Metodologia da pesquisa científica e bases epistemologicas

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SUMÁRIO Introdução: como a metodologia da pesquisa pode te ajudar ………..

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Bloco I ........................................................................................................

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Antes de começar: um desafio! ............................................................... 07 Pesquisa científica: uma maneira de pensar .........................................

07

Tipos de pesquisas ................................................................................... 09 O processo de pesquisa ou o projeto de pesquisa ...............................

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Etapa 1 – A escolha do tema – problema ...............................................

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Etapa 2 - A revisão da literatura ..............................................................

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Etapa 3 – Justificativa ..............................................................................

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Etapa 4 – Sobre a Hipótese ......................................................................

21

Etapa 5 – Determinação dos objetivos ...................................................

22

Etapa 6 – A Metodologia ..........................................................................

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Etapa 7 – Coleta e tabulação dos dados ................................................

28

Etapa 8 – Análise e discussão dos resultados ......................................

29

Etapa 9 – Conclusão da análise dos resultados ....................................

30

Etapa 10 – Redação e apresentação do trabalho científico .................. 30 Finalizando o Bloco I ................................................................................

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Bloco II .......................................................................................................

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Tipos de conhecimento ............................................................................

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O que é ciência? .......................................................................................

38

Classificando as ciências ........................................................................

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Para refletir: O sono da razão produz monstros ...................................

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Métodos científicos ..................................................................................

44

O que é Epistemologia ? ..........................................................................

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Concepções metodológicas da atualidade ............................................

49

Empirismo lógico do Círculo de Viena ...................................................

49

Racionalismo crítico de Karl Popper ......................................................

50

As revoluções científicas de Thomas Kuhn ........................................... 51 Os programas de pesquisas de Imhre Lakatos .....................................

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O anarquismo teorético de Paul Feyerabend ......................................... 53 Concluindo? ..............................................................................................

54

Referências ................................................................................................ 55

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METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA

INTRODUÇÃO: COMO A METODOLOGIA DA PESQUISA PODE TE AJUDAR A disciplina METODOLOGIA DA PESQUISA CIENTÍFICA está presente nos currículos de todos os cursos superiores, adotando, não raro denominações diferentes como métodos e técnicas de pesquisa ou metodologia do trabalho acadêmico. Aqui, tais denominações serão sinônimas, uma vez que entendemos que um simples trabalho acadêmico de revisão da literatura sobre um tema qualquer, por exemplo, já se constitui como uma pesquisa científica. Científica porque requer condutas e regras claramente identificadas para que sejam maximizadas as chances de sucesso na pesquisa realizada. A metodologia da pesquisa científica não é um bicho papão que existe para importunar aqueles que se aventuram na construção do conhecimento científico. Ela existe para simplificar a vida do estudante / pesquisador na condução de seu trabalho de investigação. Vários manuais de metodologia da pesquisa científica são muito imperativos e pouco reflexivos; postura que tentaremos evitar ao máximo. Recorramos à metáfora da receita do bolo. Nela o bolo é o conhecimento científico a ser construído. Para fazer um bom bolo, são necessários: a) os ingredientes (os materiais) e b) as proporções destes ingredientes e como os mesmos serão manipulados para que a receita seja um sucesso (a técnica de execução). Uma boa receita de bolo deve ser minuciosa o suficiente para que qualquer outra pessoa que recorra à mesma consiga fazer o bolo com sucesso. Receita ruim é receita obscura que não nos informa sobre detalhes importantes na elaboração do bolo. Receita boa é aquela que nos informa criteriosamente quanto, quando, como e porque os ingredientes devem ser colocados na mesma. E mais, uma boa receita de bolo, informa sobre possíveis variações que podem ocorrer sem

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alterar significativamente o resultado do bolo. Neste contexto, não pretendemos defender uma única receita do bolo, e sim refletir sobre possíveis variações sobre a receita do bolo. Analogamente a metodologia não deve ser apenas uma receita para a construção do conhecimento científico, ela deve ser também o espaço da discussão sobre o processo de construção deste conhecimento. Existem nomes pomposos para isto: Epistemologia (ou Teoria do Conhecimento) que é uma ciência que estuda as outras ciências, ou, como preferem alguns autores, a epistemologia é uma metaciência. Optamos, para fins meramente didáticos, em dividir este livro em dois grandes blocos: o primeiro, BLOCO I, sobre aspectos normativos das etapas que usualmente envolvem a pesquisa científica nas diferentes áreas onde discutiremos as etapas e desafios recorrentes à identificação do tema – problema, da elaboração e execução do projeto e da redação do relatório da pesquisa nos formatos de artigo, monografia, dissertação e tese.; o segundo, BLOCO II, sobre as questões relativas ao processo de construção e validação do conhecimento científico, promovendo uma reflexão sobre as grandes concepções epistemológicas da atualidade, tais como o chamado empirismo lógico do Círculo de Viena, o racionalismo crítico de Popper, as revoluções científicas de Kuhn, o anarquismo teorético de Feyerabend e os programas de pesquisa de Lakatos. Outro aspecto importante deste livro foi a opção por uma redação que concilia a simplicidade com a profundidade com que os conteúdos foram trabalhados, ou seja, não podemos confundir simplicidade com superficialidade e muito menos profundidade com pedantismo acadêmico. É importante ressaltar que a existência da metodologia da pesquisa científica só tem sentido se ela for capaz de facilitar os caminhos trilhados na construção do

conhecimento,

através

da

sistematização

e

da

desmistificação.

Desmistificação? Sim! A ciência possui vários exemplos onde foi a violação das regras metodológicas que a fez evoluir. Muitas vezes o conhecimento novo e vigoroso é fruto de ousadias metodológicas que no início podem parecer erros grosseiros, mas que gradativamente se consolidam enquanto novas maneiras e caminhos de se construir conhecimento sistemático.

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BLOCO I A realização de uma pesquisa científica é uma experiência: RADICAL, uma vez que pressupõe um aprofundamento em uma área específica do conhecimento. DISCIPLINADA, porque requer rigor e controle no trato das informações que você coletará. COLETIVA, porque você terá cúmplices nesta aventura, afinal, você lerá muitos trabalhos de outros pesquisadores e principalmente porque a pesquisa só se materializa de fato ao ser publicada, tornada pública. Ou seja, queremos falar alguma coisa para os outros. Neste BLOCO I você aprenderá uma possível maneira de se realizar uma pesquisa, do projeto à redação do trabalho final.

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ANTES DE COMEÇAR: UM DESAFIO! As avaliações só tem sentido se estiverem focadas muito além de apenas uma nota suficiente para a aprovação do aluno.

A avaliação tem aqui de ser

apreendida como um momento de síntese integradora em relação às informações recebidas. É bastante provável que você já tenha escutado aquele antigo ditado: “de pouco vale a teoria sem a prática!” Sábias palavras que atrelam a teoria e a prática, ou seja, a práxis. Na metodologia da pesquisa científica esta práxis se materializa no desenvolvimento processual de um projeto de pesquisa. Este será o seu desafio! Melhor: este será o nosso desafio! Sendo assim, você deverá desenvolver um projeto de pesquisa. Muitos poderão dizer: “mas eu ainda não sei o que eu quero pesquisar”! Sem problemas, trata-se de apenas um projeto, ou seja, um conjunto de ações para conseguir resolver um problema, que enquanto projeto que é, pode (e comumente isto acontece) sofrer alterações.

PESQUISA CIENTÍFICA: UMA MANEIRA DE PENSAR Provavelmente foi com advento da escrita como forma de registro de informações que o homem começou a fazer ciência, isto, segundo os historiadores, aconteceu entre 3000 e 4000 anos A.C. Parece óbvio que a capacidade de fazer registros e transmiti-los para seus descendentes, deu ao ser humano a oportunidade de sistematizar o conhecimento por ele construído. A pesquisa científica possui características específicas em todas as suas etapas. Para isto é importante que adotemos uma possível definição de pesquisa científica e de ciência. Segundo vários metodologistas, trata-se, em ambos os casos, de uma tarefa ingrata, dada a incompletude de qualquer tentativa que se faça para defini-las, mas purismos à parte, usaremos por hora as seguintes definições:

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PESQUISA CIENTÍFICA é o processo da mediação racional e metódica que o homem faz para compreender os fenômenos que ele vivencia, sejam eles naturais, históricos, psíquicos ou culturais. CIÊNCIA é todo conhecimento racionalmente construído através da criteriosa, sistemática e metódica investigação sobre um objeto ou fenômeno, fruto do processo de pesquisa científica. Estas possíveis definições e todas suas possíveis precariedades sinalizam aspectos importantes relativos à maneira de pensar inerente à construção do conhecimento científico; um deles refere-se à necessidade de se organizar as informações sobre um objeto ou fenômeno em categorias. Quando falamos em categorias / categorização, estamos a falar de critérios que as possibilitem. Por exemplo, um botânico pode classificar as plantas de seu viveiro a partir dos diferentes tipos de folhas. Outro botânico poderia querer classificá-las tomando como critério as diferentes maneiras de reprodução. A pesquisa científica busca dar uma ordem lógica e racional na infinita quantidade de informações que recebemos ou extraímos do universo. Para que? Para aumentarmos as chances de compreendermos nosso mundo da melhor maneira possível. Pesquisamos porque de alguma maneira identificamos nossas carências. É porque sabemos que muito pouco sabemos que fazemos a ciência acontecer. Pesquisamos porque desejamos compreender melhor e mais racionalmente questões fascinantes tais como: Quem somos nós? De onde viemos? Para onde iremos? Aprofundaremos esta questão no BLOCO II deste livro.

