28ª EDIÇÃO JAZZ
28ª EDIÇÃO JAZZ
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6 A música deve ser entendida como documento do tempo, um palimpsesto sonoro que se redige permanentemente, na tentativa de procurar captar um sentido redentor para a existência. Redimir o falhanço humano sempre foi o grande propósito da arte, que procurava entender as causas de tantas manifestações excessivas e cruéis. Os artistas denunciavam, através de inúmeros processos criativos radicais, quer na forma, quer na diversidade, a sociedade do seu tempo. A história vista como um todo representa uma construção unificada, cheia de pontos comuns, ligações no tempo e no espaço, interpretações, narrativas, testemunhos, opiniões, críticas, textos, ensaios... Percecionar de forma global uma música como o jazz através apenas
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da audição de discos é impossível. A música gravada, sendo um documento histórico, é sempre um testemunho fragmentado, um espaço mediado de comunicação, lacunar e imperfeito; em qualquer música gravada há sempre informação deteriorada: atos, vontades, desejos, intenções, soluções, pesquisas, experiências, fracassos, erros, acasos perdidos, insuscetíveis de serem integralmente reconstituídos. Num tema de jazz gravado sobra sempre um espaço intransponível, uma informação fracionada, inscrita na narrativa de diversas histórias que, associadas à gravação, se perderam para sempre. Por isso se diz que é fácil reescrevê-las; a distância dos factos facilita essa tarefa, porque pressupõe a aleatoriedade dos discursos, das interpretações subjetivas e das formas pessoais de escutar.
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A evolução da palavra “jazz” é um sintoma evidente da dificuldade de se entender as suas origens, na medida em que dá a conhecer problemas, questões, conflitos, ambivalências, embates, antagonismos, contradições e irregularidades. Com o passar dos anos, e através das suas alterações, o jazz evoluiu em processos linguísticos e semânticos. Será possível desenhá-lo num mapa sonoro, em permanente transformação, refletido numa imagem sugestiva e transbordante, cuja dimensão suscita um processo infinito de investigação quase arqueológica? As modificações do termo “jazz” devem ser entendidas como avisos à navegação, camadas sobrepostas vindas de diversas épocas, que interagem num todo inapreensível. A sua instabilidade reflete as inúmeras contradições do século XX, um espaço existencial problemático, com inúmeras partes obscuras, de difícil compreensão. São estes buracos negros sem solução de continuidade que ainda hoje continuam a reproduzir narrativas divergentes e ressonantes no drama coletivo da criação artística. Nos primeiros tempos do jazz, o improvisador estava inserido numa forte dinâmica de grupo e essa energia coletiva absorvia o seu talento. O músico contribuía para uma sonoridade superior, o som do conjunto, prescindindo da sua individualidade criativa, enquanto voz pessoal e ativa na música improvisada. Ultrapassada esta fase inicial, o improvisador
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transformou-se gradualmente em solista, numa entidade criativa que assume como devir da sua sensibilidade, num ato “estético de empatia” em relação ao passado; esta relação representa o elemento fundador de um estilo. Assim, ele descobriu e expôs um fraseado que lhe era próprio, percecionado como marca individual, que dantes não existia. A identidade do improvisador é pois, um elemento tardio que caracteriza a mudança, sugerida e verificável nos estilos mais recentes. A partir de certa altura, os músicos necessitavam de adquirir um espaço individual de exploração, desenvolvendo a sua criatividade e talento e olhando os mais antigos como modelo ideal. Neste contexto, cada sonoridade pessoal descoberta é uma assinatura musical inconfundível. Joseph Brodsky escreveu que “a arte não é uma existência melhor, mas uma existência alternativa”; que “não é uma tentativa de escapar da realidade, mas o oposto, uma tentativa de animá-la”. Os músicos de jazz representam claramente esta ideia, pois sempre foram adversários e competidores excecionais e sempre competiram entre si pela sua singularidade, por vezes afastados dos mecanismos devoradores de mercado que tudo fizeram para tutelar a sua atividade. Simultaneamente tiveram de enfrentar a feroz concorrência de outras músicas, dos seus artistas e expressões e também do poder empresarial, mas apesar de tudo souberam sobreviver num reduzido espaço de intervenção, rodeados de con-
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corrência e de agentes que tentavam fazer prevalecer as suas prerrogativas.
Quando tudo no jazz parecia estabilizado e até esgotado nas suas formas locais, a globalização colocou tudo em movimento. As pessoas são hoje obrigadas a acompanhar o fenómeno da mobilidade; quem ficar imóvel definhará, face a uma corrente imparável de mudança, impossível de travar nos seus efeitos. Atualmente, as pessoas não conseguem encontrar um pequeno ponto de apoio no presente, devido às experiências declaradamente monótonas, volúveis, disformes, fragmentadas em pequenos e rápidos episódios do dia a dia, tendo perdido a coragem para se apoiarem no futuro. Elas dificilmente irão considerar o futuro impenetrável e caprichoso, um cofre sólido e suficientemente durável para preservar os salvo-condutos de estatuto; o estado de precariedade torna todo o futuro incerto, proibindo assim qualquer previsão racional e desautorizando o mínimo de esperança no futuro, necessário para que o indivíduo se possa rebelar. O relativismo da verdade também chegou ao universo da música, através do desdobramento e especialização de outros géneros musicais, com fórmulas musicais mais recentes, mais moldadas e adaptadas às características do mundo virtual, ao direto e à grande mobilidade das pessoas. As imagens e os sons propagam-se e fundem-se facilmente em
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sucessivas, montagens, em ordenações instantâneas, em sequências mecânicas e disposições atraentes, nunca constituindo um todo sonoro seguro e consolidado. O mundo da arte atual, volúvel e incerto, está sujeito a permanentes mudanças e mutações e isso serve e alimenta o sistema em vigor. Hannah Arendt afirma que o objeto cultural depende da duração da sua permanência, isto é, da sua durabilidade enquanto objeto capaz de atrair a atenção. Hoje, tudo se confunde: os objetos culturais e não culturais, produzidos intensivamente, são tratados de forma igual, segundo lógicas utilitárias e funcionais de curta duração. Há em tudo o que se produz uma estranha marca de urgência, como se houvesse sérias e múltiplas necessidades para satisfazer. O aparecimento do “Napster”, um programa inovador de utilização acessível, flexível e fácil de manusear, viria a abalar o tradicional modelo de gestão comercial desenvolvido pelas grandes marcas. Este programa veio a revelar-se uma brilhante descoberta, no que de imprevisto e de original apresentava; um dispositivo informático que tanto extraía como armazenava música, de modo simples e efetivo, colocando-a a circular em seguida numa imensa rede de utilizadores; tudo acontecia de maneira gratuita, através do uso de ficheiros digitais que reproduziam álbuns com uma qualidade sonora aceitável. Esta solução engenhosa, inventada em 1999 por Shawn Fanning e Sean
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Parker, dois jovens sem formação universitária, alterou o paradigma da invenção, assim como revelou a dificuldade da aplicação dos direitos de autor em ambiente internet. Quando se fala de um acontecimento como o “Napster”, é necessário distingui-lo das pequenas ocorrências que o compõem. Na verdade, um acontecimento só se define retrospetivamente, através das suas consequências. Não havendo antecedentes que ajudem a entender a grandeza e as implicações do fenómeno, torna-se impossível prever o futuro. Com o “Napster” sucedeu isto mesmo: pressente-se a existência de fidelidade a uma ideia de alguém que, trabalhando isoladamente, rompe com o curso normal das ocorrências. A realidade da época apontava para um mercado bem mais rígido e previsível que, seguindo a sua inércia, se encontrava mergulhado numa rotina entediante e lucrativa, própria de quem está apenas focado nos rituais do negócio. A fragilidade e a pouca versatilidade do mercado da música ficaram, de um dia para o outro, expostas por um programa que, escapando aos protocolos de funcionamento e às centralidades burocráticas, tinha posto a descoberto novas e diferentes questões legais. A vulgarização da internet e a ampliação do seu espaço de intervenção colocarão no futuro sérios problemas sobre o controlo da circulação da música e respetivos direitos de autor; através do “Napster” percebeu-se o potencial do universo cibernético.
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O efeito “Napster” tornou-se um exemplo de igualitarismo e cooperação que abalaram o sistema; ultrapassado o seu impacto, e apesar das pessoas terem voltado à sua normalidade quotidiana, depois de passada a fase mais exaltante da energia extática, muita coisa tinha acontecido de imprevisto, deixando marcas para serem retomadas. A cada crise estrutural, segue-se uma ressaca, mas nada ficará como antes. Em cada atentado contra a ordem estabelecida, defendido pelas empresas discográficas, há um “ato” de contrapoder, traduzido no facto de alguém anonimamente fazer, de forma simples e direta, a tarefa que a todos competia, não fossem as dificuldades artificiais impostas pelos mecanismos do sistema. A pulsão burocrática cria dificuldades e inventa obstáculos constantemente renovados que impedem o acesso dos que desejam trabalhar de forma desinteressada; quem desenvolve uma postura independente e autónoma, algo distanciada da lógica de mercado, sujeita-se a um choque traumático com a burocracia. Este embate é seguido por um gozo evanescente, baseado na negação só cumprida parcialmente porque depois de se ter esgotado o seu efeito libertador, tudo volta ao normal: enfrentar o sistema pressupõe aceitar o regresso à normalidade quotidiana. Segundo Michel Foucault, a pessoa transforma-se numa verdadeira obra de arte através da sua reinvenção, criando novos estilos de vida. Neste sentido, o confronto
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entre utilizadores e criadores legalmente enquadrados, e outros, marginais ao sistema, é um problema, bem mais vasto do que parece. Será que a cultura pode sobreviver à degradação, declínio e perda da eternidade? Thomas Metzinger apresenta uma ideia interessante de transparência que se define de maneira inversa às geralmente apresentadas pelos meios de comunicação sociais; para ele, num “qualquer estado fenomenal, o grau de transparência é inversamente proporcional ao grau introspetivo da disponibilidade de atenção dos estágios de processamento anteriores”. As pessoas reclamam transparência e o que é verdadeiro passa a ser invisível; esta visão faz que a transparência se assuma como uma “forma especial de escuridão”, onde as pessoas não são capazes de ver determinada coisa porque ela é, precisamente, transparente. Na internet a lógica desta ilusão é levada ao limite, pois a diferença entre objeto e sujeito confunde-se constantemente, dando a perceber que ninguém existe fora do quadro de um engano fetichista. Contudo, ninguém é inteiramente opaco para si próprio, assim como não é possível um indivíduo conhecer-se na sua totalidade, no sentido de conseguir perceber o seu próprio mecanismo generativo. A música sobrevive agora numa estrutura reticular, mais horizontal que vertical, sem hierarquia definida pelo cânone, desencadeando ideias que se afastam ou se fun-
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dem, combinando-se entre si. O que daqui resulta são novas extensões do gosto e da sensibilidade, configurações da vontade que se estabelecem em toda à parte.
Hoje pode afirmar-se que a modernidade e a cultura, tal como a arte e a religião, falharam os seus objetivos primordiais, isto é, não mudaram nada, nem construíram um novo homem. As experiências históricas ensinam que a origem do mal está no facto de se criarem dependências entre pessoas e não existirem leis abstratas, impessoais e universais fortes, para acabar com o exercício arbitrário da vontade de um sobre os demais. O artista está confrontado com uma realidade que distorce, deforma e interfere com o seu trabalho; agir em consciência implica viver num regime contingente entre diferentes tipos de realidades, onde objetos e estilos de vida se transacionam e proliferam sem cessar. A incoerência e inconsistência, o descartável, o mutante e o híbrido, são predisposições estratégicas que denunciam uma impossibilidade de estar no exterior e no interior do sistema ou até nas suas franjas. As pessoas vivem dentro de um mundo estranho, onde proliferam a ordem e a imposição de discursos. As obras de arte vagueiam silenciosamente nos interstícios de um sistema que se quer livre, mas tem dificuldade em sê-lo; a arte mais interessante tem dificuldade em fazer vingar o seu poder representativo. Num esforço de superação pessoal cada
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artista monta a sua própria história, como um circuito paralelo de informação: recusar fazer parte da estrutura cultural dominante que incentiva a desistência implica estar empenhado em criar formas de beleza não canónicas. A música tem o dever ético de refletir as origens dos ódios que fizeram sofrer no passado povos e etnias. Os afro-americanos do princípio deste século, que inventaram o jazz, são um exemplo fundamental de compreensão, pois, enveredando por práticas culturais de pertença e identificação, souberam construir uma música. O jazz tornou-se uma lição, sendo a expressão de um modelo de vida específico, não composto de valores abstratos, mas de coisas concretas que incarnaram uma rede densa de práticas quotidianas banais. Não basta a educação para que o mundo se mude; é preciso algo mais radical, uma espécie de distanciamento brechtiano, assente numa experiência existencial difícil, cruel, profunda através da qual seja possível redescobrir a estupidez e a arbitrariedade dos costumes e rituais. O mais importante é reconhecer o estrangeiro que há em nós, considerando o jazz a expressão dessa dimensão. Convém reconhecer o que somos e o que cada um é, à sua maneira, um bando de lunáticos excêntricos, a necessitar urgentemente de encontrar um modo de convivência tolerante entre diferentes estilos de vida. Esta constatação
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implica superar isolamentos de grupo e descobrir um compromisso coletivo, num longo processo de solidariedade universal, isto é, através da construção de uma causa suficientemente forte que atravesse diferentes comunidades, que é precisamente o grande mérito civilizacional do jazz. “Os músicos do silêncio incarnam apenas a porta estreita que se abre para além das aparências. Na China dos anos trinta, a busca de Kazantzaki leva-o até um templo de Pequim, onde se assiste a um concerto silencioso. Os músicos tomam os seus lugares e ajustam os seus instrumentos. [O velho dono da casa esboça o gesto de bater as palmas, mas as mãos param antes de se tocarem. É o sinal de abertura deste espantoso concerto mudo. Os violinistas levantam os seus arcos e os flautistas levam os instrumentos aos lábios, à medida que os seus dedos se deslocam rapidamente pelos furos. Silêncio profundo... Não se ouve nada. Conforme se tratasse de um concerto que decorre ao longe, do lado das sombras, na outra margem da vida, de que, contudo, vemos músicos a tocar, num silêncio impávido]”. Esta descrição está contida no livro “Du Mont Sinaï à l’Île de Venus”, de N. Kazantzaki, editado em 1958: isto não é poesia, religião ou espiritismo, nem são ideias delirantes; são dimensões reais, experimentadas pelo espírito. Antes de se situarem culturalmente e conceptualmente na história de arte e da música, a
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escuta do silêncio da música foi durante muito tempo um dos elementos essenciais de toda a expressão musical religiosa. Hoje, por razões que se prendem com a morte de Deus, a secularização da vida, o ideário modernista e mais recentemente a influência do mercado com as suas lógicas utilitaristas e pragmáticas, a dimensão espiritual da música foi praticamente abandonada. O silêncio é mal visto pela sociedade de consumo, pois questiona utilidades e põe em causa o vazio das respostas que servem apenas para consolidar relacionamentos fracos e supérfluos; com o ruído, o sentimento de pertença alcançado é impessoal e difuso. Estar em silêncio é sair do sistema, enveredar por uma via discreta e intimista, optando por andar nas margens, em zonas menos rápidas onde as correntes da vida são menos intensas. A realidade formada pelo dizível transmite uma falsa transparência, onde não pode existir uma zona de segredos, isto é, um espaço de silêncio: o homem é mostrado por dentro e por fora como se fosse um boneco de vidro. Contudo, na litania da comunicação, o indizível permanece inatingível, como zona de acesso limitado. Quem cria, ao saber que a sua obra vai ser criticada com critério, exige mais de si mesmo quando resolve apresentá-la ao público. Este contacto deveria desenrolar-se em silêncio e sem prazo; contudo, se o contexto se encontra contaminado de ruído e a cultura se mostra saturada de dis-
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cursos de persuasão que pretensamente legitimam e valorizam a relação entre ato cultural e seu destinatário, essa ambição é impossível de ser concretizada.
