Proveniência do Acervo Museológico - Casa Guilherme de Almeida

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Governo do Estado de São Paulo | Secretaria da Cultura | Poiesis

UMA POÉTICA DA COLEÇÃO:

PROJETO DE PESQUISA DE PROVENIÊNCIA DO ACERVO MUSEOLÓGICO Relatório Final – Casa Guilherme de Almeida São Paulo – Dezembro de 2014 1


GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO Geraldo Alckmin Governador do Estado Marcelo Mattos Araujo Secretário de Estado da Cultura Renata Motta Coordenadora da Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico POIESIS - ORGANIZAÇÃO SOCIAL DE CULTURA Clovis Carvalho | Diretor Executivo Plinio Silveira Corrêa | Diretor Administrativo-Financeiro Maria Izabel Casanovas | Assessora Técnica Ivanei Silva | Museólogo Patrícia de Cassia Barreto | Arquivista CASA GUILHERME DE ALMEIDA CENTRO DE ESTUDOS DE TRADUÇÃO LITERÁRIA Marcelo Tápia | Diretor Simone Homem de Mello | Coordenadora do Centro de Estudo de Tradução Literária Donny Correia | Coordenador de Programação Cultural Cintia Andrade | Coordenadora de Ação Educativa Suzi Bonifácio | Supervisora Administrativa Ana Paula da Silva | Assistente de Biblioteca Marlene Laky | Técnica em Preservação de Livros Daniel Babalin | Educador Sidnei Vieira | Educador Flávia Cristina Reis Violim | Educadora

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SUMÁRIO 1. Introdução .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ......................... 3 2. Justificativa.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ......................... 9 3. Objetivos.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........................10 4. Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........................11 5. O museu e seu acervo.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........................16 6. Conclusão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .........................78 7. Biografia de Guilherme de Almeida. . .......................80 8. Bibliografia.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .........................98 3


1. INTRODUÇÃO

A coleção do museu Casa Guilherme de Almeida constitui um valioso conjunto cuja origem este projeto de pesquisa pretende investigar. O acervo, como se sabe, foi adquirido, durante a década de 1970, pelo Governo do Estado de São Paulo conjuntamente com a residência onde o poeta Guilherme de Almeida e sua esposa, Belkiss Barrozo de Almeida (Baby de Almeida) residiram durante mais de duas décadas. Os objetos abrigados no Museu carecem de documentação específica que ateste sua procedência e sua entrada na coleção, uma vez que se trata de um conjunto reunido durante toda a vida dos personagens e, evidentemente, sujeito à informalidade e à dinâmica próprias da história familiar, bem como ao gosto estético característico de uma época e, também, dos próprios colecionadores. Estudar a proveniência desse acervo e identificar o contexto de formação da coleção do casal Guilherme e Baby de Almeida tem de necessariamente passar por um processo de pesquisa que, além de privilegiar individualmente os objetos ou determinados conjuntos, deve também colaborar para seu conhecimento por meio da tentativa de obter depoimentos de parentes, amigos e admiradores que tenham tido contato com o casal, ou tenham, de alguma maneira, conhecimento de aspectos do processo de formação da coleção que veio a constituir o acervo do museu, ou, ainda, sejam conhecedores de objetos e coleções análogos, capazes de identificar possíveis origens 4


de itens da coleção. Atualmente –como será novamente referido mais adiante –, há dificuldade de se encontrarem pessoas que tenham convivido com o poeta e sua esposa em períodos relacionados à aquisição de objetos de sua coleção, já que esta foi se formando desde tempo bem anterior à mudança do casal para a residência da Rua Macapá, em 1946, onde funciona o museu. O propósito da obtenção de depoimentos conta com um antecedente importante: há um número significativo de depoimentos de personalidades de algum modo ligadas à memória de Guilherme de Almeida, colhidos na década de 1990, que fazem parte da documentação do museu Casa Guilherme de Almeida. Esses depoimentos, embora não relacionados diretamente ao acervo museológico da Casa, podem ser revistos com esse foco, a fim de se obterem possíveis informações relacionadas ao tema. O acervo museológico da Casa Guilherme de Almeida, objeto deste trabalho, é formado por aproximadamente 15.000 itens, entre os quais 6.9661 estão catalogados na tipologia de acervo museológico pelo Banco de Dados criado pela Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico – UPPM, da Secretaria de Estado da Cultura. 1 Soma dos itens envolvendo o acervo museológico de acordo com as categorias definidas pelo arrolamento. Obs.: O acervo da Casa Guilherme de Almeida – que inclui as tipologias: acervo museológico, hemeroteca e livros – é formado, de acordo com o arrolamento realizado pela Secretaria de Estado de Cultura em 2009, por 13.398 itens. O levantamento previamente existente no museu, atualizado em Inventário datado de 2001, registra um total de 15.467 itens. A disparidade provavelmente provém da adoção de diferentes critérios de agrupamento de objetos durante os dois levantamentos.

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Inaugurado em março de 1979, o museu-casa abriga um significativo acervo composto de objetos que pertenceram ao poeta, tradutor, jornalista e advogado paulista Guilherme de Almeida (1890-1969), um dos mentores do movimento modernista brasileiro. O museu está instalado na residência onde ele viveu de 1946 até o ano de sua morte. Após um período fechado, para reestruturação e obras de adequação, o museu reabriu, em dezembro de 2010. O objetivo da instituição é conservar, organizar e expor o acervo bibliográfico, histórico, artístico e documental que pertenceu ao poeta e tradutor Guilherme de Almeida, bem como estimular e realizar pesquisas e estudos críticos sobre sua obra. Na atual fase do museu, foi criado o Centro de Estudos de Tradução Literária, que organiza sua programação cultural, voltada a temas de tradução, literatura e linguagem. A proveniência do acervo está associada diretamente ao processo de aquisição da residência pelo Governo do Estado de São Paulo, responsável pela integridade desse conjunto, cujos objetos foram relacionados oficialmente. Embora os processos de catalogação tenham sido documentados ao longo da história do museu, nenhum outro estudo direcionado para a origem do acervo foi empreendido. Após a criação oficial da Casa, em 1979, uma série de discussões sobre o arrolamento desses objetos, bem como da função social da nova instituição, foram promovidas pelos funcionários destacados para a coordenação da Casa em sua fase inicial de funcionamento. 6


A origem do acervo fica indissociavelmente ligada às inúmeras atividades exercidas por seu patrono, que era advogado e atuou nas áreas de literatura, poesia, jornalismo, artes gráficas, teatro, cinema, heráldica e música. Guilherme foi reconhecido como um dos mais competentes tradutores de seu tempo e também criou diversos hinos e brasões de algumas cidades brasileiras, entre elas o da capital do país, Brasília. As diversas ligações que o poeta mantinha com as artes e sua grande influência nesse meio são identificadas por meio das peças de sua coleção, o que nos conduz a conclusões bastante plausíveis quanto à sua origem. É notória a participação de Guilherme de Almeida, por exemplo, na Semana de Arte Moderna de 1922. Desse contexto podemos concluir a origem de parte significativa do acervo de obras de arte (gravuras, desenhos, esculturas, pinturas), em grande parte oferecidas ao poeta pelos principais artistas do modernismo brasileiro, como Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Emiliano Di Cavalcanti, Lasar Segall e Victor Brecheret. No museu encontram-se, também, vestígios de um movimento da história de São Paulo em que a figura do poeta obteve grande destaque: a Revolução Constitucionalista de 1932, da qual participou ativamente. 7


O mobiliário e os objetos decorativos, cuidadosa e seletivamente recolhidos por Guilherme e Baby de Almeida, compõem, também, um conjunto que aponta indícios da sua ligação com as Comemorações do Quarto Centenário da Cidade de São Paulo – de cuja comissão organizadora Guilherme foi presidente – e da busca de uma afirmação estética de caráter nacional. Tais hipóteses configuram alguns dos principais problemas a serem discutidos durante a pesquisa, que não desprezará os esforços já iniciados no sentido de seus objetivos, reconstituindo e até mesmo promovendo a releitura de fontes bibliográficas e arquivos do próprio museu. Deve ser observado que a pesquisa de acervo tem o papel de fonte inesgotável de conhecimento, desempenhando função primordial em toda instituição museológica. Por se tratar de um acervo composto de um grande número de peças, a pesquisa não contemplará obrigatoriamente um detalhamento exaustivo para cada objeto, por isto ser inviável em curto ou médio prazo, e, também, pela falta de documentos indispensáveis para esse fim. Nesse sentido, tentaremos estabelecer critérios para a formação de grupos de objetos e, assim, estabelecer ligações com a formação da coleção. 8


2. JUSTIFICATIVA

O acervo museológico da Casa Guilherme de Almeida representa um dos mais expressivos conjuntos de arte moderna de São Paulo, levando-se em conta sua especificidade de museu-casa, e o fato de ser o primeiro museu literário da cidade. O acervo necessita de um programa que sustente a pesquisa de seu acervo, estabelecendo-se critérios que passem a nortear as futuras pesquisas realizadas pela instituição nesse campo. A elaboração desse projeto, considerando a importância do acervo em seu conjunto, possibilitará o aprofundamento da reflexão sobre questões museológicas e do estudo sobre formação de coleções, além de difundir o trabalho realizado pela instituição, que se somará ao empenho de outras instituições que obtiveram êxito nesse tipo de empreendimento, como a Fundação Ema G. Klabin. É necessário o empreendimento urgente nas pesquisas voltadas ao depoimento de pessoas relacionadas à história do casal Baby e Guilherme de Almeida, que serão de extrema importância para o desenvolvimento desse tema. 9


3. OBJETIVOS

Conhecer, no que for possível, a proveniência do acervo museológico do museu Casa Guilherme de Almeida;

Identificar critérios para definir grupos de objetos dentro da coleção;

Levantamento, quando possível, do histórico dos itens pertencentes à coleção do museu;

Consolidar a memória institucional da Casa Guilherme de Almeida;

Traçar uma linha de entendimento entre a formação da coleção, e os itens que a compõem, com o pensamento da época em que o casal viveu e com as atividades do patrono da Casa;

Identificação e consulta de fontes bibliográficas pertinentes ao assunto;

Potencializar a documentação do acervo arquivístico da Casa Guilherme de Almeida e dar continuidade ao projeto de coleta de depoimentos já iniciado na instituição.