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TIPOS DE PESQUISAS

Os critérios mais usuais para a caracterização metodológica da pesquisa científica são relativos aos objetivos; aos procedimentos técnicos; à natureza; às fontes de informação e à forma de abordagem do problema. Vejamos as principais características de cada um destes critérios.

EM RELAÇÃO AOS OBJETIVOS, as pesquisas podem ser: 1) Exploratórias: são aquelas que visam proporcionar maior familiaridade com o tema problema com vistas a torná-lo mais evidente.

Envolve

levantamento bibliográfico; entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado; análise de exemplos que estimulem a compreensão. Usualmente assumem, em geral, as formas de Pesquisas Bibliográficas e Estudos de Caso. 2) Descritivas: são aquelas que visam descrever as características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. Envolve o uso de técnicas padronizadas de coleta de dados: questionário e observação sistemática. Assumem, via de regra, a forma de Levantamento. 3) Explicativas: são aquelas que visam à identificação dos fatores que determinam ou contribuem para

a ocorrência

dos fenômenos.

Aprofundam o conhecimento da realidade porque explicam a razão, ou seja, o “por que” das coisas. Quando realizada nas ciências naturais, requerem o uso do método experimental, e nas ciências sociais requerem o uso do método observacional. Assume, em geral, a formas de Pesquisa Experimental e Pesquisa Expost-facto (em latim: realizada ou formulada depois de certo fato).

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EM RELAÇÃO AOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS: 1) Bibliográfica: quando elaborada a partir de material já publicado, constituído principalmente de livros, artigos de periódicos e atualmente com material disponibilizado na Internet. 2) Documental: quando elaborada a partir de materiais que não receberam tratamento analítico. 3) Experimental:

quando se determina

um objeto

de

estudo,

selecionam-se as variáveis que seriam capazes de influenciá-lo, definem-se as formas de controle e de observação dos efeitos que a variável produz no objeto. 4) Levantamento: quando a pesquisa envolve a interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. 5) Estudo de caso: quando envolve o estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos de maneira que se permita o seu amplo e detalhado conhecimento. 6) Expost-Facto: quando o “experimento” se realiza depois dos fatos. 7) Pesquisa-Ação:

quando

concebida

e

realizada

em

estreita

associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo. Os pesquisadores e participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo. 8) Pesquisa-Participante: quando se desenvolve a partir da interação entre pesquisadores e membros das situações investigadas.

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EM RELAÇÃO À NATUREZA: 1) Básica: objetiva gerar conhecimentos novos úteis para o avanço da ciência sem aplicação prática prevista. Envolve verdades e interesses universais. 2) Aplicada: objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática dirigidos à solução de problemas específicos. Envolve verdades e interesses locais.

EM RELAÇÃO À ABORDAGEM DO PROBLEMA: 1) Quantitativa: supõe que o objeto de estudo pode ser quantificável, ou seja, utiliza números para categorizar e analisar as informações coletadas. Utiliza-se de técnicas estatísticas (percentil, média, mediana, desvio-padrão, coeficiente de correlação, ANOVA, dentre outros.)

2) Qualitativa: supõe a existência de uma relação subjetiva entre pesquisador e objeto/fenômeno de estudo que não pode ser abordada através de números exclusivamente. Recorre à interpretação dos fenômenos e à percepção do pesquisador para realizar a descrição dos mesmos, através preferencialmente, do processo indutivo, ou seja, da singularidade para a pluralidade.

Estas classificações servirão, fundamentalmente, para situar seus leitores (além de você mesmo) em relação à maneira que o tema problema será contextualizado, tanto no que se refere aos métodos, quanto às estratégias a serem adotadas na fase final do processo de pesquisa, de redação do relatório, seja lá qual o formato (monografia, artigo, dissertação, tese, dentre outros) adotado.

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É esperado que sua pesquisa seja passível de ser classificada em mais de uma das classificações aqui apresentadas. Na metodologia você deverá explicitar pelo menos duas destas possíveis classificações.

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O PROCESSO DE PESQUISA OU O PROJETO DE PESQUISA?

Utilizaremos aqui muito mais a expressão “processo de pesquisa” do que “projeto

de

pesquisa”,

primeiro

porque

este

faz

parte

daquele

e

principalmente porque existe uma tendência de muitos jovens pesquisadores a pensarem o projeto de pesquisa como algo estanque ou auto-suficiente e até mesmo como uma etapa burocrática e maçante da pesquisa científica. Nada mais enganoso. O processo de pesquisa se dá através da reflexão crítica na tentativa de resolver um problema ou compreender um fenômeno. Lembre-se: O projeto de pesquisa é sua pesquisa em fase embrionária. Para isto, é necessário um sistemático planejamento que pode ser estruturado em 10 etapas, são elas:

 1) escolha do tema-problema;  2) revisão de literatura;  3) justificativa;  4) hipótese;  5) determinação de objetivos;  6) metodologia;  7) coleta e tabulação dos dados;  8) análise e discussão dos resultados;  9) conclusão da análise dos resultados;  10) redação e apresentação do trabalho científico (monografia, dissertação ou tese).

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Tal estrutura não é rígida, apesar de aplicável à maioria dos tipos de pesquisa. Várias destas etapas, muitas vezes acontecem simultaneamente. São possíveis algumas variações na nomenclatura que aqui adotamos, mas o mais importante é que você apreenda a lógica da pesquisa e seu aspecto processual. É impossível fazer uma pesquisa no afogadilho das horas; uma boa pesquisa exige tempo e dedicação para acontecer satisfatoriamente. Uma boa metáfora para elucidar isto é pensar o processo da pesquisa científica organicamente. Um projeto de pesquisa ao ser executado sistemicamente amadurece (processualmente) até a redação do relatório final nos formatos de monografia ou artigo. Pense em uma semente de uma palmeira que germina em um pequeno vaso. A frágil planta que nasce já é uma palmeira. Ou seja, o projeto de pesquisa é a fase inicial da construção do conhecimento. Nesta fase temos um mundo de possibilidades e dúvidas, que ao serem tratadas adequadamente, organicamente se transformarão em uma jovem planta; esta crescerá até se tornar uma frondosa palmeira. Assim, até mesmo a (supostamente) mais controlada pesquisa experimental acontece. Os métodos adotados podem ser mais rígidos ou mais flexíveis, mas o conhecimento científico usualmente cresce organicamente como a palmeira, célula por célula, problema por problema. Aprofundaremos esta questão no Bloco II deste livro.

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ETAPA 1 1) A ESCOLHA DO TEMA- PROBLEMA

O QUE VEM PRIMEIRO? O OVO OU A GALINHA?

A pergunta acima é bem ilustrativa sobre o que vem primeiro, o tema-problema ou a revisão da literatura? Se por um lado é claro que um tema-problema não emerge do nada, uma vez que o pesquisador deve ter algum conhecimento preliminar sobre o tema genérico

que pretende pesquisar, é também

impossível que o mesmo domine absolutamente todo o conhecimento existente sobre um assunto qualquer. Geralmente o tema-problema é identificado a partir da área de interesse do pesquisador, de suas afinidades e interesses em um assunto qualquer, sendo assim, é evidente que alguma coisa o mesmo já conhece sobre o tema escolhido. Por exemplo, se um pesquisador tem como interesse investigativo o efeito da atividade física na melhoria da qualidade de vida, é bastante provável que ele tenha algum conhecimento sobre fisiologia do exercício e sobre o que venha a ser qualidade de vida. É a partir deste conhecimento preliminar que usualmente

é

identificado

o

tema-problema,

entretanto,

quanto

mais

conhecimentos sobre fisiologia e qualidade de vida o pesquisador possuir mais fácil ficará identificar um bom tema-problema. Então quanto mais você ler sobre o seu tema de interesse mais fácil ficará para você encontrar um bom temaproblema.

Como identificar um bom tema-problema? Um bom tema-problema é aquele potencialmente capaz de ser relevante na esfera da pesquisa, do ensino e da extensão. Vejamos porque. Admitamos o tema-problema: “a prática regular de hidroginástica melhora a qualidade de vida de idosos?” Trata-se de um bom tema-problema ou não? É provável que a

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maioria dos leitores responda que sim. Mas na realidade esta resposta não é tão simples assim. Um tema-problema pode ser bom ou ruim. Isto dependerá essencialmente de como o pesquisador o tratará. Se o pesquisador tiver como objetivo provar que a hidroginástica é uma boa atividade para o sistema cardiovascular dos idosos ele estará corroborando, ou seja, confirmando o resultado já obtido em outras pesquisas similares. E isto é bom, pois afinal estará contribuindo para a consolidação deste conhecimento na comunidade científica. Se tal conhecimento científico, fruto do processo de investigação for adequado para um formato pedagógico, o mesmo poderá ser relevante na formação de vários profissionais tais como educadores físicos, fisioterapeutas, biomédicos, médicos, dentre outros. Finalmente, se estes profissionais, em seus trabalhos cotidianos ao aplicarem este conhecimento, conseguirem de alguma maneira transformar a vida destas pessoas para melhor, bingo! O tema-problema e o tratamento dado ao mesmo terá sido bom. Sem correr o risco de sermos simplistas, é possível afirmar que conhecimento bom é aquele que é bom para todos. Ingenuidade? Não. Posicionamento político. A construção do conhecimento científico é permanentemente permeada por questões políticas, éticas e religiosas. Defendemos a usualmente

chamada

ciência

humanitária,

ou

seja,

aquela

que

é

coletivamente construída e potencialmente capaz de ser usufruída por toda a humanidade. Esta discussão não tem fim, para um aprofundamento recomendamos a leitura do livro de J. Bronowski, Ciência e valores humanos. Aprofundaremos este tema no Bloco II deste livro. Devemos pensar nestas questões para aumentarmos as chances de termos um bom tema problema.