O exílio é uma espécie de silêncio, o desconhecido. O exílio não significa apenas atravessar linhas divisórias entre países, mas também intersetar ambientes culturais diferentes, espaços que fazem crescer dentro dos exilados ou isolados novas formas de ver o mundo, dotando-os de amadurecimento e lucidez, fatores determinantes para o seu destino. Há uma vantagem estranha adquirida no sofrimento, causado pela solidão, pelo abandono, pela alienação. A exclusão, a existência desarmoniosa e desconfortável provocada por um lugar, umas vezes hostil, outras amigável, afastado das suas raízes culturais, impossibilitam o artista de se sentir em casa, apesar de estar tão próximo e distante do seu meio. O exilado, afastado da topografia memorizada das terras deixadas para trás, penetra em lógicas e significados universais. Hoje, num mundo em rápida alteração, todos são potenciais exilados, mas as almas libertadas não precisam de ação. Captar o mundo global é, de certo modo, ser espectador.
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22 Music should be perceived as a document of time, a sound palimpsest that is permanently being written, in an attempt to capture the redeeming meaning to its existence. To redeem human failure has always being the main purpose of art, which tried to understand the causes of so many excessive and cruel manifestations. Using very creative processes, radical both in formal as well as in its diverseness, artists denounced the society of their times. History seen as a whole forms a unified construction, composed of common points, connections both in time as well as in space, interpretations, narratives, testimonies, opinions, critiques, texts, essays… To fully understand a musical tradition such as jazz only through the audition of the records is impossible.
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23 Recorded music, being a historical document, is also a fragmentary testimony, a mediated space of communication, necessarily lacunar and imperfect; any recording conveys deteriorated information: gestures, volitions, desires, intentions, solutions, experiences, failures and errors, lost chances, impossible of being integrally reconstituted. In any jazz theme we always find the remains of an insurmountable space, a sort of fractioned piece of information inscribed in a narrative made of several stories which, being associated to the moment of the recording, are forever lost. That is why we say it is easy to rewrite them; our distance from the facts makes this task easier since it presupposes the randomness of discourses, of subjective interpretations and of personal ways of listening.
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The evolution of the word “jazz” is an explicit symptom of the difficulty of understanding its origins, in the sense that it raises several problems, questions, conflicts, ambivalences, clashes, antagonisms, contradictions and irregularities. As time went by, and due to its multiple changes, jazz was also developed through linguistic and semantic processes. Will ever be possible to draw a sound map, one in permanent transformation and reflected in suggestive and overflowing images, a map evoking an infinite process of almost archaeological investigation? The mutations in the term “jazz” must be perceived as navigation notices, juxtaposed layers of historical epochs interacting with each other within an unrepentant whole. Its instability reflects the many contradictions of the twentieth-century, which was a problematic existential era, formed by several obscure and hard to decode elements. These black holes with no solution of continuity, however, still continue produce divergent narratives that resound in the collective drama of artistic creation. In the beginning of jazz, the improviser was part of a strong dynamics of group, and collective energy absorbed his talent. Musicians obeyed to a superior form of sound, the collective sound, and, in a sense, abdicated of their creative individuality as a personal and active voice. When this initial phase was surpassed, the improviser gradually became a
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soloist, a creative entity assuming the forthcoming of his sensibility through gestures of “empathic aesthetic” towards the past; such relation represented the founding element of a style. The musicians discovered and explored a speech which was inherent to them, perceived as an individual trademark that did not exist until that moment. The improviser’s identity is therefore a late dimension that characterizes change, a change suggested and verifiable in more recent musical genres. From a certain point, musicians began to need individual and talent and perceived old masters as role models. In this context, each personal sound discovered represented an unmistakable musical signature. Joseph Brodsky wrote that “art is not a better existence, but an alternative existence”; it “is not an attempt to escape reality but quite the contrary, an attempt to revive reality.” Jazz musicians clearly represent this idea, since they have always been exceptional adversaries and competitors, always competing for their singularity, in some cases completely withdrawn from the predatory mechanisms of the market, and who did every they could to preserve control over their artistic activities. At the same time, they had to face the ferocious completion of emerging musical styles, of other artists and of commercial managers, but, despite all the difficulties, they found their way of surviving within a very small space of intervention, surrounded by competitions and agents who tried to impose their rules.
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When everything in jazz seemed stable and almost exhausted in its local forms, globalization set everything in motion. People nowadays are forced to oblige the paradigm of permanent mobility; the ones who chose to stand still, resisting against an unstoppable torrent of change, will perish. In present time, people are unable to find any support in reality, because their experiences are monotonous, voluble, deformed, fragmented in several insignificant micro-events of everyday life. They have lost the courage to face the future. These individuals are unlikely to consider the future impenetrable, a powerful and durable safe where we preserve our values; the current state of frailness renders future uncertain, therefore precluding any rational prediction and discouraging the sense of hope necessary to rebellion. The relativity of truth is also present in the universe of music, through the unfolding and expertise of other musical genres, supported upon more recent and better adapted to the virtual world musical formulas. Images and sound are massively disseminated and easily reconfigured through very different processes of montage, in instantaneous and mechanical sequences. The art world is now more voluble and uncertain, permanently in motion and in transformation, and this situation benefits the current art system. Hanna Arendt said that the cultural object is dependant of its
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durability, which means that it depends on its capacity to seduce the spectator’s attention. Nowadays, everything is mixed up: cultural and non-cultural objects are function at the same level, according to utilitarian and functional logics. In everything we do there is a sense of urgency, as if the world is being exhausted by multiple and voracious needs.
The invention of Napster, an innovative and accessible internet program, would cause a major change in the traditional management model practiced by the recording industry. This program was a brilliant discovery (a software that was also a platform of sharing and archiving music in a simple and effective way) and created an immense community of users that was like a musical commune where everyone shared digital files containing music of an acceptable sound quality. This ingenious device, invented in 1999 by Shaw Fanning and Sean Parker, two kids who did not even go to college, changed the internet’s paradigm forever and at the same time revealed the difficulty of protecting authorship rights in the new digital regime. When we think about a phenomenon such as Napster we must to isolate it from the micro-events that caused it. In fact, any event is only defined retrospectively, through the analysis of its consequences. When there are no antecedents capable of explaining the magnitude and the implications of the phenomenon, it becomes impossible to predict the future.
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This is precisely what happened with Napster: in this story, we sense the feeling of faithfulness to the idea of someone who, working autonomously, has altered the normal course of events. At the time when the program was invented, all signs pointed towards a more rigid and predictable musical system which, due to its own inertia, was drowned in a lucrative yet monotonous routine, focused on the rituals of business only. The frailty and lack of versatility of the music industry were abruptly exposed by a software that, counter-circuiting official protocols and bureaucratic sensibilities, discovered new and very different legal issues. The democratization of the use of Internet and the expansion of the digital territory will, in the future, pose serious problems regarding the control of the circulation of music. Napster allowed us to begin understand the potential of the cybernetic universe.
The “Napster effect” became an example of egalitarianism and cooperation that disturbed the system; once its impact was neutralized, when people returned to the normality of daily life after an exhilarating phase of ecstatic energy, suddenly something had happened, having left their marks in reality. Each structural crisis is followed by a hangover, but nothing ever remains the same. In each attack against the establishment defended by the musical industry, there is also an “act” of counter-power, translated in the fact that somebody did, anonymously and discreetly, what everyone would do
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if the artificial difficulties imposed by the system’s mechanisms did not exist. The drive for bureaucracy creates obstacles which preclude those who desire to work uninterestedly the access to the system; whoever acts independently and autonomously is apt to suffer a traumatic clash with bureaucracy. Such a clash is followed by an evanescent pleasure, based only on a partially accomplished refusal because, from the moment that its liberation effect is exhausted, everything goes back to normal: to confront the system means also to accept returning to normality.
According to Michel Foucault, the individual becomes a true work of art by reinventing himself, creating new lifestyles in the process. In that sense, the clash between legal users and creators and the ones who are marginal to the system is a more serious problem that it seems. Will culture be capable of surviving decadence, fall and the loss of eternity? Thomas Metzinger proposes a interesting idea of transparency, defined in opposition to the concept that is normally explored by social mass media; to him, in “any phenomenal state, the degree of transparency is inversely proportional to the introspective degree of attention to the preceding stages of processing”. People claim for transparency and what is true becomes invisible; such vision transforms transparency into a “specific form of darkness”, where people are not capable of seeing because everything is transparent.
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On the internet, the logics of such an illusion are stretched to its limits, because the difference between object and subject is blurred, forcing us to the conclusion that nobody exist outside the frame of a fetichist mistake. However, nobody is fully opaque to itself, just as it is impossible for any individual to know himself integrally, in the sense that he is not capable of understanding his own generative mechanism. Music now survives within a reticular structure, more horizontal than vertical, and devoid of a hierarchy defined by canons, generating ideas that either separate or merge with one another, generating new extensions of taste and sensibility. New configurations of the will are established everywhere, anytime. Nowadays it is possible to affirm that modernity and culture, like art and religion, failed their main purposes: they neither change anything nor did they built a new man. Historical experience taught us that the origin of evil are the dependencies between individuals, and that our abstract, impersonal or universal laws are not strong enough to put an end to the arbitrary imposition of the will of one man upon everyone else. Artists are confronted with a reality that distorts, deforms and interferes with their work; to act consciously means to live inside a contingent regime between different dimensions of reality, where objects and lifestyles are incessantly transacted
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and disseminated. Coherency and incoherency, the disposable, the mutant and the hybrid, are strategic predispositions that denounce the impossibility of being both on the inside and the outside of the system, or even on its margins.
People live in a strange world where order and imposed discourses prevail. Art wanders silently through the interstices of a system that was supposed to be free but shows great difficulties being what it was supposed to be. Each artist invents his own history as a parallel circuit of information; to refuse being a part of a dominant cultural structure that encourages withdrawal requires being committed to new forms of non-canonical beauty. Music has the ethical obligation of reflecting upon the hatred that caused suffering to several people of different ethnicities. The Afro-Americans of the beginning of the twentieth century, who invented jazz, are a fundamental example of this posture, since they were able to invent a new musical genre out of their own practices and their own ancestral identity. Jazz became a lesson, being the expression of a specific role model composed not by abstract values, but by concrete elements incarnated in a thick web of daily routines. Education is not enough to change the world; this requires something more radical, a sort of brechtian distancing, based on a difficult, cruel and profound existence in which we may rediscover the stupidity and the randomness of our
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habits and rituals. The most important thing to do is to recognize the stranger in us, considering jazz as the expression of that exact dimension. We must recognize who we are, a group of eccentric lunatics in urgent need to find a way of coexisting peacefully. However, this knowledge forces us to overcome the isolation of the tribe and to find a new collective commitment based on universal solidarity; or, in other words, the building up of a strong enough cause to be shared by different communities, which is precisely the great civilizational merit of jazz. “The musicians of silence embody only the narrow door which opens to a place beyond appearances. In China, in the 1930’s, Kazantzaki’s search leads him to a temple in Beijing, where he attends a silent concert. Musicians take their places and tune their instruments. [The old house’s owner attempts a gesture of hand-clapping, but his hands stop before getting in contact with each other. This is the overture of the astonishing mute concert. The violinists raise their arches and the flutists touch their instruments with their lips, while their fingers flow rapidly through its holes. Deep silence… One cannot hear a thing. As if this was a concert happening somewhere very far away, on the other side of shadows, on the other margin of life, but yet we see musicians playing, in undaunted silence].” This excerpt belongs to the book “Du Mont Sinai à l’ Île de Venus”, by N. Ka-
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zantzaki, published in 1958; this is neither poetry, religion or spirituality, nor delirious ideas; these are real dimensions experienced by the soul. Before being culturally and conceptually appropriated by the history of art and music, the listening of the silence of music was for a long time one of the crucial elements of any religious music. Nowadays, due to many factors related to the death of God, to secularization, to modernism and, more recently, to the influence of economy and its utilitarian and pragmatic logics, the spiritual dimension of music was practically forgotten. Silence is rejected by consumerist societies because it confronts the notion of utility and questions the value of answers which favour weak and superfluous relations; within noise, the sense of belonging becomes impersonal and diffuse. To be silent means abandoning the system and choosing a discrete and intimate existential path on the margins, on slower zones where the torrents of life are less intense. The reality formed by what is possible to say conveys a false transparency where a zone of secrecy, of silence, is impossible to attain: man is exhibited both from his inside and his outside as if he were made of glass. However, in the litanies of communication, the unsayable remains unreachable, a zone of limited access. Whoever creates something, knowing that his work will be judged in public, pushes himself to the limits when he de-
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cides to present his work. Such a contact should occur in silence; however, if the context is contaminated by noise and if the cultural act presents itself saturated with persuasive discourses pretending to legitimize or to highlight the connection between the cultural gesture and its observer, such ambition becomes impossible to achieve.
Exile is a form of silence, the unknown. Exile means not only to traverse the frontiers between countries, but also to intersect different cultural environments, places which provide the ones in exile new ways of seeing the world with lucidity. There is a strange advantage in suffering from solitude, from abandonment and alienation. Exclusion, an inharmonious existence, sometimes hostile, sometimes pleasant, but always distanced from the individual’s cultural roots, precludes the artist from the feeling at home. The exiled, being separated from the memorized topography of his past territories, holds access to universal meanings and logics. Nowadays, in a fast-changing world, everyone is a potential exiled, but liberated souls have no need for action. In a sense, to capture the global world means to be a spectator.
