PARÂMETROS PARA A AÇÃO PASTORAL EVANGELIZAÇÃO NAS UNIDADES SOCIAIS E EDUCACIONAIS DA RMS
PARÂMETROS PARA A AÇÃO PASTORAL EVANGELIZAÇÃO NAS UNIDADES SOCIAIS E EDUCACIONAIS DA RMS
PARÂMETROS PARA A AÇÃO PASTORAL Evangelização nas Unidades Sociais e Educacionais da RMS Iniciativa da Rede Marista de Solidariedade Concepção e coordenação técnica Diretoria Executiva de Ação Social (DEAS) Direção Executiva: Ir. Franki Kleberson Kucher Gerência Educacional: Viviane Aparecida da Silva Gerência de Planejamento e Administração: Alessandra Maia Rosas Hovorusko Autores: Glaucio Luiz Mota, André Severino Souza e Olavo Henrique de Souza Chicoski Colaboração: Matheus Henrique Alves, Matheus dos Reis Goulart, Keles Gonçalves de Lima, André Masur e Alessandra Martins de Faria Agradecimento especial: ao Grupo de Trabalho: Pastoral no Currículo, aos pastoralistas das unidades sociais e educacionais da RMS, ao Setor de Pastoral do Grupo Marista, e à Coordenação da Diretoria Executiva de Ação Social: Viviane Aparecida da Silva, Ir. Franki Kleberson Kucher e Alessandra Maia Rosas Hovorusko Organização: Glaucio Luiz Mota Conselho Editorial: Aldo César Farias, Alessandra Maia Rosas Hovorusko, Ir. Antônio Quintiliano da Silva, Barbara Pimpão Ferreira, Carla Tosatto, Danielle Regina Barriquello, Luiz Augusto Martins Kleinmayer, Marcelo Manduca, Paulo Fioravante Giareta, Valeria de Freitas Pereira, Michele Marcos de Oliveira e Viviane Aparecida da Silva Coordenação do projeto: Glaucio Luiz Mota Revisão de conteúdo: Ir. Franki Kleberson Kucher, Viviane Aparecida da Silva e Mariel Manes Revisão final: Elisabete Franczak Branco Projeto gráfico e diagramação: Deborah Naomi Kosaka Apoio técnico: Diretoria de Marketing e Comunicação do Grupo Marista Fotos: Acervo RMS www.solmarista.org.br
APRESENTAÇÃO A Rede Marista de Solidariedade (RMS) entende sua atuação socioeducativa com crianças, adolescentes e jovens como uma forma privilegiada de evangelização. A promoção do Reino de Deus, que acontece de forma profética, considera e dialoga com as diversas realidades dos territórios em que as unidades sociais e educacionais estão inseridas, no sentido de buscar, conjuntamente – unidade e território –, uma vida justa e plena para todos. Com base nesses preceitos, a condução dos processos de evangelização da RMS foi desenvolvendo um posicionamento formativo e didático, que ajudou a consolidar sua atuação transversalizada e interdisciplinar da ação pastoral nas unidades, favorecendo o reconhecimento desses processos como força criativa e produtora de saberes no currículo. Em 2013, a Diretoria Executiva de Ação Social revisou seus Parâmetros Educacionais a fim de “indicar os caminhos construídos para a ação socioeducativa em desenvolvimento nas Unidades da RMS, na perspectiva de alinhar o que é comum
enquanto pressuposto e prática”.1 Esses indicativos colaboraram na compreensão da atuação das unidades e da operacionalidade de suas áreas, seguimentos e ofertas de atendimento, fundamentando sua organização para desenvolver seus processos, entre eles os processos pastorais. Nessa trajetória até aqui, houve um avanço nas práticas pastorais das unidades, de tal modo que aos poucos vai sendo rompida a concepção de uma pastoral estritamente operacional e celebrativa, pautada em ações pontuais e recreativas. No entanto, há indicadores visíveis de que a ação pastoral é consciente de sua práxis, que, além de seu espaçotempo litúrgico e catequético, também atua em outros espaçotempos da comunidade educativa. Portanto, o pastoralista2 passou a ter um papel mais estratégico nos processos de gestão da unidade, agindo de forma mais integrada com todas as áreas, promovendo, assim, a transversalidade da missão marista de “tornar Jesus conhecido e amado”.3 O que veremos na revisão dos Parâmetros Pastorais aqui reescritos é a legitimação das novas linguagens e práticas necessárias nesse novo momento histórico, dando continuidade na busca de alinhamento pastoral com e nas unidades, por meio de metodologias que contribuam para a potencialização e maior alcance da evangelização. Além disso, essa revisão visa dar maior alcance e compreensão conceitual, de uma forma didática, àqueles que não estão familiarizados com a linguagem teológico-pastoral. Ou seja, buscamos demonstrar a aplicabilidade da ação pastoral cada vez mais aberta, dialogante, praxiológica com as áreas e as unidades que compõem a RMS. A revisão dos Parâmetros Pastorais foi uma das tarefas do Grupo de Trabalho Pastoral no Currículo, composto por pastoralistas da RMS, com representação de cada oferta de atendimento, objetivando articular as reflexões na RMS acerca do debate sobre pastoral no currículo, além de propor novas metodologias que favorecessem essa intencionalidade.
REDE MARISTA DE SOLIDARIEDADE. Parâmetros Educacionais. Curitiba: RMS, 2013. p. 6. Profissional com atribuições específicas para atuar na área de pastoral das unidades sociais e educacionais. 3 INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Constituições e Estatutos. São Paulo: Secretariado Interprovincial Marista (SIMAR), 1997. n. 2. 1 2
Para conseguir alcançar esses objetivos, o Grupo de Trabalho articulou vários espaços de escuta com todos os pastoralistas e demais colaboradores da RMS, por meio de encontros regionais, de fóruns com irmãos, fóruns com educadores, aplicações-piloto de metodologias de planejamento pastoral,4 encontro com diretores das unidades, entre outros espaços. Além disso, a revisão foi fiel aos princípios que são caros para o Instituto Marista: a perenidade do carisma marista, seu vínculo eclesial e a sua opção preferencial pelas crianças e jovens empobrecidos. Portanto, com base nos direcionamentos e diretrizes da Igreja e do Grupo Marista, os parâmetros que aqui apresentamos apontam as especificidades de se fazer pastoral nas unidades sociais e educacionais com orientações teóricas e operacionais que pretendem contribuir para as unidades no desenvolvimento da sua ação pastoral, de modo a inculturar o evangelho, conscientes de sua identidade marista. Viviane Aparecida da Silva Gerente Educacional da Área de Solidariedade Grupo Marista
Glaucio Luiz Mota Assessor de Pastoral da Área de Solidariedade Grupo Marista
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Estas questões serão aprofundadas a partir do item 4: METODOLOGIA DO PENSAR E DO AGIR
PASTORAL.
SUMÁRIO 1. EDUCAÇÃO EVANGELIZADORA 2. CONTEXTO DA EVANGELIZAÇÃO 3. PASTORAL NO CURRÍCULO
a) Unidade/Escola em Pastoral b) Evangelização explícita e implícita c) “Espaçotempos” pastorais na educação evangelizadora 4. METODOLOGIA DO PENSAR E DO AGIR PASTORAL
a) A Missão e as Diretrizes Institucionais b) Planejamento e comunhão c) A escuta e o diagnóstico pastoral: subjetividades e intersubjetividades d) Registro e sistematização e) Indicadores pastorais
5. A PROJETUALIDADE DA AÇÃO EVANGELIZADORA
a) Eclesialidade b) Educação na fé e para solidariedade c) Campanha da Fraternidade d) Aspectos fundacionais e do carisma do Instituto Marista e) Participação das infâncias e das juventudes f) Cultura Vocacional e Projeto de Vida g) Pluralismo religioso h) Incidência política i) Parte cheia e parte vazia do currículo 6. GESTÃO PASTORAL
a) Plano de trabalho b) Papel do(a) pastoralista c) Papel da Equipe Interdisciplinar d) Papel da direção da unidade e da coordenação educacional e) Papel da coordenação pedagógica f) Papel do psicossocial g) Papel do administrativo h) Papel da Pastoral Juvenil Marista i) Comissão de juventudes j) Comissão Pastoral da Unidade k) Papel da assessoria de pastoral e dos setores provinciais l) Recursos e infraestrutura pastoral 7. HORIZONTES: APOSTOLADO E MISSÃO REFERÊNCIAS
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1.
EDUCAÇÃO EVANGELIZADORA
A Missão Educativa Marista afirma que “a educação, no seu sentido mais amplo, é o nosso campo de evangelização”.5 O Grupo Marista, em suas Diretrizes da Ação Evangelizadora, entende a evangelização como a “missão global da Igreja que, fiel ao projeto de Cristo, empenha-se incansavelmente na promoção do Reino de Deus, tornando-se presente entre as pessoas e as culturas de maneira significativa, a fim de promovê-las em dignidade, à luz da fé”.6 Logo, a evangelização é: “objeto e objetivo de toda a ação da Igreja”,7 ou seja, é o “Reino de Deus acontecendo no mundo por meio de ‘sinais do Reino’”.8 Os principais sinais são: as atitudes de amor, de perdão, de misericórdia, de justiça, de paz, de solidariedade, de unidade, de respeito, de fraternidade. [...] É tarefa fundamental da Igreja mostrar às pessoas que o Reino de Deus constitui uma dimensão real da existência humana e que é possível vislumbrar em todas as culturas as sementes desse Reino”.9 INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS DAS ESCOLAS. Comissão Internacional de Educação Marista. Missão educativa Marista: um projeto para o nosso tempo. Tradução de Manoel Alves, Ricardo Tescarolo. 3. ed. São Paulo: SIMAR, 2003. n. 76. 6 GRUPO MARISTA. Diretrizes da Ação Evangelizadora do Grupo Marista. 2. ed. São Paulo: FTD, 2014. n. 38. 7 Ibid., n. 38 e 39. 8 Ibid., n. 39. 9 Ibid., n. 39. 5
Contudo, nós da Rede Marista de Solidariedade contribuímos na efetivação do Reino de Deus hoje por meio de um jeito próprio de educar e evangelizar, contemplando todas as dimensões da vida, contribuindo para a promoção, defesa e garantia dos direitos humanos, preferencialmente aos empobrecidos, com fidelidade aos ensinamentos de São Marcelino Champagnat e criativamente sensíveis aos sinais dos tempos, sob à luz do Evangelho. Nossas unidades sociais e educacionais são lugar de encontro com a pessoa de Jesus, e: Campos privilegiados para esse encontro, dentre outros, são a escuta atenta e a celebração da Palavra; a vivência sacramental, sobretudo eucarística e da reconciliação; a vida de oração; a vivência pastoral e comunitária; a leitura orante da Bíblia, a presença significativa entre os mais necessitados; a comunhão com as infâncias e juventudes; o trabalho digno e sustentável; a construção do conhecimento enquanto busca da verdade e sabedoria; e a vivência da espiritualidade marial.10
Como educadores maristas, evangelizamos por meio da educação, fazendo desse espaço e tempo um contexto fértil para anunciar a boa nova, sendo Igreja com rosto mariano nos territórios em que estamos inseridos.