Reflita sobre a questão: “Estima-se que mais de um trilhão de dólares são gastos anualmente no mundo com a chamada indústria da guerra e com pesquisas para desenvolver novas armas.”

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Dicas para você escolher um bom tema-problema Podem ser vários os motivos que te influenciarão na escolha de um temaproblema qualquer, entretanto, existem alguns critérios básicos para que esta escolha seja a melhor possível, vejamos alguns deles: 1) Você deve ser apaixonado (a) por aquele assunto! OK! A expressão apaixonado (a) pode parecer um exagero, mas quanto mais você se interessar por um assunto (tema) tanto melhor e mais fácil será a identificação do tema-problema. O tema-problema deve te entusiasmar e muito provavelmente nas suas horas de lazer, lá estará você a ler diletantemente sobre o mesmo. Como diz o livro do escritor Roberto Freire: “Sem tesão não há solução”! 2) Outro critério importante para a escolha de um bom tema-problema é o tempo que você dispõe para estudá-lo. Afinal nada mais frustrante do que ter um belo tema, mas não ter tempo suficiente para conseguir realizá-lo. Por exemplo, as chamadas pesquisas longitudinais, ou seja, aquelas que demandam muitas vezes anos (ou décadas) de investigação não são cabíveis em um trabalho de conclusão de curso (o famoso TCC!) de um curso de especialização que dura, em média, um ano letivo. 3) Por fim, é importante que você reflita sobre uma questão geralmente melindrosa na escolha do tema: o possível orientador. Você deve evitar o risco de se estressar além do esperado, por isto, você deve ter certo grau de empatia com o seu potencial orientador. Apesar de óbvio, nunca se esqueça: um bom orientador é aquele que te orientará ao longo do processo de pesquisa e não aquele que te conduzirá durante tal processo! Orientar é diferente de conduzir! Claro que este processo é também um trabalho coletivo, mas tenha sempre em mente que é você que escolhe o tema-problema, contando, muitas vezes, com a ajuda de seu possível orientador e de outras pessoas.

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É muito comum a dificuldade que vários alunos possuem na identificação de um tema-problema, mas tal dificuldade tende a desaparecer à medida que você se aprofunde naquele tema de interesse. Ou seja, à medida que você lê livros e artigos sobre um assunto, naturalmente dúvidas surgirão. Isto é um bom sinal! As dúvidas que encontramos ao ler sobre um assunto qualquer são como dádivas para nós pesquisadores! Não existiriam pesquisas se não fossem as dúvidas que identificamos. Mas o que é a dúvida? A dúvida na pesquisa científica é uma condição necessária, ou seja, a dúvida é a materialização do problema que pretendemos elucidar e/ou compreender. A dúvida, portanto, denota uma característica inerente ao ser humano: a carência! O ser humano ao se saber carente de um conhecimento, se debruça sobre o mesmo, estudando-o e pesquisando-o. Pesquisamos porque somos carentes do conhecimento, ou seja, sentimos falta algum esclarecimento para melhor compreendermos sobre aquele tema e assim compreendermos melhor o nosso mundo. Usando uma metáfora: a dúvida na pesquisa científica é como a fome, é ela é nos leva a comer, ou seja, é ela que coloca o pesquisador em ação. Nesta metáfora o ato de comer significa nutrir-se. Nutrir-se de conhecimentos. Tal processo se dá através de uma boa revisão de literatura. É o que agora discutiremos.

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ETAPA 2

2) REVISÃO DA LITERATURA

A revisão da literatura é a etapa da sistematização dos conhecimentos existentes sobre um tema qualquer. Nela você deve buscar o que há de mais atualizado sobre seu tema. Para facilitar esta etapa da sua pesquisa existem algumas estratégias que são importantes: 1) Recorra preferencialmente a artigos e livros atualizados sobre o seu tema. Por exemplo, se uma revisão qualquer tiver vinte citações diferentes, é esperado que a maioria delas tenha sido publicada nos últimos dez anos. O motivo desta sugestão é simples: o conhecimento científico avança, ele nunca está acabado, portanto, em 10 anos muito conhecimento pode ter sido construído e aprofundado. Claro que existem os clássicos; um livro ou artigo clássico é aquele que possui abrangência e excelência naquela área, de modo que tendem a ser atemporais. 2) Na revisão da literatura procure mostrar o que se sabe sobre o tema que você escolheu. Por exemplo, para o tema-problema “o impacto da prática regular de hidroginástica na melhoria da qualidade de vida de idosos”, o pesquisador deverá realizar uma revisão de literatura que contenha uma sólida

fundamentação

sobre

“qualidade

de

vida”,

as

diferentes

metodologias e instrumentos para aferi-la e sobre as adaptações fisiológicas e/ou biomecânicas que serão utilizadas, como elementos a serem testados, tais como capacidade cardiopulmonar ou densidade óssea respectivamente. É importante que na revisão da literatura sejam destacados os diferentes entendimentos que diferentes autores possuem sobre o tema, para isto procure identificar tensões e aspectos polêmicos que constituem pontos de debates na comunidade científica. Se você,

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neste processo, identificar alguma lacuna ou aspecto ainda não esclarecido sobre seu tema, analise se este pode ser seu temaproblema. É muito comum que a consolidação do tema-problema de dê nesta etapa de revisão da literatura. Evite citar ostensivamente apenas um autor, isto pode sinalizar para seus leitores, que você leu apenas os trabalhos deste sujeito. 3) Use as novas tecnologias a seu favor. A internet veio para facilitar enormemente o acesso a artigos e até mesmo a compra de livros específicos que às vezes você não encontra nas livrarias de sua cidade. Por exemplo, uma boa base de dados no Brasil, está disponível no portal de periódicos da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Nível

Superior),

disponível

no

endereço:

http://www.periodicos.capes.gov.br/portugues/index.jsp . Neste endereço é possível encontrar uma quantidade enorme de publicações científicas nas diferentes áreas de conhecimento. Não obstante, é comum que o volume de publicações encontradas seja enorme, então é importante estabelecer critérios de filtragem das informações, para que a operacionalização do trabalho seja possível. Por exemplo, em uma pesquisa sobre “qualidade de vida” o pesquisador poderia adotar como critério de filtragem as técnicas metodológicas utilizadas, tais como, quais questionários foram utilizados, se eram validados ou não e qual população foi objeto do estudo. 4) Faça o fichamento dos artigos e livros que você leu; nele você deverá anotar as informações sobre dados gerais da obra, tais como: nome do (s) autor (es), título do artigo, nome do periódico, número, volume e número da página inicial e final. Uma citação é a menção, no texto, de uma informação extraída de outra fonte. No fichamento tome nota de citações da obra que no seu entendimento possam ser usadas na redação de seu trabalho. Uma boa revisão de literatura não deve ser uma colcha de retalhos repleta de citações em seqüência, para evitar isto faça elos entre as citações, identifique e ressalte aspectos importantes para a sua pesquisa.

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ETAPA 3

3) JUSTIFICATIVA

Vendendo o seu peixe! Na justificativa, você deverá mostrar o porquê de sua pesquisa. Defenda a sua idéia e a relevância de seu projeto, mostre que seu tema-problema é importante e procure elucidar as razões que o levaram a escolhê-lo. Destaque as nuance entre o que você está propondo e os trabalhos que já existem.

ETAPA 4

4) SOBRE A HIPÓTESE A hipótese é uma afirmação que o pesquisador pretende provar; neste sentido faz referência a uma verdade provisória que explica um fato ou fenômeno e que será submetida ao crivo da investigação científica. Mas vejamos uma maneira simples de obtermos uma hipótese. O exemplo utilizado no item 1 sobre o tema-problema: “A prática regular de hidroginástica melhora a qualidade de vida de idosos?” pode ser facilmente convertido em uma hipótese através da simples retirada do ponto de interrogação, assim: “A prática regular de hidroginástica melhora a qualidade de vida de idosos.” Conforme já dizemos trata-se de uma afirmação. Um erro bastante corriqueiro em projetos de pesquisa é a usual confusão entre hipótese e pressuposto teórico. A hipótese não deve ser uma afirmativa que já

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seja um conhecimento categórico relativo ao tema problema. Por exemplo, a afirmação “exercícios físicos aeróbios diários melhoram a capacidade cardiopulmonar” apesar de verdadeira, não é uma boa hipótese, uma vez que o conteúdo de tal assertiva já faz parte do corpo teórico de conhecimentos na área da saúde, ou seja, trata-se de um pressuposto teórico.

ETAPA 5

5) DETERMINAÇÃO DE OBJETIVOS

A identificação clara dos objetivos é fundamental no processo da pesquisa científica. Recorrendo a uma metáfora: um objetivo bem definido é a coluna vertebral de seu projeto de investigação. Através deles marcamos o território a ser explorado e focamos os raciocínios que serão utilizados. É comum a utilização de um objetivo geral e de objetivos específicos. Vejamos as diferenças entre ambos. No objetivo geral você deve deixar claro aquilo que você pretende com a realização de sua pesquisa. Vale chamar a atenção para uma confusão comum: objetivo geral não é o que você pretende realizar (isto seria a metodologia) e sim o que você espera deste seu realizar, qual o fruto de sua pesquisa. Uma dica importante é o uso do tempo verbal adequado e os chamados estágios

cognitivos

da

atividade

intelectual.