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Ivo Martins
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JAZZ
PROGRAMA
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GUIMARÃES
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07 QUINTA 21H30
08 SEXTA 21H30
09 SÁBADO 17H00 21H30
CHARLES LLOYD Kindred Spirits CCVF ---
Grande Auditório
ANTONIO SÁNCHEZ and MIGRATION CCVF ---
Grande Auditório
TRIO OLIVA/ BOISSEAU/ RAINEY – ORBIT CCVF ---
Pequeno Auditório
VIJAY IYER and CRAIG TABORN The Transitory Poems
CCVF ---
Grande Auditório
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DOMINGO 17H00 21H30
BIG BAND e ENSEMBLE de CORDAS ESMAE dirigida por
GEOF BRADFIELD CCVF ---
Grande Auditório
Miguel Moreira, Lucien Dubuis, Mário Costa, Rui Rodrigues, Valter Fernandes PORTA-JAZZ / GUIMARÃES JAZZ CIAJG ---
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SEGUNDA 21H30
12 TERÇA 21H30
Black Box
ICP ORCHESTRA CCVF ---
Grande Auditório
GUSTAVO COSTA, JULIUS GABRIEL, GONÇALO ALMEIDA SONOSCOPIA / GUIMARÃES JAZZ CCVF ---
Pequeno Auditório
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13 QUARTA 21H30
14 QUINTA 21H30
JOE LOVANO TAPESTRY TRIO com MARILYN CRISPELL e CARMEN CASTALDI CCVF ---
Grande Auditório
LINA NYBERG QUINTET E ORQUESTRA DE GUIMARÃES – TERRESTRIAL CCVF ---
Grande Auditório
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15 SEXTA 21H30
RUDY ROYSTON – FLATBED BUGGY CCVF ---
16 SÁBADO 17H00 21H30
Grande Auditório
GEOF BRADFIELD QUINTET CCVF ---
Pequeno Auditório
ANDREW RATHBUN LARGE ENSEMBLE – THE ATWOOD SUITES CCVF ---
Grande Auditório
classificação etária ---
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42 ATIVIDADES PARALELAS Animações Musicais Terça 5 › Sábado 16 novembro Vários locais da cidade
Jam Sessions Geof Bradfield Quintet Quinta 7 › Sábado 9 novembro CCVF / Café Concerto 24h00-02h00
Oficinas de Jazz Geof Bradfield, Russ Johnson, Scott Hesse, Clark Sommers, Dana Hall Segunda 11 › Sexta 15 novembro CCVF 14h30-17h30
Jam Sessions Geof Bradfield Quintet Quinta 14 › Sábado 16 novembro Convívio Associação Cultural 24h00-02h00
43 ASSINATURA DO FESTIVAL 90,00 eur (acesso a todos os concertos) Preços com desconto (c/d) Cartão Jovem, Menores de 30 anos e Estudantes Cartão Municipal de Idoso, Reformados e Maiores de 65 anos Cartão Municipal das Pessoas com Deficiência; Deficientes e Acompanhante Sócios do Convívio Associação Cultural Cartão Quadrilátero Cultural_desconto 50%
VENDA DE BILHETES www.guimaraesjazz.pt www.ccvf.pt oficina.bol.pt Centro Cultural Vila Flor Centro Internacional das Artes José de Guimarães Casa da Memória Loja Oficina Lojas Fnac, El Corte Inglés, Worten Entidades aderentes da Bilheteira Online
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46 Em 2019, e já na sua 28ª edição, o Guimarães Jazz cumpre mais uma etapa de um percurso de quase três décadas de divulgação do jazz de todas as épocas e de todos os estilos, sem outro critério senão a integridade e a qualidade da música e dos músicos que nele se apresentam. Se é verdade que o tempo confere ao festival uma dimensão de projeto, implicando necessariamente que ele se construa numa história individual e coletiva, é igualmente importante realçar que o Guimarães Jazz, tal como o género musical a que ele é dedicado, privilegia o momento presente, como se não existisse nem memória nem pré-condicionamento. Nesse sentido, todos os anos o festival é imaginado num quadro que é, atualmente, marcado pela extrema instabilidade das
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47 múltiplas circunstâncias externas que o determinam, sendo por isso sustentado em escolhas que, tal como na criação e na improvisação musical, constituem o resultado de um pensamento materializado numa prática à qual se tem de dar resposta em tempo real. Perante ocaso da segunda década do século XXI, caraterizada por significativas transformações ocorridas no parque humano global que tornam incerto o futuro da arte e da sociedade, o programa do Guimarães Jazz propõe, portanto, uma visão baseada não em passadismos inconsequentes, nem em futurismos estéreis e já ultrapassados, mas numa estrita pulsação do presente, convocando assim o público para uma experiência que se pretende menos especulativa, logo mais distanciada e contida, da música contemporânea.
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O programa desta edição denota, tal como habitualmente, um grande equilíbrio nas escolhas, numa tentativa de alcançar o máximo de amplitude possível na representação das diferentes gerações e estilos que marcam o jazz do presente. É, no entanto, impossível não começar por destacar aquele que será o protagonista do concerto inaugural – o superlativo saxofonista Charles Lloyd, um dos grandes músicos vivos do século XX, em pleno fulgor criativo, que regressará ao Guimarães Jazz com um quinteto de músicos notáveis, entre eles o baterista Eric Harland. Além de Lloyd, a outra figura de maior perfil desta edição será Joe Lovano, outro saxofonista incontornável do jazz contemporâneo que atuará com o seu mais recente, e surpreendente, trio, ao lado da notável pianista Marilyn Crispell (dezassete anos depois da sua primeira presença em Guimarães) e do baterista Carmen Castaldi, o qual expressa uma dimensão mais livre, pessoal e intimista da música de Lovano. A par destes dois grandes nomes da constelação mundial do jazz – essenciais à programação do festival, uma vez que representam o expoente máximo de uma das mais importantes tradições da música moderna –, o programa da 28ª edição do Guimarães Jazz apresenta essencialmente três notas distintivas. A primeira diz respeito à grande predominância de bateristas no alinhamento. Além do já mencionado Eric Harland, que
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apesar de surgir como sideman de Charles Lloyd, é hoje incontestavelmente um dos mais notáveis bateristas do presente, esta edição contará também com a presença do histórico baterista holandês Han Bennink, que se apresentará com aquela que é hoje uma instituição do jazz europeu – a ICP Orchestra –, e de dois dos representantes de uma geração de instrumentistas num momento de plena afirmação do jazz norte-americano: os também compositores Rudy Royston e Antonio Sánchez, notabilizado recentemente pela banda-sonora do filme Birdman. O segundo traço distintivo desta edição diz respeito à prevalência de músicos nascidos na década de 70 do século XX, sinal claro de um movimento de afirmação desta geração no tempo histórico presente do jazz. Rudy Royston e Antonio Sánchez são dois desses exemplos mas, em 2019, no Guimarães Jazz atuarão também os pianistas Vijay Iyer e Craig Taborn, talvez dois dos mais talentosos e reconhecidos músicos da atualidade, o compositor Andrew Rathbun, representante de uma vertente mais orquestral do jazz que apresentará as suas Atwood Suites, inspiradas na poesia da prestigiada escritora Margaret Atwood (cuja obra tem recentemente conhecido grande visibilidade graças, em grande medida, à série televisiva The Handmaid’s Tale), e, finalmente, o saxofonista de Chicago Geof Bradfield, que, com a sua banda, dirigirá os jovens músicos da Big Band e do En-
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semble de Cordas ESMAE, naquele que é um dos projetos-âncora da vertente formativa do festival, e conduzirá as jam sessions e as oficinas de jazz.
Em terceiro lugar, é importante realçar que o Guimarães Jazz continua a alargar os seus horizontes para músicas exteriores ao jazz, bem como para latitudes geográficas distantes do solo nativo norte-americano. No primeiro caso, além da presença da histórica ICP Orchestra, representante da vanguarda do jazz holandês das décadas de 60 e 70 do século passado, cumpre também chamar a atenção para a vocalista e compositora sueca Lina Nyberg, que interpretará, acompanhada pela Orquestra de Guimarães, o último capítulo de uma trilogia musical que é também um comovente manifesto, extraordinariamente criativo e politicamente pertinente, em defesa da natureza. No âmbito dos restantes concertos, destaque também para a atuação do trio do pianista francês Stéphan Oliva, que contará com a participação do grande baterista, mais um, norte-americano Tom Rainey. Finalmente, em 2019, o Guimarães Jazz inicia também uma nova parceria, desta vez com o coletivo de músicos e construtores musicais Sonoscopia, que propõe um projeto, a banda luso-germânica Ikizukuri, que usa o jazz não como linguagem, mas como atitude artística. A significativa presença de músicos portugueses, tanto profissionais como em for-
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mação, materializada também nas parcerias já estabelecidas e consolidadas com a Porta-Jazz, a ESMAE e a Orquestra de Guimarães, é, de resto, a última mas não a menos importante das notas a destacar desta edição do festival, mais uma etapa exploratória de um trajeto singular de divulgação do jazz em todas as suas dimensões.
Ivo Martins
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54 In 2019, on its 28th edition, Guimarães Jazz completes almost thirty years promoting jazz music of every ages and styles, following no other criteria than the integrity and the quality of the music and the musicians presented. If it is true to say that time gives the festival a dimension of project, thereby implying its construction within an individual and collective history, it is also important to note that Guimarães Jazz privileges, just like the musical genre to which it is devoted, the present moment, as if there was no memory nor any kind of pre-conditioning. In that sense, every year we imagine the festival according to a framework which is nowadays marked by the extreme instability of its main external conditions, being therefore su-
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55 pported upon choices that, just as it happens in musical creation and improvisation, are the result of a thought materialized in a practice to which we have to provide real-time answers. In face of the end of the twenty-first century’s second decade, characterized by profound transformations within the global human park which render the future of art and society uncertain, this edition of Guimarães Jazz proposes an artistic vision based not on inconsequent nostalgia nor on sterile and already outdated exercises of futurology, but on the strict pulsation of the present time, thereby inviting the public to share a less speculative, therefore more distanced and restrained, experience of contemporary jazz.
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This edition’s programme shows, as always, great balance in its choices, corresponding to an attempt to grasp the maximum amplitude possible concerning the representation of the different generations and styles present in jazz today. It is, however, impossible not to begin to highlight the main protagonist of the opening concert – superlative saxophonist Charles Lloyd, one of the greatest living legends of the twentieth-century music, who will return to Guimarães Jazz with his quintet, featuring four remarkable instrumentalists, including drummer Eric Harland. Besides Lloyd, the other high-profile musician of this edition is Joe Lovano, another essential saxophonist of contemporary jazz who will perform with his most recent, and surprising, trio alongside with pianist Marilyn Crispell (seventeen years after her first presence at Guimarães) and drummer Carmen Castaldi, a project in which Lovano explores a more free, personal and intimate dimension of the saxophonist’s music. Besides these two great names of jazz’s global constellation – who are crucial to the festival, since they represent the peak of one of modern music’s most important traditions –, the programme of the 28th edition of the festival reveals three distinctive notes. The first is the predominance of drummers. Besides the already mentioned Eric Harland, who, despite his presence as sideman in Charles Lloyd’s band, is un-
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disputedly one of today’s most remarkable drummers, this edition will present the historical Dutch drummer Han Bennink with the ICP Orchestra, a true institution of European’s free jazz, and also two of the most distinguished representatives of the current North-American jazz scene: the instrumentalists and composers Rudy Royston and Antonio Sánchez, who was recently praised for his soundtrack to the Oscar-winning movie Birdman. The second feature is the prevalence of musicians who were born during the decade of 1970, a signal of this generation’s affirmation in the historical present time of jazz. The aforementioned Rudy Royston and Antonio Sánchez are two examples, but in 2019 the festival will also present pianists Vijay Iyer and Craig Taborn, perhaps two of the more talented and highlighted jazz musicians of today, and the composer Andrew Rathbun, representative of a more orchestral dimension of jazz and who will interpret his Atwood Suites, inspired of the poetry of Canadian writer Margaret Atwood (who wrote the work The Handmaid’s Tale, that was recently adapted to a television series) and, finally, Chicago based saxophonist Geof Bradfield, who will also direct ESMAE’s big band and string ensemble and conduct the jam sessions and the workshops. Thirdly, but not less important, it is worth to note that Guimarães Jazz is interested in widening its horizons to musical expres-
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sions beyond jazz, as well as to geographic latitudes beyond the United States of America. Besides the presence of Dutch ICP Orchestra, historical representative of the decades of 1960 and 1970, the festival will also present Swedish vocalist and composer Lina Nyberg, who will interpret, accompanied by the Guimarães Orchestra, the last chapter of a musical trilogy that is also a moving, extraordinarily creative and politically pertinent manifesto in defence of the planet’s nature. One last note to mention the presence of the French pianist Stéphan Oliva with a trio including the great North-American drummer Tom Rainey. Finally, in 2019, Guimarães Jazz will begin a new partnership with the collective of musicians and sound constructors Sonoscopia, proposing a project using jazz not as language but as an artistic attitude. The extensive presence of Portuguese musicians, both professionals and in training, materialized in the already established partnerships with Porta-Jazz, ESMAE and the Guimarães Orchestra, is the last of the distinctive features of the festival’s 28th edition, one more exploratory stage of a peculiar path dedicated to the promotion the experience and knowledge of jazz music in its multiple dimensions.
