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Introdução 6

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Prefácio 6

Prefácio 6

n o conto “a b ela e a F e R a ”, parece-nos de certo modo justo, familiar e apropriado que a Fera, a despeito de toda a sua fealdade, de sua aspereza e do seu poder de inspirar medo, transforme-se, no final, no Príncipe Formoso e case com a heroína. Esse sentimento de justiça é típico da reação provocada pelos contos de fadas, uma vez que o material que compõe o mito e o conto de fadas é um retrato simbólico dos valores da psique coletiva inconsciente da pessoa. Ao que tudo indica, eles são inocentes, contudo têm uma qualidade curiosamente irresistível e familiar. Sob as múltiplas diferenças culturais que fornecem os detalhes superficiais para esses contos, encontra-se uma despojada simplicidade de trama e caráter, pelo fato de serem descrições das experiências psíquicas interiores da pessoa, o esqueleto da sua vida subjetiva. Há sempre o mesmo herói, a mesma linda princesa, o mesmo gigante estúpido, o mesmo tesouro oculto enterrado em algum lugar. A Fera é sempre a face sombria do Belo Príncipe. Esse tipo de paradoxo parece ser uma faceta óbvia da vida e é aceitável quando encontrado no mito ou no conto de fadas, assim como em outros tipos de simbolismo, tais como muitos temas religiosos. Todavia, essa qualidade dual não parece haver impregnado nem um pouco o nosso ponto de vista astrológico moderno. Ainda há planetas maus que são inteiramente maus e planetas bons que são inteiramente bons; e mesmo que possamos admitir a presença de um pequeno traço de ambiguidade, de um pouquinho de cor cinza entre o preto e o branco rígidos, essa presença é pouco significativa. Permanece ainda um certo simplismo, bidimensional, em muitas das nossas interpretações tradicionais do horóscopo de nascimento. Há, também, a tendência de interpretar o mapa natal de acordo com os dogmas morais da nossa sociedade, de modo que há mapas honestos e desonestos, aspectos morais e imorais e comportamentos positivos e negativos. Na astrologia, as coisas ainda tendem a ter a qualidade de “ou isto ou aquilo”. Carl Jung escreveu certa vez que, antes do cristianismo, o mal não era assim tão mau; poderíamos acrescentar que, ao cristianizarmos a astrologia, perdemos inúmeros paradoxos sutis que esse sistema ricamente simbólico contém. Entre todos os símbolos astrológicos, o mais difamado é Saturno, cuja face de Fera é muito conhecida, enquanto sua outra face, a de Príncipe Formoso, não é frequentemente levada em consideração; contudo, sem essas duas faces, o símbolo não pode comunicar seu significado, sendo interpretado somente a partir de um valor simplista e bidimensional para o indivíduo.

Saturno simboliza um processo psíquico, assim como uma qualidade ou tipo de experiência. Ele não é simplesmente um símbolo de dor, de restrição e de disciplina, mas também um símbolo do processo psíquico, comum a todos os seres humanos, por meio do qual um indivíduo poderá utilizar as experiências de dor, de restrição e de disciplina como um meio de ampliar sua consciência e seu desempenho. A psicologia demonstrou que no interior da psique individual há um motivo ou impulso em direção à unidade ou integralidade. O estado de unidade é simbolizado por aquilo que é chamado de arquétipo do Self. Esse símbolo não sugere perfeição, em que só estão incluídos os aspectos “bons” da natureza humana, mas sugere integralização, em que cada qualidade humana tem seu lugar e está harmonicamente contida no todo. Esse arquétipo está oculto por trás de grande parte do simbolismo das várias religiões do mundo e poderá também ser encontrado no folclore e nos contos de fadas de todas as civilizações e de todas as eras da história. Intrinsecamente, ele é sempre o mesmo, embora

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