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4. METODOLOGIA

O trabalho buscou uma revisão bibliográfica sobre a formação de coleções no Brasil e da coleção do museu Casa Guilherme de Almeida, bem como do pensamento museológico que sustentou a sua criação na década de 1970. O museu conta com uma extensa bibliografia de referência sobre a obra, o tempo de Guilherme de Almeida e assuntos referentes a suas inúmeras áreas de atuação. O arquivo histórico da Casa (em sua maior parte constituído pelo próprio Guilherme de Almeida e por Baby de Almeida, após o falecimento do marido), recentemente reorganizado, tornouse fonte essencial para a pesquisa. A nova catalogação e o novo acondicionamento de todo o seu conteúdo –abrigado em novo espaço para sua consulta –, que resultou da ação da Poiesis – Organização Social de Cultura, por meio de arquivista dedicada a esse trabalho, e do esforço de toda a equipe do museu, permite que se vislumbrem novos estudos acerca da vida e da obra do poeta, incluindo-se o seu processo de trabalho, entre outras possibilidades de pesquisa. Acerca da própria Casa, o novo levantamento das muitas fotografias que retratam os ambientes da antiga residência do casal tem permitido a incorporação de referências ao histórico de sua utilização por seus moradores. 11


O museu possui, como já se mencionou, registros (em vídeo e em áudio) de depoimentos de amigos e admiradores de Guilherme de Almeida, alguns já transcritos. Esses depoimentos, mesmo depois de uma atenta revisão de seu conteúdo, não se mostraram suficientes para se traçar uma possível origem de itens do acervo museológico. A pretendida busca por possíveis depoentes se tornou infrutífera, devido à escassez de pessoas que tenham convivido com o casal, e à sua idade avançada. Entre seus parentes, não foi possível obter informações relevantes sobre a coleção do casal. Foram realizados inúmeros contatos, com o objetivo de levantar novas informações sobre a origem do acervo, e sua relação com a vida e a obra de Guilherme de Almeida. Desde as primeiras tentativas, foi ficando nítida a pouco ou nenhum conhecimento desses possíveis depoentes sobre a origem do acervo; estes deixavam apenas transparecer sua admiração pela figura do poeta, ressaltando, por vezes, o bom gosto que Guilherme e sua esposa demonstravam na decoração de sua casa e a capacidade do casal de promover agradáveis recepções em sua residência. Tentamos também, sem êxito, contatos com antigos funcionários da instituição. 12


Cabe, contudo, mencionar uma entrevista concedida aos técnicos da instituição pelo Sr. Pedro Paulo Penna Trindade, admirador de Guilherme de Almeida, que colaborou significativamente com informações sobre o mobiliário da casa, devido à sua familiaridade com a história e a tipologia de móveis e objetos utilizados na decoração de residências paulistas até meados do século XX. Podemos afirmar que a pesquisa foi extremamente proveitosa quando foram iniciadas as buscas em documentações do acervo já existentes no museu. A recente ocupação de um imóvel anexo ao museu, onde são realizadas as atividades culturais da Casa, como cursos e palestras, e onde se reservou um espaço para a guarda do acervo arquivístico, proporcionou mais facilidade na busca de informações em uma série de fichas e catalogações elaboradas entre as décadas de 1980 e 1990, relativas a seu acervo, que ainda não haviam sido consultadas. Importantes informações sobre algumas peças, fotos e laudos também foram revistos. Esses documentos estão sendo efetivamente analisados, e suas informações têm sido incorporadas aos registros de acervo utilizados atualmente no museu. 13


Até o momento, foram consultados os seguintes materiais referentes ao acervo: •

Fichas catalográficas descontinuadas, de diferentes anos (1988, 1991, 1995): fichas timbradas do Museu, algumas preenchidas à mão, outras datilografadas, com informações básicas de cada obra (como nome, autoria atribuída, pequena descrição, dimensão);

Orçamentos para restauros, feitos entre 1994 e 1998;

Laudos e fotografias de restauros executados;

Recibos de retirada e entrega das obras, tanto para restauro quanto para empréstimos para exposição;

Documentos a respeito de participações em exposições nacionais e internacionais, como solicitações de empréstimos, laudos, seguros, etc.;

Anotações antigas, datilografadas e manuscritas, com descrições do acervo, localização de seus itens, sugestões de mudança de título de objetos, levantamento geral do acervo, etc.

Todos os dados contidos nesses documentos têm sido coletados e agrupados numa ficha única, criada a partir dos campos existentes no Banco de Dados do Gerenciamento de Acervos, para que sirvam, futuramente, para alimentar o BDA a fim de deixá-lo o mais completo possível. Além disso, todos esses documentos estão sendo juntados e acondicionados em pastas, que se encontram num arquivo reservado a essa finalidade, com o objetivo de se criar um arquivo do acervo museológico organizado e de fácil acesso. 14


Vale registrar que toda pesquisa poderá ser estendida ao acervo relativo a Guilherme de Almeida adquirido em 2013 pela UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas, caso um pedido de parceria encaminhado pela Casa Guilherme de Almeida àquela instituição seja atendido. O acervo que pertenceu ao Sr. Frederico Ozanam Pessoa de Barros, e agora está sob a guarda do Centro de Documentação Cultural “Alexandre Eulalio” – CEDAE, do Instituto de Estudos da Linguagem – IEL/UNICAMP, é formada por um significativo número de documentos pessoais, fotos, textos, originais de obras literárias, correspondência e desenhos que pertenceram ao poeta Guilherme de Almeida. Este acervo passa atualmente por ações de conservação e por uma minuciosa catalogação pela equipe técnica do CEDAE, não se encontrando, ainda, disponível para consultas. Uma vez firmado o pretendido acordo de colaboração entre as instituições, a Casa Guilherme de Almeida poderá ter acesso a informações complementares acerca do legado global do escritor. Devemos registrar que foi fundamental a ajuda prestada por funcionários do Arquivo Público do Estado de São Paulo que, atendendo a pedido da direção do museu, colaboraram na tarefa de localização dos originais do Processo de Aquisição do Acervo de Guilherme de Almeida, contendo documentos que registram a história inicial de constituição do museu, encontrado na seção de Protocolo da Secretaria de Estado da Cultura, e hoje se encontra definitivamente arquivado na UPPM, sob número SC 183013/2014. 15


5. O MUSEU E SEU ACERVO

A formação do museu, bem como a proveniência dos objetos que abriga convergem obrigatoriamente para os documentos que registram o processo de aquisição, pelo Governo do Estado de São Paulo, do imóvel onde residiu o poeta, e dos objetos que se encontravam em sua casa por ocasião dos arrolamentos iniciais que serviriam de base para o referido processo. Pode ser apontado como um marco inicial no processo de formação do museu a carta assinada por Antônio Joaquim de Almeida, datada de 5 novembro de 1974. Antônio Joaquim de Almeida era irmão de Guilherme e foi um dos responsáveis pela fundação do Museu do Ouro em Sabará, na década de 1940, do qual foi o primeiro diretor. 16


O documento, dirigido a Pedro Magalhães Padilla, Secretário do Governo do Estado da Cultura, Esporte e Turismo, manifestava o assentimento da viúva de Guilherme, Baby de Almeida, ao propósito de que a Casa da Colina, como era conhecido o imóvel da rua Macapá, fosse desapropriada para a criação de um museu. O texto deixava claro o interesse dos parentes em que o acervo permanecesse na casa e que não fosse, por nenhum motivo, dispersado. Após a morte de Guilherme de Almeida, em 11 de julho 1969, esse seria o primeiro registro formal da intenção de venda do imóvel e de objetos de seu interior, visando à criação do museu; o documento daria início a um longo processo de aquisição dos bens por parte do Estado, ao longo da década de 1970. Segue-se o texto da carta, com data datilografada: São Paulo de 5 de novembro, e assinada por Antônio Joaquim de Almeida com a data manuscrita: Belo Horizonte, 18 de novembro de 1974. 17


Senhor Secretário, Agradecendo inicialmente a tocante atenção de V. Excia. E do Conselho Estadual de Cultura à memória de meu irmão, o poeta Guilherme de Almeida, cuja obra tem como uma das principais constantes e amor a São Paulo, venho confirmar os termos dos entendimentos verbais que, por gentileza sua, mantivemos a respeito do destino a ser dado pelos poderes públicos paulistas ao patrimônio literário, artístico, documental e histórico deixado por Guilherme de Almeida, isto é, sua casa do Pacaembú e o acervo nela abrigado. Nesse sentido, cumpre-nos comunicar que, único irmão sobrevivente do poeta, fui encarregado por sua viúva, a sra. Baby de Almeida, de manifestar assentimento ao projeto sugerido a V. Exa. Pela câmara de Letras do Conselho Estadual de Cultura: tombamento e posterior desapropriação da residência nº 187 da rua Macapá, nesta Capital, bem como do acervo amorosamente acumulado nessa casa por Guilherme de Almeida, ao longo de toda uma existência voltada ao cultivo das letras. Como esse acervo, composto por livros, quadros, móveis, documentos originais, objetos de arte, autógrafos, correspondências, etc. Constitui com a casa uma unidade, formando continente e conteúdo um todo indecomponível, é vontade expressa de D. Baby de minha que, nas decisões a serem estabelecidas fique bem claro que, uma vez determinado o que deverá permanecer na casa, não se venha futuramente a dispersar, sejam quais forem os motivos alegados, nenhuma parte desse valioso acervo por ela carinhosamente conservado intacto até o presente. Preserva-se- iam assim nessa morada, com sua poética mansarda debruçada sobre a Paulicéia, que abrigou o Poeta de São Paulo por vários anos, elementos preciosos para o estudo de toda uma faze de importância capital de nossa literatura. Transformar-se -á desse modo a casa de Guilherme de Almeida num núcleo de pesquisas aberto à juventude universitária a aos especialistas, e que passaria a funcionar como órgão mais importante do grandioso instituto cultural que será o Museu do Modernismo, desempenhando em relação à cultura paulista papel análogo ao da Casa de Rui Barbosa, no que diz respeito aos estados brasileiros. Como a Casa de Rui, para salvaguardar a casa do Poeta dos caprichos e injunções impostos pelas sucessivas mudanças nos quadros governamentais do Estado, é essencial, na minha opinião, que se lhe dê o caráter de Fundação, para assegurar-lhe a necessária estabilidade2. 2 A carta transcrita, bem como os demais documentos usados como referência neste trabalho, fazem parte do mencionado Processo SCET 42678/74 (da Secretaria de Estado da Cultura, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo), atualmente sob a guarda da UPPM

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O imóvel onde o poeta residiu desde 1946 foi projetado pelo arquiteto Silvio Jaguaribe Eckman. Na época, o local era considerado distante; por sua localização em parte alta da rua Macapá, no alto de um morro da região do bairro Pacaembu, a residência foi chamada, pelo próprio Guilherme, de “Casa da Colina. Aparentemente por influência de Antônio Joaquim de Almeida, experiente na área cultural e atuante nos primeiros anos do Serviço do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural, fundado em 1937, consta no documento apresentado a intenção de se criar uma instituição museológica que seguisse a tipologia de um museu casa e, mais especificamente, que adotasse como modelo o Museu Casa de Rui Barbosa, do Rio de Janeiro. O Museu Casa de Rui Barbosa foi aberto ao publico em 1930, como o primeiro museu-casa do Brasil. A casa foi tombada pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN. O museu Casa de Rui Barbosa é o núcleo original do que é hoje a Fundação Casa de Rui Barbosa, uma instituição vinculada ao Ministério da Cultura. O “Museu do Modernismo”, citado na carta, fazia parte de um projeto que não chegou a ser concretizado. Mais tarde foi criado o “Museu de Literatura de São Paulo”, constituído, por um curto período, pela Casa Guilherme de Almeida e pela Casa Mário de Andrade. Esta seria, mais tarde, transformada em Oficina Cultural. 19


