35
Lindenberg life
35
Capa LL35_c.indd 1
16/11/2010 11:26:40
Perspectiva artística do empreendimento
Ribeirão Preto fez do Trio um grande sucesso de vendas . Aproveite, faltam poucas unidades. Participe você também! Gerenciamento
Incorporação / Realização
Financiamento CRECI 21548J
Bradesco
Coordenação de vendas
w w w. t r i o r i b e i r a o . c o m . b r Memorial de Incorporação registrado no 2º Cartório de Registro de Imóveis de Ribeirão Preto, sob. nº R. 14/115245, na matrícula 115245 em 16/06/2010.
Santos: as melhores oportunidades estão aqui.
AS R B O AS D A I INIC
SANTOS
O primeiro condomínio corporativo alto padrão de Santos. Laje corporativa de 668 m2 com opção de conjuntos independentes de 148 m2 a 184 m2. Perspectiva ilustrada da fachada
Av. Ana Costa X Av. Francisco Glicério. Informações: (13) 3257 8000 | (13) 3131 2200 | (11) 3888 9200
www.winworksantos.com.br Vendas:
Gerenciamento futuro de locação e administração:
Construção:
Realização:
Real Consultoria Imobiliária - Avenida Francisco Glicério, 657 Orquidário - CEP 11065-405 - Santos - SP - Telefone: (13) 3257-8000 - www.realimoveis.com.br - CRECI / J.857. Central de atendimento Abyara Brokers: Avenida República do Líbano, 1110 - São Paulo - SP. Telefone: (11) 3888-9200. Diariamente até as 21 hs www.abyarabr.com.br. CBRE - CB Richard Ellis - Rua Alexandre Dumas 1.711 - Birmann 1 - 10º andar CEP. 04717-004 - São Paulo - SP Telefone (11) 5185-4688. Creci: 20.363-J. Incorporação inscrita nos termos da lei 4.591/64 sob R.15 na matrícula nº 28.473, de 13 de julho de 2009. * Fonte de dados: CBRE - CB Richard Ellis.
editorial Adolpho Lindenberg Filho e Flávio Buazar são conselheiros e idealizadores da LDI
Ao leitor,
N
um exercício contínuo de aprimoramento chegamos a esta edição da revista Lindenberg &Life que você tem em mãos. Esmero e dedicação de muitos profissionais e de intelectuais como nossos articulistas fazem parte das páginas a seguir. Todos
voltaram atenção a temas de interesse da vida contemporânea, como o protagonismo da música clássica enquanto vetor de transformações sociais congruentes. Entrevistamos um de seus maiores incentivadores na cidade e provavelmente no país, o crítico, compositor e músico Arthur Nestrovski, que assumiu a direção artística da Orquestra Sinfônica do Estado de São
Marília Rosa
Paulo (Osesp). Entre sua missão de criar e renovar, estão projetos de inclusão social e itinerância dos músicos pelo interior paulista, além de receber regentes internacionais na linda Sala São Paulo. Aliás, a democratização da música clássica torna-se vital para o acesso à cultura e integração social, tema também em pauta em nossa reportagem de capa. João Maurício Galindo, maestro da Jazz Sinfônica, conta como projetos sociais de ensino da música são essenciais para as relações humanas. Olhar holístico trazemos também sobre os jovens talentos da arquitetura nacional que elegeram o centro da cidade como reduto criativo. Outro celeiro visitado por nossa reportagem foi a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie. O saldo do que esses profissionais e aspirantes estão fazendo ou ainda vão conquistar evidencia a excelência desse mercado, voltado à qualidade de vida e bem-estar. Tópico que mais uma vez ganha espaço com relatos sobre o crescimento e estilo de vida de um dos bairros mais queridos e desenvolvidos da metrópole: o Itaim Bibi que recebe uma homenagem da Construtora Adolpho Lindenberg com o novo edifício Leopoldo, um residencial multiserviços. Assunto não falta na edição 35. Leia, comente e sugira novos temas. Teremos prazer em incluí-lo na rede de amigos que tornam a revista possível.
Adolpho Lindenberg Filho e Flávio Buazar
4
Editorial LL35.indd 4
17/11/2010 08:07:13
CASA COR por Débora Aguiar
sumário
Matéria Clássico para todos Imagem capa Maria Eugenia
Ilustradora, Maria Eugenia colabora com várias revistas e publicações, entres elas, a Folha de São Paulo, e já participou de exposições e catálogos internacionais da Society of Illustrators e American Illustration. Entre seus prêmios, está o Bologna Ragazzi Award, de 2001.
18
26
32
08
12
38
62
74
76
Turismo Montar ou não minha viagem, eis a questão
Comportamento Juventude pós-moderna
Experimente Viver bem
Entrevista Afinador de concertos
Filosofia Por onde anda o “animal político” que habitava em nós?
Poéticas Urbanas (Arquitetura e música)
Tendências Sui generis ou transgressora
Urbano Desfrute o Itaim
5 experiências Poética popular
6
Sumario LL35.indd 6
16/11/2010 11:33:35
Nesta edição é uma publicação da Editora Novo Meio Ltda. para a Construtora Adolpho Lindenberg. ano 8 • número 35 • 2010 Vilma Eid entre artistas e arteiros, 5 experiências da galerista
A tiragem desta edição de 10.000 exemplares é comprovada pela
Conselho editorial: Adolpho Lindenberg Filho, Flávio Buazar, Ricardo Jardim, Rosilene Fontes, Renata Ikeda e Lili Tedde Luís Carlos Pimenta a horta residencial do presidente da Volvo Bus
Produção e redação: Novo Meio Comunicação Empresarial Editor: Claudio Milan (MTb 22834) Editora assistente: Perla Rossetti Projeto gráfico e Direção de Arte: Sérgio Parise Jr.
42
Capa Clássico para todos
52
Um outro olhar Paradigmas da ficção na fotografia documental
78
Filantropia Inteligente “...a vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida”
Sumario LL35.indd 7
68
Qualidade de vida Terra da vida saudável
Arthur Nestrovski vida, obra e planos do diretor artístico da OSESP
Assistentes de Arte: Priscila Wu e Sidney Hokisilato Estagiário: Fernando Mekitarian Jornalismo: Fernanda Fatureto, Larissa Andrade Revisão: Kika Freitas
João Maurício Galindo um olhar clássico sobre a música popular
34 58
Laboratório Trabalho holístico
Designer Gráfico: Ivan Ordonha
Andrew Ritchie em busca do nosso animal político
Fale com a Lindenberg & Life Opine sobre as reportagens publicadas na revista e sugira temas para as próximas edições. Envie sua mensagem para nossa redação: marketing.institucional@ldisa.com.br
Colaboração e agradecimentos: Dácio Ottoni, Giselli Gumiero, Monica Vendramini, Pablo Di Giulio, Jonas Viotto, Helcias e Mário Lopomo, Nelson de Souza Lima, Silvio Stefanini Sant´Anna, Sérgio Arno, Laura Godoy, Camilla Mortean, Renato Bandel, Bia Murano, Boitempo Editorial, Orquestra Jovem do Estado de São Paulo, Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, Jazz Sinfônica, OSESP.
Publicidade: Cláudia Campos (011) 3041-2775 lindenberglife@lindenberg.com.br Redação: Rua São Tomé, 119 - 11 o / 12o andar. Vila Olímpia 04551 080 São Paulo SP Brasil (011) 3089 0155 - jornalismo@novomeio.com.br Os anúncios aqui publicados são de responsabilidade exclusiva dos anunciantes.
Filiada à
16/11/2010 11:33:58
Experimente
Viver bem
Poucas e boas para curtir no sofá, no banco da praça ou no fim de tarde em algum canto pela cidade
Por Perla Rossetti Fotos Divulgação
KEbAB NO ALMOÇO Criar cultura gastronômica é comum em São Paulo, mas há restaurantes que são deliciosamente didáticos. O comensal descobre a sua gastronomia. Assim é o Baruk. Primeiro, o restaurante chegou à Vila Olímpia, fugindo do trivial com rodízio árabe. Um sucesso. Agora, lança o festival de mini kebabs. Entre as opções de dar água na boca estão os de falafel, babaganuch e alface com molho taratur, sempre enrolados no pão sírio. Tem ainda o de kafta (com coalhada seca, tapenade de azeitonas pretas, hortelã e alface, e de cordeiro, que repete os atrativos). O espaço amplo também passou a abrir aos sábados para amigos em momento TV e bate-papo. E tem mais novidades a caminho. Para conferir: Baruk – Alameda Raja Gabaglia, 160, Vila Olímpia, tel. (11) 3045-9999. De segunda a sábado, das 11h às 17h, www.restaurantebaruk.com.br
Faz e prova
TARDES DE MAR
Para confraternizar no fim de ano, o
Quarto livro da fotógrafa Rosa de
Atelier Gourmand já programou as
Luca pela Alles Trade revela a es-
“Aulas Almoço”. Em 10 de novembro,
pontaneidade registrada na região
a chef Morena Leite, do Capim Santo,
de Trancoso, sul da Bahia.
ensina seus truques. Henrique Fogaça, do Sal, vem com menu de Cebiche, atum em crosta de gergelim com arroz negro, dia 25. Já em dezembro, Carla Pernambuco monta rolinhos de pato e pepino, e camarões grelhados com taioba. E a escola está com portal novo com mais de 5.000 receitas e uma enciclopédia de sabores. Mais em www.ateliergourmand.com.br
8
Dicas Lindenberg LL 35_b.indd 8
8/11/2010 13:55:40
Ode a saramago O cineasta Fernando Meirelles entrou para o hall de escritores com Cegueira, um ensaio, lançado pela Master Books em
9 orgulho muachano
outubro. Na obra, ele detalha o processo de produção do filme Ensaio sobre a
Gastronomia andina renovada na cidade. Nove chefs brasileiros visitaram a Mis-
cegueira, cujo título original é Blindness,
tura, a maior feira gastronômica do Peru, em setembro. A convite do restaurante
baseado na obra homônima do Nobel de
La Mar e do chef Fabio Barbosa, Murakami (Kinoshita), Bel Coelho (Dui), Ra-
literatura, José Saramago (1922-2010).
phael Despirite (Marcel), Rodrigo Oliveira (Mocotó), Henrique Fogaça (Sal Gastronomia), Thomas Troisgros (66 Bistrô), Renata Braune (Chef Rouge) e Flavio
Foto de Alexandre ermel e ken woroner
Frederico (Sódoces) voltaram com muitas receitas, ingredientes e segredos na bagagem. O grupo ainda visitou a cocina do chef Gastón Acurio e sua esposa Astrid, que serve uma degustação de piscos, e os imperdíveis cebiche essencial e calamarcitos rellenos de orgullo huachano (lula recheada).
Contextos Um panorama sobre o cinema, a economia e as políticas públicas para o setor estão em três volumes com textos de especialistas, reunidos pelo Instituto Iniciativa Cultural. Regulação, avanços, Embrafilme e Ancine são analisados em textos da pós-doutora em cinema Melina Marson, Arthur Autran, Valério Cruz Britos, entre outros.
INTIMIDADES & RISOS Dez anos depois do primeiro concurso M.I.L.K, inspirado em exposição fotográfica dos anos 50, Friendship, Family, Love & Laughter chega ao Brasil com cento e cinquenta imagens mundiais extraordinárias escolhidas por Elliott Erwitt, fotógrafo da consagrada agência Magnum.
Dicas Lindenberg LL 35_b.indd 9
8/11/2010 13:57:03
Experimente
POESIAS
BOXE
ABOLICIONISTA
O sessentista Álvaro Alves de Faria já os
Já o fotógrafo alemão Holger Keifel cli-
Em torno de Joaquim Nabuco é a nova
publicou em Portugal, mas 20 Poemas
cou lendas como Mike Tyson, Evander
obra de Gilberto Freyre, quem mais es-
quase líricos e Algumas canções para
Holyfield e Oscar De La Hoya. A série de
creveu sobre o abolicionista em outros
Coimba ou Sete anos de pastor são
350 retratos em preto e branco compõe
livros seus. A coletânea da editora Arte
algumas de suas obras imperdíveis que
o livro Box-The Face of Boxing.
Paubrasil traz parte desses textos que re-
mereciam a edição brasileira em Alma
fletem sobre o drama de Nabuco, figura
gentil raízes. Editora Escrituras.
de transição entre monarquia e república.
SINERGIAS
QUEDA DE GIGANTES
UM CAVALO SEM NOME
A influência da cooperação na so-
Primeiro volume da trilogia O Século, obra
Com apresentação do arquiteto Arthur
ciedade e os aprendizados com os
de ficção de Ken Follett, aborda o período
Casas, prefácio de Maria Eugênia Mourão
erros da humanidade são algumas
em que potências da Europa estão pres-
e capa de Pablo Casas, a obra discorre
das reflexões de Tito Armando Ros-
tes a entrar em guerra, trabalhadores não
sobre um homem que deseja um traba-
si em seu novo livro: O óbvio não é
aguentam a exploração pela aristocracia
lho honesto e alguém para amar, em meio
o bastante. Rossi, que vive em Caxias
e mulheres clamam por seus direitos. O
ao caos da cidade de São Paulo. O texto
do Sul, expandiu horizontes e avan-
destino de cinco famílias é marcado por
reflete os desafios do próprio autor, Mil-
çou da medicina para a gestão, com
um mundo em rápida transformação que
ton Roberto Gonçalves, diagnosticado na
prêmios internacionais.
nunca mais será o mesmo.
adolescência com esquizofrenia.
10
Dicas Lindenberg LL 35_b.indd 10
8/11/2010 13:57:14
Cortina de Tecido e Silhouette®
DEPOIS DE INVESTIR NO MELHOR IMÓVEL, É HORA DE VESTIR SUAS JANELAS.
Cortina Rolô Tela Solar Automatizada
Arthur Cortinas, Persianas e Toldos. Seu Lindenberg merece tratamento especializado em cada etapa da decoração. Na Arthur, são mais de 40 anos de experiência e tradição nos imóveis mais exclusivos do Brasil. Produtos para proteção solar e privacidade, e mais: • •
Excelência no atendimento • Soluções exclusivas • Equipe especializada • Pós-venda permanente Mais completo e sofisticado showroom da América Latina: produtos em situação real de uso.
Vestimos janelas e ambientes com seu sonho.
Al. Gabriel Monteiro da Silva, 1.040 11 3087 5834 www.arthurdecor.com.br
Anuncio Revista Lindenberg&Life AF.indd 1
UM PRODUTO
9/21/10 3:04 PM
entrevista
Afinador de CONCERTOS Crítico, compositor e músico, professor e escritor, Arthur Nestrovski assumiu a direção artística da OSESP com a missão de criar e renovar. A tarefa evoca responsabilidades, mas é simples diante de seu talento e trajetória internacional
O
piso de madeira na entrada da Sala São Paulo estala sob os passos apressados. Violino em punho e olhar compenetrado. O ensaio vai começar. Mas isso é só o prenúncio do que vem a seguir. Um capítulo de uma imensidão de músicos e regentes envolvidos na produção
do que há de melhor na produção sinfônica no país e no exterior. Expoentes regidos também por Arthur Nestrovski, o músico, o compositor, o crítico, o editor, o professor e o escritor de histórias infantis que assumiu, esse ano, a direção artística da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP). Um exército de 350 pessoas devidamente afinadas para os concertos semanais,
Por Perla Rossetti Fotos Alessandra Fratus/Divulgação OSESP
acertos para a temporada 2011 com 30 programas sinfônicos, mais quatro do quarteto de cordas, quatro
12
Entrevista_d.indd 12
8/11/2010 14:00:02
13 de piano e quatro do coro, somados aos
Lindenberg & Life: Você chega a
do porte da Fundação OSESP. A ativida-
seis do programa Um Certo Olhar. E tem
ser um executivo, além do músico,
de como editor por quase 20 anos, a ex-
mais. Ele acaba de lançar seu novo disco,
crítico e autor de livros infantis?
periência universitária e, acima de tudo, os
o Chico Violão, pelo selo Biscoito Fino, e
Arthur Nestrovski: A parte exe-
livros infantis e as muitas coisas diferentes
um CD com Celso Sim (na voz), Pra Que
cutiva, propriamente, tem um diretor, que
que sempre tiveram a ver com a música e
Chorar, com suas canções e versões de
é o Marcelo Alves. Não lido com orça-
a cultura brasileira. Nos últimos 15 anos,
Schubert, Schumann e clássicos da mú-
mentos, contratos, mas tomo decisões
minha produção pessoal e meus interes-
sica brasileira, como Ismael Silva, Cartola,
cotidianas grandes sobre o rumo artístico.
ses têm uma preocupação de coração
Caymmi, Lupicínio Rodrigues. Nascido
Antes, minha vida era diferente com a car-
com o repertório e os destinos do Brasil.
em Porto Alegre, em 1959, casado com
reira de músico e editando livros para a
E acho que isso, para quem está à frente
a diretora artística da São Paulo Compa-
Publifolha. No ano passado fiz quase 60
de uma instituição dessa natureza, é uma
nhia de Dança, Inês Bogéa, e pai de duas
shows. Eu estava compondo e tocando.
necessidade. A temporada está em anda-
moças, Arthur Rosenblat Nestrovski viveu
Era uma vida dedicada ao meu trabalho.
mento, com 11 mil assinaturas vendidas,
muita coisa desde que o avô Maurício o
Agora estou organizando a vida de cente-
e a de 2011 ou já tinha programas com-
iniciou na música clássica ainda menino.
nas de pessoas pelos próximos anos.
pletos, ou a decisão de regente e solistas
Formado pela Universidade de York (Ingla-
estava encaminhada, porque as coisas
terra) e doutor em literatura e música pela
L&L: Como surgiu o convite para as-
são feitas com antecedência nesse meio.
Universidade de Iowa (EUA), Nestrovski
sumir a direção artística da OSESP?
Mas em 2011 terá uma cara diferente.
foi professor titular no programa de pós-
AN: Pesaram várias coisas, como o fato
graduação em Comunicação e Semiótica
de acompanhar a história da OSESP, de
L&L: Perceberemos sua assinatura?
na PUC/SP de 1991 a 2005. Articulista
camarote, desde 1997, como crítico de
AN: Sim, porque saímos do zero e pode-
da Folha de S.Paulo (1992 -2009) e editor
música da Folha de S. Paulo. Em segun-
se pensar de outra forma. Orquestra é uma
da Publifolha (1999-2009), ele é autor de
do lugar, o fato de ter atividade musical
coisa complexa, envolve muita gente, re-
Notas Musicais (Publifolha, 2000), Outras
propriamente. É importante para um di-
cursos, e não pode deixar de ter atividade
Notas Musicais (Publifolha, 2009) e Palavra
retor artístico, embora não seja comum
didática. Não é só apresentar os melhores
e Sombra (Ateliê, 2009), entre outros livros
na totalidade das orquestras ao redor do
concertos possíveis, três vezes por sema-
– incluindo premiados títulos de literatura
mundo, exceto nos casos de cargo acu-
infantil, como Bichos que Existem e Bichos
mulado com o do diretor musical, o que é
que Não Existem (Cosac Naify, 2002,
menos frequente. Mas, direção artística de
Prêmio Jabuti de Livro do Ano/Ficção).
uma empreitada desse tamanho é quase
Apuro técnico, treino, observação e realiza-
impossível como função de um regente ti-
ções reconhecidas o levaram ao posto na
tular que passa não mais do que 10 ou 12
OSESP. E para revelar os projetos atuais e
semanas com sua orquestra. Ser um mú-
da consagrada orquestra, cuja temporada
sico profissional e, nesses últimos anos,
já tem 11 mil assinaturas vendidas, ele re-
ter composto e gravados vários discos,
cebeu a Lindenberg & Life numa linda tarde
inclusive música para TV e dança, pesou
de quarta-feira, na construção histórica da
também. Ser crítico de música com dou-
Sala São Paulo, no centro da cidade. Con-
torado é parte dos requisitos, mas não se-
versa de alto nível que você confere a seguir.
ria o bastante, pensando numa instituição
Entrevista_d.indd 13
O crítico tem uma voz reconhecida. Tem um mundo musical poético próprio.
8/11/2010 14:00:04
entrevista
na, na linda Sala São Paulo, fazer uma tem-
tas da orquestra é a encomenda de com-
porada de música de câmara de alto nível
positores brasileiros. Encomendei cinco
com um coro excepcional. Isso é o ponto
peças para o ano que vem com forma-
de partida. Em um país como o Brasil deve
ções diversas. Tenho um projeto de 2011
ter atividade de formação de público e a
a 2016, de a orquestra tocar, editar e gra-
Fundação OSESP tem um programa que
var a integral da sinfonia de Villa-Lobos.
recebe 75 mil crianças na Sala São Paulo,
Por incrível que pareça, não há nenhuma
por ano, para atividades educativas. Esta-
partitura decente, só manuscritos. É uma
mos começando a pensar em gravar CDs
loucura. A OSESP gravou as integrais dos
e DVDs, já que a música vai virar currículo
choros e das Bachianas compostas por
obrigatório a partir de 2012.
ele e premiadas internacionalmente. Mas suas sinfonias são desconhecidas de nós
L&L: A OSESP tem muitas ativida-
mesmos, e tirando a III, a IV e a VII, que
des extras e publicações, fora os
já foram editadas pela orquestra interna-
concertos?
mente, não há edição confiável.
AN: Fazemos itinerância e temos mais de 60 concertos de música de câmara no in-
L&L: E como as partituras serão
terior do estado de São Paulo ao longo do
montadas?
ano, além de workshops de grupos com
AN: Chamamos um musicólogo para
músicos da orquestra. Tocamos ao ar livre
avaliar os manuscritos e detectar os erros.
pelo menos três ou quatro vezes ao ano.