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07 QUINTA 21H30 Charles Lloyd saxofone, flauta Gerald Clayton piano Marvin Sewell guitarra Harish Raghavan contrabaixo Eric Harland bateria _ 15,00 eur / 12,50 eur c/d
CHARLES LLOYD Kindred Spirits Grande Auditório
CCVF ---
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A edição de 2019 do Guimarães Jazz inaugurar-se-á com a atuação daquele que é um dos grandes músicos de jazz vivos – o saxofonista Charles Lloyd. Na música de Charles Lloyd cabe um mundo feito de memórias musicais que expressam a identidade de um povo e um país, cuja dimensão de universalidade poucos artistas acedem. Um saxofonista superlativo e um compositor sofisticado, Lloyd atravessou, foi e continua a ser um protagonista destacado na edificação do vasto e riquíssimo património musical da segunda metade da música popular do século XX, tendo tocado com praticamente todos os grandes nomes do jazz, do blues e do rock, desde B.B. King e Howlin’ Wolf até Cannonball Adderley, Don Cherry, Tony Williams e Keith Jarrett, passando pelos Beach Boys e pelos Doors. A partir de muito cedo focada sobretudo na sua dimensão autoral, a carreira do saxofonista conheceu momentos prolongados de voluntária obscuridade e, necessariamente, de ressurgimento criativo que comprovam a dedicação incondicional de Lloyd à sua arte e a profunda atenção aos sinais e fenómenos de transformação dos tempos. Após uns efervescentes anos 60, uma década de frenética atividade colaborativa e em que Lloyd toca ao lado dos então jovens e promissores Keith Jarrett, Cecil McBee e Jack DeJohnette, o saxofonista decide inesperadamente desaparecer de cena e só passados quinze anos, após uma experiência traumática de proximidade com a morte, decide voltar a dedicar-se à música. Desde então, Lloyd tem gravado com regularidade na prestigiada editora de jazz ECM com diferentes formações, colaborando com grandes músicos como Billy Higgins, Brad Mehldau, Geri Allen e Jason Moran, entre outros. Neste concerto, Charles Lloyd, que regressa ao Guimarães Jazz depois de uma atuação memorável em 2010, apresentar-se-á em quinteto, uma formação que nele não é muito habitual. Kindred Spirits
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é o nome deste projeto com uma banda de excelência, que reunirá o pianista Gerald Clayton, o baterista Eric Harland, o guitarrista de jazz/blues de Chicago Marvin Sewell e o contrabaixista Harish Raghavan. Através dele, o público do festival terá de novo oportunidade de assistir à atuação ao vivo de um expedicionário músico com mais de oitenta anos de vida mas que, no entanto, se reinventa a cada momento, e cuja música parece obedecer sempre a uma força invisível, carregando nela uma emoção que existe no legado de um mundo que é já uma ruína gloriosa do futuro.
sensibility to the signs and transformation phenomena of the times. After an effervescent sixties, a decade of frantic collaborative activity during which Lloyd founded, with the by then young and promising musicians Keith Jarrett, Cecil McBee and Jack DeJohnette, the saxophonist decides to disappear from scene and it is only after fifteen years that, after a traumatizing near-death-experience, that he decides to dedicate himself to music again. Since then, Lloyd has recorded with significant regularity on ECM with different formations, alongside with great musicians such as Billy Higgins, Brad Mehldau, Geri Allen, Jason Moran, among many others. At the festival’s opening concert, Charles Lloyd, who returns to Guimarães Jazz after a memorable performance in 2010, will play with his quintet. Kindred Spirits is the name of this project, an all-star band featuring pianist Gerald Clayton, The opening concert of 2019’s edition drummer Eric Harland, Chicago-based of Guimarães Jazz will open with one of blues and jazz guitarist Marvin Sewell the greatest living jazz musicians – the and bassist Harish Raghavan. The pulegendary saxophonist Charles Lloyd. blic of the festival will again have the Charles Lloyd’s music encompasses a opportunity to witness the performance world of musical memories which exof a musical expeditionary of more than press the identity of a country and its eighty years old who continues to reinpeople. Few musicians achieve such uni- vent himself and whose music seems to versal dimension. A superlative saxopho- always obey to an invisible force, connist and a sophisticated composer, Lloyd veying an emotion existing only in the traversed and was a main protagonist legacy of a world which is already a gloof the vast and rich musical patrimony rious ruin of the future. of the second half of the popular music of the twentieth-century, having played with almost every jazz, blues and rock luminaries, from B. B. King and Howlin’ Wolf to Cannonball Adderley, Don Cherry, Tony Williams and Keith Jarrett, as well as the Beach Boys and The Doors. the saxophonist’s career, from the very beginning highly focused on its authorial dimension, was marked by prolonged moments of voluntary obscurity and, necessarily, by creative reincarnations which prove Lloyd’s unconditional dedication to his art and his profound
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08 SEXTA 21H30
ANTONIO SÁNCHEZ and MIGRATION CCVF ---
Grande Auditório
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Antonio Sánchez bateria Chase Baird saxofone, EWI John Escreet piano, fender rhodes Orlando Le Fleming contrabaixo Thana Alexa voz, eletrónica
15,00 eur / 12,50 eur c/d
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Com uma carreira de praticamente três décadas no circuito jazzístico de mais alto nível, Antonio Sánchez (n. 1971, México) é simultaneamente um baterista de grande domínio técnico e um compositor com uma visão artística de largo espetro cuja música integra elementos oriundos não apenas de linguagens conceptualmente distantes do jazz (como por exemplo a eletrónica abstrata), mas também de expressões não-sonoras como o cinema e a poesia. A par de uma carreira notável como instrumentista e colaborador de nomes maiores do jazz, tais como Gary Burton e Michael Brecker e, em particular, Pat Metheny, com quem gravou e tocou ao vivo em várias bandas e projetos distintos, Sánchez desenvolve, desde há dez anos, um trabalho musical eclético e multifacetado de grande pulsação rítmica. Sediado em Nova Iorque desde 1999, o baterista mexicano editou em 2007 o seu primeiro trabalho enquanto líder – o álbum Migration, que conta com as colaborações de Pat Metheny, Chris Potter e Chick Corea – e desde então tem desenvolvido um percurso de significativa consistência e ambição que conheceu no ano de 2014 um grande momento de exposição e reconhecimento com a banda-sonora que compôs para o filme Birdman. Nos anos mais recentes, Sánchez trabalhou em inúmeros projetos distintos, tais como o projeto de trio Three Times Three, o seu recente álbum a solo de cariz mais experimental Bad Hombre, e a colaboração com o compositor e arranjador Vince Mendoza e a big band alemã WDR. No Guimarães Jazz, Antonio Sánchez apresentar-se-á com o projeto Migration, um quinteto fundado e liderado em 2011 pelo baterista com a intenção de explorar uma estética com aproximações tanto ao rock como à música eletrónica e à spoken word. O primeiro álbum desta formação, o aclamado The Meridian Suite, é uma peça única com cinco movimentos na qual sobressai um padrão de circulari-
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dade de temas e motivos recorrentes com a intenção de criar uma narrativa, o que coloca este trabalho numa esfera musical tangente à arte conceptual. Lines in the Sand, o mais recente trabalho de Sánchez com a banda Migration e que estará previsivelmente no centro da sua atuação no Guimarães Jazz, constitui, nas palavras do próprio Sánchez, uma homenagem à história da emigração nos Estados Unidos da América e uma celebração da diversidade étnica que tornou a construção do notável património musical deste país, revelando um compositor atento ao mundo e consciente da importância da preservação da memória histórica perante a deriva protecionista e nacionalista que marca decisivamente o ambiente ideológico e cultural da contemporaneidade.
featuring participations of Pat Metheny, Chris Potter and Chick Corea – and since then has engaged in a consistent and ambitious creative path that was decisively marked by the soundtrack he composed for the film Birdman. In most recent years, Sánchez has worked in several distinct projects such as the trio Three Times Three, on his solo album Bad Hombre and the collaboration with composer and arranger Vince Mendoza and the German jazz orchestra WDR. In Guimarães Jazz, Antonio Sánchez will play with his project Migration, a quintet founded in 2011 with the intention of exploring an aesthetical language with approximations to rock, electronic music and spoken word. The first album of the band, the critically well-praised The Meridian Suite is a single piece composed of five different movements in which a pattern of circularity surfaces in the shape of recurring themes and motifs intended to create a narrative. Lines in the Sand, Sánchez’s most recent work with the band Migration and which will be the centre of their performance at With a career of almost thirty years on Guimarães Jazz is, according to Sánchez the highest level of jazz, Antonio Sanhimself, an homage to the United States chez (b. 19721, Mexico) is at the same of America’s history of emigration and a time a technically remarkable drummer celebration of the ethnic diversity whiand a composer with a wide-spectrum ch made possible the edification of this artistic vision, whose music integrates country’s remarkable musical patrimony. elements of not only musical idioms con- At the same time, it gives proof of a comceptually distant from jazz (such as, for poser who is aware of his surrounding example, abstract electronics), but also reality and of the importance of preof non-musical forms such as cinema serving historical memory against the and poetry. Besides a significant work as protectionist and nationalist drift that instrumentalist and collaborator of some dominate the ideological and cultural of the great names of contemporary jazz, environment of contemporary world. such as Gary Burton, Michael Brecker and, specially, Pat Metheny, with whom he recorded and played live in several of the guitarist bands and projects, Sánchez also composes eclectic and multifaceted music of an intense rhythmic pulsation. Based in New York since 1999, the Mexican drummer released, in 2007, his first work as leader, – the album Migration,
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09 SÁBADO 17H00
TRIO OLIVA/ BOISSEAU/ RAINEY – ORBIT CCVF ---
Pequeno Auditório
21H30
© DAMIEN LORRAI
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Stéphan Oliva piano Sébastien Boisseau contrabaixo Tom Rainey bateria
7,50 eur / 5,00 eur c/d
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Longe do fulgor criativo da cena jazz da década de 1990 e da efervescência underground dos primeiros anos do pós-milénio, dinamizada por músicos e editoras associadas ao experimentalismo e às tendências de vanguarda, a França encontra-se hoje numa posição de destaque no contexto da música europeia. Apesar de tudo, subsistem alguns músicos e projetos interessantes, sendo esse o caso deste trio clássico de piano, contrabaixo e bateria, liderado pelo pianista e compositor Stéphan Oliva, ele próprio uma das figuras de relevo da nova vaga que há trinta anos injetou uma dinâmica de vitalidade criativa no jazz francês, e que integra Tom Rainey, um importante baterista norte-americano.
Pianista de grande sensibilidade melódica, Stéphan Oliva (n. 1959, França) começou a notabilizar-se no meio musical em 1991, com o primeiro registo discográfico do seu trio e, em 1993, com a edição do seu primeiro trabalho a solo, o álbum Clair Obscur. A sua carreira posterior incluiu colaborações com músicos proeminentes da cena jazzística francesa, como Bruno Chevillon, e internacional, como os bateristas Paul Motian e Joey Baron e a vocalista Linda Sharrock. Além da sua atividade estritamente musical, Oliva tem-se também notabilizado na composição de bandas-sonoras para cinema, nomeadamente para filmes do realizador Jacques Maillot. Além de Stéphan Oliva, o trio que se apresentará no Guimarães Jazz é composto pelo contrabaixista Sébastien Boisseau e o grande baterista norte-americano Tom Rainey. Sébastien Boisseau é um músico importante do jazz francês com uma atividade particularmente relevante a partir do início dos anos 2000. Ao longo dos últimos vinte anos, este contrabaixista colaborou com algumas das figuras mais notáveis do jazz gaulês, nomeadamente Michel Portal, Martial Solal e Louis Sclavis. De entre o seu trabalho mais recente pode destacar-se o trio com o pianista Joachim Kühn e o baterista Christian Lillinger, e o duo WOOD, com Matthieu Donarier, no âmbito do qual Boisseau desenvolveu colaborações com músicos da área da música contemporânea, entre eles Sylvie Courvoisier e Mark Feldman. Tom Rainey (n. 1957, EUA) é um baterista de grande capacidade técnica cuja linguagem musical se situa num ponto de equilíbrio entre os estilos mais canónicos do jazz e as experimentações associadas aos movimentos de vanguarda, nomeadamente aquele que tomou conta da cena musical nova-iorquina da década de 80 do século XXI e do qual Rainey foi um dos intervenientes
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mais relevantes. Ao longo de um percurso de quase quarenta anos no jazz, este altamente criativo baterista colaborou com diversos nomes fundamentais do jazz contemporâneo, como Ralph Alessi, Tony Malaby ou Mark Helias, tendo desenvolvido uma relação criativa de particular intensidade com o influente saxofonista Tim Berne. Em 2010, Rainey fez a sua estreia enquanto líder com o álbum Pool School, editado pela editora portuguesa Clean Feed, um trabalho em trio com duas mulheres do jazz experimental do século XXI – a guitarrista Mary Halvorson e a saxofonista Ingrid Laubrock –, com quem Rainey tem colaborado intensamente nos últimos anos.
Far from showing the same creative force of the jazz scene of the 1990’s or the same audacity the underground effervescence of the first post-millenial years, led by musicians and labels associated to experimentalism and avant-garde trends, France occupies nowadays a prominent position in European music. However, there all still some interesting musicians and projects, such as this classical trio of piano, bass and drums led by pianist and composer Stéphan Oliva, himself one of the prominent figures of jazz’s new wave that, three decades ago, injected a dynamics of vitality in French jazz. A pianist of great melodic sensibility, Stéphan Oliva (b. 1959, France) began his career in 1991, when he recorded for the first time with his trio In 1993 he released his first solo album, Clair Obscur, which earned him wide critical acclamation. His posterior activity included collaborations with important names of the French jazz scene, such
as Bruno Chevillon, and international artists, namely drummers Paul Motian and Joey Baron and singer Linda Sharrock. Besides his strictly musical activity, Oliva also composes movie soundtracks, having worked extensively with filmmaker Jacques Maillot. Besides Stéphan Oliva, the trio that will perform at Guimarães Jazz is formed by bassist Sébastien Boisseau and great North-American drummer Tom Rainey. Sébastien Boisseau is, since the beginning of the third millennium, an important musician of French Jazz. Throughout the last twenty-years, he collaborated with some of the most prominent figures of French jazz, namely Michel Portal, Martial Solal and Louis Sclavis. From his most recent work we may highlight his trio with pianist Joachim Kühn and drummer Christian Lillinger, and the duo WOOD, with Matthieu Donarier, in the context of which Boisseau was able to collaborate with contemporary music creators such as Sylvie Courvoisier and Mark Feldman. Tom Rainey (b. 1957, USA) is a drummer of remarkable technical resources whose musical style is somewhere between the traditional jazz and the experimentation associated to avant-garde trends, namely those that emerged within the New York musical scene of the 1980s and of which Rainey was a relevant participant. With a career of almost forty years in jazz, this highly creative drummer collaborated with some of the fundamental figures of contemporary jazz, such as Ralph Alessi, Tony Malaby or Mark Helias, and developed a creative partnership of particular intensity with influent saxophonist Tim Berne. In 2010, Rainey presented his first album as leader, Pool School, released by Portuguese jazz label Clean Feed, a trio work featuring two distinguished women from the experimental jazz scene of the twenty-first century – guitarist Mary Halvorson and saxophonist Ingrid Laubrock.