Ibid., n. 44. GRUPO MARISTA, 2014, n. 87. 12 Ibid., n. 52. 10 11
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Por meio do anúncio, do diálogo e do testemunho tornamos Jesus Cristo conhecido e amado. Quem anunciou Jesus inicialmente, como primeira discípula e educadora, é sua Boa Mãe. Por isso, apoiamos nosso carisma na figura de Maria, uma vez que: “os primeiros Irmãos foram seduzidos pela experiência carismática de Champagnat, pelo seu caráter firme, pelo seu projeto de sociedade e Igreja, cuja transformação passava audaciosamente pela educação com característica mariana; daí ‘maristas’”.11 Dessa mesma forma, na história, muitos também foram inspirados, e continuam sendo até hoje, chamados a colaborar com o apostolado de Champagnat, pois: “Aquele que vive o apostolado é alguém que se descobre apaixonado por Jesus Cristo, a quem reconhece como Mestre e Irmão que o acompanha”.12
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2.
CONTEXTO DA EVANGELIZAÇÃO
Evangelizar pressupõe uma escuta atenta aos territórios e aos sujeitos que se fazem presentes em nossas unidades, entendendo que: “o território é o chão e mais a população, isto é, uma identidade, o fato e o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O território é a base do trabalho, da residência, das trocas materiais e espirituais e da vida, sobre os quais ele influi”.13 Acreditamos, ainda, que a nossa forma de evangelizar se manifesta a partir das relações com o território, considerando suas singularidades, entre elas a diversidade cultural, os cenários eclesiais, o pluralismo religioso, as vulnerabilidades socioeconômicas, os movimentos sociais e populares, bem como os modelos pastorais e de gestão da unidade, que também devem ser considerados nessa relação. Nossas unidades sociais atendem educandos em situação de pobreza e de vulnerabilidades sociais e pessoais. Mesmo nesse contexto desfavorecido há uma rica diversidade cultural, visto que podemos encontrar em algumas dessas unidades uma forte representação de não católicos, dado que reforça que a multiculturalidade é um fato e um desafio. E, mesmo entre as famílias e SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 6. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001. p. 97.
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educandos católicos, há uma expressiva diversidade cultural, com diferentes formas de viver o cristianismo e de ser Igreja, sendo esses, também, produtivos campos de desafio para a ação pastoral. De acordo com as Diretrizes da Ação Evangelizadora para o Brasil Marista: “a valorização da ‘diversidade’ (cultural, geracional, religiosa...) é dado positivo, alertando contra os extremos do relativismo e do sectarismo excludente”.14 De modo que a diversidade cultural dos educandos é um positivo desafio e cada vez mais presente em nossas unidades. Nesse sentido, os Maristas do Brasil se sentem: “convocados a reconhecer e acolher a pluralidade de identidades e modos de ser desses sujeitos, o que lhes confere categorias plurais – infâncias, adolescências e juventudes”,15 num movimento de acolhida, mas também de observância à sua origem e identidade.
Contudo, a presença de inúmeras denominações religiosas por meio de igrejas, de templos e de outros espaços religiosos configura num forte campo de pluralismo religioso e de religiosidade popular que exerce influência sobre as famílias e sobre as subjetividades dos sujeitos atendidos por nossas unidades. “As expressões da piedade popular têm muito que nos ensinar e, para quem as sabe ler, são um lugar teológico a que devemos prestar atenção particularmente na hora de pensar a nova evangelização”.18 Não obstante, as religiosidades das crianças e jovens são marcadas pela tradição e pela tradução dessas experiências religiosas para suas vidas. Há hibridismos e diferenças religiosas que são produtos dessas experiências que podem reproduzir tradicionais e antigas expressões, bem como recriar novas manifestações. UNIÃO MARISTA DO BRASIL. Diretrizes da Ação Evangelizadora para o Brasil Marista. Brasília: UMBRASIL, 2013. p. 82. 15 Ibid., n. 64. 16 CONCÍLIO VATICANO II. Gravissimum educationis: Declaração do Concílio Vaticano II sobre a educação cristã da juventude. São Paulo: Paulinas, 1965. n. 58. 17 MIRANDA, Mario de França. A Igreja numa sociedade fragmentada: escritos eclesiológicos. São Paulo: Loyola, 2006. p. 273. 18 PAPA FRANCISCO. Evangelii Gaudium. São Paulo: Paulinas, 2013. n. 126. 14
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Com isso, o Concílio Vaticano II, na declaração Gravissimum Educatio nis, afirma que a Igreja: “aderindo à própria tradição e, ao mesmo tempo, consciente da sua missão universal, é capaz de entrar em comunicação com as diversas formas de cultura, com o que se enriquecem tanto a própria Igreja como essas várias culturas”.16 Ou seja, é fundamental que a Igreja: “reconheça as realidades crísticas presentes na sociedade pluralista, acolha-as em seu seio e as autentique como cristãs”.17
O multiculturalismo e a multirreligiosidade dos alunos que frequentam as escolas católicas interpelam todos os responsáveis do serviço educativo. Quando a identidade das escolas enfraquece, emergem numerosos problemas ligados à incapacidade de interagir com esses novos fenómenos. A resposta não pode ser aquela de refugiar-se na indiferença, nem de adoptar uma espécie de fundamentalismo cristão nem, por fim, aquela de declarar a escola católica como uma escola de valores ‘genéricos’.19
O pluralismo religioso constitui outro desafio da nossa Ação Evangelizadora e, por isso, merece um olhar especial, visto que, como instituição confessional, professamos uma identidade cristã-católica-marista, nos reconhecendo como uma, dentre muitas, das expressões e instituições religiosas que estão presentes no território.
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Na perspectiva do pluralismo religioso, como Igreja, reafirmamos o que nos diz o Concílio Vaticano II no que tange à liberdade religiosa em que todas as mulheres e homens: devem estar livres de coação, quer por parte dos indivíduos, quer dos grupos sociais ou qualquer autoridade humana; e de tal modo que, em matéria religiosa, ninguém seja forçado a agir contra a própria consciência, nem impedido de proceder segundo a mesma, em privado e em público, só ou associado com outros, dentro dos devidos limites. Declara, além disso, que o direito à liberdade religiosa se funda realmente na própria dignidade da pessoa humana, como a palavra revelada de Deus e a própria razão a dão a conhecer.20
Para garantir esse direito, o Estado tem na laicidade o princípio constitucional de convivência fraterna entre todas as expressões religiosas no território nacional e por consequência nos territórios em que estamos inseridos. Com isso, a Rede Marista de Solidariedade busca garantir dentro de suas unidades o cumprimento desse marco legal, ao mesmo tempo que tem obser vância atenta para a sua identidade confessional. Entretanto, a educação católica, com: “a sua característica confessional não deve constituir uma barreira, CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA. Educar hoje e amanhã: uma paixão que se renova. Instrumentum laboris. 2014. Disponível em: <http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/ccatheduc/documents/rc_con_ccatheduc_doc_20140407_educare-oggi-e-domani_po.html>. Acesso em: 25 nov. 2016. p. 14. 20 CONCÍLIO VATICANO II. Dignitatis humanae: declaração do Concílio Vaticano II sobre a liberdade religiosa. São Paulo: Paulinas, 1966. n. 02. 19
mas ser condição de diálogo intercultural, ajudando cada aluno a crescer em humanidade, responsabilidade civil e na aprendizagem”.21 Fato que a convivência entre as religiosidades acaba sendo uma criativa fonte teológica e pedagógica que ajuda a demarcar nossa identidade quando buscamos o que há de comum entre as igrejas e religiões, pois: apesar de distintas, há valores e princípios que permitem um núcleo comum de atuação entre os crentes, como o amor, a sacralidade da vida, a responsabilidade para com os mais fracos, a vocação transcendente da pessoa humana, etc. As possíveis tensões produzidas pela diversidade serão certamente amenizadas pela solidariedade.22
Há também a riqueza na distinção de modelos pastorais24 no variado perfil de pastoralistas, uma vez que suas experiências eclesiais e pastorais pessoais são derivadas dos cenários de Igreja acima descritos. Essa mesma derivação também é manifestada, por sua vez, nos modelos de gestão das unidades. A influência e a compreensão desses cenários na dinâmica das unidades são fundamentais para o reconhecimento profissional do(a) pastoralista ao superarmos o modelo e o perfil, por vezes identificado nele por seus pares, como um voluntário paroquial ou como alguém que somente toca violão ou prepara as orações, oriundo dos cenários eclesiais mais tradicionais e conservadores. E ainda, para essa superação, outro reconhecimento que também CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA, 2014, p. 8. GRUPO MARISTA, 2014, n. 141. 23 LIBÂNIO, João Batista. Cenários da Igreja: num mundo plural e fragmentado. 5. ed. São Paulo: Loyola, 2012. 24 BRIGHENTI, Agenor. A pastoral dá o que pensar: a inteligência da prática transformadora da fé. 2 ed. São Paulo: Paulinas; Valência, ESP: Siquem, 2011. 21 22
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Além do cenário do pluralismo religioso, há também uma diversidade de cenários eclesiais que precisam ser considerados. De acordo com Libânio,23 há cenários de uma Igreja da Instituição, do Carisma, da Pregação e da Práxis Libertadora. Esses cenários são encontrados de modo particular ou de modo híbrido nas paróquias e dioceses a que nossas unidades pertencem territorialmente. A relação com a Igreja local depende do movimento de aproximação da parte das unidades e da abertura da parte das próprias comunidades eclesiais. Mas, felizmente, em boa parte dessas experiências encontramos um campo de boas possibilidades para uma ação pastoral de conjunto com a Igreja local.
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merece destaque na relação desses cenários é o de ressignificar o conjunto de saberes pastorais como uma ciência teológica que pode se relacionar de igual para igual com as demais áreas de conhecimento e ciências. Ou seja, é uma ação pastoral que possui seus espaçotempos integrados a todos os espaçotempos do currículo das unidades sociais e educacionais, considerando suas variadas ofertas de atendimento.
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3.
PASTORAL NO CURRÍCULO
A educação católica é o lugar de espaços e tempos de encontro de culturas, é um campo fértil para inculturação do evangelho, pois: “em muitos países a população das escolas católicas é caracterizada pela multiplicidade das culturas e das crenças, por isso a formação religiosa nas escolas deve partir da consciência do pluralismo existente e saber constantemente atualizar-se”.25 Logo, a proposta educativa das unidades de educação católica é um exemplo da evidência e da concepção de currículo que se identifica como lugar do encontro de culturas, no qual os sujeitos das aprendizagens encontram sentidos e significados para suas vidas, não somente nos conhecimentos do currículo prescrito,26 mas também em um currículo narrativo27 que se estabelece no cotidiano e em todos os possíveis espaços e tempos da comunidade educativa. No Projeto Educativo do Brasil Marista, o currículo é concebido como um sistema complexo e aberto que articula, em uma dinâmica interativa, o posicionamento político da Instituição, suas intencionalidades, contextos, valores, redes de conhecimentos e saberes, aprendizagens e os sujeitos da educação/aula/escola.28 CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA, 2014, p. 14. O currículo prescrito é determinado pelos conhecimentos e conteúdos tradicionalmente determinados (GOODSON, Ivor. Currículo, narrativas e futuro social. Revista Brasileira de Educação, v. 12, n. 35, maio/ ago. 2007). 27 O currículo narrativo é aquele que, no processo de aprendizagem, considera as histórias, os sonhos e as narrativas dos sujeitos da educação (GOODSON, 2007). 28 UNIÃO MARISTA DO BRASIL. Projeto Educativo do Brasil Marista: nosso jeito de conceber a Educação Básica. Brasília: UMBRASIL, 2010. p. 59. 25 26
Nesse ínterim, a ação pastoral tem papel fundamental, cooperando na organização do currículo que a educação católica se propõe a praticar, uma vez que ela tem por objetivo fazer a Igreja dialogar com o mundo por meio da educação. Na atualidade, a Igreja tem se colocado como proposta para o enfrentamento das crises civilizacionais, apresentando-se como fonte de valores e reserva de sentido para superar os universalismos, os fundamentalismos e os relativismos contemporâneos. Tais valores são caros para a missão da Igreja, sendo que, nesse contexto, o papel da ação pastoral organizada será o de dar acesso a esses valores para todo sujeito que queira experienciar tais valores. E isso se dá, necessariamente, pela inculturação do evangelho, pois “a descoberta das culturas leva a tomar consciência da inevitabilidade de uma fé que só pode acontecer de uma forma inculturada”.29 Ou seja, o que se universaliza são os valores, e não um “cristianismo monocultural”30 ou uma “teologia universalizante”.31 O diálogo e o respeito com a diversidade constituem uma intencionalidade da evangelização.