Villa-Lobos orquestrava conversando, e fa-
Participamos da Virada Cultural pela pri-
zia folclore disso. Dizia que ouvido interno
meira vez e desde sempre da edição do
não tem nada a ver com o externo. Podia
evento no Estado. Temos as transmissões
estar vendo televisão e dizia que estava
dos concertos pela TV e pela rádio Cultu-
compondo quando, na verdade, estava
ra. As palestras da série Música na Cabe-
orquestrando. E o resultado disso são os
ça são transmitidas pela TV virtual da USP
erros de transposição, notas que não fa-
e estão no nosso Podcast. Temos um
zem sentido. Então, alguém tem de fazer o
aplicativo do iPhone para baixar os Pod-
trabalho de revisão e preparar as partituras.
casts. São exemplos que dão a dimensão
É um projeto que, ao mesmo tempo, é de
da OSESP, e nem todo o mundo suspeita
interesse artístico-musical e pessoal, pois
que seja feito metade disso.
quero ouvir a sinfonia VIII. Estamos falando de Villa-Lobos, não de um compositor
Diretor artístico da Osesp, Nestrovsky acompanha a sequência estonteante de regentes
L&L: E há novos projetos?
recôndito. E o maestro Karabtchevsky, um
AN: Mesmo com a temporada principal
dos maiores regentes de todos os tempos,
já agendada, criamos ao redor da pro-
um devoto estudioso, admirador e grande
gramação a série de palestras Música na
regente da música de Villa-Lobos, foi convi-
Cabeça e a de concertos populares, às
dado para fazer esse trabalho. Ele vai reger
segundas-feiras, às 19h30. Uma das me-
e gravar os cinco CDs, de 2011 a 2016.
14
Entrevista_d.indd 14
8/11/2010 14:00:05
L&L: Como é trabalhar com o maes-
fim, ele tem uma função decisória, mas
L&L: Como é sua rotina na Sala São
tro Yan Pascal Tortelier e qual o seu
nenhum regente, numa orquestra deste
Paulo e na OSESP?
papel no dueto?
tamanho, consegue pensar na progra-
AN: Estou ouvindo grandes solistas e re-
AN: Esse ano ele vai passar 12 sema-
mação do concerto que acontece antes
gentes, toda a semana. Acabei de ver
nas no Brasil. Já esteve duas em Cam-
do principal, na terceira semana de outu-
um pedaço do ensaio do maestro Hannu
pos do Jordão e o resto será dedicado
bro de 2012. Para isso, você precisa de
Lintu, um grande regente finlandês, das
aos concertos de assinatura. A principal
um diretor artístico. Por exemplo, não há
maiores orquestras do mundo. Simon Tr-
diferença com outros regentes é que ele
como pensar nos direitos de publicação
peski, pianista da Macedônia, que acabou
fica muito mais tempo. A segunda é que
do conto de Julian Barnes, escritor inglês,
de tocar nos Prompts, de Londres, toca
é a autoridade musical suprema para os
inspirado na peça do compositor Jean Si-
na Filarmônica de Berlim e está no outro
assuntos da orquestra. É claro que ele
belius (1865-1957). E conseguimos isso
corredor, estudando. Semana retrasada
está regendo seus concertos, mas está
em agosto. O diretor musical não tem
estava aqui Jean-Efflam Bavouzet, consi-
ajudando a resolver questões musicais e
tempo para pensar artisticamente a dire-
derado, no ano passado, o disco do ano
até de funcionamento da orquestra. Ele
ção, assim como eu não tenho para ficar
pela revista Gramophone. Fomos jantar e
participa das audições para posições em
lá embaixo, regendo a orquestra.
ele estava ouvindo meus discos. Semana
aberto, como a primeira flauta, primeiro
passada esteve conosco Pinchas Zuker-
violoncelo, espala das violas, espala dos
L&L: Você busca músicos e regen-
man. Quer dizer, é meio avassalador. Es-
segundos violinos e já fizemos uma etapa
tes no exterior?
teve aqui Kees Bakels, regente holandês
só para músicos brasileiros de cordas.
AN: Estive em Portugal para tocar, o
importante, e também Ramón Ortega
Temos audições em que ele será o pre-
que tenho feito pouco, mas mantive os
Quero, o mais espetacular jovem virtuo-
sidente do júri, em outubro, em São Pau-
compromissos realmente importantes.
se do oboé. Ele tem 21 ou 22 anos, vai
lo, Nova Iorque, Berlim e Beijing. Como
José Wisnik e eu tínhamos uma turnê
tocar na Filarmônica de Berlim e com as
titular, rege muito mais do que os convi-
por nove dias. Depois, toquei na aber-
maiores orquestras do mundo porque é
dados, portanto, tem mais tempo de tra-
tura da Flip, em Paraty. Estive no Rio de
um prodígio. Na semana seguinte tem a
balhar a orquestra. Ele conversa comigo
Janeiro como jurado num concurso do
violinista Leila Josefowicz. Na outra, Marin
sobre a programação das temporadas
Teatro Municipal e aproveitei para ver
Alsop, talvez a maior regente mulher em
subsequentes, sugere pessoas, peças e
concertos e falar com pessoas de lá.
atividade, titular da orquestra de Baltimore.
ajuda a conseguir outros regentes. Aca-
Mas não tenho viajado tanto para ver
Como eu vou sair daqui para vê-los lá fora,
bamos de gravar o primeiro disco com
artistas. Acho que precisarei fazer isso,
se posso pegar um táxi da minha casa,
ele, do selo inglês Chandos (Records). Já
em médio prazo. Tenho de ouvir outras
em Higienópolis, para cá? É tão simples.
gravamos para a Bis, importante gravado-
orquestras e ir a festivais importantes
ra sueca, e para a Biscoito Fino, no Brasil.
para conhecer artistas jovens em pri-
Vamos fazer um disco para a Chandos só
meira mão, não só por disco ou reco-
com obras de Florent Schmitt, um com-
mendação. Porém, neste primeiro ano,
positor menos conhecido da primeira
temos uma sequência estonteante de
metade do século XX francês. E estamos
regentes aqui na Sala, semana após
programando, se esse disco for bem re-
semana. É um primeiro ano e estou
cebido e a gravadora ficar contente, outra
aprendendo enormemente. É mais im-
gravação, em 2012, com Tortelier. En-
portante no momento estar aqui.
Entrevista_d.indd 15
15
8/11/2010 14:00:05
entrevista
...vamos tocar ao ar livre na cidade de Araraquara e tem 15 mil pessoas na praça para ver a OSESP. Vamos combinar, isso é show de rock.
L&L: O cenário é promissor na
ou literatura. Se você ligar na TV aberta,
Quantos jornalistas de cultura você vê nos
OSESP, mas qual o futuro da
tem música clássica na TV Cultura, mas
concertos, tirando aqueles que são obri-
música brasileira com a desva-
não nas outras. E não é que não tem a
gados, como os críticos de música clássi-
lorização dos cantores e compo-
OSESP, não tem Chico Buarque nem
ca da Folha e do Estadão? São poucos.
sitores por gravadoras que prio-
Caetano Veloso nem Maria Bethânia. Há
E não é só aqui. Vá ao Sesc. É a mesma
rizam o apelo comercial?
muito tempo essas figuras deixaram de
coisa. Daí essa percepção, discutida nos
AN: A música é absolutamente funda-
fazer parte da grande mídia de massa.
jornais, e que não bate com a realidade.
mental na vida de bilhões de pessoas.
Não a estou defendendo, acho horrível.
Nunca houve tanta produção musical.
Essa questão passa por outros cami-
Pego o jornal todo dia e, às vezes, tomo
Quem está fora da realidade são as mídias.
nhos. O que já mudou é simplesmente o
como uma ofensa pessoal, uma provo-
circuito industrial fonográfico, que vai mal
cação... (risos). Para mim, é curioso, es-
L&L: É positiva a democratização da
das pernas. Ao mesmo tempo, se você
pecialmente na mídia impressa, pois eles
música via plataformas digitais?
acompanha a programação de música
mesmos dizem que a salvação são textos
AN: A internet possibilitou, como nunca,
de concerto e a popular em uma cidade
mais aprofundados, de especialistas, em
esse acesso, e os meios de gravação so-
como São Paulo, sabe que nunca hou-
matérias analíticas, para se diferenciarem
nora estão mais baratos. Eu mesmo uso
ve tanta produção e público. Você vai a
da internet e da televisão, de informação
My Space e essas coisas. Hoje você en-
qualquer concerto da Sala São Paulo e
rápida e naturalmente rasa. E você abre
tra no Google e, em dez segundos, tem
está esturricado de gente. Se fazemos os
o jornal uma semana depois e continua
tudo de música clássica ou popular para
concertos populares com entrada franca
igual, com raras exceções. Não dá para
ouvir. O acesso e os canais mudaram.
no domingo de manhã, 1.500 pessoas
entender. Dito isto, quando tocamos ao
Não é que as gravadoras não continuem
ficam dentro da sala e 700 do lado de
ar livre na cidade de Araraquara, havia 15
tendo um papel importante, mas o foco
fora. Se você vai a qualquer show no
mil pessoas na praça para ver a OSESP.
não é necessariamente o disco. Aliás, no
Sesc, qualquer um, está sempre lotado.
Vamos combinar, isso é show de rock.
caso da música, o disco é o mote para
Quando faço shows, está lotado. Então,
Tocamos na virada cultural municipal na
o show. Antigamente era o contrário. No
o erro é esperar que os grandes meios de
mesma hora do Arnaldo Antunes, e ti-
caso da música clássica, a gravação é
comunicação e as gravadoras continuem
nha 10 mil pessoas para nos ver. Fiquei
equivalente à edição de uma publica-
tendo um papel central. É uma ilusão ima-
comovido. Era um mar de gente. Então,
ção. É uma espécie de fotografia sonora.
ginar que a mídia vai, de repente, ter um
a pergunta é equivocada. Parece que
Representa também um acervo histori-
interesse maior pela produção cultural de
as pessoas conhecem só a posição da
co, registrado da melhor forma possível.
alto nível, seja de música erudita, popular
música industrial e não a da vida real.
16
Entrevista_d.indd 16
8/11/2010 14:00:05
L&L: Dá para revelar um pouco do
ção por outros meios da própria obra que
lidade do que os eventos universitários.
ofício de crítico de música?
vai se alterando em função das condições
Cadê o circuito de música popular na uni-
AN: Não tem receita, mas antes de mais
em que está sendo ouvida e discutida.
versidade, como acontecia há 40 anos?
nada, exige conhecimento musical tam-
Quando você desvaloriza a crítica, como
O circuito de música clássica? As expo-
bém no sentido técnico. Não só do reper-
tão frequentemente faz-se no Brasil, com
sições? O teatro da universidade? Não
tório. Isso é essencial para diferenciar uma
pessoas assumindo esse papel sem esta-
tem nada! E a universidade continua com
coisa da outra. O treinamento técnico é in-
rem preparadas, desvaloriza-se também a
enormes talentos e é o lugar de formação
contornável para ser um profissional. É ele-
música e a própria ideia de cultura.
intelectual, mas no que toca à produção
mentar. Você não manda alguém fazer uma
cultural, há muito tempo não tem papel de
matéria sobre as novas medidas do Banco
L&L: A crítica musical no Brasil
intervenção como deveria. Por que não há
Central se ele não as entende, porque a
não é adequada aos níveis de pro-
um site em que professores e alunos de
irresponsabilidade pode custar anos à po-
dução artística?
música façam críticas de todos os con-
lítica nacional. Sempre há gente fazendo
AN: Saindo das grandes capitais, não
certos da cidade de São Paulo?
negócios em função disso. A cultura deve
existe crítica musical. Um país deste ta-
ser tratada da mesma forma e as pessoas
manho, com a riqueza cultural e um in-
que estão escrevendo nos grandes portais
terior como o de São Paulo, é chocante
na internet deveriam ter noção de que, o
abrir os cadernos de cultura e ver qual-
que está sendo escrito, muitas vezes, é to-
quer coisa que se assemelhe distante-
mado a sério. Agora, como assumir essa
mente ao que estamos dizendo.
responsabilidade se você não tem um treinamento que lhe dê a confiança, nem vou
L&L: E como ficam as universidades
dizer de avaliar, mas de descrever o que
na formação dos músicos?
está vendo, de forma competente? E se
AN: Faltam gravemente escolas de mú-
você está ouvindo, pela primeira vez, uma
sica de alto nível para formação instru-
composição encomendada e não tem
mental. Temos uma academia na OSESP,
nada escrito sobre a peça? A crítica é uma
os alunos recebem uma bolsa e hospe-
vocação e tem dimensão literária. É como
dagem quando são do interior. Eles têm
uma pequena crônica ou ensaio. O crítico
aulas com músicos da orquestra, fazem
tem uma voz reconhecida. Tem um mundo
estágio e alguns até já foram contratados.
musical poético próprio. É capaz de pensar
Mas é pouco. Faltam instituições de músi-
a música em texto e, finalmente, a coisa
ca de alto nível e a universidade brasileira,
que é incontrolável e não interiorizável, a
de maneira geral, há muito tempo perdeu
sensibilidade para reagir de forma mais ou
a força de intervenção na cultura. Não
menos intensa. É também uma espécie de
sabe como se situar em relação aos de-
talento que algumas pessoas têm de forma
bates culturais realmente urgentes da atu-
pronunciada e outros, não. Quando exerci-
alidade. Você vê mais produção de seus
da neste nível, com esse engajamento, a
membros em fóruns como conferências,
crítica participa da vida das próprias obras,
revistas, editoras, e na Unesp. A Globo
dos músicos e da orquestra. É a continua-
News tem mais discussão crítica de qua-
Entrevista_d.indd 17
17
Sensibilidade para reagir de forma intensa à música é uma das competências do crítico e músico
8/11/2010 14:00:06
TURISMO
montar ou não
minha viagem, Eis a questão!
Por Larissa Andrade Fotos Ivan Ordonha
A
Com as facilidades da internet, viajantes definem seus próprios roteiros, mas agências de viagem destacam-se em algumas situações, embora ainda seja difícil entender suas taxas e diferenças de câmbio
internet vem proporcionando uma grande mu-
nomista Adriana Miller, brasileira que mora na Europa há seis
dança na maneira como as pessoas fazem tu-
anos e já carimbou o passaporte por dezenas de países.
rismo. Com acesso a informações antes restri-
Para quem começa a pesquisar esses serviços pela internet
tas a especialistas, é cada vez maior o número
é praticamente inevitável pensar na diferença entre os preços
de pessoas que viajam por conta própria, cui-
cobrados pelas agências de turismo e aqueles apresentados
dando de detalhes que incluem de passagens a reservas em
pelas companhias aéreas e hotéis em seus sites quando não
hotéis e restaurantes. “A grande vantagem de planejar tudo
há essa intermediação. Mas quem está pela primeira vez mon-
sozinha é ter liberdade de decisão e, principalmente, de mu-
tando o seu próprio roteiro, pode achar tudo isso um grande
dar de ideia, antes e durante a viagem. Poder ficar mais ou
desafio, pois, além da questão financeira, há um grande plane-
menos tempo num determinado lugar, incluir ou excluir des-
jamento logístico, especialmente em viagens internacionais. Por
tinos, e sempre fazer uma viagem sob medida”, diz a eco-
isso, além dos preços, deve-se também considerar a questão
18
Turismo LL 35_b.indd 18
8/11/2010 14:27:44
do serviço prestado pela agência, conforme explica Thais Fun-
em relação ao câmbio comercial porque o câmbio pode mudar
cia, diretora da Escola de Turismo e Hospitalidade da Univer-
entre o momento que a pessoa paga o valor e o recebimento
sidade Anhembi Morumbi. “O agente de viagem é um expert
pelo banco. Então, esse spread é uma margem de segurança
naquilo que faz, ele tem know-how e conhecimento para estar
para a agência e para o cliente”, explica o sócio-proprietário da
à frente, naquela função. Para fazer isso sozinho, você tem de
Latitudes, Alexandre Cymbalista.
dispor de tempo, conhecer as ferramentas corretas. E o agente
Os especialistas afirmam que, diferentemente do que alguns
tem essa facilidade que talvez você não tenha.”
imaginam, as agências não comercializam nenhuma moeda e
Um tema que costuma suscitar dúvidas é o câmbio. Por que o
aceitam apenas real para a aquisição de pacotes. A venda de
valor cobrado nas agências é mais alto do que aquele que verifi-
moeda só pode acontecer se, além de agência, ela também
camos nas notícias de fechamento diário? Isso acontece porque
for uma casa de câmbio – o que é bastante incomum. “O
o valor cobrado pelas agências é o dólar turismo, enquanto o
dólar turismo nas agências não deve ter variação entre elas e,
usado em negócios é o dólar comercial. “O turismo normalmen-
normalmente, o valor que eles colocam é o câmbio do dia. A
te trabalha com dois câmbios: o dólar comercial é usado para
agência deve colocar no contrato qual o câmbio do dia a que
a passagem aérea; quando faz a parte terrestre, quase todos
se refere”, explica Thais. Assim, o cliente terá a garantia de
trabalham com o câmbio turismo, que tem um pequeno spread
que não será lesado com um câmbio acima do devido.
19 Turismo LL 35_b.indd 19
8/11/2010 14:28:16
TURISMO
Cada vez mais as pessoas vão fazer por conta própria os destinos fáceis. Já Oriente Médio, Ásia, as pessoas querem a ajuda de quem conhece esses lugares” Alexandre Cymbalista, sócio-proprietário da Latitudes
Para efetuar a compra da moeda, o viajante
sacar moeda local, levo uma quantia em dóla-
deve procurar uma casa de câmbio – e, aí
res, para evitar apertos de última hora”.
sim, pode encontrar uma variação. Nesses locais, ao contrário do que acontece nas agên-
Intermediações
cias, a variação acontece livremente durante o dia todo. Isso ocorre porque as moedas
Afinal, por que uma mesma viagem pode cus-
estão em negociação no horário de funcio-
tar mais quando adquirida numa agência, se ela
namento da Bovespa, e as cotações são in-
conta com alguns benefícios por conta do volume
fluenciadas por diversos fatores econômicos.
negociado? Thais responde: “O que a gente tem
Não há como prever um melhor dia de Bol-
visto, hoje em dia, são as empresas buscando
sa, mas quem pretende economizar deve se
a venda direta para o consumidor para tirar essa
manter atento à variação cambial e aproveitar
intermediação porque, obviamente, a agência
um momento de queda da moeda estrangeira
precisa ter um lucro, que está na cobrança de
para fazer a aquisição.
taxas. Então, em alguns momentos você pode ter
Mas os experts não recomendam levar apenas
uma promoção em determinada época do ano e
papel-moeda em viagens internacionais e dão
conseguir um preço melhor do que na agência
dicas para evitar situações inesperadas. Cartão
em uma passagem aérea, por exemplo”.
de crédito e dinheiro são sempre as melhores
E encontrar uma promoção de passagem aérea
opções, mas também é indicado o Visa Tra-
não exige mais tanta pesquisa, pelo menos quan-
vel Money, ferramenta cada vez mais utilizada
do se trata de voos que partem do Brasil. Hoje, di-
em que a pessoa faz um depósito e pode usar
versos blogs têm apenas esse enfoque: reunir as
como se fosse um cartão de débito – de acor-
melhores promoções de passagens do momento,
do com o valor que depositou – ou fazer sa-
seja em voos domésticos, seja em internacionais.
ques na moeda local. Adriana Miller, turista ex-
Mas isso não significa que comprar por conta pró-
periente, dá a dica. “Durante a viagem eu dou
pria seja sempre a opção mais barata ou vantajosa.
preferência ao meu cartão de débito para fazer
“A operadora compra alguns lugares na aeronave
saques na moeda local já no destino da via-
com muita antecedência e com custo baixo, e
gem – dessa maneira evito flutuações de câm-
monta pacotes, então, ele sai mais barato para o
bio, taxas de cambistas e do cartão de crédito.
cliente”, diz a agente de viagens Emilly Oliva. Outra
Para os gastos maiores (como diárias de hotel,
vantagem apontada por especialistas está no fato
por exemplo), prefiro usar cartão de crédito. Se
de que as agências costumam facilitar o pagamen-
o destino escolhido for mais ‘exótico’ e remoto,
to de diversas formas ou em prazos mais extensos.
então, para não correr o risco de não conseguir
Para quem não tem interesse em adquirir um paco-
20
Turismo LL 35_b.indd 20
8/11/2010 14:28:19
Arquivo pessoal
Adriana Miller planeja suas viagens e cuida de todos os detalhes
te já formatado pela agência, é interessante comparar os preços
diretamente no site das empresas. O consumidor, no entan-
de passagem oferecidos por ela e diretamente na companhia aé-
to, não deve se enganar com aquele preço inicial, pois sobre
rea, pois as companhias não estão cobrando a taxa de serviço,
ele incidem algumas taxas, como a de embarque que, em
10%, para quem faz a compra apenas pela internet.
alguns casos, pode ser mais cara do que a própria passa-
Mas quando se trata apenas da compra da passagem aé-
gem. Thais cita outra desvantagem das passagens ofereci-
rea, o preço que todas as agências têm em seus sistemas
das com os preços diferenciais: “Via de regra, para usar es-
é exatamente igual quando se refere a um mesmo voo. “É
sas passagens você tem de ser muito flexível, porque os voos
proibido ter um valor diferente de passagens entre agên-
partem em horários absurdos, como a madrugada. Além
cias porque o sistema é o mesmo para todos. O que pode
disso, o público mais viajado exige conforto, acesso ao loun-
acontecer é você ir à agência e encontrar um preço e, de-
ge vip, serviços que ele não encontra nessas condições”.
pois de algumas horas, ir a outra agência e encontrar preço
Para quem está viajando com destino a outros países, espe-
diferente. Isso só ocorre quando há variação do valor da
cialmente Europa, as companhias low cost podem parecer
passagem, o que é normal”, explica Emilly.
a melhor opção à primeira vista, mas também é necessária atenção aos detalhes. Além de dispor de uma única classe,
Características
o limite de bagagem que pode ser levado costuma ser bem menor – às vezes, o passageiro deve pagar por qualquer
É importante ressaltar a diferença entra as operadoras e as
mala despachada, com um limite de peso bem menor do
agências. Enquanto as primeiras são responsáveis pela mon-
que o permitido em voos internacionais com as companhias
tagem dos pacotes de viagem, as segundas apenas fazem a
regulares. Mas isso não significa que não valha a pena: se
comercialização. As agências recebem uma autorização das
abrir mão do conforto, é possível encontrar passagens que
operadoras para vender seus pacotes e uma mesma agência
levam de um país a outro no continente europeu por preços
pode vender produtos de diversas operadoras, exceto quan-
menores do que se paga na ponte aérea SP-RJ.
do ela é uma loja exclusiva. Há um caso em que a operadora é praticamente imbatível quan-
Roteirista de viagem
do se fala em preço de passagem aérea: o voo fretado, também chamado de charter, quando ela adquire todas os assentos de
Pesquisa é a palavra-chave para esses
um determinado voo e, a partir daí, é a operadora – e não a com-
viajantes que desejam fazer tudo sozi-
panhia aérea – que decide o valor da passagem.
nhos! Encontrar a passagem adequada
Aos adeptos do e-commerce, estar atento às promoções da
ao dia e hora de interesse, aliado ao
companhia é a melhor opção para encontrar um preço dife-
roteiro traçado, pode ser um desafio
renciado e isso pode ser feito em blogs especializados ou
que leva alguns dias, mas quem já se
Turismo LL 35_b.indd 21
21 8/11/2010 14:28:21
turismo
arriscou garante que compensa.