Conforme mostra o Processo SCET 42678/74 (ver nota 2), a partir da carta que expressou o assentimento da família para a aquisição da casa da Rua Macapá, foram realizadas avaliações do imóvel e do acervo disponibilizado para a venda ao Estado. Com base na avaliação realizada pelo avaliador Dr. F. Millan, datada de dezembro de 1974, que relaciona e descreve quadros, móveis e objetos encontrados na casa, ambiente por ambiente, é lavrada no dia 20 de junho de 1975, no 21º Cartório de Notas, pelo escrivão Edgar Baptista Pereira, a escritura de sobrepartilha3 dos bens deixados por Guilherme de Almeida. O documento faz referência ao testamento e inventário dos bens deixado pelo poeta, datado de 14 de setembro de 1972, e descreve minunciosamente todo o acervo, ainda dividido por sua localização nos diversos ambientes da antiga residência: 3 Deve-se esclarecer que, juridicamente, sobrepartilha é a nova partilha de bens e direitos eventualmente sonegados, ou que foram descobertos somente depois da partilha, ou ainda aqueles litigiosos ou de liquidação difícil ou morosa, que não foram partilhados por ocasião do inventário. Assim, ficam sujeitos à sobrepartilha os bens que, por qualquer razão, não tenham sido partilhados no processo de inventário. Não se trata de novo processo de inventário, mas apenas uma simples complementação da partilha, destinada a suprir omissões desta, especialmente pela descoberta de outros bens, e pode ser processada nos mesmos autos do inventário findo.

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1º) – que a 11 de julho de 1969, faleceu nesta capital, onde residiu e era domiciliado, o Dr. Guilherme de Almeida, marido da primeira e genitor do segundo outorgantes e reciprocamente outorgados, deixando testamento cerrado que já foi mandado registrar, inscrever e cumprir ao Juízo de Direito da Nona Vara de Família e Sucessões da Capital e Cartório do 9º Ofício, por onde foi processado, no qual deixou toda sua parte disponível, equivalente a ¼ do acervo, para sua esposa, a primeira outorgante e reciprocamente outorgada, gravando ainda a legítima de seu único filho, que é o segundo outorgante e reciprocamente outorgado, com as cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade. – 2º) – que o inventário dos bens deixados pelo Dr. Guilherme de Almeida, a saber, os móveis, e alfaias que guarnecem o prédio de residência da Rua Macapá 187, os quais ali já foram descritos minunciosamente, e cujo valor se elevou a Cr.$ 2.333.110,00 (dois milhões, trezentos e trinta e três mil cento e dez cruzeiros. – 4º) – que, esses bens são os seguintes, a saber: – Avaliador Dr. F. Millan.

Esse documento coloca à disposição da viúva Baby de Almeida todos os bens listados, pelos quais ela se empenha em pagar ao herdeiro Guy Sérgio Haroldo Estevam Zózimo Barrozo de Almeida o referente à sua parte legítima dos bens então deixados. Seguem-se as cópias da referida sobrepartilha, contendo a lista completa dos bens então arrolados. As cópias dos documentos encontradas no museu encontram-se com diversas anotações, grifos e marcas, por já terem sido analisadas e conferidas por funcionários do museu em administrações anteriores. 21


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A lista integrante do Processo SCET 42678/74 passa a ser entendida como o documento formal e registro dos bens que então integram o acervo do futuro museu. Deve ser lembrado que essa lista, sem a numeração de cada item, necessitava, ainda, ser submetida a várias conferências, que foram realizadas ao longo da estruturação do projeto do museu, na medida do possível, por alguns funcionários que atuaram na instituição notadamente nos seus primeiros anos, como veremos mais adiante. Em 1976, foi publicado o Decreto nº 8.290, de 2 de agosto de 1976, que declara o imóvel situado à Rua Macapá, nº 187, onde Guilherme de Almeida residiu até sua morte, de utilidade pública, para fins de desapropriação, considerado necessário à Secretaria de Cultura, Ciência e Tecnologia, para ser destinado ao Centro de Pesquisas Culturais do “Museu do Modernismo”, ou a outro serviço público: 36


Decreto Nº 8.290, de 2 de agosto de 1976. Declara de utilidade pública, para fins de desapropriação, imóvel situado no 19º Subdistrito de Perdizes, no município e comarca da Capital, necessário à Secretaria de Cultura, Ciência e Tecnologia e destinado ao “Museu do Modernismo”. [...] Decreta: Artigo1º – Fica declarado de utilidade pública, a fim de ser desapropriado pela Fazenda do Estado, por via amigável ou judicial, o Imóvel abaixo caracterizado, constituído de um terreno com área de 360,93 m² (trezentos e sessenta metros quadrados e noventa e três decímetros quadrados) e respectiva construção, situado à Rua Macapá nº 187, no Bairro de Perdizes – 19º Subdistrito do Município e comarca da Capital, necessário à Secretaria de Cultura, Ciência e Tecnologia, destinado ao Centro de Pesquisas Culturais do “Museu do Modernismo”, ou a outro serviço público, que consta pertencer a Belkiss Barroso de Almeida, imóvel esse descrito no processo SCET 678/74. [...]

Somente em 1977 foi realizado o contrato de compra e venda do imóvel, tendo como objeto “o anexo dos bens móveis, alfaias, pratarias, biblioteca e obras de arte que pertenciam ao poeta Guilherme de Almeida”. Datado de 30 de novembro de 1977 o contrato foi assinado pela Sra. Belkiss Barrozo de Almeida, o Sr. Paulo Egydio Martins, Governador do Estado de São Paulo, e o Sr. Max Feffer, Secretário de Estado da Cultura, Ciência e Tecnologia de São Paulo, conforme aparece no documento, transcrito a seguir, que faz referência ao acervo listado no processo nº 42.678/74, anteriormente citado. 37


CONTRATO DE COMPRA E VENDA QUE ENTRE SI FAZEM O GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO E A SRA. BELKISS BARRSO DE ALMEIDA, TENDO POR OBJETO O ANEXO DOS BENS MÓVEIS, ALFAIAS, PRATARIAS, BIBLIOTECA E OBRAS DE ARTE QUE PERTENCERAM AO POETA GUILHERME DE AMEIDA. [...] 1- Que a vendedora é legítima Senhora e proprietária dos bens móveis e alfaias, pratarias, biblioteca e obras de arte que guarnecem a casa do falecido poeta GUILHERME DE ALMEIDA , sita à Ria Macapá, nº 187, nesta cidade, conforme escritura de sobrepartilha lavrada às fls. 35 do livro 418 EAP do 21º Cartório de Notas , em 20 de junho de 1975. 2- Que por esta e na melhor forma de direito a outorgante vendedora vendo ao Governo do Estado de São Paulo, os bens móveis e alfaias, a saber (quadros, móveis, obras de arte, prataria e biblioteca) tudo conforme consta da mencionada escritura de sobrepartilha que fica fazendo parte integrante deste, e a biblioteca de acordo com o levantamento procedido pelo Senhor Frederico Pessoa de Barros, constante do Proc. SCET 42.678/74 e que fica também fazendo parte integrante deste, bens estes que continuarão guarnecendo a mesma casa de Rua Macapá nº 187, a qual foi declarada de utilidade pública para fins de desapropriação pelo Governo do Estado de São Paulo, conforme Decreto nº 8.290/76 de 8 de agosto de 1976. 3- Que, pelo total dos bens móveis e biblioteca constantes do ítem supra, o Estado de São Paulo pagará a importância de CR$ 2.456.956,70 (dois milhões, quatrocentos e cincoenta e seis mil e novecentos e cincoenta e seis cruzeiros e setenta centavos), quantia esta correspondente à avaliação feita pela Comissão de Avaliação expressamente designada conforme Laudo de Fls. 77 e 78 do já mencionado Processo nº 42.678/74, correndo a despesa por conta do elemento 4141-03 do orçamento vigente, cujo pagamento será feito após a competente contabilização.

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4- Que assim contratados a outorgante vendedora transfere, nesse ato ao Governo do Estado de São Paulo, através de sua Secretaria de Estado da Cultura, Ciência e Tecnologia, posse, domínio e ação sobre todos os bens móveis mencionados no ítem 2 e que guarnecem o imóvel da Rua Macapá nº 187, para nada mais reclamar, a qualquer tempo, seja a que título for, sobre os proferidos móveis, podendo o Estado de São Paulo fazer o que lhe aprouver dos referidos bens. 5- Que o Governo do Estado de São Paulo, por sua Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia, havendo conferido e anotado os ditos bens, recebe-os na forma que lhe foram entregues e no estado em que estão, para nada mais reclamar com referência a ditos bens. [...]

A partir de novembro de 1977 são percebidas diversas orientações no sentido de elaborar um projeto destinado à utilização do museu. A Casa Guilherme de Almeida ficaria, nesse período, sob a direção do Museu da Casa Brasileira. Em novembro desse mesmo ano foi colocada à disposição do Museu da Casa Brasileira a Assistente Técnica da Gabinete do Secretário de Estado de Cultura, D. Waldisa Russio, para colaborar na elaboração desse trabalho. A museóloga Waldisa Russio Camargo Guarnieri (1935-1990) foi responsável pelo estudo de utilização do imóvel da Rua Macapá, tendo como objetivo a implantação do museu. No final de 1970, Waldisa foi nomeada diretora técnica do Museu da Casa Brasileira, cargo no qual permaneceu até 1975. Nesse período, passou a exercer as funções de assistente técnica para museus na Secretaria de Cultura, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo, responsabilizando-se pelo projeto de pesquisa sobre os museus do Estado de São Paulo (1976-1977) e também pelo projeto museológico da Casa Guilherme de Almeida. 39


Em dezembro de 1977 foi apresentado ao Secretário de Cultura um diagnóstico, de autoria de Waldisa Russio, relativo ao edifício e aos móveis e objetos que integravam o acervo da casa, contendo também as primeiras solicitações de pessoal, equipamentos e materiais. Nesse documento (processo º 82.887/77, folhas 8 a 12) foi sugerido como primeiro procedimento um inventário preliminar, o que leva a crer que, até então, não havia sido realizado um inventário com critérios técnicos. Nessa fase foram notadas divergências nas descrições dos livros e objetos, além de percebida a falta de alguns itens, que foi assunto de correspondência anexada ao Processo SCET 42.678/74; como se pode verificar em documentação existente na Casa Guilherme de Almeida, parte desses itens foi localizada, posteriormente, no próprio museu; outra parte, no entanto, permaneceu não encontrada (deve-se observar que, entre os itens supostamente localizados segundo a referida documentação, há associação incorreta destes com itens de uma relação original constante do Processo SCET 42.678/74). Em 1979, o museu Casa Guilherme de Almeida foi inaugurado e tornouse o primeiro museu biográfico e literário da cidade de São Paulo. O Decreto nº 20.955, de 1º de junho de 1983 , que reorganiza a estrutura da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, em seu capítulo V, seção VIII, cria oficialmente a Casa Guilherme de Almeida, ligada ao Museu de Literatura, atribuindo-lhe as seguintes funções: 40