expressões que falam por si.32
Consequentemente, a inculturação do evangelho não se dá sem um fundamento teológico e pastoral, pois sua razão de ser se constitui na abertura à diversidade e em mergulhar radicalmente na alteridade, pois: “a Igreja Católica não é nenhuma ‘diáspora’ frágil, secularizada, perdida no meio da cultura de hoje. Tem sua identidade, eficácia e força de anunciar e antecipar uma cultura e sociedade para além da decomposição, fraqueza e carências da pós-modernidade”,33 de acordo com Libânio. Trata-se de uma Igreja segura de si, mas que se renova na contemporaneidade como lugar de respostas para as perguntas a que a modernidade não soube responder e que a pós-modernidade tem relativizado. BRIGHENTI, 2011, p. 13. Ibid., p. 13. 31 Ibid., p. 13. 32 PAPA FRANCISCO, 2013, n. 122. 33 LIBÂNIO, 2012, p. 173. 29 30
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Quando o Evangelho se inculturou num povo, no seu processo de transmissão cultural também transmite a fé de maneira sempre nova; daí a importância da evangelização entendida como inculturação. Cada porção do povo de Deus, ao traduzir na vida o dom de Deus, segundo a sua índole própria, dá testemunho da fé recebida e enriquece-a com novas
Nesse sentido, a educação católica é um desses lugares da inculturação do evangelho por excelência, entendida como extensão da missão da Igreja. Consequentemente, o movimento curricular deve buscar a interdisciplinaridade, em que se “amplia as relações entre os conhecimentos, os saberes e as pessoas”,34 sendo “capaz de encarnar a ideia relacional, bem como provocar mudanças nas hierarquias e relações de poder que constituem os saberes.”35
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Visa-se assim que os saberes pastorais possam ser percebidos como uma força transversal para a ressignificação dos conteúdos curriculares, integrando fé e cultura a partir de uma visão de sujeito e de mundo fundamentadas no evangelho. Neste caso, não se trata necessariamente de incluir um novo conteúdo ao currículo, como se os saberes pastorais fossem uma disciplina ou área de conhecimento, mas de atribuir um novo sentido ao currículo a partir de um olhar pastoral inspirado nos valores do evangelho,36 que se integra a outros saberes de forma sistêmica, contribuindo para o desenvolvimento do educando na perspectiva da educação integral. A síntese dos saberes pastorais pode ser entendida no conjunto dos elementos inculturadores, que são “componentes interdependentes (que podem ser interpretados como conceitos-chave, espaços, temas ou dimensões) que julgamos ser prioritários para a dinamização da ação evangelizadora na cultura atual”.37 São eles: a dignidade humana; a educação emancipadora; a espiritualidade; a alteridade; a solidariedade socioambiental; a catequese; as infâncias e juventudes; e os valores maristas. Ao evidenciar os Elementos Inculturadores como intencionalidade pedagógica e pastoral na proposta educativo-evangelizadora da unidade social, promove-se a inculturação dos valores cristãos na contemporaneidade. Abrimos caminhos para o diálogo e encontramos pontos de convergência com as subjetividades, singularidades, culturas e crenças dos educandos, das famílias e demais sujeitos da comunidade educativa. Faz-se então a necessidade de um projeto político-pedagógico-pastoral que dê conta dos apelos da Nova Evangelização, tendo como “ponto de partida a certeza de que em Cristo há uma riqueza insondável que nenhuma cultura, de qualquer época, UNIÃO MARISTA DO BRASIL, 2010, p. 85. Ibid., p. 85. 36 Para o Brasil Marista, a força dos valores evangélicos é expressada em valores alinhados ao legado intelectual e espiritual de Marcelino. Os valores maristas são: Amor ao trabalho, Solidariedade, Presença, Espírito de família, Interculturalidade, Simplicidade e Espiritualidade (cf.: <http://grupomarista.org.br/ vivamaisvalores/>). 37 GRUPO MARISTA, 2014, n. 93. 34 35
extingue, e à qual nós homens sempre poderemos recorrer para enriquecer-nos”.38 Um belo desafio para a inculturação do evangelho nos currículos das unidades sociais está na gestão das políticas de igualdade, diferenças e identidades. É pensar o currículo em meio a essa ecologia de saberes e de forma integral, conforme o Papa Francisco nos motiva. É transcender uma ecologia meramente “naturalizante” e/ou “biologizante”, e de fundo economicista, para uma ecologia “que inclua claramente as dimensões humanas e sociais”.39 Para a dinamização de todos esses processos, o papel da pastoral é fundamental, pois o agir organizado da Igreja no campo da educação acredita na pastoral como sua fundamental força animadora da Educação Evangelizadora. a) Unidade/Escola em Pastoral
a adquirir, mas também valores por assimilar e verdades a descobrir.40
A Unidade/Escola em pastoral configura-se num “espaçotempo do anúncio, do testemunho e da comunhão; do conhecer-experienciar-aderir aos valores do Evangelho, concretizados no desenvolvimento de uma cultura do cuidado, da solidariedade”.41 Nessa perspectiva, o ambiente da unidade social e educacional, bem como a sua proposta educativa, deve gerar um profundo e autêntico “ecossistema educativo evangelizador cristão-marista”,42 promovendo a vivência da comunidade educativa numa estrutura educativa-evangelizadora. Para tal, é importante compreender a pastoral como uma CONSELHO EPISCOPAL LATINO-AMERICANO. Conferência de Santo Domingo. 4. ed. São Paulo: Loyola, 1993. n. 24. 39 PAPA FRANCISCO. Laudato Si’: Carta encíclica do Santo Padre Francisco sobre o cuidado da casa comum. São Paulo: Paulus, 2015. n. 137. 40 UNIÃO MARISTA DO BRASIL, 2010, p. 67. 41 Ibid., 2010, p. 67. 42 Ibid., 2010, p. 67. 38
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Pastoral da escola, entretanto, é o que se observa numa Escola em Pastoral, isto é, numa escola evangelizada e evangelizadora, na qual o projeto político-pedagógico-pastoral proporciona a síntese entre fé e cultura e o saber à luz da fé torna-se sabedoria e visão de vida. Numa Escola em Pastoral, as diversas disciplinas não apresentam somente um saber
dimensão que perpassa e acrescenta valores a todas as áreas, serviços e processos da unidade. Esse intento provoca no educador e nos demais interlocutores o movimento de compreender seu papel de corresponsabilidade nos diferentes espaçotempos da educação evangelizadora, se reconhecendo como educador-evangelizador e colaborando para que a ação pastoral possa ser permeada transversalmente em todos os processos da unidade social.
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b) Evangelização explícita e implícita A educação marista propõe uma interessante hermenêutica e também dialética de formar “bons cristãos e virtuosos cidadãos”,43 encontrando nessa intencionalidade um equilíbrio na sua proposta de educação integral que contempla a dimensão espiritual e a vida cotidiana.44 Trata-se de proporcionar acesso à dimensão espiritual de forma experiencial, e não por imposição, que oportuniza uma experiência pessoal e comunitária com a pessoa e o projeto de Jesus Cristo a todo o sujeito das unidades educacionais e sociais maristas. E isso pode acontecer, seja na oferta de experiências explícitas de evangelização, em que a participação é espontânea, seja por meio do diálogo dos valores cristãos com os saberes científicos e com a diversidade cultural, entendida como inculturação implícita de evangelização. Isso tudo para que o alcance do evangelho seja ainda maior e não dependa somente da evangelização explícita, mas também da implícita como forma de fidelização e primeiro anúncio. A pastoral é mediadora nesse processo, e dada essa realidade o Papa Francisco faz o seguinte apelo: “Convido todos a serem ousados e criativos nesta tarefa de repensar os objetivos, as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores das respectivas comunidades”.45 Ao mesmo tempo que se considere, e dialogue com, o pluralismo religioso presente no perfil das famílias e educandos atendidos por meio do diálogo intercultural e inter-religioso (Evangelização Implícita), devemos ter especial atenção para a identidade confessional (Evangelização Explícita), pois a unidade social é uma extensão da Igreja, e isso dá sentido ao jeito marista de educar,46 caso contrário seria uma escola como qualquer outra. Portanto, “essa dimensão de inculturação é realizada COMISSÃO INTERPROVINCIAL DE EDUCAÇÃO, 2003, n. 69. UNIÃO MARISTA DO BRASIL, 2010. 45 PAPA FRANCISCO, 2013, n. 33. 46 BRIGHENTI, 2011. 43 44
tanto na dimensão catequética propriamente dita, com caráter explícito, como quando considerada instância de diálogo cultural”.47 c) “Espaçotempos” pastorais na educação evangelizadora48 A unidade social/escola é o espaçotempo da educação marista, é o lugar dos processos educativos que acontecem de maneira polissêmica e de muitas formas, que se manifestam dependendo do contexto, dos atores, da cultura e de múltiplos fatores que exercem influência sobre o currículo.49 É a materialização de sentidos, geografias, cartografias, relações num espaço e num tempo integrados. Nessa perspectiva, é necessário pensar fatos, processos, fenômenos e situações-problema considerando simultaneamente as especificidades espaciais e temporais. Ou seja, tudo – fatos, eventos, fenômenos, processos – acontece em espaços e tempos precisos e determinados.50
O processo evangelizador se torna real em nosso meio pelo testemunho autêntico da fé, da esperança e da caridade; pelo serviço a todas as pessoas e aos povos; pela promoção da solidariedade, da justiça, da paz e do bem comum; pelo diálogo e promoção da unidade entre as culturas, as religiões e os saberes; pela oração, ação litúrgica e sacramental; pelo anúncio ou proclamação do Evangelho, da vida e missão de Cristo; e pela catequese e demais formas de aprofundamento da fé.52
GRUPO MARISTA, 2014, n. 176.