“Eu sempre soube que a viagem que estou planejando, no
Em termos práticos, a principal diferença entre montar sua
momento, para a Tanzânia, na África Central, só seria viável
própria viagem e recorrer à agência está no fato de que a
com a ajuda de uma agência especializada. Cheguei a fa-
agência, principalmente aquela especializada em um desti-
zer pesquisa e planejar uma versão independente que, de
no ou tipo de viagem, tem um conhecimento bastante vasto
fato, sairia um pouco mais barata, mas, nesse caso, como
sobre o tema e poderá ajudá-lo indicando, por exemplo, se
vamos fazer atividades e passeios bem específicos (escalar
é melhor você ir de uma parte a outra de trem ou avião ou
a montanha Kilimandjaro e fazer safári no Serengueti), aca-
qual passeio é mais indicado, segundo os seus interesses.
bamos preferindo pagar pelo know-how local a correr riscos
Mas, é claro, isso tem um preço e o cliente deve considerar
desnecessários num lugar tão remoto e com pouca infra-
se vale a pena ou não pagar a mais por esse serviço – e
estrutura turística. E confesso que a experiência está sendo
isso varia de acordo com sua experiência como viajante, os
ótima! Todos os detalhes de logística e reservas estão sendo
seus objetivos e destino. Cymbalista especifica: “Cada vez
planejados pela agência, e temos a tranquilidade de saber
mais as pessoas vão fazer por conta própria os destinos fá-
que, se alguma coisa der errado no meio do nada, na África,
ceis. As grandes operadoras compram com antecedência
teremos algum especialista para nos ajudar.”
um volume enorme de quartos, assentos, são especialistas
E é exatamente por isso que o serviço da agência acaba
em preços baixos e vão personalizar cada vez menos. En-
saindo mais caro. Segundo Thais, para o brasileiro é um
quanto outras podem buscar diferenciação em personaliza-
pouco complicado distinguir as taxas cobradas pela agên-
ção ou assuntos específicos, como ski, por exemplo. O im-
cia, já que os pacotes sempre apresentam o preço total. Ela
portante é que os clientes estão cada vez mais exigentes e
explica que nesse preço já estão inclusas as diárias do hotel,
não podemos só mandar um roteiro. Parte do nosso know-
taxa de 5% de ISS (Imposto Sobre Serviços) e a taxa de
how é conhecer locais”. E acrescenta: “A gente também faz
turismo, que é R$ 2,20 por noite (válida apenas no Brasil e
viagens personalizadas e o que percebemos é que, para
destinada aos órgãos públicos); além da taxa de embarque
os Estados Unidos e Europa, as pessoas estão indo por
(no caso de parte aérea); seguro-saúde, que é obrigatório
si próprias, então montamos pacotes para Oriente Médio,
para brasileiros em viagens internacionais; e a margem de
Ásia, África do Sul, locais onde a pessoa fica mais receosa.
lucro da agência. “Não há uma regra sobre essa margem,
Querem a ajuda de alguém que conheça bem esses luga-
quem determina esse ganho é a própria agência”, diz Thais.
res, assim, elas compram essa assessoria”.
Mas as margens não costumam ser muito altas devido à
Adriana Miller é um exemplo
concorrência, o que faz com que as agências apostem mais
disso: apesar de ter dezenas
no atendimento como um diferencial.
de viagens na bagagem, utiliza
Quando se trata de viagens personalizadas, o preço cos-
os serviços de especialistas em
tuma ser mais alto por dois fatores: pelo próprio produto
algumas jornadas específicas.
oferecido e pelo serviço da agência, que desenvolve um
O que a gente tem visto são as empresas buscando a venda direta para o consumidor para tirar essa intermediação da agência Thais Funcia, diretora da Escola de Turismo e Hospitalidade da Universidade Anhembi Morumbi
22
Turismo LL 35_b.indd 22
8/11/2010 14:28:25
trabalho de pesquisa específico para aquele cliente, confor-
dias eu e meu marido viajamos pela Ásia, passando por quatro
me informa Thais. “O valor a mais é porque se trata de um
países (Tailândia, Malásia, Camboja e Vietnã) e sete cidades!
produto diferenciado. Estamos falando de hotéis exclusivos,
Essa fase de decidir e descobrir o que fazer em cada lugar que
sofisticados, itens diferenciados, vivências diferenciadas, não
passamos foi quase tão divertida quanto a viagem em si! Foi
aquele programa básico de city tour, traslado. E isso custa
muito trabalhoso, mas recompensador demais”, ressalta.
mais caro como produto e também pelo serviço da agência,
Ela conta que nem tudo saiu como o planejado, mas garante
pois ela tem um trabalho de prospecção e busca desse servi-
que não houve arrependimento e que nada substitui a sensação
ço. O resto fica tudo muito intangível de mensurar”, ressalta.
de que tudo ali foi feito extremamente sob medida.
As viagens da Latitudes, por exemplo, embora já tenham um
O resultado de tudo isso é que não há uma resposta simples ou
roteiro determinado, têm como diferencial o formato da viagem,
uma fórmula mágica que garanta o sucesso da viagem. Tudo
sempre com um especialista no tema abordado e uma série
vai depender de você – e de quanto tempo e paciência dispõe
de passeios relacionados ao tema. Cymbalista explica que são
para buscar todas as informações e montar o quebra-cabeça
enviados alguns funcionários para conhecer os destinos que
por conta própria. Uma agência pode ajudá-lo – e muito – a fazer
serão abertos e, assim, garantir a qualidade do produto. Mas
esse serviço, mas lembre-se de que o dono da viagem é você
ele diz que viajar por agência nem sempre é mais caro, e que
e, independentemente da escolha, deixe bem claro quais são os
a diferença de preço em algumas ocasiões tem seus motivos.
seus objetivos. Prepare-se e boa viagem!
“As operadoras têm contato com hotéis, operadores aéreos e res, e não necessariamente em cima do cliente.” Enquanto muita gente organiza as próprias viagens do começo ao fim por questões financeiras, outros o fazem mesmo pelo prazer que sentem em planejar um momento tão importante –
Arquivo pessoal
isso permite que elas ganhem na margem desses fornecedo-
descanso, aventura, romance, conhecimento – para que ele seja exatamente como o esperado. Aqueles que preferem buscar hotéis, passagens, horário de entrada em museus, concertos, etc., sabem que essas são tarefas prazerosas – mas dão bastante trabalho e exigem paciência. “O grande desafio é, sempre, a logística da coisa, como planejar horários, conexões, datas, transporte, sem ter contatos nem conhecimento local, coisa que as agências sempre têm”. Adriana foi a responsável pelo planejamento da própria lua de mel! “Pensamos em fazer tudo via agência, para não termos dor de cabeça nem nos preocuparmos com detalhes da viagem ao mesmo tempo em que planejávamos o casamento. Mas, infelizmente, não conseguimos achar nenhuma agência que oferecesse pacotes que incluíam os lugares e as datas em que queríamos viajar. As agências mais exclusivas, que organizam viagens personalizadas, eram caras demais para o nosso orçamento. Então planejei toda a lua de mel absolutamente sozinha: durante 25
Turismo LL 35_b.indd 23
Viajante experiente, Adriana planejou sozinha a viagem de lua de mel, quando passou por quatro países e sete cidades em 25 dia
23 8/11/2010 14:28:27
Vendo um Lindenberg
vendo um
Lindenberg
A
partir da próxima edição, a Lindenberg&Life oferece
um
espaço
exclusivo
para
a
venda de imóveis da Construtora Adolpho Lindenberg. Você poderá anunciar o seu
Lindenberg por meio de quem conhece e valoriza o produto desde a sua concepção. O atendimento será conduzido de forma personalizada e você terá a vantagem de expor gratuitamente seu imóvel em nossa revista, entregue a mais de 5.000 clientes cadastrados ao longo dos 55 anos da Construtora. Agora que você já sabe dessa novidade, entre em contato conosco e não perca a oportunidade de vender o seu imóvel por meio de quem mais conhece o produto! Aguardamos seu contato.
Luciana Saú
comercial@lindencorp.com.br
Gerente de vendas Private 11 3041 2707
24
Vendo Um Lindenberg LL35_b.indd 24
8/11/2010 14:32:02
COMPORTAMENTO
Juventude
pós-moderna
Inquietos, promissores, vanguardistas e sintonizados, arquitetos da geração Y também elegem o centro da cidade como reduto de seus escritórios e projetos. Eles seguem a cartilha da diversidade para integrar amigavelmente construções e sociedade. Como resultado, prêmios e destaque internacional Por Larissa Andrade Fotos Divulgação
T
alentosos, globalizados, antenados, premiados e preocupados. Esse é o perfil de uma nova onda de arquitetos brasileiros com poucos anos de carreira, mas grandes conquistas na mochila em prêmios e reconhecimento, inclusive internacional. Expoentes cujo trabalho reúne tecnologia e inovação de materiais e ideias, em benefício do espaço público e estímulo ao convívio social, marcando
até mesmo a expansão dos limites geográficos, tanto no que se refere às influências quanto à área de atuação. Novatos que desenvolvem desde projetos de escola em regiões carentes de São Paulo, parques em países latino-americanos, até residências no norte da Europa e grandes edifícios comerciais em metrópoles, o que lhes garante visibilidade em diversos países e convites para novos desafios. Estamos falando de Daniel Corsi, 30 anos, e Dani Hirano, 32, ambos convidados pelo curador Ricardo Ohtake para apresentar quatro de seus projetos no Pavilhão Brasil da 12ª Bienal Internacional de Arquitetura de Veneza, com o tema 50 Anos Depois de Brasília. “Foi uma surpresa. Não sabíamos da exposição, pois nos pediram alguns trabalhos, mas só nos contaram depois de três meses”, conta Corsi. Um dos projetos dos jovens formados pelo Mackenzie, turma de 1999, foi o Parque do Lago, em Quito, Equador, considerado pela dupla o maior desafio até hoje. “O objetivo era transformar o atual aeroporto de Quito em um parque de quatro qui-
26
Comportamento.indd 26
8/11/2010 14:36:57
Daniel Corsi e Dani Hirano, autores do projeto do Museu Exploratório de Ciências
27 lômetros de extensão. É preciso interpretar a dinâmica da
USP. Além de estar na lista dos 30 jovens escritórios de arqui-
cidade, sua cultura e arquitetura”, descreve Corsi.
tetura mais promissores e vanguardistas do mundo, segundo a revista britânica Wallpaper, eles também vêm realizando projetos
Intercâmbio
em países completamente diferentes. “Uma coisa é mostrar lá fora projetos nossos feitos aqui, para aplicação interna, pois são
Qualquer que seja o local do novo projeto, sua abrangên-
propostas adequadas à nossa realidade, cultura e clima. Mas é
cia e uso, sempre haverá espaço para um arquiteto bra-
completamente diferente apresentar na Finlândia um projeto para
sileiro. “Nosso intercâmbio com o pessoal de fora é cada
a Rússia, envolvendo um conjunto de casas para uma cidade
vez maior. A facilidade de comunicação que existe hoje faz
com temperaturas de 50 graus negativos no inverno e 35 posi-
com que a mudança dos paradigmas seja acelerada: você
tivos no verão. Desde a escola nós aprendemos como resfriar
tem acesso e contato com diferentes materiais, novas so-
a casa, mas lá ocorre o contrário: você a protege da neve, algo
luções, programas, e tudo isso vem transformando nossa
que nós nunca tínhamos pensado”, exemplifica Ferraz.
maneira de pensar”, explica um dos sócios do FGMF, Rodrigo Marcondes Ferraz, de 33 anos. Para ele, outro fator que tem permitido à arquitetura acompanhar o lançamento de novos materiais em outros países é a chegada dos fornecedores ao Brasil, ou mesmo a importação. “Temos agora uma arquitetura globalizada.” Globalização, aliás, é uma palavra que se encaixa perfeitamente no trabalho dos três arquitetos do FGMF, formados pela FAU-
Comportamento.indd 27
Há um viés de liberdade de conceitos, ideias, formas e materiais. Rodrigo Marcondes Ferraz, do escritório FGMF
8/11/2010 14:37:06
COMPORTAMENTO
Equipe globalizada do FGMF: projeto de residências na Rússia e debate sobre a otimização do espaço público
Coletividade
de isolamento ou agrupamento de pessoas que pertencem a um mesmo grupo socioeconômico. E é unanimidade entre os
O intercâmbio não supera apenas as barreiras geográficas. Os
especialistas que esse é um aspecto negativo da sociedade
jovens arquitetos estão encontrando uma profissão que cami-
moderna, cuja arquitetura tem forte influência para favorecer
nha com outras áreas do conhecimento. “No mercado existem
mudanças significativas.
novas tecnologias e ferramentas, mas essa geração está se
Rodrigo Marcondes Ferraz diz que o Brasil está passando por
adaptando a uma ideia do campo de trabalho muito coletivo,
um processo que já ocorreu na Europa e nos Estados Unidos,
não só entre os próprios arquitetos, mas na justaposição de
de minimização de espaços residenciais, seja térreo, seja apar-
profissionais de diferentes áreas: engenheiros, pesquisadores,
tamento, devido ao crescimento populacional e da urbanização.
geólogos, administradores, entre outros. É um trabalho con-
Com isso, a tendência é que as pessoas passem a usar mais o
junto grande e eles estão atentos à relação da arquitetura e ao
espaço público. “Se você não mora mais em uma casa de 500
desenho da cidade, ou ao meio ambiente, unidos de modo
m2, mas em um apartamento de 50 m2, precisa ter alternativas
indissociável, já que os edifícios podem, e devem, colaborar
para não ficar preso em um espaço tão pequeno. Quando você
para a qualidade urbana”, diz o arquiteto e urbanista do escritó-
vai à Europa, tudo o que você faz é andar pelos espaços pú-
rio SIAA, Cesar Shundi Iwamizu, 34 anos.
blicos, olhando a arquitetura. Por que o mesmo não acontece
Nessa convergência, os jovens arquitetos encontram o de-
aqui?”, questiona o arquiteto.
safio de repensar a cidade e promover maior convívio social,
Cenário que tem orientado os novos profissionais e que Ferraz
mesmo diante de questões que dificultam tal propósito, como
atribui à maneira como a sociedade busca a segurança e que
a insegurança das metrópoles, que resulta em uma postura
precisa ser reavaliada. “O arquiteto mostra que soluções simples
28
Comportamento.indd 28
8/11/2010 14:37:15
podem ser adotadas, tornando o ambiente agradável, humano e
98, com Paulo. “Criei intimidade com o meio e, quando
convidativo. No nosso escritório substituímos o muro lateral por
comecei a trabalhar com edificações, a arte apareceu natu-
um jardim. Embora pequeno, sempre tem alguém sentado lá, o
ralmente. Buscamos estabelecer um relacionamento com a
que ratifica a carência de espaços públicos na cidade.”
cidade da forma mais aberta possível.”
Megalópole
Reduto
Se, como diz Ferraz, é possível mudar, os novos arquitetos estão
E quando se fala em transformação e espaço público em São
atuando nessa direção. Um dos projetos premiados de Cesar
Paulo, lembra-se do centro histórico, que vem passando por um
Shundi, por exemplo, foi uma escola estadual no Jardim Umua-
longo processo de revitalização – encabeçado pela própria Pre-
rama, em Mauá, SP. “As construções podem ser as primeiras a
feitura Municipal e apoiado por empresas.
trazer dignidade ao bairro. Elas estão normalmente inseridas em
Nesse sentido, para os jovens arquitetos representa oportunida-
contextos pobres e apresentam potencial imenso de transforma-
de e evolução da qual muitos deles até participam ativamente – e
ção de seu entorno”, ressalta.
da janela do escritório.
O Metro Arquitetos, escritório paulista de três jovens, também
A Rua General Jardim, localizada na região central, sempre
vem apresentando iniciativas interessantes, como o projeto
foi um “reduto” de escritórios de arquitetura – tendência ainda
do Museu de Arte Moderna de Santos, em parceria com Pau-
mais forte atualmente, como conta Shundi. “Lá está o IAB e,
lo Mendes da Rocha, e o Espaço Votorantim, um dos fina-
na região, encontramos escolas fundamentais, como o Ma-
listas do Prêmio O Melhor da Arquitetura 2010, na categoria
ckenzie e a FAU Maranhão. E agora temos a Escola da Cida-
Edifícios Institucionais – Cultura.
de e outros institutos, secretarias e órgãos públicos relaciona-
Um dos sócios é Martin Corullon, 37 anos, que já fez o
dos à nossa atividade. É uma condição histórica que as novas
cenário do Teatro Oficina, e as Bienais de Arte de 96 e
gerações adotaram e à qual deram continuidade, acreditando
29
Comportamento.indd 29
Cesar Shundi defende uma arquitetura sem rótulos em seus projetos
8/11/2010 14:37:22
COMPORTAMENTO
É uma condição histórica que as novas gerações adotaram e à qual deram continuidade, acreditando na virtude da área central.
na virtude da área central como espaço para se desenvolver as
Cesar Shundi Iwamizu, do escritório SIAA
de condições favoráveis, você potencializa os serviços em volta,
atividades de trabalho cotidianas.” Para Martin Corullon, sócio-proprietário do Metro, a parte central da maior metrópole brasileira tem uma “pulsação”. O próprio Espaço Votorantin, projetado pelo escritório dele, está ali, no centro. “A região toda está se transformando rapidamente. Nós mudamos para cá há seis anos e hoje existem quase 10 escritórios de arquitetura em nosso edifício. Isso acaba gerando uma série movimenta o diálogo. É um exemplo de como o centro oferece possibilidades.”
Influências Mas, afinal, qual assinatura será deixada pelos novos arquitetos no Brasil? De que forma eles se comunicam com as gerações que os antecederam e seu legado? Dani Hirano diz que a influência é inevitável, mas a marca maior é a diversidade. “Hoje, há uma relação forte com o que vem de fora e as discussões, como a eficiência máxima do edifício.