O

verbo

deve

estar

preferencialmente no infinitivo (exemplos: investigar, compreender, analisar, medir, etc.).

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Os estágios cognitivos classicamente aceitos para a atividade intelectual são: a) O do conhecimento b) O da compreensão c) O da aplicação d) O da análise e) O da síntese f) O da avaliação Vejamos mais detalhadamente: a) Estágio do conhecimento: refere-se à primeira identificação de um objeto ou fenômeno de estudo. Neste usamos verbos como classificar, conhecer, relatar, identificar, descrever, etc. b) Estágio da compreensão: pressupõe o estágio anterior e refere-se ao conjunto das características gerais que formam um conceito e que são os atributos do objeto de estudo. Neste estágio usamos os verbos: compreender, deduzir, demonstrar, interpretar, etc. c) Estágio da aplicação: pressupõe os estágios anteriores e usamos os verbos: organizar, desenvolver, aplicar, selecionar, etc. d) Estágio da análise: mais complexo que os anteriores, onde procuramos conhecer a natureza, as proporções, as funções e as relações das variáveis escolhidas para a pesquisa. São usados os verbos: analisar, provar, investigar, diferenciar, etc. e) Estágio da síntese: pressupõe os estágios anteriores; trata-se de uma ação integradora a respeito de análises pontuais anteriormente realizadas. Os verbos mais utilizados são: esquematizar, propor, sintetizar, documentar, especificar, etc.

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f) Estágio da avaliação: Em tese, o mais complexo de todos, uma vez que pressupõe todos os anteriores. Usualmente são usados os verbos: avaliar, decidir, medir, selecionar, etc.

Vejamos um exemplo: Admitamos que um pesquisador tenha em seu projeto de mestrado enunciado a hipótese: “a ingestão de 200 gramas diários de mamão é eficaz na prevenção da gastrite”. Para transformarmos tal hipótese em objetivo basta colocar um dos verbos citados nos estágios cognitivos no início da hipótese. Ou seja, teríamos, por exemplo, como objetivo: “relatar que a ingestão de 200 gramas diários de mamão é eficaz na prevenção da gastrite”. Ou “analisar se a ingestão de 200 gramas diários de mamão é eficaz na prevenção da gastrite”. Este último exemplo é mais complexo que o anterior. Assim, concluímos que o verbo adequado sinaliza o tipo de abordagem que será utilizada na pesquisa.

Os objetivos específicos por sua vez são os desdobramentos naturais do objetivo geral. É o clássico “vamos por partes”; opção muitas vezes óbvia dada à comum dificuldade de atuarmos no todo. O exemplo de objetivo geral “analisar se a ingestão de 200 gramas diários de mamão é eficaz na prevenção da gastrite” provavelmente levaria o pesquisador aos seguintes objetivos específicos: a) “Compreender os eventos bioquímicos das células de revestimento do estômago nas diversas condições de acidez e alcalinidade”; b) “Identificar os princípios ativos do mamão que interagem com as células do estômago”; c) “Analisar o nível de reconstrução das lesões estomacais após a ingestão sistemática de 200 gramas diários de mamão”.

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É comum que cada um destes objetivos específicos evoluam processualmente para um capítulo na redação da dissertação de mestrado deste pesquisador.

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ETAPA 6

6) METODOLOGIA

Nesta etapa você mostrará como será executada a pesquisa e o design metodológico que adotará. É na metodologia (ou procedimentos, como alguns preferem) que você deverá descrever todas as atividades práticas necessárias para obter as informações necessárias (os dados) para cada um dos objetivos específicos de sua pesquisa. Uma boa metodologia é aquela que descreve suficientemente bem os procedimentos técnicos e operacionais da pesquisa, de modo que ela (a pesquisa) possa ser repetida por outro pesquisador, a partir das informações contidas na mesma (na metodologia). A expressão design metodológico se refere ao tipo de pesquisa, ou seja, será uma pesquisa qualitativa, quantitativa, descritiva, estudo de caso, exploratória, dentre vários outros já explicados anteriormente. Descreva a amostra que você utilizará, os critérios utilizados para defini-la e a porcentagem da mesma em relação a população pesquisada. Informe sobre como será realizada a coleta dos dados, quais os instrumentos utilizados: questionários, entrevistas, observação. Descreva como será realizada a tabulação dos dados, e como os mesmos serão tratados, por exemplo, você fará a análise do discurso que idosos fazem sobre sua percepção de qualidade de vida ou realizará um tratamento estatístico correlacionando duas variáveis quaisquer. Se for cabível, diga a margem de precisão que será adotada em sua pesquisa.

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Tipos de Amostras Julgamos ser pertinente um aprofundamento relativo aos tipos de amostra, classicamente elas são categorizadas em dois tipos: as não-probabilísticas e as probabilísticas, sendo que estas são realizadas por sorteio. 1) Amostras não-probabilísticas podem ser:  amostras acidentais: compostas por acaso, com pessoas que vão aparecendo;  amostras

por

quotas:

diversos

elementos

constantes

da

população/universo, na mesma proporção;  amostras intencionais: escolhidos casos para a amostra que representem o “bom julgamento” da população/universo.

2) Amostras probabilísticas podem ser:  amostras casuais simples: cada elemento da população tem oportunidade igual de ser incluído na amostra;  amostras casuais estratificadas: cada estrato, definido previamente, estará representado na amostra;  amostras por agrupamento: reunião de amostras representativas de uma população. Até esta Etapa 6 do processo de pesquisa temos o que chamamos de PROJETO DE PESQUISA, acrescido apenas de um CRONOGRAMA, que nada mais é do que a adequação das etapas do seu projeto ao calendário. Nele, você deve estimar o tempo necessário para cada fase, sendo possível adaptações que quase sempre acontecem.

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ETAPA 7 Desta etapa em diante você está na fase executiva de seu projeto, ou seja, realizando a coleta e tabulação dos dados, apresentandoos e discutindo-os, com vistas à redação final de sua pesquisa. 7) COLETA E TABULAÇÃO DOS DADOS A coleta de dados refere-se ao processo de aquisição informações e dados necessários para a realização da pesquisa de acordo com o plano lógico estabelecido na metodologia. Nas pesquisas de campo e de laboratório a coleta de dados acontece de acordo com o seguinte padrão:  Variáveis e objetivos claramente delimitados.  Montagem dos instrumentos utilizados na coleta de dados.  Seleção dos sujeitos / amostra  Coleta de dados propriamente dita.  Tabulação adequada dos dados coletados para análise posterior. A tabulação dos dados deve ser estruturada de acordo com as possibilidades e especificações do instrumento utilizado. As planilhas eletrônicas são um bom começo para a tabulação dos dados, uma vez que a maioria dos softwares utilizados para o tratamento dos dados é compatível com o formato de arquivo gerado pelas mesmas.

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Coleta de dados em pesquisas bibliográficas A coleta de dados na pesquisa bibliográfica está presente em todo processo de pesquisa. Uma pesquisa puramente bibliográfica de qualidade, ao contrário do pensamento de alguns pesquisadores, é tão importante quanto uma pesquisa de campo ou laboratório, também de qualidade. A pesquisa bibliográfica pode trazer à tona uma nova e inédita maneira de apreender aquilo que já foi publicado, mas, para isto, exige o rigor na leitura de textos técnicos e acadêmicos, que possuem expressões e jargões específicos. Tais textos têm como objetivo tácito, a circulação do conhecimento científico construído. Outro procedimento importante a ser adotado na leitura de textos acadêmicos e científicos é o recorrente uso do dicionário. Use e abuse do dicionário; ele facilitará a sua compreensão destes textos.

ETAPA 8

8) ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A análise e discussão dos resultados é provavelmente o momento mais profícuo da pesquisa, isto porque é na análise e discussão que você poderá mostrar o seu arsenal de conhecimentos, sua capacidade de fazer conexões lógicas e reflexões que emerjam da mediação entre a teoria e os fatos explicitados pelos dados. A análise deve ser realizada tendo como foco os objetivos da pesquisa, num esforço racional de identificar provas para a eventual confirmação ou refutação da(s) hipótese(s).

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ETAPA 9

9) CONCLUSÃO DA ANÁLISE DOS RESULTADOS Nesta etapa você já tem condições de sintetizar os resultados obtidos com a pesquisa. Deverá explicitar se os objetivos foram atingidos, se a(s) hipótese(s) foram confirmadas ou rejeitadas. E, principalmente, deverá ressaltar a contribuição da sua pesquisa para o meio acadêmico ou para o desenvolvimento da ciência e da tecnologia.

ETAPA 10

10) REDAÇÃO

E

APRESENTAÇÃO

DO

TRABALHO

CIENTÍFICO (ARTIGO, MONOGRAFIA, DISSERTAÇÃO OU TESE) Nesta etapa você deverá redigir seu relatório de pesquisa: artigo, monografia, dissertação ou tese. Azevedo (1998, p.22) argumenta que o texto deverá ser escrito de modo apurado, isto é, “gramaticalmente correto,

fraseologicamente

claro,

terminologicamente

preciso

e

estilisticamente agradável”. Normas de documentação da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) deverão ser consultadas visando à padronização das indicações bibliográficas e a apresentação gráfica do

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texto. Normas e orientações do próprio Curso de Pós-Graduação também deverão ser consultadas. Um aspecto importante para uma boa redação é o equilíbrio entre a chamada linguagem acadêmica e a clareza daquilo que se pretende dizer. Evite ser prolixo e evite frases rebuscadas que na maioria das vezes dificultam o entendimento do texto. Vejamos agora as principais características de cada um destes formatos redacionais.