47
Tese apresentada por Mota no III Congresso Nacional de Educação Católica (MOTA, Glaucio Luiz. Pastoral no currículo: recortes e possibilidades de espaçotempos evangelizadores. In: CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CATÓLICA, 3., 2015, Curitiba. Anais... Brasília: ANEC, 2015). 49 UNIÃO MARISTA DO BRASIL, 2010, p. 52. 50 Ibid., p. 26. 51 Ibid., p. 54. 52 GRUPO MARISTA, 2014, n. 41. 48
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Por sua vez, um dos espaçotempos da unidade social/escola é a “pastoral que articula fé e vida”.51 Como já vimos, a Unidade/Escola em Pastoral é a materialização desse espaçotempo. Por outro lado, a pastoral também tem seus próprios espaçotempos que não estão desintegrados dos demais espaçotempos do currículo. Inspirado nas Diretrizes da Ação Evangelizadora do Grupo Marista, podemos identificar alguns espaçotempos da ação pastoral no currículo:
Não são os únicos, muito menos estáticos e lineares, tanto que, por vezes, se misturam e se convergem em novos espaçotempos, mas, de todo modo, optamos por essa leitura que entendemos ser imprescindível para uma descrição didática que favorece a compreensão da pastoral no currículo. Para isso, dividimos a citação anterior em quatro espaçotempos:
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Espaçotempo litúrgico-sacramental-catequético Trata-se do espaçotempo de autêntica catolicidade e que explicitamente contempla a identidade confessional Católica e Marista. Esse espaçotempo é caracterizado “pela oração, ação litúrgica e sacramental; pelo anúncio ou proclamação do Evangelho, da vida e missão de Cristo; e pela catequese e demais formas de aprofundamento da fé”.53 Nesse espaçotempo não há necessidade de decodificar a mensagem do Evangelho, dogmas e doutrinas católicas em detrimento da diversidade religiosa, pois aqui os interlocutores participam por adesão e opção pessoal. Nesse espaçotempo, a identidade católica dos sujeitos da comunidade educativa, por meio do compromisso institucional que assumem,54 é demarcada pelas oportunidades de que a instituição dispõe para o aprofundamento na fé católica e no carisma marista. A educação católica tem sua identidade e pedagogia delimitada, mas também disputa espaço no currículo. “É urgente redefinir a identidade da escola católica para o século XXI”.55 Logo, esse é um espaçotempo em que se permite cultivar o campo litúrgico, catequético e sacramental, bem como a catolicidade presente na proposta educativa marista de maneira explícita para todo aquele que dela quer aderir. Espaçotempo do testemunho e da caridade Esse espaçotempo nos possibilita reconhecer na unidade social que todos os membros da comunidade educativa são sujeitos evangelizadores. Desse modo, entendemos que este espaçotempo garante, por si só, que a evangelização aconteça em nossos espaços educativos, ainda que não de forma orgânica, mas por meio de atitudes, de gestos e da expressão dos valores universais, que também encontramos no Evangelho. Dessa forma, “o processo evangelizador GRUPO MARISTA, 2014, p. 33-34. CIPRIANI, Roberto. Manual de sociologia da religião. São Paulo: Paulus, 2007. 55 CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA, 2014, p. 10. 53 54
se torna real em nosso meio pelo testemunho autêntico da fé, da esperança e da caridade”.56 Este não é um espaçotempo formal e de projetualidade, mas de encontro e de produção fenomenológica religiosa, fruto dos encontros dos sujeitos que partilham seus valores, sejam estes católicos ou não. Compreende-se aqui que essas religiosidades são formas que favorecem a sociabilidade entre os sujeitos, sendo que esses fenômenos produzem cultura57 e conhecimento. Além disso, esse espaçotempo é fonte para mapear as religiosidades presentes no currículo, pois: Em muitos países a população das escolas católicas é caracterizada pela multiplicidade das culturas e das crenças, por isso a formação religiosa nas escolas deve partir da consciência do pluralismo existente e saber constantemente atualizar-se.58
Espaçotempo da transposição didático-pastoral Entendemos que a pastoral produz conhecimentos e saberes, e que estão sintetizados nos elementos inculturadores.61 Cabe à pastoral, em diálogo com o pedagógico e com as demais áreas de atuação da unidade, adaptar os saberes pastorais para as práticas, os planejamentos e projetos da unidade.
GRUPO MARISTA, 2014, p. 33.
56
SIMMEL, Georg. Religião: ensaios. São Paulo: Olho d’Água, 2009. v. 1 e 2. CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA, 2014, p. 14. 59 CIPRIANI, 2007. 60 HERVIEU-LÉGER, Danièle. O peregrino e o convertido: a religião em movimento. Petrópolis: Vozes, 2008. 61 GRUPO MARISTA, 2014. 57 58
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Esse espaçotempo pode ser entendido como lugar da pesquisa, da identificação das práticas religiosas,59 favorecendo uma evangelização com mais efetividade, no sentido de ter ações mais bem direcionadas para o anúncio do evangelho, ao mesmo tempo que se respeita o pluralismo religioso. Ou seja, é o espaçotempo em que os sujeitos reorganizam sua atividade religiosa no contato com a unidade social,60 a fim de testemunhar a caridade, valor presente em muitas culturas e religiões.
Quando algumas categorias da razão e das ciências são acolhidas no anúncio da mensagem, tais categorias tornam-se instrumentos de evangelização; é a água transformada em vinho. É aquilo que, uma vez assumido, não só é redimido, mas torna-se instrumento do Espírito para iluminar e renovar o mundo.62
Esse é um espaçotempo de transposição que pode favorecer situações de aprendizagem e sequências didáticas que contemplem os elementos inculturadores, no sentido de transformar os temas abordados pela pastoral em conhecimento no cotidiano educativo “pelo serviço a todas as pessoas e aos povos; pela promoção da solidariedade, da justiça, da paz e do bem comum”.63 A base fundamental para essa transposição é a formação continuada dos educadores: De fato, não se deseja que nas escolas católicas exista “uma dupla população” de professores; pelo contrário, é necessário que um corpo docente homogéneo, disponível para aceitar e partilhar uma definida identidade
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evangélica, e um coerente estilo de vida.64
Esse é um espaçotempo com característica de evangelização implícita que permeia a sala de aula, os projetos e outras ações pedagógicas e pastorais, e das demais áreas, no sentido de transversalizar a mensagem evangélica na unidade, garantindo que a ética dos valores cristãos seja pautada na parte cheia65 do currículo, evidenciando as linguagens e as significações dos saberes acumulados pelas práticas pastorais da Igreja. Espaçotempo do ecumenismo e do diálogo inter-religioso Diante do cenário de pluralismo religioso, uma atitude coerente, não só em respeito, mas também por complementariedade, é favorecer o diálogo entre as diferentes Igrejas cristãs e demais religiões dos territórios nos quais as unidades estão inseridas. Isso porque: PAPA FRANCISCO, 2013, n. 132. GRUPO MARISTA, 2014, n. 41. 64 PAPA FRANCISCO, 2013, p. 14-15. 65 JUNQUEIRA FILHO, Gabriel de Andrade. Linguagens geradoras: um critério e uma proposta de seleção e articulação de conteúdos em educação infantil. Cadernos de Educação (UFPel), Pelotas, v. 12, n. 21, p. 81100, 2003. 62 63
Uma comunidade escolar, que se baseia em valores da fé católica, traduz na sua organização e no seu currículo a visão personalista própria da tradição humanista cristã, não em contraposição mas em diálogo com as outras culturas e crenças religiosas.66
Tal diálogo, assim como afirmava o Papa João Paulo II,67 é para identificar o que há de comum entre as Igrejas e religiões, no sentido de aproximá-las para ações de conjunto. Por consequência, esse é um espaçotempo em que não se quer propor uma mera tolerância, mas promover a complementariedade por meio de ações comuns em favor da dignidade humana e da solidariedade. Ou seja, o diálogo que faz e se fará não será para abrir mão das convicções e da identidade confessional, muito pelo contrário, servirá para reforçá-la, uma vez que essa aproximação promove a própria revisão das práticas e da linguagem evangélica e eclesial para torná-la mais acessível e apresentável, e isso por sua vez pode apresentar o Cristo de forma ainda mais universal, sem que isso perca a profundidade do anúncio.
posta amável de fé.68
Diferentemente do espaçotempo do testemunho e da caridade que é mais fenomenológico, esse espaçotempo tem um caráter de diálogo direto, tanto interno quanto externo, com as instituições e lideranças religiosas do território, para que se favoreça ações e projetos sociais em favor da solidariedade e da paz social no território.
CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA, 2014, p. 8. PAPA JOÃO PAULO II. Redemptoris Missio: carta encíclica sobre a validade permanente do mandato
66 67
missionário. São Paulo: Paulinas, 1991. CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA, 2014, p. 10.
68
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O fato de que os alunos de numerosas escolas católicas pertençam a uma pluralidade de culturas pede às nossas instituições para alargar o anúncio e fazê-lo sair do círculo dos cristãos, não só com as palavras, mas com a força da coerência de vida dos educadores. Professores, dirigentes, quadro administrativo, toda a comunidade profissional e educativa é chamada a oferecer, na humildade e na proximidade, uma pro-
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4.
METODOLOGIA DO PENSAR E DO AGIR PASTORAL
A metodologia da ação pastoral fundamenta-se na pedagogia de Jesus, “que utilizava abordagens diversificadas, respeitando a linguagem e os interesses de cada um”.69 Tal pedagogia nos inspira para a prática70 pautada no mandamento do Amor,71 na partilha,72 na disposição ao serviço,73 centrada nos pequeninos e menos favorecidos.74 Fundamentada na pedagogia de Jesus, a Igreja no Brasil se utiliza da metodologia que segue os seguintes passos: ver, julgar, agir, rever e celebrar. Assim, temos uma proposta evangelizadora consciente da realidade (ver), que, iluminada pela Palavra (julgar), atua na transformação dessa mesma realidade em busca da promoção do Reino (agir), reconhecendo o processo e os resultados desse processo (rever) imbuídos da mística da oração e do apostolado (celebrar).75 GRUPO MARISTA, 2014, p. 44. Mateus 7, 24-27. 71 João 15, 12. 72 Atos dos Apóstolos 4, 32-35. 73 Mateus 20, 28. 74 Mateus 25, 40. 75 DEBIASI, Miguel. Ensaio para uma metodologia pastoral. Revista Vida Pastoral, nov./dez. 2006. p. 13 e 17. 69 70
A partir dos vários contextos socioeconômicos em que as unidades da Rede Marista de Solidariedade atuam, percebemos que a metodologia pastoral do ver-julgar-agir-rever-celebrar se apresenta como uma ferramenta para favorecer a inculturação do evangelho com qualidade social. Destacamos os seguintes pontos de atenção para o pensar e o agir pastoral: a) A Missão e as Diretrizes Institucionais O Instituto Marista foi fundado para tornar Jesus Cristo conhecido e amado por meio da educação, inspirado no jeito de educar de Maria. Os primeiros maristas “tinham consciência de que o Projeto era parte da missão de Maria: dar Cristo à luz e estar com a Igreja, em seu nascimento [...], uma graça que somos convidados a viver e a desenvolver à medida que aprofundamos nossa participação no mesmo carisma”.76
Nosso carisma e nossa espiritualidade nos ajudam a reafirmar cotidianamente a presença de Deus em nossas vidas, e assim Seu amor infinito permeia nossas ações. Buscamos viver imersos nesse amor por meio de uma espiritualidade relacional e afetiva, sendo possível reconhecer nos maristas de Champagnat o Espírito de Família, fazendo “a experiência de pertença e de união na missão”.78 Desse modo, olhando para a nossa realidade e responsabilidade apostólica, é preciso que nos perguntemos sempre: Como tal realidade toca nossa missão? Quais são os desafios aos quais devemos fazer frente nesse momento da história? Como é possível nos apropriarmos desses traços da contemporaneidade no intuito de aperfeiçoarmos nossas estratégias de evangelização?79 INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Água da Rocha: espiritualidade Marista fluindo da tradição de Marcelino Champagnat. Tradução Ricardo Tescarolo. Guarulhos: FTD, 2007. p. 25 e 26. 77 INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS. Conclusões do XXI Capítulo Geral. 2009. Disponível em: <www.champagnat.org/pt/index.php>. p. 25. 78 Ibid., p. 33. 79 GRUPO MARISTA, 2014, n. 78. 76
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A Educação para a Solidariedade, promovida pelas unidades sociais e educacionais, além de apresentar uma irrestrita identidade com o legado de Champagnat e com o estilo de Maria, está convicta de que devemos “ver o mundo com os olhos das crianças e jovens pobres e assim mudar nossos corações e atitudes”,77 consolidando nossa missão educativa e a comunhão com a Igreja para enfrentar os desafios da contemporaneidade.