30
Comportamento.indd 30
8/11/2010 14:37:32
Há uma tendência de maior abertura para o debate internacional, e isso é uma diferença em relação às gerações anteriores. Martin Corullon, da Metro Arquitetos
Sócios do Metro Arquitetos: escritório e projetos no centro de São Paulo, região em transformação
Existe uma mistura entre o que nasce aqui e o que chega do
Para os novos profissionais, o momento é promissor, já que a
exterior, na busca pela construção simples, sem exageros, e
construção civil está em franco crescimento e a tendência é que
que tenha expressão. O edifício tem de absorver uma série de
o ritmo continue nos próximos anos, considerando-se a deman-
características, como respeito pelo patrimônio, sustentabilida-
da que, certamente, haverá por hotéis, parques, estádios e ou-
de e aplicação de novas tecnologias”, cita. Seu sócio, Daniel
tras construções devido aos grandes eventos esportivos que o
Corsi, complementa: “Não há mais só uma verdade. Temos
país sediará nessa década.
produções que remetem às tradições da arquitetura brasileira
“Por muitos anos, a construção civil brasileira esteve um tanto es-
e outras despontam para um caminho completamente dife-
tagnada, tivemos crises e os arquitetos sofreram, muitos aban-
rente. Procuramos nos colocar em um ponto intermediário,
donaram a profissão. Agora há um viés de liberdade de con-
aliar a memória aos aspectos contemporâneos. No Brasil ain-
ceitos, ideias, formas e materiais”, analisa Rodrigo Marcondes
da não se discute muito como fazer com que a arquitetura
Ferraz, do FGMF.
se transforme de acordo com as novas demandas da socie-
Mas é Cesar Shundi Iwamizu, do escritório SIAA, quem resu-
dade. O próprio curador da Bienal de Veneza, cujo tema era
me o desafio da nova arquitetura: “Existe uma abertura enorme
‘50 Anos Depois de Brasília’, queria projetos contemporâneos
para pensá-la sem limitá-la ao rótulo sustentável. Os objetivos
que tivessem vínculo, não literal, mas de memória”.
se mantêm: edifícios pensados em função de uma urbanidade
Corullon diz que o caráter coletivo da nova geração é o seu prin-
desejável, com racionalidade construtiva clara, que sirvam como
cipal destaque. “O que se pretende proporcionar à nova arquite-
espaço de encontro e estimulem o desenvolvimento das ativida-
tura é um caráter de infraestrutura, uma organização material que
des humanas”.
signifique suporte técnico para diferentes atividades no mesmo
Ou seja, um equilíbrio perfeito entre o homem e suas realizações.
edifício. Há um desejo de aproximar a arquitetura do raciocínio
Uma busca dos jovens talentos nacionais.
da infraestrutura, creio que essa seja uma das marcas da nova geração. Há uma tendência de maior abertura para o debate internacional, e isso é uma diferença em relação às gerações anteriores. Não se trata de uma geração que propõe a ruptura, mas também não é fechada.”
Comportamento.indd 31
31 8/11/2010 14:37:40
TENDÊNCIAs
Sui generis ou transgressora
?
Política, pichação e polêmicas dão o tom da 29ª Bienal de Arte de São Paulo sob a curadoria de Moacir dos Anjos e Agnaldo Faria
S
e em 2008 a Bienal de Arte de São Paulo foi marcada pelo vazio, nesta edição trouxe um escopo de discussões relevantes e críticas nada ortodoxas. Antes até da abertura, o tema política e arte, de liturgias eleitas indissociáveis pela curadoria de Moacir dos
Anjos e Agnaldo Faria, já deu o que falar, com o terroris-
Por Perla Rossetti Fotos Divulgação
mo gráfico de Gil Vicente e a nota pública da Ordem dos Advogados do Brasil pedindo que seus desenhos fossem retirados da mostra por fazer apologia ao crime. Afinal, o artista retratou-se agredindo líderes políticos mundiais. Nada comparado ao argentino Roberto Jacoby que teve a sua obra coberta por ser acusado de campanha para a candidata petista à eleição presidencial. Censura também é o mote da obra O Tríptico: o Guardião, a Guarda, as Circunstâncias, de Wesley Duke Lee, que faz referência ao retrato O Nome do Cadeado é: as Circunstâncias, proibido na Bienal de 1960.
32
Tendências LL 35_c.indd 32
8/11/2010 14:53:28
O que dizer, então, do convite para expor feito à pichadora Caroline Pivetta que, há dois anos, invadiu o Pavilhão Ciccillo Matarazzo, que abriga a Bienal no Ibirapuera, para deixar a sua marca em traços incompreensíveis nas paredes?
33
Para os curadores, é o questionamento dos limites da política e da arte. “Naquele momento, a Fundação Bienal de São Paulo perdeu a oportunidade de travar uma discussão ao reduzir o que houve a um mero caso de polícia, quando era algo mais complexo. Negociamos com os pichadores estratégias expositivas trazendo-os para dentro da Bienal”, justificou Moacir dos Anjos, na abertura da mostra. Para ele, a curadoria está mais interessada no fenômeno da pichação do que na prática individual dos pichadores. “Se estamos tratando da relação entre arte e política, não podemos desconsiderar uma forma de existência que não tem visibilidade na cidade e na sociedade e nós, que estamos em lugares mais protegidos, não temos conhecimento. Não nos interessa afirmar se isto é ou não arte, ou es-
Tendências LL 35_c.indd 33
Como um espaço multidisciplinar, a Bienal de Arte de São Paulo abre espaço para as vanguardas e percebeu que a pichação faz parte da dinâmica urbana.
8/11/2010 14:54:03
Tendências
tabelecer respostas, mas colocar a questão ao público,
Morfológico
que formulará seus julgamentos.” Assim, fantasia, humor, irreverência e choque, muito choque cultural, fazem parte da mostra deste ano, já que
Embora o grafite queira se comunicar com o público e
afirmar que a dimensão utópica da arte está contida nela
a pichação viva a atmosfera de uma arena de lutas no
mesma, e não no que está fora ou além dela, é o objeti-
espaço público, no alto dos prédios, a presença dos dois
vo da 29ª Bienal de Arte de São Paulo, que chega com
estilos na Bienal, para o antropólogo Magnani, acenando
o título “Há sempre um copo de mar para um homem
para formas expressivas e tem a ver com as instalações
navegar”, verso do poeta Jorge de Lima em Invenção de
dos artistas, que sempre querem chocar o espectador.
Orfeu (1952).
“O grafite ainda lembra a arte muralista, enquanto a picha-
O grafite ainda lembra a arte muralista, enquanto a pichação está diluída na cidade, é mais transgressora.
ção está diluída na cidade, é mais transgressora. Quando acontece um crime que mobiliza a mídia e a sociedade, os pichadores vão ao local e o marcam, para dar audiência. Eles guardam recortes de jornal que mostram onde aparecem as suas assinaturas – apesar de manter o anonimato diante da população, anseiam por reconhecimento entre os seus pares.” E se a arte e a política fazem parte do mesmo bojo, é conse-
Há um fascínio naquilo que ainda não foi classificado como arte, aponta Magnani, do Núcleo de Antropologia Urbana da USP
Durante mais de três meses a cidade vai fervilhar com
quência natural que os grupos se apropriem legitimamente
as idiossincrasias de 850 obras, 160 artistas de diversos
da cidade em espaços de sociabilização, não só nos vãos
países, e também pelos curadores internacionais Fernan-
do Pavilhão da Bienal como em lugares antes mal falados e
do Alvim (Angola), Rina Carvajal (Venezuela e Estados
hoje tidos como pop, como o beco da Vila Madalena.
Unidos), Yuko Hasegawa (Japão), Sarat Maharaj (África
Por fim, mais do que contemplativa, a Bienal esse ano
do Sul e Reino Unido) e Chus Martinez (Espanha).
permitirá que o público experimente a potência transformadora da arte, como dizem os curadores, em seis es-
Impactos
paços de convívio e 300 atividades. Nas próximas páginas conheça alguns dos artistas estrean-
E questionamento é o que não vai faltar. A multiplicidade
tes e os expoentes do circuito de arte mundial que partici-
de gêneros e contextos da Bienal é de tamanho abs-
pam da edição 2010 da Bienal de São Paulo.
tracionismo que dificulta, para investidores e amateurs, compreenderem os limiares da arte controvertida e das obras dos artistas contemporâneos. Urbana da Universidade de São Paulo (NAU/USP), José Guilherme Magnani. “Como um espaço multidisciplinar, a Bienal abre espaço para as vanguardas e percebeu que a pichação faz parte da dinâmica urbana, enquanto o grafite já está incorporado nas galerias. Ainda há um fascínio enquanto a expressão não é classificada como arte”.
Agende-se!
A análise é do coordenador do Núcleo de Antropologia
Até 12 de dezembro Horários de funcionamento: de 2ª a 4ª feira, das 9 às 19h; 5ª e 6ª feira, das 9 às 22h; sábado e domingo, das 9 às 19h. Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque do Ibirapuera, portão 3, telefone: (11) 5576-7600 Mais informações em www.29bienal.org.br
34
Tendências LL 35_c.indd 34
8/11/2010 14:54:03
35 Allora & Calzadilla
Andrea Büttner
Música/instalação
Monotipia/pintura/religiosidade
A movement without development 2010
Sem título
1974 e 1971
1972
Filadélfia, EUA e Havana, Cuba
Stuttgart, Alemanha
Vivem em Cambridge, E.U.A.
Vive em Londres, Inglaterra
e San Juan, Porto Rico Ensaios atentos às disputas do mundo contemporâneo
O contato entre arte e religião, em especial o modo como
nas paredes da Bienal formam corredores por onde
ambas podem envolver clausura, culpa e abnegação
uma pequena orquestra executa o célebre Bolero, de
em monotipias e gravuras em que cenas da vida de São
Ravel. O tecido orquestral transforma a atmosfera es-
Francisco de Assis representadas na pintura de Giotto
tática do prédio com sua presença móvel e distende
são reconfiguradas em formato pequeno e grande.
simultaneamente o espaço e o tempo.
Albano Afonso
Amar Kanwar
O Jardim, faço nele a volta ao Infinito – parte 02, a Noite 2010
The Lightning Testimonies 2007
1962
1964
São Paulo, Brasil
Nova Déli, Índia
Fotografia/instalação
Filme instalação
Fusões, enlaces, reflexões e codificações da imagem
Como observador comprometido e parcial, Kanwar reflete
em pinturas de luz em um jogo ilusório formado por
sobre o traçado histórico, propulsor de tensão e violência, da
espelhos, luzes, projeções e sombras, no qual o pró-
fronteira entre a Índia e o Paquistão. Nacionalismo, pobreza,
prio deslocamento do corpo do observador interfere
violência ou o poder político são introduzidos através de ima-
no conjunto de reflexões.
gens silenciosas e contemplativas de pessoas, objetos, ritos e paisagens, cuja sequência molda narrativas submersas originadas dos estilhaços das zonas de conflito na Caxemira, a violência sexual contra as mulheres e a sua resistência.
Tendências LL 35_c.indd 35
8/11/2010 14:54:21
Tendências
Alessandra Sanguinetti
Allan Sekula
El tiempo vuela _de la serie El devenir de sus dias 2005
Russian Visitors (Novorossisk) _from the installation_ Ship of Fools 1999 - 2010
1937 – 1980
1951
Rio de Janeiro, Brasil
Erie, EUA
Fotografia
Fotografia
Seu trabalho fotográfico focaliza personagens do en-
Diferenças de classe, condições de trabalho, invisibilidades
torno remoto e rural de Buenos Aires. Foi no decorrer
recorrentes na era capitalista pós-industrial e o massivo trans-
desse processo que conheceu Guillermina e Belinda,
porte marítimo internacional costituem sua obra. A partir do li-
primas cujas vidas acompanhou e registrou desde a
vro de Sebastian Brant, de 1494, sobre um barco que busca
pré-adolescência, numa viagem literária como as de
o “paraíso dos tolos”, a instalação Ship of Fools documenta a
Julio Cortázar, Lewis Carroll e William Shakespeare.
jornada do navio Global Mariner, antigo cargueiro acidentado, recuperado e convertido em uma exposição itinerante.
Gil Vicente
Hélio Oiticica
Desenho/política
Experimentação/instalação
Série Inimigos 2005
Museum of Modern Art, Nova York 1970
1958
1937 – 1980
Recife, Brasil
Rio de Janeiro, Brasil
Denunciando um esgotamento que, em muitas ocasi-
A quebra de hierarquias entre a produção artística, da vida or-
ões, tem levado ao confronto violento, em Inimigos o
dinária e a porosidade entre as esferas, legitimando procedi-
artista assume, em desenhos em carvão sobre papel
mentos e materiais da cultura popular estão em Penetráveis,
e escala natural, a figura de assassino dos dirigentes
Parangolés e nos Ninhos, obras reconstruídas para a Bienal.
políticos. O amplo espectro de orientações ideológicas
No bólide Homenagem a Cara de Cavalo e na bandeira Seja
dos retratados sugere que o que está em jogo é menos
marginal, seja herói, Oiticica confronta as ideias de poder le-
a afirmação de uma causa e mais o repúdio a qualquer
gítimo e autoritário e homenageia a Cara de Cavalo e a Minei-
forma de poder.
rinho, dois bandidos mortos pela polícia do Rio de Janeiro.
36
Tendências LL 35_c.indd 36
8/11/2010 14:54:32
37 Henrique Oliveira
Jonathas de Andrade
A origem do terceiro mundo 2010
Educação para adultos 2010
1973
1982
Ourinhos, Brasil
Maceió, Brasil
Vive em São Paulo, Brasil
Vive em Recife, Brasil
Pintura/Apropriação
Fotografia
Texturas em retalhos de tapumes e de madeira laminada,
Em 1971, é publicada uma coleção de 21 cartazes basea-
coletados nas ruas da cidade em colagem e modelagem
dos no método de educação para adultos do educador Paulo
sensualis criam obras imersivas; paredes, protuberâncias
Freire. Na ocasião, a mãe do artista comprou o conjunto, em
e becos que contaminam e tornam orgânica a arquitetura
Alagoas. Em 2006, ele o encontra e percebe a possibilidade
do espaço. Nesta obra, o ponto de partida é a pintura
de questionar, modificar e inspirar vocabulários subjetivos.
A origem do mundo, do pintor realista francês Gustave
Apropriando-se do método, vai à sala de aula, levanta temas
Courbet e desenvolve-se como um túnel instalado numa
relativos ao cotidiano do grupo, discute-os, fotografa as suas
região por entre salas expositivas, explodindo e brotando,
representações imagéticas e as devolve num mural gráfico
como o avesso de uma pele, no espaço aberto.
com desordenada sobreposição de vozes e tempos.
Rochelle Costi
Tatiana Trouvé
Fotografia
Escultura/instalação
Estante 2010
350 Points towards Infinity 2009
1961
1968
Caxias do Sul, Brasil
Cosenza, Itália
Vive em São Paulo, Brasil
Vive em Paris, França
A artista visita o pavilhão da Bienal e intervém em seu espa-
Suas intervenções e construções arquitetônicas e es-
ço vazio e modular com objetos de sua coleção, criando e
cultóricas exploram, confundem e invertem, material e
fotografando cenas de uma exposição hipotética. Repleta
psicologicamente, interior e exterior, movimento e está-
de enigmas, que ora apontam para referências a obras de
tica. Inúmeros pêndulos presos ao teto cruzam-se em
arte contemporânea, ora sugerem uma intimidade possível
diagonais e imobilizam-se pouco antes de tocar o solo,
dentro da arquitetura do pavilhão, a série oferece registros
em um campo magnético invisível, congelando a forma,
de ocupações e intervenções poéticas.
mas na iminência do choque.
Tendências LL 35_c.indd 37
8/11/2010 14:54:37
URBANO
Ladeado pelo prestígio dos Jardins e da Vila Nova Conceição, o Itaim Bibi é referência gastronômica, cool e artística que atrai adeptos ao seu estilo de vida pacífico e, ao mesmo tempo, cosmopolita Por Fernanda Fatureto Fotos Mário Lopomo, Helcias, Arquivo Novo Meio / Roberta Coelho e Divulgação
desfrute
o Itaim A
rotina pulsante do Itaim Bibi, sua gastronomia, os charmosos edifícios residenciais e os arranha-céus que dividem a atenção com a paisagem, nasceu como universo bucólico e pacato em meados do século XIX. A chácara, propriedade do general José Vieira Couto de Magalhães, tinha 350 mil m2 . Localizada entre a Estrada Santo Amaro, os córregos Uberabinha e o Verde, hoje Shopping Iguatemi, dava
de fundos para o rio Pinheiros. Em 1920, as terras foram loteadas para os herdeiros do general, ficando a casa principal da chácara, a Casa Grande, para o Dr. Leopoldo Couto de Magalhães Jr., conhecido como Bibi. Aos poucos o loteamento foi sendo vendido para imigrantes italianos e portugueses que chegavam ao Brasil, fugindo da guerra. A ocupação restringia-se ao quadrilátero formado pelas avenidas Nove de Julho, Juscelino Kubitschek (antigo Córrego do Sapateiro) e São Gabriel, além do rio Pinheiros. O Itaim Bibi comunicava-se com a rua Santo Amaro que, já nos anos 20, era uma zona de acesso aos comerciantes
38
Urbano LL35_c.indd 38
8/11/2010 14:56:38
da cidade. A conexão do Itaim entre bairros mais periféricos e
ponsável por investir no local e promover a configuração que
regiões centrais, como a avenida Paulista, foi logo aproveitada
conhecemos hoje. Os moradores de casas pequenas foram
pelo filho do senhor Bibi, Dr. Arnaldo Couto de Magalhães,
levados a outros bairros, devido ao planejamento governa-
que transformou o local em empreendimento comercial, favo-
mental daquela época, que o nomeou de zona comercial.
recendo o desenvolvimento do bairro que não contava com
Também na década de 70 intensificaram-se as obras viárias
restrições para a edificação em seu entorno. A partir daí, a va-
e de saneamento e, conforme a vida econômica e urbana da
lorização dos terrenos foi constante. O crescimento das fábri-
cidade de São Paulo se desenvolvia, o Itaim Bibi configurava-
cas em São Paulo aumentou o número de trabalhadores, os
se, cada vez mais, como fronteira entre edifícios comerciais
Jardins já se configuravam como local ideal para os casarões,
e residenciais, entre espaço de acesso aos Jardins e à Vila
tornando-se atrativo para novas construções.
Olímpia, sinalizando a importância da região.
Duas vias ligavam o bairro: a linha de bondes da Light e a
O bairro conta, hoje, com infraestrutura especial para atender
estrada de rodagem. Durante os anos 30, a Light ampliou as
toda a demanda de negócios atraída à região, como a cons-
linhas para acesso até o bairro de Santo Amaro. Nasceram
tante construção de arranha-céus empresariais que compar-
as linhas Jardim Paulista e Jardim Europa. A construção
tilham o espaço com a arquitetura despojada das galerias de
de avenidas que se conectavam às regiões norte e sul da
arte do bairro. Desenho urbano em torno do Itaim Bibi que se
cidade acabaram contribuindo para o desaparecimento das
efetivou com a criação, em 1995, da Lei da Operação Urba-
linhas de bonde, dando lugar a largas pavimentações – hoje
na Faria Lima, responsável pelo desenvolvimento em prol da
conhecidas como Nove de Julho, Cidade Jardim e as arté-
contínua verticalização. “A operação Faria Lima surgiu num
rias da avenida Brigadeiro Luis Antônio. Este processo resul-
momento em que a cidade precisava de um novo polo de
tou em maior valorização da região, dando início ao que se
referência em serviços e escritórios de qualidade. Movimento
concretizou nos idos dos anos 70: a verticalização do bairro.
este, aliás, que teve início na primeira metade do século pas-
Ainda em 70, muitas áreas permaneciam vazias e os preços
sado. Depois migrou para a avenida Paulista e, na sequência,
dos terrenos eram baratos. O mercado imobiliário foi o res-
para a Faria Lima em direção à Berrini, alcançando um pouco
39 Brascan Century Plaza: síntese da convivência em um complexo empresarial
Urbano LL35_c.indd 39
8/11/2010 14:56:40
Boa Companhia
URBANO
Conforto aliado à praticidade e modernidade estão sintetizados no novo lançamento da Adolpho Lindenberg situado à Rua Leopoldo Couto de Magalhães Jr., no coração do Itaim Bibi. Idealizado para um público extremamente qualificado, usando como referência as melhores capitais do mundo, com 50% de apartamentos voltados para pessoas sós ou casais, o Leopoldo 695 foi projetado com unidades de alto padrão, compactas, de 60 a 91m² com toda a infra-estrutura de serviços planejada de forma inteligente. O toque contemporâneo está alinhado ao estilo de vida nas grandes metrópoles, famílias de diferentes composições, casais com poucos filhos convivendo no mesmo edifício com jovens executivos para os quais a Rua Leopoldo Couto de Magalhães Jr. é um dos objetos de desejo, como identificou através de estudos o desenvolvedor do projeto Antônio Charles Nader. A disponibilidade de serviços oferecidos + serviços pay-per-use, aliados aos diferenciais Lindenberg, são grandes atrativos para os futuros
moradores do empreendimento que poderão contar dentre outros com serviço de concièrge, mensageiro, manobrista, e arrumação. Estes serviços, oferecidos em um residencial, fazem do Leopoldo 695 uma excelente opção de investimento ou moradia para todas as idades. O projeto desenvolvido “dentro de casa” traz todos os diferencias idealizados ao longo dos anos pelo fundador Adolpho Lindenberg. “Utilizamos terraço de vidro para uma visão de fora, proporcionando um ambiente integrado que vai da sala para o terraço”, afirma a arquiteta responsável pelo projeto, Rosilene Fontes. Já a definição de metragem se dá pela visão sensível às tendências de mercado: “construções que privilegiam uma parcela considerável da população, jovens bem sucedidos e solteiros que optam por um apartamento só seu, mas que não abrem mão do conforto e facilidades no dia-adia”, afirma Antônio Charles Nader. Ou seja, um edifício que traduz o jeito e o ritmo do Itaim Bibi, com a qualidade e refinamento consagrados da Construtora Adolpho Lindenberg.
o entorno do Itaim”, diz Vladir Bartalini, arquiteto e superinten-
no bairro um grande polo de serviços. As sedes das grandes
dente de desenvolvimento da SP Urbanismo, empresa públi-
empresas estão localizadas ali, nos entornos que separam o
ca ligada à prefeitura de São Paulo.