Artigo O formato de artigo tem como objetivo divulgar com agilidade os resultados de uma pesquisa científica. Trata-se de um texto integral que usualmente possui entre 4 e 12 páginas, dependendo das normas do periódico onde será publicado. Possui a seguinte estrutura: Título (subtítulo); Autor (es); Instituições nas quais os autores trabalham; Resumo (Abstract); Introdução; Texto do artigo (usualmente composto por subtítulos); Conclusão; Referências bibliográficas (seguindo as normas da ABNT).

Monografia A monografia é um texto sobre um único tema (mono = um; grafia= escrita) que descreve o processo de pesquisa científica da identificação do tema problema, da revisão da literatura, dos objetivos e hipóteses, da metodologia, até a

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apresentação e discussão dos resultados e finalmente a conclusão. Por exemplo, podemos conceber uma monografia com a seguinte estrutura: Introdução – Nesta deve constar um mapeamento contextualizador sobre o assunto e o delineamento do tema problema. Apresente na Introdução a justificativa e os objetivos de sua pesquisa. Descreva sobre a importância da metodologia adotada. Corpo – São os capítulos de sua monografia, usualmente são necessários tantos capítulos quantos forem os objetivos específicos. Aqui você deverá expor os dados coletados e os resultados do tratamento lógico e racional que foi dado aos mesmos. Neta fase é importante que você demonstre as relações existentes entre os resultados e a teoria. Faça reflexões, se possível refute ou corrobore resultados de outras pesquisas, defenda suas idéias tendo como suporte a lógica e os resultados. Conclusão – Aqui você deve sintetizar os resultados e apontar (se for o caso) a necessidade da realização de mais pesquisas sobre esta temática. Vale lembrar que a síntese emerge de uma reflexão pessoal sobre os resultados obtidos.

Dissertação A dissertação é usualmente uma monografia científica realizada para obtenção do título de Mestre que é submetida a avaliação de uma banca examinadora. Sendo assim, estruturalmente trata-se de uma monografia onde se pressupõe um aprofundamento do tema de investigação, sendo orientada por um Doutor da área de investigação.

Tese A tese é necessária para obtenção do título acadêmico de Doutor, sendo também submetida a uma banca examinadora. É esperado que uma tese

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apresente algo de inédito para a área de pesquisa, contribuindo para o avanço do conhecimento na mesma. Na tese você deverá mostrar amplo domínio sobre os conteúdos da área, de seus diferentes métodos e alta capacidade de síntese em relação à especificidade do conhecimento. Vejamos agora a estrutura de apresentação formal de monografias, dissertações e teses. A ordem dos elementos que constituintes é: Capa (obrigatório) Folha de rosto (obrigatório) Errata Folha de aprovação (obrigatória em trabalhos submetidos a uma banca) Dedicatória Agradecimentos Epígrafe Resumo (obrigatório para monografias, dissertações e teses) Abstract (obrigatório para dissertações e teses) Listas Sumário (obrigatório) Elementos textuais (obrigatório) Referências (obrigatório) Glossário Apêndice Anexos Índice Capa (obrigatório)

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É importante ressaltar que sempre devem ser seguidas as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), muito especialmente nos trabalhos acadêmicos, em relação aos diferentes tipos de citações e elaboração de referências bibliográficas. Tais aspectos são normativos e enquanto normas que são, precisam ser rigorosamente seguidas.

Finalizando o BLOCO I Com este BLOCO I você aprendeu os fundamentos que norteiam o processo da pesquisa científica. Da identificação do tema problema até a estrutura do relatório da pesquisa realizada nos formatos de artigo, monografia, dissertação ou tese. É importante repetir que existem variações ligadas às diferentes possibilidades de planejamento, execução e finalização do processo de pesquisa. Você poderá até mesmo inovar em cada uma destas etapas, desde que sejam garantidos os princípios inerentes à racionalidade, objetividade e clareza naquilo que você propõe. A pluralidade metodológica é sempre bem vinda, uma vez que amplia as perspectivas de abordagens sobre os objetos/fenômenos de pesquisa. São esperadas dúvidas! Afinal, são elas que te motivarão a um aprofundamento em pontos específicos dos conteúdos aqui trabalhados. Recorra aos tutores e aos seus orientadores, eles estão preparados para ajudá-lo para uma melhor compreensão do processo da pesquisa científica. É comum encontrarmos alunos que relatam a dificuldade “em colocar no papel” suas idéias. Quanto a isto não temos a menor dúvida: Comece! Não tenha medo de colocar no papel suas idéias, suas propostas e porque não dizer, seus sonhos, relativos à sua pesquisa científica. Lembre-se: Todos nós erramos quando elaboramos nossa primeira pesquisa, tais erros são como dádivas que nos

ajudam

nesta

aventura

de

construir

o

saber.

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BLOCO II Compreender as bases do processo de construção do conhecimento é o objetivo da chamada Teoria do Conhecimento ou Epistemologia. Neste BLOCO II você deverá identificar e explicar os diferentes tipos de conhecimento, além das peculiaridades do conhecimento científico. Deverá também compreender como se dá o processo de construção e validação do conhecimento científico à luz das principais concepções metodológicas da atualidade.

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TIPOS DE CONHECIMENTO O que é conhecimento? Segundo o Dicionário Houaiss trata-se do “ato ou a atividade de conhecer, realizado por meio da razão e/ou da experiência”. Tal definição é aplicável a vários tipos de conhecimento uma vez que desde os primórdios da humanidade o homem acumula conhecimentos construídos através da observação dos fenômenos da natureza, tais como as estações do ano, a época das chuvas e do plantio, as fases da lua e sua influência no cultivo, a posição das estrelas no céu, etc. Os quatro tipos de conhecimento são: o popular, o filosófico, o teológico e o científico. A principal diferença entre estes tipos de conhecimento se refere às etapas que delineam o processo de construção de cada tipo de conhecimento.

O conhecimento Popular

O conhecimento popular ou vulgar é aquele que se constrói cotidianamente na relação que o ser humano estabelece com as coisas ou fenômenos com os quais este interage. Por exemplo, há alguns milhões de anos, nossos ancestrais aprenderam com a experiência que o fogo poderia servir para afugentar animais ferozes. Tal conhecimento é considerado verdadeiro através de afirmações do tipo “porque funciona”, “porque vi” ou “porque sempre foi assim”; tais justificativas, entretanto, são superficiais, subjetivas e acríticas, uma vez que a afirmação “o fogo afugenta animais ferozes” para estar certa dependeria de um aprofundamento de questões relativas à intensidade do fogo e à ferocidade dos animais.

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O conhecimento Filosófico

O conhecimento filosófico pode ser caracterizado pelo uso sistemático da razão no questionamento lógico e eventual elucidação de problemas ligados à conduta humana, através de hipóteses oriundas da experiência e não da experimentação. Este não pode ser verificável uma vez que as hipóteses filosóficas não são submetidas a testes de observação. O conhecimento filosófico procura a compreensão de aspectos universais da existência humana através da reflexão, podendo contribuir para a melhor compreensão do uso ético de outros tipos de conhecimento, como o religioso e científico.

O conhecimento teológico

O conhecimento teológico ou religioso adota como elemento fundamental de seu processo de construção o uso de dogmas de natureza sobrenatural, que são considerados infalíveis e, portanto não passíveis de eventuais discussões. Tal conhecimento é valorativo e pressupõe um ato de fé, sem o qual este se torna impossível. Como exemplo, podemos citar a clássica discussão entre os criacionistas e evolucionistas. Os criacionistas, formados por grupos de pesquisadores religiosos ou por religiosos pesquisadores, advogam a partir de textos sagrados, que o homem seja fruto da obra criadora de um Deus, ao passo que os evolucionistas, formados por grupos de pesquisadores laicos, defendem que o homem seja fruto de um processo evolutivo sem fim. Tal polêmica tem como ponto nevrálgico o entendimento que cada uma das partes tem sobre o que venha a ser evidência científica.

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O conhecimento científico

O conhecimento científico possui características peculiares que o distingue dos demais tipos de conhecimento, vejamos mais detalhadamente cada uma delas: 1) O conhecimento científico é factual, ou seja, possui como objeto de estudo a realidade dos fatos. 2) É um conhecimento sistemático uma vez que é construído uma rede de idéias articuladas a partir de princípios da lógica. 3) É um conhecimento verificável, onde só hipóteses provadas conseguem o status de conhecimento científico. 4) É um conhecimento falível, onde não é cabível a idéia de conhecimento absoluto e acabado, ou seja, à medida que uma ciência avança seu corpo teórico vai se transformando. O conhecimento científico não é a verdade última e cabal sobre um fenômeno qualquer.

