O REENCONTRO DA CRIANÇA INTERIOR
Jeremiah Abrams (org.)
Jeremiah Abrams (org.)
Um Estudo sobre o Símbolo da União com o Ser
Que Corresponde à Nossa Verdadeira Integridade
Tradução
Maria Silvia Mourão Netto
Título do original: Reclaiming the Inner Child.
Copyright © 1990 Jeremiah Abrams.
Publicado originalmente nos Estados Unidos da América por Jeremy P. Tarcher, Inc.
Copyright da edição brasileira © 2024 Editora Pensamento-Cultrix Ltda.
2a edição 2024.
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Editor: Adilson Silva Ramachandra
Gerente editorial: Roseli de S. Ferraz
Preparação de originais: Verbenna Yin
Gerente de produção editorial: Indiara Faria Kayo
Editoração eletrônica: Join Bureau
Revisão: Ana Lúcia Gonçalves
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
O Reencontro da criança interior: um estudo sobre o símbolo da união com o ser que corresponde à nossa verdadeira integridade / Jeremiah Abrams (org.); tradução Maria Silvia Mourão Netto. – 2. ed. – São Paulo: Editora Cultrix, 2024.
Título original: Reclaiming the inner child.
ISBN 978-65-5736-339-3
1. Autorrealização (Psicologia) 2. Criança interior – Psicologia 3. Imagem (Psicologia) I. Abrams, Jeremiah.
24-209503
CDD-155.2
Índices para catálogo sistemático:
1. Criança interior: Psicologia 155.2
Cibele Maria Dias – Bibliotecária – CRB-8/9427
Direitos de tradução para o Brasil adquiridos com exclusividade pela EDITORA PENSAMENTO-CULTRIX LTDA., que se reserva a propriedade literária desta tradução.
Rua Dr. Mário Vicente, 368 — 04270-000 — São Paulo, SP – Fone: (11) 2066-9000 http://www.editoracultrix.com.br
E-mail: atendimento@editoracultrix.com.br
Foi feito o depósito legal.
Para Phillip, Rachael e Barbara meu melhor amigo, minha melhor amiga e sua mãe:
“Se não fosse por vocês, de modo algum eu seria convincente.”
Por fim pensei que, dentre as nostalgias que perseguem o coração humano, a maior de todas, para mim, é a ânsia infindável de rejuvenescer em cada um de nós aquilo que é mais velho. – Laurens van der Post
6. Ralph Metzner
7. Gilda Frantz
O cruel segredo do nascimento: Oh, eu sou minha própria mãe perdida de minha própria criança triste ...........................
8. James Hillman O abandono da criança ............................................................
9. Rose-Emily Rothenberg O arquétipo do órfão
10. Marion Woodman
11. M. Scott Peck
12. Ursula K. LeGuin Os que vão embora de Omelas .................................................
Parte 3
13. Joel Covitz
14. Alice Miller
15. Marie-Louise von Franz
16. Jeffrey Satinover
O self da infância e as origens da psicologia do puer
17. Helen M. Luke
18. Charles L. Whitfield
Como
19. Hal Stone e Sidra Winkelman
20. Alexander Lowen
21. Alice Miller
22. Robert M. Stein Sobre o incesto e o abuso de crianças
25. Joyce C. Mills e Richard J. Crowley
O contato com a criança interior .............................................
26. John Bradshaw
Liberando sua criança interior perdida ....................................
27. John Loudon Tornar-se uma criança
28. Nathaniel Branden
A integração do self mais jovem ...............................................
29. Jean Houston
Recordando
30. Adelaide Bry
31. Joseph Campbell
Matando o dragão
32. Robert M. Stein
A redenção da criança interior no casamento e na terapia ......
Parte 6
Criança Interior/Criança Exterior: o Futuro do Papel dos Pais
33. James Hillman Comentário sobre as histórias ..................................................
34. Bruno Bettelheim
Explorando
35. Erik H. Erickson
Theodore Reik
Samuel Osherson
Um projeto como este é um trabalho de várias mãos. Sem as energias generosas, criativas e solidárias de muitas pessoas, este trabalho único sequer existiria.
Sou especialmente grato à minha querida esposa Barbara Shindell, que se sacrificou para manter tudo em andamento durante minha ausência e que tem sido meu sustentáculo, principal leitora e fã entusiasta.
Sou muito agradecido à editora Connie Zweig, rara e talentosa mulher que conseguiu ser uma amiga querida e ainda a mãe e parteira deste livro. Muitas outras pessoas merecem também meus mais especiais agradecimentos por suas colaborações específicas a este trabalho: Bob Stein e Joel Covitz, que, na qualidade de leitores, crentes, críticos e colaboradores deste livro, deram um inesgotável apoio intelectual e emocional. Mark Dowie e Mark Libarle, que me ajudaram a dar a este livro um grandioso começo. Bill e Vivienne Howe, que generosamente me permitiram usar sua biblioteca como local de pesquisa. Sharon Heath, que me infundiu apoio com seu projeto paralelo. Lotte Stein, Joanna Karp, Bruce e Carla Burman e Alys Graveson, que me proporcionaram um inestimável apoio crítico na qualidade de leitores. Kathleen Dickey, que socorreu e comandou o preparo do manuscrito com elegância. O apoio de Jeremy Tarcher e equipe foi o tempo todo atencioso e profissional. E, claro, sou muito grato
a todos os autores e editores que generosamente permitiram que seus trabalhos fossem inseridos nesta coletânea.
Em especial quero agradecer aos pacientes e amigos pessoais que compartilharam comigo o mais íntimo de seu ser ao longo de muitos anos, que conferiram realidade às minhas vivências da criança interior e às possibilidades de cura que todos temos dentro de nós.