Do Museu da Literatura

Artigo 80 - O Museu da Literatura tem por objetivo constituir, manter e divulgar acervo sobre a literatura nacional e seus autores, preservar a memória do autor de todos os gêneros literários e promover a difusão cultural e educativa das várias formas literárias brasileiras. Artigo 81 - O Museu da Literatura tem as seguintes atribuições: I - por meio da Casa “Guilherme de Almeida”: a) conservar e manter, em permanente exposição ao público, os móveis, alfaias, objetos de arte, documentos e a biblioteca que pertenceram ao poeta Guilherme de Almeida; b) organizar exposições temáticas sobre a vida e a obra do poeta; c) realizar pesquisas e estudos críticos sobre a obra do poeta; d) estimular a realização de estudos monográficos e bibliográficos sobre a obra de Guilherme de Almeida; e) divulgar a vida e a obra poética de Guilherme de Almeida; II - por meio da Seção Técnica: a) preservar a memória do autor nativo do Brasil ou incorporado à nacionalidade brasileira, seja ele culto ou popular ou cultor de qualquer gênero literário; b) divulgar sistematicamente o seu acervo em sua sede e fora dela através das diversas formas de comunicação com o público e de ação cultural, educativa e de informação; c) promover o estímulo e o desenvolvimento das várias formas literárias através de cursos, seminários, palestras, audições, concursos, publicações, pesquisas, exposições e outras atividades; d) efetuar intercâmbio com entidades culturais e congêneres; III - por meio da Seção de Documentação, constituir, manter e preservar acervo documental bibliográfico, audiográfico e iconográfico que represente os vários aspectos da literatura nacional, desde os primórdios coloniais até as mais recentes manifestações de vanguarda, mediante compra, doação ou legado.

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O imóvel do Museu passou por algumas ações de reparo durante cerca de três décadas de funcionamento, tendo sido fechado à visitação, em 2006, para reestruturação e obras de adequação. Tais obras – incluindo-se a instalação de itens de segurança e acessibilidade – viriam a ser realizadas em 2010, já sob a vigência de contrato firmado (em 2008) entre a Secretaria de Estado da Cultura e a Poiesis – Organização Social de Cultura, para administração conjunta do museu. No ano de 2009, quando a Casa ainda estava fechada ao público, foi criado no museu o Centro de Estudos de Tradução Literária, cujas atividades iniciais foram realizadas em outros equipamentos da SEC, a Casa das Rosas e o Museu da Língua Portuguesa, também administrados em parceria com a Poiesis. Em 16 de setembro de 2009 o CONPRESP – Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo, órgão vinculado à Secretaria de Cultura da Prefeitura de São Paulo, tombou a Casa Guilherme de Almeida em Nível de Preservação 3 (NP3), assegurando, dessa forma, a preservação das características arquitetônicas externas do imóvel, incluindo-se fachadas, volumetria e cobertura. 42


O museu reabriu à visitação pública em 11 de dezembro de 2010, com uma missão agregada àquelas que lhe são fundamentais: a de preservar e manter em exposição permanente um acervo representativo de um contexto histórico e artístico marcante, e, também, a de estimular o interesse pela obra de Guilherme, promovendo-se a pesquisa acerca de seu trabalho, desenvolvido em múltiplos campos, como a literatura, o jornalismo, a crítica, o cinema, o teatro, a música, a cultura e a heráldica. A nova missão da Casa consistiu na elaboração de programas didático-culturais que contribuam para a formação do tradutor literário, e também para o incitamento do diálogo entre cultivadores de nosso conhecimento e de nossa ação criadora. 43


O ACERVO As relações entre os objetos e as relações desse conjunto com a biografia e a obra de Guilherme de Almeida constituem um das principais motivadores deste trabalho, considerando-se a quase inexistência de documentos que comprovem o histórico das peças do acervo do museu, individualmente. A pesquisa sobre os itens do acervo é um trabalho constante que envolve a participação de toda a equipe da Casa. A divisão em conjuntos, baseada na tipologia dos objetos, tem como objetivo uma breve demonstração do acervo como um todo e também uma pequena amostra de um procedimento habitualmente adotado na instituição, que é relacionar o acervo com a vida e a obra de seu patrono.

ARTES PLÁSTICAS Dos conjuntos de acervo que se encontram no museu, podemos destacar, inicialmente, o de obras de arte. Grande parte dessas obras se encontra exposta nos espaços da Casa Guilherme de Almeida. Trata-se de um notável acervo em que se destacam os artistas de maior influência no que podemos denominar de “modernismo” no Brasil. A relação de Guilherme de Almeida com os modernistas e a sua atuação na Semana de Arte Moderna de 1922 ficam evidentes mesmo aos olhos de um visitante mais desatento. 44


As obras de artistas como Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Victor Brecheret, Antônio Gomide e Di Cavalcanti se impõem não apenas por sua quantidade, mas, também, pelo provocativo contraste que estabelecem com a arquitetura e a decoração dos ambientes da casa. A importância de Guilherme de Almeida para o movimento modernista de São Paulo é notória, embora tenha sido relegada a um relativo esquecimento, contra o qual a Casa têm se empenhado. Uma importante contribuição sua para o movimento foi seu trabalho na revista Klaxon, publicação que seria o principal meio de divulgação dos modernistas, contando com a colaboração de Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Sérgio Buarque de Holanda, Tarsila do Amaral e Graça Aranha, entre outros artistas e escritores. Guilherme foi o responsável pela criação da capa da revista, que ainda hoje desperta atenção por sua concepção gráfica inovadora; criou, também, anúncios publicitários extremamente arrojados para a época. 45


As obras de arte da Casa Guilherme de Almeida constituem o mais valioso conjunto do acervo do museu. A partir dessa constatação, que considera os altos valores de mercado alcançados pelos artistas desse período, pode-se especular sobre como o poeta teria adquirido tais obras. Evidentemente, na época do início do movimento, e mesmo depois, as obras não alcançavam grande valor comercial; e, também, segundo alguns relatos informais, e como é plausível supor, grande parte desse notável acervo foi presenteada pelos próprios artistas ao amigo Guilherme. Os registros dessa procedência não são encontrados nos arquivos da instituição, nem em correspondências, em notas, ou mesmo em bibliografia. Um dos aspectos mais notados do acervo de arte da Casa Guilherme de Almeida é a quantidade relativamente grande de retratos que ocupam as paredes dos ambientes, em especial retratos de Baby de Almeida. Uma das raras informações encontradas sobre os retratos de Baby e Guilherme de Almeida pintados por Lasar Segall é fornecida em entrevista de Baby de Almeida, dada em junho de 1972 a Vera d’Horta Beccari, publicada no livro Lasar Segall e o modernismo paulista. O casal, que nutria uma profunda admiração por Segall, encomendou-lhe um retrato de Baby. O pintor aceitou a encomenda, pela qual cobraria, mas impôs como condição para realizar seu trabalho: fazer também o retrato de Guilherme de Almeida, sem cobrar nada por ele. 46


Lasar Segall, Retrato de Baby, 贸leo sobre tela , 1927 no andar t茅rro do museu

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Uma importante referência para a análise desse acervo são as obras de Emiliano Di Cavalcanti. A amizade de Guilherme com o artista carioca se iniciaria antes mesmo da Semana de 1922. Quando Di chegou a São Paulo, em 1917, para trabalhar na redação do “Estado de São Paulo”, tomou contato com Guilherme de Almeida – “se fez meu amigo, com a afabilidade de grã-senhor” (Viagem de minha vida – I – o testamento da alvorada. Civilização Brasileira, 1955). Dessa amizade podemos inferir a origem do raríssimo álbum Fantoches da Meia-Noite, de 1921. Na ocasião da publicação do álbum, pela Editora Monteiro Lobato, poucos exemplares foram vendidos; o exemplar de Guilherme, integrante do acervo do museu, conta com um atrativo adicional: foi personalizado pelo artista, que fez nele intervenções com aquarela, tornando-o único. A amizade entre Di Cavalcanti e Guilherme de Almeida fortaleceu-se pelos encontros que ocorriam no escritório de Guilherme, nos quais eram também discutidos temas do modernismo. Fazem parte, ainda, do acervo da Casa Guilherme de Almeida, outras obras significativas do mesmo autor, o que aponta para uma profunda amizade entre ele e Guilherme. Tais obras colaboram para compor um panorama da obra de Di Cavalcanti, antes e depois da Semana de 1922. 48


Di Cavalcanti, Mulata nua adormecida, 贸leo sobre tela, d茅c 1940 no jardim de inverno

Di Cavalcanti, Natureza morta com cachimbo, guache sobre papel, s.d.

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Outra artista bem representada nesse conjunto é Noêmia Mourão (1912-1992), que foi pintora, cenógrafa e desenhista. Em 1932 estuda com Di Cavalcanti, com quem casou-se no ano seguinte. Noêmia participou do projeto de memória com a obtenção de depoimentos, realizado no museu Casa Guilherme de Almeida no ano de 1990. Como o projeto era voltado mais para o resgate da vida e da obra de Guilherme de Almeida, nenhuma informação foi fornecida sobre as obras da artista expostas no museu. A respeito de Soror Dolorosa, de 1921 – escultura em bronze de Victor Brecheret (1894-1955), baseada no Livro de horas de Sóror Dolorosa (1920), que foi exposta no hall do Theatro Municipal de São Paulo durante a Semana de Arte Moderna de 1922 – não é encontrado nenhum registro. A admiração do poeta pelo escultor foi demonstrada em um artigo seu com o título “As Pedras de Brecheret”, do qual transcrevemos dois trechos: 50


As pedras de Brecheret... Isso soa como se dissesse: os mobiles de Calder. Soa igual e é igual. Mas de uma igualdade contrária: como o direito e o avesso de um tecido, que são opostos, embora próximos; diferentes, embora idênticos. O tecido é o mesmo: os lados é que não são. Calder procura criar objetos fora da natureza; Brecheret procura criar natureza dentro de objetos. Um é o direito; outro, o avesso; mas não sei qual deles é isto ou aquilo. [...] Exposição Brecheret, na Galeria Domus. Entre granitos religiosos, bronzes mitológicos, terracotas regionais, aparecem as pedras... pedras o quê? – Se precisassem de um adjetivo, eu lhes daria, convictamente, este: sábias.

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No acervo do museu ainda podem ser encontrados desenhos de Brecheret que ilustraram a primeira edição do livro Acalanto de Bartira, de Guilherme de Almeida (Acalanto de Bartira – capa de Renato Zamboni, vinhetas de abertura e fecho de Brecheret e ornatos de Guidal, execução gráfica de Elvino Poccai, São Paulo, 1954).