O QUE É CIÊNCIA? Muitos estudiosos em epistemologia se debruçaram sobre a árdua tarefa de definir a ciência; a complexidade de tal tarefa é conseqüência principalmente das bases normativas da construção do conhecimento ao longo da história. O conceito tradicional de ciência tem origem em Platão e Aristóteles na Grécia antiga; para eles ciência é o oposto de opinião, uma vez que nesta, falta a garantia sobre sua validade e naquela é imprescindível a existência da própria validade. Por exemplo, podemos ter a opinião de que a ingestão de um determinado alimento seja prejudicial aos rins, ou seja, não temos provas e evidências sobre tal afirmação. Caso tivéssemos estas provas e evidências, obtidas através de pesquisas em fisiologia, tal afirmativa seria científica. Com o advento da ciência moderna a conceituação de ciência ficou mais complexa, dado que não entendemos o conhecimento científico como absoluto e infalível. Situamos, no contexto neste livro, a ciência moderna com o surgimento e consolidação das ciências sociais e da física quântica nos

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séculos XVIII e XIX, o que

colaborou em muito para o aprimoramento do

conceito de ciência. De fato, ao compreendermos que ele é relativo e falível, abrimos um enorme leque de possibilidades e entendimentos sobre o que é ciência; vejamos algumas possíveis definições: “Ciência é o conhecimento que, em constante interrogação de seu método, suas origens e seus fins, procura obedecer a princípios válidos e rigorosos, almejando especialmente coerência interna e sistematicidade”. (Dicionário Houaiss). “Ciência é a observação sistemática dos eventos naturais e as condições necessárias para descobrir fatos sobre eles e para formular leis e princípios baseados nestes fatos.” (Academic Press Dictionary of Science & Technology). “A ciência é uma atividade intelectual realizada por seres humanos que está desenhado para descobrir informações sobre o mundo natural em que vivem os seres humanos e para descobrir as formas em que esta informação possa ser organizada em padrões significativos. A principal finalidade da ciência é recolher fatos (dados). O objetivo final da ciência é para discernir o que existe entre ordem e entre os vários fatos”. (Dr. Sheldon Gottlieb). “Ciência é aquele conhecimento que inclua, em qualquer forma ou medida, uma garantia da própria validade”. (Dicionário de filosofia, Abbagnano, N.)

Vejamos agora algumas possíveis definições mais polêmicas sobre o que é ciência: “Ciência é a crença na ignorância dos peritos. Religião é a cultura da fé, ciência é a cultura da dúvida”. (Richard Feynman). “O combustível da ciência é a ignorância. A ciência é como um forno que deve ser alimentado com troncos das florestas da ignorância que nos rodeiam. No processo, o desmatamento a que chamamos conhecimento se expande, mas quanto mais ele se expande de mais ignorância precisará Um verdadeiro

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cientista está entediado pelo conhecimento, é este ataque à ignorância que o motiva. A floresta é sempre mais interessante que a clareira”. (Matt Ridley). “O verdadeiro propósito do método científico é certificar se a Natureza não tenha enganado em pensar que você sabe algo que, na verdade, não saiba”. (Robert M. Pirsig). “Ciência é o fruto possível na seara dos céticos, sendo uma maneira racional e carente de evidências, de interpretar o mundo”. (Guanis Vilela Junior). “Acho que vamos ter de nos habituarmos à idéia de que não devemos olhar para a ciência como um "corpo de conhecimentos", mas sim como um sistema de hipóteses, ou como um sistema de suposições ou antecipações que em princípio não podem ser justificadas, mas com o qual estamos a trabalhar, desde que fique de pé para testes, e do qual somos a razão em dizer que nunca sabemos que elas são "verdadeiras". . . (Karl Popper). Talvez você se lembre daquela famosa frase: ”as perguntas mais simples são as mais difíceis de serem respondidas”; “quem somos nós?”; “o que é vida?”; “o que é ciência?”; “para onde vamos?” É claro que mais importante que tentar responder a estas questões, talvez seja mais significativa a ação implícita em cada uma delas, quero dizer, por exemplo, que mais importante que saber o que a vida, é o viver; que mais importante que saber precisamente o que ciência, é fazer a ciência. A maioria destas citações nos permite a constatação de que a ciência exige uma intencionalidade lógica que conduz às diferentes etapas do processo de investigação científica. Segundo Trujillo (1974) a logicidade da ciência se dá por meio de um constructo onde: A) Seja possível a observação racional; B) Seja possível a interpretação e explicação dos fenômenos; C) Seja possível a verificação dos fenômenos, através de experimentação ou da observação; D) Seja possível a elaboração de generalizações, princípios e leis.

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Assim, podemos constatar que o fazer ciência pressupõe um caminho a ser percorrido que vai da identificação de uma indagação ou problema; passa pela compreensão deste problema diante daquilo que se sabe sobre a temática em questão; lança possíveis explicações sobre este problema (hipóteses); testa com rigor estas possíveis explicações; estabelece conexões lógicas entre a teoria e o observado e finalmente, confirma ou não as possíveis explicações encontradas.

Classificando as ciências Toda tentativa de classificação parte da definição dos aspectos que nortearão a mesma. Com as ciências não é diferente, temos a tradicional e conhecida classificação das ciências biológicas, exatas e humanas, até outras mais complexas. Vejamos algumas delas.

Auguste Comte, um dos expoentes do positivismo no século XIX, propôs uma classificação a partir dos conteúdos das mesmas. Para ele as ciências poderiam ser categorizadas em: matemáticas; físico-químicas; biológicas; morais (psicologia, história, sociologia e política) e metafísicas. Mario Bunge, eminente físico e epistemologista argentino, classificou as ciências, em relação aos conteúdos, como formais (lógica e matemática) e factuais (física, química, biologia, sociologia, economia, história e ciência política). As formais são aquelas que dependem essencialmente do significado de seus termos e de sua estrutura lógica, ao passo que as factuais, são aquelas que precisam também dos fatos a que se referem.

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Separando o joio do trigo...

A criatividade humana de fato não tem fim. Na epistemologia é usual a terminologia protociência e pseudociência para a delimitação e diferenciação da chamada ciência real, ou seja, aquela que se submete ao crivo da experimentação e à busca das evidências (provas) que atestem sua validade. A protociência refere-se às ciências em sua fase embrionária, ou seja, antes do surgimento e consolidação do método científico.

Usualmente este termo

(protociência) é utilizado em referência a todo conjunto de crenças e teorias que ainda não foram testados pelo método científico. Historicamente são exemplos de protociência a alquimia e a astrologia; ambas, ao serem estudadas sob o rigor do método científico, possibilitaram o surgimento da química e da astronomia respectivamente. Uma pseudociência, por sua vez, refere-se às teorias, crenças e métodos que reivindicam o status de científicas sem aderirem ao método científico, ou seja, não provam o que propõem e não apresentam evidências plausíveis de sua validade. Esta questão é polêmica e desperta paixões por todos os cantos. São consideradas pseudociências: a ufologia, o criacionismo, o efeito lunar, a terapia do toque, a cientologia, a dianética e até mesmo a homeopatia. Carnap é pontual nesta questão ao escrever o famoso Princípio da Tolerância: “Nossa intenção não é elencar proibições e sim convenções, afinal na lógica não há moral. Qualquer um tem a liberdade de construir a sua própria lógica como desejar. Tudo que pedimos é que para que seja possível a discussão, então que os métodos sejam claramente explicados; que ao invés de argumentos filosóficos as regras da sintaxe sejam fornecidas”. (in Logical Syntax, 17).

De fato, como qualquer outro, o jogo científico também precisa de regras claramente colocadas para que ele aconteça. As regras metodológicas acabam por se configurar como os elementos delimitadores e norteadores do processo de construção do conhecimento científico. Veremos a partir de agora, os mais importantes tipos de métodos e suas características gerais.

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Para refletir! Esta é a famosa gravura do pintor espanhol Goya, intitulada “O sono da razão produz monstros” de 1798. Faça uma reflexão sobre a mesma sob o ponto de vista epistemológico.

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MÉTODOS CIENTÍFICOS A palavra método tem sua origem no grego onde met significa através e hodós significa caminho, ou seja, através de um caminho. Assim, o método refere-se ao caminho a ser trilhado para a construção do conhecimento científico. Dentre as várias acepções para método presentes no Dicionário Houaiss (2001) a mais significativa no contexto deste livro é: “o somatório de operações e disposições preestabelecidas que garantem o conhecimento, tais como a busca de evidência, o procedimento analítico, a ordenação sistemática que parte do simples para o complexo, ou a recapitulação exaustiva da totalidade do problema investigado”. É importante que fique claro que não existe ciência sem método e que os métodos que aqui apresentaremos são os exemplos mais corriqueiros e usuais. Todos os métodos são passíveis de leituras singulares, ou seja, de adaptações que emirjam das limitações e demandas do processo de pesquisa em si.

MÉTODO INDUTIVO O método indutivo é aquele estruturado a partir do processo de indução, ou seja, a partir de observações singulares e pontuais, permite uma conclusão de ordem generalizante. Um exemplo clássico é o da observação do comprimento da orelha dos burros: “O burro 1 possui orelhas grandes”; “o burro 2 possui orelhas grandes”; “o burro 3 possui orelhas grandes”; logo todos os burros possuem orelhas grandes! Porque afirmamos com tanta segurança que todos os burros possuem orelhas grandes? E se existir um burro mutante? Esta questão não é tão simples de ser respondida. O ser humano evoluiu pensando indutivamente. Indutivamente acreditamos na regularidade das estações do ano; isto nos possibilitou planejar a época certa do plantio e da colheita. Indutivamente acreditamos que no próximo ano tudo continuará sob nosso suposto controle, por exemplo: trabalhar regularmente; ir para praia no verão;

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para as montanhas no inverno; ir ao dentista e ao oftalmologista uma vez por ano. Indutivamente (pasmem!) até acreditamos que o conhecimento científico é sempre bom. Um indutivista é aquele que acredita, ou seja, tem fé na estabilidade dos fenômenos que observa, para ele, a natureza é estável e previsível. Confortável ou perigoso? David Hume e Karl Popper são dois pensadores exemplares que se debruçaram sobre esta questão.

