O mistério dos mistérios

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Mark Dawidziak

Tradução

Caesar Souza e Val Venturella
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Título do original: A Mystery of Mysteries – The Death and Life of Edgar Allan Poe.

Copyright © 2023 Mark Dawidziak.

Publicado mediante acordo com ST. Martin’s Press

Copyright da edição brasileira © 2024 Editora Pensamento-Cultrix Ltda.

1a edição 2024.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou usada de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, inclusive fotocópias, gravações ou sistema de armazenamento em banco de dados, sem permissão por escrito, exceto nos casos de trechos curtos citados em resenhas críticas ou artigos de revistas.

A Editora Cultrix não se responsabiliza por eventuais mudanças ocorridas nos endereços convencionais ou eletrônicos citados neste livro.

Editor: Adilson Silva Ramachandra

Gerente editorial: Roseli de S. Ferraz

Preparação de originais: Ana Lúcia Gonçalves

Gerente de produção editorial: Indiara Faria Kayo

Editoração eletrônica: Join Bureau

Revisão: Vivian Miwa Matsushita

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Dawidziak, Mark

O mistério dos mistérios: a morte e a vida de Edgar Allan Poe / Mark Dawidziak; tradução Caesar Souza e Val Venturella. – 1. ed. – São Paulo: Editora Cultrix, 2024.

Título original: A mystery of mysteries: the death and life of Edgar Allan Poe ISBN 978-65-5736-336-2

1. Escritores norte-americanos – Século 19 – Biografia 2. Poe, Edgar Allan, 1809-1849 I. Título.

24-209179

CDD-818.309

Índices para catálogo sistemático:

1. Escritores norte-americanos: Biografia 818.309

Cibele Maria Dias – Bibliotecária – CRB-8/9427

Direitos de tradução para o Brasil adquiridos com exclusividade pela EDITORA PENSAMENTO-CULTRIX LTDA., que se reserva a propriedade literária desta tradução.

Rua Dr. Mário Vicente, 368 – 04270-000 – São Paulo, SP – Fone: (11) 2066-9000 http://www.editoracultrix.com.br

E-mail: atendimento@editoracultrix.com.br

Foi feito o depósito legal.

Para Sara, com um amor que é mais que amor, E para nossa filha, Becky, tão talentosa, amorosa e corajosa... que tanto me surpreende...

A ambas... eternamente

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A brisa – o sopro de Deus – está calma –

E a névoa sobre a colina

Sombria – sombria – embora contínua, É um símbolo de um sinal –

Como paira sobre as árvores, Um mistério de mistérios!

– Estrofe final de Espíritos dos Mortos, de Edgar Allan Poe

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SUMÁRIO

“Abatido e exausto”

fim de junho – início de 1849

“Da época da infância” ............................................................... 53 janeiro de 1809 – março de 1827

“Morrerei” ..................................................................................

7-13 de julho de 1849

“Salve-me da destruição” ............................................................

março de 1827 – maio de 1836

“Febre considerável” 131 14 de julho – 27 de setembro de 1849

“Extremidade do terror” .............................................................. 145 maio de 1836 – 20 de janeiro de 1842

“Exausto e doente” .....................................................................

27 de setembro – 3 de outubro de 1849

“Perseguido pelo horror”

5 de março de 1842 – 30 de janeiro de 1847

“Como um cadáver” ....................................................................

3-6 de outubro de 1849

“Dificilmente sobreviverei um ano” ............................................

fevereiro de 1847 – junho de 1849

“Duplamente morto” ...................................................................

7 de outubro de 1849

“Penetre os mistérios”

Cartas, artigos de revistas, seções de jornais e livros do século XIX, assim como contos, ensaios e críticas de Poe são citados ao longo deste trabalho. A pontuação e estrutura de sua linguagem foram mantidas, sem esforço algum para os adequar à gramática e ao uso modernos.

