PERIFERIA VERDE - PARQUE URBANO EM TABOÃO DA SERRA (PRANCHAS ROSA KLIASS)

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Síntese cartográfica do existente

Mapeamento de memórias e afetividades

Partido de projeto

Além dos mapeamentos cartográficos, foi desenvolvido um mapeamento afetivo em conjunto com alguns moradores da área e visitas para desenho, na busca de territorializar afetividades através de memórias descritas e vivências. Esse levantamento demonstrou usos e feições que existiam e tinham potencial de apropriação pelo projeto do parque, o que foi essencial para a definição do partido, dando relevância para quem sempre esteve na área do parque e possui um vínculo afetivo.

O campo conceitual que orienta este projeto de parque urbano é a preocupação com a sua inserção no contexto local - um parque de periferia - evidenciando este espaço como parte da cidade, dando visibilidade, amparo e pertencimento a seus habitantes - pretendendo se constituir como um projeto que dialoga com as histórias, afetividades e memórias do local e de seus moradores.

01 / 02

Essa inserção se dá a partir de dois eixos. O primeiro deles é a consideração do entorno próximo, com sua urbanização periférica, com pouco verde e com poucas áreas de lazer, que tem necessidades próprias, mas que também se assemelha a outras tantas periferias latino-americanas quanto aos usos populares e problemas urbanos. O objetivo dessa vertente é fomentar o acesso da população do entorno aos serviços públicos, proporcionando geração de renda, lazer e ‘festa na cidade’, firmando uma relação espacial e física entre o que é, de fato, a periferia e a cidade “formal” (aquela com acesso a equipamentos e serviços da malha urbana).

“Paisagem é a materialização espacial da democracia” CLAD, 2014

O presente trabalho aborda o projeto de um parque urbano de periferia na cidade de Taboão da Serra, tratando da relação entre o direito à paisagem e o território periférico, de modo a abordar diferentes aspectos dessa problemática, desde fatores territoriais, ecológicos, ambientais e afetivos. Metodologicamente, o projeto perpassou por uma panorâmica de projetos de parques nos últimos séculos e por uma abordagem do direito à paisagem, chegando à abordagem histórico e territorial da área.

O segundo eixo é o pensamento do parque a partir das soluções da infraestrutura urbana, tanto verde quanto azul, ainda hoje pouco experimentadas no Brasil, partindo da presença de resquícios significativos de vegetação da Mata Atlântica na área e da presença de corpos d’água (como Córrego Poá e as 11 nascentes existentes na área) como pontos focais de preservação e recuperação, servindo às interconexões ambientais e à relação com a cidade.

O objetivo deste trabalho é dar visibilidade para a área de projeto e para a questão de projetar a paisagem em um território tão marcado pela exploração capitalista como é a periferia, voltando as atenções projetuais para os moradores locais, suas necessidades e afetos, e para as infraestruturas ambientais, em um território onde estão fragmentadas e desmanteladas.

A combinação desses dois eixos tem o potencial de gerar desempenho ambiental, infra estrutural e social para a cidade, qualificando o espaço através da simbiose estabelecida entre natureza e artifício, ponto primordial da arquitetura da paisagem.

RMSP Região Sudoeste

Nascentes Lagoas e brejos ETAc (estação de tratamento compacta) Captação e armazenamento de água

Taboão da Serra

água

São Paulo capital

Localização

Área de projeto

parque ecológico

Desenho à mão feito no local, representando as diferentes vegetações existentes. “Mudamos para a área na década de 1960. Na época, era rodeada por jabuticabeiras, caquizeiros e oliveiras. Havia três lagoas, em uma delas tinha criação de carpas. Na lagoa maior, além da abundância de peixes, havia barcos com remos para passeio. Nós nadávamos nas lagoas e comiamos direto do pé [...] ou seja, considero uma infância maravilhosa, rodeada por natureza, paz e alegria, mas com algumas dificuldades de transporte e acessos.”