Itaim, caso da avenida Faria Lima, Juscelino Kubitschek e da
Segundo Bartalini, a abertura da avenida Faria Lima melhorou,
Vila Olímpia. E isso é importante para a imagem da cidade,
e muito, a acessibilidade da região, fazendo com que surgis-
para mostrar que ela é pulsante”, completa Bartalini.
se ali intensa atividade imobiliária. “A localização próxima ao
Porém, moradores das proximidades da Associação A He-
Jardim América e Paulistano, que já tinham áreas residenciais
braica e do clube Pinheiros conseguiram impedir as opera-
um ar de bairro nobre, mantendo as características que tem hoje.” Pode-se dizer que a SP Urbanismo, em parceria com a prefeitura e um comitê de moradores, atua para fortalecer a expansão da região, privilegiando a construção de novos edifícios empresariais que, para o superintendente responsável, só acarreta valorização à região. “Hoje tem se consolidado
Só novatos
de alto padrão, e a abertura de novas avenidas deu ao Itaim Novos espaços gastronômicos chegam ao Itaim Bibi. Confira as deliciosas empreitadas:
La Vie en Douce – os docinhos, bolos e cupcakes da chef Carole Crema chegam em novembro à nova loja na rua Pedroso Alvarenga. Carole promete um cantinho aconchegante, nos moldes do seu já tradicional La vie, nos Jardins.
40
Urbano LL35_c.indd 40
8/11/2010 14:56:47
ções que os atingiriam. O outro lado da verticalização, em qualquer metrópole, é a perda das características estritamente residenciais de alguns bairros. E alguns moradores são contra a medida de expansão. Reivindicam investimentos para controlar o tráfego crescente, tais como a construção
41
de túneis que chegam até a Rebouças, o alargamento da rua Funchal e o ainda previsto aumento da Faria Lima até a rua
atraindo mais serviços e comércio, além de promovermos
Pedroso de Morais, em Pinheiros.
projetos de reutilização de áreas degradadas, como o Largo da Batata. Também há, com a iniciativa, a proposta de
Expansão sustentável
construir habitações com interesse social, para moradores de favelas das proximidades. A Lei de Operação Urbana
“São Paulo é muito espalhada, a região central é pouco
diz onde empregar recursos arrecadados e prevê a cap-
ocupada, como ocorreu no passado com a própria região
tação de capital no atendimento aos moradores do Real
do Itaim Bibi. Era uma região de sobradinhos, casas peque-
Parque e da Favela Panorama”, diz Bartalini. Parece pouco,
nas e, por estar localizada numa boa área, poderia receber
mas para manter a qualidade de qualquer bairro é preci-
mais empreendimentos. Nesse ponto, é interesse da pró-
so investir na parcela da população menos privilegiada. A
pria prefeitura desenvolver a região, o que ocorreu de fato”,
ação social faz parte da organização urbanística de uma
explica Bartalli. Por isso, os esforços em tornar o Itaim Bibi
cidade em contínuo desenvolvimento sustentável. “Apostar
cada vez mais atrativo aos moradores e investidores. Para
no desenvolvimento de uma ‘cidade compacta’ decorre da
o arquiteto da SP Urbanismo, o ideal seria condensar mais
ideia de que as pessoas precisam se voltar para dentro
a região por meio da verticalização. É preciso vivenciar a
dela. O centro, nos últimos 20 anos, perdeu população
metrópole a partir “de dentro” - caráter comum ao propor
para a periferia, deixando a área pouco ocupada. Quando
o adensamento do espaço urbano. No entanto, salienta
se investe em edificações, qualquer região se valoriza.” E
que, para haver adensamento do espaço urbano, é pre-
como aposta em ser um dos bairros mais requisitados da
ciso garantir aos antigos moradores de favelas próximas o
capital paulistana, o crescimento do Itaim Bibi vem acom-
realocamento para outras áreas. “Com o adensamento po-
panhado de mais qualidade de vida aos seus residentes, a
demos gerar recursos e melhorar a infraestrutura da região,
exemplo da revitalização do Parque do Povo.
Kosebasi – a rede de Istambul viajou o mundo conquistando clientela na Grécia, Estados Unidos, Bahrain e Dubai. Agora é a vez de os paulistanos conhecerem o melhor da culinária oriental do Mediterrâneo. Saboreie pides e kebabs distribuídos em diversos sabores. Rua Jerônimo da Veiga, 461.
Urbano LL35_c.indd 41
Per Paolo – o restaurateur Paulo Baroni traz o melhor da cozinha italiana moderna com massas artesanais. Uma boa pedida é o stinco de cordeiro com nhoque de manjericão ao molho especial, preparado sob o comando do chef francês Jérôme Ferrer. Rua Paes de Araújo, 184.
8/11/2010 14:56:50
capa
lássico C Por Fernanda Fatureto
Fotos: André Mantelli, Breno Rotatori,
Gerardo Lazzari, João Mussolin e Divulgação
Patrocínios, ensino de música e polos de cultura democratizam o acesso à música clássica, tornando o Estado de São Paulo o maior reduto erudito do país. Conheça as ações que estão reconfigurando este universo tão particular e aproximando públicos com apresentações de qualidade internacional.
Divulgação Galeria Estação
Por Claudia Manzzano Fotos Divulgação
42
CP Musica LL35_B.indd 42
8/11/2010 15:09:35
para todos “Temos mais música erudita na base do que no topo da pirâmide.
Andrea Matarazzo, Secretário de Estado da Cultura
A
rthur Schopenhauer (1788 – 1860) defendia
Cento e cinquenta anos após a sua morte, rompendo a bar-
a universalidade como base de seu sistema
reira cultural europeia, o pensamento de Schopenhauer atingiu
filosófico e dizia que “a verdadeira formação
as terras brasilis. Atualmente, o Estado de São Paulo investe
para a humanidade exige visão geral sobre
R$ 150 milhões ao ano na difusão da música erudita, soma-
a totalidade da existência”. O pensador vi-
dos aos programas de formação musical responsáveis por
veu em uma época de efervescência cultural na Alemanha
incluir jovens neste universo – até pouco tempo atrás, estreito.
do século XIX, contemporâneo de Richard Wagner, Goethe
Os muros que separavam a música clássica de milhões de
e Hegel. Seu livro O mundo como vontade e representação
brasileiros estão sendo derrubados, pouco a pouco, pela for-
não teve grande repercussão quando foi lançado, em 1819,
mação de novos músicos e pela organização de concertos ao
causando-lhe desconforto e o pedido de demissão da Uni-
ar livre a preços acessíveis em espaços tradicionais, como a
versidade de Berlim. Ele viu suas aulas minguarem ao se po-
Sala São Paulo. A abertura deu-se há 15 anos com o Projeto
sicionar contra a filosofia de seu colega de cátedra, Hegel. A
Guri. Por meio de uma organização social aliada à Prefeitura de
verdade é que a sua obra mais importante seria reconhecida
São Paulo, surgiram os primeiros polos de ensino de música
tempos depois, e os alemães descobriram, então, as suas
instrumental. Em pouco tempo, a procura pelas aulas gratuitas
teorias, entre elas, a musical – tema tratado extensamente e
multiplicou-se, fazendo com que novos polos fossem implan-
de modo profundo pelo pensador. Para ele, é possível expres-
tados em bairros da Grande São Paulo.
sar melodicamente todo o universo interior do ser humano. E
Hoje, 50 deles estão localizados em CEUs e escolas, e re-
afirmava, categórico: “A música é, portanto, se considerada
cebem 12 mil alunos na capital, em aulas de instrumentos de
como expressão do mundo, uma linguagem universal em
cordas, sopro, percussão e canto coral com acompanhameto
sumo grau (...) Tudo aquilo que se passa no interior do ho-
de 270 professores em todas as unidades. O Guri também
mem, e que a razão lança no amplo conceito negativo de sen-
está em cidades do interior paulista – um total de 45 mil alunos
timento, pode exprimir-se pelas infinitas melodias possíveis”.
em todo o Estado. Embora não trabalhe com recorte de renda,
Mantendo a sua posição “universalista”, empenhava-se em
o projeto beneficia principalmente crianças e jovens das clas-
criticar círculos estreitos de especialistas, apontando as fa-
ses baixas porque está inserido em comunidades carentes.
lhas de uma educação enciclopédica, portanto, reducionista.
Grande parte vem de escolas públicas, tem de seis a dezoito
CP Musica LL35_B.indd 43
43 8/11/2010 15:09:40
capa
anos e pertence a igrejas evangélicas – fenômeno que se aplica a músicos profissionais de orquestras. A rotina inclui quatro
Alunos do Guri Santa Marcelina em aula de iniciação musical
ESPAÇOS
disciplinas, duas vezes por semana – teoria musical, canto co-
O edifício da Sala São Paulo, no complexo Júlio Prestes, foi
ral, aula prática de conjunto orquestral e aula de instrumento,
projetado em 1925 em decorrência da urbanização da cida-
escolhido de acordo com as afinidades de cada um. “Parale-
de paulistana em torno da economia do café. Ali funcionava
lamente às atividades pedagógicas, trabalhamos com a peda-
a antiga estação de trem da Estrada de Ferro Sorocabana. A
gogia do Direito e do Estatuto da Criança e do Adolescente.
arquitetura monumental inibe alguns transeuntes do centro –
Sabemos das adversidades por que passam e é importante
durante muito tempo o espaço ficou reservado aos círculos
que, junto à música, adquiram consciência de seus direitos
de amantes da música clássica. Em março de 2008, a Fun-
referentes à inclusão social”, explica Giuliana Fronzoni, gestora
dação OSESP, junto com a Secretaria de Estado da Cultura,
do Guri Santa Marcelina, administrado pelas freiras desde a re-
tomou a iniciativa ao ampliar o acesso de frequentadores.
formulação do projeto, há três anos. A partir da educação mu-
Surgiram, então, os concertos matinais gratuitos, apresen-
sical de base, foi possível a inclusão dos familiares no universo
tados aos domingos sempre às 11h00. Desde a inaugu-
musical. Os pais que levam seus filhos para os polos recebem
ração, a Sala São Paulo recebeu mais de 18 mil pessoas
aulas iniciais sobre compositores, apreciação musical e assis-
– muitas nunca haviam pisado em uma sala de concerto.
tem a palestras que contam a história da Sala São Paulo. “Tem
Por lá já passaram regentes do quilate de Kees Bakels –
tido um resultado maravilhoso, os pais vão se apropriando
maestro holandês que esteve à frente da Orquestra Sinfônica
desse universo, aparentemente restrito, mas que acaba demo-
de Bornemouth. Além dos concertos matinais, há os Concer-
cratizando, ao oferecer concertos a quatro reais”, diz Giuliana.
tos Didáticos, desenvolvidos para estudantes e professores integrantes de projetos dedicados à formação musical, como o Guri. Durante o espetáculo, o maestro e os músicos apresentam ao público cada instrumento da orquestra e contextualizam o repertório. Segundo a gestora do Projeto Guri, as famílias passaram a frequentar, por conta própria, os concertos, sem precisar dos professores. Todo domingo, a Sala São Paulo recebe cerca de 200 famílias inclusas no programa.
Público versus Privado A necessidade de popularização do universo erudito ocorre devido a um fenômeno mundial do século passado: a abertura ao capital financeiro. Instituições culturais, antes administradas com capital privado familiar ou mantidas por verbas estatais, hoje precisam do apoio de grandes conglomerados para a sua sobrevivência. Para manter um regente em uma orquestra de peso, como a OSESP, gasta-se em torno de R$ 100 mil ao mês. Considerando-se a urgência da excelência dos profissionais envolvidos, os custos aumentam a cada ano. Desde as privatizações no Brasil, no início da década de 1990,
44
CP Musica LL35_B.indd 44
8/11/2010 15:09:46
Todos os que trabalham com música erudita hoje estão empenhados em transpor os muros que os separavam dos demais atores sociais.” José Maurício Fittipaldi, especialista em tributação de projetos via Lei Rouanet
alguns setores viram-se órfãos do governo. Um pouco pela
diretamente do segmento passaram a ter uma necessidade
presença que as empresas passaram a ter no andamento
maior de se ajustar às medidas da Lei Rouanet para obter
da economia do país, outro tanto porque o governo ausen-
recursos, justamente por não ser um fenômeno de massa e
tou-se da responsabilidade de “bem-estar social” mantida
atrair menos recursos dos setores público e privado. Quan-
nos discursos do período após a Segunda Guerra Mundial.
do a lei foi criada, as empresas tinham acesso apenas ao
Na verdade, a onda de capitalização da cultura tem origem nos
benefício parcial, enquadrado no Artigo 26, que garantia a
Estados Unidos e Grã-Bretanha, nos anos 1980. Quem deta-
dedução do IR de 30% do valor doado aos bens culturais.
lha a tomada de posição do universo corporativo em direção ao
Verificou-se um aumento no incentivo a projetos que traziam um
artístico é a pesquisadora Chin-tao Wu, no livro Privatização da
retorno de imagem instantâneo para as empresas, no caso de
cultura: a intervenção corporativa na arte desde os anos 1980
shows superlotados de música pop. Então, criou-se o Artigo
(Boitempo Editorial, 2006). A autora analisa como a entrada do
18 da lei para beneficiar as áreas que não conseguiam a capta-
economista John Maynard Keynes na gestão da administração
ção por meio do benefício parcial. Literatura, patrimônio mate-
do Conselho para o Incentivo da Música e das Artes, CEMA,
rial e imaterial, teatro, dança e música erudita enquadraram-se
na Grã-Bretanha, em 1942, fez o capital cultural ser regido por
na categoria integral – 100% dos valores repassados a estas
uma lógica diferente, a de mercado. O fundo, originário de re-
áreas eram deduzidos do IR. Deu certo: devido ao benefício,
ceitas públicas, logo foi retirado de circulação, a pedido do
empresas direcionaram sua atenção a estes setores. E o mo-
economista, para cortar gastos. A partir daí, segundo Chin-tao
mento atual é, talvez, o mais significativo para o universo da mú-
Wu, os bens culturais concentraram-se nas mãos das gran-
sica clássica no Brasil, especialmente no Estado de São Paulo.
des corporações, por meio de medidas governamentais que
permitiam a renúncia fiscal parcial de empresas que incentivassem projetos culturais. No Brasil, na mesma época da venda de empresas estatais a acionistas, surgia o esboço inicial do que se transformaria, de fato, na Lei Rouanet que conhecemos hoje. Em 1991, instituiu-se a Lei 8.313 para auferir recursos para a produção, difusão e acesso a bens culturais. Em 1995, o Decreto 1.494 atualizou a lei com a criação do Programa Nacional de Apoio à Cultura, o PRONAC que, ainda hoje, possui dois mecanismos de captação de recursos para as artes – por meio do Fundo Nacional de Cultura (FNC), com verbas diretas da União, e através de Incentivos Fiscais, dinheiro captado de parcela do Imposto de Renda de pessoas físicas e jurídicas. No campo da música erudita, muitas instituições que cuidam
CP Musica LL35_B.indd 45
45 8/11/2010 15:09:46
capa
REFLEXOS
cioculturais. “As orquestras só sobrevivem pela utilização dos incentivos fiscais. O Estado pode fazer investimentos diretos,
Sala de aula no Guri Santa Marcelina
A transição das atividades em salas especiais para espaços
mas ele tem de transferir estes investimentos para uma enti-
mais democráticos mostra que a formação de público é pos-
dade que conduza as orquestras. Só o Estado não dá con-
sível – o que tem aumentado o patrocínio para este setor.
ta de suprir toda a demanda deste universo”, afirma Fittipaldi.
Para o advogado e sócio da Cesnik Quintino e Salinas, José
O Estado de São Paulo, de fato, repassou a administração
Maurício Fittipaldi, um dos principais escritórios especializados
dos recursos da área cultural para Organizações Sociais (OS).
nos trâmites legais que envolvem a área cultural, as empre-
Ao todo, são 39 entidades sem fins lucrativos que dirigem es-
sas têm papel fundamental neste processo. Primeiro porque,
colas de dança, museus, teatros e orquestras paulistas. A
ao se aliar a uma proposta artística, exigem que os concertos
transferência de atividades antes estatais para o terceiro setor
atinjam um número maior de pessoas, pois a marca precisa
faz parte de uma reforma de base cujo modelo de gestão é
ser difundida. Segundo porque, ao aderir à Lei Rouanet, é
híbrido, pois não há concentração de poder na mão do capi-
previsto no contrato o apoio à democratização e ao acesso,
tal financeiro, baseado em um ideário neoliberal, nem unica-
medidas essenciais para que o projeto seja aprovado no Mi-
mente na mão do Estado. A Secretaria de Estado da Cultura
nistério da Cultura e liberado para a procura de financiamento.
mantém oito projetos ligados à música clássica e instrumen-
Para que uma proposta artística seja beneficiada por verbas,
tal. Por meio das OS, a Secretaria destina R$ 150 milhões
deve conter estratégias claras de acessibilidade – proporcionar
ao ano para as atividades vinculadas à Orquestra Sinfônica
a pessoas com mobilidade reduzida ou deficiência o acesso
do Estado de São Paulo (OSESP); Jazz Sinfônica; Banda Sin-
a bens culturais; e democratização – ações que promovam a
fônica e Orquestra do Teatro São Pedro. Parte desta verba
oportunidade ao acesso de bens e produtos artísticos à po-
também vai para programas de formação musical, como Guri,
pulação desfavorecida. Esta estratégia foi definida por medi-
Conservatório de Tatuí, Escola de Música Tom Jobim e Fes-
das governamentais, mostrando a necessidade de o Estado
tival de Inverno de Campos do Jordão. Estes últimos conce-
ainda preservar a sua função de mediador nas relações so-
dem bolsas de estudos para a formação musical de jovens. “Todos os que trabalham com música erudita hoje estão empenhados em transpor os muros que os separavam dos demais atores sociais. A OSESP, por exemplo, uma fundação privada que tem relação de OS com o governo de São Paulo, possui compromisso duplo: a excelência e a realização de concertos itinerantes e no Parque do Ibirapuera. Parece pouco, mas é uma grande revolução. Até pouco tempo atrás, assistíamos às orquestras apenas em salas fechadas. Hoje, levar concertos a céu aberto traz enormes resultados e sucesso de público”, reitera José Maurício Fittipaldi, responsável na Cesnik pela tributação de projetos via Lei Rouanet. Outro evento que atinge um público não especializado, mas amante de música clássica, é o Festival de Inverno de Campos do Jordão. Entre os meses de julho e agosto, a Praça Capivari é palco de concertos gratuitos com a apresentação de um repertório refinado, além de abrigar 84 concertos pagos em
46
CP Musica LL35_B.indd 46
8/11/2010 15:09:52
47
salas e teatros. Patrocinado pelo banco Bradesco por meio do Prime Arts e com apoio direto do Estado de São Paulo, a partir deste 41º Festival parte da renda dos ingressos cobrados foi destinada à educação musical e inclusão social em torno de Campos do Jordão, por meio de cursos organizados pela OS Santa Marcelina, mesma do Projeto Guri. Para a gestora do Guri Santa Marcelina, Giuliana Fronzoni, não basta ampliar o acesso aos concertos, é necessária uma ação educativa de base para que o público retorne aos eventos. “Contextualizar o repertório, introduzir o compositor no diálogo com o público é fundamental. É completamente possível formar público para a música clássica no Brasil, porém, as bases de ensino precisam estar alinhadas à nossa realidade. Hoje trabalhamos com
de inclusão social, de aproximar a juventude dos ins-
métodos de ensino brasileiro para instrumentos e incluímos
trumentos e diversificar a oferta de entretenimento. E a
repertório nacional, como Villa-Lobos”, diz. A Secretaria de Es-
Secretaria não está sozinha nos apoios destinados ao
tado da Cultura de São Paulo contabiliza cerca de 50 mil alu-
segmento. Os números fazem parte de uma engrenagem
nos incluídos nos programas ligados à música. Emprega 346
maior, com participação ativa de empresas privadas,
músicos profissionais nos oito grupos orquestrais que mantém
acrescentando seu montante nas verbas. “O incentivo
e administra sete auditórios adequados para concertos. São
privado é uma alternativa interessante para segurar nos-
Paulo, dentro desta perspectiva, pode ser considerado o redu-
sos talentos no Brasil. Durante anos, vimos os músicos
to da música erudita do país, tornando-se assim característica
saindo para estudar no exterior, por meio de bolsas. Com
muito peculiar do Estado na preservação deste posto. “O Guri
programas de formação musical e o patrocínio para o
É completamente possível formar público para a música clássica no Brasil, porém, as bases de ensino precisam estar alinhadas à nossa realidade.” Giuliana Fronzoni, gestora do Projeto Guri Santa Marcelina
evoluiu e hoje podemos considerar o Estado o mais democrá-
aperfeiçoamento de músicos profissionais, junto às or-
tico em termos de música clássica. Tenho certeza que temos
questras, cria-se uma forma de arejar nosso cenário. E
mais música erudita na base do que no topo da pirâmide”, co-
estimular o acesso ao público”, diz Matarazzo. Muitas
memora o Secretário de Estado da Cultura, Andrea Matarazzo.
parcerias têm sido feitas. A Sabesp é mantenedora de
Com a ideia associada à tese de que “música boa todo
orquestras profissionais do Estado. Assim como o Credit
mundo gosta” para explicar os espetáculos sempre lota-
Suisse e Bradesco Prime. Mas, segundo o secretário,
dos promovidos nas viagens pelo interior ou nos concer-
o acesso à música clássica em grande escala é feito
tos a preços populares, Matarazzo explica que o Estado
pelo Estado. “Promover a maior difusão é obrigação do
se deu conta de que a música era um meio importante
governo, pois a cultura é complementar à educação.”
CP Musica LL35_B.indd 47
8/11/2010 15:09:52
capa
Erudito? Não, obrigado
Philippott. Porém, qualquer tentativa de tratar a Jazz Sinfônica como erudita é recusada por João Maurício Galindo, que responde, lacônico, quando questionado se aceita o título. “Não.
