Picuinhas No tempo em que havia reis, há muitos anos atrás, num reino longínquo, vivia por lá um jovem camponês tão medroso, tão medricas, tão assustadiço que… até tinha medo da sua própria sombra. Não se sabe a razão de o rapaz ser assim, mas diz-se na sua aldeia que, quando era ainda criança, foi para um riacho com a sua mãe lavar roupa e foi mordido por um girino… Há também quem diga que a razão de tanto medo foi ter caído numa armadilha de caçadores e ser confundido com um coelho… Enfim, toda a gente inventa uma história, mas ao certo não se sabe o que aconteceu. O seu verdadeiro nome ninguém sabia, mas facilmente o povo da aldeia lhe chamou, de forma trocista, Picuinhas. Apesar de ser tão gozado, isso não o impediu de ter sonhos. E qual seria o seu maior desejo? Era algo que ele próprio achava impossível de realizar: casar com uma princesa!
Um dia, enquanto carregava às costas um molho de feno, perto do palácio real, avistou à janela de uma das suas torres, uma bela rapariga, com uma brilhante tiara na cabeça. - Que maravilha, será quem eu estou a pensar? Já estou a tremer… Imediatamente se apaixonou por aquela graciosa princesa, que vivia no Palácio Real com os seus pais, o Rei Rechonchudo e a Rainha Trinca-Espinhas. A princesa, que se chamava Florinda, tinha fama de ser muito alegre e divertida, mas com um feitio “especial”. Quando viu o rapaz pela primeira vez, achou-o demasiado desajeitado e trapalhão, não lhe ligou nenhuma, até lhe fez uma careta. - Como é possível tanta parvoíce? Ainda tem coragem de olhar para mim! Eu, que sou uma nobre princesa!!! Picuinhas, desanimado, sentiu-se muito infeliz, quando percebeu que a princesa não gostava dele. Ficou ainda mais nervoso e desastrado.
Regressou à aldeia, transtornado e cabisbaixo... agora tinha mesmo a certeza que era um amor proibido. Assim se passaram dias, tardes, noites, mais dias, mais tardes e mais noites… Florinda no castelo e Picuinhas a sonhar. Numa noite escura e sombria como o carvão, enquanto todos dormiam no palácio, ouviu-se um barulho assustador e um grito muito forte: - Aaarrrgggg!!! Aaarrrgggg!!! Aaarrrgggg!!! - Socooooorrro!!! Socooooorrro!!! Ajudem-me!!! A princesa foi raptada pelo Gigante Pé Grande, um ogre tirano e maléfico que atormentava aquele reino e foi levada para o seu castelo, no meio das montanhas Malignas. O rei e a rainha, preocupados e aflitos, pediram ajuda a todas as pessoas do reino, mas ninguém tinha coragem
para
enfrentar
o
malvado
gigante.
Desesperados, até foram, imaginem, ao casebre do pobre Picuinhas pedir ajuda! -
Fa…a…rei
tu…tudo
para
exclamou ele, tremendo de medo.
a…a…a
sa…alvar!-
Muito nervoso e sem ideias, o camponês foi para a floresta pensar num plano de salvamento. Parecia que tinha deixado os neurónios na aldeia…nada lhe vinha à cabeça! Enquanto andava às voltas a matutar, ouviu um estranho ruído no meio da vegetação. De súbito, apareceu-lhe à frente uma criatura minúscula, com asas brilhantes e coloridas, mas com ar bondoso e amável. - Precisas de ajuda, jovem? - Que… quem és tu? – perguntou o jovem, cheio de medo. - Ora, não me conheces? Sou a Fada dos Desejos! Não tenhas receio. Picuinhas contou à fada o que tinha acontecido à Princesa Florinda e pediu-lhe que fizesse uma magia para lhe dar coragem e enfrentar o gigante. - Xamalaluz, Xamalalaz… com coragem fique este rapaz! Com estas palavras mágicas, agradeceu à fada, encheu-se de coragem e pôs-se a caminho do castelo do Gigante Pé Grande.
Quando chegou aos portões do castelo, deu de caras com uma ponte levadiça, mas não se importou: deu um salto enorme e entrou pela janela. Encontrou o gigante a dormir e resolveu ir até à torre mais alta do castelo, que é onde as princesas costumam estar presas. Quando a princesa o viu entrar, ficou muito surpreendida e espantada. - Tu?!? Vieste salvar-me? - Em carne e osso! Agora sou corajoso e destemido! Vamos, antes que o gigante acorde! Antes de saírem, resolveram pintar a cara do Pé grande de cor-de-rosa e fizeram-lhe umas belas tranças. Quando este acordou, foi visitar a princesa à torre, mas logo que entrou, apenas viu a sua triste figura refletida no espelho. Ficou tão envergonhado que jurou nunca mais ser malvado, fugindo a sete pés daquele reino. Picuinhas levou Florinda para o palácio real e contou aos pais da princesa a sua aventura. Estes agradeceram-lhe por ter conseguido salvar a sua filha. A jovem apaixonou-se perdidamente pelo rapaz.
E agora vamos terminar como terminam os contos de fadas: Casaram-se e tiveram um casal de gÊmeos: uma bela menina, a quem chamaram Valentina e um corajoso rapaz, de nome Valentim. Ah! E viveram felizes para sempre‌!
FIM
Esta história foi escrita pela turma 01E, a partir do conto “O Príncipe Medroso”, criado no ano letivo anterior, que será brevemente apresentado em filme, no âmbito do Projeto “Histórias na Praça”.
O Conto “Picuinhas” participou no concurso literário “Conto Infantil Ilustrado Correntes D’Escritas 2014” As ilustrações, a aguarela, são do António Costa.
Turma 01E EB Baixo Neiva fevereiro 2014