Taboão da Serra

percursos

Trilhas ecológicas Caminhos/vias internas principais Mirantes, decks e passarelas Ciclovia

vegetação

Mata existente Reflorestamento Agrofloresta Pomar de nativas

Márcia Regina Cardoso, dona de casa, 59 anos. serviços

Existente e potencialidades

“Nosso sonho é transformar essa vila numa vila ecológica, que todos respeitem a mata e cuidem dela, cada um no seu quadrado sem degradar nada. Quero que a gente viva bem. O sonho de ter a vila regularizada, que as pessoas coloquem sua cabeça no travesseiro para dormir em paz e acordar sabendo que ninguém vai tirar eles dali. Nosso sonho é a regularização, é a urbanização, é viver bem, é ter uma vila 100% ecológica.”

JD. PAULO VI

lazer e esportes

parque de periferia

administrativo

Vestiários e banheiros Lanchonete Espaços para piquenique Estacionamentos/vagas Quadras drenantes Parede de escalada Academia ao ar livre Parquinhos

Anfiteatro ao ar livre Pista de skate Espaço livre multiuso (feiras, festas etc.)

Portarias Administração do parque Guarita

Maria de Lourdes, líder comunitária, 57 anos

família Rubiaceae

família Myrtaceae

espaços para piquenique

família Fabaceae orla das frutíferas

plantas filtradoras flutuantes

10

20

50m

vegetação existente floresta secundária estágio médio / inicial

passeio

eixo orla

Eichhornia crassipes aguapé

palafitado do brejo

Cyperus giganteus papiro

Equisetum hyemale L. cavalinha

Tabebuia roseo-alba ipê-branco

corte AA 0

brejo e percurso

Parque Cidade de Toronto referência SVMA

Play Garland Oosterpark referência Carve landscape

Tabebuia umbellata ipê-amarelo-do-brejo

parquinho dos ipês

deck de descanso

ciclovia + passeio

eixo principal

VILA IASI

Typha domingensis taboa

JD. SALETE

“A vegetação existente na cidade [Taboão da serra] está bastante alterada, suprimida devido os processos de urbanização e crescimento desordenado, que ocorreram principalmente nas últimas décadas com o desenvolvimento da região metropolitana. A maioria dos cursos dos córregos e fundos de vales é frequentemente utilizada para a construção de vias de transporte e para a circulação, com um entorno, na sua maioria, ocupado por moradias precárias e indústrias de pequeno porte, instaladas sem critérios de preservação ambiental” BENÍCIO, 2015, p.38.

ciclovia + passeio

É através desses processos, de uso e fragmentação das massas verdes da região, de lutas para preservação, de conflitos sociais pela ‘falta de moradia X preservação do meio ambiente’, de pressão da expansão urbana, entre outros fatores político-sociais, que a área chega até os dias de hoje no formato que se encontra.

conjunto pomar de nativas

Caesalpinia ferrea pau-ferro

O território de projeto é marcado por uma cidade muito densa – segundo o IBGE (2010), Taboão da Serra é um dos municípios mais densos do Brasil – em que há pouquíssimas áreas verdes (ver mapa ao lado), sendo a abordada aqui uma das mais relevantes. O entorno da área é caracterizado pelos abismos das diferenças sociais. De um lado o Condomínio Iolanda, de alto padrão e bastante arborizado, do outro, a Vila Nova Esperança, uma antiga ocupação da década de 1950 que atualmente luta pela sua urbanização e regularização fundiária, buscando se tornar uma vila ecológica (atualmente contam com horta comunitária e algumas iniciativas sustentáveis, buscando a segurança alimentar e territorial).

P. LAGUNA

Caesalpinia peltophoroides sibipiruna

COND. IOLANDA

VILA INDIANA

alagado construído

av. Régis Bittencourt

VILA N. ESPERANÇA

mirantes de orla

PARQUE TIZO

corte BB 0

10

20

50m


02 / 02 SAF: sistema agroflorestal 8m

área interativa

mirante

leito curso d’água

floresta secundária estágio médio / inicial

Araucaria angustifolia araucária

mirante araucária + curso d’água

banheiros guarita depósito

escalada + parquinhos + academias

O plantio da agrofloresta será feito pelos moradores ao longo da implantação e funcionamento do parque, intercalando espécies agrícolas, frutíferas e comerciais a cada faixa de 8m entre nativas da Mata Atlântica.