MÉTODO DEDUTIVO O método dedutivo, inicialmente proposto por Descartes, Spinoza e Leibniz, é estruturado a partir da observação generalizante de um fenômeno ou fato, que possibilita a construção de conclusões singulares. Por exemplo: “todo homem é mortal, fulano de tal é humano, logo é mortal”. Aqui as expressões “todo homem é mortal” e “fulano de tal é humano” são as premissas e a expressão “logo é mortal” é a conclusão. No método dedutivo a conclusão tem como finalidade explicitar o conteúdo das premissas. Vejamos mais um exemplo: “o esporte é socializante (premissa 1), natação é um esporte (premissa 2), logo, natação é socializante” (conclusão).

Observe que sendo verdadeiras as premissas, a conclusão também será. Além disto, a informação contida na conclusão já estava de alguma maneira presente nas premissas.

MÉTODO HIPOTÉTICO – DEDUTIVO Proposto por Popper, o método hipotético – dedutivo possui etapas que passam pela identificação do problema, pela formulação de conjecturas ou hipóteses que são testadas ou falseadas. Segundo Gil (1999)

“falsear

significa tornar falsas as conseqüências deduzidas das hipóteses. Enquanto

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no método dedutivo se procura a todo custo confirmar a hipótese, no método hipotético-dedutivo, ao contrário, procuram-se evidências empíricas para derrubá-la”. Tal estratégia epistemológica causa certo estranhamento, a pergunta mais basal em relação a esta é: como pode um cientista querer derrubar sua hipótese? Isto não seria a mesma coisa que puxar o próprio tapete? Vejamos esta questão mais detalhadamente. Critério da Falseabilidade Para Popper é o critério da falseabilidade (ou refutabilidade) que possibilita a distinção entre a ciência e a pseudociência. Este critério é: se uma teoria é incompatível com possíveis evidências empíricas então ela é científica, caso contrário, ela será dogmática e, portanto, não científica. Popper cita como exemplos de teorias não científicas o marxismo e a psicanálise usando o argumento de que estas são sempre compatíveis com todas as observações. Para Popper o marxismo deixou de ser científico a partir do momento que foi modificado para acomodar as evidências oriundas da observação. No caso da psicanálise, Popper advoga que ao ser compatível com toda observação possível esta seria anti científica. Não obstante, deixa claro que uma pseudociência pode se tornar ciência através do refinamento de sua teoria e do avanço tecnológico. Discutir tais temas com historiadores e psicanalistas é tão polêmico quanto a discussão de quem é melhor no futebol, Brasil ou Argentina? Retomaremos esta questão no item sobre o racionalismo crítico de Popper. Sugestão para quem tem tempo e fôlego! O livro A lógica da pesquisa científica de Karl Popper.

MÉTODO DIALÉTICO O método dialético tem suas origens na Grécia antiga com Zenon, Sócrates e Heráclito. Nele, o permanente diálogo entre os opostos possibilita uma reflexão

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mais radical do fenômeno estudado e, portanto, uma compreensão mais ampla do mundo. Seus elementos básicos são a Tese, Antítese e a Síntese. Modernamente temos a dialética idealista de Hegel e a dialética materialista de Marx. A dialética marxista possui 4 princípios, são eles: 1) Tudo se relaciona: o mundo é um conjunto de processos dinâmicos que estão em permanente interação entre si, onde nada está acabado. Por exemplo, uma planta está em permanente processo de interação com o ar e com o solo. 2) Tudo

se

transforma:

ao

se

relacionarem

as

coisas

mudam

permanentemente. As coisas por simplesmente existirem estão em permanente mudança, mesmo que não percebamos isto. Admitamos que você observe hoje uma estátua em um museu. Tal experiência ao ser repetida daqui a 10 anos não será a mesma, uma vez que a estátua não será exatamente a mesma e você também terá mudado neste tempo. A estátua ao interagir com o ar que a rodeia terá sofrido alterações, mesmo que imperceptíveis a olho nu. 3) Mudança da quantidade à qualidade: onde pequenas mudanças quantitativas, gradualmente, determinam uma mudança qualitativa. Por exemplo, um coração está funcionalmente bem; as artérias coronarianas do indivíduo ao longo de sua vida sedentária e com hábitos não saudáveis, foram lentamente ficando obstruídas... de repente, uma pequena quantidade a mais LDL (colesterol nocivo) foi suficiente para bloquear totalmente o fluxo sanguíneo. Ou seja, uma mudança quantitativa determinou uma mudança qualitativa. 4) Interpenetração dos contrários: onde o conflito dos opostos que determina a permanente mudança das coisas. Politzer (1979) cita como exemplo: “é na criança e contra ela que cresce o adolescente; é no adolescente e contra ele que amadurece o adulto”. Tais métodos são as colunas que sustentam toda a estrutura que compõem o saber científico na atualidade. Vale lembrar que optamos por não elencar

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as nuances técnicas dos procedimentos científicos que muitas vezes também são chamados de métodos, tais como o método histórico, o método fenomenológico, o método tipológico, dentre tantos outros.

O QUE É EPISTEMOLOGIA? A epistemologia é a ciência que tem como objeto de estudo a construção e validação do conhecimento científico. No contexto deste livro o termo epistemologia é sinônimo de teoria da ciência ou filosofia da ciência, que são denominações bastante usadas também. Há muito tempo filósofos e cientistas tentam explicar como o conhecimento científico acontece e qual sua confiabilidade. Confiabilidade esta que extrapola as fronteiras do conhecimento em si mesmo, mas que exige uma reflexão sobre o uso ético e moral do conhecimento científico. O exemplo mais polêmico atualmente é o uso de técnicas de engenharia genética para a clonagem de seres humanos. Faça uma reflexão sobre a seguinte situação hipotética: “uma mãe que tenha perdido seu filho de 3 anos de idade em um acidente. Seria legítimo que ela pudesse ter um clone de seu filho?” Se é legítimo para a maioria dos governantes dos países ricos, investir bilhões de dólares todos os anos em pesquisas para o desenvolvimento de armas mais poderosas, porque não seria legítimo para uma mãe clonar seu filho?

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Veremos a seguir as principais concepções metodológicas da atualidade, ou seja, as mais relevantes e importantes tentativas de explicação dos processos de construção do conhecimento científico.

CONCEPÇÕES METODOLÓGICAS DA ATUALIDADE EMPIRISMO LÓGICO DO CÍRCULO DE VIENA O chamado Círculo de Viena refere-se a um grupo de notáveis cientistas e filósofos que se debruçaram sobre as prementes questões epistemológicas conseqüentes dos enormes avanços científicos e tecnológicos que ocorreram na virada do século XIX para o século XX. Alguns exemplos: a eletricidade, a teoria da relatividade de Einstein, a física quântica, a genética, dentre outros. Podemos enumerar como objetos de estudo dos empiristas o problema da confiabilidade do conhecimento científico; a relação entre os enunciados científicos e suas bases empíricas e a polêmica questão do conhecimento antecedente (a priori) que possibilita o entendimento daquilo que se observa. Os pensadores do Círculo de Viena argumentaram que o conhecimento científico tem que ser pautado pelo Princípio do Empirismo, ou seja, consolidado a partir da experiência (empiria no grego). Outro aspecto importante do empirismo lógico é o chamado Princípio do Logicismo onde o conhecimento científico tem que ser enunciado a partir do uso rigoroso da lógica. Com isto, houve uma valorização da matemática como linguagem universal, que com seu rigor lógico, deveria ser usada em toda a Ciência. Ciência e não ciências, os empiristas lógicos defendiam o ideal de uma única ciência unificada, o chamado pan cientificismo. Para eles, a Ciência Unificada, seria lógica e usaria a linguagem universal: a matemática. É neste cenário que surgem algumas tentativas de aplicar a matemática em diversas áreas de investigação científica, tais como a sociometria, a psicometria, a antropometria, e as polêmicas frenologia e numerologia, hoje consideradas pseudocientíficas. Radicalismos à parte, são inegáveis os legados do empirismo lógico para a ciência contemporânea; a matemática hoje é muito

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utilizada na área das ciências biológicas e da saúde, como a biomecânica, bioengenharia e no desenvolvimento das chamadas biotecnologias.

RACIONALISMO CRÍTICO DE KARL POPPER Considerado por muitos como o mais brilhante epistemologista, Popper faz uma crítica radical e profícua ao empirismo lógico, apesar da sua concordância com o grupo de Viena, no que tange à base empírica do conhecimento científico e da valorização da lógica. Conforme já vimos no tópico sobre o Método Hipotético Dedutivo, para Popper o conhecimento científico deve ser construído a partir do critério da falseabilidade ou seja, uma teoria para ser científica, deverá ser refutada em algum momento, caso ela funcione sempre, não será científica, será dogmática e portanto, uma pseudociência. Ao criticar as teorias de Marx e Freud, Popper ressalta que tais teorias não eram testadas com base na experiência e sim os resultados da experiência é que eram interpretados pela teoria. Ou seja, a experiência era adequada ao poder de fogo da teoria. Conforme ressalta Carvalho (1997): “Uma teoria que pretende ser empírica, ou seja, que reivindica fazer asserções sobre o mundo real, factual, deve, em princípio, ser refutável. A capacidade que uma teoria tem de poder colidir com a realidade é a medida que temos para afirmar que tal teoria é informativa, que ela noz diz algo sobre a realidade”. Ou seja, é relativamente fácil encontrarmos confirmações empíricas para uma teoria, como os exemplos utilizados por Popper, da teoria marxista e da psicanálise freudiana. Vejamos uma possível explicação para isto: toda experiência depende da observação. É na observação que está o problema, porque ela depende de quem observa e, portanto, pode ser subjetiva e passível de adequações à teoria. Assim, para Popper o conhecimento científico não é fruto da experiência e sim de uma teoria que ao ser confrontada com a experiência, pode ser refutada ou não. Desta maneira, é a partir do escopo generalizante de uma teoria que é possível a compreensão singular de um

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evento observado, tal movimento, da generalização teórica à compreensão do fenômeno pontual, caracteriza o chamado dedutivismo lógico de Popper.