Todas essas perguntas, seja como pastoralistas, gestores e demais colaboradores, fazemos olhando para a realidade, mas também para os documentos da Igreja, para as Diretrizes da Ação Evangelizadora do Grupo Marista,80 para as Diretrizes e Direcionamentos de Solidariedade para a RMS,81 para as Diretrizes Vocacionais do Grupo Marista, bem como para o Planejamento Estratégico do Grupo Marista, para as demais Diretrizes da União Marista do Brasil, da América Latina e para as Diretrizes do mundo Marista, além dos referenciais dos direitos humanos, para as legislações e as políticas educacionais, a fim de desempenharmos a missão conectados ao todo. b) Planejamento e comunhão
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O planejamento é uma espécie de mapa82 que orienta sujeitos, grupos e ins tituições na busca por objetivos, metas e realização de processos. São cons tituídos de intencionalidades, de estratégias e de operações que favorecem a organização de ações e projetos. Como Maristas do Brasil, fazemos a opção por um planejamento compartilhado e estratégico, não sendo diferente para o planejamento pastoral, pois: “a ação pastoral, enquanto cuidado, acompanhamento, organização e sistematização do processo evangelizador, tem, entre outras atribuições, a função de planejar iniciativas evangelizadoras, considerando realidades e interlocutores diversificados”.83 Tudo isso, considerando a variedade de ofertas de atendimento, o público atendido e as especificidades das comunidades educativas e de seus demais atores, a complementariedade entre as áreas de gestão, administrativa, pedagógica, pastoral, psicossocial, de apoio e manutenção, secretaria, entre outras que compõem as unidades. Mesmo com toda a dedicação e o tempo dedicados para o planejamento, sua eficácia não será a contento se não contar com a ação do Espírito. “O grande autor da evangelização em nosso meio é o Espírito Santo e, nesse sentido, planejar deve ser compreendido como uma iniciativa que visa acolher o sopro do Espírito, de forma dinâmica”.84 GRUPO MARISTA, 2014. REDE MARISTA DE SOLIDARIEDADE. Diretrizes e direcionamentos para a Rede Marista de Solida riedade. São Paulo: FTD, 2012. 82 UNIÃO MARISTA DO BRASIL, 2010, p. 83. 83 GRUPO MARISTA, 2014, n. 57. 84 Ibid., n. 57. 80 81
Há quatro critérios norteadores que o Papa Francisco85 denomina princípios que são fontes orientativas para o planejamento pastoral: • O tempo é superior ao espaço – O processo é mais importante que os resultados e mais importante do que possuir espaços de poder; • A unidade prevalece sobre o conflito – Desenvolver comunhão nas diferenças, vislumbrando oportunidades nos contrastes; • A realidade é mais importante do que a ideia – Não ocultar as dificuldades, optando pela objetividade harmoniosa; • O todo é superior à parte – Integrar o local com o global, procurando o bem comum.
Um bom planejamento pastoral requer o conhecimento da realidade, da missão da Instituição e a clareza de onde se quer chegar. Três questões essenciais orientam o planejamento: primeiro, a utopia: O que se quer alcançar? Segundo, o diagnóstico: A que distância se está daquilo que se quer alcançar? Terceiro, a ação programada: O que fazer concretamente para diminuir essa distância?87
Dessa forma damos sentido à nossa missão. É a mística que orienta nossas práticas. É o profetismo que nos move, a fim de promover a dignidade humana, o bem comum e a solidariedade88 entre todos(as) que participam do processo de educação evangelizadora em nossas unidades. Um processo de comunhão, no qual evangelizamos e nos deixamos evangelizar. Contudo, entendemos que todos os colaboradores, de alguma forma, evangelizam por PAPA FRANCISCO, 2013. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 59. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2015. 87 GRUPO MARISTA, 2014, n. 60. 88 Princípios presentes da Doutrina Social da Igreja (PONTIFÍCIO CONSELHO JUSTIÇA E PAZ. Compêndio da Doutrina Social da Igreja. São Paulo: Paulinas, 2005). 85 86
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Tais princípios podem favorecer um planejamento em comunhão, no sentido de garantir participação e o bem comum entre os envolvidos nos processos pastorais e da unidade como um todo. É olhar para o currículo como propriedade de todos. É promover o “inédito viável”86 mediado pelos valores cristãos e pelos saberes pastorais, possibilitando uma projetualidade com situações de aprendizagens e sequências didáticas por meio de linguagens adequadas que considerem as singularidades dos sujeitos e a universalidade dos direitos coletivos que visam à qualidade social da educação. Ou seja:
meio dos valores que acreditam, de forma colaborativa, mas o fazer pastoral exige o mínimo de planejamento, organicidade e projetualidade. Ou seja, todos evangelizam, mas o fazer pastoral exige consciência desse ato, exige organicidade. c) A escuta e o diagnóstico pastoral: subjetividades e intersubjetividades Embora as culturas e os povos sejam objeto da inculturação dos evangelhos, há de se reconhecer que nem sempre as subjetividades, as singularidades, as diferentes visões de mundo e as religiosidades dos sujeitos precisam passar por processo de pré-inculturação para que esses interlocutores sejam previamente mapeados e reconhecidos. Logo: “as diversidades psicológicas, sociais, culturais, religiosas não devem ser escondidas, negadas, mas consideradas como oportunidade e dom”.89
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Se for bem entendida, a diversidade cultural não ameaça a unidade da Igreja. É o Espírito Santo, enviado pelo Pai e o Filho, que transforma os nossos corações e nos torna capazes de entrar na comunhão perfeita da Santíssima Trindade, onde tudo encontra a sua unidade.90
Para que isso aconteça, a escuta e o diagnóstico são importantes ferramentas para um bom planejamento. Assim sendo, no processo evangelizador, o ponto de partida é a realidade do interlocutor, valorizando-a e penetrando nela para que esses sujeitos envolvidos vejam sentido na mensagem do Reino. “A partir da pedagogia de Jesus, aprendemos que o ponto de partida é sempre o contexto daquele que se apresenta diante dos projetos como interlocutor”.91 Nesse sentido, entendemos que um dos princípios do empoderamento que leva ao protagonismo é a escuta. “Quando acolhemos os sujeitos comprometidos com a Instituição e os convidamos a participar, oportunizamos relações dialogais ao mesmo tempo que sinalizamos a pessoa como valor essencial e imprescindível do processo”.92 A escuta, além de apontar novos caminhos, ajuda num processo de autocrítica e de intersubjetividade na caminhada pastoral, ou seja, cria comunhão com os processos pastorais, e lhes dá legitimidade. Ela pode servir para avaliar e revisar planos CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA, 2014, p. 8. PAPA FRANCISCO, 2013, n. 117. 91 GRUPO MARISTA, 2014, n. 67. 92 Ibid., n. 59. 89 90
e estratégias; desse modo, a escuta também é avaliativa, além de diagnóstica. “A avaliação é prática pedagógica que tem como finalidade o diagnóstico e o acompanhamento contínuo e reflexivo do desenvolvimento do currículo e do processo de ensino-aprendizagem”.93 Mesmo com essa interdependência de significados, tanto a escuta quanto o diagnóstico precisam estar munidos de efetivas dinâmicas e de instrumentais para a qualidade desses processos. Entrevistas, questionários, mapeamentos, pesquisas, grupos focais, entre outras dinâmicas, precisam lançar mão para garantir a qualidade do planejamento. d) Registro e sistematização
Esse movimento requer a produção de documentos, que passa pelo registro das experiências. Para Moscheto e Chiquito: Os registros, ao mesmo tempo que são produto, também produzem o cotidiano. São produzidos/produtores da prática pedagógica, são artefatos socioculturais e historicamente constituídos com intenção de serem marcas de um tempo para que possam estabelecer diálogos entre o passado e o presente.94
Os registros de toda ordem, sejam escritos, portfólios, audiovisuais, entre outros, favorecem a revisão do planejamento e a reflexividade dos processos. Quando devidamente documentados, os registros se tornam balizas que nos ajudam a avaliar o desenvolvimento das atividades e dos sujeitos, além de regular os processos de aprendizagem pastoral e pedagógica. Um desses registros, que tem caráter mais local e de prática na unidade, é o instrumental de Transposição Didática dos Saberes Pastorais. O papel UNIÃO MARISTA DO BRASIL, 2010, p. 88. MOSCHETO, Marta Debortoli; CHIQUITO, Ricardo Santos. Projeto Marista para a educação infantil. São Paulo: FTD, 2007. p. 182.
93 94
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A documentação na pastoral está ligada a um processo mais amplo de documentação pedagógica. Essa interdependência reforça a complementariedade entre pastoral e o pedagógico. São relatos, histórias e narrativas de espaços e tempos comuns. Fazer memória garante uma assertividade para os processos, para que sejam revistos e potencializados, favorecendo a coerência entre teoria e prática.
desse instrumental é colocar lado a lado os elementos inculturadores com as dimensões, eixos, áreas de conhecimentos dos diferentes segmentos e ofertas de atendimento, a fim de adaptar os saberes pastorais para o currículo, sobretudo no planejamento do educador. A seguir, um exemplo de registro de aplicação do instrumental feito com educadores do Ensino Médio (Quadro 1): Quadro 1 – Instrumental de Transposição Pastoral PASTORAL NO CURRÍCULO DO ENSINO MÉDIO Instrumental de Transposição Pastoral Diagnóstico e reflexão para a projetualidade Descoberta
Culturas e saberes do educando
Os educandos não se reconheciam como sujeitos problematizadores;
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Revolta com pouca consciência; Não se reconheciam como pertencentes à comunidade.
Competências (de cada área de conhecimento)
Elemento Inculturador
Compreender os elementos culturais..., identidades, processos históricos; Compreender transformações dos espaços geográficos..., poder; • • • •
Dignidade humana Educação emancipadora Valores Maristas Alteridade
Interpretação
Ideação
Situações de aprendizagem e habilidades (Escutas e sentidos)
Metodologias e Ações Pedagógicas (Prototipação)
Projetos, áreas do conhecimento e/ ou linguagens (Performatização)
Interpretação histórica, social, geográfica e filosófica;
Elaboração de Documentário das mães;
Ciências humanas
Analisar a produção humana; Relacionar história e cultura; Comparar diferentes pontos de vista e fontes; Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais; Avaliar criticamente; Identificar em diferentes fontes a relação com a vida;
Exposição comparando a Floripa de ontem e a de hoje (itinerante); Entrega de folder sobre cuidados ecológicos; Contribuição da pastoral:
Outros territórios: um possível diálogo entre o meio ambiente e a diversidade de gênero a partir do Montserrat. Obs.: Projeto que envolve todas as turmas do Ensino Médio.
• Oficina política e valores; • Desenvolvimento comunitário.
Ressignificar o território; Usar a reflexão da ecologia integral da Laudato Si.
Fonte: Registro da aplicação-piloto com articuladores de área de conhecimento do Centro Educacional Marista Lucia Mayvorne. Nota: Em destaque na segunda coluna, os elementos inculturadores.
Esse instrumental serve tanto para diagnosticar quais saberes pastorais são trabalhados nos planejamentos dos educadores como para um exercício de reflexão que antecede o processo de projetualidade do educador, num movimento de parceria com o(a) pastoralista. O caráter do instrumental, além de servir como planejamento, é também formativo, uma vez que ajuda a refletir a prática e a localizar o educador na educação evangelizadora. Toda documentação e todo registro favorecem a reflexão da prática, que por sua vez produzem novos conhecimentos. Quando devidamente documentados e sistematizados, a produção de conhecimento pode virar uma fonte teórica para aqueles direta ou indiretamente envolvidos nesse processo, tornando sua práxis um referencial para inspirar outros sujeitos da educação evangelizadora. e) Indicadores pastorais
Trata-se da matriz de indicadores pastorais que tem caráter específico de monitoramento pastoral e da missão, para compreender e diagnosticar como as unidades sociais são impactadas pela evangelização. A matriz tem macroindicadores que são temas geradores da ação pastoral inspirados nos elementos inculturadores das Diretrizes da Ação Evangelizadora do Grupo Marista.95 Observe no Quadro 2 um exemplo de macroindicador e indicador:
GRUPO MARISTA, 2014.
95
Parâmetros para a Ação Pastoral - Evangelização nas Unidades Sociais e Educacionais da RMS | 35
A avaliação pastoral, além de utilizar-se dos instrumentais dos sistemas de monitoramento da qualidade educacional e social, como os Índices da Qualidade Educacional, as Matrizes de Avaliação Educacional, a Autoavaliação da Gestão, entre outros dados, para avaliar sua prática e sua efetividade, também tem suas fontes de indicadores.
Quadro 2 – Exemplo de macroindicador e indicador MACROINDICADOR
DESCRIÇÃO
VALORES MARISTAS
Muitos são os valores que emergem da missão e identidade cristã e marista. Eles são descobertos no dia a dia de cada um de nós, em meio aos desafios e às atividades. Como organização, na dimensão corporativa – depois de um grande processo participativo e reflexivo, com o envolvimento dos irmãos e de representantes de todas as frentes apostólicas –, o Grupo Marista optou por tornar evidentes seis valores que nos são referenciais. São eles um recorte dos inúmeros valores possíveis que fazem parte do Evangelho e da vida marista. Acreditamos que, ao focar esse núcleo valorativo, possamos desenvolver de forma mais eficaz nossas ações cotidianas: Simplicidade; Amor ao Trabalho; Justiça; Espiritualidade; Espírito de Família (Sensibilidade Comunitária); e Presença Significativa (GRUPO MARISTA, 2014, n. 205).
Como as questões fundacionais e o legado de Champagnat são abordados no currículo?
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Pontualmente em alguns momentos de reflexão, acolhidas e nos períodos das campanhas institucionais.
1
Por meio de ações e projetos com colaboradores e educandos, dialogando com as linguagens e áreas de conhecimento.
2
3
4
Por meio de ações e projetos transversais, dialogando com todos os espaçotempos pedagógicos, de formação, celebrativos, e com outros movimentos e organizações institucionais maristas, e também com o território. 5
6
Fonte: Elaborado pelos(as) pastoralistas das unidades sociais em encontros regionais realizados em 2015 e 2016, e consolidado pelo GT Pastoral no currículo.
A unidade responderá em qual escala ela se compreende. Dessa forma, o indicador apontará, tanto para a unidade quanto para a rede, ao cruzar os dados com as demais unidades, quais prioridades e ações merecem destaque em seus planejamentos.
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5.
A PROJETUALIDADE DA AÇÃO EVANGELIZADORA
As práticas, as situações de aprendizagens e os temas institucionais/estratégicos são aqueles indicados como pontos convergentes entre a unidade, a Igreja e o carisma marista e que ajudam a refletir a projetualidade da ação evangelizadora. As temáticas seguem as recomendações da Igreja e das diretrizes institucionais, sendo abertas para a adoção e a adaptação na realidade da unidade, ou seja, não são indispensáveis, mas dependem do que a escuta e o diagnóstico apontarem para haver um sentido em sua aplicabilidade. À medida que as temáticas abaixo surgem nos diagnósticos da unidade, a projetualidade da ação evangelizadora poderá sinalizar tais abordagens, indicando situações de aprendizagem apropriadas e que correspondam ao contexto dos educandos e do território. Seguem os temas: a) Eclesialidade A relação com a Igreja local (Comunidade, Paróquia e Diocese) deve ser estreita, sendo ela entendida como uma parceira irrestrita para as unidades sociais e educacionais. Mesmo considerando que nem sempre essa aproximação se dá da mesma forma e com a mesma efetividade, não podemos perder de vista as possibilidades de ações conjuntas no campo litúrgico, catequético e sacramental, bem como em outras ações em conjunto com as pastorais so-
ciais, demais pastorais afins e movimentos eclesiais, que possuem propostas em comum com a nossa, por meio de ações e projetos que potencializam a educação evangelizadora na unidade e no território. Além disso, cabe à pastoral da unidade favorecer o acesso à vida eclesial para crianças, jovens, famílias e aos colaboradores por meio de projetos e espaçotempos adequados na unidade, ou por meio do encaminhamento desses sujeitos à comunidade eclesial local, considerando o interesse e a adesão espontânea deles por uma vivência eclesial católica. Nos processos catequéticos explícitos, buscamos tornar evidentes os elementos doutrinais confessionais católicos próprios daqueles que já abraçaram essa confissão de fé. Essa dimensão catequética é sempre opcional, pois necessita em si mesma de uma prévia adesão de resposta afirmativa do interlocutor ao anúncio evangelizador realizado a partir da Igreja de forma geral.96
b) Educação na fé e para a solidariedade Na busca incessante da produção de sentido, encontramos em Deus as revelações que respondam aos anseios humanos.97 Essa busca, que se orienta pelo contato com o sagrado e o transcendente, encontra na mistagogia a iniciação e o aprofundamento na fé e na palavra de Deus. Como didática catequética, a mistagogia se apresenta, tanto para os iniciantes quanto para os já iniciados, como o aprofundamento na mística e nos elementos que dão sentido à fé cristã. “Nos processos educativos em geral, buscamos identificar os elementos que são comuns entre a educação formal e a educação na fé, e reforçamos aqueles que promovem a dignidade humana em sua totalidade”.98 GRUPO MARISTA, 2014, n. 177. CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Diretório Nacional de Catequese. Brasília: Edições CNBB, 2005. n. 17. 98 GRUPO MARISTA, 2014, n. 178. 96 97
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Esse movimento de eclesialidade, na medida do possível, deve ser uma via de mão dupla, no sentido de que a unidade possa contribuir para a vida da Igreja local e, do mesmo modo, a Igreja local, com o seu conhecimento acumulado, possa adentrar no currículo da unidade.
Algumas unidades oferecem catequese formal para crianças e jovens em seu espaço quando a Igreja local autoriza tal organização, caso contrário, encaminhamos esses sujeitos a alguma comunidade eclesial. As outras formas que também podem ser entendidas como catequese e que encontramos na unidade social são: a Pastoral Juvenil Marista, o Movimento Champagnat da Família Marista, os grupos de reflexão de educadores e as demais formações que tratam de temas que aprofundam a fé, entre outros. Esse processo mistagógico, quando devidamente aprofundado no sentido de não ficar somente numa dimensão espiritualista, mas que trabalhe também a perspectiva do profetismo e do engajamento social e crítico, pode favorecer a educação na fé por meio das ações que visam à solidariedade. Educar na e para a solidariedade envolve processos e práticas que oportunizam a sensibilização e a vivência, possibilitando níveis de interação e engajamento com pessoas e realidades. Significa, ainda, contribuir para a formação de sujeitos críticos, que querem e podem tornar-se atores, defender interesses coletivos, explicar e combater os mecanismos 40 | Parâmetros para a Ação Pastoral - Evangelização nas Unidades Sociais e Educacionais da RMS
que engendram a violência, a miséria e a exclusão.99
A mistagogia, em nossa perspectiva, contribui para a educação integral do sujeito, integrando fé e vida, fé e obras.100 c) Campanha da Fraternidade A Campanha da Fraternidade (CF) é realizada todos os anos pela Igreja Católica, sob a coordenação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), tendo destaque no período da Quaresma. Os temas de cada CF privilegiam o que está em pauta no campo socioeconômico, cultural e político do Brasil. O objetivo de cada CF é provocar debates e processos educativos que despertem na sociedade um senso de solidariedade e comunhão para a solução das injustiças sociais.101 REDE MARISTA DE SOLIDARIEDADE, 2012, n. 70. “Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta” (Tiago 2, 26). 101 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Campanha da Fraternidade 2013: manual. São Paulo: Paulinas, 2012. p. 137. 99
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O tema da CF será evidenciado nos projetos que a unidade desenvolver com a comunidade educativa, em consonância com a caminhada da Igreja local e de outras denominações religiosas. Tudo isso relacionado com o processo educativo desenvolvido no campo pedagógico e com as demais áreas afins na unidade. É importante que a CF, como tema proposto pela pastoral, não seja algo a mais no planejamento dos educadores, e sim assimilada de forma orgânica nos projetos pedagógicos. d) Aspectos fundacionais e do carisma do Instituto Marista A Identidade Marista deve ser constantemente sentida no cotidiano escolar, seja por meio do testemunho da vida marista dos irmãos, colaboradores(as), leigas e leigos, seja pelos projetos específicos desenvolvidos na unidade. Essa tematização tem por objetivo a disseminação do legado e do carisma marista, utilizando das várias linguagens e recursos, a exemplo das campanhas institucionais, na intenção de permear todos os espaçotempos da unidade com ações: exposições, eventos celebrativos, gincanas e demais atividades.
e) Participação das infâncias e das juventudes A participação das infâncias e das juventudes é prioridade e um direito para esses sujeitos. Cabe à nossa proposta educativa e evangelizadora promover o empoderamento para que se favoreça o protagonismo e a autonomia dos educandos. Para isso, a participação deve sair do discurso para a prática, entendendo que crianças e jovens são sujeitos, e não receptores do processo de aprendizagem.
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Especial atenção deve ser dada aos espaços da formação continuada da unidade para essa tematização, além de favorecer ao colaborador o acesso ao Programa de Formação e Vivência Marista em todas as suas dimensões: integração, imersão, aprofundamento e adesão. Dessa forma, possibilitamos a todos aqueles que queiram, além de conhecer e experienciar a missão marista, aderir também ao laicato marista.
A criança, desde pequena, é um ser capaz de produzir ideias, cultura, objetos concretos e simbólicos; de desenvolver sentimentos que serão válidos por toda a vida; de questionar a realidade que a cerca e a que está distante no tempo e no espaço; de produzir significados sobre si, sobre o outro e sobre o mundo.102
E nos cenários das juventudes: Abre-se diante de nós a questão de como nos posicionamos em relação à inclusão dos jovens nos espaços e fóruns que lhes são de direito e que dizem respeito à promoção de sua dignidade e desenvolvimento integral da pessoa; citamos o acesso à educação de qualidade, às oportunidades de participação social ampla, à formação para o trabalho, à formação em valores que contribuem na constituição de seu caráter, à saúde, etc., constituindo-se em preocupação de cada um de nós e das autoridades
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governamentais quanto à definição de políticas públicas específicas.103
Nesse contexto, a pastoral tem possibilitado e dinamizado espaços que favorecem o empoderamento de crianças e jovens por meio da Pastoral Juvenil Marista (PJM), das comissões de juventude, entre outras contribuições indiretas no fomento de espaços com essa intencionalidade. Esse é um desafio constante que precisa estar integrado aos demais projetos e ações da unidade, a fim de que essa tematização seja uma importante forma de materializar as causas da dignidade humana propostas na Doutrina Social da Igreja, além de proporcionar aos jovens interferir positivamente nas tomadas de decisão e nos direcionamentos da unidade. f) Cultura Vocacional e Projeto de Vida Segundo as Diretrizes da Animação Vocacional da UMBRASIL, a Cultura Vocacional refere-se a um movimento dinâmico, capaz de integrar pessoas, projetos e ações, com vistas a instituir sensibilidade no cuidado com o caminho que cada pessoa faz na direção de ser o melhor que pode ser e viver.104
MOSCHETO E CHIQUITO, 2007, p. 49. GRUPO MARISTA, 2014, n. 192. 104 UNIÃO MARISTA DO BRASIL. Diretrizes da animação vocacional. Brasília: UMBRASIL, 2015. p. 9. 102 103
Falar de cultura vocacional refere-se à atitude, a uma realidade concreta [...]. A cultura vocacional não está relacionada aos gestos individuais, mas com a mentalidade, com as atitudes compartilhadas por um grupo [...]. Cabe ao serviço de animação vocacional perceber o abismo entre a iniciativa individual e a mentalidade comunitária, entre uma atividade e os seus pontos de referência, entre as propostas e o seu ambiente.105
Nesse sentido, refletimos que os processos educativo-evangelizadores nas unidades sociais devem ser permeados por uma intencionalidade vocacional que propicie espaçotempos privilegiados que ajudem os jovens e demais sujeitos da comunidade educativa a serem protagonistas de sua existência, oferecendo oportunidades de construir seu projeto de vida fundamentado nos valores cristãos. Assim, as unidades se tornam espaços mediados e mediadores onde todos os processos contribuem para que os educandos construam e desenvolvam seus projetos de vida a partir de um itinerário vocacional que vai gerando autêntica cultura vocacional. g) Pluralismo religioso
Abordamos esse tema por uma necessidade que nasce do apelo dos educadores, e, sobretudo, em respeito ao direito de crianças e jovens em manifestar sua religiosidade, e de participar ou não de outras manifestações de fé diferentes da sua.106 Outras manifestações são respeitadas, contudo, deixa-se claro, no ingresso de novos colaboradores e educandos na unidade social e educacional, que há uma identidade católica estabelecida a qual eles optam por integrar. De todo modo, haverá uma necessidade de acompanhamento na inculturação desses sujeitos. Aos que professam a fé católica, as unidades oportunizam espaços de aprofundamento e fortalecimento da fé. Ibid., p. 9-10. UNESCO. Declaração Universal dos Direitos Humanos. 1998. Disponível em: <http://unesdoc.unesco. org/images/0013/001394/139423por.pdf>. Acesso em: 25 nov. 2016.
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As religiosidades e as crenças se manifestam inquestionavelmente no território e na unidade social; queiramos ou não, esses fenômenos entram em nossos espaços e se tornam desafios para os nossos educadores. Para eles, há uma grande dificuldade em equilibrar identidade católica marista e pluralismo religioso, por esse motivo, em escuta feita nas 26 unidades sociais da RMS no período de 2013 e 2014, 100% delas apontaram justamente o tema do pluralismo religioso como principal desafio para a evangelização.
Diante desse desafio: “o pluralismo religioso deixa de ser compreendido como um fenômeno conjuntural passageiro, um fato provisório, para ser percebido na sua riqueza como um pluralismo de princípio ou de direito”.107 Portanto, optamos por uma abordagem teológica inclusivista de reconhecimento de sinais crísticos108 nas outras manifestações religiosas presentes em nossas unidades e territórios, reforçando o que pode haver de comum entre as igrejas e religiões, e assim favorecer o espaçotempo do ecumenismo e do diálogo inter-religioso.109 h) Incidência política
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A Doutrina Social da Igreja reforça a ideia de que a mensagem do Evangelho pressupõe uma atuação compromissada e solidária em favor da transformação social, e, para isso, a incidência política é um instrumento primordial no sentido de que a fé se torne obra.110 Em cada nação, os habitantes desenvolvem a dimensão social da sua vida, configurando-se como cidadãos responsáveis dentro de um povo e não como massa arrastada pelas forças dominantes. Lembremo-nos de que “ser cidadão fiel é uma virtude, e a participação na vida política é uma obrigação moral”.111
A atuação política nos espaços de controle social (fóruns e conselhos de direitos) constitui uma concretude da evangelização e da missão da Igreja. Nessa dinâmica, engloba-se tanto a articulação em rede como a representação nos espaços de controle social, na busca pela incidência na formulação e na execução das políticas públicas, bem como no seu impacto social, para a garantia e o pleno desfrute dos direitos, contribuindo, assim, para a consolidação de uma sociedade mais justa e digna.112
TEIXEIRA, Faustino Luiz Couto. Teologia e pluralismo religioso. São Bernardo do Campo: Nhanduti, 2012. p. 167. 108 Conforme Miranda (2006). 109 Conforme já foi abordado. 110 PONTIFÍCIO CONSELHO JUSTIÇA E PAZ, 2005. 111 PAPA FRANCISCO, 2013, n. 220. 112 REDE MARISTA DE SOLIDARIEDADE, 2012, n. 69. 107
A intenção aqui é que, na medida do possível, a pastoral paute e/ou contribua para a incidência política mediada pelas reivindicações de cidadãos e grupos que tiveram seus direitos negados no território. Uma vez que a unidade está inserida no território, as lutas por políticas públicas desse espaço devem se tornar suas. i) Parte cheia e parte vazia113 do currículo A parte cheia e vazia não precisam, necessariamente, aparecer como temas de ação e projetos pastorais, mais do que isso, são apresentadas como uma reflexão necessária sobre a atenção que se deve ter às determinações e às flexibilidades que o processo de abordagem dos temas pastorais precisam, bem como aos novos caminhos e, até mesmo, aos desvios de abordagens que podem ser suscitados nessa trajetória, e também à criação de novos temas.
Encontra-se aqui um campo vasto de possibilidades para atuação pastoral no currículo, sobretudo para ser trabalhada no espaçotempo da transposição didático-pastoral. A parte cheia do currículo, com seus desdobramentos, tanto pode se relacionar com os elementos inculturadores e os temas acima descritos como também abre espaços para as imprevisibilidades dos processos pedagógicos, ou seja, a parte vazia dos planejamentos, dos currículos.
Esses conceitos de Junqueira Filho (2003) abordados no contexto da Educação Infantil foram adaptados para o contexto da pastoral no currículo, incluindo o(a) pastoralista como sujeito nessa relação entre saberes, educandos e educadores, dentro da dinâmica da parte cheia e vazia dos planejamentos. 114 GRUPO MARISTA. Pastoral na educação infantil: referencial para a ação pastoral-pedagógica. Curitiba: Champagnat, 2012. 115 Categoria abordada no livro Pedagogia do Oprimido (FREIRE, 2015). 116 GRUPO MARISTA, 2012, p. 94. 113
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Sabemos que todo o planejamento tem sua parte cheia, que se trata de uma ação intencionalmente organizada e delimitada para um determinado período.114 Já a parte vazia do planejamento trata do “inédito viável”,115 ou seja, “o inusitado, o imprevisto que nasce da escuta dos sujeitos envolvidos e nos indica que há uma parte vazia a ser preenchida no processo”.116
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6. GESTÃO PASTORAL A ação pastoral está integrada com a gestão educacional da unidade, uma vez que há processos administrativos, seja por meio de fluxos, da gestão indireta e direta de pessoas, do planejamento estratégico, das tomadas de decisão, entre outros, que também constituem e estão presentes na gestão pastoral. Por meio de um olhar sistêmico, em que não se contemple somente as particularidades pastorais, já que a pastoral faz parte da totalidade da gestão educacional, teremos uma gestão pastoral que cuida de seus processos específicos, mas que correspondam e fortaleçam a proposta educativa e evangelizadora da unidade integralmente. Como já vimos até aqui, na descrição da operacionalidade da educação evangelizadora, há uma complexidade que requer recursos humanos, financeiros e materiais, visto que a qualidade social dos processos educacionais e pastorais será consequência de decisões assertivas e de um bom planejamento, bem como do uso consciente desses recursos. Pensar uma Unidade/Escola em Pastoral, além de propor que os seus temas se transversalizem em projetos e ofertas de atendimento, é, também, garantir que o clima, o ambiente e os espaços respirem a simbologia e os valores maristas, e isso exige processos integrados de gestão. “Desta forma, os valores
se fazem presentes no mundo organizacional com o propósito tanto de servirem como base para a estruturação das formas de atuação e do próprio sistema de gestão quanto de tornarem o trabalho mais significativo”.117 Para uma evangelização presente na gestão é necessária uma intencionalidade interdisciplinar tanto da parte da pastoral como da própria gestão educacional da unidade. Um bom processo de formação continuada com os colaboradores que tematize frequentemente os valores institucionais, bem como por meio da vivência dos valores maristas na administração dos processos de gestão da unidade, pode fortalecer essa intencionalidade. Logo: Para que a ação pastoral seja desenvolvida de forma sistematizada e orgânica, ela deve compreender alguns requisitos: ter caráter permanente de apostolado; ser planejada de acordo com as realidades nas quais está inserida; comportar organicidade das ações, gerando sinergia e comunhão entre os organismos existentes e parceiros; gerar flexibilidade metodológica para que a criatividade e inovação ganhem espaços e permitam o respeito à diversidade; e buscar ser resposta aos sinais dos tempos.118
a) Plano de trabalho Para a organização dos processos coordenados pela pastoral da unidade, assim como é para as demais áreas, haver uma documentação que descreva com clareza o contexto, as intencionalidades, as estratégias, alinhadas aos indicadores de qualidade, é de extrema importância para a realização de bons processos. Contudo, a pastoral também precisa ter seu plano de trabalho para garantir a qualidade das suas ações, animando e colaborando com a proposta educativo-evangelizadora da unidade. GRUPO MARISTA, 2014, n. 201. GRUPO MARISTA, 2014, n. 51.
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Portanto, a gestão da pastoral demanda organização dos processos coordenados pelos(as) pastoralistas, bem como a garantia de que os valores evangélicos estejam presentes nos demais processos de gestão interdisciplinar da unidade.
O Plano de Trabalho deve concentrar todo o planejamento pastoral da unidade, configurando-se como referencial para o(a) pastoralista e como fonte de informações e referencial para o planejamento geral da unidade social. Propomos a seguinte estrutura: Marco situacional: contextos e realidades Aqui deve haver uma análise objetiva do resultado das matrizes de indicadores pastorais; análise dos registros realizados com a utilização do instrumental de transposição; apresentação dos dados das religiosidades do território, do perfil religioso das famílias atendidas e também da atuação da Igreja local no território; apresentação da configuração das pastorais sociais, movimentos e demais organizações eclesiais do território; apontar os desafios e prioridades pastorais, a partir de metodologias que forem consideradas mais convenientes (FOFA, Matriz Blue, entre outras).