sistema agroflorestal

passeio das araucárias

Tabebuia roseo-alba ipê-branco

Horta Vila Nova Esperança

SAF: Sistema agroflorestal

mesas + assentos

nativa

agrícola

nativa

agrícola

nativa

=

Escorregas + escalada

estacionamento verde sistema agroflorestal

C

parquinhos

VA NO NÇA LA A VI ER P ES

mesas e assentos (excursões, almoços em grupo, aulas etc.)

rampas parquinhos:

escalada:

arquibancada

corte CC mirante

0

mata existente

C horta visitação

mirante encontro das águas

Parque Vallmora + Hotel de Insetos - Barcelona, Espanha/ por Batlle i Roig (2017)

trilha para agrofloresta

nascentes recomposição de brejo

ligação física e educacional com a escola

pomar de nativas

lago das helicõnias

referência verde-azul:

banheiro guarita triângulo das samambaiçus

ponte

Play Landscape be-MINE Berigen, Belgica / por Carve (2016)

O pomar de nativas é uma área do parque destinada ao cultivo de 5 famílias botânicas com espécies comestíveis, servindo fortemente como meio educativo a cerca da variedade de espécies frutíferas brasileiras, unindo a atividade produtiva à biodiversidade e aos serviços ecossitêmicos, servindo de alimento, inclusive para a fauna. A ligação com os moradores virá desde a implantação, em que as famílias botânicas terão algumas de suas espécies plantadas por famílias da região, inclusive crianças, para que o crescimento seja conjunto, criando um laço afetivo com o parque.

o olho d’água (nascente)

eco-corredor Ningbo East New Town Zhejiang, China / por SWA (2016)

Piso drenante intertravado natural

Eucalipto autoclavado Placa quadrada drenante natural

Família Arecaceae quadras de volei

banheiros e vestiários academia ao ar livre

Areia Pedrisco

praça da paineira

Família Myrtaceae

ÁRVORES E PALMEIRAS símbolo espécie

banheiros e guarita

Pomar de nativas

Família Rubiaceae

campo de futebol

Família Annonaceae

arquibancada lanchonete banheiros

mirante da mata praça dos jequitibas

quadras poliesportivas

pista de skate

Família Fabaceae

Conjunto de nativas para reflorestamento

A

administração do parque

espaços para piquenique

estacionamento de ônibus

parquinho

B

academia nascente visitável

brejo

nome popular beijo-fedorento, mussambê

Aristida jubata

capim barba-de-bode

Heliconia angusta

helicônia-vermelha-pequena

Imperata brasiliensis

capim-sapê

Heliconia velloziana

Achyrocline satureioides

macela-do-campo

Philodendron brasiliense

Eryngium elegans

elegante

Actinocephalus polyanthus

sempre-viva-de-mil-flores

Costus spicatus

helicônia papagaio banana-do-brejo, banana-do-chacá cana-do-brejo

Mimosa pudica

dormideira

Typha domingensis

taboa

Tibouchina moricandiana

quaresmeira-arbustiva

Equisetum hyemale

cavalinha

Baccharis trimera

carqueja

Cyperus giganteus

papiro

Calathea rufibarba

maranta-peluda

Begonia cucullata

begônia do brejo

Ctenanthe setosa

maranta-cinza, tenante-cinza

Eichhornia crassipes

aguapé

Renealmia petasites

pacová

Echinodorus grandiflorus

chapéu-de-couro

Philodendron bipinnatifidum

guaimbê, imbé

Pistia stratiotes

alface-d’água

Axonopus compressus

grama são carlos

Salvinia molesta

salvinia gigante

Pontederia cordata

rainha-dos-lago, dama-dos-lago

B

banheiros guarita

ETAc alagado construído + plantas filtradoras flutuantes

égis Av. R

parquinho

rt

ou ittenc

B

arquibancada

espaço multiuso

mirantes de orla

centro de informações banheiros guarita

acessos / portarias

alagado construído +

Av. Régis Bittencourt

espaço multiuso (feiras, eventos, festas, etc)

arquibancada

mirantes de orla

plantas filtradoras flutuantes orla dos jacarandás

anfiteatro + escalada

A praça de entrada - que abarca o espaço multiuso, parquinho, arquibancada, academia, etc. - faz a transição entre a malha urbana e o meio natural do parque. É um espaço, entre o alagado construído e a avenida, que busca a diversidade de usos, trazendo o público para o parque, inclusive através do uso esporádico do espaço para eventos, festas e reuniões.

