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Introdução KL
“Ama o teu próximo como a ti mesmo.” Essa frase soa bem. Mas supõe-se que eu realmente deva amá-lo? Será que não se quis dizer amá-la?
Assim começou minha jornada espiritual. Eu estava buscando meios práticos para alcançar o que parecia ser um objetivo muito idealista. Por ter sido educada segundo os preceitos da Igreja Católica Romana, eu admirava profundamente as pessoas que pareciam encarnar o amor, como Jesus, Madre Teresa e os santos. Mais tarde, acrescentei santos de outras religiões a essa lista, pessoas que pareciam capazes de amar os outros também: Gandhi, Buda e muitos outros. Mas, para mim, parecia impossível. Eu me perguntava: “Como uma pessoa comum como eu pode aprender a deixar de ser impaciente, crítica e às vezes tão mal-humorada?
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E como vou amar pessoas irracionais e mal-humoradas?”.
Na adolescência, esse modo de pensar me deixava muito desmotivada. Parecia que o que eu aprendia na igreja estava me preparando para o fracasso. Eu me sentia condenada a ser uma pessoa inadequada por toda a eternidade. Eu rezava, pedindo orientação a um Deus em que eu só acreditava (minha oração era algo como: “Deus, se você estiver aí...”). Mas um dia eu ouvi uma “voz” na minha cabeça, perguntando em tom simpático: “O que exatamente você quer?”. E uma parte mais sábia de mim respondeu sem que eu “pensasse”: “Quero ser mais sábia. Quero entender”.
Eu senti então uma espécie de paz se derramar sobre mim. A sabedoria me causava bem-estar.
Existe um ditado que diz “Cuidado com o que o que você pede” . Para mim, a sabedoria foi um tesouro conquistado a duras penas. Ela chegou em fragmentos e cada um deles foi precioso e maravilhoso, mas em geral me custou alguma coisa. Às vezes vinha com alguma pressão externa ou dificuldade. A maioria chegou acompanhado de dor, a dor de me desapegar das minhas próprias ideias em favor do “jeito certo” de fazer ou ser. Eu tive que deixar para trás partes do meu ego imaturo em troca de cada pérola de sabedoria. E certamente ainda tenho muito que aprender.
Eu não sou uma daquelas pessoas que tiveram uma experiência de quase morte ou um momento de revelação e que saiu disso com uma sensação duradoura de conexão com o divino. Minhas conexões têm sido esporádicas e meus momentos de insight foram conquistados sobretudo por meio do meu trabalho árduo, acompanhado por dádivas da graça divina. Meu marido, Bill, gosta de dizer que os melhores treinadores de basquete normalmente não foram os melhores jogadores. Jogadores talentosos geralmente parecem “simplesmente saber” como manejar a bola, driblar a equipe adversária ou fazer uma bandeja. Os melhores treinadores normalmente se esforçavam muito quando eram jogadores. Eles tiveram que se aperfeiçoar e praticar muito para acertar cestas. Tiveram que estudar as formações e assistir a horas de jogos gravados para ter uma ideia de como jogar bem. Compensaram, com esforço, o que outros jogadores mais naturais pareciam “simplesmente saber”. E são bons treinadores porque podem mostrar aos outros a maneira lenta e constante de praticar e aperfeiçoar suas habilidades. Bill diz isso para me encorajar enquanto trabalho em mim mesma e procuro ajudar outros em seu caminho. Creio que sou capaz de treinar outras pessoas porque tive que trabalhar duro para aprender o que aprendi.
O meu caminho tem sido lento e constante. E foi por causa da minha própria busca para viver com amor e agir com sabedoria que concebi uma maneira de descrever as habilidades que demorei a vida toda para adquirir.
Eu desenhei o mapa mental de que eu precisava e que espero que você ache útil também.
Esse modelo de 21 habilidades é, especificamente, o resultado da seguinte pergunta: Quero ser uma boa pessoa, por onde começo?. Comecei pelas figuras espirituais que eu tanto admirava: como eu poderia ser tão amorosa quanto Jesus? Ser pacífica e não violenta como Gandhi? Me manter tranquila, sábia e forte diante das adversidades como o Dalai Lama? Como ter visão e fé como Nelson Mandela?
Eu sabia que tinha muito trabalho a fazer em mim mesma. Mas como eu poderia saber o que estudar ou que passos dar em seguida? Outros colegas falavam de livros, processos, retiros, professores e oficinas diferentes com entusiasmo. Como eu poderia saber o que eu pessoalmente precisaria fazer depois?
Durante anos, usei minha intuição e os conselhos de amigos para me ajudar a responder a essas perguntas. Devorei livros num ritmo que se igualava à intensidade dos meus estudos universitários. No entanto, sentia que “desperdiçava” muito tempo no que parecia ser um beco sem saída. Até que, por fim, observei um padrão que, com o tempo, se tornaria as 21 habilidades.
Enquanto eu lia, participava de cursos e praticava várias técnicas, percebi que estava ocorrendo uma melhora em meus relacionamentos pessoais e profissionais. Conforme reduzia a ativação do meu ego, eu me tornava um ser humano melhor, uma pessoa mais amável. Essas “coisas” em que eu estava trabalhando com tanto afinco sem dúvida tinham um valor que transcendia minha própria felicidade pessoal. Eu estava me tornando uma mãe, esposa, amiga e colega de trabalho melhor e uma líder mais eficaz.