Soror Dolorosa, escultura em bronze de 1921 localizada na sala de estar, no pavimento térreo do museu

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Destacam-se no conjunto, ainda, várias obras de Anita Malfatti (1889-1964): Retrato de Baby – óleo sobre tela (década de 1930), Camponesa de saia vermelha – guache e nanquim sobre papel (década de 1930), Anjo – óleo sobre madeira (década de 1920) e Menina, aquarela sobre papel (s.d.). Dessas obras encontram-se dedicatórias: para o casal, no Anjo; para Baby, na Menina de chapéu.

Anjo, óleo sobre madeira (década de 1920)

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Retrato de Baby, óleo sobre tela (década de 1930)

Camponesa de saia vermelha, guache e nanquim sobre papel (década de 1930)

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Algumas obras remetem diretamente a ilustrações feitas para obras do Guilherme de Almeida, com maior destaque para as ilustrações do livro Você, de autoria de Anita Malfatti. O museu possui um exemplar único dessa edição, preparado pela própria artista, que nele encartou os originais das ilustrações (a lápis), e realizou o desenho sobre a capa dura de couro que protege o volume. Do mesmo grupo modernista foi Tarsila do Amaral (1886-1973), uma das mais importantes artistas do movimento. O acervo do museu conta com o quadro Romance, óleo sobre tela de 1925, sobre cuja procedência não consta nenhuma informação. Além da arte modernista, figuram no acervo gravuras de períodos diversos, como uma de Franz Post (séc. XVII), mapas holandeses do século XVII e várias litogravuras em cor de Rugendas (séc. XIX).

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Talvez um dos últimos itens adquiridos pelo museu tenha sido a máscara mortuária de Guilherme de Almeida, em 2005; esse é um dos poucos itens que não estão incluídos na listagem de acervo que integra o referido Processo de sua aquisição pelo Estado. A máscara mortuária em gesso foi doada pelo próprio artista que a confeccionou, Luiz Morrone, para a Pinacoteca do Estado de São Paulo no ano de 1975 (PE. 41/75). Luiz Morrone (1906- 1998) foi um dos mais prolíficos escultores brasileiros. Criou centenas de estátuas, bustos, e hermas, sendo também de sua autoria o brasão de armas do Estado de São Paulo. A máscara feita em gesso foi transferida do acervo da Pinacoteca do Estado para a Casa Guilherme de Almeida com a justificativa óbvia. Esse último “retrato” do poeta aguarda a sua perpetuação em bronze. Podemos, por fim, ressaltar o desenho original de Biaggio Mazzeo, feito para servir de ilustração para a capa da revista Indicador Bandeirante, nº 13, de julho de 1968. Trata-se de um retrato de Guilherme, em nanquim sobre papel, realizado de modo a incorporar versos do poeta. O artista, que se mantém em atividade, visitou o museu em 2014, ocasião em que rememorou a criação do desenho.

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MOBILIÁRIO E OBJETOS DECORATIVOS A Casa Guilherme de Almeida possui uma coleção expressiva de mobiliário e objetos decorativos e especialmente de objetos de prata. Uma primeira visão dos ambientes demonstra a qualidade das peças do acervo e o gosto apurado na escolha dos objetos. Do variado conjunto de objetos decorativos, merece distinção a prataria da casa, composta de peças bastante antigas, de origem brasileira, portuguesa, holandesa e inglesa. O mobiliário da casa é, em sua maioria, do final do século XIX e do início do século XX. Dele se pode destacar, por exemplo, um conjunto tipicamente brasileiro de cadeiras com assento em palhinha, que ilustra, de certa forma, o que era recorrente nos anos de 1940 e 1950, quando se procuravam móveis que apresentassem referência à história colonial brasileira. Era muito comum, nesse período, a busca desse tipo de mobiliário em localidades do interior do Estado de São Paulo, para a decoração das casas; famílias com mais recursos adquiriam móveis em leilões e antiquários. Esse tipo de decoração, que era chamado de “colonial brasileiro” (ou seja, o uso de móveis e pratarias com características semelhantes à da Casa Guilherme de Almeida) era comum em residências do bairro do Pacaembu, em São Paulo. 57


No conjunto de mesa e cadeiras da sala de jantar podemos observar que as cadeiras possuem essa tipificação de mobiliário brasileiro, mas a mesa apresenta pés de mobiliário mais comum em móveis ingleses. Não se pode descartar a hipótese de que tenha sido feita uma adaptação na mesa. As peças denominadas de aparadores, também em jacarandá, seguem o mesmo estilo sugerido pelas cadeiras do conjunto da sala de jantar. Possuem influência do estilo D. José. A aquisição desse tipo de mobiliário pode estar também associada a uma contribuição do irmão de Guilherme, o Sr. Antônio Joaquim de Almeida, que foi o fundador e primeiro diretor do Museu do Ouro em Sabará. Sua atuação nessa área, e o fato de residir em localidade em que havia mais facilidade de contato com esse tipo de objeto pode, ao menos – uma hipótese a ser cogitada – ter ocasionado indicações de sua parte para a escolha de objetos, tais como o móvel de canto, a roca antiga e a arca, todos da sala de jantar, e o relógio carrilhão de pé, localizado no jardim de inverno da casa. 58


Relógio carrilhão localizado no jardim de inverno

O relógio no jardim de inverno da residência, possivelmente do séc. XVIII, apresenta nítidas características de mobiliário de fazendas. Seja ou não decorrente da influência de seu irmão, envolvido com as questões nacionalistas que marcaram os as primeiras décadas de criação do SPHAN, a escolha dos objetos que compõem esse conjunto da coleção de Guilherme de Almeida parece afinar-se com os mesmos referenciais de definição de uma cultura tipicamente brasileira, ligada à nossa história colonial. 59


A decoração do mobiliário do quarto do casal demonstra também um gosto eclético que permitiu, por exemplo, a escolha de uma cama com influência do mobiliário manuelino e criados-mudos provavelmente austríacos. As pratas do acervo são, em sua maioria, oriundas de Portugal, inclusive do Porto. Representam um conjunto harmônico, e denunciam as mesmas preferências estéticas das décadas de 1940 e 1950, aparentemente norteadoras da escolha do mobiliário. A busca desses objetos em antiquários ou leilões pode ser evidenciada pela presença de peças com monogramas de seus donos anteriores. Podemos observar que alguns castiçais da coleção – geralmente usados em pares – não possuem par idêntico, o que indica uma dispersão dos objetos, possivelmente para venda avulsa, anterior à sua aquisição. Encontram-se no acervo, também, pratas com marca de fabricação da Empresa União, revendidas pela Casa das Pratas entre os anos 1930 e 1950. Esses fabricantes eram os últimos remanescentes dos prateiros portugueses que faziam e vendiam artefatos em prata de boa qualidade no centro de São Paulo. As pratas produzidas no Brasil não possuem marca de fabricação; são litúrgicas, possivelmente oriundas de igrejas. O museu possui, também, pelo menos duas peças semelhantes a copos, localizadas na sala de jantar da casa. 60


Um destaque da coleção é uma de suas peças de procedência lisboeta, um pequeno bule, que apresenta o refinamento típico das fabricações da capital portuguesa, com incrustações. Provavelmente do séc. XVIII – como consta na ficha referente ao objeto, da já mencionada série de fichas preenchidas no museu nas décadas de 1980 e 1990 –, a peça traz incrustado um cristal de rocha que, segundo consta em crônica do próprio Guilherme de Almeida, teria integrado anteriormente uma frasqueira de viagem pertencente a Maurício de Nassau (1604-1679). Não é raro se encontrarem citações de alguns objetos decorativos da própria casa em crônicas escritas por Guilherme, como no caso desta transcrita a seguir, na qual se encontram referências ao mencionado bule e a outras peças. A crônica – que se inicia com uma referência a uma rosa especial de cor dourada (“Alteza”, “loura”), primeira de uma “roseira de alta cultura”, presenteada a Guilherme por um amigo –, foi publicada na coluna “Ontem – Hoje – Amanhã”, datada do dia 4 de setembro (o recorte de que o museu dispõe não traz a referência de ano), mantida pelo escritor no jornal Diário de S. Paulo entre 1949 e 1957: 61


[...] Seja bem-vinda, Alteza! E loura, mais que loura (um louro veneziano, puro Ticiano...), aí está, a exilada princesa, não sei se muito “depaysée”, entre imagens da minha intimidade, que escolhi para sua companhia. Por exemplo: uma esfera armilar de prata, símbolo do Principado do Brasil; um Napoleão I em miniatura sobre marfim; uma peça de prata e cristal de rocha que fez parte de uma frasqueira de bordo, do Príncipe de Nassau; uma “bombonnière” da coleção de Eugênia de Montijo; e, principalmente, a vigilância sonolenta de um felpudo mandarim (flor, borboleta e peixe ao mesmo tempo) e a silenciosa reverência de todas as escritas e guardadas trovas de um “trouvère” de corte, que não tem corte onde trovar... [...] (Grifo nosso, indicativo das peças cujas imagens são mostradas adiante.)

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As peças descritas no texto levam-nos a acreditar que a escolha dos objetos e a decoração da casa não seriam incumbência apenas de sua mulher Baby de Almeida, mas, também do próprio poeta, que se orientaria por sua afinidade com os temas sugeridos por cada peça. Vejam-se, a seguir, imagens de alguns dos itens citados no trecho da coluna:

“Esfera armilar de prata”

“Napoleão I em miniatura sobre marfim”

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“Peça de prata e cristal de rocha que fez parte de uma frasqueira de bordo, do Príncipe de Nassau”

Referida por Guilherme como “‘bombonnière’ da coleção de Eugênia de Montijo” – que teria, portanto, segundo o poeta, pertencido à imperatriz Eugênia (1826-1920), da França, esposa de Napoleão III –, este objeto é descrito em Inventário anterior do museu como “caixa tipo porta-jóias, lapidada e com arremate de metal”

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Da mesma coluna do Diário de S. Paulo, de 14 de Outubro (sem referência do ano no recorte), encontram-se outras referências a objetos do acervo: [...] Tal é a pequena estatueta de Tanagra que, há tantos anos, assiste à constante e noturna pantomina das minhas ideias e das minhas palavras, na alta e afastada quietude deste meu “studio”. Sempre nos olhamos, sem nunca nos vermos. Ora, esta noite... ...esta noite, pela primeira vez, nós nos vimos. Há quantos, quantos séculos estaria marcado este nosso encontro nesta esquina do Tempo?... O que ela me disse?... – Talvez o verso de doce mel e abelha picante da insigne Psappho: “Ou ti moi hymmes”...