AS REVOLUÇÕES CIENTÍFICAS DE THOMAS KUHN Thomas Kuhn publicou em 1962 o livro A estrutura das revoluções científicas no qual propõe uma inovadora teoria epistemológica. Neste faz uma crítica tanto ao empirismo lógico quanto ao racionalismo crítico de Popper. Para Kuhn é na dimensão histórica que se pode compreender o processo de construção do conhecimento científico. Um dos conceitos mais importantes (e também muito polêmico) na concepção kuhniana de ciência é o de paradigma. Podemos defini-lo como o conjunto de aspectos filosóficos, sociais, culturais e tecnológicos que consolidam a unidade de uma comunidade científica. Por exemplo, é o paradigma dos modernos estados laicos do ocidente que viabilizaram o desenvolvimento e consolidação das pesquisas em engenharia genética e células tronco. Tais pesquisas são impensáveis em um estado controlado pelo poder religioso. Curioso e magnânimo é notar que inclusive aqueles que hoje são contra tais pesquisas muito provavelmente no futuro recorrerão às terapias e tratamentos que estas possibilitarão. Sim, a necessidade e as carências transformam a ciência e os homens. Para Kuhn a chamada ciência normal é aquela que resolve problemas em uma situação de estabilidade paradigmática. Entretanto, quando esta ciência normal não consegue resolver um número crescente de problemas ela entra em uma situação de crise. Tal crise acaba por instabilizar o paradigma vigente; este cenário conflituoso gera um substrato fértil ao surgimento de novas idéias na tentativa de resolver os problemas ainda não solucionados. Na eventualidade de que, neste contexto, ocorra uma solução satisfatória a estes problemas, esta nova solução será inicialmente criticada e colocada à prova pela comunidade científica. Após a exaustiva repetição dos métodos desta ciência revolucionária a mesma poderá ser aceita pela comunidade científica até a sua consolidação uma nova ciência normal em um outro cenário

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paradigmático. Tal processo é historicamente consolidado. Exemplo clássico é o surgimento e consolidação da mecânica quântica na física. Na área da saúde podemos citar a descoberta do impulso nervoso como fenômeno eletroquímico e a futura compreensão da sintaxe genômica como revoluções científicas.

O PROGRAMA DE PESQUISA DE IMHRE LAKATOS Lakatos, junto com Popper, Kuhn e Feyerabend, participou de debates de alto nível na epistemologia contemporânea. Sua proposta epistemológica surge como uma possível solução à polêmica existente entre as teorias de Popper e Kuhn.

Para Lakatos um programa de pesquisa é composto por teorias interligadas e possui a seguinte estrutura: Núcleo – Refere-se aos pressupostos teóricos considerados irrefutáveis pelos pesquisadores, ou seja, o conhecimento tácito de uma área de investigação. Cinturão Protetor – Conjunto de hipóteses auxiliares que garantem a irrefutabilidade do núcleo. Algumas destas hipóteses auxiliares podem ser eventualmente refutadas diante de uma anomalia, ou seja, de um problema não resolvido. Neste sentido estas hipóteses auxiliares fazem o corpo-a-corpo inicial entre a teoria e os fatos observados, garantindo de maneira satisfatória a integridade do núcleo. Heurística – Refere-se ao conjunto de regras e métodos que orientam os cientistas, podendo ser positiva ou negativa. Recorramos à metáfora das placas de sinalização do trânsito. Por exemplo, se você se deparar com uma placa de contramão em uma rua que seja o acesso mais fácil a um hospital em uma situação de emergência onde você esteja socorrendo uma vítima de infarto. Que decisão tomar? Seguir a sinalização e contornar a quadra para chegar ao hospital ou entrar na contramão? Esta tomada de decisão dependerá das condições de

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trânsito no local e de sua habilidade ao volante. A heurística negativa na pesquisa científica não proíbe você de, por exemplo, ousar em um novo procedimento metodológico, mas apenas, sinaliza sobre os perigos inerentes a tal opção. Se estiver em jogo a obtenção de um título acadêmico como mestrado ou doutorado, nossa recomendação é: não se arrisque! Deixe isto para uma pesquisa futura. A heurística positiva, ao contrário, sinaliza o que deve ser feito pelo pesquisador e em concordância com Silva e Laburú (2002) “procura, assim, salvaguardar o cientista de ficar sem rumo num oceano de anomalias.”

Vejamos um exemplo na área da saúde, de cada um dos elementos de um programa de pesquisas. Núcleo: “Atividade física regular e orientada promove a melhoria da qualidade de vida”. Milhões de pesquisas na área provam que isto

de

fato

acontece,

trata-se

de

um

conhecimento

categórico.

Cinturão Protetor: “correr em velocidade moderada durante meia hora por dia quatro vezes por semana melhora a capacidade cardiovascular e diminui o estresse”. Trata-se de uma hipótese auxiliar que ajuda a garantir a integridade do núcleo. Heurística: “o pesquisador ao testar os efeitos de corridas de longa distância se depara com a morte súbita de um maratonista”. Trata-se de uma heurística negativa, pois o pesquisador entrou na contramão ao supor que a hipótese auxiliar seria aplicada também a corredores fundistas. Para Lakatos, ao contrário de Kuhn, não existem crises nas ciências, o que existe é uma competição entre diferentes programas de pesquisas, onde o que resolver o maior número de problemas tende a se perpetuar.

O ANARQUISMO TEORÉTICO DE PAUL FEYERABEND Em seu livro Contra o método, Feyerabend faz uma preciosa crítica às chamadas concepções epistemológicas, estabelecendo as bases do chamado

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anarquismo teorético. Para ele, nossas metodologias falham à medida que se pretendem infalíveis e universais. Além disto, as regras utilizadas são muito simplistas para explicar fenômenos muito complexos. O próprio título de seu livro (Contra o método) é um recado claro: ele não acredita na eficiência do método científico. Um dos princípios fundamentais do anarquismo teorético é o do vale tudo: “é a violação de regras metodológicas, normalmente consideradas óbvias, que permite o avanço da ciência.” De fato, isto nos parece mais óbvio do que nunca, caso contrário, é bastante provável que estaríamos todos a viver em um mundo acadêmico altamente burocratizado, que burramente pune o que há de mais belo na ciência: o ato de criar! Neste sentido a formatação e exigências das revistas científicas são (salvo honrosas exceções) o mais triste exemplo de embotamento das idéias e do livre pensar. Infelizmente este fenômeno é mundial, as revistas científicas que antes eram o espaço, por excelência do arejamento intelectual, agora, cumprem, na maioria das vezes, o melancólico papel de garantir alguns pontinhos a mais nos supostos indicadores de produtividade acadêmica. Mas o que isto tem a ver com o anarquismo científico? A resposta tem que ser direta: tudo! Afinal, se vale tudo, vale até mesmo este modelo hegemônico de se fazer ciência.

CONCLUINDO ? Este livro está inconcluso tal como está a ciência e o nosso projeto neste planeta, não obstante, trilhamos um caminho, refletimos sobre questões que norteiam a construção do conhecimento, tentando, descaradamente, mostrar também o outro lado da moeda do conhecimento. A idéia era de fato provocar a

discussão,

instabilizar

as

supostas

certezas

e

dizer:

Ei! Siga em frente!

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REFERÊNCIAS

Abbagnano,N. Dicionário de Filosofia, São Paulo:ed Mestre Jou,1982. Andery,M.A..../et al./ Para compreender a ciência. Rio de Janeiro: Espaço e tempo; São Paulo: EDUC,1992. Bronowski,J. Ciência e valores humanos, São Paulo: Edusp,1979. Capra,F. O ponto de mutação, São Paulo:ed Cultrix,1987. Chalmers,A.F. O que ciência afinal ?, São Paulo:ed Brasiliense,1983. Chrétien,C. A ciência em ação,Campinas-SP:Papirus,1994. Domingues,I. O grau zero do conhecimento- o problema da fundamentação das ciências humanas; São Paulo: ed. Loyola,1991. Epstein,I. Revoluções científicas, São Paulo: ed Ática,1988. Feyerabend,P. Contra o método, São Paulo:ed. Francisco Alves, 1988. Gleick,J. Caos-a criação de uma nova ciência, São Paulo: ed Campus, 1990. Granger,G.G. A ciência e as ciências, São Paulo:ed. Unesp,1994. Heisenberg,W. Física e filosofia, Brasília:ed UNB, 1987. Kant,I. Crítica da razão pura, São Paulo: ed.Abril, coleção os pensadores, 1974. Kneller,G.F. A ciência Zahar/Edusp,1980.

como

atividade

humana.São

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