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UMA QUESTÃO DE MORTE E VIDA

Então – em minha infância – na aurora

De uma vida tempestuosa – foi extraído

Do fundo de todo bem e mal

O mistério que ainda me aprisiona – “Sozinho”, de Edgar Allan Poe

Tendo completado apenas quarenta anos do que foi, sem dúvida, uma vida tumultuosa, Edgar Allan Poe abandonou este mundo no início da manhã do domingo de 7 de outubro de 1849. Ninguém sabe precisamente por quê. Na verdade, como muitos aspectos de sua vida, sua morte tem sido objeto de intermináveis debates, conjecturas, especulações, considerações e reconsiderações. Ninguém pode nos dizer, com a mais remota certeza, por que, enquanto viajava de Richmond para Nova York, terminou em Baltimore. Ninguém pode nos dizer o que aconteceu com ele entre a última vez que foi visto na noite de 26 de setembro em Richmond e sua reaparição na

parte externa de um local de votação em um Dia de Eleições em Baltimore, na tarde úmida e fria de 3 de outubro. Ninguém jamais descobriu a identidade da pessoa, Reynolds, por quem Poe supostamente chamou horas antes de morrer no Washington University Hospital de Baltimore, em Baltimore. Ninguém jamais apresentou evidências conclusivas, ou qualquer coisa próxima a isso, com relação à causa do delírio geralmente descrito como “congestão cerebral”, “inflamação cerebral” ou “febre cerebral”. Mesmo as melodramáticas e oportunas últimas palavras atribuídas a ele – “Senhor, ajudai minha pobre alma!” – foram questionadas. A fonte para essa fala é uma trêmula testemunha que apresentou uma declaração contraditória ao médico de plantão John J. Moran (que pode ou não ter estado presente no momento da morte). Apenas uma coisa pode ser dita com absoluta certeza: Edgar Allan Poe morreu aos quarenta anos e oito meses e pouco porque parou de respirar. Ou, dito de um modo mais poético, como ele escreveu em um de seus poemas, “Para Annie”:

O perigo passou,

E a persistente doença

Por fim, terminou –

E a febre chamada “Vida”

É, por fim, derrotada.

A morte de Poe se tornou tão parte de sua mística, que é muitas vezes o primeiro tópico mencionado por visitantes dos principais destinos dedicados ao escritor: a Edgar Allan Poe House, em Baltimore, onde, no começo da década de 1830, ele descobriu tanto uma família que o aceitou quanto um talento para contos; o Museu Edgar Allan Poe, em Richmond, a cidade onde viveu grande parte de sua vida adulta e onde, em 1835, iniciou sua frequentemente controversa carreira como influente crítico literário e editor de revistas; o Edgar Allan Poe

Historic Site, em Richmond, a única de suas cinco residências na Filadélfia de 1838-1844 que ainda sobrevive; e o Chalé Edgar Allan Poe, no Bronx, a casa que alugou da primavera de 1846 até sua morte. “Eu estaria milionário se ganhasse dez centavos cada vez que me perguntam como ele morreu”, disse Steve Medeiros, um estudioso de Poe e ex-guarda do Serviço Nacional de Parques, cujos deveres regulares incluíam cumprimentar aqueles que passavam pela porta da casa da Filadélfia. Durante uma entrevista conduzida para este livro, Matthew Pearl, autor do aclamado romance A Sombra de Allan Poe (2006), observou: “Sua biografia não começa realmente onde muitos biógrafos tradicionalmente começam, com seu nascimento; começa com sua morte”. Há, aqui, uma alusão à observação de Poe de que escritores de romance poderiam aprender com autores chineses que eram “inteligentes o bastante para começarem seus livros pelo fim”?

A contínua fascinação com sua morte é compreensível. Afinal, é uma das grandes saídas de cena de todos os tempos – junto a Molière, o ator-dramaturgo que, sofrendo de tuberculose pulmonar, superou um colapso e uma hemorragia no palco para terminar uma apresentação final antes de morrer algumas horas mais tarde, em 1673; e Mark Twain, que corretamente previu que, tendo nascido quando o Cometa Halley visitou a Terra em 1835, morreria quando retornasse em 1910. A morte de Poe, contudo, assume uma importância adicional porque é inegavelmente um dos principais fatores que o mantêm vivo como um dos escritores mais instantaneamente reconhecíveis de todos os tempos e o autor norte-americano mais lido no mundo inteiro. Aqui, também, Twain está concorrendo, mas é provável que Poe seja mais lido enquanto Twain é mais constantemente citado (embora, com frequência, de forma imprecisa). A morte de Poe não é somente uma fonte de fascinação contínua; simboliza também o que se tornou sua identidade literária profundamente arraigada. Ele morreu sob circunstâncias marcantes que refletem os dois gêneros literários que ele elevou a novos patamares.

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