A ideia de descrever a inteligência espiritual como um caminho prático para nos libertar do ego e aprender a amar os outros se desenvolveu lentamente, até que um dia se solidificou no conceito descrito como uma série de habilidades. Descobri o trabalho de Daniel Goleman e Richard Boyatzis sobre inteligência emocional e me apaixonei por ele no mesmo instante. Percebi que, assim como as habilidades de relacionamento podiam ser divididas nas dezoito habilidades da inteligência emocional (que Goleman e Boyatzis chamam de “competências”), a inteligência espiritual consiste em habilidades paralelas que podem possibilitar comportamentos de sabedoria e amor.
E se eu pudesse dar nome a essas habilidades da inteligência espiritual e descrevê-las num espectro que fosse do nível “principiante” até o nível “especialista”? Será que um quadro de habilidades e de níveis de desenvolvimento poderiam ajudar a mim e a outras pessoas a saber o que fazer depois?
Em 2000, deixei um ótimo emprego na Exxon1 para responder a essas perguntas. Graças ao trabalho que fiz em recursos humanos durante toda a minha carreira profissional, eu sabia que a espiritualidade era um tópico de grande diversidade e sensibilidade. O que quer que eu criasse seria preciso que fosse neutro e, ainda assim, amigável à fé. Por exemplo, eu queria uma linguagem com a qual os agnósticos e ateus pudessem se identificar também. Seria crucial usar definições claras e um glossário de sinônimos.
Eu estava em pleno processo de criar a minha primeira versão da avaliação quando ocorreram os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. A repercussão incluiu uma grande dose de tensão inter-religiosa. Seria preciso encontrar uma linguagem comum para falar sobre temas espirituais que, de certo modo, tinham se tornado mais urgentes ainda. Para mim estava claro que, se confundíssemos nosso desejo de ser espirituais com necessidades egocêntricas sobre estarmos “certos” e no “único caminho correto”, então continuaríamos nos matando uns aos outros. Precisávamos encontrar uma maneira de honrar outros caminhos espirituais (inclusive os seculares), para que pudéssemos entender o que tínhamos em comum. Ao mesmo tempo, eu queria honrar o fato de que algumas pessoas tinham a crença sincera de que existe “um caminho correto para cada um de nós”, sem importar se esse caminho é o Budismo, o Hinduísmo, o Islamismo, o Cristianismo ou algo diferente disso.
Será que se trata de algo irremediavelmente idealista? Talvez. Mas eu gosto de recordar o conselho que ouvi certa vez quando era jovem: Mire as estrelas e talvez você acerte a lua. A avaliação SQ21 e este livro são, portanto, meus melhores esforços para mirar as estrelas. Espero que o resultado seja acertar a lua, pois ofereço algo que espero que seja uma peça importante do próximo passo evolutivo para a humanidade: desenvolver nossa inteligência espiritual. Diferente tanto da espiritualidade quanto da religião, a inteligência espiritual é um conjunto de habilidades que desenvolvemos ao longo do tempo e com a prática.
Neste livro, você verá os resultados de décadas de pesquisa e doze anos de esforço muito concentrado. Enquanto você faz esta leitura, por favor, tenha em mente dois pontos:
Primeiro, meu objetivo é delinear as habilidades da inteligência espiritual, mas não apontar o caminho que voc ê “tem” que seguir para desenvolvê-las. Depois de examinar as habilidades e decidir em qual delas você quer se concentrar, você pode retornar ao caminho da sua escolha (sua religião ou prática espiritual ou secular) e encontrar ferramentas dentro desse caminho específico para desenvolver essa habilidade.
Em segundo lugar, com as 21 habilidades em mente, você pode se concentrar naquela que o ajudará no momento . Espero que isso estimule o seu progresso e o ritmo com que você pode crescer e se desenvolver.
Minha expectativa para você, leitor, é que as 21 habilidades da inteligência espiritual criem um roteiro e um diagnóstico realmente úteis, um método para você economizar tempo e energia. Você pode ler estes capítulos e ver quais habilidades ressoam mais com você. Depois pode concentrar seus esforços em encontrar recursos, workshops e práticas que o ajudem a desenvolver as habilidades que quer desenvolver no caminho da sua escolha. Se você estiver muito disposto, pode decidir fazer a avaliação SQ21 (disponível no site DeepChange.com) e contratar um orientador treinado para ajudá-lo a fazer novas descobertas.
Minha esperança maior e mais ousada para este trabalho é que a inteligência espiritual nos ajude a “crescer” como espécie e nos permita viver melhor em nosso mundo complexo e interdependente. Espero que possamos alcançar um ponto culminante em que muitos de nós encontrem uma maneira de amarmos aqueles que estão à nossa volta e a nós mesmos, e nos concentrarmos no que é melhor e mais elevado, e assim possamos nos dirigir a um futuro melhor para a humanidade. E se a SQ21 puder ser uma pequena parte disso, ficarei feliz.
Bênçãos para você e para todos nós. Espero que todos possamos fortalecer o músculo espiritual de que precisamos para nos tornarmos as melhores pessoas que pudermos ser.
E que possamos construir, assim, um belo futuro para a humanidade.
Cindy Wigglesworth Houston, Texas,
2012