhada de braquiária dessecada; plantio sobre a palhada; plantas de soja sobre a palhada
Figura 6 - Plantas semeadas com sementes com vigor inferior a 70% à esquerda e superior a 90% à direita e a seleção de pragas resistentes. Foi o que ocorreu no caso da Helicoverpa armigera, o que gerou sérias consequências para o setor produtivo.
O Manejo Integrado de Pragas (MIP) é uma estratégia importante. Ele deve começar pelo monitoramento constante da lavoura, antes e após as aplicações de produtos. A identificação da praga-alvo precocemente e o estabelecimento de uma tática de manejo garantem o sucesso do controle e a manutenção das moléculas de inseticidas disponíveis no mercado.
O MIP privilegia o controle biológico conservativo, uma vez que preserva os predadores e os parasitoides que já existem naturalmente no ambiente. Além disso, possibilita aplicações de macro e micro-organismos criados em biofábricas, como os parasitoides de ovos de lagartas e de percevejos e de entomopatógenos (fungos, bactérias e vírus), que causam doenças nos insetos-praga e reduzem sua capacidade de danos às plantas. O controle biológico potencializa o manejo de pragas e reduz o impacto ambiental e econômico na
ticas. A depender do banco de ervas, o controle deve ser feito de forma integrada, com uso de plantas de cobertura, associado ao manejo químico.
A dessecação da lavoura para o plantio é um momento importante no sistema de cultivo. O controle de pragas pode ser iniciado nesse momento, com um bom monitoramento das plantas e, se possível, com a aplicação do herbicida dessecante um mês antes do plantio. Essa prática indisponibiliza alimento para os insetos desfolhadores presentes nas ervas daninhas, levando-os à morte, o que evita o uso de inseticidas de contato que podem matar também inimigos naturais presentes nessas plantas.
Com a dessecação antecipada, o plantio é facilitado, pois fica mais fácil cortar a palhada com os discos de corte da plantadeira, melhorando a plantabilidade e a uniformidade na distribuição de sementes.
Lavouras com bancos de ervas de difícil controle exigem a utilização de herbicidas de diferentes mecanismos de ação, combinados com o glifosato, produto utilizado para as cultivares transgênicas (RR). A dessecação pré-colheita facilita a colheita e também auxilia no manejo de plantas daninhas.
Os herbicidas usados na segunda safra de milho auxiliam no controle de ervas daninhas de folha larga, que escapam do manejo feito na primeira safra de soja. Por isso, essa dobradinha soja/milho tem sido importante para o controle das plantas invasoras.
Os insetos-pragas causam grande destruição de raízes, caules, folhas e vagens. Os inseticidas são ferramentas indispensáveis no manejo de pragas. No entanto, devem ser usados sob recomendação técnica.
A calendarização de aplicações pode ser um problema, principalmente porque o uso indiscriminado de químicos mata também os inimigos naturais das pragas, causando o desequilíbrio do agroecossistema
Wenderson Araujo CNA
agricultura.
Dentre as principais pragas, a mosca-branca e os percevejos merecem uma atenção especial, por serem de difícil controle e causarem danos diretos, sugando as plantas e os grãos, e indiretos, pela picada e transmissão de doenças às plantas. A mosca-branca, ao se alimentar da seiva das plantas, excreta solução açucarada que favorece o desenvolvimento de fungo de coloração escura, conhecido como fumagina, que afeta as plantas provocando a diminuição da fotossíntese.
Para o controle dos percevejos, deve-se integrar inseticidas químicos com modos de ação diferenciados e seletivos para os inimigos naturais, cultivares tolerantes ao
Figura 7 - Ninfas e adultos de mosca-branca parasitados pelo fungo Isaria javânica
ataque e vespinhas parasitoides de ovos. O Telenomus podisi é uma dessas vespinhas que parasitam ovos de percevejos e é encontrado natural-
Figura 8 - Adultos de mosca-branca parasitados pelo fungo Isaria fumosorosea
mente no ambiente. É importante lembrar que não controla os percevejos e sim os ovos desses insetos, impedindo o seu nascimento. São criadas em laboratório e devem ser distribuídas na lavoura assim que aparecerem os primeiros adultos de percevejos.