A “estatueta de Tanagra”

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É interessante assinalar a escolha, por Guilherme, de um dos objetos não apenas como tema de uma crônica, mas, também, como inspiração para a criação do seu próprio “Ex-Libris”. O “Fauno”, objeto hoje exibido na mansarda do museu, sobre a mesa de trabalho de Guilherme de Almeida, inspirou a crônica “Mitologicamente”, publicada na coluna Eco ao Longo dos Meus Passos, mantida pelo escritor no jornal O Estado de S. Paulo, entre 1959 e 1967: [...] É um pequeno fauno de porcelana da Bavária, branca e cinza, com uma suspeita de azul e rosa em alguns relevos. Sentado sobre as pernas caprinas, as orelhas pontudas, espetados, os chavelhos apenas insinuados, estende a boca e o olhar para uma borboleta pousada na mão e esquerda que, cautelosa, aproxima do seu beijo. A frauta silvestre, de sete canas, jaz no chão, ente seus joelhos. [...]

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O Fauno

Ex-Libris criado por Guilherme de Almeida a partir de desenho de Adolf Kohler, década de 1920. Traz o lema Sub boni et mali arboris umbra (“à sombra da árvore do bem e do mal”).

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Deve ser ressaltada, também, a presença, no acervo da Casa Guilherme de Almeida, de inúmeros objetos de procedência oriental. O interesse de Guilherme pela cultura nipônica pode ser avaliado, entre outras referências, por sua ativa participação na fundação da Aliança Cultural Brasil-Japão, ocorrida em 17 de novembro de 1956. A Aliança foi criada com o objetivo de desenvolver o intercâmbio cultural entre os dois países. A contribuição de Guilherme para a constituição dessa entidade deriva de seu contato com a comunidade japonesa em São Paulo desde os anos 1930; em 1937, o poeta publicou haicais (modelo de poema breve tradicional no Japão) de sua autoria no jornal O Estado de S. Paulo, compostos a partir de um esquema adaptativo do modelo para a poética de língua portuguesa, por ele criado. 68


COLEÇÃO CÍVICA Encontram-se no museu inúmeros objetos representativos de episódios da história de São Paulo com os quais Guilherme de Almeida esteve envolvido, destacando-se, entre eles, a Revolução Constitucionalista de 1932. O poeta participou ativamente desse movimento, inicialmente como soldado e, depois, como editor do Jornal das Trincheiras, distribuído aos soldados nos campos de batalha. Mas a atuação cívica do poeta – que todo dia 9 de julho hasteava a bandeira de São Paulo na sacada de sua residência na Rua Macapá – estendeu-se a muitas outras atividades. 69


Guilherme expressou sua profunda ligação cívica com São Paulo em poemas como “Nossa Bandeira”, “Moeda Paulista” e “Oração ante a última trincheira”. Proclamado “O poeta da Revolução de 32”, escreveu ainda a letra do “Hino Constitucionalista de 1932/MMDC” e de “O Passo do Soldado”, ambas musicadas por Marcelo Tupinambá. É de sua autoria a letra da célebre “Canção do Expedicionário”, com música de Spartaco Rossi, referente à participação dos pracinhas brasileiros na Segunda Guerra Mundial.

Detalhes de mapa descritivo da Revolução Constitucionalista de 1932 ilustrado por José Wasth Rodrigues, enfocando a concentração das frentes de batalha nas divisas com o Paraná, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

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O mapa descritivo da Revolução de 1932, que Guilherme manteve durante muito tempo sob o vidro de sua mesa de trabalho em seu escritório da Rua Barão de Itapetininga, representaria, por si só, uma grande história de luta e resistência. Esse mapa foi considerado clandestino, e, por isso, quase levou à destruição da gráfica que o produziu e à prisão de seu impressor. Em 1932, quem ousasse imprimir um mapa de São Paulo Constitucionalista, estaria ameaçado, até, à pena de morte. Um importante registro sobre a produção e a circulação dessa peça foi encontrada em uma matéria publicada na revista Símbolo de junho de 1977 (p. 8), escrita por Stella Carr, da qual transcrevemos o seguinte trecho: 71


[...] 45 anos depois, uma verdadeira joia litográfica é encontrada por detrás do forro de um teto, onde seu assustado impressor a deve ter ocultado. No original em 6 cores, veem-se claramente desenhados os exércitos de São Paulo e do resto do Brasil, com suas bandeiras, e os famosos aviõezinhos que ameaçavam bombardear a cidade. No canto à esquerda, os dizeres “Esta he a carta verdadeira da revolução que houve no Estado de São Paulo no anno de MCMXXXII”. Em 1972, a Gráfica Editora Hamburg adquiria o controle da WEISS e Cia. Ltda., gráfica das mais antigas do Brasil, localizada na Rua dos Apeninos desde 1928, no bairro da Aclimação. Prédio muito velho, fazia-se necessária uma reforma. Ao ser derrubado o antigo forro, foi encontrado entre os escombros um rolo de papéis. Alguns funcionários com mais de 37 anos de casa reconheceram logo pelas letras JWR escritas no canto direito as iniciais de José Wasth Rodrigues, um dos maiores gravadores do Brasil e primeiro ilustrador de Monteiro Lobato. Contaram que, acabada a revolução, soldados vieram revistar a gráfica porque o dono fora denunciado por ser impressor de um mapa” separatista”. Um coronel do Recife, porém, achou que como estrangeiro, Weiss tinha se envolvido involuntariamente e concordou em deixá-lo em paz, se os mapas fossem destruídos e as matrizes quebradas. As matrizes, pedras pesadíssimas, de 30 a 40 kilos, foram quebradas ali mesmo. Mas alguns mapas, verdadeiras obras de arte impressas em 6 cores (hoje usam-se no máximo 4) foram preservados e escondidos. Explica-nos Wilson Savieri, um dos atuais donos da empresa, que encontrou, ao chegar, um arquivo organizadíssimo de matrizes de pedras e a máquina “Planeta Cleinod”, verdadeira peça de museu, onde supõe terem sido impressos os mapas. E descreve seu processo de impressão: “Nesse mapa, foram usadas 6 dessas pedras, uma para cada cor. São chamadas ‘pelure’, e encontradas somente numa região vulcânica da Itália e Alemanha. O desenho é passado em papel de seda para cada uma das pedras separadamente, e a gravação é feita totalmente à mão. Cada pedra substitui um dos filmes que atualmente são usados para este fim. E é por isso que o ‘off-set’ até hoje é chamado litografia, de “litos” – pedra. O gravador tinha que ser um autêntico artista, como JWR, que passava o desenho da pedra à chapa de metal, que só então ia para a máquina imprimir. Joias como esta – lamenta Savieri – não existem mais!” [...]

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Com o mesmo José Wasth Rodrigues, autor do desenho do mapa acima descrito, Guilherme de Almeida fez parcerias que resultaram, entre outras coisas, na elaboração do brasão de São Paulo. A dupla saiu vencedora do concurso que em 1917 elegeu o brasão para representar a cidade de São Paulo. Guilherme foi autor, ainda, do brasão e da bandeira de Brasília; na data de inauguração da cidade, em 1960, o poeta declamou uma oração natalícia de sua autoria, a convite do Presidente da República Juscelino Kubitschek.

Brasão de Brasília, guache e nanquim sobre papel, integrante do acervo do museu

Guilherme de Almeida foi o autor, também, de brasões de armas das seguintes cidades: São Paulo (SP), Petrópolis (RJ), Volta Redonda (RJ), Londrina (PR), Brasília (DF), Guaxupé (MG), Caconde, Iacanga e Embu das Artes (SP). Em 1952, o escritor assumiu o cargo de presidente da Comissão Executiva do IV Centenário de São Paulo, cujo escritório foi estabelecido no Edifício dos Diários Associados. Desse período ficaram inúmeras lembranças e objetos comemorativos, como medalhas, moedas etc., que integram o acervo do museu. 73


HOMENAGENS Durante sua trajetória, Guilherme de Almeida recebeu inúmeras homenagens, representadas por objetos – como placas, medalhas, troféus e condecorações – que constituem parte significativa do acervo do museu. Passamos a relacionar algumas dessas peças, a fim de exemplificar esse grande conjunto de objetos: - Medalha da Constituição: combatente na Revolução Constitucionalista de 1932 e exilado em Portugal após seu término, Guilherme foi homenageado com a medalha instituída pela Assembléia Legislativa de São Paulo; - Medalha de Ouro e Diploma de 1ª Classe dos Beneméritos da Escola da Cultura e da Arte (Itália);

Grã Cruz Honra ao Mérito – Beneméritos da Escola da Cultura e da Arte (Itália)

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- Medalha de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique (Portugal)

- InsĂ­gnia de Comendador da Ordem de Santiago de Espada (Portugal)

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- Distintivos de Grande Oficial da Coroa da Rumânia

Guilherme foi distinguido, pelos governos de outros países, com diversas condecorações: a de Cavaleiro da Legião de Honra da França; a de grande Oficial da Ordem Militar de Cristo (Portugal); a de Comendador da Ordem do Mérito da Síria; a de Comendador da Ordem do Tesouro Sagrado ( Japão), e a de Oficial da Ordem da Arte e das Letras (França). Guilherme de Almeida era, ainda, membro: do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo; do Seminário de Estudos Galegos de Santiago de Campostela; da Union Cultural Universal; do Alcácer de Sevilha, e do Instituto de Coimbra, Portugal. 76


Entre os títulos e condecorações com que o distinguiram, destacase o de Príncipe dos Poetas Brasileiros, que lhe foi conferido mediante votação pública, promovida pelo jornal Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, em 1959, na condição de sucessor de Alberto Oliveira e Olavo Bilac.