© MONICA JANE FRISELL
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09 SÁBADO 21H30
VIJAY IYER and CRAIG TABORN The Transitory Poems
CCVF ---
Vijay Iyer piano Craig Taborn piano
15,00 eur / 12,50 eur c/d
Grande Auditório
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O pianista norte-americano de descendência indiana Vijay Iyer (n. 1971, EUA) constitui um exemplo paradigmático das exigências que se colocam a um músico no século XXI. Apesar de possuir formação em violino clássico, Iyer é essencialmente um autodidata com um currículo educativo multidisciplinar que incluiu estudos em matemática, física, cognição musical e, finalmente, em composição e improvisação. Após ter decidido enveredar definitivamente por uma carreira na música, este pianista tem vindo a desenvolver ao longo das últimas décadas um corpo de trabalho notável enquanto compositor, improvisador e colaborador de nomes fundamentais do jazz e da música contemporânea tais como Roscoe Mitchell, Steve Coleman e, mais recentemente, Wadada Leo Smith. O percurso de Vijay Iyer é também marcado por duas relações artísticas epicentrais: no território mais estrito do jazz com o saxofonista Rudresh Mahanthappa e, numa outra órbita de expressão musical, com o produtor de hip-hop e poeta Mike Ladd. Nos anos mais recentes, Iyer tem-se dividido entre o trabalho de composição para filmes, concertos e peças de dança, e a criação musical pura, da qual se destaca o álbum em trio Accelerando, de 2012, o duo com o histórico trompetista Wadada Leo Smith, e, mais recentemente, o seu trabalho enquanto líder do seu sexteto. Músico eclético e cerebral, Iyer apresenta já uma obra que, nas suas múltiplas dimensões e intenções artísticas, se pode considerar uma das mais relevantes do jazz contemporâneo. Considerado pela Downbeat um dos visionários da nova vaga do jazz, Craig Taborn (n. 1970, EUA) é certamente um dos mais respeitados pianistas da atualidade, tanto pela qualidade e integridade artística do seu trabalho como pela postura de reserva e distanciamento em relação ao sistema de estrelato que domina a indús-
tria do entretenimento. Embora tenha estudado composição musical numa fase ainda precoce, Taborn é essencialmente, tal como Iyer, um autodidata com formação universitária da área das ciências sociais e humanas que enveredou inesperadamente por uma carreira impressionante no jazz enquanto compositor e sideman de nomes fundamentais desta música, tais como os de Tim Berne, Steve Coleman, Evan Parker, Michael Formanek ou Chris Potter. A linguagem musical de Taborn, oscilando entre a composição e a improvisação, entre a melodia e a dissonância, coloca-o numa linhagem que começa em Monk e converge para uma miríade de referências onde encontramos ecos do swing canónico do jazz, da abordagem híper-expressiva de Cecil Taylor e da música eletrónica abstrata e minimal, bem como de inúmeras outras formas de expressão musical. Reconhecidos unanimemente como dois dos mais influentes músicos de jazz do presente, Vijay Iyer e Craig Taborn criam em duo uma música que, apesar de longe dos brilhos fátuos de um certo jazz-pop em voga no final da segunda década dos anos 2000, aspira a projetar novas possibilidades de expressão musical na música contemporânea e de apreensão do mundo em toda a sua multidimensionalidade. O recente e muito aclamado registo discográfico Transitory Poems documenta uma relação artística entre dois pianistas, iniciada em 2012, que, apesar das suas diferenças de estilo – Iyer mais contido rítmico, Taborn mais centrado na melodia e nas suas derivações narrativas –, se complementam para criar uma música simultaneamente canónica e disruptiva e na qual o jazz do passado e do futuro se justapõe numa linha de tempo contínua.
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North-American pianist of Indian descent Vijay Iyer (b. 1971, USA) is an example of the demands faced by any musician in the twenty-first century. Although he had classical training in violin when he was a child, Iyer is essentially a self-taught musician with an academic curricula including studies in math, physics, musical cognition and, finally, composition and improvisation. Once he made the decision of being a professional musician, he has been building up a remarkable body of work as composer, improviser and collaborator of important jazz musicians such as Roscoe Mitchell, Steve Coleman and, more recently, Wadada Leo Smith. Vijay Iyer’s career is marked by two central artistic partnerships: with saxophonist Rudresh Mahanthappa and, outside of jazz’s boundaries, with hip-hop producer and poet Mike Ladd. More recently, Iyer has composed music for films, concerts and dance and has been working extensively in several bands, namely in trio, in duo with Wadada Leo Smith and in sextet. An eclectic and brainy musician, Vijay Iyer already possesses a body of work that, in its several artistic dimensions and intentions, can be considered one of the most relevant in modern jazz. Considered by Downbeat magazine one of the jazz’s new wave visionaries, Craig Taborn (b. 1970, USA) is undoubtedly one of the most respected pianists of today, both due to the quality and the integrity of his work as well as to his uncompromising attitude towards the star system that is currently dominating the entertainment industry. Although he studied musical composition at a very precocious stage of his education, Taborn is, like Iyer, a self-taught musician with studies in social sciences who unexpectedly engaged on a remarkable career in jazz, both as a composer as well as collaborator of some of the fundamental names of the genre, such as Tim Berne, Steve
Coleman, Evan Parker, Michael Formanek and Chris Potter. Taborn’s musical language, somewhere in between formal composition and improvisation, and in between melody and dissonance, begins in Monk and converges to a myriad of references where we find echoes of swing, of Cecil Taylor’s hyper-expressive approach, of and abstract and minimal electronics, as well as other forms of musical expression. Unanimously considered one of the two most influent jazz musicians of today’s music, in duo Vijay Iyer and Craig Taborn create a music that, though distanced from the faery fire of a certain kind of jazz popular in the twenty-first century’s second decade, aspires both to project new possibilities of musical expressivity in contemporary music and to apprehend the world in its multiple dimensions. Their recent, and well-praised, album Transitory Poems documents an artistic partnership between two pianists who, despite their stylistic differences – Iyer more restrained and rhythmic, Taborn more melodic and narrative –, achieve a high degree of complementarity, in order to create a music at the same time canonical and disruptive, and in which the jazz from the past and the jazz from the future are juxtaposed within a continuous time line.
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DOMINGO 17H00
BIG BAND e ENSEMBLE de CORDAS ESMAE dirigida por
GEOF BRADFIELD CCVF ---
Grande Auditório
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Geof Bradfield direção musical Big Band e Ensemble de Cordas da ESMAE
Entrada gratuita, até ao limite da lotação da sala. Levantamento dos convites, no dia do concerto, até ao limite de 2 bilhetes por pessoa.
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A vertente pedagógica do Guimarães Jazz constitui uma das dimensões mais importantes do festival e este projeto de direção da Big Band e do Ensemble de Cordas da ESMAE, atualmente uma das mais prestigiadas instituições académicas especializadas no ensino da música em Portugal, é, a par com as oficinas de jazz, um dos eixos estruturantes dessa vocação formativa. Iniciada, nos moldes atuais, em 2012, esta parceria mantém este ano a sua proposta de residência e trabalho de colaboração entre os alunos da ESMAE e o compositor designado para os dirigir que, em 2019, será Geof Bradfield. Além da sua carreira enquanto músico, este reputado saxofonista tenor, atualmente um dos nomes em maior destaque da cena jazzística de Chicago, é também professor na Universidade de Illinois, campo de atividade na qual desenvolve trabalho académico e formativo. Assim sendo, o Guimarães Jazz voltará a proporcionar a um grupo de jovens músicos (de jazz e de música clássica) uma experiência criativa e profissional de elevada exigência, colocando-os em contacto com um compositor versátil e eclético nas abordagens e nos estilos, criador de uma música baseada num princípio basilar de permanente assimilação de conhecimentos e ideias.
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Guimarães Jazz’s educational activities are one of the festival’s most important dimensions and the project with the big band and the string ensemble of ESMAE, currently one of Portugal’s most prestigious jazz schools, is, in parallel with the workshops, one of the main axis of that pedagogical vocation. This partnership, which began in 2012, continues to propose a residency and collaboration between ESMAE’s students and the composer invited to direct them, a role that, in 2017, will be assumed by the composer Geof Bradfield. Besides being one of the most highlighted musicians of Chicago’s current jazz scene, he is also a reputed professor at the University of Illinois. Therefore, Guimarães Jazz will provide again to a group of young musicians a highly demanding creative and professional experience, by putting them in contact with a both conceptually and stylistically versatile and eclectic composer who creates a music based on a fundamental principle of permanent assimilation of knowledge and ideas.
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DOMINGO 21H30
Miguel Moreira, Lucien Dubuis, Mário Costa, Rui Rodrigues, Valter Fernandes PORTA-JAZZ / GUIMARÃES JAZZ
Black Box
© AMARAL MOREIRA
CIAJG ---
Miguel Moreira guitarra Lucien Dubuis clarinete baixo Mário Costa bateria Rui Rodrigues percussão Valter Fernandes coreografia e interpretação 7,50 eur / 5,00 eur c/d APÓS O CONCERTO LANÇAMENTO DO CD PORTA-JAZZ / GUIMARÃES JAZZ 2018 No final do concerto será lançado o disco resultante da edição de 2018 da residência PortaJazz / Guimarães Jazz, que foi liderada pelo pianista João Grilo.
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Em 2019, a proposta de residência integrada na parceria entre o Guimarães Jazz e a associação Porta-Jazz englobará a colaboração entre dois músicos importantes do jazz português da última década – o guitarrista Miguel Moreira e o baterista Mário Costa –, o saxofonista e clarinetista suíço Lucien Dubuis – um músico importante da cena avant-garde jazzística europeia – e o bailarino Valter Fernandes. Este ano, no centro deste projeto de natureza multidisciplinar, e baseado num princípio de interseção e influência mútua entre diferentes linguagens artísticas, estará a relação entre o jazz e a dança e será, tal como nas edições anteriores, gravado e editado com Carimbo Porta-Jazz. Miguel Moreira é, atualmente, um dos mais destacados guitarristas da cena musical portuguesa, em razão de uma atividade prolífica que o levou a colaborar com músicos importantes do jazz português e internacional, como Mário Santos, José Pedro Coelho ou, mais recentemente, com Chris Cheek e João Mortágua, bem como com formações de música contemporânea (o grupo Drumming de Miquel Bernat e o Remix Ensemble) e artistas da música popular tais como Sérgio Godinho e Manuela Azevedo.
Mário Costa é um dos bateristas mais proeminentes que surgiram no panorama jazzístico português nos últimos dez anos, resultado de um trabalho multifacetado que inclui colaborações com nomes tão diferentes da música contemporânea portuguesa e internacional como o contrabaixista Hugo Carvalhais, o saxofonista Tim Berne, o baterista Chris Corsano e a fadista Ana Moura. Do seu trabalho recente, é importante destacar o projeto sFumato, em que Mário Costa surge ao lado de Michel Portal, Joachim Künh e Émile Parisien. Lucien Dubuis é um músico e compositor suíço com uma atividade relevante no circuito europeu da música improvisada e do jazz de tendência vanguardista. Um instrumentista versátil e um compositor ousado e prolífico, Dubuis apresenta um historial de criação assinalável enquanto líder das suas formações e em colaboração com figuras notáveis da música contemporânea como Marc Ribot (com quem gravou em trio), Alfred Vogel ou Barry Guy. Rui Rodrigues é membro fundador do grupo Drumming – Grupo de Percussão, sob direção artística de Miquel Bernat, e colaborou como músico convidado e solista com várias orquestras e formações de música clássica e contemporânea. O seu crescente interesse por improvisação e composição proporcionou o aparecimento de projetos ligados a outras áreas artísticas como a poesia, a dança, o teatro, a imagem e o novo circo. Valter Fernandes é um bailarino e coreógrafo que tem vindo a fazer, nos últimos dez anos, um percurso ascendente na dança contemporânea, trabalhando ao lado de nomes de referência desta disciplina artística como Victor Hugo Pontes e Né Barros. O trabalho autoral deste autor é influenciado decisivamente pelo b-boying, uma expressão de dança urbana que marcou o início da relação de Valter Fernandes com a dança e que continua a manifestar-se nos temas e formas das suas obras enquanto coreógrafo.
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In 2019, the residency organized in partnership between Guimarães Jazz Porta-jazz will encompass the collaboration between two important musicians of the Portuguese jazz of the last decade – guitarist Miguel Moreira and drummer Mário Costa –, Swiss saxophonist and clarinettist Lucien Dubuis – an important musician of European’s avant-garde jazz scene – and the dancer Valter Fernandes. This year, the centre of this multidisciplinary project, based on a principle of intersection and mutual influence between different artistic media, is the relation between jazz and dance, and will, as in previous years, be recorded and published by Porta-Jazz’s record label, Carimbo. Miguel Moreira is currently on the most prominent guitarist of the Portuguese musical scene, due to his prolific activity, which led him to collaborate with important Portuguese and international musicians such as Mário Santos, José Pedro Coelho or, more recently, Chris Cheek and João Mortágua, as well as contemporary music groups (Miquel Bernat’s Drumming and the Remix Ensemble) and pop music artists such as Sérgio Godinho and Manuela Azevedo.
Mário Costa is one of the most important musicians appearing during the last decade in Portuguese jazz, the result of a multifaceted work including collaborations of very different names of contemporary music such as bassist Hugo Carvalhais, saxophonist Tim Berne, drummer Chris Corsano and Fado singer Ana Moura. Of his most recent work it is relevant to highlight the project sFumato, in which Mário Costa is featured alongside Michel Portal, Joachim Kühn and Émile Parisien. Lucien Dubuis is a Swiss musicians and composer with a relevant activity in the European avant-garde jazz and improvised music circuit. A versatile instrumentalist and an audacious composer, Dubuis presents an impressive creative curricula both as leader as well as in collaboration with remarkable contemporary musicians such as Marc Ribot, Alfred Vogel and Barry Guy, among others. Rui Rodrigues is a founding member of Drumming, the percussion group directed by Miguel Bernat, and collaborated as musician and soloist on several orchestras and classical and contemporary music formations. His interest in improvisation and composition has led to his participation in other projects connected to other arts such as poetry, dance, theatre, image and New Circus. Valter Fernandes is a dancer and choreographer in ascension in the field of contemporary dance, having worked with Portuguese reference choreographers such as Vitor Hugo Pontes and Né Barros. Valter Fernandes’ authorial work is influenced by B-Boying, an urban dance which marked the beginning of the dancer’s relation with dance and which is still present in the themes and the style of his work as choreographer.