Bolsistas no 41º Festival de Inverno de Campos do Jordão: MasterClass com Antônio Meneses
A Orquestra Jovem do Estado apresenta-se como um modelo
Nem queremos.” Depois de uma pausa, emenda: “erudito é
aberto à difusão musical. Com recursos públicos, é adminis-
sinônimo de europeu. Fazemos música popular voltada para
trada pela Escola de Música do Estado de São Paulo – co-
as Américas. Erudito para mim é sinônimo de música feita de-
nhecida como Tom Jobim. Formada por 70 bolsistas, muitos
pois de muita pesquisa. Nesse sentido somos eruditos, sim.
não tinham contato com música instrumental até participar de
Mas falar nesses termos, hoje, soa como algo de outra reali-
projetos como Guri e Accores/Pão de Açúcar. À frente da Or-
dade. Estamos no Brasil, não na Alemanha do século XIX”. E
questra, está o regente João Maurício Galindo, diretor artístico
complementa: “música de concerto, hoje, não é mais um
e maestro titular da Jazz Sinfônica. Em 2000, assumiu seu pro-
bem cultural apenas para as classes elevadas. Há trinta
jeto considerado o mais versátil – dirigir e reger uma orques-
anos, quando comecei a dar aulas, os jovens que me
tra destinada à experimentação musical no formato big-band,
procuravam eram todos abastados. Mas esse cenário
com repertório popular. “Apesar de a Jazz Sinfônica apresentar
mudou. A abertura começa por aí, no grande interesse
formato orquestral, não tocamos música erudita porque o Es-
de uma fatia ampla de jovens pelo estudo de instrumen-
tado já tem a OSESP. Nossa função é criar um estilo baseado
tos”, afirma. As igrejas evangélicas desempenham um pa-
na música popular”, salienta Galindo. Destinada a reavivar o
pel importante na nova realidade. Professores e maestros
formato orquestral de shows do rádio e TV nos tempos áureos
afirmam que uma parcela considerável de alunos que os
da Record, a Jazz Sinfônica esteve no palco com João Bosco,
procuram frequenta cultos. Outro fenômeno são as ban-
Ivan Lins, Paulinho da Viola, entre vários artistas populares.
das de coreto das cidades do interior. “Estas bandas en-
Sua formação, no entanto, advém do campo erudito, pois seus
sinam música nos colégios públicos e estaduais. Muitos
estudos seguiram na direção do compositor francês Michel
músicos de sopro da OSESP vieram destas bandas. Você encontrará um perfil de músicos de todas as classes, sem distinção”, afirma João Maurício Galindo. Para o maestro, só não entende esta realidade quem permanece conectado ao restrito mundo da televisão.
Movimento a Beethoven A música erudita, como a conhecemos, possui raízes seculares, mas desenvolveu-se plenamente entre os séculos XVII e XVIII com a ascensão de Bach e Handel nos circuitos da Europa Ocidental. Compositores viviam sob a batuta de mecenas, geralmente príncipes e reis. O aristocrata promovia música nos palácios e, ao fim da era do mecenato, no século XIX, o burguês preservou a tradição de se fazer música em casa. Segundo o maestro Galindo, houve um regresso até os dias atuais. “O ouvido das pessoas ficou destreinado. Acostumamo-nos
48
CP Musica LL35_B.indd 48
8/11/2010 15:10:05
Maestro João Maurício Galindo à frente da Jazz Sinfônica
aos meios eletrônicos. Não se faz mais música, compra-
liberdade, sendo responsável pela transição do classicis-
se um CD. Por isso a música clássica tornou-se difícil”.
mo a um movimento mais particular, aberto à expressão
Para o maestro, é preciso vencer as resistências quanto
das emoções, emancipando a música das formas rígidas
ao gênero. O hábito, trocando em miúdos, faz o públi-
de composição. São Paulo foi palco das comemorações,
co. “Esperamos do público só uma coisa, que ele ouça
em setembro, dos 240 anos de nascimento do composi-
música”. Preocupado com a qualidade musical, João
tor alemão. A cidade, ao se abrir ao debate, reafirmou o
Maurício Galindo vê com reticência o apoio de empre-
universo democrático da música ao promover concertos
sas à arte. “A indústria cultural tende a priorizar o lucro.
e palestras gratuitamente ao público, chamando-o mais
A qualidade artística pode se complicar quando não há
para perto. O Centro Cultural São Paulo (CCSP), nas pro-
uma diretriz bem definida – e autônoma – que cuide dos
ximidades da Aclimação, é um dos responsáveis por este
espetáculos”, afirma, mesmo entendendo que, caso haja
cenário. Projetado pelos arquitetos Luis Benedito Telles e
liberdade, o patrocínio é fundamental na manutenção das
Eurico Prado Lopes, em 1982, configura-se como espa-
instituições culturais. “O Brasil possui pouquíssimas or-
ço alternativo de música erudita na cidade paulistana. To-
questras e a maioria delas é muito pobre. Nesse ponto,
das as quintas-feiras a série “Concerto ao meio-dia” traz
o patrocínio pode aumentar e muito.” Mas reitera: “Se
ao público que passa pelo local um repertório variado de
deixarmos somente na mão do mercado, a arte terá a
música de câmara, reprisado às sextas no “Concerto às
perder porque geralmente quantidade e qualidade pos-
seis e meia”. Mas a série mais conhecida é “Clássicos do
suem relação inversa”.
Domingo”, que em setembro apresentou a cerca de tre-
Muitos compositores, ao final do século XVIIII, sentiram-
zentas pessoas, na sala Jardel Filho, o projeto “Beetho-
se pressionados e infelizes ao se submeter aos patronos,
ven em Movimento”, com a presença de músicos como
compondo peças ao gosto aristocrático em detrimento
o pianista japonês Akihiro Sakiva e o Quarteto Portinari.
da própria criação. Ludwig van Beethoven, depois de
O direito ao “passe livre” para a música decorre de uma op-
Mozart, é considerado pela história da música um dos
ção pensada e repensada inúmeras vezes pela direção artís-
primeiros artistas a seguir carreira independente, o que
tica de uma instituição. Há o risco de não segurar o público
lhe permitia viver do patrocínio de diversas fontes, espe-
não especializado até o final e enfrentar uma plateia ruidosa,
cialmente da nobreza vienense. Isso lhe conferia maior
ainda que o risco seja saudável, na opinião do curador de
CP Musica LL35_B.indd 49
49
8/11/2010 15:10:10
capa
música erudita do CCSP, Juliano Gentile. “Quando fazemos
ambiente. Incorporamos ideias da indústria cultural de que
um concerto com entrada franca, corremos um risco. E es-
podemos ir a um show por diversão, e aquele som chega
tamos certos em correr este risco, que é usar um espaço
até você mastigado. O mais interessante na música instru-
público para mostrar um tipo de música que as pessoas po-
mental é que ela carrega um pensamento próprio, saímos
dem conhecer ou não”. Outro ponto delicado para o cenário
do concerto com algo que não conseguimos nomear. Não é
atual, segundo Gentile, é a confusão que se cria ao associar
puro entretenimento. Demanda escuta, silêncio e entrega”,
fruição e entretenimento. Seguindo o mesmo raciocínio do
afirma Gentile. E, para completar, defende uma posição mui-
maestro da Jazz Sinfônica, o curador de música do CCSP
to parecida com a do filósofo alemão Arthur Schopenhauer.
propõe uma distinção entre eventos de massa e espetácu-
“Tratar a música como status social não diz nada a respeito
los de qualidade. “Tomar a música clássica como entreteni-
da música. E a clássica não está numa instituição, ela faz
mento não é o melhor caminho. Não é música para decorar
parte da cultura universal.”
MÚSICA PARA O O grupo Jovens Sem Fronteiras,
Bem
em Jerusalém, ele criou um meio
evoluem muito depressa, pois não
organizado pela Associação Brasilei-
de ensino eficaz para os meninos
sabem se terão o dia de amanhã”,
ra A Hebraica, de São Paulo, tem à
aprenderem rapidamente a tocar. O
diz Roberto. Quando chega o dia de
frente um professor apaixonado pelo
método deu certo e eles se transfor-
o grupo ir à Casa Hope, a ansie-
ensino de música. Roberto Wahrhaf-
maram em músicos mirins. “Adotei a
dade das crianças é grande – sinal
tig leva todas as terças-feiras, pela
técnica de dar o máximo de orienta-
do quão importante é, para elas, o
manhã, um grupo de jovens músi-
ção em curto tempo para que eles
projeto. O professor também leva os
cos até a Casa Hope, fundação de
se virassem sozinhos. Fiz um blog
seus músicos – jovens voluntários
combate ao câncer, para ensinar
(bigunha.wordpress.com), convidei
entre 16 e 25 anos – para Parai-
crianças e adolescentes a tocar um
meus alunos para darem aulas pelo
sópolis, outro bairro de população
instrumento. Formado em violão
vídeo e publicamos. O resultado é
carente, onde apresentam shows
clássico pela Academia de Israel,
surpreendente, as crianças da Hope
de rock e MPB.
Saiba Mais Privatização da Cultura: a Intervenção Corporativa nas Artes Desde os Anos 80 Autora: Chin-Tao Wu Páginas: 408 Editora: Boitempo Editorial Ano: 2006
50
CP Musica LL35_B.indd 50
8/11/2010 15:10:13
Tucumã 310 m² 4 suítes | 4 vagas 1 por andar
Pronto para morar Últimas unidades
R. Tucumã com R. Hans Nobiling
Visitas agendadas com a Incorporadora: 3041.2707
I N C O R P O R A D O R A
ESPECIFICAÇÕES Versão positiva 3 cores PANTONE PANTONE PANTONE 289 C 186 C 1815 C
Incorporação inscrita nos termos da lei 4.591/64 sob R.01 na matrícula nº 87.541 do 13º R.I. em 27 de agosto de 2007. - Creci J21577
tucumarevista.indd 1
18/10/10 15:41
Um outro olhar
Paradigmas da ficção
na fotografia documental
52
Um outro olhar LL 35.indd 52
8/11/2010 15:12:16
Cenas do início do século passado marcam a obra do fotógrafo peruano Martín Chambi. Apresentadas com exclusividade pela Fass durante a SPArte e recentemente na SP-Foto 2010, as cenas são publicadas pela primeira vez no Brasil pela Lindenberg & Life
N
as palavras de seu neto Teo Allain Chambi, diretor da fundação que cuida da obra de Martín Chambi, ele foi o primeiro fotógrafo de sangue indígena a retratar o seu povo
com altivez e dignidade, com altíssimo nível técnico, olhar excepcional e magistral domínio da luz. De origem camponesa, Martín Chambi nasceu no Vista panorâmica de Machu Picchu, Cusco, 1925 e Muro das cinco janelas, Wiñay Wayna, Cusco, 1941
Grupo de teatro com seu diretor, Luis Ochoa, Cusco, 1930
53
Um outro olhar LL 35.indd 53
8/11/2010 15:12:32
Um outro olhar
54
Um outro olhar LL 35.indd 54
8/11/2010 15:12:36
dia 5 de novembro de 1891 em Coaza, povoado do departamento de Puno, nos Andes peruanos. Sob os auspícios de seu mestre Max T. Vargas, célebre fotógrafo de Arequipa, Chambi realizou a sua primeira mostra em 12 de outubro de 1917. Após uma passagem pela cidade de Sicuani, ele chegou a Cuzco em 1920, onde se estabeleceu e desenvolveu a parte mais importante e deslumbrante de sua obra, até a sua morte, em 1973. Em 1964, Edward Ranney, fotógrafo e antropólogo americano, entra em contato com o trabalho de Chambi. Após convencer a Earthwacht Expedition, promove, em 1977, uma viagem de especialistas ao Peru. Durante dois meses, Ranney, com a ajuda de Victor e Julia Chambi, filhos de Martín, organiza a primeira catalogação de 14 mil placas de vidro do fotógrafo
Festa de carnaval, Cusco, 1926
Homem gigante de Llusco, Chumbivilcas, Cusco, 1925
55
Um outro olhar LL 35.indd 55
8/11/2010 15:12:43
Um outro olhar
56
Um outro olhar LL 35.indd 56
8/11/2010 15:12:47
peruano. A pesquisa culminou em uma grande exposição no Museu de Arte Moderna de Nova York (Moma), em 1979, e que circulou por museus e universidades americanas, viajou pelo Canadá até chegar à Photographer’s Gallery, em Londres. Mais tarde, em 1981, uma importante mostra de Chambi é organizada em Zurique e segue para Berlim, Madri e Rotterdã. Em 1984, uma exposição similar é apresentada em Veneza por Juan Carlos Belón, que pontua a obra de Chambi como paradigma da ficção da fotografia documental.
Festa Familiar, Cusco, 1930
Boxeadores no estúdio, Cusco, 1938
57 A FASS representa com exclusividade alguns fotógrafos da primeira metade do século XX. Trata-se de uma organização dedicada ao desenvolvimento da cultura da fotografia histórica com atividades que incluem palestras, exposições e consultoria a novos colecionadores e amateurs. Mais informações pelo telefone (11) 3262-1719 ou no site www.fassbrasil.com
Um outro olhar LL 35.indd 57
8/11/2010 15:12:54
L aboratório
Trabalho holístico
A atmosfera acadêmica e de total dedicação forja as habilidades sociais e faz a cabeça, prancheta e os projetos dos formandos de arquitetura da Universidade Mackenzie. Mas o sonho de um mundo melhor emerge da alma dos jovens aspirantes Por Perla Rossetti Fotos Divulgação / Marília Veiga
O
que arquitetos de gerações distintas, como Telésforo Cristofanni, Roberto Loeb, Carlos Bratke, Isay Weinfeld e Márcio Kogan têm em comum? Todos se graduaram na Faculdade de Arquitetura e Ur-
banismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. Celeiro de grandes talentos da arquitetura nacional, a FAU-Mackenzie sempre influenciou a construção da história paulistana e brasileira. Para conhecer alguns dos 150 estudantes mais promissores da atualidade que conquistarão os seus canudos no final do semestre, visitamos o Edifício
58
Laboratório LL35_b.indd 58
8/11/2010 15:15:33
59 Cristiano Stockler das Neves, no campus de São Paulo.
Atenas (2004). “Percebo que o caso de Barcelona é o mais
Sede da primeira escola do Estado de São Paulo e a se-
próximo do Rio de Janeiro, principalmente na requalifica-
gunda do Brasil, criada em 12 de agosto de 1947, o am-
ção da zona portuária. Minha ideia é criar uma Vila Olímpica
biente histórico, dirigido pelo Prof. Dr. Valter Luis Caldana
para transferir 20% das 2 mil unidades previstas na Barra
Junior, curador da Bienal de Arquitetura, é totalmente pro-
da Tijuca para a zona sul para que, após o evento, sejam
pício para os aspirantes refletirem a respeito das constru-
vendidas como moradias.”
ções e cidades sustentáveis em constante mutação para,
O estudante paulista, também atleta de triathlon, entende a
então, prepararem o Trabalho Final de Graduação, sob a orientação criteriosa dos mestres Luiz Telles e Silvio Stefanini Sant’Anna, também coordenador do curso. Teste este capaz de apresentar ao mercado, com honra-
Traços, perspectivas e uma infinidade de estudos para alcançar o projeto ideal
rias, os pupilos da instituição, já que 70% dos alunos saem do curso alocados na área. Um exemplo é Daniel Corsi, entrevistado nesta edição na reportagem Juventude pósmoderna e cujo desempenho, de tão expressivo, inclusive na Bienal de Veneza, trouxe-o de volta à FAU-Mackenzie como professor, apenas cinco anos depois de graduado. Uma revelação do porte de recém-formados talentosos, como Pascoal, Pedro e Letícia Guglielmi, além de Eugenio Conte e Gabriel Cesar que, esse ano, conquistaram o segundo lugar – o primeiro foi dos professores Mario Figueroa e Lucas Fehr – no Concurso Nacional de Arquitetura de Novas Tipologias para Habitação de Interesse Social Sustentáveis, organizado pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) e pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IABSP). O grupo de novatos mostrou seus edifícios de três pavimentos e repetiu a dobradinha de segundo lugar no concurso do teatro de Itapeva, no interior paulista – o vencedor foi o também um ex-aluno, Yuri Vital.
Exercício Se o trabalho do arquiteto é moldado por condicionantes e demandas da sociedade, já há quem viva a expectativa da Copa do Mundo 2014 e das Olimpíadas 2016. Roberto di Franco, 22 anos, focou os megaeventos temporários e suas consequências. Ele vem pesquisando os impactos que já aconteceram em Barcelona (1992), Sidney (2000) e
Laboratório LL35_b.indd 59
8/11/2010 15:15:40
L aboratório
atmosfera e dinâmica desse tipo de construção para jogos
suas temáticas e se apropriam de referências bibliográfi-
e atividades físicas. Ele viajou para o Rio de Janeiro a fim
cas e de ícones do cenário contemporâneo, mesmo os
de observar espaços e fluxos, considerar a distância das
de apelo midiático, por uma causa justa: o benefício dos
regiões, o potencial econômico e as necessidade sociais e
espaços públicos da cidade.
habitacionais da população local. Nesse sentido, o Prof. Luiz Telles ressalta que os alunos fa-
Apropriações
zem uma leitura da cidade, não só no aspecto morfológico, mas de transformações. “O arquiteto enfrenta espaços em
É difícil, para muitos estudantes, dissociar os interesses
constante mutação promovida pelo capitalismo. E o desafio
pessoais do projeto, mesmo que este evoque responsa-
é ir além da situação atual, da própria realidade e elaborar,
bilidades e objetivos de escopo profissional. É o caso de
mentalmente, o que significa o outro em primeira instância
Denise Linz, 25 anos. Moradora da zona sul, atleta de vôlei
para propor o novo.”
e membro do coral da universidade desde o primeiro ano
E a experiência com o seu projeto de final de curso influen-
de curso, sua ligação com o mundo do esporte, da arte
cia a sua perspectiva profissional. Embora esteja trabalhan-
e da música levou-a a escolher a revitalização do Teatro
do em escritório de arquitetura, já pensa em desenvolver
Alfredo Mesquita, na Praça Campo de Bagatele, na zona
produtos para a área de incorporação, amplamente benefi-
norte da cidade. “São Paulo cresceu culturalmente mais
ciada com o boom do mercado imobiliário brasileiro, o que,
no vetor sul e oeste do que nas outras regiões de maior
na análise de Sant´Anna, coordenador do curso, é uma das
concentração populacional. E o terreno do teatro está no
infinitas possibilidades do ofício. “Os alunos entendem que
eixo centro, o que dá diretrizes de expansão para a zona
temos condição de fazer muitas coisas diferentes. Enquan-
norte”, justifica a estudante.
to outros profissionais buscam a especificidade, nossa vi-
A sua intenção é propiciar a difusão da cultura através da
são sobre o todo é holística e mais ampla para responder
repaginação do edifício atual para incentivar ações em seu
às expectativas do futuro.”
entorno. Para isso, ela se dedica à concepção, execução
Assim, o arcabouço teórico das aulas é posto à prova e
de plantas e análises de cortes – visão interna do edifício
a responsabilidade social de seu ofício é evocada nes-
em altura de bancada, pilares, pé-direito, pé-esquerdo,
te momento da jornada, em que os estudantes decidem
beiral, forro, entre outros – como num projeto real, antes
Desafio dos alunos [e ir al[em da realidade atual e propor o novo
60
Laboratório LL35_b.indd 60
8/11/2010 15:15:48
da apresentação formal à prefeitura. E foi num momento de dificuldade, em meio a borrachas, lápis, cálculos e plantas, que a Lindendeberg & Life encontrou Denise, compenetrada em resolver equações espaciais incompreensíveis para quem desconhece o métier. “Desenho interno do teatro é complicado porque é preciso prever o terreno, os fluxos e áreas e, a partir disso, ver o volume. Tive um bom professor de cortes e inserção nas cidades com escalas e equipamentos urbanos.” Assim, mais do que funcionalidade, os estudantes voltam a sua atenção ao primeiro grande projeto de suas vidas, ao que a me-
Urbanismo e arquitetura entre as ruas Caio Prado e Gravataí, em maquete dos alunos
trópole mais precisa em espaços dignos de integração e convivência. Um universo que, de tão rico, também cativou a estudante Keithy Karg, 20 anos, que veio de Bauru, interior paulista. Desenvolvendo um trabalho em grupo nas áreas das ruas Caio Prado com Gravataí, ela revela que o encantamento com a arquitetura nunca termina, já que tem tido a oportunidade, nesse universo da FAU-Mackenzie, de aprender assuntos abrangentes como urbanismo ou projeto arquitetônico. “Toda aula é um campo novo e uma descoberta. Sou fascinada por design de interiores e por projetos. E aqui percebo a incrível
61
capacidade de ensino da instituição, e o próprio mercado requisita os profissionais por esse aprendizado e disciplina”, conta a aspirante, um dos vários nomes promissores do futuro. Afinal, a empolgação poética inerente aos iniciantes faz todo o sentido numa área multifacetada e de apelo extremamente comportamental, como a arquitetura.