Efígie de Guilherme de Almeida –Príncipe dos Poetas Brasileiros, de autoria de Galileo Emendabili. Relevo circular em gesso, com cobertura em cerâmica, integrante do acervo da Casa

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6 CONCLUSÃO Esta pesquisa teve o propósito principal de colaborar para o conhecimento do acervo da Casa Guilherme de Almeida, que constitui uma fonte central de referência para todas as atividades educativas e culturais realizadas no Museu. O resultado deste trabalho deverá contribuir para a implantação de informações complementares nas fichas de catalogação do atual Banco de Dados da instituição. Devemos ressaltar, mais uma vez, que o presente projeto não teve como objetivo a pesquisa de proveniência de cada item do acervo museológico, considerado individualmente. O histórico dessas peças é objeto de pesquisas constantes no museu. A busca de informações sobre cada peça sob a guarda da instituição é um trabalho cotidiano que se pretende continuar ainda com mais empenho, respeitando-se e valorizando-se a documentação já existente na casa. As limitações para a obtenção de certas informações e comprovações de procedência são evidentes, devido à natureza da coleção, reunida pelo casal Almeida sem a preocupação de documentar as aquisições de objetos e dados sobre suas possíveis origens. Devemos ressaltar, ainda, que foi no próprio arquivo do museu que a equipe encontrou a maior e mais confiável fonte de informações sobre seu acervo. Não apenas no arquivo histórico do museu, mas, também, na documentação que se encontrava dispersa, tanto a que se refere ao acervo como a referente à própria história a instituição. Este trabalho representou, para a Casa e para todos os membros de sua equipe, uma etapa inicial de um longo processo de reorganização da documentação 78


do acervo, além da reafirmação da importância desse tipo de estudo para as pesquisas que podem se realizar no museu. A reorganização de todo o arquivo da instituição confere um novo fôlego para as atividades promovidas na Casa Guilherme de Almeida. Um novo projeto do museu contemplará a digitalização, em alta resolução gráfica, de quase todo seu acervo arquivístico, e de parte de seu acervo bibliográfico; os arquivos sigitalizados serão, na medida do possível, disponibilizados para consultas e pesquisas. O registro oficial que formaliza a incorporação do acervo pelo Estado de São Paulo a partir da venda formalizada na década de 1970 é o principal registro documental para a instituição. O resgate dessas informações e a consulta aos antigos processos em poder da Secretaria de Estado da Cultura foi essencial para a compreensão do processo de criação e instalação do museu, e da incorporação do seu acervo ao patrimônio do Estado. Essas fontes, além de consolidarem a própria história institucional, são eficazes para a constatação de possíveis incoerências nos registros e/ou desvios de acervo pertencente ao museu em qualquer fase de sua consolidação institucional e administrativa. Percebendo-se a grande dificuldade de obtenção de novos documentos que permitam detectar o histórico de grande parte das peças do museu, devido à sua grande quantidade e também à diversidade de tipologias que encerra, a equipe busca orientar-se pelas ligações entre o acervo e a vida e a obra de Guilherme de Almeida, ação esta que coincide com a missão do museu Casa Guilherme de Almeida e com a finalidade precípua de um museu-casa dedicado a um literato. 79


Informação adicional

BIOGRAFIA DE GUILHERME DE ALMEIDA 1890 •

Guilherme de Almeida nasce em Campinas (SP) em 24 de julho, filho do Dr. Estevão de Araújo e Almeida, natural de Porto Caxias (então província do Estado do Rio de Janeiro) e de Angelina de Andrade Almeida, da sociedade campineira.

Passa os primeiros anos da infância entre as cidades de Limeira, Araras e Rio Claro, todas no interior do Estado de São Paulo.

1902 •

Matricula-se no Ginásio de Campinas (hoje Colégio Culto à Ciência).

Vem com a família para São Paulo, se instalando na Rua Conselheiro Nébias, 97, seu primeiro endereço na capital.

1903 •

Ingressa no Colégio São Bento.

1904 •

Em abril desse ano, adoece gravemente. Para se restabelecer, transferese com o irmão Marco Aurélio para o Colégio Diocesano de São José em Pouso Alegre (MG).

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1907 •

Conclui o curso em São Paulo, no Ginásio Nossa Senhora do Carmo, dos Irmãos Maristas, onde recebeu, com distinção, o diploma de Bacharel em Ciências e Letras.

1908 •

Ingressa na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, onde seu pai é professor.

1909 •

Publica, pela ela primeira vez no periódico da faculdade O Onze de Agosto, um trabalho seu, O eucalyptus (poesia).

1912 •

Forma-se Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade de São, com 22 anos de idade.

Passa a trabalhar no escritório do pai.

Inicia sua colaboração nas revistas A Cigarra, O Pirralho e A Vida Moderna, com crônicas, contos e poesias.

Escreve nessa época os primeiros sonetos do livro Nós.

1913 •

Para por um fim ao estilo de vida boêmio de Guilherme, seu pai o condena a um “exílio” em Apiaí, pequena cidade no interior de São Paulo.

Nessa época, é nomeado Promotor Público em Apiaí e Moji-Mirim (SP).

Em agosto, retorna à capital. 81


1914 •

A eclosão da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) lhe dá um forte pretexto para voltar à capital paulista. Ao retornar, encaminha-se diretamente ao Consulado Francês, onde se oferece como voluntário para combater nos campos da Europa em defesa da França - terra de seus poetas mais queridos: Valéry, Rondenbach, Verlaine, Baudelaire, Henry de Régnier, Albert Samain, entre outros.

1916 •

Na tarde de 16 de setembro, na redação do jornal O Estado de S. Paulo, perante um grupo de amigos, Guilherme de Almeida começou a leitura dos originais do seu primeiro livro de versos Nós. Corou no primeiro soneto, gaguejou no segundo e engasgou no terceiro, passando depressa os originais ao seu querido amigo Júlio Cesar da Silva, para que continuasse a leitura.

Publica em colaboração com Oswald de Andrade Théatre Brésilien, com as peças Mon Coer Balance e Leur Ame, em francês.

Começa a trabalhar no jornal O Estado de S. Paulo, onde redige a coluna A Sociedade.

1917 •

Aos 26 anos, seguindo os conselhos de Vicente Carvalho e Amadeu Amaral, despreza alguns versos e lança uma edição de 1.015 exemplares do seu primeiro livro Nós, financiado pelo Dr. Francisco Morato.

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No jornal carioca A Notícia, o artigo O Bacillus Lírico, assinado pelo ex-padre e venenoso escritor Antônio Torres, violentamente desancava o livro de Guilherme. Dizia coisas assim: “... deveria deixar de fazer versos molhando a pena em água de laranjeira açucarada, como o malogrado cretino Casimiro de Abreu, cuja alma, tenha Satanás sempre ente os cornos”.

Nesse mesmo ano, outros críticos tomaram a defesa de Guilherme, sendo Medeiros e Albuquerque o primeiro a rebater as acusações de Antônio Torres nas colunas do jornal A Notícia. Outros vieram em sua defesa, surgindo inúmeras críticas favoráveis ao seu livro de estreia.

Como resultado, a edição de 1.015 exemplares esgotou-se em pouco tempo.

Divergência com José Wasth Rodrigues, que vence o concurso para o brasão da cidade de São Paulo.

1918 •

Reconcilia-se com o pai e passa a trabalhar em seu escritório.

Cuida de nova edição do livro Nós, dado o sucesso da primeira edição.

1919 •

Publica A Dança das Horas (poesia), recebida com entusiamo pela crítica literária brasileira.

Ainda nesse ano publica Messidor (poesia).

1920 •

Publica o Livro de Horas de Sóror Dolorosa (poesia). 83


1921 •

Escreve Natalika (prosa), Narciso e Sheherazada (poesia, publicado posteriormente em Toda a Poesia, Livraria Martins Editora, São Paulo, em 1952).

Conhece Di Cavalcanti, com quem inicia uma grande relação pessoal e profissional.

1922 •

Engaja-se na batalha modernista, tendo as poesias O Discóbulo e A Galera declamadas em fevereiro durante a Semana de Arte Moderna, no Theatro Municipal, em São Paulo.

Publica Era Uma Vez... (poesia).

Escreve O festim (poesia).

Começa a receber cartas em francês de uma admiradora anônima, que lhe envia cerca de 200 cartas em um ano. Belkiss Barrozo do Amaral, Baby, e Guilherme finalmente se conhecem pessoalmente no Rio de Janeiro, durante a Exposição Internacional em comemoração ao Centenário da Independência.

Funda em abril a revista Klaxon, órgão de divulgação do Modernismo, com outros companheiros do movimento.

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1923 •

Viaja frequentemente para o Rio de Janeiro. A correspondência amorosa com Baby o inspira a publicar, em 1942, o volume Cartas do Meu Amor.

Em 16 de abril, Guilherme e Baby ficam noivos.

Em 2 de agosto é nomeado secretário da Escola Normal PadreAnchieta, no Bairro do Brás, em São Paulo.

No dia 3 de setembro realiza-se o casamento.

Após as bodas, de 1923 a 1925, o casal passa a residir no Rio de Janeiro, onde se integram “na roda de Graça Aranha”.

1924 •

Publica Natalika, prosa poética e o livro de poesias A Frauta que eu perdi (poesia).

Em 26 de agosto nasce o filho do casal Guy.

1925 •

Publica os livros Meu, Narciso, A flor que foi um homem, Encantamento e Raça.

Toma posse do cargo na Escola Normal do Brás.

Viaja a Porto Alegre, Recife e Fortaleza divulgando o Modernismo com a conferência “Revelação do Brasil pela Poesia Moderna”. 85


1926 •

A doença e a morte de seu pai, em 16 de abril, forçam seu regresso a São Paulo. Passa a morar em Santo Amaro, bairro afastado da capital.

Publica Do Sentimento Nacional na Poesia brasileira e Ritmo, Elemento da Expressão, teses com as quais concorreu ao concurso para Lente de Literatura no Ginásio do Estado.

É convidado por Júlio Mesquita (pai) a voltar para a redação do jornal O Estado de S. Paulo. Sob o pseudônimo de G., inicia uma longa série de crônicas sobre cinema Cinematógrafos, inaugurando no Brasil a crítica cinematográfica.

Muda-se para a Alameda Ribeirão Preto, no Morro dos Ingleses, zona central de São Paulo.

1927 •

Além do trabalho no jornal O Estado de S. Paulo, passa a assinar a seção Pela Cidade no jornal Diário Nacional, com o pseudônimo de Urbano.

1928 •

Sob o pseudônimo de Guy, dá início a Sociedade, crônicas publicadas diariamente no jornal O Estado de S. Paulo.

É convidado a ocupar a cadeira nº 22 da Academia Paulista de Letras, outrora de seu pai Estevão de Almeida. No mesmo ano é empossado.

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1929 •

Com a morte de Amadeu Amaral, em outubro, o seu nome é lembrado para ocupar a cadeira nº 15 da Academia Brasileira de Letras (cadeira que já pertenceu aos poetas Gonçalves Dias e Olavo Bilac). Inscreve-se para a vaga deixada por ele.

Publica ainda Gente de cinema (prosa) e Simplicidade (poesia).

Começa a escrever pelo jornal O Estado de S. Paulo uma série de reportagens denominada Cosmópolis, posteriormente publicadas em livro em 1962.

1930 •

Em 6 de março, eleito por 23 votos, derrota o escritor mineiro Veiga Miranda (autor de Redenpção e outros livros famosos) e assume a cadeira nº 15 da Academia Brasileira de Letras.

No dia 21 de junho é recebido por Olegário Mariano em noite de gala na ABL para posse da cadeira. A comissão que o introduziu no plenário era compota pelos três imortais Alberto de Oliveira, Coelho Netto e Medeiros e Albuquerque.

1931 •

Publica Cartas à Minha Noiva, Você e Poemas escolhido (poesias) - o museu possui uma edição única de Você, contendo as ilustrações e capa por Anita Malfatti. 87


1932 •

Publica Cartas que eu não mandei (poesia), a tradução dos amorosos poemas de Paul Géraldy Eu e você (poesia) e a tradução de O Gitanjali, de Rabindranath Tagore.

Torna-se combatente da Revolução Constitucionalista de 1932, que explode em 9 de julho, inicialmente como soldado e depois como diretor do Jornal das Trincheiras.