SEGUNDA 21H30
11 CCVF ---
Grande Auditório
ICP ORCHESTRA
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© PIETER BOERSMA
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Ab Baars clarinete, saxofone tenor Tobias Delius clarinete, saxofone tenor Michael Moore clarinete, saxofone tenor Thomas Heberer trompete Wolter Wierbos trompete Mary Oliver viola, violino Tristan Honsinger violoncelo Ernst Glerum contrabaixo Guus Janssen piano Han Bennink bateria
7,50 eur / 5,00 eur c/d
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Fundada em 1967 pelo recentemente falecido pianista Misha Mengelberg e pelo enorme baterista Han Bennink, duas das figuras maiores da cena jazzística holandesa, a ICP Orchestra é uma instituição histórica entre as big bands de jazz, distinguindo-se por uma abordagem livre e iconoclasta às fundações do jazz, suportada sobretudo num método aberto de improvisação com regras variáveis. Ao longo dos seus mais de cinquenta anos de atividade, e sendo por natureza um projeto mutante, a orquestra foi, naturalmente, mudando a sua configuração e renovando os seus membros, tendo por ela passado alguns dos músicos mais influentes do jazz europeu, tal como o saxofonista alemão Peter Brötzmann que integrou a primeira formação oficial. A premissa de base da ICP Orchestra foi influenciada pelo contacto de Misha Mengelberg com o movimento artístico Fluxus, um dos responsáveis pela introdução do happening na arte contemporânea. O pianista e Han Bennink eram colaboradores frequentes desde o início da década de 1960, tendo inclusivamente sido ambos membros da banda do lendário Eric Dolphy, e foi portanto natural a sua associação num projeto comum em que as sensibilidades estéticas de cada um – ambos com uma propensão para a improvisação, para a performance e para um certo surrealismo absurdo ou humorístico, ambos também possuidores de uma profunda compreensão do jazz norte-americano – se podiam expressar coletivamente. Com o tempo, a orquestra foi naturalmente exercitando as suas propostas, baseadas na adoção de estratégias de improvisação dentro da composição e de composição dentro da improvisação. Além das composições dos seus próprios membros, a ICP explora também projetos de reportório, interpretando compositores seminais do jazz como Monk e Ellington, embora sempre
mantendo a sua matriz de subversão das linguagens musicais, que faz dela um projeto híbrido entre uma big band de jazz e uma orquestra de câmara. Perante a ausência de Mengelberg, é Han Bennink, um dos músicos mais idiossincráticos e influentes do jazz europeu, o líder informal da ICP e a força motriz do processo de criação, embora nesta orquestra todos os músicos partilhem a decisão sobre as direções que a música toma e as formas que assume, fazendo com que o som transmita uma mensagem ética e artística que importa valorizar. Os instrumentistas que atualmente compõem a banda apresentam um já longo historial de colaboração com este projeto, e, entre os vários instrumentistas que o integram, é importante destacar o violoncelista Tristan Honsinger, o único, além de Bennink, que integrou também a primeira formação oficial da orquestra. A matriz estética deste projeto, o grande nível dos músicos e a profundidade do pacto artístico em jogo faz com que a música da ICP Orchestra, representante europeia da vaga de vanguarda da música europeia do século XX, soe fluida e dialogante, mesmo que a sua vertigem pressuponha sempre a introdução de um elemento de caos na ordem, estilhaçando o som em múltiplas vozes que falam e comunicam através dos instrumentos num diálogo que nunca se interrompe nem esgota.
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Founded in 1967 by the already deceased pianist Misha Mengelberg and by the superb drummer Han Bennink, two of the leading figures of the Dutch jazz scene, the ICP Orchestra is an historical institution among jazz’s big band, based on a free and iconoclastic approach to jazz’s foundations and on an open method of free improvisation with variable rules. Throughout almost fifty years of activity, and being by nature a mutant project, the orchestra changed its configurations and, throughout the time, featured some of the most influent musicians in Europe, namely the saxophonist Peter Brötzmann, who was part of the first official formation. The principles of the ICP Orchestra were influenced by Misha Mengelberg’s contact the artistic movement Fluxus, which was partially responsible for the introduction of the happening in contemporary art. Both Mengelberg and Bennink had been frequent collaborators since of beginning of the 1960’s – both had, in fact, played with legendary saxophonist Eric Dolphy –, so the idea of forming a band in which their aesthetical sensibilities – both with a propensity to improvisation, performance and to a kind of absurd and comic surrealism, both great connoisseurs of jazz – could be expressed collectively came naturally. Since then, the orchestra began exercising its approaches, supported upon strategies of improvisation within composition and of composition within improvisation. Besides the compositions of their own members, the ICO also explores repertoire projects, interpreting seminal jazz composers such as Monk and Duke Ellington, while always preserving the matrix of subversion of musical languages, as a hybrid shape between a jazz big band, a circus and a chamber orchestra. Considering the sad fact of Mengelberg’s physical absence, it is Han Bennink, one
of the most idiosyncratic and influent musicians of European jazz, the informal leader and vix motrix of ICP’s creative process, even though at this orchestra every musicians share the decisions that determine the shape of the sound, thereby conveying an important ethical and artistic message. The musicians who form the band are long-term members of the band and, among them, it is fair to mention cellist Tristan Honsinger, who is the only one, besides Bennink himself, who was part of the orchestra’s first official formation. The aesthetical matrix of this project, the level of the musicians and the depth of the artistic commitment are the qualities that make the music of the ICP Orchestra, a great representative of the avant-garde European music of the twentieth century, sound fluid and dialogic, even if its vertigo always presupposes the introduction of an element of chaos in order, shattering the sound in multiple voices speaking and communicating through musical instruments in a never-ending and never-exhausting dialogue.
© ALL RIGHTS RESERVED
TERÇA 21H30
12 CCVF ---
Pequeno Auditório
SONOSCOPIA / GUIMARÃES JAZZ
GUSTAVO COSTA, JULIUS GABRIEL, GONÇALO ALMEIDA
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Gustavo Costa bateria e percussão Julius Gabriel saxofone Gonçalo Almeida baixo elétrico
7,50 eur / 5,00 eur c/d
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Ao longo da sua existência, o Guimarães Jazz provou ter estado atento às transformações ocorridas na música durante as últimas três décadas, tendo apresentado múltiplos projetos musicais sustentados numa ideia de interseção da linguagem própria, e já canónica, do jazz, com outras músicas e outras latitudes geográficas. Em 2019, o festival dá mais um sinal da sua postura inclusiva, abrindo-se a expressões musicais que vão ainda mais longe na exploração dessa matriz e que, adotando a conceção musical de Miles Davis, encaram o jazz não como um vocabulário mas sobretudo como uma atitude artística. É esse o caso da Sonoscopia, um coletivo de músicos e construtores musicais sediado no Porto e com uma atividade diversificada na criação e divulgação da música experimental. Ikizukuri, a proposta da Sonoscopia para esta edição do Guimarães Jazz, é um trio de saxofone, baixo elétrico e bateria, com uma sonoridade elétrica e pulsante, formado por três músicos com abordagens muito distintas à música mas que encontram neste projeto um ponto simultaneamente de equilíbrio e rutura estilística, e uma via de exploração de uma expressão livre e orgânica. Nascido em 1988, Julius Gabriel é um compositor e um improvisador alemão a viver no Porto. Explorando o som do saxofone em diversos registos (tenor, barítono ou elétrico) e frequentemente com recurso a efeitos eletrónicos, Gabriel desenvolve atualmente um trabalho persistente de composição a solo, ao mesmo tempo que colabora com projetos de rock alternativo e música eletrónica na cena musical alternativa do Porto. Na área do jazz, integra a big band alemã The Dorf e a Blue Shroud Band do notável contrabaixista britânico Barry Guy. Gonçalo Almeida (n. 1978, Lisboa) é um contrabaixista atualmente a residir em Roterdão. Com uma atividade dividida
entre a Holanda e Portugal, Almeida é hoje uma das figuras de relevo de um novo movimento de renovação do jazz português, ao lado de outros músicos como Rodrigo Amado e Susana Santos Silva, sendo ao mesmo tempo um participante ativo da dinâmica cena jazzística holandesa. Músico eclético e aberto às expressões musicais contemporâneas, Gonçalo Almeida integra diversas formações, entre os quais a banda jazz/noise Albatre e o projeto de improvisação livre The Selva. Com um percurso diversificado de mais de vinte anos na música, Gustavo Costa (n. 1976, Porto) é hoje reconhecido como um dos mais importantes músicos portugueses da sua geração. Baterista e compositor com uma formação académica que inclui estudos de composição, percussão e música eletroacústica, participou em inúmeros projetos nas áreas do rock marginal, da música experimental que marcaram a primeira década dos anos 2000 no Porto, tendo ao longo desse período colaborado com figuras importantes da música contemporânea, como John Zorn, Carlos Zíngaro, Jamie Saft e Massimo Pupilo, entre muitos outros. Atualmente, Gustavo Costa desenvolve um trabalho focado sobretudo na composição e na criação artística ligada ao som no âmbito da Sonoscopia, associação da qual é membro fundador.
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Throughout its history, Guimarães Jazz has always been sensible to the profound changes in music occurred in the last three decades, having presented the public many different musical projects supported upon the idea of intersection of jazz with other musical genres and other geographies. In 2019, the festival again gives proof its inclusive attitude, embracing musical expressions which go even beyond that principle, adopting Miles Davis’ conception of jazz not as a vocabulary but as an attitude instead. Such is Sonoscopia’s case, a collective of musicians and sound constructors based in Porto, with a diversified activity creating and promoting experimental music. Ikizukuri, Sonoscopia’s proposal for this edition of Guimarães Jazz, is a trio of saxophone, bass and drums, with an electrical and pulsing sound, formed by three musicians with different backgrounds who find in this project a point at the same time of stylistic imbalance and disruption, and a way of exploring a free and organic form of expression. Born in 1988, Julius Gabriel is a young German composer and improviser based in Porto. Exploring the sound of the saxophone with different reeds (tenor, baritone or electrical) and frequently processing it with electronic effects, Gabriel is currently engaged in solo composition, while at the same time collaborating with several projects in Porto’s alternative rock and electronic scene. He is also member of German’s free jazz big band The Dorf and of the Blue Shroud Band led by influential British bassist Barry Guy. Gonçalo Almeida (b. 1978, Lisbon) is a Portuguese bassist currently based in Rotterdam. With an activity divided between the Netherlands and Portugal, Almeida is one of the main protagonists of the Portuguese new jazz generation, and a frequent collaborator of other mu-
sicians such as Rodrigo Amado or Susana Santos Silva, while at the same time being a prolific participant of the Dutch’s jazz scene. An eclectic musician, open to the many different musical expressions of contemporaneity, Gonçalo Almeida is currently active in several projects such as the jazz/noise band Albatre and the free improvisation unit The Selva. With a multifaceted career of almost twenty-years in independent music, Gustavo Costa (b. 1976, Porto) is nowadays recognized as one of the most important Portuguese musicians of his generation. A drummer and a composer with an academic curricula that includes studies In composition, percussion and electro-acoustic music, he was active in several of the most influential projects of experimental and underground music of the 2000s in Porto, having, throughout that period, collaborated with important contemporary musicians such as John Zorn, Carlos Zíngaro, Jamie Saft and Massimo Pupilo, among many others. Currently, Gustavo Costa’s work is mainly devoted to composition and artistic creation in the context of Sonoscopia, the collective of which is he is a founding member and artistic director.
© JIMMY KATZ
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13 QUARTA 21H30
JOE LOVANO TAPESTRY TRIO com MARILYN CRISPELL e CARMEN CASTALDI CCVF ---
Grande Auditório
Joe Lovano saxofone Marilyn Crispell piano Carmen Castaldi bateria
15,00 eur / 12,50 eur c/d
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Unanimemente considerado um dos grandes saxofonistas do nosso tempo, Joe Lovano (n. 1951, EUA) é um nome incontornável da música contemporânea em virtude não apenas do historial impressionante de colaborações com nomes fundamentais do jazz dos últimos cinquenta anos, como McCoy Tyner, Hank Jones, Paul Motian ou John Abercrombie, mas também pela sua participação em projetos como a Saxophone Summit, uma all-star band de saxofonistas partilhada com Dave Liebman e Michael Brecker, ou a banda Sound Prints, em coliderança com Dave Douglas. No seu regresso ao Guimarães Jazz, onde já atuou por diversas ocasiões, Lovano apresenta-se com o Trio Tapestry, uma formação invulgar de saxofone, piano e bateria, ao lado de dois músicos de exceção – Marilyn Crispell, que atuou no Guimarães Jazz no já distante ano de 2002, e Carmen Castaldi. Marilyn Crispell é uma pianista e compositora com uma carreira ativa no jazz desde 1978. Associada aos movimentos da música contemporânea e do jazz de vanguarda, Crispell notabilizou-se sobretudo enquanto membro da Creative Music Orchestra de Anthony Braxton e do Reggie Workman Ensemble, tendo também colaborado com o baterista Paul Motian, ele próprio um colaborador de
longa data de Lovano, e a compositora Pauline Oliveros, entre inúmeros outros músicos, artistas visuais e escritores. Carmen Castaldi é, tal como Joe Lovano, originário de Cleveland, cidade onde os dois se conheceram durante a adolescência e de onde ambos saíram para estudar na universidade de Berklee, Boston. Associado sobretudo à cena jazzística da costa leste dos Estados Unidos, o percurso de Castaldi foi definido pelas colaborações com músicos como Teddy Edwards e Bill Perkins. A relação artística de Castaldi com Lovano manteve-se, no entanto, ao longo do tempo, materializada em gravações discográficas ou em digressões ao vivo, nomeadamente com a Lovano’s Street Band. Trio Tapestry, que é também o título do álbum editado em janeiro deste ano pela editora ECM, revela uma dimensão mais pessoal, intimista e, sobretudo, muito livre da música de Joe Lovano, sustentada em texturas rítmicas, melódicas e harmónicas. A tonalidade lírica dos fraseados de Crispell e a subtileza das improvisações de Castaldi criam atmosferas que o saxofone de Lovano transforma em paisagens, acrescentando definição a uma música que soa cromática e emocional, sem perder nunca de vista o horizonte da tradição do jazz que é a sua origem. Introspetiva e contemplativa, desinteressada de ambições virtuosísticas, desligada de pretensões de inovação, e focada sobretudo na expressão da beleza, a música desta banda explora dimensões meditativas e sensoriais da criação musical, interpretadas por três músicos de altíssimo nível e de grande sensibilidade artística, comprometidos apenas com o propósito da partilha e da congregação dos espíritos.
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Unanimously considered one of the great saxophonists of our time, Joe Lovano (b. 1951, USA) is an inescapable name of contemporary music due not only to his background of collaborations with fundamental musicians of the last fifty years of jazz, such as McCoy Tyner, Hank Jones, Paul Motian or John Abercrombie, but also to his participation in projects such as the Saxophone Summit, an all-star band of saxophonists he led alongside with Dave Liebman and Michael Brecker, or the band Sound Prints, in co-leadership with Dave Douglas. At Guimarães Jazz, where he performed several times in the past, Lovano will perform with his Trio Tapestry, an unusual combination of saxophone, piano and drums featuring with two exceptional musicians – Marilyn Crispell and Carmen Castaldi.
