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ATAHUALPA

CRÔNICA

URDA ALICE KLUEGER

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ATAHUALPA

Quando Atahualpa veio para a minha vida, ele não era mais do que um bifezinho, e logo nos primeiros dias eu me tornei sua delícia: com aqueles dentinhos de agulha, ele adorava ficar me mordendo o tempo todo, enquanto rosnava mais ou menos assim: - Grrrhhh grrrhhh grrhhh... Minha vida mudou inteiramente. Agora havia alguém que me tomava todo o tempo, que sempre queria alguma coisa, que sempre estava disposto a brincar e a fazer todo o tipo de artes, energia inesgotável a correr ao meu redor sempre pronto a me morder e a rosnar... Ele veio no dia 06 de dezembro de 2007, magrinho e fraquinho, e só entendi que ele estava quase morrendo de fome (a ração que viera com ele estava estragada) na véspera de Natal, e depois que ele passou a comer de verdade, não havia quem o parasse. Não sei dizer quando foi, mas era verão, pois os meus braços estavam mordidos de cabo a rabo, e ele estava do tamanho, diria, de um porquinho da Índia, já gorduchinho e explodindo de energia. Numa sexta-feira à noite eu estava tão cansada, mas tão estressada por conta daquele bichinho incontrolável, que lhe disse: - Chega! Hoje eu quero ver o Globo Repórter! – ia passar um Globo Repórter sobre as onças

brasileiras e eu estava muito curiosa. Deitei-me no sofá e o bichinho subiu sobre mim, fazendo grrrhhh grrhhh grrrhhh e querendo me morder aonde conseguisse. Eu tentava segurá-lo enquanto o programa começava, até que a primeira onça fez: - GRRROOOUUUHHH!!! Foi o primeiro choque da vida de Atahualpa! De imediato, ele esqueceu-se de me morder, me escalou, protegeu-se atrás das minhas costas e passou a prestar a maior atenção na televisão! Assistiu o programa atentamente, escondendo-se um pouco mais a cada vez que uma onça rosnava, e no final, estava tão cansado daquela tensão toda que queria ir dormir. Foi nesse dia que o meu porquinho da Índia descobriu a televisão. Teve todo um namoro com ela, conforme crescia. Houve um dia, quando, bem esticadinho na ponta dos pés ele já podia ver a televisão sozinho, que passou um filme de verdade, onde os atores eram porcos, cachorros e carneiros. Havia legenda para os humanos, mas ele entendeu tudinho sem precisar ler. Ficou esticado vendo o filme até o final, tendo reações em diversos momentos, e eu fiquei parada todo o tempo, para não perder aquilo! Fomos grandes companheiros, nós dois. Pergunto-me agora: como viver sem ele?

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