Com a derrota em 28 de setembro, é preso e detido no Rio de Janeiro até a partida, em novembro, para o exílio em Portugal, junto com mais 72 revoltosos paulistas.

Em Lisboa, no dia 18 de novembro, é recebido solenemente na Academia de Ciências.

1933 •

Durante os meses de abril e maio, viaja pela Galícia (Espanha) e pela França.

Retorna do exílio e instala-se na rua Pamplona.

Publica o livro O meu Portugal (prosa).

Começa a trabalhar na Rádio Cruzeiro do Sul, com dois programas semanais: Momentos de Poesia e Preview da Semana, este último de crítica cinematográfica.

1934 • 88

Colabora na recém-criada revista da Academia Paulista de Letras.


1935 •

Publica A casa (prosa).

1936 •

Publica Os poetas de França (poesia), edição bilíngue, e Suíte brasileira, tradução da terceira parte do livro de Luc Durtain, Quatre continentes.

1937 •

É eleito presidente da Associação Paulista de Imprensa.

Viaja para o Uruguai como chefe da Missão Cultural do Serviço de Cooperação Intelectual do Ministério do Exterior, para inaugurar a herma de Olavo Bilac, em Montevidéu.

1938 •

Publica Acaso (poesia).

1939 •

Publica a tradução de O Jardineiro, de Rabindranath Tagore.

Traduz o poema Koeda Warszawska (Cântico do Natal de Varsóvia) do poeta modernista polonês Stanislaw N. Balinsk, em que retrata Varsóvia destruída pelos nazistas, no Natal de 1939. 89


1940 •

Lê no Teatro Boa Vista a peça O estudante poeta, escrita em colaboração com Jayme Barcelos (que continua inédita).

1941 •

É nomeado oficial de gabinete do interventor Fernando Costa.

Publica Cartas do Meu Amor (poesia), capa e desenhos de Noemia Mourão, O Sonho de Maria (livro infantil) e João Pestana, de Hans Christian Andersen - quando dá início a uma série de traduções de clássicos da literatura infantil.

1942 •

Publica João Felpudo, tradução de Wilhelm Busch.

1943 •

Em 28 de janeiro deixa a redação do jornal O Estado de S. Paulo.

Toma posse do cargo de diretor dos jornais Folha da Manhã e Folha da Noite, onde escreve as crônicas Sombra amiga, sob o pseudônimo “G. de A.”.

É nomeado secretário do Conselho Estadual de Bibliotecas e Museus.

Publica a tradução de quatro livros de literatura infantil: Pinocchio, versão livre do clássico de Collodi, e O Camundongo e outras histórias, Corococó e Caracacá e O Fantasma lambão, de Wilhelm Busch.

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Publica O Amor de Bilitis, de Pierre Louys (tradução).

Passa a fazer roteiros para a Vera Cruz: “Tico tico no fubá” argumentos; “Sinhá moça e a passionata – diálogos; Terra é sempre terra”, baseado na peça Paiol Velho, de Abílio Pereira de Almieda, - diálogos.

1944 •

Publica a conferência, tese que preparou para a cátedra de Literatura, da Universidade de São Paulo, onde ia prestar concurso para professor titular: Gonçalves Dias e o Romantismo (prosa). Pronunciou na conferência na Academia Brasileira de Letras.

Publica Flores das “flores do mal”, de Charles Baudelaire (poesia), Paralelamente a Paul Verlaine (poesia), traduções com desenhos de Dorca, e Tempo (seleção de poemas).

Em março compõe a Canção do expedicionário para a Força Expedicionária Brasileira.

1945 •

Em 8 de março retira-se da direção dos jornais Folha da Manhã e Folha da Noite.

Trabalha pela fundação do Jornal de São Paulo, cujo primeiro número aparece em 10 de abril. O jornal é fechado pela ditadura de Vargas em 4 de maio e só volta a aparecer em junho.

Nesse período, escreve Folhinha (crônicas). 91


1946 •

Publica A mosca, de Wilhelm Busch e Uma oração de criança, de Rachel Fields (traduções).

Estreia do bailado Iara, no Teatro Municipal, com argumento de sua autoria, cenários de Cândido Portinari e música de Francisco Mignone.

Inicia sua colaboração no Diário de São Paulo, onde fica até 1957, com as crônicas intituladas Ontem, hoje e amanhã.

Muda-se para a casa da rua Macapá, no bairro do Pacaembu, onde residirá até a morte.

1947 •

Publica Poesia Vária (poesia), capa de Renato Zamboni.

1948 •

Publica Histórias Talvez... (prosa) e Palavras de Buda (tradução).

É nomeado chefe de gabinete do prefeito Lineu Prestes.

1950 •

É indicado para disputar uma vaga na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo pela convenção do Partido Republicano Paulista.

Inaugura seu escritório na rua Barão de Itapetininga, centro elegante de São Paulo, onde com sua peculiar fidalguia, recebe os amigos e admiradores.

92


Lançamento de Entre quatro paredes (tradução do Huis Clos, de Jean-Paul Sartre) no Teatro Brasileiro de Comédia, do qual foi um dos diretores. A primeira montagem de Entre quatro paredes no Brasil foi encenada por Adolfo Celi e estreou em 24 de janeiro de 1950, no Teatro Brasileiro de Comédia. Às vésperas da estreia, o espetáculo foi censurado, devido às pressões do Partido Comunista Brasileiro e da Igreja Católica. O veto só foi superado após debates com intelectuais e uma autorização expressa dos confessores para que os atores interpretassem seus papéis.

1951 •

Publica o livro de poemas “modernistas” O Anjo de Sal, Edições Alarico, São Paulo.

1952 •

Traduz Antígone, transcrição da tragédia de Sófocles, e publica pela Edição Alarico (Edição bilíngue, São Paulo).

1953 •

Lançamento de Toda a poesia, em seis volumes, e de Baile de formatura (prosa), com ilustrações de Renato Zamboni, editado pelo Departamento de Saúde de São Paulo. 93


1954 •

Foi nomeado Presidente da Comissão do IV Centenário da cidade de São Paulo, ano em que publica seu livro de versos Acalanto de Bartira (poesia), em edição especial de apenas 1.000 exemplares, sendo capa de Renato Zamboni, vinhetas de abertura e fecho de Brecheret e ornatos de Guidal; execução gráfica de Elvino Poccai, São Paulo, em bela apresentação gráfica. Acalanto de Bartira foi dedicado ao seu primeiro neto, Guilherme Egydio, que faleceu ainda criança.

Publica Na Festa de São Lourenço, tradução em versos, nas partes tupi e castelhana, do autor de José de Anchieta.

Aposenta-se do cargo de secretário da Escola Normal do Brás em 12 de fevereiro.

1956 •

Publica Camoniana (poesia), série de sonetos ao estilo de Camões, com apresentação de Afrânio Peixoto, para a coleção Rubáyát da Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro.

Fundação da Aliança Brasil Japão.

1957 •

Publica O Pequeno Romanceiro (poesia), com desenhos de Antonio Gomide e letras de Abigail (Livraria Martins Editora, São Paulo).

Deixa a redação do Diário de S. Paulo e volta a escrever no O Estado de S. Paulo. Eco ao longo dos meus passos é o título da última série de crônicas publicadas no jornal.

94


1958 •

Em 15 de maio Inicia sua colaboração na revista Manchete, com Crônicas de São Paulo.

1959 •

Em 16 de setembro recebe o título de “Príncipe dos Poetas Brasileiros”. É o quarto poeta a receber a alta distinção. (1º Olavo Bilac, em 1902, 2º Alberto de Oliveira, em 1918 e 3º Olegário Mariano, em 1937). Com a expressiva maioria de 320 votos, 156 mais do que o segundo colocado Manuel Bandeira, Guilherme de Almeida foi eleito o novo “Príncipe dos poetas brasileiros” num concurso de caráter nacional, patrocinado pelo jornal carioca Correio da Manhã, através da sua seção especializada Escritores de Livros. Dos cerca de mil componentes do colégio eleitoral, votaram 964 intelectuais de todo o país.

1960 •

O Presidente Juscelino Kubtschek honra Guilherme de Almeida com um convite para ser o orador oficial da inauguração de Brasília, onde leu a Prece Natalícia a Brasília. Guilherme também é o autor do brasão e da bandeira de Brasília.

Eleito presidente de honra das comemorações da V Centenário da Morte de D. Henrique, em Portugal.

1961 •

Publica Rua (poesia), com fotografias de Eduardo Ayrosa, pela Livraria Martins Editora, São Paulo e a tradução do Journal d’un Amant (prosa), de Simon Tygel. 95


1962 •

Publica Cosmópolis (prosa), oito reportagens de Guilherme de Almeida. Carvões de Antonio Gomide. Cia. Editora Nacional, São Paulo.

Faz parte do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.

É Comendador da “Ordem de Santiago da Espada”, de Portugal.

1965 •

Publica Rosamor (poesia), com capa de Renato Zamboni e ilustrações de Noêmia Mourão (Livraria Martins Editora, São Paulo).

Traduz Festival , poemas de Simon Tygel, Arcanum, de Niles Bond, e também Historia de uma escalera, peça teatral de Antonio Buero Vallejo (Editora Vozes, Petrópolis).

Na Academia Brasileira de Letras pronuncia a oração comemorativa do centenário de Olavo Bilac.

1967 •

Traduz Les Fruit du Temps, de Simon Tygel.

Publica uma seleção de poemas intitulada Meus versos mais queridos.

Compõe o Cântico jubilar para o advento da Rosa de Ouro, comemorativo da outorga dessa insígnia à Basílica Nacional de Aparecida pelo papa Paulo VI.

1968 •

Publica Os Sonetos de Guilherme de Almeida, capa de Renato Zamboni (Livraria Martins Editora, São Paulo).

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1969 •

Guilherme de Almeida falece na madrugada de 11 de julho, alguns dias antes da data em que completaria 79 anos de idade.

Seu corpo foi velado na Academia Paulista de Letras e está enterrado no Mausoléu do Soldado Constitucionalista, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo.

Guilherme de Almeida foi engrandecido, além do título de “Príncipe dos Poetas Brasileiros” e das cadeiras Nº22 e Nº15 na APL e ABL, respectivamente, com diversas condecorações de governos estrangeiros pela sua intensa atividade cultural ao longo dos anos: “Grande Oficial da Coroa da Hungria”; “Cavaleiro da Legião de Honra” da França, condecoração que muito estimava; “Grande Oficial da Ordem Militar de Cristo” de Portugal; “Comendador da Ordem de Mérito da Síria”; Medalha de Ouro e Diploma de 1ª Classe dos Beneméritos da Escola de Cultura e de Arte (Itália); “Comendador da Ordem da Arte e das Letras” da França; “Grande Oficial da ordem do infante D. Henrique” de Portugal; entre outras. Era ainda membro do “Seminário de Estudos Galegos”, de Santiago de Composta a; membro da “Union Cultural Universal do Alcácer de Sevilha”, e do Instituto de Coimbra, Portugal. 97


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