Laboratório LL35_b.indd 61
De cima para baixo: Os mestres Sant’Anna e Telles orientam os estudantes. Ao lado, Roberto di Franco encara os desafios de transformar as vilas olímpicas do Rio de Janeiro em moradias
8/11/2010 15:16:27
filosofia Por Andrew Ritchie Fotos Arquivo Pessoal
O
filósofo grego Aristóteles (384–322 a.C.) diz, atra-
de projetos pessoais. Surgiram, assim, instituições
vés de uma das passagens mais conhecidas de
políticas que se transformaram no palco dessas ne-
sua obra, A política, que “O homem é por natureza
gociações e debates, através das quais a burgue-
um animal político (zóon poliktikon)”. Mas, tomando
sia passou a ter os seus representantes e a expor
como base o âmbito da filosofia política aristotéli-
abertamente as suas demandas, como o parlamen-
ca, o que significa essa expressão tão marcante?
to inglês (séc. XVII) e os Estados Gerais da França
Significa que o homem não é um simples animal
(séc. XVIII). Teve-se, assim, a instauração do sistema
que vive em sociedade, mas que vive e participa
de representatividade política e da eleição através
Por onde anda o “animal po lít
Andrew Ritchie é especialista em finanças pelo IBMEC e graduando em filosofia na FFLCH-USP
ativamente de uma sociedade politicamente or-
do voto, notadamente a partir do sufrágio universal
ganizada, e que somente assim é que ele pode
da primeira constituição democrática francesa de
exercer a sua verdadeira natureza. De fato, a de-
1791. A partir desse momento, o cidadão passou
mocracia na Atenas de Aristóteles era literalmente
a participar da vida política através do voto e da fis-
direta – os cidadãos compareciam pessoalmente
calização das decisões de seus representantes nas
à Assembleia Popular – e em nenhuma outra cida-
instituições políticas. E por meio desse princípio de
de a política assumiu um papel tão relevante como
representação foi possível desenvolver e propagar
eixo balizador das instituições e relações sociais. A
os regimes democráticos até chegarmos às formas
discussão política estava na vida e no sangue dos
como hoje os conhecemos.
cidadãos, e era impensável um indivíduo indiferen-
O que estava por trás de toda essa mudança
te aos temas políticos. Não havia dissociação entre
política era a busca por um novo estilo de vida. O
a vida pública e a privada, e a atividade política era
cidadão moderno ansiava por uma maior autonomia
o coroamento da existência humana.
na sua vida privada, mas o preço a pagar seria uma
Dando um salto para a modernidade, verificamos o
diminuição de sua influência na esfera pública. Com
surgimento de novas formas de organização política
o passar do tempo, contudo, o cidadão tornou-
que visavam contemplar as novas forças e deman-
se um indivíduo apático e atrofiado politicamente,
das que passaram a ocupar a arena social, como
restando-lhe apenas a vida privada e individual para
as lutas por liberdade de pensamento, comércio,
buscar alguma forma de realização – a sociedade
ascensão social etc. Ou seja, iniciou-se uma bus-
democrática moderna está fundada no individualis-
ca pelo direito de poder decidir sobre o rumo da
mo. Voltando-se apenas para si, o indivíduo tende
própria vida privada e poder colher os resultados
a refugiar-se nas coisas materiais e naquilo que ele
O indivíduo desconectou-se de si próprio e, ao fazê-lo, perdeu o contato com a sua própria natureza 62
Artigo filosofia LL35_b.indd 62
8/11/2010 15:20:36
imagina serem as suas relações pessoais de po-
que bem claro, não se está fazendo aqui qualquer
der e, como consequência, tem-se a anulação de
juízo de valor em relação a essa atitude ou eventos
qualquer perspectiva de desenvolvimento cultural ou
– afinal, cada um tem o direito de se mobilizar da
engajamento político. Uma base social como essa
maneira que lhe aprouver – o que se questiona é
destrói as condições de participação cívica, leva à
por que o brasileiro se mobiliza tanto em determina-
asfixia do “homem político” que vive em cada um
das ocasiões e praticamente ignora outras tantas
de nós e reduz a eventual “atividade política” a um
que influenciam de forma decisiva o rumo de sua
mero meio para a obtenção de interesses pesso-
vida. É evidente que estamos questionando o por-
o lítico” que habitava em nós? ais. Nesse contexto, pouco importa qual é a forma
quê da apatia política que impera no país, algo
de governo ou quem é o governante, contanto que
notório nesse momento de eleições nacionais.
se possa perseguir tranquilamente o seu “projetinho
Justificar essa atitude com respostas como “de-
individual”. O mais cruel, nesse processo, é que há
silusão”, “revolta” ou “protesto” contra a política
um autoengano poderoso que faz com que se acre-
nacional, além de simplório configura escapismo.
dite que ainda se tem as rédeas do próprio destino
A tese aqui apresentada é a de que o indivíduo
— afinal, “eu voto periodicamente” —, quando, na
desconectou-se de si próprio e, ao fazê-lo, per-
verdade, elas já foram abandonadas há tempos. E
deu o contato com a sua própria natureza – in-
quem abdica da direção da própria vida jamais será
clusive com o seu aspecto “animal político”–,
capaz de escolher eficazmente aquele que deverá
abrindo mão do principal referencial que poderia
conduzi-la. O indivíduo atrofiado politicamente perde
orientá-lo na condução da própria vida. Nessas
a capacidade de refletir, optar, exigir, lutar, agir — e,
condições, resta-lhe delegar o controle de sua
o que é pior, de forma consentida.
vida a terceiros e, consequentemente, tornar-se
Atualmente vivemos no Brasil um momento pro-
um indivíduo heterônomo. Como bem disse Aris-
pício para nos questionarmos como anda nossa
tóteles, o homem só é verdadeiramente ele mesmo
capacidade de engajamento. Recentemente, tive-
quando exerce a sua natureza política, e o indivíduo
mos a Copa do Mundo e, mais uma vez, pudemos
só voltará a ser cidadão quando redescobrir o nexo
comprovar a aptidão do brasileiro para se mobilizar
consigo mesmo. Até lá, o “animal político” continu-
e se unir em torno de uma ideia. E o mesmo acon-
ará dormente, e nós, sonhando que estamos acor-
tece em inúmeras outras ocasiões, como Carnaval,
dados, continuaremos com a ilusão de que somos
eventos religiosos, paradas temáticas etc. Que fi-
os senhores das nossas vidas.
Ansiava por uma maior autonomia na sua vida privada, mas o preço a pagar seria uma diminuição de sua influência na esfera pública. 63
Artigo filosofia LL35_b.indd 63
8/11/2010 15:20:36
personna
Ícones em harmonia
Ícones contemporâneos e clássicos harmonizam-se à dramaticidade da luz
64
Personna LL35_b.indd 64
8/11/2010 15:22:02
Pitadas de humor e a sensibilidade da arquiteta Zize Zink nos acabamentos recriam o visual de um Lindenberg Mediterrâneo e reforçam a tônica da grife: plantas adaptáveis, aliadas à solidez da construção Por Perla Rossetti Fotos Mari Vaccaro
A
Herança de família: Bacará original sugere requinte ao ambiente
irreverência das peças do designer francês Philippe Starck, dispostas ao lado de telas de artistas de renome, como Elisa Bracher, Malu Saddi, Arthur Lescher, e de novatos, como Ana Amélia Genioli, talento revelado na última SP-Arte, conduz o olhar pelos arcos característicos dos apartamentos da Construtora Adolpho Lindenberg até chegar à sala de jantar e à fotografia de transeuntes no metrô de Shangai. Imagem lindamente iluminada por um lustre Bacará, uma antiguidade clássica herdada pelo marido da arquiteta Zize Zink. Nessa atmosfera de requinte e bom gosto, a visita é envolvida pelos arcos, spots e abajures em tonalidades as mais dramáticas possíveis, flores, muitas flores, e o preto em toques, ora sutis ora mais consistentes. Assim é o apartamento de Zize, uma adepta
65 Personna LL35_b.indd 65
dos imóveis Lindenberg. Antes de se mudar para o edifício Senador Virgílio Rodrigues Alves, erguido na década de 60, nos Jardins, Zize morou com o marido e dois cachorros de estimação em outros dois apartamentos neoclássicos da grife, que ela já admirava desde criança. “Na
8/11/2010 15:22:20
personna
infância, vivia na casa de uma amiga, que morava num apartamento Lind nessa região. Os arcos das portas fazem parte das minhas lembranças e das nossas brincadeiras. Quando mudei para este, há três anos, pensei em artigos redondos e até nas curvas do sofá para brincar com eles.”
Emocional Filha de mãe escocesa e pai alemão, luterano e apreciador de concertos, ela nasceu em Curitiba, viveu na Bahia, no Rio de Janeiro e em Munique, e essa miscelânea cultural com que teve contato desde a mais tenra idade reverteu-se numa sensibilidade especial. Sem medo de arriscar e com conhecimento profundo
de plantas e afins, ela se debruçou sobre a prancheta para dar o seu toque pessoal ao apartamento de 300 m2. “Gosto muito da disposição das plantas Lindenberg, que são mais quadradas, com pé direito alto, raramente encontrados nas construções atuais”. Para chegar à combinação perfeita entre a qualidade da construção e seus desejos na decoração, ela dedicou sete meses à reforma de ampliação da cozinha, o grande “strike” na planta, como diz Zize, já que estendeu o ambiente até um dos dois quartos de empregada. Aproveitando a integração da sala de jantar, living e biblioteca, ela apenas transformou um dos espaços em home theater. Instalou, em todo o apartamento, luzes direcionais e com controle de intensidade para as suas obras de arte. Por fim, rendeu-se mais uma vez ao gosto pela cor preta, que chegou até as paredes do lavabo e ao piso das salas do apartamento. O original de tábua foi substituído por um ebanizado, em espinha de peixe, pintado de preto.
Elementos de épocas distintas em perfeita sintonia
66
Personna LL35_b.indd 66
8/11/2010 15:22:51
Detalhes Sempre com o compromisso de funcionalidade, Zize brinca com a mistura de elementos. A varanda recebeu uma linda cadeira Diz, do consagrado designer Sergio Rodrigues. A sala de jantar abrigou as Saarines brancas e o living, as antigas Aubusson, com novo forro, em rosa velho. E ainda sobrou espaço para um divertido tambor, sofá Beraldin de veludo lavado e almofadas, também em abundância. E como faz na rotina profissional, Zize ouviu e considerou o gosto do marido na decoração. “Estamos juntos há 22 anos e somos muitos parecidos. Ele escolheu a foto da sala de jantar, aliás, ele amou quando eu trouxe da galeria Eduardo Fernandes. Pois é, ele circula muito bem pelo meu universo”, finaliza a Arcos do Lindenberg Mediterrâneo inspiraram as curvas de alguns móveis
romântica e inspirada Zize Zink.
Síntese do espírito audaciosos da arquiteta, o preto impera no home theater e no lavabo, com fotografias inusitadas
67 Universo de fluídez e comicidade de Zize Zinke chegou a todos os espaços do apartamento
Personna LL35_b.indd 67
8/11/2010 15:23:19
qualidade de vida
Apaixonados por gastronomia e especialistas em nutrição recomendam a horta residencial para garantir a qualidade dos alimentos e refeições que fazem bem à saúde
Terra da
Por Larissa Andrade Fotos Divulgação
vida saudável
Q
uando se fala em alimentação saudável e natu-
Embora o consumo de alimentos industriali-
ral, muitos já a associam a uma deliciosa refei-
zados tenha explodido nas últimas décadas e
ção leve, pronta, no prato. Outros pensam no
continue em linha ascendente, é de fato notável
caminho inverso: cuidar de sua própria horta
o crescente interesse e a conscientização das
orgânica, plantar, adubar, colher e, só depois,
pessoas quanto à importância do consumo de
gastar mais algum tempo desenvolvendo recei-
alimentos que fazem bem à saúde. Nas gôn-
tas criativas com alimentos “caseiros”. Se o coti-
dolas dos supermercados, é fácil perceber a
diano impõe uma vida corrida e cheia de pressa,
variedade cada vez maior de produtos naturais
a ordem na alimentação é desacelerar e apreciar
e orgânicos. “A nossa saúde e equilíbrio interno
as refeições em busca de melhor qualidade de
refletem nos sintomas externos e o indivíduo só
vida. “Nos últimos cinco anos, o consumo de
terá vida saudável se estiver em harmonia sob
produtos saudáveis quase dobrou no Brasil. O
três perspectivas de equilíbrio: físico, mental e
aumento reflete a mudança de comportamento
emocional”, complementa Chiara.
do cidadão, que tem buscado alimentos e bebi-
E é na busca por qualidade de vida, não ape-
das mais saudáveis e que proporcionam bem-
nas no momento de se alimentar, mas também
estar na hora das compras”, diz a nutricionista
na maneira como acontece o plantio e o prepa-
funcional Chiara Miniguini, da Health Choice.
ro dos alimentos, que a horta orgânica residen-
68
Qualidade de vida LL 35_c.indd 68
8/11/2010 15:27:38
ambiente e da luminosidade. Se ele mora em
– inclusive em espaços não tão amplos, como
prédio, vejo onde o sol bate naquela época do
varandas de apartamentos. O engenheiro agrô-
ano, escuto o que a pessoa deseja, que tipo
nomo e proprietário da empresa Minha Horta,
de vaso e tempero busca, levo as informações
Marcelo Noronha, diz que a horta urbana res-
para o escritório e, finalmente, monto um pro-
gata o clima antigo do interior, as lembranças
jeto”, descreve.
de quem viveu em sítio e da mãe que sempre
Para os moradores de apartamento, Noronha
quis uma boa alimentação para os filhos. “Além
recomenda a plantação de temperos, que exi-
de bonita, é funcional”, acrescenta. Noronha
ge pouco espaço e a colheita é mais abundan-
recorda que começou montando a sua própria
te. Tais hortas podem ficar na varanda ou perto
horta e, diante dos pedidos de amigos, decidiu
da cozinha, mas é preciso observar também a
investir na ideia. Atualmente, atende não ape-
condição de vento, que pode prejudicar o plan-
nas residências particulares, mas hotéis, res-
tio. Em todas as etapas, a ajuda de um espe-
taurantes e até escolas.
cialista proporcionará resultados mais efetivos,
O especialista explica que praticamente qual-
pois são muitos os detalhes a serem conside-
quer espaço pode receber uma horta: “Existe
rados, como o tamanho e a construção dos
uma única condição em que não consigo plan-
vasos, a mistura de temperos em um mesmo
tar – a sombra”, observa. “É importante fazer
vaso e a adubação. Para quem não abre mão
uma visita técnica ao local porque a configu-
de uma horta com personalidade, vale a pena
ração é muito pessoal, não adianta criar um
consultar um paisagista, que irá trabalhar em
produto pronto na internet e vender. Eu vou
parceria com o especialista no desenvolvimen-
até a casa do cliente, faço uma avaliação do
to do projeto.
69
Por Marcelo Noronha, engenheiro agrônomo
Dica do especialista
l
cial vem conquistando a atenção das pessoas
Para uma boa horta, não existe quantidade definida de água, pois isso varia de acordo com o tempo – as pessoas costumam colocar água em excesso. A construção do vaso é fundamental nesse aspecto, é necessário ter um bom dreno. A maioria dos temperos é do mediterrâneo, ou seja, provenientes de solo arenoso. Eu tento sempre colocar uma ou duas espécies no vasinho, como salsinha, cebolinha, coentro, orégano, tomilho. Hortelã nunca deve ser plantada com outras espécies. O vaso deve ser escolhido de acordo com a
Qualidade de vida LL 35_c.indd 69
planta. Utilize vasos redondos e de tamanho médio para plantar manjericão, capim-limão, pimentas, sálvia – essas espécies não se dão bem em jardineira pequena. Frutas como jabuticaba, limão-siciliano, romã, pitanga e acerola devem ser cultivadas em vasos grandes. Uma das tendências é usar grãos germinados – rúcula, agrião, alfafa, gergelim, que podem ser cultivados em bandejas de isopor e, posteriormente, utilizados em saladas ou sucos.
8/11/2010 15:27:38
qualidade de vida
Sabor e Saúde
As Melhores Receitas Vegetarianas do Templo Zu Lai Escrituras Editora
Acompanhando a tendência de um estilo de vida mais saudável, a culinária vegetariana tem sido a maneira mais atraente de garantir uma dieta nutritiva e diversificada. Abóbora japonesa, acelga chinesa, aguê, bifum, missô ou nata de soja, ingredientes que se misturam a temperos da tradicional cozinha chinesa e às delícias da culinária brasileira nas melhores receitas do Templo Zu Lai, com receitas de Jasmine Chen.
Paixão
passeio entre elas, com piso de cimento. Cada caixa representa uma das quatro hortas”, explica. Entre os
Presidente da Volvo Bus Latin America, Luís Carlos
cuidados tomados na hora de “construir” o espaço, o
Pimenta encaixa-se naqueles casos em que a horta
executivo buscou o melhor equilíbrio de luminosidade
residencial traz de volta os bons tempos da infância.
para poder trabalhar também à noite.
“Sempre gostei de vegetais e legumes. Lembro-me
Pimenta aprendeu a cuidar da horta sozinho e de-
de que, quando era garoto, morava ao lado de um
senvolveu algumas técnicas para alcançar sempre
hospital que tinha uma grande horta. Frequentemente
boas produções, além de se dedicar diariamente ao
ia até lá colher rabanetes. Eu gostava de pegar direto
espaço. “Dedico-me todos os finais de semana para
da terra, lavar e comer. No momento em que tive uma
o trabalho mais fundo, mas durante a semana tenho
casa, comecei a plantar temperos e fui tomando gos-
alguém que rega a horta, pela manhã. Eu molho to-
to, aumentando minha horta”, conta o executivo.
das as noites. Se estou viajando, peço a alguém que
Morando em Curitiba há alguns
tenha esse cuidado. Mas a colheita não gosto que
anos, Pimenta planejou a horta
ninguém faça”, diverte-se Pimenta, revelando uma
da residência atual com todo o
pontinha de ciúme do seu espaço.
cuidado para garantir não apenas
Muito mais do que apreciar os alimentos colhidos,
a eficiência do plantio, mas tam-
os cuidados trazem uma enorme sensação de bem-
bém para que ele não sujasse os
estar e relaxamento ao executivo, um momento de
pés ao cuidar das plantas. “Tenho
integração com a natureza. “Para mim, a horta é um
um espaço de uns 80 m no jar-
descanso sempre, é onde eu relaxo por estar intera-
dim, que isolei para a horta e divi-
gindo com outro tipo de vida. E quem não tiver essa
di em quatro seções, de mais ou
percepção, é melhor ir à feira. Quem faz por obriga-
menos 4 x 1,5 m, cada. Fiz um
ção não vai ter um bom resultado”, diz Pimenta. Entre
2
as espécies plantadas estão couve rábano, brócolis, O executivo da Volvo, Luís Carlos Pimenta, cuida diariamente de sua horta
almeirão, escarola, alface crespa e lisa, radicchio italiano, couve-manteiga, salsa, cebola, rúcula, coentro. Um dos segredos do executivo é não usar nenhuma espécie de adubo químico, apenas natural, como fa-
70
Qualidade de vida LL 35_c.indd 70
8/11/2010 15:27:50
rinha de osso, húmus de minhoca, entre outros. É exatamente esse cuidado que faz com que um alimento seja considerado orgânico, conforme explica a nutricionista Chiara Miniguini. “Os alimentos orgânicos são aqueles cultivados sem o uso de agrotóxicos, nem qualquer outro produto que possa vir a causar algum dano à saúde dos consumidores. Eles proporcionam muitas vantagens a quem consome. Pelo fato de serem cultivados sem agrotóxicos (químicos), restauram os nutrientes do solo; os produtos animais não têm resíduos de hormônios antibióticos por serem criados em um ambiente natural, sua qualidade é superior à dos alimentos convencionais. A genética da planta, o clima, a irrigação e a época da colheita têm um impac-
A horta do Luís Carlos foi planejada por ele mesmo, de acordo com a luminosidade
to muito maior no conteúdo nutricional do que o tipo de fertilizante usado; as frutas e legumes orgânicos são mais saborosos; galinha, porco e boi produzem carne mais magra e saborosa em comparação com os criados industrialmente; são menores as chances de conterem pesticidas, corantes e outros produtos químicos”, enumera. Marcelo Noronha, da Minha Horta, diz que “receitas populares” têm sido resgatadas para adubar as plantas, ou seja, receitas caseiras e até mesmo chás para garantir a saúde das espécies e protegê-las das pragas e doenças.
71
Dica da nutricionista
Por Chiara Miniguini, nutricionista funcional
Alguns tipos de alimentos, se consumidos regularmente durante longos períodos, parecem fornecer o ambiente que uma célula cancerosa necessita para crescer, multiplicar-se e se disseminar. Eles devem ser evitados ou ingeridos com moderação. Neste grupo estão os alimentos ricos em gorduras, como carne vermelha, frituras, molhos com maionese, leite integral e derivados, bacon, presunto, salsicha, linguiça e mortadela. Além do consumo, o preparo do alimento também influencia no risco de desenvolver câncer. Tente adicionar menos sal na hora de cozinhar, aumentando o uso de temperos como azeite, alho, cebola e salsa. A Organização Mundial da Saúde recomenda o consumo de até 5 g de sal ou 2 g de sódio por dia, ou seja, o
Qualidade de vida LL 35_c.indd 71
equivalente a uma tampa de caneta cheia. Ao fritar, grelhar ou preparar carnes na brasa a temperaturas muito elevadas, é possível criar compostos que aumentam o risco de câncer de estômago. Por isso, métodos de cozimento que usam baixas temperaturas são escolhas mais saudáveis, como vapor, fervura, pochê, ensopado, guisado, cozido ou assado. Alguns dos principais vilões são os temperos prontos, produtos em conserva, enlatados, embutidos, caldos concentrados, salgadinhos, sopas e macarrões instantâneos. Utilize outros temperos, como alecrim, cebolinha, coentro, hortelã, louro, manjericão, salsa, limão, cebola, vinagre, azeite, alho, óleo de girassol, milho, soja, canola, ervas secas ou frescas: orégano, sálvia, manjericão, açafrão, cúrcuma, gergelim, erva-doce, aveia, canela, coentro, hortelã, linhaça, pimentas, salsa, alecrim, tomilho, gengibre, nozmoscada, etc. Além de deixar a comida saborosa, contribuem para a saúde.
8/11/2010 15:27:54
Gladstone Campos / realphotos
qualidade de vida
Nos restaurantes GOA e YAM, do chef Augusto Pinto, a comida saudável é aliada a atitudes sustentáveis
Responsabilidade
“Nossos fornecedores orgânicos têm de ter certificação. É importante saber a origem do alimento: você pode comprar
Para garantir que um produto comercializado é, de fato,
um aspargo orgânico do Chile, mas ele tem um impacto
orgânico, há um processo de certificação, em que uma
ambiental enorme quando colocado em um avião para vir
espécie de auditoria verifica desde a qualidade do solo
ao Brasil. Esse é um debate que precisa ganhar voz.”
até questões sociais, como o modelo de contratação dos
Os pratos do YAM e GOA incluem verduras e legumes or-
funcionários que trabalham naquela horta. Assim, o cliente
gânicos, além de frutas. Augusto Pinto promove uma feira
tem certeza de que está comprando um produto social e
orgânica aos sábados no YAM, onde cede espaço para
ambientalmente responsável.
uma cooperativa de produtores. Ele próprio é adepto da
Em seus restaurantes, GOA e YAM, o chef Augusto Pinto
horta caseira. “Conheço muita gente que tem horta orgâni-
assumiu um compromisso com a natureza. “Quando me
ca em casa. Eu, particularmente, cultivo temperos”, conta.
alimento de algo orgânico, não estou consumindo nenhum
A horta residencial mostra que a sustentabilidade também está
tipo de defensivo, veneno químico e também não estou con-
na cozinha e na forma como compramos os alimentos e os con-
tribuindo para a contaminação do solo e dos lençóis freáti-
sumimos, aliando a responsabilidade ambiental aos cuidados
cos por parte desses elementos químicos. Além de cuidar
com o corpo e a qualidade de vida. Essa é uma tendência que
da minha saúde, cuido da saúde do planeta e essa será,
deve se intensificar nos próximos anos, aumentando a variedade
cada vez mais, a preocupação número um das pessoas”,
de produtos orgânicos disponíveis no mercado e, consequen-
diz ele, que ressalta que todos nós, como consumidores,
temente, tornando a alimentação das pessoas mais saudável.
temos responsabilidade em relação ao que compramos.
Uma daquelas raras iniciativas em que todos ganham.
72
Qualidade de vida LL 35_c.indd 72
8/11/2010 15:28:02
Rolinho Thay Restaurante YAM Ingredientes: Rolinhos 1 pepino orgânico ralado 10 folhas de arroz 1 cenoura orgânica ralada 1 abobrinha orgânica ralada 2 colheres (sopa) de wasabi em pó 4 colheres (sopa) de molho de soja (shoyo sem MSG) 4 colheres (sopa) de molho agridoce
Molho agridoce rolinho thay Restaurante YAM
YAM orgânico Salada thay YAM orgânica
Ingredientes: 250 ml de azeite de oliva extra virgem orgânico
Modo de fazer:
¼ xícara (chá) de vinagre balsâmico (colocar aos poucos)
Hidrate as folhas de arroz, uma de cada vez, em
¼ xícara (chá) de mel orgânico
água fria. Abra a folha de arroz e distribua os le-
1 colher (sopa) de mostarda comum da marca Henner
gumes sobre ela, alternando-os.
½ colher (chá) de sal marinho
Salpique o wasabi sobre os legumes e regue
3 colheres (sopa) de suco de limão orgânico
com o shoyo. Faça rolinhos na forma de panquecas. Corte na
Modo de fazer:
diagonal. Coloque uma metade sobre a outra e
Emulsificar todos os ingredientes com um batedor (whisk)
sirva com a salada regada com molho agridoce
e servir com o rolinho e a salada.
YAM. Finalize com salsinha picada. Rendimento: 1 xícara de chá (320 ml) Rendimento: 10 (1400 g)
Porção: 2 colheres (sopa) (40 ml)
Porção: 1 unidade média (140 g)
Porções: 8
73
Qualidade de vida LL 35_c.indd 73
8/11/2010 15:28:10
poéticas urbanas Por Rosilene Fontes
L
i um livro em que dois fantasmas da Grécia
mos na música em si. Sentimos a música e ela nos
antiga se encontram no mundo dos mor-
leva a sonhar, a lembrar, a pensar. Quando vemos
tos e travam um diálogo sobre a arquitetu-
uma bela construção, não pensamos na constru-
ra. Um deles é apaixonado pela arquitetura
ção em si, mas no sonho de morar, nas lembranças
e diz que os edifícios que não falam nem cantam
da família e em tantas outras coisas.
merecem apenas desdém, são coisas mortas e in-
Música e arquitetura nos fazem pensar na vida,
feriores. Para ele, alguns edifícios são tão silencio-
nos fazem sentir a vida, nos tornam cientes da
sos que somente produzem, de quando em quan-
vida. Libertam em nós os sentidos, o tato, a au-
do, o triste som do ranger de uma porta. E ainda,
dição, a visão e também o pensar, a razão, o nú-
poéticas Urbanas (Arquitetura e música) Rosilene Fontes é arquiteta da Construtora Adolpho Lindenberg
ao passear pela cidade, observa-se que dentre os
mero e a palavra. Música e arquitetura produzem
edifícios que a compõem uns são mudos; outros,
espaços que nos envolvem emocionalmente.
falam; e outros, mais raros, cantam.*
Música e arquitetura, para ser belas, trabalham
O que é comum entre estas duas artes? Verdadei-
com a harmonia, o movimento e o tempo. Ambas
ras criaturas criadas pelo homem.
produzem ressonâncias em nossa alma. Tanto na
Quando criamos música, não fazemos réplicas
música quanto na arquitetura reinam o afeto, o
de nada existente na natureza. A natureza é feita
aconchego e o prazer. Música e arquitetura preci-
de ruídos, a natureza nos inspira a criar música.
sam ser belas e envolventes.
Quando criamos a arquitetura também não faze-
Mas a natureza está além de nossas belas criaturas e
mos réplicas de nada que há na natureza. A natu-
os dois fantasmas acima nos fazem lembrar bem dis-
reza nos inspira a criar, a natureza nos dá a matéria
so: “Às vezes o vento está a nosso favor e outras ve-
para criar o mais belo edifício. A música comunica
zes está contra. O essencial é navegar corretamente”.
com o ar e a arquitetura, com a pedra.
Somos apenas homens, criaturas da natureza,
O que mais há em comum entre estes dois seres
mas sabemos que os deuses não devem perma-
semiconcretos e semiabstratos?
necer sem teto e as almas não devem permane-
Quando ouvimos uma música, não pensa
cer sem espetáculos.
E por falar em música, por que não falar em arquitetura? Parece sem sentido o que acabo de perguntar, mas não é. Música e arquitetura, em quê se assemelham? 74
Poeticas urbanas LL35.indd 74
8/11/2010 15:40:13
sua casa com o seu jeito de ser
O alto padrão em unidades de 60 a 91 m2, com serviços, na melhor localização do Itaim.
leopoldorevista.indd 2
05/11/10 12:44
5 experiências
A
vida da galerista Vilma Eid é repleta de agradáveis surpre-
Para descobrir talentos em pessoas simples, como o ex-
sas, artistas e, como ela mesma diz: “arteiros”. Artífice do
lavrador Artur Pereira (1920-2003), e juntar um time seleto
movimento de arte popular, Vilma expõe em sua Galeria
de artistas, como José Antônio da Silva, Nuca de Tracu-
Estação um importante acervo que deu origem ao Instituto
nhaém, Nino, Jadir, Ranchinho, Vidal, Agostinho Batista de
do Imaginário do Povo Brasileiro, considerado por especia-
Freitas, GTO, Louco, entre outros, Vilma viaja constante-
listas, como o antiquário Paulo Vasconcellos e a arquiteta
mente. A seguir, ela conta um pouco das aventuras ines-
Janete Costa, a coleção particular mais importante do gê-
quecíveis proporcionadas por seu trabalho, seus amores e
nero, no país.
as andanças pelo Brasil afora.
O arquiteto Hugo de Pace me procurou para eu ceder esculturas de madeira e barro para o seu ambiente na última Casa Cor. Foi um grande momento porque ele é um ícone e a arte popular ainda é incompreendida, confundida com artesanato. O Hugo reconhece arte e o que importa, ou seja, a qualidade. Recentemente re-
mãe riência de vida é como A minha grande expe cial. ência afetiva muito espe para expressar, é uma viv
e avó. Não dá
petimos o dueto, pois ele montou outro espaço só com obras do escultor José Bezerra.
76
5 experiências_LL 35.indd 76
8/11/2010 15:31:28
77
Poética popular Viajo muito para conhecer artistas em situações incomuns, como José Bezerra, um pernambucano que vive no Vale do Catimbau, em Buiqui. Para chegar à sua casa de pau a pique, viajei cinco horas, partindo de Recife. Ele vive numa antiga reserva indígena. Uma maravilha. Também conheci o Veio, um escultor sergipano que expus esse ano na Galeria Estação.
Este ano, fui convidada para participar do júri na Bienal Naïf do Sesc, em Piracicaba, com artistas do Brasil inteiro. Eram 880 trabalhos e nós, os jurados, tivemos de selecionar 120 deles, num contato muito intenso com a arte. Lá encontrei o pintor Neves Torres, de 78 anos, que começou a pintar há cinco anos. Ele é de uma poética e pureza incríveis. Havia muito tempo não me emocionava tanto.
Em 2004 consegui fundar, com outras pessoas, o Instituto do Imaginário do Povo Brasileiro, focado na arte e cultura popular. Sou a primeira presidente e, através do meu trabalho, tenho vivido emoções particulares para quem, como eu, é apaixonado pela arte popular.
5 experiências_LL 35.indd 77
8/11/2010 15:31:46
fil antropia inteligente
E
A afirmação de Oscar Wilde pode ser considerada tão relevante quanto controvertida. Mas traz uma importante visão quando falamos de projetos sociais que usam a música para influenciar pessoas
Por Instituto Azzi Fotos Divulgação Instituto Baccarelli e Projeto Guri
xemplos de projetos sociais que buscam sinergia entre a música e a melhoria na qualidade de vida de pessoas em situação de vulnerabilidade social não faltam. Utilizando como ferramenta todos os ritmos, estilos e variantes da música imagináveis, vemos que traz uma linguagem universal comum que permite transmitir mensagens capazes de mudar uma vida. Já é muito difundida a existência de projetos que usam os estilos musicais mais comuns à realidade de quem participa de tais projetos, pois não é de se menosprezar a capacidade de comunicação direta do rap e do hip-hop nas periferias brasileiras ou o poder agregador do samba. Nesta edição apresentaremos alguns projetos, suas nuances e objetivos distintos que utilizam talvez o mais universal dos estilos musicais: a música erudita. Ao pensar em projetos sociais que usam a música erudita para transformar vidas é preciso, primeiro, vencer alguns preconceitos. Há uma imagem geral que música erudita é apenas para ricos ou intelectuais. Pode-se argumentar que, de fato, a música erudita não é para todos, mas não é a classe social, a renda ou o local onde se mora que predefine quem irá ou não gostar. Mas, em seguida, vem uma questão essencial, entendida de diferentes maneiras, como nos exemplos que daremos a seguir: é um projeto com foco no ensino da música que tem uma ação inclusiva social ou é um projeto com foco na inclusão social que utiliza a música como ferramenta? No Brasil temos bons exemplos com diferentes estratégias de atuação. Citamos aqui dois deles: o Instituto Baccarelli e o Projeto Guri, referências no ensino de música erudita acessível a todos que seguem dois caminhos diferentes, em que ambos reforçam o poder de transformação da música,
78
Filantropia LL 35_c.indd 78
8/11/2010 16:01:57
“...a Vida imita a Arte muito mais do que a Arte imita a Vida.” seja como meio, seja como fim.
que não teriam recursos para estudar música, se
Buscando entender melhor os caminhos que cada
não fosse o Projeto?
instituição decidiu seguir, fizemos duas perguntas
Edmilson Venturelli, Instituto Bacca-
essenciais a Alessandra Costa, Diretora Executiva
relli: Podemos dizer que o nosso grande desafio é,
do Projeto Guri, e a Edmilson Venturelli, Diretor de
realmente, unir as duas coisas: não ser um projeto palia-
Relações Institucionais do Instituto Baccarelli.
tivo ocupacional e sim profissionalizante. Nossa ideia é oferecer justamente às crianças e jovens de Heliópolis a real oportunidade de profissiona-
melhorar a vida de crianças e adolescentes em
lização de excelência e trazer para esse público uma
situações de vulnerabilidade social ou formar
escola de nível. Já conseguimos estabelecer um fluxo
músicos profissionais da maior qualidade pos-
que caminha na contramão – hoje, musicistas saem
sível, dando chance a todos, inclusive àqueles
de suas casas nas melhores regiões de São Paulo
Instituto Baccarelli
O objetivo deste projeto é utilizar a música para
O Instituto Baccarelli tem por missão oferecer formação musical e artística de excelência, proporcionando desenvolvimento pessoal e criando a oportunidade de profissionalização, com foco em crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social. Localizada na comunidade de Heliópolis, Zona Sul de São Paulo, a entidade gerencia diferentes programas, que abrangem desde iniciação em canto coral à Sinfônica
Filantropia LL 35_c.indd 79
Heliópolis, conhecido projeto de prática orquestral. Na sede do Instituto são realizados, atualmente, 970 atendimentos com cerca de 550 crianças e jovens a partir de 7 anos. Durante toda a sua carreira, o maestro Silvio Baccarelli alimentou o desejo de ensinar música à população economicamente menos favorecida. Em 1996, ainda sem saber como nem onde colocar seu plano em prática, assistiu pela TV
79
a um incêndio na comunidade de Heliópolis. Comovido com a luta das famílias para recuperar suas casas e pertences, o maestro dirigiu-se a uma escola pública da região e sugeriu o ensino de instrumentos de orquestra para crianças e adolescentes. Alguns meses depois, 36 garotos iniciaram o estudo de violino, viola, violoncelo e contrabaixo. O espaço escolhido foi o Auditório Baccarelli, na Vila Mariana, propriedade do maestro.
8/11/2010 16:02:00
fil antropia inteligente
Iniciativa atende 41 mil alunos em São Paulo
para vir até Heliópolis assistir às masterclasses, que só são
com esses jovens.
ensinadas aqui. A ideia é que isso se consolide cada vez mais
Vocês não mais prepararão jovens para o mercado de trabalho,
por meio da construção de um teatro com capacidade para
‘vocês serão o mercado de trabalho’.
650 pessoas, que está em fase de captação de recursos.
Não desistam... não se cansem, por favor. O que vocês fazem
Além disso, a construção desse teatro representa um equipa-
é nobre.
mento que fomenta a sustentabilidade do Instituto.
Um grande abraço do mais novo fã.”
Para finalizar, cabe registrar o depoimento do Dudu Trentin, arAlessandra Costa, Projeto Guri: O objetivo do
emissora. Em agosto de 2010, a Sinfônica Heliópolis participou
Projeto Guri é promover com excelência a educação mu-
do Criança Esperança, e Dudu extravasou:
sical básica e gratuita, garantindo o que em políticas públi-
“Vocês vencerão não mais (e apenas) pela nobreza inquestioná-
cas se chama de “acesso universal”. Ou seja, apesar de
vel do projeto, mas pela competência e nível musical conseguido
não haver um recorte de renda para ingressar no projeto,
Projeto Guri
ranjador da TV Globo para os grandes espetáculos realizados na
O Projeto Guri oferece continuamente cursos de iniciação musical, coral infantil e infanto-juvenil, e instrumentos de corda, madeira, sopro e percussão. Atualmente, o projeto atende cerca de 41 mil alunos em 383 polos distribuídos por
315 municípios do Estado de São Paulo. A Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo deu início às atividades do Projeto Guri em 1995. Em 1997, para colaborar com o desenvolvimento do Projeto, um grupo de voluntários fundou a Sociedade Amigos do Projeto Guri, hoje Associação Amigos do Projeto Guri, e estabeleceu uma parceria entre Estado e iniciativa privada. Esse foi um dos motivos que levou a Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo a propor que a Associação passasse a administrar o Projeto Guri como um todo. Assim, em junho de 2004 a Associação foi qualificada como uma Organização Social de Cultura e, em novembro desse mesmo ano, passou a gerenciar o Projeto Guri.
80
Filantropia LL 35_c.indd 80
8/11/2010 16:02:06
81 Vencendo preconceitos, a música erudita é usada pelos projetos sociais para transformar vidas
temos ações efetivas para garantir a equidade no acesso
Alessandra Costa, Projeto Guri: Em pesquisas
– como a escolha dos locais e cidades onde os polos são
que realizamos com alunos, ex-alunos e suas famílias, todas
implantados, ou as parcerias com as prefeituras para forne-
as respostas convergem para o papel de fortalecimento que
cerem transporte aos alunos de baixa renda.
o Projeto Guri tem na vida das crianças e jovens que aten-
Ainda que nosso objetivo não seja profissionalizante, reco-
de. Quando mencionam o impacto que o projeto teve em
nhecemos que muitos dos nossos alunos optam por seguir
suas vidas, os alunos referem-se a aumento na sociabilida-
a carreira musical. Para estes, criamos um novo Programa
de, maior autoconfiança, alegria, determinação, melhora nas
de Bolsas de Estudos, que subvenciona cursos mais apro-
relações familiares. Questões que num primeiro momento
fundados aos ex-alunos contemplados.
parecem subjetivas, mas que são constitutivas da essência do ser humano e suas relações sociais. Resumindo: o Pro-
Qual tem sido o impacto deste projeto na vida das
jeto Guri ajuda a fortalecer as crianças e jovens justamente
crianças que passaram por ele?
na faixa etária mais difícil – aquela em que eles definem que
Edmilson Venturelli, Instituto Baccarelli:
tipo de pessoa serão. Esse impacto sempre aparece com
Construção de autoconhecimento e autoestima, visão con-
mais força do que o aprendizado da música propriamente
fiante do futuro, estabelecimento de um sentido da vida,
dito, mas só é atingido porque trabalhamos com excelência,
construção de um sonho, sentimento de protagonismo, de
usando o ensino coletivo de música. Resumimos tudo isso
pertencimento, de fazer parte.
no conceito de desenvolvimento humano, que aparece com
A música é uma ferramenta efetiva no desenvolvimento
força na reformulação de nossa missão.
dessas potencialidades. Ensinar a conhecer os sons, a ouvi-los e combiná-los, perceber
Como conclusão, deixemos novamente para Oscar Wilde que,
e criar melodias, sentir a harmonia através de técnicas, mas tam-
em seu ensaio, continua: “A Vida imita a Arte muito mais do que
bém pelo som do próprio ouvido, são processos fundamentais na
a Arte imita a Vida. Isto provém não somente do instinto imitativo
formação de uma consciência musical e artística. É um forte instru-
da Vida, mas do fato de que o fim consciente da Vida é achar a
mento de transformação, uma alternativa de vivência que propicia
sua expressão, e a Arte oferece certas formas de beleza para a
o descobrimento de grandeza individual pelo fazer coletivo.
realização dessa energia”.
Filantropia LL 35_c.indd 81
8/11/2010 16:02:11
empreendimentos Por Andrew Ritchie Fotos Arquivo Pessoal
28%
39%
Barcelos
61%
Win Work Pinheiros
100%
Haddock Office Jardins
Le Grand Art
100%
Tucumã
arte em construção
A vida em alto estilo, com valorização e liquidez, está reservada para os proprietários de empreendimentos com a assinatura Adolpho Lindenberg. Aliando o que há de mais moderno em arquitetura e construção, e preservando tradição, qualidade e confiança, a construMurano
20%
tora conquistou o status de maior grife imobiliária do mercado. Conheça os empreendimentos Adolpho Lindenberg e veja como está o andamento de cada obra. As imagens ilustram o estágio dos empreendimentos no
13%
Win Work Santos
mês de novembro. Para mais informações e fotos atualizadas, acesse o nosso site:
www.lindenberg.com.br 82
empreendimentos LL 35.indd 82
8/11/2010 15:34:41
Untitled-1 2
28/7/2010 12:36:04
Lindenbeng0511.pdf
1
05/11/10
17:54
C
M
Y
CM
MY
CY
CMY
K
COZINHAS PLANEJADAS | ARMÁRIOS | PROJETOS ESPECIAIS SÃO PAULO: Al. Gabriel Monteiro da Silva, 1749 | Av. Cidade Jardim, 929 | Shopping D&D - Lj 211 | Shopping Lar Center - Lj 316A Av. República do Líbano, 2070. ALPHAVILLE: Al. Araguaia, 400. CAMPINAS: R. Maria Monteiro, 1576 - Cambuí. MOGI DAS CRUZES: R. São João, 658. SÃO JOSÉ DOS CAMPOS: R. Viena,203 - Jd. Oswaldo Cruz
Fale Conosco: (11) 3704.0955 | www.elgin.com.br