Marilyn Crispell is a pianist and composer active in jazz since 1978. A musician associated to contemporary music and avant-garde jazz, Crispell gained wider recognition as member of Anthony Braxton’s Creative Music orchestra and of the Reggie Workman Ensemble, having also collaborated extensively with drummer Paul Motian, himself a long-term collaborator of Lovano, and the composer Pauline Oliveros, among many other musicians, visual artists and writers. Carmen Castaldi is, like Joe Lovano himself, a native of Cleveland, where the two musicians met during their adolescence and from where both of them departed to study music at the University of Berklee, Boston. Commonly associated to the East Coast jazz scene, Castaldi’s career was decisively marked by his collaboration with musicians such as Teddy Edwards and Bill Perkins. Castaldi’s partnership with Lovano survived through time and has been materialized in several records and tours, namely with Lovano’s Street Band. Trio Tapestry, which is also the title of the album released by ECM last January, reveals a more personal, intimate and free dimension of Joe Lovano’s music, supported in rich rhythmic, melodic and harmonic textures. The lyrical tonality of Crispell phrases and the subtlety of Castaldi’s improvisations create atmospheres that Lovano’s saxophone transforms into landscapes, adding definition to a music which sounds chromatic and emotional, while at the same time never losing sight of jazz’s tradition in its origin. Both introspective and contemplative, uninterested in virtuoso ambitions, and focused mainly on the expression of beauty, the trio’s sound explores meditative and sensorial dimensions of musical creation, interpreted by three musicians of great artistic sensibility, committed exclusively to the purpose of sharing and of the congregation of spirits.
98 LINA NYBERG QUINTET E ORQUESTRA DE GUIMARÃES – TERRESTRIAL CCVF ---
Grande Auditório
14 QUINTA 21H30
Lina Nyberg voz, composição, arranjos David Stackenäs guitarra Cecilia Persson piano Josef Kallerdahl contrabaixo Peter Danemo bateria Orquestra de Guimarães Vítor Matos direção musical Nuno Meira, Raquel Queirós, Pedro Oliveira, Mara Figueiredo, Cátia Sá, Joaquim Pereira, Rui Rasteiro violino I Filipa Abreu, Joaquim Matos, Ana Costa, Vânia Fontão, Ricardo Antunes, Vânia Bajão violino II Cristóvão Andrade, Carla Marques, Sílvia Martins, Ana Raquel viola Carina Albuquerque, Luis Carvalhoso, João Cunha, Bruno Fernandes violoncelo Joana Lopes, Daniel Gomes contrabaixo Luís Alves, Hugo Ribeiro oboé Francisco Barbosa, Inês Ferreira flauta Daniela Costa, Paulo Martins clarinete Ana Bastos, Diogo Moutinho fagote Ângelo Fernandes, Tiago Rebelo trompete Bruno Rafael, Nuno Costa trompas David Silva, Rómulo Vieira trombones Jorge Fernandes tuba Vítor Castro tímpanos André Araújo percussão
7,50 eur / 5,00 eur c/d
© MIKI ANAGRIUS
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Após duas experiências anteriores, altamente gratificantes, com os compositores Nels Cline e Léa Freire, e em reconhecimento da competência e dedicação da Orquestra de Guimarães, o Guimarães Jazz volta a propor um projeto colaborativo entre esta banda local e um músico com um trabalho relevante com big bands ou orquestras de jazz. Em 2019, o artista escolhido é a compositora e vocalista sueca Lina Nyberg, cujo trabalho sinfónico e orquestral tem merecido recentemente amplo reconhecimento crítico.
Nascida em 1970, Lina Nyberg iniciou o seu percurso no jazz enquanto líder de um quinteto, formado por proeminentes músicos suecos, e em duo de voz e piano com o pianista Esbjörn Svensson, com quem gravou, em 1993, o primeiro de dezassete álbuns em nome próprio. Desde então, esta notável e peculiar vocalista tem desenvolvido um trabalho contínuo tanto enquanto líder das suas próprias formações como em colaborações esporádicas com músicos norte-americanos, tais como Marilyn Crispell e John Taylor. É, porventura, no domínio da composição sinfónica e para orquestra que Lina Nyberg tem afirmado mais assertivamente a sua identidade musical, em particular com a trilogia da qual Terrestrial, obra que estará no centro da atuação de Lina Nyberg no Guimarães Jazz, é o terceiro e derradeiro capítulo. A odisseia trilógica de Lina Nyberg iniciou-se em 2014 com Sirenades, composta para o seu quinteto, trabalho a que se sucedeu Aerials, uma peça para quarteto de cordas sobre aviões e astronautas, e que incluía reinterpretações de standards de jazz como “Fly Me to the Moon”. Com uma evidente dimensão épica e operática, esta trilogia constitui um manifesto em defesa da natureza e da importância da luta pela preservação do planeta, sob a forma de uma ode ao mundo natural. Além da pertinência do tema, que denota uma artista atenta ao seu tempo e disposta a decifrar os sinais do seu mal-estar, este tour de force criativo destaca-se pela beleza e criatividade da música, cujo rigor composicional constituirá um desafio de alta exigência musical e ética à Orquestra de Guimarães, uma vez que a expressividade vocal de Lina Nyberg e a dimensão poética das suas composições se propõe elevar a música enquanto meio privilegiado de intermediação entre os seres humanos e as paisagens físicas e emocionais em que eles habitam.
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After two highly successful experiences with the composers, Nels Cline and Léa Freire and, in recognition of competence and the dedication of the Orchestra of Guimarães, Guimarães Jazz again proposes a collaborative project between this local group and a musician with solid background working with big bands and jazz orchestras. In 2019, the chosen artist is the Swedish composer and singer Liny Nyberg, whose symphonic and orchestral work has been widely praised. Born in 1070, Lina Nyberg began her career in jazz as leader of a quintet, formed by prominent Swedish musicians, and of a duo o voice and piano with pianist Esbjörn Svensson, with whom she recorded the first of her seventeen albums under her own name. Since then, this remarkable and peculiar singer has been developing her work both as leader as well as in punctual collaborations with North-American musicians such as Marilyn Crispell and John Taylor. It is, however, in the domain of symphonic and orchestral composition that Lina Nyberg has established more assertively her artistic identity, in particular with the trilogy of which Terrestrial is the third and last chapter.
Lina Nyberg’s trilogical odyssey began in 2914 with the premiere of Sirenades, a set of pieces composed for a quintet, which was followed by Aerials, a composition for a string quartet about planes and astronauts that included versions of jazz standards such as “Fly Me to the Moon”. With an explicit epic and operatic dimension, the trilogy is also conceptually a manifesto in praise of nature and of the importance of fighting for the preservation of the planet. Besides the pertinence of its theme, which reveals a musician sensible to her times and willing to decode its malaises, Nyberg’s creative tour de force is also distinctive because of the beauty and creativity of the music and by the rigor of her compositions. The Orchestra of Guimarães will again face a highly defying challenge, in which both Lina Nyberg’s vocal expressivity and the poetic dimension of the music she creates aim to elevate sound as a privileged means of mediation between human beings and the physical and emotional landscapes they inhabit.
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RUDY ROYSTON – FLATBED BUGGY CCVF ---
Grande Auditório
15 SEXTA 21H30
© MONICA FRISELL
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Baterista virtuoso e altamente inventivo, Rudy Royston (n. 1970, EUA) é atualmente um dos mais prestigiados instrumentistas da sua geração e um colaborador frequente de grandes figuras desta música, tais como JD Allen, Bill Frisell, Dave Douglas e a Mingus Big Band, entre muitos outros. Compositor eclético, de profunda sensibilidade melódica e rítmica, Royston tem prosseguido uma carreira discreta mas afirmativa a solo e enquanto líder de formação, arquitetando ensembles com diferentes configurações – septeto, trio e quinteto – e com sonoridades adaptadas aos músicos que as compõe, entre os quais os saxofonistas Jon Irabagon e John Ellis e o contrabaixista Yasushi Nakamura, citando alguns dos seus colaboradores mais frequentes.
Rudy Royston estudou e iniciou o seu percurso musical em Denver, Colorado, cidade onde começou a tocar em grupos de gospel, rock alternativo e jazz. Aí estudou também com o trompetista Ron Miles, considerado o seu grande mentor, e teve a oportunidade de colaborar, ainda muito novo, com algumas das figuras notáveis do jazz local, entre elas Fred Fuller e o incontornável guitarrista Bill Frisell, com quem Royston mantém ainda hoje relação artística. A mudança para Nova Iorque marcou a fase decisiva de afirmação no circuito jazzístico ao mais alto nível, e desde então o baterista tem gravado e atuado ao vivo ao lado de grandes nomes do jazz contemporâneo. Em paralelo, Royston editou até ao momento três registos discográficos que revelam um compositor idiossincrático, com uma abordagem livre ao jazz e um reportório singular que inclui versões de Mozart e da banda rock Radiohead. Mais recentemente, Royston tem colaborado frequentemente com alguns dos músicos importantes do novo movimento do jazz contemporâneo, nomeadamente com o saxofonista Rudresh Mahanthappa, com quem o baterista atuou em 2018 no Guimarães Jazz, e a contrabaixista Linda Oh. Rudy Royston apresentar-se-á no Guimarães Jazz em quinteto, a mesma formação que gravou o seu último álbum enquanto líder, Flatbed Buggy, editado no ano passado pela Greenleaf, a editora independente fundada por Dave Douglas e que tem divulgado alguns dos projetos mais originais do jazz-norte-americanos dos últimos anos. Com uma instrumentação invulgar, que inclui violoncelo e acordeão, este quinteto pratica uma música de raízes, com aproximações ao blues e à americana, e é constituído por um grupo de músicos provenientes de uma geração que se afirma agora como liderante da cena jazzística, complementado pelo veterano violoncelista Hank Roberts, um nome importante da música associada ao movimento downtown de Nova Iorque da
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década de oitenta do século passado. Com uma sonoridade próxima da música de câmara, este quinteto é usado por Rudy Royston para, apesar da importante dimensão de improvisação, explorar novas possibilidades na sua música por meio de abordagem flexível dos cânones do jazz.
an idiosyncratic composer with a free approach to jazz and a peculiar repertoire that includes jazz versions of Mozart’s compositions and Radiohead’s songs. Recently, Royston has been collaborating with important musicians of his generation and of contemporary jazz, namely saxophonist Rudresh Mahanthappa and bassist Linda Ho. At Guimarães Jazz, Rudy Royston will perform with his quintet, the same band that recorded his most recent album, Flatbed Buggy, released by Greenleaf, Dave Douglas’s independent label which has been supporting some of the most A skilful and highly inventive drummer, original jazz projects of the last few Rudy Royston (b. 1970, USA) is one of years. With a unusual formation, incluthe most reputed musicians of his geding cello and accordion, the quintet neration and a frequent collaborator of explores a roots music, with approxigreat figures of jazz, such as JD Allen, mations to blues and to Americana, and Bill Frisell, Dave Douglas and the Mingus is formed by a group of talented young Bid Band, among many others. An eclec- musicians complemented by veteran tic and of profound melodic sensibility cellist Hank Roberts, an important name composer, Royston has been pursuing a of New York’s downtown scene of the discreet but affirmative career as leader, 1980s. Sounding almost like chamber engaging in ensembles of different confi- music, the sonority of Rudy Royston’s gurations – septet, trio and quintet – and quintet stands a vehicle of exploration of styles adapted to the musicians who are a flexible approach to jazz’s canon, while part of it, namely the saxophonists Jon at the same time preserving a dimension Irabagon and John Ellis and the bassist of improvisation. Yasushi Nakamura just to name some of the most regular. Rudy Royston studied and began to work professionally in music in Denver, Colorado, where he started to play in gospel, alternative rock and jazz bands. He had the privilege of having great trumpeter Ron Miles has teacher and started to collaborate with some of the prominent musicians of the city’s jazz scene like Fred Fuller and guitarist Bill Frisell, with whom Royston still maintains a fairly close artistic relationship. Moving to New York marked a new and decisive stage of the drummer’s affirmation at the high-level jazz circuit, and since then he recorded and performed live with some of the jazz greats. In parallel, Royston released three albums as leader, revealing
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© ALL RIGHTS RESERVED
CCVF ---
Pequeno Auditório
SÁBADO 17H00
16 GEOF BRADFIELD QUINTET
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Geof Bradfield saxofone tenor Russ Johnson trompete Scott Hesse guitarra Clark Sommers contrabaixo Dana Hall bateria
7,50 eur / 5,00 eur c/d
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Na história do jazz, Chicago ocupou desde sempre uma posição particular, uma vez que, sendo uma cidade mais interior e periférica do que, por exemplo, a icónica e miscigenada Nova Iorque, logo menos acessível aos músicos em trânsito pelos Estados Unidos da América, foi consolidando ao longo do tempo uma identidade própria, decisivamente moldada pela fortíssima influência da sua comunidade afro-americana, que sempre se preservou. Embora originário do Texas, o saxofonista e compositor Geof Bradfield é desde o início dos anos 2000 identificado como um dos protagonistas da atual cena jazzística desta cidade do Illinois, a qual se mantém ainda hoje como um polo de dinamismo e criatividade musical. Sideman reputado de músicos como Brian Blade ou Randy Weston, Bradfield conta já com participações em mais de cinquenta álbuns, sete deles enquanto líder de diversos projetos nos quais colabora com muitos dos músicos mais ativos, entre eles os já conhecidos do Guimarães Jazz Matt Ulery e Marquis Hill. Este currículo tem contribuído para a reputação de Bradfield como um dos saxofonistas tenor mais em foco do jazz contemporâneo e como um herdeiro legítimo de uma tradição musical que continua não apenas a resistir ao tempo, mas a indicar caminhos de criação musical plenamente em sintonia com o espírito da nossa época.
Com um estilo grandemente influenciado pela corrente jazzística do pós-bop, Bradfield é um compositor que trabalha nas interseções da tradição e do experimentalismo, da folk, do blues e do jazz, criando uma música simultaneamente ágil e autoconsciente na qual a profusão de influências e temas presentes conduzem inevitavelmente a uma diversidade de estilos e abordagens. A banda com que o saxofonista se apresentará no Guimarães Jazz – constituída pelo trompetista Russ Johnson, o guitarrista Scott Hesse, o contrabaixista Clark Sommers e o baterista Dana Hall – reflete, tal como em vários dos tours de force criativos deste saxofonista, uma ideia de cumplicidade artística, sendo composta por um naipe de músicos de grande nível e com um passado de colaboração frequente com Bradfield nos seus projetos enquanto líder, nomeadamente no âmbito do seu mais recente trabalho composicional Yes, and… Music for Nine Improvisers, comissariado pela Chamber Music America New Jazz Works.