A Criança é que conhece o segredo primordial da Natureza e é à criança em nós que retornamos. Nossa criança interior é simples e ousada o suficiente para viver esse Segredo. – Chuang-tzu
Amaioria de nós sente uma forte ressonância com a criança interior. Sabemos intuitivamente o que é isso, qual o seu significado para nós. Sentimos, talvez em segredo, que uma parte em nós continua inteira, intacta diante dos padecimentos da vida, capaz de sentir uma imensa alegria e deslumbramento em vista das menores coisas.
Essa imagem da criança é de complexidade e veracidade bastante sutis. Sua mensagem é: todos carregamos dentro de nós uma criança eterna, um jovem ser inocente e maravilhoso. E essa criança simbólica também nos carrega, carrega quem fomos, o registro de nossas experiências de formação, de nossos prazeres e dores.
Como uma realidade simbólica e poética, a criança interior aparece em nossa imaginação, em nossos sonhos, em nossa arte e nas mitologias do mundo todo, representando a renovação, a divindade, o entusiasmo de viver, uma sensação de deslumbramento, esperança, o futuro, a descoberta,
a coragem, a espontaneidade e a imortalidade. Nesse sentido, a criança interior é um símbolo de união que reúne partes separadas ou dissociadas da personalidade individual. Marie-Louise von Franz, eminente analista junguiana e erudita, diz: “Se eu confiar na minha reação ingênua, então estou inteira: estou inteiramente na situação e íntegra diante da vida. [...] É por isso que os terapeutas de crianças deixam que elas brinquem e, em dois minutos, elas revelam a totalidade de seu problema, pois, dessa forma, estão sendo elas mesmas”.
A criança interior é tanto um fato em desenvolvimento como uma possibilidade simbólica. É a alma da pessoa, criada dentro de nós por meio do experimento da vida, e é a imagem primordial do Self, o cerne mesmo de nosso ser individual. Como sugeriu Carl Gustav Jung, a criança representa uma “totalidade que abrange as próprias raízes da Natureza”.
Wordsworth disse: “A Criança é o pai do Homem”. A criança é o pai da pessoa como um todo.
A maioria das pessoas continua tendo contato com a criança na fase adulta, por meio de hábitos, desejos e condutas pueris bem como pelo contato com crianças reais, de carne e osso. Jung disse que a tendência a empenhar-se em atividades regressivas tem a função positiva de nos manter ligados à criança, de ativar a criança interior. Ele disse que a regressão é uma “tentativa genuína de alcançar alguma coisa necessária: a sensação universal da inocência infantil, a sensação de segurança, de proteção, de amor recíproco, de confiança, de fé – essa coisa que tem tantos nomes”.1
Nossa criança interior possui o espírito da veracidade, da absoluta espontaneidade, da autenticidade. Suas ações traduzem em nós o que é natural, a nossa capacidade para fazer a coisa certa, para salvar uma situação. Culver Barker, psicólogo inglês, observou o quanto é importante se conscientizar da criança interior, ter com ela uma relação consciente e ser reforçado por ela. Ele escreveu o seguinte:
Quando falo da criança interior, quero dizer aquele aspecto em nós, adultos, que ainda reflete certas qualidades da criança divina. [...] Quando
ficamos por demais inconscientes dela, por qualquer motivo, e por isso não a incorporamos, sua força contém todo o potencial para atividades construtivas, assim como para destrutivas. Dessa maneira, ela pode conter a dinâmica criativa da personalidade humana, sua força motivadora.2
“Somente quando dou espaço para a voz de minha criança interior”, diz a renomada psicanalista suíça Alice Miller, “é que me sinto genuína e criativa.”
A voz da criança é essencial ao processo de tornar-se único. A individuação, aquele processo vitalício de desenvolvimento da personalidade, está ligada à identidade peculiar do self infantil e gira em torno dela. Von Franz concorda com Miller a esse respeito quando diz: “A criança interior é a parte genuína, e a parte genuína dentro da pessoa é a que sofre. [...] Muitos adultos excluem essa parte e, desse modo, perdem a individuação, pois somente se a pessoa a aceita, e com ela o sofrimento que impõe, é que o processo de individuação pode prosseguir”.
A voz da criança interior é aquela que cada um e todos nós reconhecemos, pois sabemos bem qual é. Todos fomos crianças. E a criança que um dia fomos permanece conosco – para melhor ou para pior – sendo receptáculo da nossa história pessoal e um símbolo sempre presente das nossas esperanças e possibilidades criativas.
A criança, seja qual for o meio pelo qual obtenhamos contato com ela, é a chave para alcançarmos a nossa mais plena manifestação como indivíduos. A entidade criança, o self que verdadeiramente somos e sempre fomos, vive dentro de nós aqui e agora. Se, por exemplo, observarmos a autoimagem de pessoas excepcionalmente talentosas – aquelas que realizaram por completo seus dons na vida – é surpreendente o quanto seu autoconceito está vinculado à singular e direta vivência de seu self infantil. Albert Einstein é um exemplo bem conhecido do gênio em comunhão perene com a naturalidade de sua criança interior. Diz-se que Einstein nem chegou a falar antes dos 5 anos de idade! “Até mesmo com 9 anos ele não era muito fluente”, diz o biógrafo Ronald W. Clark.3 A autenticidade desse self infantil não era contaminada por palavras, mas, ao contrário, contida por uma noção não verbal de deslumbramento. Einstein reconhecia essa qualidade infantil em si próprio. Confiava nela diante dos obstáculos. Em suas anotações autobiográficas, aos 67 anos, refletia: