Biblioteca Interativa como espaço de promoção cultural

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© Editora Universitária Champagnat Rede Marista de Solidariedade Os projetos, os conceitos, os textos assinados e as opiniões expressas compõem esta publicação a título de contribuição ao debate e são de responsabilidade exclusiva dos autores. REPRODUÇÃO PERMITIDA, DESDE QUE CITADA A FONTE. Concepção e coordenação técnica: Diretoria Executiva de Ação Social DEAS Direção: Ir. Franki Kleberson Kucher Gerência Educacional: Viviane Aparecida da Silva Gerência de Planejamento e Administração: June Alisson Westarb Cruz Coordenação de Projetos: Vanderlúcia da Silva Produção de textos: Roberto Camargo Contribuição: Bárbara Pimpão Ferreira, Jackeline Rodrigues Gonçalves, Rosiany M. da Silva, Sérgio de Souza Barbosa, Silvia Letícia da Silva Organização: Viviane Aparecida da Silva e Paulo Fioravante Giareta Preparação de textos e revisão final: Rosane de Mello Santo Nicola, Thaisa Socher e Debora Carvalho Capella Coordenação de projeto gráfico: Felipe Machado de Souza Capa, projeto gráfico e diagramação: Likewise Fotos: acervo da Rede Marista de Solidariedade Participaram desta publicação: Educadores e educandos do Centro Educacional Ir. Acácio, Londrina (PR) e do Centro Educacional Ir. Beno, em Maringá (PR). Grupo de Trabalho de Avaliação: Aline Colucci Ariozi, Ana Paula Mantovani, Aparecida de Almeida da Silva, Beatriz Zaineldim Bezerra do Nascimento, Claudia de Souza Bueno Amorin, Danyelle Stropa Fortes, Gabriela Tofanelli, Gillys Vieira da Silva, Glaucia Quissi dos Santos, Jackeline Rodrigues Gonçalves Guerreiro, Liliane Cristina Soares Camargo, Mariane Simões Bergamo, Milene Lopes Duenha, Mirian Pastor, Patrícia Fernanda Peres Alves Batista, Rosiany Maria da Silva, Sergio de Souza Barbosa, Silvia Leticia da Silva e Talita Graciara de Freitas. www.solmarista.org.br


Sumário

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Apresentação

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Bibliotecas Maristas

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Programa Biblioteca Interativa em Londrina e Maringá

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Avaliação do projeto

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Conclusões

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Depoimento dos participantes

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Referências

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Apêndices


Biblioteca Interativa como espaço de promoção cultural

Apresentação

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A Rede Marista de Solidariedade é um conjunto de iniciativas, programas, projetos e ações que perpassam todas as áreas corporativas e de atuação do Grupo Marista, cujo objetivo é potencializar e viabilizar o capital humano, os recursos financeiros e materiais, a excelência e a presença voltadas à defesa e à promoção dos direitos de crianças e jovens bem como à educação para a solidariedade. Assim como a Instituição Marista atua em 78 países, a Rede objetiva contribuir para a promoção de uma sociedade mais justa e solidária, com a comunidade, organismos dos governos, da sociedade civil e eclesial. Está, ainda, alinhada às diretrizes da União Marista do Brasil (UMBRASIL) e da Fundação Marista para a Solidariedade Internacional (FMSI), cujos objetivos são fomentar ideias inovadoras e articular experiências globais na defesa das crianças e dos jovens em situação de vulnerabilidade social, alinhados aos organismos nacionais e internacionais. Para contribuir de forma comprometida com a construção de novos cenários para as infâncias e juventudes, a proposta socioeducativa da Rede Marista de Solidariedade contempla a formação contínua de educadores e gestores e o desenvolvimento de processos permanentes de qualificação das ações desenvolvidas com crianças e jovens, além da atuação na incidência de políticas públicas. O Programa Biblioteca Interativa, desenvolvido nos espaços socioeducativos da Rede Marista de Solidariedade, propondo a promoção cultural, o acesso à informação e à produção de conhecimento pelos educandos, educadores e comunidade, caracteriza-se como um dos processos de qualificação da ação socioeducativa da Rede.


A Rede Marista de Solidariedade, pelas ações educativas do Programa Biblioteca Interativa, desenvolvidas nos Centros Educacionais de Londrina e Maringá, no Paraná, confere materialidade aos objetivos comuns de promoção cultural, mediados pela aprovação de metas, metodologia e critérios avaliativos. Movimentos articulados ao esforço para contribuir para a qualidade de vida das comunidades. A proposta aqui sistematizada tenciona apresentar a experiência de desenvolvimento da metodologia avaliativa para os projetos do Programa Biblioteca Interativa, implementados pelo Centro Educacional Marista Ir. Acácio, em Londrina, e pelo Centro Educacional Marista Ir. Beno.

Rede Marista de Solidariedade

Boa leitura!

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Bibliotecas Maristas

As bibliotecas, considerando o contexto e as demandas da atualidade social e educacional, são convidadas a transcender sua conceituação convencional para além de locais de promoção intelectual e acesso a artefatos culturais, compreendendo-se como locais de produção e significação cultural. A Rede Marista de Solidariedade reconhece as bibliotecas como espaços aliados da escola e da comunidade, locais privilegiados para o incentivo à leitura, à produção cultural e ao desenvolvimento humano. Por essa razão, busca fortalecer as bibliotecas com projetos que promovam o protagonismo e potencializem a formação integral dos sujeitos. Assim, o Programa Biblioteca Interativa se identifica com o desenvolvimento de ações culturais nas bibliotecas Maristas, pautadas em referenciais teóricos que fundamentem a proposta socioeducativa desenvolvida nas comunidades em que as bibliotecas estão inseridas.

Pressupostos da Educação Marista O Instituto Marista teve sua origem na França, em 1817, com o Padre Marcelino Champagnat, tendo como missão evangelizar, pela educação, crianças e jovens de seu tempo. É possível afirmar que a referida missão se aporta na experiência do Padre Champagnat diante da morte de


Rede Marista de Solidariedade

um jovem sem acesso à leitura e à escrita. Marcelino sensibilizou-se com a situação, identificando nessa realidade a tragédia física e espiritual de toda uma geração. Essa experiência levou Champagnat a congregar pessoas com disposição de atender à missão de evangelizar crianças, adolescentes e jovens pela educação. Esse projeto culminou em uma proposta educativa ousada para seu tempo, a qual buscava substituir o rigor da disciplina punitiva pela pedagogia da presença, do cuidado e do amor. Por sua iniciativa, muitas escolas introduziram em seu currículo práticas artísticas, esportivas e métodos inovadores de alfabetização. Seus esforços e ideais pela educação espalharam-se rapidamente, formando uma das maiores instituições educacionais do mundo. Atualmente, o Instituto Marista está presente em mais de 78 países, nos cinco continentes, com uma proposta multicultural que respeita a diversidade e valoriza o contexto local. No Brasil, os Maristas vêm contribuindo para a educação há mais de 100 anos. Sua atuação é fortemente comprometida com a proteção integral e a garantia de direitos de crianças e adolescentes. Pedagogicamente, a ação educativa Marista segue os pressupostos do fortalecimento da autonomia de aprendizagem, contribuindo para o protagonismo infantojuvenil, ou seja, tendo a participação como princípio educativo. A proposta educativa Marista considera a participação um pressuposto essencial, à medida que reconhece que os cenários coletivos se constroem com a afirmação das identidades, o fortalecimento dos vínculos sociais e o engajamento das pessoas. No entanto, mais do que pressupor a participação como estratégia, afirma ser necessário reconhecê-la como direito fundamental, considerando cada indivíduo como ator social e sujeito pleno de direitos. Esse reconhecimento influi diretamente no modo como os centros sociais e educacionais se organizam na Rede Marista de Solidariedade. O horizonte que se vislumbra nesse aspecto é de pessoas com autonomia para decidir seus objetivos, planejar, agir e avaliar suas ações. Culturalmente, no entanto, nossa sociedade tende a tratar crianças e adolescentes na perspectiva do vir a ser, deixando muitas vezes de assegurar-lhes a participação nos espaços familiares, sociais e políticos. Por isso o esforço da instituição em propor e estabelecer, ela mesma, relações dialógicas e horizontais, especialmente nos espaços socioeducativos.

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Assim, é possível identificar o olhar institucional fundamentado em perspectivas teórico-metodológicas como a freireana1, contemplando a infância e a juventude como etapa imprescindível da construção social, na qual o homem é o sujeito de sua própria história. Essa concepção caracteriza a própria relação que a instituição estabelece com seu público, refletindo os fundamentos da ação Marista, especialmente pelo respeito à diversidade cultural e religiosa e às diferentes composições familiares. Um evidente contraponto a olhares tradicionalistas que rejeitam e discriminam modelos não adaptados aos padrões sociais. A instituição, a partir dessa fundamentação, acolhe cada criança na percepção de que está tratando com um ser integral, dotado de uma constituição física e psicológica, uma dimensão espiritual e um patrimônio cultural e familiar que, em conjunto, compõem a base de seu desenvolvimento social. São sujeitos históricos, com potenciais para contribuir com a construção de uma sociedade justa e solidária. Assim, a proposta educativa Marista se caracteriza por princípios como a pedagogia da presença, que transcende à proximidade física ao valorizar o afeto, o exemplo e a cumplicidade do educador. A acolhida às crianças e aos adolescentes tem como fundamento a aceitação e a empatia, o que demonstra atenção e desejo sincero de convivência solidária. O espaço também é acolhedor, à medida que faz o educando sentir-se amado e respeitado em sua individualidade. Por fim, a escuta sensível, que revela atenção, respeito e valorização. Escutar sensivelmente é ouvir sem preconceitos e refletir sobre o que se ouve, para mais bem educar. E, nesse processo de convivência educativa, o exemplo e a mediação ensinam a criança a também escutar o outro, respeitá-lo e valorizá-lo. A ação educativa, portanto, concretiza-se pelo investimento na proteção, na garantia de liberdade e no desenvolvimento da autonomia da criança, conduzindo-a afetuosamente por um percurso formativo do qual ela participa de forma ativa. Daí a importância do trabalho junto às famílias, que, aliado à parceria com o poder público, constitui meio de se promover o acesso a direitos, de fortalecer vínculos e de estimular a consciência crítica de cidadãos. A Instituição Marista concebe a criança e o adolescente como seres capazes de produzir ideias, cultura, objetos concretos e simbólicos; de desenvolver sentimentos válidos por toda a vida; de 1

A perspectiva freireana refere-se à abordagem pedagógica aportada na obra do educador Paulo Freire, que defende a educação como prática libertadora, progressista e promotora de autonomia. A abordagem freireana preconiza a ação educativa como prática sociocultural, portanto, política, caracterizando o desenvolvimento dos sujeitos pela interação entre eles e deles com a prática social.


questionar a realidade que os cerca e a que está distante no tempo e no espaço; de produzir significados sobre si, sobre o outro e sobre o mundo. As interações, ou seja, as relações consigo mesmo ou com outras pessoas, em situações e objetivos diversos, os pensamentos e as sensações que experimentam, adquirem aspecto transcendente, que ultrapassa os limites da existência, estabelecendo as possibilidades de ampliação e aprimoramento das capacidades inerentes ao ser humano. Nesse sentido, demanda que a biblioteca responda como espaço vivo, assumindo o papel de despertar e trazer prazer nas muitas descobertas realizadas pelo mundo da leitura.

Programa Biblioteca Interativa

As bibliotecas interativas Maristas são espaços abertos aos educandos, aos educadores e à comunidade, nos quais acontecem projetos voltados para a informação, a promoção cultural e a produção de conhecimento. Com um amplo acervo de livros, revistas, entre outras publicações, as bibliotecas oferecem acesso à informação, propiciam a inclusão digital e viabilizam a exposição e a produção cultural. De 2007 a 2010, o Programa, a partir da experiência desenvolvida em Londrina e Maringá, realizou aproximadamente 221.800 atendimentos. O acervo de qualidade, o acesso à tecnologia e as ações culturais direcionadas à comunidade por essas bibliotecas contribuem para o desenvolvimento de valores humanos e de cidadania, propiciando a interação com fontes de informação, bens culturais e construção de novos conhecimentos. As bibliotecas interativas Maristas sempre tiveram como tônica a garantia de direitos, figurando como bibliotecas de acesso público a toda a comunidade em que estão inseridas. Para garantir o acesso à informação, direito de toda pessoa, dão significação à informação oferecida por meio de ações que propiciam a reflexão e a criação de novas informações e conhecimentos.

Rede Marista de Solidariedade

A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não pode prescindir da continuidade da leitura daquele [...] O ato de ler o mundo implica uma leitura dentro e fora de mim. Implica na relação que eu tenho com esse mundo (FREIRE, 1985).

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Assim, deixam de ser um espaço apenas de recebimento de leitores e tornam-se um espaço ativo de partilha e de ação cultural. Algumas linhas de atuação da biblioteca interativa: -

atendimento a crianças, adolescentes e comunidade para consulta do acervo; mediação da aprendizagem por meio de diferentes linguagens; desenvolvimento de projetos que despertem o prazer da leitura e da interação com o livro; promoção do acesso à rede de informação;

Orientações São orientações para a realização de projetos nas bibliotecas2: a. b. c. d. e. f. g. h. i. j. k. l. 2

realizar diagnóstico e análise das características do público atendido; considerar a participação das pessoas que utilizam a biblioteca na elaboração dos projetos desenvolvidos; propor estratégias de incentivo à leitura, contação de histórias e inclusão digital; identificar temáticas relacionadas ao contexto e de relevância social e cultural; elaborar critérios e indicadores de avaliação do Projeto que permitam visualizar se os objetivos propostos foram alcançados; planejar um cronograma das atividades e divulgar em espaço acessível a todos; organizar o tempo e o espaço para os atendimentos e os recursos disponíveis: humanos, tecnológicos, eletrônicos, audiovisuais e pedagógicos; realizar a formação de mediadores de leitura; organizar atividades interativas e lúdicas em espaço acolhedor e prazeroso; garantir o intercâmbio dos repertórios culturais entre educadores e educandos, com interdisciplinaridade; fortalecer a mediação com rodas de conversa e histórias; promover interação com materiais em diferentes linguagens.

Essas orientações foram definidas coletivamente por bibliotecários, coordenadores pedagógicos e assessores da Rede Marista de Solidariedade.


O Programa Biblioteca Interativa nasce da convicção quanto ao valor da leitura e do desejo de incentivá-la e promovê-la fortemente nos espaços socioeducativos Maristas. Mais do que uma nova proposta ou um novo projeto, trata-se de uma ação direcionada que agrega, potencializa e consolida práticas vivenciadas há bastante tempo pela instituição. Uma biblioteca interativa é uma biblioteca viva, assumindo como objetivo a formação e a transformação de pessoas. Ela mantém sua especificidade de apresentar o mundo da leitura, revestida, porém, de um caráter instigante, a um só tempo acolhedor e estimulante. Contação de histórias, mediação de leitura, jogos, dramatizações, saraus e rodas literárias são exemplos de estratégias que levam o público, especialmente as crianças, a se movimentar pelo mundo da leitura e desvendar seus encantos. A biblioteca, assim concebida, torna-se verdadeira usina cultural, e o livro, uma fonte difusora de informações, ideias, valores e experiências reais e imaginárias. O componente mais importante, no entanto, é a participação. Sem ela, não há perspectiva de ação ou interação. Assim, o Programa Biblioteca Interativa investe na sistematização de práticas cujos resultados são indicadores da motivação do público para a leitura. A consolidação de uma prática bem-sucedida, bem como sua transferência para outros contextos, deve levar em conta as especificidades de cada realidade que se pretende influenciar. Por isso, a melhor apropriação possível de se fazer das experiências que aqui vamos relatar é aquela que foca os pontos de aproximação de realidades distintas. O maior incentivo à adoção de práticas que promovem a leitura é a reação da própria pessoa a quem se propõe tal experiência. A percepção de que a prática contribui para inclusão social e emancipação, à medida que aumenta a capacidade de leitura, concorre diretamente para sua adesão à proposta de se tornar um leitor habitual e, por que não, apaixonado pelos livros. Desse modo, descrever uma metodologia de ação é mais do que buscar o aprimoramento da prática já existente. É, acima de tudo, uma tentativa de socializar uma experiência de aprendizagem, oferecendo elementos para avaliá-la, aprimorá-la e, quem sabe, transferi-la à realidade de outros grupos e comunidades.

Ação cultural nas bibliotecas Segundo a publicação Bibliotecas: centros de informação e cultura, da Rede Marista de Solidariedade (2011, p. 22-23), é possível vincular o surgimento do conceito de ação cultural à década de 1980,

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-- integração com outros espaços de informação e produção cultural.

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concomitante aos movimentos de educação popular, articulados à perspectiva pedagógica de educadores como Paulo Freire, “para quem a ação cultural é ferramenta que pode ser utilizada para a liberdade e para a quebra do silenciamento, dando às pessoas a palavra-poder”. A publicação citada possibilita, ainda, identificar os principais teóricos que trabalharam a partir desse conceito ou na própria caracterização da biblioteca como espaço da ação cultural, entre eles: Victor Flusser, Teixeira Coelho, Luiz Milanesi e Paulo Freire. As concepções estão representadas no quadro a seguir.

Quadro 1 - Síntese de concepções sobre ação cultural

Biblioteca Interativa como espaço de promoção cultural

Autores

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Ação cultural: conceitos

Paulo Freire (1982)

A ação cultural nasce do diálogo, que só é possível quando os sujeitos podem dizer a palavra — a comunicação do que pensam, sem coação, sem imposição, isto é, em um clima de liberdade. Envolve ação e reflexão. O conceito de ação cultural está ligado a dois outros conceitos: cultura do silêncio e o conceito antropológico de cultura. A ação cultural ou está a serviço da dominação — consciente ou inconscientemente por parte de seus agentes — ou está a serviço da liberdade dos homens.

Victor Flusser (1982)

A ação cultural é a transformação estrutural da biblioteca, tal como existe hoje, em uma biblioteca que participa do processo de dar a palavra ao não público. A ação cultural é emergente, libertadora e se articula em torno de três problemas: a invenção, a formulação e a criação.

Luiz Milanesi (2003)

A biblioteca, como centro de informação e convivência, só pode existir dentro da perspectiva de transformar, ir além da forma. Um acervo sem censura é uma coleção de discursos contraditórios.

Coelho Neto (1997)

O objetivo da ação cultural não é construir um tipo determinado de sociedade; mas ela não é apática, indiferente ou imobilista. A ação cultural é uma aposta conjunta. Aposta-se que o grupo se encontrará e descobrirá seus fins e seus meios.

Fonte: RMS, 2011, p. 23. (Adaptado).



Programa Biblioteca Interativa em Londrina e Maringá

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Contexto

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No contexto político e econômico do Paraná, o norte do estado — região onde se localizam o Centro Educacional Marista Ir. Acácio (Londrina) e o Centro Educacional Ir. Beno (Maringá) – figurou a partir da década de 1930 como nova fronteira de desenvolvimento, caracterizada pela extensiva derrubada de florestas e a expansão das lavouras, principalmente da cadeia produtiva do café. Esse movimento desenvolvimentista atraiu a atenção e o interesse de muitos, consolidando, progressivamente, as duas cidades-polo como importante centro político, econômico e administrativo não só do Paraná, mas também da região metropolitana da região Sul do Brasil. O referido expansionismo fundamenta a própria caracterização regional, que tem na diversidade um componente marcante na constituição do povo norte-paranaense, decorrente do elevado contingente de migração de trabalhadores rurais em busca de oportunidades, e de um fluxo imigratório, principalmente de japoneses e europeus. A região se consolidou como importante polo agroindustrial, sustentando ao longo dos anos o crescimento da produção e da renda, seguido pelo aumento da população. Com isso, a demanda por moradias, infraestrutura e serviços configura-se como um desafio permanente para gestores, especialmente dos dois centros em torno dos quais se formam as regiões metropolitanas.


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O município de Londrina, conforme dados do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2012, é o terceiro maior município da região Sul do país, com 515.707 habitantes. Os dados do IBGE (2012) possibilitam a percepção de que, em Londrina, a região norte da cidade concentra um quinto da população, constituída de moradores com pouca escolaridade e baixo índice de qualificação profissional. A questão das habitações dessa região, por exemplo, tem como dado negativo as ocupações irregulares de terrenos públicos e particulares, além do padrão das moradias, classificadas pela Secretaria Municipal de Assistência Social como subnormais. Na década de 1970, a cidade sofria uma pressão pela construção de moradias populares para acomodar o fluxo migratório e o próprio crescimento demográfico. Terras do setor norte, na periferia da cidade, antes ocupadas com lavouras de café, deram lugar a grandes conjuntos habitacionais destinados a famílias de baixa renda. Em poucos anos, estabeleceu-se uma expansão do número de moradias populares na região, acima do que o município podia oferecer de infraestrutura e serviços. Os resultados mais visíveis foram a degradação ambiental e a proliferação de moradias irregulares, o que estigmatizou toda a região, conhecida como os “cinco conjuntos”. A região norte do município, especificamente, responde pela concentração de 78 bairros, divididos em Norte A e Norte B, com uma população aproximada de 100 mil habitantes. O Centro Educacional Marista Irmão Acácio localiza-se no bairro João Paz, território denominado Norte B, que, por sua vez, engloba 38 bairros com, aproximadamente, 59.060 habitantes e 14.765 famílias, segundo dados de 2012 do IBGE. A região norte do município de Londrina se vê demandada, também, pelos desafios inerentes à consolidação de oferta educacional qualitativa. Conforme dados oficiais do governo federal, no período da implantação do Centro Educacional Marista de Londrina, 2004 e 2005, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) observado nas escolas estaduais situadas em seu entorno não ultrapassava a marca de 3,2. O índice resulta da avaliação de alunos dos últimos anos do Ensino Fundamental, a partir da capacidade de resolução de problemas matemáticos e da proficiência em leitura em língua portuguesa. Como referência, a média nacional para o mesmo período, dos alunos dos anos escolares em questão, foi de 3,9. O município, de forma geral, apresenta uma rede bem estruturada de serviços governamentais e não governamentais voltados à criança e ao adolescente. No que se refere à política de assistência social, conta com serviços de proteção social básica e especial de média e alta complexidade. Possui, ainda, três conselhos tutelares localizados nas regiões norte, sul e centro.

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Segundo diagnóstico da Secretaria Municipal de Assistência Social, a região norte da cidade apresenta considerável índice de famílias sobrevivendo com renda de trabalhos esporádicos, com baixa qualificação profissional e escolaridade. Por se tratar da maior região do município, a rede existente na localidade não responde à necessidade da população, principalmente quanto à saúde, Educação Infantil, assistência social e habitação. As três unidades de apoio socioeducativo da rede governamental e quatro de rede não governamental atendem apenas a uma pequena parcela das crianças de 7 a 14 anos. Esse cenário favorece a ocorrência de trabalho infantil, em especial, em âmbito doméstico ou no acompanhamento das atividades informais da família. O Centro Educacional Marista Ir. Acácio compõe a rede municipal de atendimento à criança e ao adolescente da região norte de Londrina, e atua desenvolvendo serviços e programas de proteção social básica no âmbito da política de assistência social e promovendo curso de aprendizagem na política de educação. As crianças e os adolescentes inseridos no Centro Educacional e suas famílias caracterizam-se por estarem em situação de vulnerabilidade social e, em grande parcela, advindos de moradias irregulares, com baixa renda e inseridos em programas municipais e federais de transferência de renda. A instituição recebe encaminhamentos das diversas estruturas da rede de serviços de Londrina – conselho tutelar, escolas, centro de referência de assistência social e de instituições que compõem a rede de proteção social básica e especial. Com a articulação da rede de serviços do município e o reconhecimento do trabalho desenvolvido pelo serviço de apoio socioeducativo e por demais programas, aliados ao reduzido número de projetos que atendem a esse público, atualmente, o Centro Educacional Marista Ir. Acácio configura-se como o principal trabalho dessa natureza em Londrina e região, conveniado com a Prefeitura Municipal de Londrina no local de atuação. O município de Maringá, por sua vez, conforme dados do censo demográfico do IBGE de 2012, possui 367.410 habitantes, compondo, com Londrina, o cenário das principais cidades do norte do Paraná e da região Sul do Brasil. O Centro Educacional Marista Ir. Beno está localizado no Jardim São Jorge, um bairro periférico da cidade de Maringá, e atende a crianças, adolescentes, familiares e comunidade do bairro. Esse bairro surgiu a partir de uma política de reorganização da cidade, dividindo a ocupação de seu espaço urbano em função das demandas das classes sociais, centrada em políticas ideologicamente higienistas.


3 Segundo dados do Sistema de Benefícios ao Cidadão da Caixa Econômica Federal (SIBEC), de agosto de 2009.

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A microrregião de Maringá, apesar dos bons índices de desenvolvimento humano, apresenta significativas demandas de investimento em políticas de combate à pobreza. Em conformidade com estudos realizados pelo Observatório das Metrópoles, vinculado à Universidade Estadual de Maringá (UEM), e com os dados do IBGE, metade da renda da população de Maringá concentra-se em 10% dos moradores do município. Concentração de renda que, progressivamente, aprofunda as relações de desigualdade ou mesmo de exclusão, com especial incidência sobre a parcela da população tida como desqualificada para o mercado de trabalho. Os dados do censo demográfico do IBGE (2000), referentes à renda familiar das pessoas que residem no bairro Jardim São Jorge, já demonstravam que 27% das famílias recebem de um a dois salários mínimos. O contexto de subemprego, informalidade, famílias numerosas e pobreza extrema fazem com que crianças e adolescentes passem a trabalhar cada vez mais cedo para contribuir com a renda familiar ou no cuidado dos irmãos mais novos para possibilitar que os seus responsáveis trabalhem. O Centro Educacional Marista Ir. Beno identifica transformações políticas, sociais e econômicas em andamento na referida região. Contudo, avalia serem transformações que em nada reduzem a demanda por uma intervenção socioeducativa com foco na formação humana integral dos atendidos. O atendimento é prestado em articulação com outros serviços e outras instituições, como: Universidade Estadual de Maringá (UEM), Pontifícia Universidade Católica do Paraná – Campus Maringá (PUCPR) e Centro Universitário de Maringá (Cesumar), além de escolas estaduais e municipais. O município conta com ampla rede de serviços, programas, projetos, instituições não governamentais e órgãos governamentais que atuam no campo socioassistencial, atendendo às demandas de idosos, crianças e adolescentes, famílias, pessoas com deficiência, capacitação profissional para jovens e adultos, além de desenvolver programas do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), como o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti). Atualmente, são atendidos 200 crianças e adolescentes do município no Peti3. Destacamos que na região onde se localiza o centro educacional, concentram-se 54% dos atendidos pelo Programa (108 crianças e adolescentes). Essa região é visivelmente caracterizada por uma crescente polarização entre setores que enriquecem com o crescimento do agronegócio e um exército de trabalhadores que movem as engre-

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nagens do sistema produtivo, com pouca compensação econômica. Conforme já mencionado, os 10% mais ricos de Maringá detêm mais da metade da renda do município. O cenário pujante de centros como Londrina e Maringá contrasta com aspectos pouco desenvolvidos, como a mobilidade social da população. Ainda que em níveis um pouco melhores do que outras regiões do país, esse indicador fica aquém do que se poderia esperar de um grande centro. Considere-se, também, o impacto da urbanização nas rotinas da população, concorrendo para a degradação da convivência familiar, inserção precoce dos jovens no mercado de trabalho, violência urbana, criminalidade e fatores de vulnerabilidade socioeconômica. Vale destacar, ainda, que a atuação Marista nas cidades de Londrina e Maringá é antiga, anterior mesmo à implantação das Unidades Educacionais. Desde a chegada da Instituição ao norte do Paraná, a preocupação predominante é promover a educação das crianças pela presença acolhedora. As ações realizadas são focadas no amplo acesso à informação como meio de produzir conhecimento de forma participativa e no incentivo à promoção da leitura, a partir de experiências lúdicas e motivadoras. Assim, seus espaços educativos demonstram, já em sua origem, a preocupação com interatividade e abertura à comunidade. E não poderia ser diferente com a concepção de biblioteca nesses ambientes. A localização, o arranjo espacial, o acervo e o atendimento são muito convidativos. Despertam o senso de pertencimento não somente nos educandos ali atendidos como também em seus familiares e em profissionais, estudantes e moradores do entorno, que têm liberdade de acesso a esse espaço educativo. Nesses espaços, a concretização do desenvolvimento da proposta socioeducativa se dá por meio de oficinas de núcleo comum: meio ambiente e cidadania, educomunicação, jogos cooperativos e informática educativa, e do núcleo específico: arte circense, artes cênicas, artes plásticas, expressão corporal e cultura e movimento. Desenvolvem-se projetos integrando essas oficinas, a partir da escuta das crianças e jovens participantes. Por considerar a participação infantojuvenil uma das marcas dessa intervenção, é válido destacar que o ano de 2009 foi marcado por um intenso envolvimento das crianças e dos adolescentes nos processos de organização e participação nas conferências regionais, municipais e estaduais de direitos da criança e do adolescente.


Figura 1 - Conferência das crianças e adolescentes – Unidade Ir. Acácio

As bibliotecas interativas de Londrina e Maringá nasceram com o objetivo de desenvolver com crianças, jovens e adultos ações sistematizadas de promoção da leitura, mediante acesso aos diversos gêneros literários. Espera-se, com esse trabalho, contribuir na formação de leitores autônomos, críticos e reflexivos, ampliando a visão de mundo e o repertório de ideias que auxiliem na capacidade de expressão verbal e escrita dessas pessoas. Nesse sentido, conforme projeto inicial, o Programa Biblioteca Interativa se estrutura a partir dos seguintes objetivos, atividades e resultados esperados:

Rede Marista de Solidariedade

Objetivos do Programa Biblioteca Interativa

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Quadro 2 - Estrutura do Programa Biblioteca Interativa Objetivos específicos Oportunizar a toda a comunidade o acesso ao livro e à literatura.

Atividades/ações 1. Desenvolver o projeto Literatura em Ação, destinado a crianças de 6 a 10 anos. 2. Desenvolver o projeto É Hora da História, para crianças de 3 a 6 anos de Centros de Educação Infantil (CEIs) da comunidade.

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3. Sarau e encontro com escritor, atividade destinada aos familiares dos educandos e à comunidade em geral.

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Capacitar adolescentes e jovens para atuarem como mediadores de leitura.

1. Capacitação de mediadores de leitura. 2. Formação e acompanhamento dos mediadores.

(Continua)

Resultados esperados Quantitativos Qualitativos - Ampliação do atendimento à comunidade e aumento do número de empréstimos de livros em 30%. - Participação e frequência das crianças nos projetos.

- Capacitação de 50 mediadores de leitura para atuação voluntária em projetos desenvolvidos na biblioteca e na comunidade. - Realização de encontros para formação e supervisão.

Inserir o livro no cotidiano das crianças e dos adolescentes.

1. Projeto Roda de Leitura. 2. Projeto Quem Conta um Conto Faz uma Cena. 3. Projeto 30 Minutos de Leitura.

- Aumentar em 30% a frequência diária dos educandos na biblioteca em busca de livros para leitura espontânea.

- Estímulo às crianças para melhoria de suas atividades escolares e convivência familiar. - Criação de vínculos e estabelecimento de outras possibilidades de aprendizagem. - Despertar o prazer de desenvolver atividade voluntária. - Melhoria no desempenho escolar dos adolescentes participantes. - Criação de vínculos comunitários. - Melhoria no desempenho escolar dos adolescentes participantes. - Redução da repetência e evasão escolar.


Quadro 2 - Estrutura do Programa Biblioteca Interativa

Estimular a criatividade, a escrita e a expressão verbal.

Atividades/ações 1. Projeto Diário de Leitura. 2. Projeto Mesa Temática. 3. Projeto Roda de Leitura.

Possibilitar, por meio de atividades lúdicas, o desenvolvimento do senso crítico, do pensar e do refletir.

1. Desenvolver o projeto Literatura em Ação, destinado a crianças de 6 a 10 anos. 2. Desenvolver o projeto É Hora da História, para crianças de 3 a 6 anos de CEIs da comunidade.

Resultados esperados Quantitativos Qualitativos - Aumento no número de empréstimo de livros. - Elaboração e produção de poemas, resenhas e outros textos.

- Ampliação do atendimento à comunidade e aumento do número de empréstimos de livros em 30%. - Participação e frequência das crianças nos projetos.

- Expressão e opinião dos educandos sobre os autores e os gêneros literários, reconhecendo-os. - O desenvolvimento do educando como sujeito-leitor. - Estimular as crianças a melhorarem em suas atividades escolares e na convivência familiar. - Melhora na relação das famílias com as crianças atendidas.

Fonte: RMS, 2011.

Participantes do projeto Os participantes do Projeto são crianças, adolescentes e familiares, moradores das cidades de Maringá e Londrina, mais especificamente dos territórios próximos aos Centros Educacionais Maristas. A maioria provém de famílias em vulnerabilidade social, com renda per capita inferior a ½ salário mínimo.

Rede Marista de Solidariedade

Objetivos específicos

(Conclusão)

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Biblioteca Interativa como espaço de promoção cultural

As características do território onde as bibliotecas estão inseridas não são muito diferentes daquelas de outros lugares do Brasil. Apresentam situações de trabalho infantil, vivência de rua, inserção precária e precoce no mercado de trabalho, violência intrafamiliar, entre outras. Os atendimentos, na prática, acabam centrados em crianças e adolescentes entre 6 e 17 anos e suas famílias, e também em crianças de 3 a 5 anos, provenientes de Centros de Educação Infantil. Em cada localidade, há uma equipe responsável pelo Projeto, formada por bibliotecário, educador social e dois estagiários, em parceria com outros educadores sociais. Esses profissionais são assessorados pelas equipes de apoio, pela coordenação-geral e pela equipe administrativa dos centros educacionais.

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Figura 2 - Espaço da biblioteca do Centro Ir. Beno e exemplo de público atendido


Estratégia de mobilização A mobilização da comunidade para a divulgação do Programa Biblioteca Interativa é realizada na rede socioassistencial local de serviços e na rede pública de ensino. O encaminhamento de pessoas pela rede que compõe o Sistema de Garantias de Direitos possibilita a ampla participação nas atividades da biblioteca por pessoas não matriculadas nos centros educacionais. A inclusão no Programa procura respeitar peculiaridades de cada participante, estimulando a plena interação nas atividades.

Papel dos educadores

Estratégias para sustentabilidade do projeto Financeiras Em Londrina, a Instituição tem convênios firmados com a Prefeitura, Programa Peti, e possui contrapartida institucional para a continuidade dos serviços oferecidos. Em Maringá, possui convênios com a Prefeitura, o Programa Peti e o ProJovem, além da contrapartida institucional para a continuidade dos serviços oferecidos.

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A formação das equipes para atuar nas bibliotecas interativas é um dos pontos fundamentais para garantir os pressupostos do Programa. Tanto um educador que já atua na instituição como alguém contratado especificamente para o Programa, o gosto pela leitura e a disposição em promovê-la de forma dinâmica e criativa precisam estar presentes. O Projeto pressupõe um educador capaz de articular as linguagens e de gerir os recursos para realizar atividades de leitura. Com isso, sensibiliza o público de diferentes formas, como, por exemplo, na caracterização de um personagem, na construção de cenários e na seleção de vídeos e músicas, visando promover a interação e mobilizar as pessoas a participarem das histórias, motivandoas à leitura dos livros.

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Técnicas A proposta metodológica utilizada no desenvolvimento dos projetos está incorporada à rotina da instituição (sendo fruto de um longo processo de construção e reflexão entre equipe pedagógica e educadores), com a característica de poder ser replicada em outras instituições.

Comunitárias O Projeto prevê interação constante com a comunidade. As formações realizadas com os mediadores de leitura (jovens voluntários da comunidade), educadores das instituições parceiras e colaboradores dos centros educacionais acontecem para formar multiplicadores e contemplam a perspectiva da garantia de convivência comunitária, na medida em que ampliam o espaço de diálogo e mediação.

Articulação e trabalho em rede

Biblioteca Interativa como espaço de promoção cultural

O trabalho desenvolvido nos centros educacionais integra e se articula com o Sistema de Garantia de Direitos, em especial as escolas, os conselhos tutelares, as instituições de atendimento à criança e ao adolescente e os centros de referência de assistência social.

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Interação com as políticas públicas O Programa prevê a articulação com as demais políticas públicas, em especial, as políticas de educação e de assistência social. O trabalho está integrado especialmente com os conselhos municipais de direitos da criança e do adolescente e os de assistência social, nos quais a instituição tem registro e representação. A representatividade da mantenedora no Conselho Estadual do Direito da Criança e do Adolescente do Paraná e em espaços nacionais, como o Fórum Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (FNDCA), garante alinhamento, atendimento às políticas públicas setoriais e transversais e participação nas discussões que afetam direta ou indiretamente os direitos de crianças e adolescentes.


Principais atividades desenvolvidas Organização dos espaços

Figura 3 - Organização do espaço da biblioteca - Ir. Beno

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A organização dos espaços da biblioteca convida à leitura no cotidiano de crianças, jovens e adultos. Para organizá-los, consideram-se as características das pessoas que frequentam as bibliotecas, favorecendo a autonomia na escolha do livro e o conforto para a leitura.

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Biblioteca Interativa como espaço de promoção cultural 26

Figura 4 - Organização do espaço da biblioteca – Ir. Acácio

Diário de leitura A proposta do diário de leitura visa sistematizar os registros e as percepções dos leitores em relação às obras lidas. É uma estratégia para convidar o leitor a registrar suas impressões, motivado pela emoção que o livro despertou. É uma pequena brochura em papel reciclado, ilustrada com desenhos de educandos. Suas páginas, bastante coloridas, trazem 20 dicas de leitura, trechos de livros e frases de autores consagrados. O diário também oferece espaços para que o leitor registre suas impressões, convidando-o a “contagiar” os outros com o prazer da leitura.


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Diário de leitura

Mônica em: Estatuto da Criança e do Adolescente - Maurício de Sousa “Eu gostei do livro porque ele traz os direitos da criança e do adolescente de uma maneira legal, em forma de gibi.” Larissa Carolina Lima de Melo, 14 anos

Trecho: “— O Estatuto diz que toda criança e adolescente têm direito à liberdade! O direito de ir e vir deve ser respeitado! [...] Toda criança tem direito de escolher sua religião.”

“É um livro de contos. O conto ‘O homem nu’ é curto, mas bem interessante e divertido, que retrata a história de um homem que tenta se esconder de um cobrador e acaba se metendo em uma enrascada.” Maria Isabela Celino dos Santos, 15 anos

Trecho: “Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para o outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento.”

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O homem nu – Fernando Sabino

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S T Q Q S S D

Macaquinho - Ronaldo Simões Coelho “Eu gostei desse livro porque ele conta a história de um macaco que não gosta de dormir em sua cama, até que seu pai descobre que ele não gosta de dormir em sua cama porque ele sente falta do pai.” Angelita Cerconé, 12 anos

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Trecho: “E, quando o pai perguntava, um dia era de vontade de fazer xixi, outro dia era medo, no outro era porque o berço estava apertado. E tudo o pai resolvia. E sempre o macaquinho estava de volta.”

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O caso da chácara chão – Domingos Pellegrini “Recomendo esse livro, pois além de retratar uma história interessante de uma família, ele comenta sobre os cuidados que podemos ter com a natureza; no caso do livro, uma simples chácara.” Maria Isabela Celino dos Santos, 15 anos

Trecho: “Estar na Chácara é bom, como diz Olga, mas melhor ainda é voltar para cá, depois do inferno, o trânsito e a barulheira da cidade, a rodovia, os cruzamentos cheios de vendedores de doces, fruta, refresco.”

20 mil léguas submarinas Julio Verne “Esse livro conta uma história muito divertida e misteriosa sobre uma viagem no fundo do mar, onde usamos muito a imaginação. É como se estivéssemos vivendo essa história.” Giovana Gil, 15 anos

Trecho: “Vários navios cruzaram com um animal longo e fosforescente, maior e mais veloz que uma baleia. As muitas versões eram semelhantes ao descrevê-lo e concordavam em relação a sua surpreendente velocidade. Ninguém sabia dizer, entretanto, de que animal se tratava. Foi enorme a curiosidade em torno desse ser descomunal.”


(continua)

100 fábulas fabulosas – Millôr Fernandes “Uma das fábulas é ‘O preço do pão’, que conta a história de uma mulher e seus filhos que suplicam para o juiz tirar o marido, pai de seus filhos, da cadeia. Ele não é um bom marido, mas sustenta a família.” Giovana Gil, 15 anos

Trecho: “— Meu senhor supremíssemo, perdoe o meu marido, cunhado do meu irmão, pai dos meus filhos, genro de meu pai. Precisamos dele. Liberte-o, pelo amor de Maomé!”

Diário de leitura Pedrinho, o menino cachorro que nunca viu criança Alan Della Bella “Esse livro marcou a minha infância, é um livro que é cheio de aventura e emoção. Foi o melhor livro que eu já li.” Wendeu Vieira, 16 anos

Trecho: “É preciso sonhar e ser forte, pois não é fácil amar. Quem ama sofre, mas se sonhar, o sofrimento é menor.”

“É um livro que nos conta como uma simples e humilde pessoa pode fazer um grande homem desistir de se suicidar. Esse é o maior motivo para eu recomendar esse livro, pois nos mostra que mesmo não tendo popularidade nem dinheiro, podemos ajudar muitas pessoas de formas diferentes.” Maria Isabela Celino dos Santos, 15 anos

Trecho: “Sem sonhos, os monstros que nos assediam, estejam eles alojados em nossa mente ou no terreno social, nos controlarão.”

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O vendedor de sonhos – Augusto Cury

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S T Q Q S S D

O homem do saco Eric Luch e Miguel Ángel Díez

O pequeno grande livro da tristeza feliz – Colin Thompson

“Eu indico esse livro porque a história do homem do saco é legal, e é para as crianças não terem mais medo.”

“Eu achei esse livro muito legal. Indico porque ele é emocionante, tem muito carinho amor e gentileza.”

William Gabriel Alves, 12 anos

“Eu gostei desse livro porque quando eu era pequena, eu tinha medo do homem do saco, e hoje em dia, não. O livro é muito legal.”

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Angelita Cercone, 12 anos

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Trecho: “— Essas crianças são terríveis, nunca vão para a cama na hora certa e não comem toda a comida. O homem do saco ficou muito contente.”

Ester Maria, 11 anos

“Indico esse livro porque a história é muito bonita. Eu gostei muito de ler.” Ketlin Leandra de Abel Pereira, 14 anos

Trecho: “Jorge vivia sozinho com sua avó, e com um vazio no qual seus pais deveriam estar.”

Comédias para se ler na escola – Luiz Fernando Veríssimo “Na escola, eu estudei o conto ‘Suflê de chuchu’ e achei muito legal. Ele mostra que a mãe da menina faz de tudo para que ela volte, mas ela não volta.” Larissa Carolina Lima de Melo, 14 anos

Trecho: “A mãe imaginando o pior. Casais intoxicados. Jantar em Paris acaba no hospital. Brasileira presa. Prato selvagem enluta famílias. Receita infernal a mãe trabalhadora clandestina. Interpol mobilizada.”


(continua)

O violinista – Colin Thompson “As ilustrações desse livro são muito bonitas, o autor se expressa, através do texto e das imagens, de uma maneira que normalmente não encontramos em outros livros. Eu não só li esse livro como também participei de uma vivência como mediadora de leitura com as educadoras da biblioteca.”

Diário de leitura

Às vezes o amor está onde menos se espera Colin Thompson “Como o título diz, o livro mostra a todos que podemos encontrar o amor onde menos esperamos.” Nayara Gabrielle, 13 anos

Trecho: “Kevin amava tanto Bruno, que achava que ele era Deus. Todo dia, quando Bruno chegava do trabalho, Kevin era o primeiro a cumprimentá-lo. Ele o olhava cheio de amor e abanava o rabo.”

Trecho: “O mundo inteiro mergulhou fundo na música. Ela envolveu a todos em seus braços. A plateia, hipnotizada pelo violino solitário, prendeu a respiração, encantada. Oscar também estava encantado. Finalmente seu sonho tinha se realizado. Se ao menos Marieta pudesse vê-lo [...]”

Pai, todos os animais soltam pum? Ilan Brenman “Eu gostei da curiosidade de Laura; ela é igual a mim, muito curiosa.” Heloara Vitória Chagas, 11 anos

Trecho: “Laura já havia crescido, e sua curiosidade era cada vez maior. — Pai, todos os animais soltam pum?”

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Larissa Carolina Lima de Melo, 14 anos

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S T Q Q S S D

O caminho para a distância – Vinicius de Moraes “É um livro cheio de poemas, eu gostei muito. Os poemas são lindos e muito legais; alguns falam do céu, das estrelas [...] é muito legal.” Ester Maria, 11 anos

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Trecho: “O grilo é um coração pulsando no sono do espaço / E as folhas farfalham um murmúrio de coisas passadas / Devagarinho [...]”

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A bruxinha curiosa – Lieve Baeten

A vida curta e incrivelmente feliz de Riley Colin Thompson e Amy Lissiat

“Eu gostei muito do título da história que a bruxa era inteligente.”

“Achei muito legal o livro, a história é linda e tocante, gostei muito do fato de eles terem muitos filhos!”

William Gabriel Alves, 12 anos

“Gostei muito dos desenhos e da história.” Julio Cesar B. Santos de Jesus, 12 anos

“Achei essa bruxinha realmente muito inteligente, gostei bastante.” Heloara Vitória Chagas, 11 anos

Trecho: “O sol se pôs e a lua está nascendo. É nessa hora que todas as bruxas ficam bem despertas.”

Giovana dos Santos, 12 anos

Trecho: “E uma das bobagens da vida é que as pessoas que passam tanto tempo sem comer o que realmente querem, em lugares onde não querem estar, com gente de quem não gostam, realmente vivem muito tempo. Enquanto Riley, que passa o tempo todo comendo só o que gosta, em seu lugar preferido, com seus amigos favoritos, tem a vida tão curta.”


Diário de leitura

O príncipe sem sonhos – Márcio Vassallo

Sentimento do mundo Carlos Drummond de Andrade

“É uma história emocionante, fala de um príncipe que não tinha sonhos.”

“Eu gosto muito de poesias, e as poesias desse livro são muito bonitas.”

Rafaela Domingues Soares, 11 anos

Julio Cesar B. dos Santos de Jesus, 12 anos

“Esse livro ensina as crianças a sonhar e nunca deixar de acreditar nos sonhos.”

Trecho: “Tristeza de comprar um beijo / como quem compra jornal. / Os que amam sem amor / não terão o reino dos céus.”

Nayara Gabrielle, 13 anos

Trecho: “Não diga que o céu está sem estrelas só porque às vezes você não as enxerga.”

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(conclusão)

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Mesas temáticas

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São atividades que utilizam as artes visuais para produzir e expor no ambiente da biblioteca objetos que retratam uma obra em particular, o conjunto de obras de um autor ou o universo de um gênero literário específico. Assim, o participante é atraído para o tema da exposição cada vez que visita a biblioteca. A turma de artes plásticas prepara o espaço e expõe novas aquisições para dar mais visibilidade às obras pouco conhecidas pelos usuários daquela comunidade.

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Figura 5 - Mesa temática – Ir. Beno


Contação de histórias É um momento especial e valorizado, em que o educador utiliza-se de recursos variados para aproximar a criança do livro escolhido. Essa atividade acontece às sextas-feiras e visa despertar o gosto pela leitura em crianças e adolescentes por meio da contação de histórias com mediação de

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Figura 6 - Mesa temática – Ir. Acácio

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leitura. Nesses momentos, percebem-se crianças brincando de ler, antes mesmo de estarem alfabetizadas, antecipando-se ao desenvolvimento da leitura formal.

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Figura 7 - Contação de história – Ir. Beno


Formação de mediadores de leitura Consiste em formar multiplicadores dispostos a realizar voluntariamente a mediação de leitura na comunidade. Despertar nesses jovens, que já descobriram o prazer de ler, a emoção e o valor de incentivar que outros aprendam a gostar de ler pode contribuir para tornar o Programa sustentável. A formação de mediadores de leitura acontece semanalmente.

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Figura 8 - Contação de história – Ir. Acácio

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Figura 9 - Formação de mediadores de leitura – Ir. Acácio

Rodas literárias As rodas literárias são ações que agregam o lúdico às práticas educomunicativas. Grupos de crianças ou de jovens se reúnem na biblioteca e interpretam uma obra a partir de variados estímulos que remetem a ela. Por exemplo, sua representação em teatro de fantoches, uma música ou um vídeo inerente à temática do livro. São distribuídos exemplares da obra e os participantes fazem a leitura em roda, de uma parte ou de todo o texto. No fim, a equipe da biblioteca atende aos que demonstram interesse em emprestar os livros. Essa atividade acontece em parceria entre a Oficina de Educomunicação e os educandos matriculados nos centros educacionais.


Quem conta um conto faz uma cena

Figura 10 - Quem conta um conto faz uma cena – Ir. Acácio

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Essa atividade estimula a leitura entre aqueles que se dedicam às artes cênicas. Embora a produção teatral comece a partir de um texto literário, muitas vezes, a representação não revela necessariamente a obra que lhe deu origem. Nessa prática, busca-se envolver os adolescentes na adaptação teatral de uma produção literária, fazendo-os trilhar inteiramente esse percurso, desde a seleção do texto. Escolhido o conto, todos se dedicam à leitura por um prazo combinado e, posteriormente, compartilham suas impressões da forma mais rica que puderem, visando à construção de um enredo e de personagens. A montagem constitui, assim, a etapa final de uma experiência de leitura que desencadeia um processo de criação, o qual, por sua vez, realimenta a busca de novas ideias na fonte literária. A obra é proposta como elemento central, seja um conto, uma crônica, um romance ou uma poesia. Desse modo, alcança uma produção de sentido para aquilo que representa, o que se torna muito maior do que propriamente assimilar as técnicas de produção teatral. A atividade é desenvolvida em parceria com a Oficina de Artes Cênicas. São realizados encontros a cada três semanas para leitura de textos curtos como crônicas, contos e outros da dramaturgia.

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30 minutos de leitura

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Essa atividade surgiu para interromper momentaneamente as atividades cotidianas do centro educacional e dedicar-se exclusivamente à leitura. Os educadores indicam previamente alguns títulos, autores ou gêneros que tenham boas chances de atrair o interesse de seus educandos, e estimulam a adesão à proposta. Quinzenalmente, acontecem duas paradas de 30 minutos para leitura: uma matutina e outra vespertina.

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Figura 11 - 30 minutos de leitura – Ir. Beno


Cine biblioteca interativa

Figura 12 - Cine biblioteca interativa – Ir. Acácio

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Essa atividade consiste em sessões bimestrais de cinema nas quais a comunidade assiste a um filme e conversa sobre ele. Educadores fazem a mediação entre as ideias surgidas e filmes e leituras possíveis.

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Saraus literários

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Atividades desenvolvidas bimestralmente envolvendo educandos, educadores e comunidade. Os saraus contam com várias atividades de leitura, contação de história, teatros de bonecos, declamações de poesia, leitura em grupo, reflexão sobre letras de músicas etc.

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Figura 13 - Sarau literário – Ir. Acácio



Avaliação do projeto

A avaliação, na maioria das vezes, parece apresentar-se como prática vinculada a critérios e parâmetros, razão pela qual é vista como uma medida burocrática e dissociada do idealismo requerido pela ação. Contudo, faz-se pertinente reconhecê-la como parte dos projetos socioeducativos e culturais, possibilitando a verificação do alcance de sua intervenção para redirecioná-la e melhorá-la. As reflexões que precipitaram a proposta de avaliação do Programa Biblioteca Interativa, na experiência dos Centros Educacionais Maristas de Londrina e Maringá, pautaram-se nas concepções sobre a ação cultural descritas no primeiro capítulo. Contribuir para a formação de leitores é o resultado esperado nos participantes convidados à leitura. Descobrir e conhecer minimamente os percursos traçados por eles na aproximação com a leitura será sempre o desafio dos educadores. Por isso, a proposta de avaliação não poderia ser fechada unicamente em critérios objetivos, deve-se considerar uma escuta sensível aos depoimentos e às manifestações de entusiasmo dos participantes das atividades.

Metodologia Pautadas pela pergunta central: em que medida as bibliotecas ampliaram o interesse e o acesso à leitura e às ações culturais desenvolvidas?, as equipes do Centro Educacional Ir. Acácio e Centro Educacional Ir. Beno constituíram dois grupos de trabalho a fim de criar uma metodologia participativa


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de avaliação. O propósito seria investigar os elementos facilitadores e dificultadores para o alcance dos objetivos do Projeto. A busca pela resposta à questão inicial vincula os referidos centros educacionais ao próprio movimento institucional – Rede Marista de Solidaridariedade –, que revê seus modelos de gestão e propõe avaliações e monitoramentos que possibilitam retroalimentar seus planejamentos e promover a formação das equipes. Esse movimento favorece um olhar diferenciado sobre práticas de avaliação, incorporando a aprendizagem desencadeada pela experiência durante o desenvolvimento dos projetos.

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Síntese do caminho metodológico da avaliação Sentidos e utilidade da Avaliação O que precisamos saber? Construção de perguntas de avaliação/ monitoramento

A que sujeitos queremos influenciar? Com quem queremos partilhar saberes? A quem queremos mostrar resultados?

O que nos ajuda a compreender a realidade?

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Construção/seleção de indicadores

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Qual é a melhor forma de pesquisar? Escolha de fontes e formas de coletar dados e informações

Como ajudar as pessoas e a organização a aprender? Como analisar, organizar e publicar as informações

Como criar e manter um processo de comunicação vivo e ativo?

De que maneira a avaliação ajuda a organização como um todo?


A primeira etapa do trabalho foi pautada pela aproximação das equipes por ela compreender os elementos constitutivos de um processo avaliativo. E ainda, o esforço coletivo para aprofundar o entendimento sobre o conceito de avaliação educadora enquanto proposta avaliativa que não se restringe à verificação de resultados alcançados, mas incorpora a possibilidade de aprendizagem, pelo envolvimento dos participantes:

Nesse sentido, a concepção de avaliação norteadora do trabalho teve caráter mais formativo que utilitarista, à medida que considera avaliar como aprender para mudar, ou seja, apropriar-se da realidade para nela intervir. As leituras e os estudos de textos previamente indicados (BONDIA, 2002; BRANDÃO; SILVA, 2009) estimularam os educadores participantes dos dois grupos a refletir em sobre suas práticas educativas, buscando elucidar os questionamentos a serem levantados com o processo de avaliação. Os dois grupos tomaram a experiência com o propósito de buscar efetividade e, ao mesmo tempo, realizá-la de forma prazerosa. Os indicadores4 surgiram como uma construção intencional e participativa.

Apresentação do percurso de construção da matriz avaliativa O primeiro encontro para a formação de cada grupo avaliador se deu com a apresentação da proposta da consultoria, que foi alinhada antes disso com os objetivos institucionais. Para esse en4

Indicadores são, neste caso, dados mensuráveis que funcionam como dispositivos avaliativos, capazes de responder às perguntas propostas para a avaliação e o acompanhamento do processo.

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Significa observar profundamente a ação em si, suas limitações e suas forças, bem como construir um olhar sobre as consequências do que se faz. Percebe-se como se pode ir bem além do cumprimento de objetivos? Significa questionar-se a respeito do que a prática do sujeito produz no mundo, nas outras pessoas, na natureza e no próprio indivíduo que a realiza. O desafio para um denso e sério processo de olhar crítico sobre sua ação no mundo está na possibilidade de observarmos a nós próprios ao invés de olharmos apenas para a responsabilidade do outro (BRANDÃO; SILVA, 2009, p. 3).

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contro, foram indicados dois textos introdutórios: Os quatro elementos da avaliação e avaliação educadora (BRANDÃO; SILVA, 2009). Com o objetivo de favorecer um olhar diferenciado das equipes sobre práticas de avaliação, a formação possibilitou ao grupo perguntar, questionar sobre suas práticas, pensar em indicadores e elaborar instrumentos para subsidiar a avaliação. A conversa inicial foi realizada em torno de perguntas centrais trazidas pelos mediadores para iniciar as reflexões e construções: Quais questionamentos devem ser respondidos nesse processo de avaliação? E as perguntas do grupo: que produto se espera da avaliação? Como deixar a avaliação mais prazerosa, contemplando os olhares de todos os envolvidos e a subjetividade? Em subgrupos, discutiu-se sobre as ações realizadas nas bibliotecas, pensando nas perguntas que poderiam ser respondidas e em novos questionamentos sobre o que ainda se queria saber sobre o Programa. Por fim, havia perguntas que contemplavam: o quê? A fim de entender o que se queria avaliar. Com quem? Relacionando os envolvidos (educadores, educandos e comunidade). Como? Criando um instrumental específico. Para quem? Para os financiadores, a equipe gestora e a comunidade. Para quê? Melhorar resultados. A partir desses questionamentos, foi possível pensar em uma matriz avaliativa, considerando os indicadores a serem avaliados para obter as informações desejadas. Para tanto, as perguntas geradas foram classificadas e ordenadas em quatro categorias:

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1. Estrutura (sobre os recursos). 2. Processo (metodologia). 3. Resultados (a partir dos objetivos). 4. Impacto (sobre possibilidades de ações futuras). As respostas a essas perguntas seriam quantitativas e qualitativas, considerando percepções, leituras diferenciadas de situações, olhares detalhados. Foi necessário um olhar bastante cuidadoso para as perguntas formuladas, dando-lhes objetividade. Nesse encontro, foram sugeridas algumas fontes de informação e técnicas de coleta, depois aprimoradas no segundo encontro. Nesse encontro, houve a fundamentação teórica sobre conceitos tradicionais e inovadores em avaliação: complexidade dos modelos, possibilidade de se fazer avaliação sem ser especialista, risco de uma avaliação parcial que afete as decisões, uma vez que avaliar implica gerar informações para direcionar o planejamento.


Ideias emergentes sobre avaliação surgiram no grupo em dois sentidos: identificar as possibilidades de construção de uma matriz avaliativa que considere a construção de saberes e reduzir a complexidade do processo avaliativo, instrumentalizando a tomada de decisões que considere os aspectos quantitativos e qualitativos da avaliação. Constatou-se que avaliar é saber perguntar, para que as respostas possam realmente nortear o processo, oferecendo pistas sobre sua funcionalidade. Isso exige sensibilidade e postura de abertura para a construção de conhecimento. O alinhamento de conceitos sobre avaliação, matrizes avaliativas e técnicas de coleta de dados foi a temática desse encontro. Surgiram também as dificuldades do grupo em entender e elaborar as melhores perguntas para contemplar os vários aspectos da avaliação. Um exercício com grupo focal exemplificou e permitiu à equipe se apropriar mais de métodos qualitativos de pesquisa. A discussão dos referenciais foi essencial para compreender a amplitude de uma avaliação, dada a diversidade de modelos, suas implicações em processos decisórios e a possibilidade de contribuição de todas as pessoas envolvidas na ação avaliada. Com a formação, os educadores entenderam que a finalidade principal de uma avaliação é oferecer elementos para decisões, como: manter ou modificar processos, incluir ou reelaborar ações, concentrar ou realocar recursos. Somente assim a ação avaliativa contribui para maximizar resultados e disseminar boas práticas.

As avaliações qualitativas são realizadas a partir de um roteiro preestabelecido, mas sujeito a mudanças, assim como o próprio curso do Projeto, e isso acontece a partir de acordos entre o condutor do processo e os participantes, que ajudam a direcionar o percurso avaliativo a partir do relato de suas experiências em relação ao Projeto. Esse método oferece informações que não necessariamente são numéricas, mas que instrumentalizam o planejamento. Com o grupo focal e as discussões realizadas sobre ele, é possível identificar que coleta e análise estão unidas e que a flexibilidade é necessária, pois, ao enxergar uma necessidade emergente, a ação pode ser mais assertiva. As técnicas de coleta são diversas e devem ser utilizadas a partir da

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Fontes e técnicas de coleta de dados

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percepção dos condutores do processo sobre a necessidade de cada grupo, podendo acontecer por meio de rodas de conversa, grupos focais, questionários, entrevistas, dentre outros procedimentos. O registro da avaliação qualitativa é importante e deve acontecer de forma escrita no momento da conversa entre o condutor do processo e as pessoas do grupo e, se possível, com a gravação e a transcrição do diálogo para análise posterior. As pessoas que participam desse momento devem ser informadas sobre essas formas de registro para que haja consenso sobre sua utilização. A qualidade do registro determinará a fidelidade das informações e, consequentemente, a direção do olhar para o processo. Esse método, porém, não desconsidera a possibilidade de conter as impressões das pessoas envolvidas na condução da avaliação e na análise dessas informações. No processo avaliativo desenvolvido para o Programa Biblioteca Interativa, especificamente nos projetos desenvolvidos nos centros educacionais de Londrina e Maringá, os grupos focais, as entrevistas e as rodas de conversa tiveram dois tipos de registros: o sonoro, posteriormente transcrito, e o escrito, realizado por um observador escalado para cada coleta de informações. Com os educandos, as opções de técnica avaliativa foram a observação, a escuta e as entrevistas. Com os educadores, foram realizados grupos focais, técnica mais indicada para identificar sentimentos, ideias e atitudes em relação à questão proposta. Um último aspecto classificado na matriz como relativo aos processos foi a relação de distanciamento ou aproximação das comunidades com as bibliotecas. Rodas de conversa foram escolhidas para criar um ambiente mais livre e informal, e o registro das percepções dos participantes quanto à relação próxima ou distante das comunidades com a biblioteca serviu como indicador. Coube, ainda, aferir o desenvolvimento dos educandos e o impacto da ação, aqui com um marcante caráter subjetivo dos indicadores propostos, por exemplo: os níveis de participação, a argumentação e as relações estabelecidas pelos educandos com os outros e com o espaço físico.

Grupo focal A técnica do grupo focal é utilizada para alcançar profundidade nas respostas, explorando a sinergia do grupo. Para Caplan (apud DIAS, 2000, p. 144), os grupos focais são “pequenos grupos de pessoas reunidos para avaliar conceitos ou identificar problemas”. É uma técnica muito utilizada em pesquisas qualitativas, que pode ser usada com outras técnicas para aprofundar um tema. Nos grupos focais, o papel dos mediadores é essencial para se chegar a um bom resultado. Eles procu-


ram ser habilidosos para estimular os participantes a falarem na “medida certa”, sem monopolizar, mas também sem intimidar.

Os educandos e educadores no processo de avaliação Roteiro geral Maringá Perguntas Em que medida os registros contribuem para uma prática pedagógica reflexiva? Em que medida as ações do Projeto Biblioteca Interativa atendem às expectativas dos educadores? Em que medida o Projeto Biblioteca Interativa contribui para o desenvolvimento consciente e crítico dos educadores e educandos?

Orientações gerais Apresentações de todos os integrantes da roda. Aviso de que haverá a gravação em áudio. Pedir que durante a conversa os telefones celulares fiquem desligados ou no modo silencioso. Estabelecer outros combinados que julgar necessário na roda.

Perguntas Qual imagem você tem das bibliotecas em geral? Que relação você estabeleceu com a biblioteca interativa no decorrer deste ano? Quantos empréstimos você fez durante este ano? Que gênero literário mais gosta de ler? Quais as facilidades/dificuldades em fazer empréstimos e usar as dependências físicas da biblioteca? Quantas vezes por semana você faz uso da biblioteca? Em que ocasião você mais se utiliza da biblioteca? Em sua opinião, o que é mais interessante na biblioteca? Em sua opinião, o que é mais desinteressante na biblioteca? Como foi sua adesão e participação nas atividades da biblioteca durante este ano? O que dificulta sua participação e adesão nas atividades da biblioteca? Em sua opinião, qual o papel da biblioteca no centro educacional?

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Você acredita que a biblioteca vem contribuindo com o Centro Educacional Ir. Acácio? De que forma? As ações da biblioteca contribuem para um desenvolvimento crítico e consciente dos educandos/ educadores? Em que medida os registros contribuem para uma prática pedagógica reflexiva?

Roteiro geral Londrina 1. Breve explicação sobre a roda de conversa (grupo focal). 2. Pedir autorização do grupo para gravar o que será discutido. 3. Apresentação das pessoas.

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Orientações gerais

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Perguntas Qual imagem vocês têm das bibliotecas em geral? Em seu ponto de vista, em que a biblioteca interativa difere de outras que vocês conhecem? O que vocês acham mais interessante na biblioteca interativa? E menos interessante? Vocês fazem empréstimos na biblioteca? Se sim, com que frequência? O que vocês mais gostam de fazer quando participam das atividades da biblioteca interativa? O que poderia ser mudado na biblioteca para contribuir com a melhoria do atendimento e das atividades? Gostariam de acrescentar algo a esta conversa?

Algumas pistas para a ação em Londrina Relatos sobre a imagem da biblioteca em geral: um lugar de conhecimento, informação e leitura, onde há muitas prateleiras cheias de livros, uma pessoa que fica cuidando dos livros e que sempre é mal-humorada, séria. Parece velório, onde estão pessoas mal-humoradas, tem um clima pesado e é um ambiente aonde dificilmente se vai por prazer. Lugar de livros velhos, onde só vão para pegar livros, com foco definido. Por outro lado, também houve relato de que se tem a imagem da biblioteca como um lugar gostoso e prazeroso. Outra impressão é a de um lugar de silêncio total, lugar sério. Alguns relataram


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que, na infância, nunca foram estimulados a frequentar uma biblioteca, e quando iam, o funcionário era uma pessoa séria, então, pegavam o livro e iam embora, pois parecia ser um lugar frio. Ainda outra percepção é que a biblioteca é onde se guardam coisas velhas e atualmente a biblioteca é o último lugar para se pesquisar, pois com a internet ficou bem mais fácil fazer as pesquisas. Outro relato foi que a biblioteca é um lugar onde se fica muito sozinho. Relataram também que nunca acham o que procuram, nunca há alguém para auxiliar a procurar o material de que precisam; é um lugar onde não se pode fazer nada. Disseram que as regras são muito complicadas e tornam difícil o acesso ao material das bibliotecas. Outra indagação foi sobre a frequência na biblioteca: relataram que só vão por obrigação, não gostam de ler e que preferem ir a livrarias em vez de frequentar uma biblioteca. Quando vão, têm muita dificuldade para achar o material de que precisam. Disseram que as bibliotecas não têm material atualizado, falta muito material, dificultando as pesquisas. Relataram a facilidade em pesquisar na internet, o prazer em comprar um livro nas livrarias, pois o ambiente é aconchegante, acolhedor e atrativo. Comentaram que na biblioteca faltam atrativos para chamar o público. Descreveram a biblioteca como um ambiente muito formal, enquanto as livrarias são ambientes gostosos. Biblioteca remete a lugar empoeirado, problema com acessibilidade, falta de atendimento mais pessoal, alguém que ajude a localizar o material. O material disponibilizado na biblioteca é muito bom, revistas conceituadas de diversas áreas do conhecimento, livros novos etc. Mas mesmo com investimentos, ainda faltam materiais mais específicos das oficinas para que possam ajudar os educadores nos planejamentos das aulas. Outro relato foi que, para entrar em uma biblioteca parece haver um ritual, um cerimonial; todos em silêncio, pegam o livro e vão embora. O que também relataram foi sobre o visual das bibliotecas, pois todas têm o mesmo. Essa conversa com os educadores foi muito interessante, sendo possível fazer um diagnóstico de várias atitudes que eles têm em relação a alguma proposta em parceria com as oficinas. A falta de cooperação e o descontentamento em fazer alguma atividade com a biblioteca, entre outras situações. A biblioteca é vista como um espaço de guarda-livros, com pessoas de mau humor, só silêncio. Mesmo com essas experiências negativas, os educadores têm percepção do trabalho feito na biblioteca do Centro Social Marista Irmão Acácio. No Centro Social Marista Irmão Acácio, tem-se a intenção de quebrar esse ranço que as pessoas têm de biblioteca e de profissionais que atuam no espaço. Procura-se sempre estar perto do edu-

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Biblioteca Interativa como espaço de promoção cultural 54

cador e, consequentemente, aproximar-se dos educandos. Para que essa aproximação seja efetiva, dispõem-se projetos que precisam de parcerias com diversos tipos de linguagens próprias para esse espaço. A biblioteca tem combinados preestabelecidos para o bom convívio de quem trabalha no espaço e para seus usuários. Preza-se uma biblioteca que interaja com os usuários, como espaço com movimento, no qual seja possível encontrar vários tipos de linguagens. Quando se frequenta a biblioteca, depara-se com teatro, que evidencia o trabalho com a linguagem de artes cênicas; articulam-se os educandos para ler, refletir, imaginar e entrar no mundo da literatura, mas há a possibilidade de movimento dos textos, a possibilidade de trazer o texto literário para o espaço da biblioteca, mostrando-se um mundo lúdico como forma de arte para os educandos. Uma arte que pode ser moldada, pode-se adaptar; pode-se montar a encenação, refletir sobre temas, mudar espaços físicos, e tudo isso por meio de leituras e percepções dos textos. No projeto Literatura em Ação, trabalha-se com diversos gêneros de textos literários: romances, literatura infantojuvenil, poemas, críticas, cordel, entre outros. Utiliza-se o mundo lúdico para instigar nas crianças a vontade e o prazer de ler e buscar novos mundos; consequentemente, percebe-se melhorias em muitos segmentos da vida e no relacionamento social das crianças. Esses são alguns exemplos de atividades desenvolvidas na biblioteca do Centro Social Marista Irmãos Acácio, cuja finalidade é oportunizar um espaço de bom convívio social às crianças e aos adolescentes que participam desse local, percebendo-o como local de interação e descobertas. Também são disponibilizados jogos em determinados dias da semana, para que crianças e adolescentes tenham variedade de possibilidades para partilha com o outro e acesso a conhecimentos inesgotáveis.

Algumas pistas para a ação em Maringá Relatos sobre a imagem da biblioteca em geral: alguém relata que a biblioteca não é mais um depósito de livros mortos, mas passou a ser um tipo de casebre mal-assombrado pelos escritores e por seus clássicos completos com capa brochura de couro vermelho empoeirado e suas páginas amareladas. Outro participante informa que se tornou um desafio enorme aproximar-se da comunidade do bairro da biblioteca para convidar as pessoas a participarem dos eventos e se tornarem usuárias da biblioteca. Isso porque, ao chegar, elas olham para as prateleiras e veem enfileirados aqueles fantasmas. Finalizam dizendo que estamos vivendo a era da informação, e nada melhor que a internet para isso: rápida, objetiva, fácil. Seguindo essa linha de pensamento, defendem que


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é preciso imprimir na biblioteca interativa essa “cara leve” de informação fresca da internet, mas mantendo o uso do produto literário, ou de qualquer arte que envolva o desenvolvimento e a satisfação. Para isso, sugerem reunir a comunidade, ou quantos conseguirem, para representá-los, e construir um grupo de discussão e escuta sobre a biblioteca interativa, ou seja, um grupo focal. Dando continuidade a essa ideia, foi formado, então, um grupo focal. O grupo focal com representantes da comunidade: no dia 22 de novembro, às 19h, a educadora Danyelle se apresentou e falou brevemente sobre o que é o Projeto Biblioteca Interativa; disse que seria um tipo de mediadora da conversa e que faria perguntas, mas não daria sua opinião. Também foi apresentada a estagiária Gabriela, que faria a ata da formação. Em seguida, pediu para que os participantes se apresentassem; havia oito pessoas, sendo seis mulheres e dois homens. A conversa começou com a educadora Danyelle perguntando aos participantes se eles já haviam estado em uma biblioteca, e as respostas não foram muito variadas. Alguns disseram que não se lembravam quanto tempo fazia, outros que só iam quando eram crianças e estudavam. Outro declarou que frequentava bastante, pois trabalhava em uma faculdade; e finalmente, um afirmou que participava dos projetos que essa instituição fazia com as famílias dos educandos. Extraídas essas informações, já era possível levar adiante o grupo. Em seguida, foi questionado o que era, para os participantes, uma biblioteca. A maioria respondeu ser conhecimento, informação, leitura, aprendizagem, mas a resposta que mais chamou a atenção foi a de que biblioteca era diversão. E, não seria exatamente isso o que se quer ao transformar a biblioteca por meio desse projeto? Assim, essa resposta positiva, em meio a outras tão comuns, é sempre edificante. Para dar novo direcionamento à conversa, a mediadora perguntou se já haviam estado naquela biblioteca e, em caso afirmativo, como tinham se sentido. As respostas foram sempre muito alegres, todos já haviam estado ali, alguns disseram que se sentiram novamente como crianças, que gostaram das apresentações do sarau e que viam o quanto a biblioteca interativa é importante na vida das crianças. Outros disseram que gostam, pois sempre há coisas diferentes que chamam muito a atenção. A seguir, a mediadora perguntou de quais atividades da biblioteca eles já tinham participado, e a resposta foi unânime – todos já tinham participado de saraus e contações de história. A mediadora aproveitou para indagar de que mais gostaram, e alguns disseram nomes de histórias que gostaram como A risada de Biriba; outros informaram que gostaram da fantasia, da brincadeira e

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da diversão e, ainda, alguns gostaram muito de ver os educandos apresentarem literatura de cordel em um dos saraus. Para finalizar a conversa, a mediadora questionou os participantes sobre o que consideravam faltar na biblioteca para que a comunidade participe mais. As respostas foram, de modo geral, que a biblioteca estava boa assim, era muito criativa e tudo que fosse feito ficaria bom. Alguns sugeriram que fossem exibidos filmes, outros pediram horários alternativos. A mediadora então, engajada nessa última resposta, perguntou o que gostariam que fosse diferente, e a resposta geral foi da adaptação do horário, pois todos trabalham e só podem ir à noite ou nos fins de semana. Diante dessa conversa, foi possível descobrir um pouco mais sobre os potenciais frequentadores da biblioteca interativa e tentar adaptar os horários para melhor atender à comunidade. O grupo focal com educadores: além de ouvir as pessoas da comunidade que frequentam o espaço da biblioteca interativa, é importante também analisar o que os profissionais envolvidos no processo de aprendizagem, ou seja, os educadores, pensam sobre o Projeto, pois estão em contato diário com os educandos, conhecem as necessidades principais e participam de todas as ações do Projeto. Nesse sentido, foi realizado um grupo focal com todos os educadores do Centro Social Marista Ir. Beno, mediado pelas educadoras Danyelle e Maria Lúcia, com a estagiária Gabriela, responsável pelos registros. Participaram da conversa dez educadores de diversas oficinas e a coordenadora pedagógica. A primeira questão abordada era sobre a imagem que tinham das bibliotecas em geral. As respostas foram quase sempre as mesmas: um espaço organizado, com tudo arrumado, limpo, em que era necessário silêncio e somente usado para escolha de livros de leitura. A roda de conversa aconteceu a partir daí, focada em questões como: a mudança que o Projeto Biblioteca Interativa promoveu na biblioteca do Centro Social Marista Ir. Beno e a diferença dela com outras que eles conhecem. Foi unânime a resposta de que mudou muito, e para melhor. O ponto mais comentado foi o fato de a biblioteca ter ido até os educandos, resgatado várias crianças e adolescentes que não tinham adquirido o hábito pela leitura sozinhos e não frequentavam a biblioteca. O próprio espaço estava muito mais colorido, aconchegante, convidativo à leitura e à frequência. Todos os educadores concordaram também que a biblioteca está cada vez melhor, e que é muito importante quando são trazidas temáticas e abordagens diferentes, como: filmes educativos, curtas-metragem, crônicas, dentre outros. Destacaram ser a interatividade muito importante para as contações de história, e isso foi alcançado e vem melhorando cada vez mais. A biblioteca, se-


gundo eles, agora é parte fundamental da comunidade, representa o centro, principalmente aos sábados e às terças-feiras, quando fica aberta em horários alternativos. É uma mudança com muito valor, uma maneira de inserir ainda mais a comunidade nas ações. Dentre tantas linguagens e oficinas ofertadas no Centro Social Marista Ir. Beno, nota-se que a biblioteca se tornou uma delas; é uma linguagem independente, uma oficina própria. Uma questão inquietante e alvo de polêmica sempre que se fala em leitura é se os educadores consideram as ações da biblioteca relevantes para o desenvolvimento crítico e consciente dos educandos. A resposta foi unânime também, pois todos relataram diversas ocasiões em que percebem o quanto a leitura vem transformando várias realidades, tornando as crianças questionadoras e críticas, no que diz respeito às práticas de escrita, de falar em público, dentre outras. Essa diferença é notada principalmente entre educandos que participam como mediadores de leitura, pois têm mais contato com a leitura e o planejamento, sentindo-se mais autônomos, como se o Projeto fosse deles. Nesse momento, relataram os educadores, eles realmente fazem algo e percebem que podem transformar a realidade de outras crianças, levando a leitura para locais onde ela ainda não é acessível.

Outros procedimentos metodológicos A entrevista representa um dos instrumentos básicos para a coleta de dados. Ocorre com uma sequência de perguntas mais ou menos dirigidas, abertas ou fechadas, conforme o objetivo do entrevistador. Para Fontana e Frey (1994, p. 361), “entrevista é uma das mais comuns e poderosas maneiras que utilizamos para tentar compreender nossa condição humana”. A entrevista é altamente eficaz para percepções imediatas a respeito do assunto sobre o qual se busca informação.

Roda de conversa Trata-se da observação de uma associação livre de ideias exposta pelo grupo, a partir de um tema. Proporciona um espaço interessante de escuta coletiva e de livre expressão. É importante registrar por meio de filmagem ou anotações para conseguir uma aproximação mais rica entre o momento da roda de conversa e o momento da análise do que foi observado.

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Entrevista

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Roteiro de uma roda de conversa sobre as bibliotecas 1. Apresentação das pessoas e agradecimento pela presença de todos. 2. Breve explicação sobre a roda de conversa. 3. Pedir autorização para fazer vídeo, fotografia e/ou gravação de voz. 4. Iniciar as falas com uma reflexão sobre o filme Uns braços – Machado de Assis e a entrega de uma cópia do conto.

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Perguntas

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Qual a participação dos pais e responsáveis no centro social? Em que ocasião a participação é mais efetiva? Vocês conhecem as ações que a biblioteca interativa oferece para a comunidade? Qual a participação nas ações da biblioteca interativa? O que vocês acham que a biblioteca interativa faz de legal? Qual a experiência (memórias, lembranças) que a biblioteca interativa desperta em vocês? O que vocês acham que falta na biblioteca para que a comunidade participe mais das atividades? Se vocês fossem melhorar algo nas ações que a biblioteca interativa executa, o que mudariam? Das coisas que vocês disseram aqui nesta roda de conversa, o que foi mais importante? Vocês acham que precisa ser acrescentado algo a esta conversa? Finalmente, o mediador partilha suas impressões gerais (relembra os pontos mais relevantes na roda de conversa) e faz um agradecimento novamente pela presença e participação das pessoas.

Algumas pistas para reflexão Não é fácil adentrar no mundo das percepções, muito menos observar na fala dos outros o entendimento que eles têm sobre seu trabalho. Todos partimos de experiências diferenciadas, de pontos de vista diferentes. E, na maioria das vezes, nem paramos para pensar sobre nós mesmos, sobre as histórias que nossas mãos vão bordando como se fossem uma enorme linha de tricô. Percebo que o novelo corre e o fio vai se libertando, e nem sempre temos tempo de parar e olhar o que


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estamos realizando. A vida não para, as atividades também não, e o ponteiro do relógio controla nossas vidas. Quando a gente é criança, o que menos importa é o relógio. A vivência, a experiência e as histórias são o que realmente têm valor. Meu avô era um exímio contador de histórias, e a partir das histórias dele, eu me descobri no mundo. As travessuras do meu avô acabaram se transformando no meu parâmetro ou “mediômetro” para minhas primeiras lições de vida. Hoje, já não mais tão criança, vou entendendo que não conheci meus bisavós, mas que sei bastante deles, de onde minha família vem, quais as coisas importantes que marcaram nossas raízes. Meu avô não me apresentou livros infantis, não era um cara estudado, mas tinha prazer em contar histórias e envolver as pessoas nelas. Estabelecia uma forte relação com a natureza, que, segundo ele, é sua maior aliada, uma grande guia para os caminhos do mundo. Coincidência ou não, vivo agora em uma biblioteca, que se orgulha de estar viva, acolhedora e cheia de histórias, de brincadeiras e travessuras. Um mundo de aventura, descobertas, experiências e diálogos. Viajamos para dentro de muitas histórias, realizamos ações com educadores, comunidades, educandos e parceiros da região. Para cada público, pensamos como aproximar e criar elos entre eles e os livros. Não seguimos um manual, não temos certezas nem estabelecemos regras imutáveis. Então sempre estamos nos avaliando. As perguntas são constantes. Será que estamos na trilha certa? Será que realmente estamos conseguindo criar um ambiente que possibilite o diálogo das pessoas com os livros? Para responder nossas perguntas, realizamos duas rodas de conversa com a comunidade: a primeira aconteceu no dia 30 de setembro de 2011, e a outra, no dia 25 de outubro de 2011. Será que nossas histórias estão chegando? Para tentar responder a essa e a muitas outras questões, marcamos as rodas de conversas com a comunidade. Explicamos os procedimentos, o porquê da conversa e sua importância para nosso trabalho. Pedimos autorização para gravar. A Liliane conduziu a roda, a Talita fotografou e filmou e eu (Letícia) observei e escrevi. Na segunda roda, contamos com o apoio de duas outras educadoras: Milene, de expressão corporal, e Juliana Nez, de educomunicação; Milene fotografou e Juliana fez registro escrito. No início da primeira roda, o silêncio foi predominante, demorou para o papo esquentar. Depois, quando começaram a responder às perguntas, as respostas eram, normalmente, sim ou não, diretas e curtas. Com o passar do tempo, as pessoas foram relaxando, importando-se menos com o tempo cronológico, dando espaço à hora subjetiva. Então, questões interessantes começaram a surgir de maneira espontânea e reflexiva na roda. A Priscila, mãe de um educando do Literatura em Ação, afirmou que há falta de interesse por

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parte dos pais em participarem mais das atividades do centro social. Solange, mãe de uma aluna do Literatura em Ação, acredita que os pais querem apenas olhar para seus filhos sem se envolverem com questões da comunidade, e por isso a participação não é efetiva. Já o Matheus, educando do Centro Social, acredita que a dificuldade mesmo é a prática da leitura e o interesse por ela. As mães Elita e Ângela, que têm filhas no SASE, dizem que as filhas não falam muito da biblioteca, porque, na verdade, elas são fechadas e não conversam sobre quase nada – não dividem as experiências com as mães. No primeiro encontro, nossa participação não foi muito efetiva, contamos com a participação de apenas sete integrantes. Dessa forma, pedimos que eles sugerissem formas de envolver os pais e a comunidade nas reuniões. Expuseram que os convites enviados por intermédio das crianças nem sempre chegam, pois elas se esquecem de entregá-los. Sugeriram, então, que além dos convites, fosse feito contato telefônico para assegurar maior adesão aos eventos; definiram também que a sexta-feira nem sempre é um bom dia, em função de a maioria trabalhar a semana inteira. Propuseram o início da semana. Sugestão ouvida e registrada. Já na segunda roda de conversa, o número aumentou consideravelmente, contamos com 22 pessoas. Então, como pensar em maior participação por parte da comunidade? Solange disse que a biblioteca deveria pensar em eventos; já Priscila, que deveria ter um projeto direcionado para os pais, pensando em futuramente se tornar um projeto que envolvesse pais e filhos. Priscila diz que até tem vontade de contar histórias para os filhos, mas não é sempre que o tempo colabora. Elita e Ângela disseram que têm interesse em participar mais das atividades propostas pelo Centro Educacional Marista Ir. Acácio, desde que não sejam em horário comercial. Pelo que senti, se é que posso transmitir assim meus sentimentos, elas gostariam de um espaço em que pudessem se aproximar das filhas para trocar experiências. As ideias foram inúmeras, como, por exemplo: cada pai trazer um prato de salgado para uma confraternização; disseram que a comida atrai e aproxima as pessoas; palestras sobre educação, prevenção e coisas que eles possam usar no cotidiano com os filhos. Os pais dizem que muitos filhos têm histórias para contar, falam das atividades do dia, contam o que fizeram nas oficinas, reclamam porque o projeto Literatura em Ação só acontece uma vez por semana e que as crianças gostariam de participar mais dias; que elas esperam a semana inteira por esse momento. Leila, mãe de Eduarda Maria, diz que a filha não gostava de livros e agora está sempre com um livro novo embaixo do braço; relata que quando a filha


pede presente, prefere livro e gibis. Isso, segundo Leila, acabou refletindo também na escola, pois a menina está se desenvolvendo melhor e conseguindo interpretar textos com maior facilidade.

Matriz de avaliação

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Com essas informações, o grupo finalizou a matriz avaliativa, conforme os prazos e os responsáveis pelas ações e técnicas de coleta que poderiam ser utilizadas. Para a avaliação quantitativa, definiu-se a utilização de dados sobre o acervo, o número de empréstimos de livros, entre outros dados passíveis de registro. Para a avaliação qualitativa, foram criados os roteiros para direcionar a condução do processo em cada método e grupo.

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Quadro 3 - Roteiro geral para avaliação qualitativa Grupo

Educandos

(Continua)

Educadores

Comunidade5

Técnica de coleta

Grupo focal

Grupo focal

Roda de conversa

Questões introdutórias

1. Quando foi a última vez que você foi à biblioteca? O que você fez lá?

1. Com que frequência você utiliza a biblioteca? Quando foi a última vez que foi à biblioteca?

1. Você já foi a uma biblioteca? Quando?

2. Você já utilizou a biblioteca para desenvolver atividades na sua oficina? Qual? 3. Você já indicou a biblioteca para alguém?

2. O que é uma biblioteca para você? 3. Você já tinha vindo nesta biblioteca antes? Como se sentiu neste espaço?

4. O que mais te chamou a atenção na biblioteca?

Questões centrais

1. O que mais chama sua atenção?

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2. O que faz você ir até lá?

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3. O que faz você não querer ir? 4. Para quem é a biblioteca? Quem tem que cuidar dela? 5. O que você aprendeu de mais importante nas atividades? 6. Você mudou alguma coisa no seu jeito ao participar das atividades da biblioteca?

1. Quais eram as suas expectativas para o Projeto? Elas foram atendidas? 2. Como você acha que uma biblioteca deve ser/ter? A daqui contempla isso? 3. Qual das atividades desenvolvidas teve maior êxito? Qual deixou a desejar?

1. De quais atividades da biblioteca você participou? De quais você mais gostou? Por quê? 2. Que experiências e memórias você tem dessa atividade? 3. O que facilita e o que dificulta a sua participação nas bibliotecas?

4. Quais as mudanças observadas na biblioteca com o início do Projeto?

5 Para iniciar o trabalho com a comunidade, alguns procedimentos são necessários, como a apresentação das pessoas; agra-

decimento; retomada das ações do Projeto Biblioteca Interativa; informação do tempo de trabalho; autorização para gravações, assinando termo de concessão de imagem e voz – informando que ninguém será identificado, se assim desejar.


Quadro 3 - Roteiro geral para avaliação qualitativa Grupo

Educandos

Técnica de coleta Questões de fechamento

Grupo focal 1. Ao participar das atividades, você consegue relacionar alguma história ou experiência com a sua vida?

(Conclusão)

Educadores

Comunidade5

Grupo focal

Roda de conversa

1. Se você pudesse modificar algo, o que faria?

1. O que você gostaria que fosse diferente ou acrescentado na biblioteca?

Fonte: Dados da pesquisa.

Depois desse processo, finaliza-se a matriz avaliativa, que se configurou da seguinte forma:

Quadro 4 - Matriz avaliativa

1. Que mudanças ocorreram nos acervos das bibliotecas?

Indicadores Quantidade de livros adquiridos

Classificação e quantidade do material adquirido

Fontes de informação Sistemas de informação das bibliotecas

Técnicas de coleta Análise de relatórios

Responsável

Prazo

Produto

Para Londrina: Liliane. Para Maringá: bibliotecária a ser contratada.

Para Londrina, a contagem será em novembro. Para Maringá, em janeiro.

Relatório numérico contendo quantidade geral e classificação do material disponível nas bibliotecas.

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Perguntas

(Continua)

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Quadro 4 - Matriz avaliativa

Perguntas

Biblioteca Interativa como espaço de promoção cultural

2. Que recursos foram agregados às bibliotecas?

64

Indicadores Recursos humanos

(Continua)

Fontes de informação Coordenação pedagógica

Técnicas de coleta

Responsável

Prazo

Questionário

Para Londrina: Jaqueline. Para Maringá: nova coordenadora pedagógica, com apoio de Rosiany.

Para Londrina e Maringá, segunda quinzena de outubro.

Análise em conjunto dos registros

Para Londrina: Letícia e Miriam. Para Maringá: Danielle e Maria Lúcia.

Para Relatório Londrina, analítico um encontro na primeira semana de novembro, até o final de novembro. Para Maringá, dois encontros em novembro, com relatório na primeira semana de dezembro.

Produto Relatório apontando os tipos de profissionais contratados, as funções, o regime de trabalho, etc. No caso de Maringá, também serão listados os recursos tecnológicos adquiridos.

Recursos tecnológicos 3. Em que medida os registros contribuem para uma prática pedagógica reflexiva?

Exploração livre em torno do processo de produção e da qualidade dos registros

Educadores


Quadro 4 - Matriz avaliativa

4. Em que medida as ações do Projeto Biblioteca Interativa atendem às expectativas de educandos e educadores?

Indicadores

Fontes de informação

Técnicas de coleta

Responsável

Prazo

Produto

Participação dos educadores

Educadores

Grupos focais

Para Londrina: Letícia, Mariane, Liliane. Para Maringá: Maria Lúcia.

Para Londrina, Texto que um GF em possa compor outubro e a publicação. relatório em janeiro de 2012. Para Maringá, um GF em outubro e relatório em dezembro.

Participação dos educandos

Educandos

Observação e escuta pelos educadores

Para Londrina (idem). Para Maringá: Maria Lúcia, Aline, Gabriela, Daniele.

Para Londrina, setembro e outubro com texto em dezembro. Para Maringá, outubro com fechamento em novembro.

Texto que possa compor a publicação.

Frequência dos educandos

SIUS

Análise de relatórios

Para Londrina: Jaqueline. Para Maringá: Gláucia.

Janeiro para Maringá e Londrina.

Gráficos/ tabelas com análise.

Número de educandos no Projeto

SIUS

Análise de relatórios

Para Londrina: Jaqueline. Para Maringá: Gláucia.

Janeiro para Maringá e Londrina.

Gráficos/ tabelas com análise.

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Perguntas

(Continua)

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Quadro 4 - Matriz avaliativa

Biblioteca Interativa como espaço de promoção cultural

Perguntas

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Indicadores

(Continua)

Fontes de informação

Técnicas de coleta Questionário

Responsável

Prazo

Para Londrina: Miriam. Para Maringá: Malu.

Janeiro de 2012.

Produto Relatório.

Número de mediadores de leitura capacitados

Coordenação pedagógica

Percepção dos mediadores sobre a formação

Registros elaborados pelos mediadores

Análise dos registros

5. Quais aspectos mais aproximam e distanciam as bibliotecas das comunidades?

Percepções da comunidade sobre as bibliotecas

Comunidade

Rodas de conversa

Para Londrina: Liliane e Mariane. Para Maringá: Rosiany, Gláucia, Grabriela e Daniele.

Para Londrina, serão 2 rodas em setembro e outubro. Para Maringá, 2 rodas em outubro com relatório em novembro.

6. Em que medida os vínculos entre as comunidades e as Bibliotecas foram ampliados?

Número de empréstimos de livros e publicações

Sistemas de Informação das Bibliotecas

Análise de relatórios

Em Londrina: Liliane. Em Maringá: bibliotecária com apoio da equipe da biblioteca.

Em Londrina fevereiro e em Maringá janeiro.

Relatório numérico.

Participação da comunidade nas ações promovidas pela biblioteca

Sistemas de Informação das Bibliotecas; registro de atividades

Análise da lista e dos registros

Em Londrina: Liliane. Em Maringá: Aline.

Em Londrina novembro e em Maringá dezembro.

Texto.


Quadro 4 - Matriz avaliativa

7. Em que medida o Projeto Biblioteca Interativa contribui para o desenvolvimento consciente e crítico dos educandos?

Indicadores

Fontes de informação

Técnicas de coleta

Apropriação e utilização do conhecimento adquirido na biblioteca

Comunidade

Rodas de conversa

Relações dos educandos com os outros

Educandos e educadores

Rodas de conversa com educandos e instrumento de autoavaliação; observação e escuta pelos educadores.

Níveis de participação e argumentação Relações com os materiais e espaço físico Utilização do conteúdo dos materiais no cotidiano

Fonte: Dados da pesquisa.

Responsável

Em Londrina: Liliane e Letícia. Em Maringá: equipe da biblioteca.

Prazo

Em Londrina as atividades (de 3 a 4 rodas) acontecem em novembro e o relatório em dezembro e janeiro. Em Maringá entre final de outubro e novembro.

Produto

Relatório em janeiro de 2012.

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Perguntas

(Conclusão)

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A matriz não é entendida como um instrumento que engessa, mas que acelera processos, considerando as inúmeras atividades do cotidiano, as possibilidades de troca de conhecimentos e práticas entre os educadores e um auxílio para eles. Diante disso, conclui-se que avaliar é, também, saber perguntar, para que as respostas possam realmente nortear o processo e oferecer pistas quanto à sua efetividade. Mas nenhuma pergunta será útil sem a sensibilidade de quem avalia, sem a habilidade de buscar o que realmente caracteriza as intencionalidades das pessoas. Em avaliações burocráticas, os entrevistados dizem exatamente aquilo que gostaríamos de ouvir, o que nem sempre é bom para a continuidade do processo. A matriz avaliativa teve a construção participativa dos educadores. Mesmo assim, não havia garantia de sua eficácia, e bastou um exercício para evidenciar as dificuldades que surgiriam em sua aplicação. Novas leituras e novos exercícios foram aplicados para o grupo apropriar-se melhor do instrumental, confirmando que o itinerário de uma avaliação qualitativa não pode ser visto como algo imutável. É comum certa flexibilidade dos roteiros preestabelecidos, como deve acontecer também com o próprio projeto, qualitativamente avaliado. Se, durante uma coleta de dados um participante indica, com seus relatos, um percurso avaliativo diferente do planejado, o condutor do processo pode aceitar esse redirecionamento e obter informações não planejadas. O mesmo se aplica ao Projeto, quando a indicação de uma necessidade emergente leva a ações mais assertivas.

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Quais dificuldades surgiram na aplicação da matriz avaliativa? Em busca de respostas para a matriz avaliativa, dividimos o trabalho em equipes: a da biblioteca, a do setor administrativo e a do setor pedagógico. A partir daí, refletimos sobre as perguntas e as formas de organizar o tempo para buscar as respostas. Não foi uma tarefa fácil, pensando também no tempo e nas atividades diferenciadas. A própria matriz já se encarregava de distribuir as funções para a coleta de dados. Só precisávamos encaixar nas rotinas um tempo para colocar as ações da matriz em prática. Agendamos e planejamos uma parada mensal com a Unidade, para fazer o grupo focal com os educadores, já que seria muito difícil parar com todos os educadores em meio a suas rotinas para conversar e refletir sobre as práticas da biblioteca interativa. O que eles trouxeram foi interessante, os pontos de vista, as sensações, o que eles imaginam das bibliotecas ou mesmo quais experiên-


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cias traziam em relação à biblioteca. Isso nos abriu um novo horizonte sobre o trabalho, sobre a prática que desenvolvemos. Já a roda de conversa com as famílias foi o oposto. Sentimos por parte delas uma carência muito grande de coisas para falar, expressar-se, queriam contar coisas dos filhos, coisas que não tinham, necessariamente, relação com as atividades da biblioteca. Na roda, enquanto buscávamos respostas para a matriz, foi difícil manter o foco apenas nas respostas, mas enquanto diálogo com os responsáveis, foi uma abertura para uma relação de cumplicidade. O fato é que tivemos de realizar duas rodas, pois, somente em uma, não conseguimos perguntar todas as nossas questões. Também não queríamos podar as inquietações dos pais, preferimos respeitar o tempo e propor uma continuação do encontro, afinal, não estávamos perto dos questionamentos propostos para o desenvolvimento da matriz. Em outra roda de conversa que fizemos com as crianças do Literatura em Ação, elas respondiam às questões da biblioteca de uma forma natural, como quem entra em um parque de diversões e não tem nenhuma outra pretensão além de estar ali, naquele lugar, naquela hora, curtindo o momento. Voltando à conversa sobre a matriz, nossa dificuldade era demandar esse tempo para o grupo focal, para as rodas de conversa e, depois de ouvir tudo, transcrever e juntar aos outros dados. Os outros dados também considerados foram as frequências e os registros, tanto escritos como fotográficos, buscando olhar para as produções desse período de trabalho. No geral, a dificuldade foi olhar para nossa prática, para o que é produzido e refletir sobre ela. Temos o tempo sempre organizado para produzir, mas organizamos pouco o tempo para refletir sobre o que é produzido, para entender por que, em determinado momento se escolhe um caminho em vez de outro. E como são importantes olhares múltiplos e diversos para o processo. Em todos os casos, é essencial, para quem conduz os processos, desenvolver uma percepção aguçada do que é característico do grupo, e assim, escolher as técnicas e as intervenções mais adequadas a cada situação. Como a percepção, nesse caso, não é puramente intuitiva, valem muito os registros detalhados e a análise do material colhido para avaliação. A qualidade dos registros é determinante da validade das informações. Logo, a forma de olhar o processo e repensá-lo é diretamente afetada pelo que se obtém das avaliações realizadas, ou seja, dos registros objetivos, das impressões e das análises desse material.

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A matriz apresenta as categorias: estrutura, processo, resultados e impacto. Elaborar as sete perguntas, tendo em vista a classificação a que estarão sujeitas, contribui para definir se a resposta esperada é um dado mensurável, um aspecto qualitativo ou uma percepção subjetiva. A estratégia foi muito útil para a escolha consciente das técnicas de coleta e das fontes de informação, descritas em cada quadro. As possibilidades para dar significação à resposta dada são amplas, o que só faz aumentar a responsabilidade de quem tomará decisões a partir dela. A única certeza é que outros questionamentos devem ser feitos para melhorar a percepção e decidir pelo melhor. Nos aspectos considerados quantitativos, a escolha dos indicadores recaiu obviamente sobre os registros, os controles e os relatórios da biblioteca. Enquadram-se na categoria das mudanças estruturais proporcionadas pelo Programa, como o incremento do acervo e a agregação de recursos humanos e tecnológicos. As outras categorias foram avaliadas qualitativamente. As ações do Programa Biblioteca Interativa também foram avaliadas em relação às expectativas de educandos e educadores, cujas participações serviram como principais indicadores. As perguntas foram: que mudanças ocorreram nos acervos das bibliotecas? Que recursos foram agregados às bibliotecas? Dessa forma, a avaliação cobriu um espectro amplo, contribuindo para a qualidade da continuidade do Programa.

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Principais resultados Em Londrina Considerando as ações que a biblioteca do Centro Social Marista Irmão Acácio promove para a comunidade, verifica-se a importância de se ter uma biblioteca com movimento diferenciado do convencional. A biblioteca proporciona muitas atividades lúdicas direcionadas a crianças e adolescentes, mas, em contrapartida, proporciona momentos de experimentação dos adultos da comunidade também. Essas experiências são de fundamental importância para aproximar pais e comunidade do entorno da instituição com a biblioteca. O objetivo dessas atividades, preparadas especialmente para os adultos, é eles vivenciarem um mundo mágico, colorido e cheio de possibilidades. Oportunidade de extravasar anseios, medos, ideias, imaginação etc. Nas atividades propostas, percebe-se grande adesão dos pais e da comunidade. Eles chegam ansiosos para saber a ativida-


Em Maringá Após cada ação do Projeto, as crianças de 2 a 10 anos realizam atividades propostas pela educadora, fazendo a relação com os assuntos abordados em livros e revistas estudados, por meio de desenhos, textos, pequenas apresentações teatrais elaboradas e executadas por eles. As crianças de 10 a 17 anos elaboram relatórios descrevendo as atividades realizadas e suas impressões sobre o Projeto, destacando avanços e desafios. Também fazem registros fotográficos, filmagens e relatórios trimestrais que permitem a análise geral das educadoras. A partir das atividades dos educandos, percebemos o quanto o Projeto tem ajudado na comunicação, expressão oral e corporal, além da escrita.

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de a ser trabalhada, o tema a ser discutido, a proposta a ser executada. E, mesmo nos momentos de mais descontração e exposição, eles se envolvem e querem mostrar o que produziram. A construção faz parte do repertório das ações na biblioteca, idealizam-se atividades que favoreçam ideias, desenhos, reflexões, ações, figurinos, dentre outros. As pessoas que participam dessas ações surpreendem. Inicialmente, pensa-se que terão vergonha ou não se envolverão com as atividades, mas a experiência é outra; eles se envolvem com a atividade, vestem o personagem, discutem, expõem reflexões, brincam e participam das propostas. Houve relatos de pais que mencionaram a importância desses momentos na biblioteca, momentos em que podem ler textos diversos, recitar poesias, montar figurinos e encenar, registrar pensamentos por meio de desenhos e expor reflexões sobre temas diversos. Eles vivenciam a biblioteca da mesma forma que as crianças e os adolescentes frequentadores do espaço. A escuta proporcionada nesse espaço também é muito importante para aproximar os pais dos filhos, fazer com que experimentem as atividades aplicadas a crianças e adolescentes, pois assim têm a visão do trabalho executado no momento em que os filhos estão na biblioteca. Nas dinâmicas propostas com os adultos, procura-se levar a leitura como ponto de partida das atividades. A atividade leitora de textos variados torna visível a aproximação da biblioteca com seu cotidiano. As atividades executadas são somente um ponto de partida para a interação entre os pais (ou a comunidade) e a biblioteca. No decorrer da proposta, eles acabam conduzindo o exercício, compartilhando seus conhecimentos, suas habilidades, suas dificuldades e, consequentemente, abrindo um leque de possibilidades nos trabalhos em grupos, quando um partilha com os demais suas potencialidades.

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É notável o progresso dos educandos nesses quesitos, muito mais reflexivos, críticos e conscientes nas decisões a serem tomadas e na participação durante as ações do Projeto. Nota-se também a apropriação dos educandos com o espaço da biblioteca interativa, os livros e os computadores. É perceptível, quando se compara o início do ano com o momento atual, o quanto eles respeitam mais o local e os livros, e a frequência tem aumentado significativamente. Quanto ao acervo, foi de extrema importância a chegada de livros novos para a biblioteca; isso gerou mais interesse nas crianças, nos adolescentes e na comunidade. Porém, com a ausência da bibliotecária, não foi possível fazer os empréstimos, somente puderam realizar leitura e folhear os livros no espaço da biblioteca. A partir da compra dos livros realizou-se a contagem dos adquiridos no Centro Social Marista Ir. Beno, totalizando 232 exemplares. Entretanto, não foi possível realizar o relatório de classificação do material. Para o desenvolvimento do Projeto, foram contratadas uma educadora social, por 40 horas semanais, e duas estagiárias, por 30 horas semanais, para coordenar e aplicar as atividades. Os recursos tecnológicos adquiridos auxiliaram a desenvolver com mais qualidade o Projeto, possibilitando outras formas de registros. Os materiais foram os seguintes: uma máquina digital, uma máquina filmadora, uma televisão e um computador. Cabe destacar que esses materiais foram essenciais para melhores registros e ações com os educandos e para dar mais visibilidade ao Projeto na comunidade, por meio do blog. Em Maringá, o total de educandos que participaram de diversos projetos como: A hora da história, Literatura em ação, Quem faz um conto faz uma cena, Mesa temática, Trinta minutos de leitura, Roda literária e Mediadores de leitura, foi de 400 crianças e adolescentes na faixa etária de 5 a 17 anos, matriculados no Centro Social Marista Ir. Beno, além da parceria com o Centro Municipal de Educação Infantil Bom Samaritano, o que acrescentou 150 crianças de faixa etária entre 2 a 5 anos.

Número de mediadores de leitura capacitados em Londrina e Maringá Foi realizada a formação com os mediadores, sendo 25 educandos da faixa etária de 10 a 17 anos, capacitados durante o processo de formação. As formações ocorreram no Centro Social Marista Ir. Beno e no Centro Social Marista Ir. Acácio.


Resultados do processo de avaliação Ao longo da formação da qual resultou o instrumental de avaliação, os educadores chegaram à percepção de seu próprio amadurecimento, com o despertar de um olhar sensível e diferenciado sobre práticas de avaliação. Algumas vivências, como a dos grupos focais, tiveram um impacto que vai além dos objetivos avaliativos, ampliando o conhecimento do trabalho de cada um e o entrosamento do grupo.

Algumas cenas que ampliam percepções O instrumento de avaliação foi de fato uma construção coletiva, mas o que realmente contribuiu para o Programa foi ampliar a percepção das descobertas e aprendizagens que ele propicia. Cabe relatar algumas cenas.

1ª cena

2ª cena Uma das estagiárias contratadas, estudante de Letras, é fascinada pela leitura desde pequena, embora não tivesse em casa um ambiente estimulante nesse sentido. Seus pais não liam e não lhe ofereciam livros, mas seu interesse era nato. Quando tinha 8 ou 9 anos, deliciava-se na biblioteca da escola, aonde a professora levava a turma uma vez por semana. Lá, a bibliotecária recebia a turma com uma mesa de livros selecionados para sua faixa etária. O problema é que nossa personagem não se contentava em folhear os livros que já conhecia do começo ao fim. Sorrateiramente, afastava-se do grupo para retirar outro livro das estantes, maior e mais instigante para sua curiosidade. Durante algum tempo, sua tática passou despercebida, mas

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Certa vez, um casal se dirigiu ao centro educacional para participar de uma reunião relativa a um programa que envolve famílias da comunidade. De passagem pela biblioteca, pai e mãe acabaram ficando por ali mesmo, depois que a criança que vinha junto pediu que lessem uma história para ela. O casal não participou da reunião naquela noite, e todos acharam o fato maravilhoso. A informalidade e a iniciativa espontânea são essenciais para desenvolver o prazer da leitura. Ler por vontade própria, pelo prazer que se desfruta na hora em que se tem a possibilidade, é muito significativo.

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chegou o dia em que foi barrada pelo autoritarismo de uma pessoa adulta, que a impediria de levar para casa o livro As cores de Laurinha, por não fazer parte da seleção de títulos que poderiam ser lidos por crianças de sua idade. O detalhe curioso é que por cinco vezes a menina já havia emprestado o livro, contando com a distração da bibliotecária. Com essa vivência de criança apaixonada pela leitura, a estagiária do Programa Biblioteca Interativa é capaz de lembrar detalhes minuciosos de muitas histórias que já leu, e conquista as pessoas com seu encantamento diante da capa de um livro, de um título ou de um personagem. É ótima em recomendar livros para qualquer pessoa e arrebata o público quando conta uma história, atraindo-os para a leitura.

3ª cena

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Uma experiência marcante aconteceu com a obra O pequeno príncipe, de Saint Exupéry, no Centro Educacional Marista Ir. Beno. Um educando resistente à leitura vislumbrou a magia do livro pela janela das artes plásticas. Encantado com a ideia de um avião pilotado por uma criança, dedicou-se prazerosamente à produção em maquete da aeronave imaginada para o cenário da história. Sem perceber, o educando aproximou-se do livro do seu jeito, com suas possibilidades de encantamento.

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4ª cena Uma vez, chamamos os pais das crianças para uma contação de história. Quando terminamos, um pai me falou que havia chegado com muitas dores no corpo. Ao começarmos a história, suas dores sumiram, mas, naquele momento, as dores estavam voltando. Então, ele perguntou: “Vocês podem contar a história novamente?”.

5ª cena Algumas vezes, pais e mães nos questionam, dizendo: “Não sei como vocês conseguem fazer as crianças gostarem tanto de ler!”. Nem sempre esse pai ou essa mãe podem frequentar a biblioteca, mas o importante é que eles acabam estabelecendo uma relação afetuosa, prazerosa e positiva com a leitura, pela experiência de seus filhos.


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Por tudo isso, podemos dizer que os recursos disponíveis (acervo, mobiliário, materiais e tecnologias) são valiosos, mas não superam a atitude daqueles que os utilizam para disseminar a magia da leitura. Só quem se encanta com os livros é capaz de estimular os outros a conhecê-los. A proposta era investigar práticas bem-sucedidas no campo da promoção da leitura, realizadas com crianças atendidas nas Unidades Maristas. Buscava-se identificar ações que despertam o prazer de ler, para apoiá-las de forma sistematizada e difundi-las em outros contextos. Uma estratégia para levar a maior número de pessoas os benefícios de ações que desenvolvem a capacidade de leitura. A partir da descrição das atividades selecionadas, as equipes envolvidas poderiam dar-lhes uma estrutura metodológica que facilitasse a replicação da experiência em outros espaços, mesmo em situações diversas quanto à disponibilidade de recursos para a implantação do Programa. A estruturação metodológica, no entanto, só foi possível a partir de um processo de formação realizado com os educadores dos dois centros sociais. O trabalho conduzido por uma assessoria especializada despertou neles um olhar sensível em relação às suas próprias práticas educativas. Como resultado, capacitaram-se para desenvolver uma forma criteriosa de avaliação que revela o fundamento de cada ação, seus potenciais benefícios e suas limitações. Construíram, de forma participativa, indicadores que viriam a oferecer pistas sobre a funcionalidade das ações e a viabilidade de replicar as experiências. A sistematização de ações destinadas à promoção da leitura não se manteve restrita, porém, ao objetivo estabelecido no planejamento. Como instituição comprometida em promover o desenvolvimento social por meio da educação e da cultura, a Rede Marista de Solidariedade buscou impactar sobre a própria realidade que originou o Programa Biblioteca Interativa. Uma vez que a visão do Programa é a emancipação do sujeito pela ampliação de seus potenciais de expressão e participação na sociedade, a metodologia de ação se completa com o objetivo de despertar nesse mesmo sujeito o senso crítico e a capacidade de reflexão. E o melhor de tudo é construir esse cidadão investindo no prazer, na alegria e nas descobertas que a leitura proporciona. A sistematização de práticas de incentivo à leitura, realizada pelo Programa Biblioteca Interativa, foi conduzida com objetividade e clareza quanto aos resultados pretendidos e, para avaliar o cumprimento das metas, indicadores foram construídos de forma participativa e contextualizada. É importante compreender que a proposta representou, para as equipes dos Centros Educacionais Maristas de Londrina e Maringá, mais do que a introdução de um plano de atividades. Para

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além do aspecto formal do Programa, o que chama a atenção é o desafio, lançado aos educadores e às equipes gestoras, de redimensionar suas ações. Não se esperava nenhuma mudança radical, em curto ou médio prazo, mas uma incorporação gradual e consciente da centralidade da leitura às práticas já existentes, assumindo-a como um valor fundamental. Assim, propostas de arte-educação e atividades socioeducativas foram ressignificadas a partir da adoção de estratégias que estimulem crianças e jovens a ler livros, e contribuam para uma postura culturalmente ativa de toda a comunidade envolvida. Por essa visão, o primeiro resultado buscado foi o alinhamento dos dois centros sociais em relação aos processos e às rotinas por eles adotados, por meio de encontros, formações e reuniões virtuais. A experiência foi bastante positiva porque as equipes puderam realizar um intercâmbio enriquecedor e refletir sobre suas práticas, ao mesmo tempo que desenhavam as ações conjuntas a serem realizadas. É evidente a transformação ocorrida em tão curto espaço de tempo, quando se observa a disposição e o interesse crescentes dos educadores em se vincularem ao espaço e à dinâmica da biblioteca, para a concretização dos objetivos específicos da linguagem com que trabalham. Com mais frequência, eles passaram a estabelecer parcerias e propor ações que incorporem e ampliem as possibilidades da mediação de leitura no espaço-tempo de suas práticas socioeducativas. Além dos impactos positivos dessas ações, pode-se afirmar que a biblioteca consolida-se como espaço legítimo de produção de conhecimentos que antes se restringiam ao contexto de oficinas específicas. Um exemplo bastante representativo é a contribuição da leitura às atividades cênicas desenvolvidas nos centros sociais. Naturalmente, o teatro requer a leitura de obras para a construção e montagem de peças, o que é visto como parte do processo. É animador ver o quanto educadores se identificam com a proposta, aprimorando-as pela valorização da leitura. Melhor ainda perceber que seus registros tornam-se mais reflexivos à medida que reconhecem a capacidade de leitura, em seu sentido mais amplo, como parâmetro avaliativo central. Para aqueles que enxergavam a biblioteca como um mero serviço disponível no centro social, complementar às ações desenvolvidas na proposta socioeducativa, o Programa demonstrou que as atividades de leitura merecem, no mínimo, o mesmo status das ações desenvolvidas nas oficinas. Uma mudança de paradigma que permite avaliar a ação socioeducativa, bem como seu potencial transformador na vida de uma criança ou de um jovem, a partir da contribuição que ela


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traz em termos de desenvolvimento da linguagem, tanto no aspecto da compreensão como no da expressão. Algo que não se pode sequer imaginar sem a companhia dos livros. Por tudo isso, o Programa Biblioteca Interativa pode ser considerado um movimento interno renovador do Projeto Educativo Marista, à medida que reposiciona os fundamentos da ação socioeducativa e do trabalho com as comunidades. O foco em atividades de leitura, visando ao estímulo do hábito de ler, coloca todas as ações na órbita de um objetivo comum. São frequentes as ocasiões em que familiares de educandos revelam sua satisfação com os resultados apresentados pelos filhos nos programas oferecidos. Uma apresentação artística, uma habilidade desenvolvida e mesmo as mudanças de comportamento contribuem para a criança desenvolver-se bem em seus relacionamentos com a família e a comunidade. Quando se trata de reconhecer os benefícios proporcionados pelas atividades de leitura, a percepção dos familiares é menos desenvolvida de início, o que se explica pelo conceito de biblioteca que trazem e pela pouca familiaridade com os livros. Mas, conforme se veem inseridos nas ações do Programa, operam uma mudança importante de opinião e passam a valorizar o espaço como algo que lhes pertence, e as atividades de leitura como experiências prazerosas. Como consequência de um novo olhar dos adultos para a leitura, a procura pelas atividades do Programa Biblioteca Interativa, para algumas faixas etárias, tornou-se maior. Algumas vezes, a motivação é o comentário de um vizinho ou o testemunho de um filho mais velho. A aproximação com as escolas vem possibilitando o contato de pedagogas da rede de ensino local com os gestores Maristas, ficando evidente o interesse pelo estreitamento da relação e pela colaboração efetiva, com propostas de ampliação de atendimento para beneficiar maior número de crianças matriculadas na Educação Infantil e no Ensino Fundamental de escolas próximas. O projeto Literatura em Ação, por exemplo, que em Londrina previa atender a 56 crianças da comunidade, em poucos meses, precisou ampliar o atendimento para 84 crianças, tamanha a procura dos centros educacionais infantis do entorno. Por isso, um dos desdobramentos foi a ampliação do horário de funcionamento da biblioteca aos sábados e no período noturno. É essencial fazer com que o prazer pela leitura seja uma motivação intrínseca da comunidade, e que ela saiba buscá-lo nas mesas e estantes de livros, mesmo nos dias e horários que não se disponha de atividades lúdicas. Com a proposta de sistematização, buscava-se ampliar as possibilidades de incentivo à leitura no dia a dia da instituição. Investimentos no acervo, na adequação do espaço e, principalmente,

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na equipe de educadores, possibilitaram um movimento que chamou os olhares para a literatura, intensificando a aproximação dos educandos aos livros. Partindo de ações bem planejadas, o resultado é invariavelmente a adesão gradativa de crianças, jovens e adultos da comunidade à proposta de uma biblioteca interativa. Não há quem não se encante com, ao menos, uma dimensão da leitura quando as abordagens são múltiplas e convidam a diferentes percepções. Os dados apresentados nesta publicação podem nos dar uma noção mais precisa dos resultados quantitativos. A percepção da mudança, porém, não exige maior esforço, desde que se observe o aumento do fluxo de pessoas nas duas bibliotecas e da participação espontânea do público nas atividades por elas promovidas. Nesse sentido, observou-se:

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-- o aumento da frequência e do tempo de permanência dos educandos nas bibliotecas, seu crescente interesse pelas atividades de leitura e a disseminação do hábito de emprestar livros indicam o impacto positivo do Programa junto aos educandos; -- a participação de 45 jovens e adolescentes na formação de mediadores de leitura superou amplamente as expectativas, o que constitui um dado relevante da adesão do público ao Programa Biblioteca Interativa; -- a intensificação das parcerias entre os educadores e seu envolvimento com as ações do Programa resultaram em mais interesse dos educandos pela leitura e na consolidação da biblioteca como espaço de valorização das atividades socioeducativas; -- o aumento da procura levou a uma ampliação do horário de atendimento da biblioteca do Centro Educacional Marista de Maringá, que passou a funcionar também aos sábados de manhã e às terças no período da noite para atender à comunidade. Outro sinal de que o hábito de ler já vai se tornando realidade para muitas crianças é a ampliação do seu tempo de permanência nos espaços de leitura, mesmo quando não há atividades orientadas. A perspectiva de fazer parte das histórias, contadas ou representadas por diferentes linguagens, é motivadora porque opera simbolicamente a transformação do espaço em uma usina de ideias e conhecimentos. O prazer da leitura nasce, assim, da liberdade que se dá ao leitor de fazer suas escolhas e usar sua imaginação. É nesse intercâmbio entre vivenciar e simbolizar que a linguagem opera os processos de significação.


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O silêncio que, no passado, era exigido de quem entrasse em qualquer biblioteca, deixa de ser uma imposição que cala as vozes alegres de quem quer contar o que leu ou aprendeu. Em um novo contexto, o silêncio é o espaço das vozes interiores, é o intervalo dos diálogos e é o momento de falar e ouvir com outros sentidos. Há uma promissora formação do hábito de leitura, comprovada pelo aumento dos empréstimos de livros e pela visita de educandos às bibliotecas nos períodos de férias. Paralelamente à mudança intrapessoal, o prazer de ler favorece a socialização das crianças, o que, segundo os educadores, se comprova pelas formas mais maduras de interação e resolução de conflitos nas turmas. Elas se mostram mais dispostas a emitir suas opiniões e a ouvir as dos colegas, desenvolvendo habilidade para dialogar. É possível afirmar que o processo pelo qual se busca aproximar as crianças dos livros, a motivação e a vontade de expressar ideias e sentimentos são ganhos inestimáveis propiciados pelo Programa a quem passa por ele. O Programa mostrou que a leitura é assimilada como um ato de vontade que a criança, o jovem ou o adulto buscam espontaneamente. Pensar a leitura no espaçotempo das práticas socioeducativas representou para as equipes uma reflexão sobre sua ação. Mudanças importantes podem ser verificadas, começando pela valorização da leitura. A combinação entre experiência acumulada e capacidade de inovação possibilitou uma dinâmica que, a um só tempo, valoriza a rotina e acolhe o que é novo. Um movimento contínuo que mantém vivo o interesse pela leitura e por tudo o que ela proporciona. O livro passa, assim, a integrar todas as atividades e a experiência pessoal de vida dos participantes do Programa. Algo de novo também se percebe em relação à constituição do acervo. A aquisição de novos títulos não é mais mera questão quantitativa. Há um olhar consciente que busca contemplar variados interesses. Certamente, a biblioteca passou a ser vista como o centro difusor de um movimento de incentivo à leitura, devido à concentração do acervo, à presença dos educadores do Programa, ao aconchego do ambiente e à realização de ações variadas de aproximação com o livro e de estímulo ao ato de ler. A biblioteca pode ser reconhecida como um espaço cultural e, gradativamente, a apropriação do espaço por parte de todos a quem se destina vai se tornando realidade. Antes da implantação do

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Programa, em 2008, quase metade das pessoas que responderam a uma pesquisa de satisfação sobre os serviços dos Centros Sociais Maristas de Londrina e Maringá afirmava não frequentar a biblioteca. Percebe-se, na situação atual, uma importante mudança em relação aos espaços. As pessoas não veem a biblioteca como um lugar de conhecimento armazenado, mas como um campo aberto a descobertas e à fruição cultural. A estatística dos que não frequentam a biblioteca, em relação ao público interno de educandos, foi reduzida a zero. Entre os pais e responsáveis pelas crianças, são raros os que não atenderam ao convite ao menos uma vez para ocupar o espaço da biblioteca, participando de uma contação de história ou de outra ação do Programa. A lição é útil para qualquer entidade interessada em ampliar suas possibilidades de captar apoio a seus projetos. Buscar a articulação com políticas públicas e apoiadores externos, trabalhar em rede com outras instituições e com o Sistema de Garantia de Direitos é essencial para dar sustentação a um projeto. A matriz avaliativa desenvolvida pela equipe tem o mérito de focar separadamente a estrutura da ação, o processo em si, seus resultados e o impacto causado. Trata-se de uma forma sistemática de olhar internamente, muito útil para o planejamento da ação, da implantação e do monitoramento. A clareza de objetivos foi essencial para a formulação de uma metodologia sustentável. Um exemplo disso é o cuidado, sempre presente, de aproximar o livro de seu potencial leitor, o que se faz criando oportunidades de acesso e buscando encantar as pessoas por diferentes estratégias como forma de incentivá-las à leitura.



Conclusões

Na introdução desta obra, dissemos que a essência do Programa Biblioteca Interativa é investir na capacidade de leitura como meio de promover a inclusão social. Seja o trabalho feito com crianças, com jovens ou com adultos, as ações sempre apontam para a autonomia e ampliação da visão de mundo que se pode conquistar com a leitura habitual, crítica, reflexiva e, acima de tudo, prazerosa. A inclusão se dá pela emancipação do sujeito que, gradativamente, amplia suas possibilidades de expressão e participação na sociedade. Para compreender melhor, é interessante verificar como a metodologia se desdobra a partir de objetivos específicos. O ponto forte do Programa é criar oportunidades de acesso ao livro e a outras fontes de leitura. E aqui é preciso reconhecer certos condicionantes que explicam o fato de a leitura, historicamente, não ser valorizada como deveria em nossa cultura. Infelizmente, há um considerável número de municípios brasileiros que não dispõem de uma única biblioteca sequer. E, naqueles em que elas estão presentes, é comum que sejam vistas como um espaço para pessoas letradas, pouco convidativo, portanto, para os não iniciados na leitura. Há um longo caminho a se percorrer até que o livro seja visto como um bem acessível a todos, assim como os serviços básicos a que todo cidadão tem direito. Para despertar o prazer da leitura, é importante oferecer oportunidades. O contato fácil e frequente com livros aumenta as chances de uma pessoa descobrir a magia da leitura. Falar de acesso a materiais de leitura, no entanto, vai além da disponibilização de um acervo, por melhor que ele seja.


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Trata-se também de todo um processo de sensibilização e conquista do leitor, que requer estratégias diversas. Sem essa articulação, o resultado mais provável é a ociosidade do equipamento e o abandono dos livros nas estantes, sem que o público ao qual se destina chegue a descobrir seu valor e a desfrutar deles como poderia. Há sempre aquelas pessoas que, espontaneamente, procuram o que as beneficia porque se sensibilizaram com mais facilidade. Outras, porém, dependem de mais exposição às estratégias de sensibilização para que adotem um hábito novo ou decidam-se por uma atitude que lhes é proposta. Não é diferente quando se propõe a oferecer livros e atividades literárias a uma população pouco estimulada à leitura. Oportunizar o acesso, nesse caso, é criar um contexto em que os materiais e as atividades oferecidos possam despertar o interesse, ativar os sentidos e promover e incentivar o hábito de ler. O objetivo de dar acessibilidade aos livros só é possível de se alcançar quando permeado por estratégias que despertem o senso de pertencimento ao espaço da leitura. Ou seja, o acesso se efetiva quando o espaço atrai e convida à leitura. A interação e o contato visual com o educando possibilitam envolvê-lo na atmosfera da leitura, e o ato de ler acaba sendo uma consequência natural quando a paixão é acordada, porque o prazer da leitura é o que alimenta o hábito de ler. Um leitor encantado será também um motivador para novos leitores. O ponto essencial para compreender o alcance do Programa Biblioteca Interativa é perceber que, mais do que as ações, o que deve ser sustentável é a ideia que vai à frente da prática. Só multiplicamos as ações que assumimos com total convicção. Reacender a chama do encantamento com os livros pode ser um trabalho árduo com aqueles que já se desinteressaram da leitura. É nessa hora que o educador precisa ter versatilidade e variar os momentos, os espaços e as motivações para cada estratégia a ser usada. A equipe se reúne e escolhe livros para novas contações, explorando o novo, sem abandonar, no entanto, o clássico, respeitando inclusive o interesse da criança por aquela história que ela pede repetidas vezes. Legitimar o vínculo afetivo com determinado livro é respeitar o processo de descoberta e a identificação que forma o leitor. Refletir sobre a questão do acesso aos livros representa, para aqueles que atuam no Programa Biblioteca Interativa, a possibilidade de resgatar suas experiências pessoais com a leitura.

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Biblioteca Interativa como espaço de promoção cultural

Pensar em uma biblioteca verdadeiramente interativa, que facilite o acesso da comunidade aos livros e às tecnologias de informação e comunicação, é algo que motiva enormemente a desenvolver e viabilizar da melhor maneira as práticas e disseminá-las. Uma proposta metodológica de promoção da leitura, construída na perspectiva da formação integral e sustentada pela participação, pelo diálogo e pelo comprometimento da família e da comunidade, é sem dúvida, uma ação de inclusão social, porque cria condições para desenvolver e ampliar uma habilidade essencial para vencer a barreira da desigualdade: a capacidade de leitura. Vale a pena tentar!

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Depoimentos dos participantes

Sobre o Projeto Biblioteca Interativa “Eu acho muito importante para desenvolver a leitura. Hoje em dia as crianças e os adolescentes se envolvem muito com internet e outros tipos de brincadeiras, e não são muito ligados à leitura; eu acho muito importante na hora do intervalo eles terem esse momento. Minha filha ama os livros e fica encantada com os livros daqui, que são diferentes dos da escola. A importância para educadores e comunidade é a mesma que para os educandos: poder fazer uma pesquisa, procurar um livro, ter momento de leitura. Acho que é a mesma importância que tem para os educandos.” Ângela Aparecida de Oliveira Araújo, 33 anos, mãe de Letícia Maria de Oliveira Araújo, 10 anos, Londrina “Eu vejo que a biblioteca ajuda na formação da leitura das crianças, tem muitos livros e elas se interessam pela leitura, com os educandos ajudando. Eles tiram aquela ideia de que a leitura não é uma coisa legal. Poderia ser melhor. Começando por mim; eu vejo que não temos tanto interesse. Eu vou lá, mas quando quero pegar algum livro pra minha filha, e como ela é da comunidade, fica bastante interessada quando eu chego com algum livro. Ela está aprendendo a ler, então ela tem bastante curiosidade com relação à leitura. Eu acho bem importante, mas poderia ser um pouco melhor, poderíamos buscar mais essa formação. Eu acredito que ela tem contribuído. Quando fazemos a parte de compra, buscamos


informações sobre os livros e vocês têm contribuído com as compras, comprando coisas interessantes. O acervo de livros está legal e a biblioteca tem ajudado muito. Contribui sim. Cria bastante expectativa com relação à leitura. Eu participei de um sarau que teve à noite. Acho que teve uma participação legal dos pais. Eu estava ajudando na organização e foi uma coisa bem interessante. As pessoas não conseguem compreender aquela atividade na hora, mas é uma coisa bem interessante que incentiva a leitura.”

“Eu acredito que é contribuir com a formação de leitores mesmo. A importância maior que eu vejo nos trabalhos que vocês fazem, principalmente quando ouço falarem que vão nas escolas, é a tentativa de aproximação com os educadores. Além dessa formação de leitores, acho que essa aproximação e tentar mudar a ideia de que a biblioteca é um lugar sério, silencioso; eu vejo nas atividades esse foco, essa preocupação de perder um pouco disso. Porque a gente vê que biblioteca sempre foi uma coisa muito séria, muito fechada, aonde você tem que ir pra ficar quietinho e estudar, e eu vejo que a biblioteca é um lugar onde a gente pode conversar, pode jogar, assistir a um filme. Pelo que eu vejo como os educandos conseguem ler, principalmente na minha linguagem é um diferencial extremo. Através da leitura e das outras atividades, é nítido como eles conseguem ser críticos, falar e se comunicar, acho que contribui bastante nesse sentido. Eu gosto de tudo o que acontece, mas o que me marcou bastante foi a roda de leitura que a gente fez. Fiquei impressionada de ver eles praticamente brigando para ler uma poesia, porque isso é muito difícil de se ver. E de você perceber que às vezes basta eles conhecerem, que não tiveram a oportunidade de conhecer e quando conhecem gostam e se interessam. Foi o momento que eu mais gostei, essa roda de leitura de poemas de Vinicius de Moraes .” Juliana Mainardi, 28 anos, educadora de educomunicação, Londrina “Acho que o papel da biblioteca é mostrar qual é a função de uma biblioteca realmente, os recursos que a biblioteca tem. O simples fato de existir, porque se você parar para pensar quantas comunidades, quantos locais têm disponível uma biblioteca como a nossa que tem um acervo bom... Por exemplo, a comunidade tem, que elas podem usar, apenas aqui e a biblioteca do Centro Cultural, para uma região do tamanho da Zona Norte. A questão de oferecer informação, a possibilidade de os educandos usarem para fazer trabalhos de escola, pesquisas. Hoje você vê os educandos pegando livros, lendo no intervalo,

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Silvana Aparecida Moreira Pádua, 40 anos, assistente administrativo, Londrina

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indo fazer pesquisa; hoje ela tem cara de biblioteca, às vezes, eu olho lá e ela até parece uma biblioteca universitária. Ela é utilizada realmente como biblioteca, e não como espaço de passagem.” Diego Fernando Zadra educador de artes circenses, Londrina “A biblioteca é um apoio para os educadores, um apoio nas nossas horas de planejamento, uma parceira para desenvolvermos atividades nas nossas linguagens e também um apoio dos projetos que a gente faz, de desenvolver coisas pensando na biblioteca; principalmente com os saraus que têm trazido pessoas de fora, ela consegue agregar [...] o número de educandos interessados está bem grande esse ano.”

Biblioteca Interativa como espaço de promoção cultural

Juliana Camargo Matta, 28 anos, educadora de artes plásticas e artes cênicas, Londrina

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“Se a gente for pensar em biblioteca, para fazer um paralelo de o que é a biblioteca aqui, é pensar que em outros espaços, a biblioteca acaba sendo um lugar onde tem estantes e livros; aqui eu vejo que a biblioteca não é somente um lugar onde tem estantes e livros, mas aqui a abertura, a forma com que os educandos chegam a esses livros é diferente. As atividades que acontecem tanto com os nossos educandos quanto com os educandos que vêm de outros espaços e também a comunidade, é para incentivar as formas da inserção da leitura, não só de um espaço que oportuniza a leitura do pegar o livro e ler, mas da iniciação, do incentivo, da forma como é trabalhado, do olhar o livro de outra forma e não só ler as palavras, mas também a história por trás daquele livro, dos múltiplos olhares, da forma como ele pode ser visto por outra ótica, a história pode ter outros significados, e é isso que é incentivado aqui nessa biblioteca. A biblioteca vem estimulando, por meio de suas ações, um prazer pela leitura que é sentido. Eu não falo só na leitura dos livros, mas na leitura de mundo.” Beatriz Zaineldin Bezerra, 24 anos, educadora de meio ambiente e cidadania, Londrina “Eu acho que tem um papel fundamental, porque é uma maneira de as crianças interagirem, aprenderem mais, terem alguns conhecimentos que às vezes em outros lugares elas não têm. Acho que aqui é o lugar ideal para elas aprenderem coisas novas porque conhecimento nunca é demais. É superimportante, porque na biblioteca você aprende a cozinhar, você aprende história, você aprende inglês, informática, quer dizer, engloba tudo o que a gente precisa no dia a dia da vida. Os educadores podem conversar


com os educandos e decidir uma forma mais igual, para que todos tenham as mesmas oportunidades de aprender. No meio atual você poder ler uma revista, um jornal que às vezes você não tem tempo, como eu mesma, não tenho tempo de ler um jornal em casa, mas eu posso ler aqui na biblioteca; ficar informada das coisas que estão acontecendo. É importante a gente estar por dentro do que acontece na vida da gente, na comunidade da gente.” Silvania Xavier França, 42 anos, auxiliar de cozinha, Londrina “Acredito que a biblioteca aqui tem um papel muito importante, tendo em vista que ela foge um pouquinho do molde das outras bibliotecas das escolas. A gente vê uma biblioteca mais atraente com várias possibilidades para os nossos educandos, como atividades que vocês desenvolvem com eles aqui totalmente diferentes e que acabam estimulando neles a vontade de ler e aprender essas coisas. É um Programa que consegue envolver todos no mesmo propósito, que é a leitura de uma forma geral, mas pensando em como fazer essa leitura de uma forma diferente, como abordar vários aspectos importantes que a gente pode ver aqui na biblioteca. Então a gente consegue, com o trabalho de vocês da Biblioteca Interativa, unir educador e educando. Vem contribuindo bastante de forma que os educandos quebrem esse estigma de só ir lá, pegar o livro, fazer o trabalho, ver o que lhe interessa e ir embora. Não ser uma coisa obrigatória, mas que eles tenham vontade de vir para a biblioteca, e acredito que o trabalho que vem sendo desenvolvido aqui é importante para isso, para que eles venham à biblioteca de forma espontânea.”

“O trabalho da biblioteca aqui tem outras formas de aproximar, e eu acho que isso tem sido bem importante. Acredito que seja aproximar toda essa comunidade da biblioteca. Mas acredito que essas outras ações, como sarau, o curta no intervalo, são formas diferentes de aproximar. Vejo educandos pegando livro, ou, sempre interessados, mesmo que não seja em entrar lá, mesmo para ver o que está acontecendo, se aproximar. Vejo pessoas pegando livros mesmo que não seja para elas próprias, então acho que de certa forma acabam dando uma olhadinha, porque se eu vou levar pra outra pessoa, eu vou procurar algo que essa pessoa vai gostar de ver.” Mirian Pastor assistente pedagógica, Londrina

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Élcio Batista Filho, 26 anos, educador de jogos cooperativos, Londrina

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“A biblioteca estimula a leitura e faz as pessoas terem imaginação. Eu acho muito boa, tem vários livros que a gente procura por aí e não acha.A da minha escola a diferença é que lá só tem livro de estudar. Aqui tem mais livros diferentes, não só de estudo, mas pra ler mesmo. Lendo mais eu acredito que estou tendo mais imaginação, porque antes não imaginava coisas. Eu acho que estou ensinando, estimulando as pessoas a lerem mais. Eu vou levar comigo que eu tenho que ler bastante, que ler é bom.” Giovana Gil, 15 anos, Londrina “Eu acho que é bastante legal e interessante, porque incentiva a leitura, porque quase ninguém lê; eu conheço bastante gente que não lê, e seria interessante se as pessoas lessem mais. Eu gostei muito de fazer mediação de leitura, porque eu gosto mesmo do contato externo de ir às creches e apresentar para as crianças, eu acho legal. Acho que estou lendo mais, porque eu quase não lia antes de começar a fazer mediação. Acho que dá bastante entretenimento para as crianças.”

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Matheus Henrique Gomes da Silva, 15 anos, Londrina

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“É um espaço interessante e bem completo. Às vezes, eu acho que faltam livros de autores brasileiros, mas é bem completo e tem bastante coisa interessante. Além de ter livros para o nosso estudo, tem livros para ler com histórias legais. Gosto de fazer a mediação, porque a gente interage com crianças, coisa que a gente nunca tinha feito. E porque é bem divertido, é bem gostoso, entre amigos. A gente está aprendendo a interagir com as crianças, as conhecendo, fazendo atividades, aprendendo a conversar com elas e até entre amigos mesmo. Como o nosso objetivo é mediação, é incentivar a leitura, talvez seja isso, talvez a gente não esteja conseguindo trazer todas as crianças; algumas não estão interessadas, mas a maioria gosta. Vou levar para o meu futuro que é bom, é bom ler, é bom conviver com as pessoas, falar sobre livros, ler livros. É bom, é gostoso, é inteligente!” Maria Isabela Celino dos Santos, 16 anos, Londrina “Eu acho legal porque no ano passado ninguém entrava na biblioteca, eu não era bem enturmada, mas a biblioteca anda bem cheia de um tempo pra cá. A atividade que mais gostei e a única que participei foi mediação, porque nunca tinha feito. Quando penso em livros, eu penso em português, acho que lendo


fica mais fácil as pessoas falarem, ajuda no diálogo; é bom ler livros e descobrir novas coisas. Muitas coisas vou levar das atividades da biblioteca para a vida toda.” Jeniffer Ketlyn Bolinari de Freitas Diacobely, 12 anos, Londrina “Eu gosto de fazer o projeto de que participo e acho bastante interessante para o desenvolvimento das crianças; e eu gosto de interagir com elas, foi por isso que eu entrei para os mediadores. A atividade que eu mais gostei e que faz tempo que aconteceu foi com as crianças do Viva Vida. Eu acredito estar me familiarizando com os livros porque eu não gostava de livros, nem de ler nome da capa dos livros! Agora eu pego livros para ler e estou aprendendo a interpretar melhor os textos. Eu acredito estar ensinando o que estou aprendendo, a interagir com os livros. Para meu futuro, vou levar experiência de vida, lembranças e o carinho que ganhei aqui.” Rogério Gracindo, 16 anos, Londrina “Eu acho bem legal, porque ela traz um pouco de aprendizado na leitura. Eu acredito que estou lendo mais, porque eu não lia nada, nem na escola. Eu estou levando para os outros; os livros que eu gosto, eu falo para minha irmã. E minha mãe agora tem comprado mais livros para a gente ler em casa. Eu vou começar a incentivar outras pessoas a lerem.”

“Eu acho legal, porque eu gosto de ler. Incentiva as pessoas a lerem mais. Ler mais, porque ler é bom para a gente.” Angelita Cercone, 12 anos, Londrina “É legal, porque eu gosto de ler. Na hora do intervalo pode ler lá. Agora eu estou gostando mais de ler, antes eu não gostava muito.” Willian Gabriel Alves, 12 anos, Londrina

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Larissa Carolina Lima de Melo, 14 anos, Londrina

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Sobre o Projeto Mediadores de Leitura “É a oportunidade de trocarmos experiências, informações, contarmos histórias para as crianças e vermos nos olhos delas um brilho a mais, uma alegria.” Wellington, 15 anos, Maringá “É muito bom, nos ensina várias coisas legais, a gente brinca, aprende, fala, faz amizades. O projeto é superinteressante. Ele ajuda a gente a se soltar mais, se comunicar melhor, gostar mais das pessoas, das crianças.” Suelen, 16 anos, Maringá

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“É interessante, legal e superdivertido, aprendemos a nos comunicar sem vergonha de dizer o que queremos ou o que pensamos. Aprendemos também a lidar melhor com as pessoas, a respeitá-las, e também as crianças, com quem normalmente não nos damos bem. Com o projeto, aprendemos ainda mais a conversar e gostar das crianças.”

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Bruna, 15 anos, Maringá “Para mim, o Projeto Mediação de Leitura é muito importante, porque nos ajuda no aprendizado e também no das crianças. É muito significativo e eu acho que isso vai mudar a minha vida.” Gabriela, 11 anos, Maringá “Esse projeto significa aprender muitas coisas que a gente vai levar pra vida toda, para os filhos e netos.” Isabela, 13 anos, Maringá “O projeto é muito interessante porque, além de aprendermos a nos expressarmos melhor, aprendemos a ler, escrever, mostrar os sentimentos na forma de se expressar e eu acho que o principal é perder a


vergonha. O projeto é importante porque incentiva crianças, adolescentes e até adultos a ler ou ser um mediador de leitura. Para mim, é bom porque vivemos um momento de crianças e nos divertimos com as crianças, aprendemos muito.” Larissa, 13 anos, Maringá “Para mim é muito legal contar histórias para as crianças, e é importante para nosso desempenho escolar.” Julia, 15 anos, Maringá “É uma experiência muito boa, nos capacita como bons contadores de histórias. Também nos melhora como pessoas, nos ajuda a nos relacionar com outras pessoas.” Luana, 13 anos, Maringá “Eu acho muito legal porque, no grupo dos mediadores, a gente fica mais extrovertido e ainda pode fazer novas amizades.”

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Elizabete, 15 anos, Maringá

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Entrevista Adriana Aparecida Limas, 30 anos Mãe de Larissa Carolina Lima Melo, 14 anos, e de Luiz Fernando Lima Oliveira, 9 anos, Londrina. Como seus filhos se sentem nas atividades da biblioteca? Eles falam? O Luiz Fernando é mais fechado, não tem muito contato, não gosta de falar, mas uma coisa que eu percebi é que ele está adorando livros; está o tempo todo com livro, revista, sempre está olhando alguma coisa, tendo vontade de ler. A Larissa fala o tempo todo de livros, história; ela é muito expressiva, ela se expressa bem, sempre foi muito falante. Então tudo o que ela vê aqui, uma história, ela passa pra nós em casa, está sempre comentando, falando sobre as atividades. O que a senhora percebeu de mudança, depois que eles começaram a participar das atividades da biblioteca? O Luiz Fernando está um pouco mais calmo por estar interessado pela leitura. A Larissa sempre foi espontânea, mas ela está mais espontânea ainda, mais comunicativa.

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Quantas bibliotecas a senhora conhece?

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Quando eu era adolescente, a única biblioteca que tinha que eu conhecia é a Biblioteca Pública do centro, que eu conheço há muito tempo, e a daqui de vocês. São só essas duas. O que a senhora acha dessa biblioteca? O que acha mais interessante, olhando para ela? Eu acho bem legal, interessante. Acho que tem cara de cantinho de leitura, uma coisa aconchegante, um lugar onde você tem que ter calma e prestar atenção no que está lendo, eu acho muito bacana. A senhora participou do sarau, não é? O que a senhora sentiu naquele dia? Antigamente, quando eu era criança, a história dos Três porquinhos era aquela coisinha: um deles é mais inteligente, os outros são menos, o lobo mau e tal... Mas daquele dia em diante, eu senti a história de outra forma, eu senti como se fosse nos dias de hoje. Cada filho que eu tenho tem uma personalidade diferente, se eu for analisar os três, eu vejo. Eu coloquei na minha resposta do registro que eu penso que o lobo mau da história, hoje em dia, são as coisas ruins, as drogas. Se você não tiver uma estrutura na


sua casa, as drogas podem acabar com a sua família, a violência. Depois daquele dia que eu vim aqui, comecei a pensar assim, eu vi a história de uma forma diferente, trouxe para a minha vida. Dessa vivência que a senhora fez, o que vai levar para a vida de aprendizado?

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Além de tudo o que eu falei, eu acho que estar aqui me interessando pelo que os meus filhos estão fazendo é muito gratificante; saber que os educadores se preocupam em fazer algo. Vocês poderiam vir e fazer apenas o necessário, mas vocês querem que os pais participem, eu me senti acolhida, eu fui muito bem tratada em todas as vezes que eu vim.

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Referências

Biblioteca Interativa como espaço de promoção cultural

BONDIA, J. L. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Tradução de João Wanderley Geraldi. Revista Brasileira de Educação, n. 19, 2002.

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BRANDÃO, D.; SILVA, R. Avaliação educadora. Disponível em: <http://www.movesocial.com. br/sites/default/files/anexos/A13_Ano2009_Brand%C3%A3o%20DB%20%26%20Silva%20RR_ Avalia%C3%A7%C3%A3o%20Educadora.pdf>. Acesso em: 12 ago. 2012. COELHO NETO, J. T. Dicionário crítico de política cultural: cultura e imaginário. São Paulo: Iluminuras, 1997. DIAS, C. A. Grupo focal: técnica de coleta de dados em pesquisas qualitativas. Informação & Sociedade: estudos, João Pessoa, v. 10, n. 2, 2000. Disponível em: <http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/ article/view/330>. Acesso em: 15 fev. 2007. FLUSSER, V. O bibliotecário animador: considerações sobre sua formação. Revista da Escola de Biblioteconomia da UFMG, Belo Horizonte, v. 11, n. 2, p. 230-236, 1982. FONTANA, A.; FREY, J. H. Interviewing: the art of science. In: DENZÏN, N. K.; LINCOLN, Y. S. Handbook of qualitative research. Thousand Oaks: Sage, 1994. FREIRE, P. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.


FREIRE, P. A importância do ato de ler: três artigos que se completam. São Paulo: Cortez, 1985. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA — IBGE. Disponível em: <http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=411370&search=parana|londrina>. Acesso em: 22 nov. 2013. MILANESI, L. A casa da invenção: biblioteca, centro de cultura. Cotia: Ateliê Editorial, 2003. REDE MARISTA DE SOLIDARIEDADE — RMS. Bibliotecas: centros de informação e cultura. São Paulo: FTD, 2011. SILVA, R. R., BRANDÃO, D. Os quatro elementos da avaliação. São Paulo: Instituto Fonte, 2003.

Rede Marista de Solidariedade

SISTEMA DE BENEFÍCIOS AO CIDADÃO – SIBEC. Disponível em <http://www.mds.gov.br/falemds/ perguntas-frequentes/bolsa-familia/beneficios/gestor/pbf-novas-funcionalidades-do-sibec>. Acesso em: 26 nov. 2013.

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Apêndices

Apêndice A - Equipe técnica do projeto

(Continua) Equipe existente (contrapartida institucional) Função no Projeto – Cidade

Formação profissional

Natureza do vínculo (especificar se é CLT, prestação de serviços ou voluntariado)

Número de horas semanais trabalhadas

Coordenação geral – Londrina

Pedagogia

CLT

44h

Coordenação geral – Maringá

Sociologia

CLT

44h

Coordenação pedagógica – Londrina

Pedagogia

CLT

44h

Coordenação pedagógica – Maringá

Pedagogia

CLT

44h

Assistente social – Londrina

Serviço Social

CLT

44h

Assistente social – Maringá

Serviço Social

CLT

44h


Apêndice A - Equipe técnica do projeto

(Conclusão)

Equipe existente (contrapartida institucional) Função no Projeto – Cidade

Formação profissional

Natureza do vínculo (especificar se é CLT, prestação de serviços ou voluntariado)

Número de horas semanais trabalhadas

Assistente administrativo – Londrina

Contabilidade

CLT

44h

Assistente administrativo – Maringá

Contabilidade

CLT

44h

Bibliotecária – Londrina

Biblioteconomia

CLT

44h

Bibliotecária – Maringá

Biblioteconomia

CLT

44h

Educador social – Londrina

Pedagogia / Letras

CLT

40h

Educador social – Maringá

Pedagogia / Letras

CLT

40h

Estagiários (2) – Londrina

Pedagogia / Letras

CLT

44h

Estagiários (2) – Maringá

Pedagogia / Letras

CLT

44h

Apêndice B - Exemplo de roteiro para grupo focal Instituto ABCDE – Programa Escola Legal Avaliação de Resultados – 2011 Roteiro para grupos de conversa com pais e familiares de crianças

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Equipe a contratar

12 99


Apresentação das pessoas e processo (15’) -- Apresentação das pessoas. -- Agradecimento pela presença de todos. -- Breve explicação sobre o que é a avaliação do Programa Escola Legal. -- Informar o tempo de trabalho (por volta de 90 minutos). -- Pedir autorização para gravação da conversa (assinar termo de consentimento). -- Informar que ninguém será identificado, para que as pessoas se sintam livres para falar. -- Verificar se o gravador está gravando. * pedir para as pessoas não atenderem ao telefone, colocarem no modo silencioso etc.

Questões introdutórias (20’) -- Qual a última vez que alguém aqui foi até a escola? O que aconteceu lá? -- Vocês vão sempre à escola? Sim? Não? O que os faz ir mais à escola? E menos? -- E os outros pais e familiares? Eles vão mais do que vocês? Menos? Por quê?

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* Todo o enfoque precisa estar no específico (“a escola” de seu filho, neto).

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Questões centrais do diálogo (focais) (30’) -- O que vocês acham que as escolas fazem (têm) de melhor? (de mais legal?) -- Que experiências (memórias, lembranças) os fazem afirmar isso? -- O que vocês acham que as escolas têm de mais problemático? (de pior?) -- Que experiências (memórias, lembranças) os fazem afirmar isso? -- Vocês acham que as escolas têm mudado nos últimos anos? No quê? Se não, por quê? -- E seus filhos (netos, etc.), o que eles acham das escolas deles? Questões de fechamento (15’) -- Se vocês fossem melhorar as escolas dos seus filhos (netos), o que vocês fariam? -- Das coisas que vocês disseram aqui hoje, o que lhes pareceu mais importante? -- Algo ainda precisa ser acrescentado a esta conversa?


Encerramento das atividades (10’) -- Mediador partilha suas impressões gerais (relembra pontos-chave que foram ditos). -- Agradecimento novamente pela presença das pessoas.

Apêndice C - Atividades, indicadores e meios de verificação (Continua) Indicadores de progresso

Meios de verificação

Ação 1: É hora da história Esta atividade acontece às sextas-feiras e visa, por excelência, despertar o gosto pela leitura nas crianças e adolescentes através da contação de histórias com mediação de leitura.

Adesão, participação e frequência dos educandos nas atividades propostas pelo projeto.

- Cadastro, registro de frequência, relatório técnico individual e registro das atividades realizadas.

Ação 2: Capacitação e supervisão de mediadores de leitura Esta formação acontecerá semanalmente e o principal objetivo é capacitar educandos e jovens voluntários para desenvolverem atividades de mediação de leitura, bem como avaliar as atividades desenvolvidas com as crianças.

- Educandos/mediadores desenvolvendo-se como leitores durante o processo de formação e ao longo do ano. - Participação ativa dos mediadores de leitura nas atividades desenvolvidas. - Educandos com capacidade de liderar grupos, planejar atividades de leitura, com iniciativa, ideias e articulação.

- Registro das mediações. - Registro das capacitações. - Lista de frequência. - Autoavaliação dos mediadores.

Ação 3: Roda literária Este projeto acontece em parceria com a Oficina de Educomunicação, ofertada aos educandos do Serviço de Apoio Socioeducativo (800), e visa, por excelência, estimular o hábito da leitura.

- Educando se desenvolvendo como leitor. - Aumento no número de empréstimo de livros. - Expressão e opinião dos educandos sobre os autores e gêneros literários, reconhecendo-os. - Elaboração e produção de poemas, prosas, resenhas, textos, etc.

- Registro das atividades. - Registro reflexivo dos educadores. - Fichas de avaliação dos participantes.

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Atividade

12 101


Apêndice C - Atividades, indicadores e meios de verificação

Biblioteca Interativa como espaço de promoção cultural

Atividade

102

Indicadores de progresso

(Continua) Meios de verificação

Ação 4: Mesa temática A mesa é preparada mensalmente em parceria com a turma de artes plásticas e é utilizada para expor as novas aquisições e dar mais visibilidade a determinadas obras que não são muito utilizadas pelos educandos e comunidade.

- Aumento do número de empréstimo de livros. - Participação ativa nas atividades propostas. - Expressão/manifestação dos educandos com opiniões sobre as leituras realizadas.

- Relatório das atividades. - Registro reflexivo dos educadores. - Diários de leitura.

Ação 5: Literatura em ação O projeto será desenvolvido semanalmente, sempre às terças e quintas-feiras, com o objetivo de fazer uma comunhão da literatura e da arte dramática, formando leitores através dos recursos lúdicos como contação de história, teatro, pintura, colagem etc. Participam desta oficina 320 crianças de 6 a 10 anos, moradoras dos bairros das proximidades dos Centros Socias Maristas.

- Adesão, participação e frequência dos educandos nas atividades propostas pelo projeto. - Expressão. - Criatividade. - Retirada de livros na biblioteca pelo grupo.

- Registro das atividades. - Registro reflexivo dos educadores. - Fichas de avaliação dos participantes. - Lista de frequência. - Portfólio.

Ação 6: Trinta minutos de leitura O projeto visa incentivar o hábito da leitura nos educandos e em toda a comunidade interna (colaboradores) dos Centros Sociais Maristas. Quinzenalmente acontecem duas paradas de 30 minutos para leitura, uma matutina e outra vespertina.

- Ampliação do número de empréstimo de livros na biblioteca. - Registro das leituras no diário de leitura. - Manifestação sobre o gosto pela leitura. - Aumento da frequência e assiduidade de leitores na biblioteca.

- Registro das atividades. - Registro reflexivo dos educadores.

Ação 7: Diário de leitura O projeto visa à sistematização dos registros e percepões dos leitores em relação às obras lidas. O registro será realizado em um diário que, além dos espaços de registro, contém dicas de leitura.

- Socialização e indicação de leitura. - Número de livros lidos por mês. - Manifestação sobre o gosto pela leitura. - Qualidade da leitura manifestada pela escrita no diário.

- Registro das atividades. - Registro reflexivo dos educadores.


Apêndice C - Atividades, indicadores e meios de verificação (Conclusão) Indicadores de progresso

Meios de verificação

Ação 8: Saraus literários O projeto será desenvolvido bimestralmente envolvendo educandos, educadores e comunidade. O Sarau contará com várias atividades de leitura, com contação de história, teatro de bonecos, declamações de poesia, leitura em grupo, reflexão sobre uma letra de música etc.

- Aumento no número de empréstimo de livros. - Expressão e opinião da comunidade sobre os autores e gêneros literários, reconhecendo-os. - Frequência e participação.

- Entrevistas pessoais. - Lista de frequência. - Ficha de avaliação dos participantes.

Ação 9: Quem conta um conto faz uma cena O projeto será desenvolvido em parceria com a Oficina de Artes Cênicas, vinculada ao Serviço de Apoio Socioeducativo. Serão realizados encontros a cada 21 dias (3 semanas) para leitura de textos curtos como crônicas, contos e dramaturgias, enriquecendo o repertório dos educandos.

- Elaboração e produção de poemas, prosas, resenhas, textos, etc. - Elaboração de textos cênicos. - Estruturação de uma apresentação cênica para o final do ano.

- Registro das atividades. - Registro reflexivo dos educadores.

Apêndice D - Tabela demonstrativa de atendimentos na biblioteca no ano de 2011 – Londrina (Continua) Mês Atendimento comunitário

Quantidade de atendimentos

Fevereiro

134

Março

238

Rede Marista de Solidariedade

Atividade

12 103


Apêndice D - Tabela demonstrativa de atendimentos na biblioteca no ano de 2011 – Londrina

(Conclusão)

Mês

Biblioteca Interativa como espaço de promoção cultural

Atendimento comunitário

104

Total

Quantidade de atendimentos

Abril

153

Maio

230

Junho

248

Julho

46

Agosto

-

Setembro

212

Outubro

258

Novembro

-

Dezembro

-

11 meses

1.519

Apêndice D - Tabela demonstrativa de atendimentos na biblioteca no ano de 2011 – Londrina

(Continua)

Mês

Empréstimos de livros

Quantidade de atendimentos

Fevereiro

19

Março

215

Abril

83


Apêndice D - Tabela demonstrativa de atendimentos na biblioteca no ano de 2011 – Londrina

(Conclusão)

Mês

Empréstimos de livros

Total

Quantidade de atendimentos

Maio

119

Junho

132

Julho

18

Agosto

-

Setembro

77

Outubro

80

Novembro

-

Dezembro

-

11 meses

743

(Continua)

Mês

Acesso a computadores

Quantidade de atendimentos

Fevereiro

178

Março

229

Abril

226

Maio

202

Junho

223

Rede Marista de Solidariedade

Apêndice D - Tabela demonstrativa de atendimentos na biblioteca no ano de 2011 – Londrina

12 105


Apêndice D - Tabela demonstrativa de atendimentos na biblioteca no ano de 2011 – Londrina

(Conclusão)

Mês

Acesso a computadores

Biblioteca Interativa como espaço de promoção cultural

Total

106

Quantidade de atendimentos

Julho

43

Agosto

-

Setembro

321

Outubro

245

Novembro

-

Dezembro

-

11 meses

1.667


Orientações para a realização de projetos nas bibliotecas

a. Realizar um diagnóstico e análise das características do público atendido. b. Considerar a participação das pessoas que utilizam a biblioteca na elaboração dos projetos desenvolvidos. c. Propor medidas de incentivo à leitura, contação de histórias e inclusão digital. d. Identificar temáticas relacionadas ao contexto e de relevância social e cultural. e. Elaborar critérios e indicadores de avaliação do projeto que permitam visualizar se os objetivos propostos foram alcançados. f. Planejar um cronograma de atividades e divulgar em espaço acessível a todos. g. Organizar o tempo e o espaço para os atendimentos, e os recursos disponíveis: humanos, tecnológicos, eletrônicos, audiovisuais e pedagógicos.

i. Organizar atividades interativas e lúdicas, num espaço acolhedor e prazeroso. j. Garantir o intercâmbio dos repertórios culturais entre educadores e educandos, com interdisciplinaridade. k. Fortalecer a mediação com rodas de conversa e histórias. l. Promover interação com materiais em diferentes linguagens.

(RMS, 2011, p. 32)

Rede Marista de Solidariedade

h. Realizar a formação de mediadores de leitura.

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Biblioteca Interativa como espaço cultural : sistematização das experiências de Londrina e Maringá / Rede Marista de Solidariedade . -Curitiba : Champagnat, 2014. Inclui referências. ISBN 978-85-7292-312-5 1. Bibliotecas Maristas 2. Cultura 3. Informação 4. Irmãos Maristas - Educação I. Rede Marista de Solidariedade. 14-00036

CDD 370.1

Índices para catálogo sistemático 1. Biblioteca Interativa : Promoção cultural : Educação Marista 370.1

Impresso na Maxi Gráfica Rua Raul Félix, 425 - Fazendinha CEP 81070-370 Curitiba (PR) Tel.: (41) 3025-4400

Esta edição foi composta pela Editora Universitária Champagnat e impressa na Maxi Gráfica, em sistema offset, papel offset 150g/m2 (miolo) e papel cartão supremo Duo Design 250g/m2 (capa).



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