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Marco operacional Aqui é o espaço para descrever a rotina e as ações; apresentar o cronograma pastoral; apresentar como se dará o processo de avaliação e monitoramento das ações e projetos pastorais, bem como os projetos de parceria; descrever como a formação pastoral estará integrada à formação continuada para os colaboradores; apresentar uma sinopse dos projetos pastorais.119 Aqui também caberá a descrição do orçamento pastoral. b) Papel do(a) pastoralista O papel do(a) pastoralista é ser, além de um(a) educador(a) por meio dos valores evangélicos e animador(a) das ações litúrgico-celebrativas, uma figura estratégica na unidade. Ele(a) tem o papel de articular os saberes pastorais de forma transversal e interdisciplinar com todas as áreas da unidade. O(A) pastoralista é o(a) responsável por animar a evangelização e articular os temas pastorais no currículo da unidade, de acordo com a oferta de A íntegra dos projetos será postada no Editor de Projetos do Sistema de Gestão das Unidades Sociais.
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atendimento. Tem papel estratégico na transversalização dos temas pastorais em todos os processos da unidade e nas ações evangelizadoras no território. A execução das ações pastorais é de responsabilidade dos(as) pastoralistas, mas conta também com a corresponsabilidade dos demais colaboradores e parceiros internos e externos. O(A) pastoralista120 tem participação fundamental na Equipe Interdisciplinar121 da Unidade para dar suporte sobre as temáticas pastorais na gestão da unidade. Além disso, precisa estar presente em outros espaços estratégicos na dinâmica interna (reuniões pedagógicas, psicossociais, administrativas, entre outras) e externa da unidade (conselhos e pastorais da Igreja local, rede socioassistencial) para fortalecer a transversalização da pastoral no currículo. c) Papel da Equipe Interdisciplinar
d) Papel da direção da unidade e da coordenação educacional São os principais responsáveis pela viabilidade das ações pastorais na unidade, uma vez que são os gestores imediatos da pastoral. Não é exigido serem especialistas em teologia pastoral, mas identificados com os valores evangélicos e com o carisma marista, a fim de articular os caminhos e contribuir na identificação de possibilidades para a atuação dos(as) pastoralistas e da ação pastoral. Algumas de nossas unidades têm o privilégio de ter irmãos que são diretores institucionais, fazendo parte da equipe interdisciplinar como uma figura canônica, de testemunho vocacional e também de contribuição na gestão pastoral. Onde há o cargo de coordenador de pastoral, será ele(a) o(a) representante na Equipe Interdisciplinar, caso contrário essa atribuição será do Assistente de Pastoral. 121 A Equipe Interdisciplinar da unidade constitui num espaço de gestão democrática e participativa da unidade com representação de todas as áreas da unidade de forma colegiada. 120
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Uma vez que a unidade é de finalidade educativa-evangelizadora, toda a pauta da Equipe Interdisciplinar perpassa pelos elementos inculturadores, temas e indicadores pastorais, direta ou indiretamente, para garantir o horizonte de uma Unidade/Escola em Pastoral. É o espaço fundamental para descentralizar as ações pastorais, disseminando a corresponsabilidade na evangelização e sensibilização de todos os colaboradores para colaborar na missão institucional, na manutenção da identidade e da espiritualidade marista.
e) Papel da coordenação pedagógica Contribui pedagogicamente para fortalecer a interface da pastoral com os educadores, abrindo acesso aos planejamentos e ao diálogo direto com a prática pedagógica, mapeando e indicando as possíveis transposições didático-pastorais. f) Papel do psicossocial É uma referência para as questões sobre o Marco Legal. Favorece a criação e a potencialização do vínculo com educandos e famílias atendidas, com o território e com a rede socioassistencial. Também é parceiro para as articulações e estratégias de incidência política no território.
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g) Papel do administrativo Favorecer uma estrutura adequada para as ações pastorais. Contribuir na integração da pastoral com os colaboradores da área administrativa e de manutenção, abrindo espaços para a formação pastoral e de identidade marista. Auxiliar na orçamentação e custeio dos recursos financeiros direcionados para a pastoral, além de ser corresponsável da evangelização sobre a perspectiva da administração. h) Papel da Pastoral Juvenil Marista Ser espaço específico de educação e aprofundamento na fé para crianças e jovens da unidade. O planejamento da PJM deve estar integrado aos processos pastorais da unidade. Os coordenadores e animadores são acompanhados tecnicamente pelos(as) pastoralistas da unidade, garantindo assim a integração local e com o Setor de Pastoral do Grupo Marista, bem como com as demais unidades maristas em que há a PJM.
i) Comissão de juventudes “As Comissões de Juventude são formadas por jovens que têm como principal desejo contribuir com a ação evangelizadora Marista na missão pastoral nas dimensões eclesiais, sociais, políticas, culturais e institucionais. Dessa forma, seus membros representam, nesse âmbito pastoral, os diferentes grupos juvenis das Unidades Maristas”.122 Cabe à pastoral da unidade a dinamização dessa estrutura e a animação dessa comissão, garantindo sua finalidade. j) Comissão Pastoral da Unidade Trata-se de um grupo representativo com colaboradores de diferentes áreas da unidade para fortalecer a corresponsabilidade pelas ações evangelizadoras e de pastoral. Sob a orientação do(a) pastoralista, esse grupo assume algumas ações e projetos pastorais e os executa, além de cultivar o estudo das temáticas de evangelização e de pastoral. k) Papel da assessoria de pastoral e dos setores provinciais
Conforme o subsídio de orientação do Setor de Pastoral do Grupo Marista: Comissões de Juventudes.
122
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A assessoria de pastoral, que integra a gerência educacional da Diretoria Executiva de Ação Social, corresponde à assessoria técnica no campo pastoral disponibilizada para as unidades sociais. Essa assessoria, por sua vez, é orientada pelos setores provinciais por meio de diretrizes e direcionamentos indicados nos documentos e políticas institucionais. Nesse sentido, a assessoria de pastoral é a força articuladora e mediadora entre os setores provinciais e as unidades no que se refere aos aspectos pastorais, vocacionais, identitários institucionais, orientando a gestão das unidades na projetualidade pastoral, na formação e na produção de conhecimento, para garantir nossa característica missionária nos territórios em que estamos inseridos.
l) Recursos e infraestrutura pastoral Como já vimos, a ação pastoral exige uma condição de trabalho para o exercício de suas ações e projetos. Para que isso aconteça, a garantia de recursos financeiros, de infraestrutura pastoral e de capacitação do capital humano e cultural de pastoralistas e corresponsáveis é fundamental para a qualidade social dos seus processos. Na ação pastoral, os recursos – humanos, econômicos, estruturais e comunicacionais – tornam-se propulsores da missão. Nossa identidade cristã deve também ser compreendida como dimensão de empreendimento, na medida em que empreendemos ações para um mundo melhor, com mais justiça e dignidade para todos.123
Seguem algumas premissas para essa qualidade:
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• Uso evangélico dos bens Trata-se da utilização dos espaços, dos recursos e dos materiais de maneira sustentável, na perspectiva da justiça social, da valorização da vida, da administração qualificada do tempo e do reconhecimento dos talentos entre os colaboradores.124 Nesse sentido, a Missão Marista se pereniza com responsabilidade e profissionalismo, sem perder seus valores e sua identidade. • Desenvolvimento e qualificação pastoral Uma vez que a pastoral alcança reconhecimento, constituindo-se numa área fundamental na gestão educativa da unidade, a formação e qualificação dos/as pastoralistas se torna imprescindível. Destaque para a formação bíblica, teológico-pastoral, eclesiológica e institucional que reforçam os aspectos identitários da evangelização marista. Além de formação nas áreas mais rotineiras da pastoral, e dos espaços de formação pastoral já oferecidos pelo Grupo Marista, cabe ao gestor da unidade, orientada pela Diretoria Executiva de Ação Social, construir um Plano de Desenvolvimento Individual para o(a) pastoralista, a fim de focar em outras necessidades formativas e de qualificação profissional. GRUPO MARISTA, 2014, n. 79. OST, Pedro. Uso evangélico dos bens. Porto Alegre: CMC, 2009. p. 18.
123 124
• Aspectos litúrgicos e estéticos É importante dar atenção a esses aspectos semióticos125 característicos da liturgia católica presente nos símbolos, demais signos e linguagens. Esses traços são parte da identidade marista que ajudam a definir nossa opção evangélica que, por sua vez, inspira nossa proposta educativa. Os quadros, as imagens, as celebrações eucarísticas, entre outros ritos, símbolos e linguagens, demarcam uma presença significativa de nosso carisma em nossas unidades e práticas, entretanto, serão mediados, introduzidos e abordados de maneira dialogal e respeitosa com educandos e colaboradores, com o território e o poder público, mas sem deixar de ser entronizados e manifestados em nossos espaços. • Orçamento Recomenda-se que a unidade resguarde no mínimo 1% ou mais do total do seu investimento anual para as ações e projetos pastorais, considerando o calendário local e as ações dos calendários da DEAS e dos setores provinciais. Parâmetros para a Ação Pastoral - Evangelização nas Unidades Sociais e Educacionais da RMS | 53
Ciência que estuda os sistemas de significação que os sujeitos dão aos signos presentes nas linguagens materiais e imateriais. 125
7.
HORIZONTES: APOSTOLADO E MISSÃO
Ao chegar ao fim deste documento, reforçamos o aspecto participativo e integrado para a construção desses parâmetros. É um documento elaborado por muitas mãos: gestores, pastoralistas, educadores, grupos de trabalho. É um trabalho que vem ganhando qualidade desde o seu primeiro esboço na primeira versão dos Parâmetros Educacionais, lançado em 2013. Trata-se de um documento em constante desenvolvimento, escrevível, em aberto, mas que tem identidade e horizonte nítidos. Outro aspecto que vale ressaltar é que este documento está muito integrado ao foco da DEAS,126 à missão do Grupo Marista127 e, por sua vez, integrado à missão do Instituto Marista. Temos a certeza de que o teor desse documento faz no mínimo uma bela tentativa de tornar concreto o apelo institucional de olhar o mundo pelo olhar de crianças e jovens.128 Por esse motivo, tem caráter apostólico e missionário: Naquele “ide” de Jesus, estão presentes os cenários e os desafios sempre a esta nova “saída” missionária. Cada cristão e cada comunidade há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho.129
Essas intencionalidades, mesmo reconhecendo as possíveis fragilidades, fazem com que não percamos de vista a mística e o profetismo que são próprios dos exemplos de Jesus Cristo e de São Marcelino Champagnat. Com essa inspiração e motivados pelo sim de Maria Boa Mãe, desejamos um bom trabalho pastoral por meio desses parâmetros, pela ação do Espírito Santo.
Ser excelência na promoção e defesa dos direitos, por meio da liderança servidora, impactando infâncias, juventudes e territórios. 127 Promover a formação de cidadãos éticos, justos e solidários, por meio da educação orientada pelos valores evangélicos, do jeito de Maria, para a transformação da sociedade (conforme o Planejamento Estratégico do Grupo Marista). 128 Conforme as Conclusões do XXI Capítulo Geral da Congregação dos Irmãos Maristas (INSTITUTO DOS IRMÃOS MARISTAS, 2009). 129 PAPA FRANCISCO, 2013, n. 20. 126
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novos da missão evangelizadora da Igreja, e hoje todos somos chamados
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