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Throughout the history of jazz, Chicago has always occupied a particular position. Being a more interior on peripheral city than, for example, the more iconic and multi-ethnic and, in a sense, more cosmopolite New York, and therefore less accessible to musicians from all around the world in transit throughout the United States of America, Chicago preserved a specific musical identity, decisively shaped by the powerful influence of its large African-American community. Although being a native from Texas, saxophonist and composer Geof Bradfield is, since the beginning of the 2000s, pointed as one of the main protagonists of Chicago’s current jazz scene, which continues to be a strong pole of musical creativity. Reputed sideman of musicians such as Brian Blade or Randy Weston, Bradfield participated in the recordings of more than fifty albums, seven of which as a leader of his own projects, collaborating with some of the most active musicians of Chicago, such as Matt Ulery and Marquis Hill. Consequently, Bradfield is currently considered one of the most highlighted tenor saxophonist of contemporary jazz, and a legitimate heir of a musical tradition that keeps not only resisting time but pointing out new paths of musical creation in tune with the spirit of our era.
A musician and composer strongly affiliated to post-bop, Bradfield works within the interstices of tradition and experimentalism, folk, blues and jazz, creating a simultaneously agile and self-conscious music in which multiple influences and themes inevitably lead to a multiplicity of styles and approaches. The band that supporting Bradfield at Guimarães jazz – formed by trumpeter Russ Johnson, guitarist Scott Hesse, bassist Clark Sommers and drummer Dana Hall – reflects, as many of the saxophonist’s creative tour de forces, an idea of artistic complicity, being formed by a group of high-level musicians who have extensively collaborated with Bradfield in the past, namely in the context of his most recent compositional work, entitled Yes, and… Music for Nine Improvisers, commissioned by the Chamber Music America New jazz Works.
© DOMINIC GLADSTONE
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apoio / support
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ANDREW RATHBUN LARGE ENSEMBLE – THE ATWOOD SUITES
CCVF ---
16 SÁBADO 21H30
Grande Auditório
John O’Gallagher saxofone soprano e alto Tara Davidson saxofone alto, flauta, clarinete Quinsin Nachoff saxofone tenor, clarinete Geof Bradfield saxofone tenor, clarinete Hristo Goleminov saxofone barítono, clarinete baixo Luís Macedo trompete Ricardo Formoso trompete Scott Cowan trompete Russ Johnson trompete Mike Fahie trombone William Carn trombone Gonçalo Dias trombone Andreia Santos trombone Aubrey Johnson voz Ricardo Pinheiro guitarra Jeremy Siskind piano Clarke Sommers baixo Martijn Vink bateria Tim Hagans solista, trompete Andrew Rathbun composição, arranjos, saxofone soprano Texto de Margaret Atwood
15,00 eur / 12,50 eur c/d
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A edição de 2019 do Guimarães Jazz encerrará com o Large Ensemble do saxofonista, compositor e arranjador canadiano Andrew Rathbun, interpretando as suas Atwood Suites, inspiradas na poesia da escritora Margaret Atwood. Rathbun é atualmente um dos nomes proeminentes da nova geração do jazz e, apesar da grande influência do legado do pós-bop na sua música, o trabalho artístico deste saxofonista ensaia aproximações à composição clássica, focando-se na escrita de suites e peças orquestrais e, pontualmente, na revisitação de obras de compositores de música erudita como Ravel e Glück. Com uma sólida formação musical adquirida no New England Conservatory e na Manhattan School of Music, Andrew Rathbun começou a sua afirmação no circuito jazzístico nova-iorquino no final década de 90 do século passado, altura em que começou a gravar e a interpretar ao vivo a sua música. O momento mais marcante deste processo de afirmação deu-se em 2002 com a edição de Sculptures, um quinteto liderado por Rathbun e que contou com a participação do lendário trompetista canadiano Kenny Wheeler, naquele que foi o primeiro de vários projetos conjuntos até à morte de Wheeler, em 2014. Além da colaboração com algumas das orquestras mais importantes do jazz, tais como a Danish Radio Jazz Orchestra e a Brussels Jazz Orchestra, Rathbun tem também desenvolvido um trabalho consistente enquanto líder de diferentes formações – duo, trio, quarteto e quinteto –, ao lado de grandes músicos como George Colligan, George Garzone e Ben Monder. O trabalho artístico de Rathbun das últimas duas décadas é marcado decisivamente pela sua proximidade com a literatura, e especificamente com a poesia de Margaret Atwood. O universo poético da escritora canadiana foi pela primeira vez explorado no álbum True
Stories, editado em 2000 e que conta com as participações, entre outros, da vocalista brasileira Luciana Sousa e do trompetista Taylor Haskins, e constitui, tal como o título do álbum indica explicitamente, a grande inspiração das Atwood Suites. Composta por três peças distintas em que a imagética distópica da escritora é traduzida numa música multitextural e complexa, esta obra orquestral é enriquecida pela expressividade de um ensemble de extraordinários músicos, entre os quais se pode destacar a participação como solista do trompetista Tim Hagans e de Martijn Vink, um extraordinário baterista holandês que nesta atuação no Guimarães Jazz se juntará pela primeira vez ao Large Ensemble. Uma obra de paisagens emocionais para o século XXI, Atwood Suites veicula uma mensagem de inquietação política e elevação poética que, pela voz de Aubrey Johnson, narra um mundo em profunda transformação ao qual a arte tem de dar resposta. No final de uma década convulsiva, o Guimarães Jazz assinala este momento de transição com um espetáculo musical que, embora firmemente ancorado na tradição da música ocidental, se propõe resgatar a palavra escrita para um espaço de iluminação e expansão criativa sem fronteiras, e a refletir sobre um presente em desintegração, prestes a transformar-se em futuro.
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This edition of Guimarães Jazz will close with Canadian composer and arranger Andrew Rathbun’s Large Ensemble, interpreting the Atwood Suites, Rathbun’s work inspired by the poetry of writer Margaret Atwood. Rathbun is currently a prominent musician of the new generation of jazz and, despite the major influence of post-bop in his compositions, the artistic work of the saxophonist is close to classical composition, focusing on composing suites and orchestral pieces and, punctually, on the revisiting of the works of classical music composers such as Ravel or Glück. Holding a solid academic curricula at the New England Conservatory and the Manhattan School of Music, Andrew Rathbun began his ascension in the New York jazz scene in the beginning of the 1990s, when he started to record and performing his music live. The most decisive moment of his career occurred in 2002, when he released Sculptures, a quintet led by Rathbun featuring the legendary Canadian trumpeter Kenny Wheeler, and which was the first of several collaboration between the two till Wheeler passed away, in 2014. Besides collaborating with some of the most important jazz orchestras of the words, such as the Danish Radio Jazz orchestra and the Brussels Jazz Orchestra, Rathbun has also been developing a consistent work as leader of different formations – duo, trio, quartet and quintet –, alongside with great contemporary jazz musicians such as George Colligan, George Garzone and Ben Monder. Andrew Rathbun’s artistic work of the last two decades is decisively marker by its proximity with literature and, specifically, with Margaret Atwood’s poetry. The poetic universe of the Canadian writer was first explored in the album True Stories, released in 2000 and featuring, among others, Brazilian singer
Luciana Sousa and trumpeter Taylor Haskins. Formed by three different pieces in which the dystopic imagery of the poetry is translated in a multi-textural and complex music, the Atwood Suites are enriched by the expressivity of an extraordinary ensemble of musicians including soloist Tim Hagans and, specifically at Guimarães Jazz, extraordinary Dutch drummer Martijn Vink, who will play with the Large Ensemble for the first time. A work of emotional landscapes for the twenty-first century, the Atwood Suites convey a message of political disquietude and poetic elevation that, through the voice of Aubrey Johnson, narrates a world in process of profound transformation to which art must give an answer. Facing the end of a convulsive decade, Guimarães Jazz signals this moment of transition with a musical performance which, though formally anchored in the tradition of Western music, proposes to rescue literature to a space of light and creative expansion, and to meditate upon a an age of disintegration, about to become future.
Animações Musicais
ATIVIDADES PARALELLAS
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ZZAJ SEÃRAMIUG
05 › 16 NOVEMBRO
TERÇA a SÁBADO
Vários locais da cidade
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Durante o mês de novembro, Guimarães vive ao ritmo do jazz. Nestas animações musicais, o jazz surge em contextos quotidianos menos previsíveis, procurando envolver a população naquele que é o principal festival da cidade. A música vai ao encontro de todos aqueles que queiram desfrutar do festival, porque o Guimarães Jazz é de todos e para todos. During the month of November, life in Guimarães will be sprinkled and spiced with the sounds of jazz rhythms. In these entertaining moments, jazz will emerge in the most unpredictable daily contexts in an attempt to involve the population of Guimarães in its main music festival. Music will seek out those who want to be reached by the Festival, because Guimarães Jazz is for everyone and by everyone.
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Jam Sessions GEOF BRADFIELD QUINTET
07 › 09 NOVEMBRO
QUINTA a SÁBADO
CCVF / Café Concerto 24H00 — 02H00
14 › 16 NOVEMBRO
QUINTA a SÁBADO
Convívio Associação Cultural 24H00 — 02H00
ZZAJ SEÃRAMIUG
117 As jam sessions conferem ao Guimarães Jazz uma das suas facetas identificadoras. A sua componente de improvisação revela o lado mais informal do jazz, permitindo que o público a possa ouvir num ambiente mais direto e próximo dos músicos. Este ano, as jam sessions no Café Concerto do CCVF e no Convívio Associação Cultural serão lideradas pelo saxofonista e compositor Geof Bradfield que virá acompanhado por um naipe de músicos de grande nível – o trompetista Russ Johnson, o guitarrista Scott Hesse, o contrabaixista Clark Sommers e o baterista Dana Hall.
The jam sessions are certainly one of the most identifying marks of Guimarães Jazz. It is this improvisational perspective that unveils the more informal nature of jazz, one that both allows the public to appreciate this musical form in a more direct way and brings audiences closer to the musicians. This year, the jam sessions at the CCVF Café Concerto and Convívio Cultural Association will be led by saxophonist and composer Geof Bradfield, who will be accompanied by a group of high-level musicians – the trumpeter Russ Johnson, guitarist Scott Hesse, bassist Clark Sommers and drummer Dana Hall.
Geof Bradfield saxofone tenor Russ Johnson trompete Scott Hesse guitarra Clark Sommers contrabaixo Dana Hall bateria 3,00 eur / 2,00 eur c/d Entrada gratuita para quem possuir bilhete do concerto do Grande Auditório, desse dia
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Oficinas de Jazz GEOF BRADFIELD RUSS JOHNSON SCOTT HESSE CLARK SOMMERS DANA HALL
11 › 15 NOVEMBRO SEGUNDA a SEXTA
CCVF 14H30 — 17H30
ZZAJ SEÃRAMIUG
119 As oficinas de jazz são uma experiência única de trabalho criativo com músicos de elevada qualidade técnica, envolvidos num dos contextos mais fervilhantes da criação jazzística contemporânea. Tal como as jam sessions, são dirigidas pelos músicos residentes que se deslocam propositadamente dos EUA a convite do festival, fixando-se em Guimarães durante duas semanas. Este ano, as oficinas de jazz serão orientadas pelo saxofonista Geof Bradfield e pelos músicos que o acompanham no Guimarães Jazz, uma formação com uma grande cumplicidade artística e com um passado de colaboração frequente.
The jazz workshops are a truly exceptional experience allowing for creative collaboration with musicians of high technical quality involved in one of the most exciting contexts of contemporary jazz creation. As with the jam sessions, the workshops are led by the musicians in residence who have come from America at the Festival’s invitation to set up shop in Guimarães for two weeks. This year, in charge of the jazz workshops is the saxophonist Geof Bradfield and the band that supporting him at Guimarães Jazz, a group of musicians who have extensively collaborated with Bradfield in the past.
Data limite de inscrição 6 novembro N.º máximo de participantes 25 Inscrição gratuita
120
ZZAJ SEÃRAMIUG
organização
VERA VELEZ
cofinanciamento
Design gráfico / Graphic design
MANUEL JOÃO NETO
Traduções / Translations
MANUEL JOÃO NETO
Texto das Biografias / Text of the Biographies
IVO MARTINS
Texto / Text
IVO MARTINS
Direção Artística / Artistic Direction
media partners
A OFICINA CÂMARA MUNICIPAL DE GUIMARÃES CONVÍVIO ASSOCIAÇÃO CULTURAL
Comissão Organizadora / Organization Committee
apoios
121
GUIMARÃES
QUINTA 21H30
08 SEXTA 21H30
Kindred Spirits CCVF ---
Grande Auditório
10
DOMINGO 17H00 21H30
ANTONIO SÁNCHEZ and MIGRATION
BIG BAND e ENSEMBLE de CORDAS ESMAE dirigida por
GEOF BRADFIELD CCVF ---
Grande Auditório
Miguel Moreira, Lucien Dubuis, Mário Costa, Rui Rodrigues, Valter Fernandes
09 21H30
28ª EDIÇÃO
Em 2019, e já na sua 28ª edição, o Guimarães Jazz cumpre mais uma etapa de um percurso de quase três décadas de divulgação do jazz de todas as épocas e de todos os estilos, sem outro critério senão a integridade e a qualidade da música e dos músicos que nele se apresentam.
SÁBADO 17H00
JOE LOVANO TAPESTRY TRIO com MARILYN CRISPELL e CARMEN CASTALDI
CCVF ---
Grande Auditório
GUIMARÃES JAZZ
TRIO OLIVA/ BOISSEAU/ RAINEY – ORBIT
Grande Auditório
LINA NYBERG QUINTET E ORQUESTRA DE GUIMARÃES – TERRESTRIAL
14
CCVF ---
CCVF ---
Pequeno Auditório
VIJAY IYER and CRAIG TABORN The Transitory Poems
CCVF ---
Grande Auditório
11
SEGUNDA 21H30
12 TERÇA 21H30
CCVF ---
Grande Auditório
GUSTAVO COSTA, JULIUS GABRIEL, GONÇALO ALMEIDA SONOSCOPIA / GUIMARÃES JAZZ CCVF ---
CCVF ---
Grande Auditório
Black Box
ICP ORCHESTRA
Pequeno Auditório
13 QUARTA 21H30
PORTA-JAZZ /
CIAJG ---
JAZZ
In 2019, on its 28th edition, Guimarães Jazz completes almost thirty years promoting jazz music of every ages and styles, following no other criteria than the integrity and the quality of the music and the musicians presented.
07
CHARLES LLOYD
RUDY ROYSTON – FLATBED BUGGY CCVF ---
Pequeno Auditório
ANDREW RATHBUN
LARGE ENSEMBLE – THE ATWOOD SUITES CCVF ---
15 SEXTA 21H30
Grande Auditório
GEOF BRADFIELD QUINTET CCVF ---
QUINTA 21H30
Grande Auditório
16 SÁBADO 17H00 21H30