praça de entrada

cor espécie Cleome hassleriana

A

nome popular

nomes populares

Jacaranda cuspidifolia

jacarandá-de-minas

Caesalpinia leiostachya

pau-ferro

Caesalpinia peltophoroides

sibipiruna

Euterpe edulis ***

palmito- juçara

Dicksonia sellowiana***

xaxim-verdadeiro, samabaiaçu

Campomanesia phaea

cambuci

Eugenia brasiliensis ***

grumixama

Schinus terebinthifolia

aroeira-vermelha

Myroxylon peruiferum

cabreúva

ÁRVORES E PALMEIRAS símbolo espécie

percurso palafitado percurso hídrico

Schizachyrium condensatum capim rabo de burro

Este papel socioeducacional e de inclusão social do esporte é fundamental neste projeto, inclusive na melhora de qualidade de vida e saúde e na criação de um vínculo afetivo com o parque e com a região, abrindo espaço para uma gama maior de atividades esportivas e de recreação.

Concreto pigmentado vermelho

trilha ecológica

cor espécie

O futebol nas periferias do Brasil e da América Latina é uma das formas de recreação da população. Na maioria das vezes ligado à campos de várzea ou à rua, o futebol, assim como o carrinho de rolimã e empinar pipa, está ligado à cultura de periferia e à juventude, inclusive como porta de entrada para ascenção social.

Piso drenante intertravado grafite

escadaria das juçaras

AQUÁTICAS E PALUDOSAS

50m

Asfalto existente

crescimento árvore + criança (famílias nativas)

passarelas e mirantes

parquinho aquático

20

PISOS parede interativa (espécies da mata atlântica)

praça do lago

10

academia

esportes e seus impactos sociais

praça esperança

ARBUSTOS E FORRAÇÕES

vegetação existente + agrofloresta

8m

Myroxylon peruiferum cabreúva

alagado construído distrito hídrico

+

O alagado construído constitui uma adaptação e modificação geral do reservatório de retenção ‘portuguesinha’ (piscinão) para uma versão mais adequada ao contexto atual, constituindo essa ‘wetland’ com quase o dobro da capacidade do reservatório anterior. Seus benefícios são:

O ‘distrito hídrico’ é o componente urbano que trata das águas no parque e busca, além de contribuir em macro-escala com a cidade, educar o visitante em um trajeto para demonstrar a relação do parque com a água. Localizado próximo a Av. Régis Bittencourt, o trajeto inicia no mirante da mata, ponto mais alto desta parte do parque, avistando toda a extensão do alagado construído, dando um panorama geral das águas no parque. A seguir, o trajeto desce para a nascente visitável e para a área de reflorestamento, tratando sobre infiltração e afloramento da água. Após, o mirante de orla e o percurso palafitado aproxima o visitante dos ambientes aquáticos e trata da filtragem biológica e natural pelas plantas flutuantes, finalizando na ETAc (estação de tratamento de água compacta), demonstrando um sistema não natural de filtragem.

eixo principal

vagas externas

A partir do partido sócio-ambiental do Parque Taboão, de integrar um parque ecológico a um parque de periferia, unindo preservação e restauração das relações ambientais com o lazer, segurança alimentar e acesso à equipamentos e serviços, o programa de necessidades foi disposto na área buscando conexão - territorial, ecológica e social.

- regularização de fluxos hídricos - amortecimento de picos (enchentes) - habitat e refúgio para fauna - contato de orla - vegetação nativa, paludosa e aquática - tratamento de efluentes, passivo e biológico - cultura de educação ambiental

área de descanso

Cariniana estrellensis ***

jequitibá-branco

Lafoensia glyptocarpa

mirindiba-rosa

Chorisia speciosa

paineira rosa

Bixa orellana

urucum

Schizolobium parahyba

guapuruvu

Tabebuia roseo-alba

ipê-branco

Tabebuia umbellata

ipê-amarelo-do-brejo

Araucaria angustifolia ***

araucária, pinheiro-do-paraná

0 Created by Lluisa Iborra from the Noun Project

nomes populares

25

50

100m


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