A mosca-branca é transmissora de virose e causa danos pelo estresse que acarreta às plantas com suas picadas e pela fumagina. Com o manejo, deve-se evitar a explosão populacional da praga. Para isso, pode-se usar inseticidas químicos associados aos biológicos, como a Isaria sp, um fungo que tem apresentado resultados muito eficientes no controle da mosca, parasitando ninfas e adultos (Figuras 7 e 8).
As doenças do complexo de manchas foliares e a ferrugem-asiática da soja são responsáveis pela destruição das folhas, onde são armazenados os fotoassimilados, que serão transcolados para as vagens, garantindo o enchimento e o peso final dos grãos. Os esporos da ferrugem-asiática são dispersos pelo vento. O manejo da soja tiguera, a adoção do vazio sanitário, a redução da janela de plantio, o uso de cultivares mais precoces e a alta qualidade na tecnologia de aplicação dos fungicidas reduziram muito a infecção precoce da lavoura por essa doença.
No entanto, a ferrugem ainda continua sendo a doença com maior potencial de dano. Seu manejo eficiente deve ser realizado de forma
preventiva com a rotação de ativos de fungicidas sítio-específicos (triazóis, estrobilurinas, carboxamidas e morfolina) associados aos fungicidas multissítios. Essa tática reduz os impactos da doença na produtividade e também evita a seleção de patógenos com menor sensibilidade às moléculas disponíveis.
Já o manejo das manchas foliares deve integrar o uso de fungicidas no tratamento de sementes, cobertura da palhada de soja da safra anterior com restos culturais do milho e de plantas de cobertura e o uso de fungicidas foliares eficientes para o controle dessas doenças. Os inóculos das doenças causadoras de manchas são transmitidos via semente ou palhada de soja da safra anterior. Assim que a soja emerge e surgem as primeiras folhas, os respingos da chuva depositam o inóculo nas folhas, iniciando a infecção. Até o fechamento do terço inferior, a infecção é baixa. No entanto, com o fechamento do baixeiro, o ambiente fica propício e a infecção aumenta, destruindo folhas, haste, vagens e até os grãos (Figura 9).
Sugere-se que os fungicidas utilizados para o controle das manchas foliares sejam aplicados imediatamente antes do fechamento do baixeiro, ainda no período vegetativo, ou no início do florescimento. Após o fechamento do baixeiro, fica difícil atingir o alvo. As aplicações seguintes devem seguir o programa de manejo da ferrugem-asiática da soja e das doenças de final de ciclo.
No final do ciclo da cultura, o manejo com a dessecação da lavoura para a colheita também merece atenção especial. É bom lembrar que essa prática tem como função facilitar a colheita, e não melhorar a qualidade do grão ou da semente. Portanto, não deve ser aplicado com a soja ainda no estádio R6, pois a antecipação da colheita destrói folhas, reduz o enchimento dos grãos e causa prejuízos à lavoura.
Por tudo visto anteriormente, o aumento da produtividade das lavouras é um grande desafio para a agricultura, não só pela questão da sustentabilidade em seus pilares ambiental, social e econômico, mas principalmente para garantir a segurança alimentar do País e colaborar para o alcance de uma balança comercial positiva, pelo incremento das exportações.
Para suprir a crescente demanda mundial por alimentos, uma boa estratégia é explorar o potencial produtivo da soja, com a busca por melhores resultados. As incertezas climáticas já são uma realidade e podem ser, em parte, superadas com um maior investimento na eficiência agronômica das principais culturas que alimentam o mundo. Para isso, é necessário um novo olhar sobre o sistema de produção, observando as plantas e sua relação com o ambiente onde elas se encontram e, a partir daí, planejar um manejo eficiente capaz de responder às expectativas em relação à produtividade.
A geração de tecnologia é necessária e continuará tendo papel fundamental para a soberania nacional e competividade do País quanto à produção de alimentos. Investimentos em pesquisa e desenvolvimento e transferência de tecnologia são a base para o desenvolvimento da nossa agricultura e para a manutenção da segurança alimentar e da paz. C C
Sergio Abud da Silva,
Biólogo, Embrapa e CESB
Encarte Técnico Circula encartado na revista Cultivar Grandes Culturas nº 258 • Novembro 2020 Capa - Wenderson Araujo CNA Reimpressões podem ser solicitadas através do telefone: (53) 3028.2075
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