Portfolio GM (português)

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portfolio Um conjunto de coisas feitas ao longo do tempo



Curriculum Vitae Coisas sobre mim


NOME Ana Margarida Fernandes Marques (Guida Marques) NACIONALIDADE: Portuguesa DATA DE NASCIMENTO: 05.04.1986 MORADA: Rua da Esperança, nº9 2ºD, 1200-657 lisboa TELEMÓVEL: 91199598 EMAIL: guidafmarques@gmail.com

FORMAÇÃO: Mestrado Integrado em Arquitectura no Depart.de Arquitectura da Universidade de Coimbra MESTR. EM ARQUITECTURA: 14.46/20 DISSERTAÇÃO DO MIA: 19/20 TEMA DA DISSERTAÇÃO: “Por uma arquitectura dos sentidos, - Uma experiência na arquitectura multi-sensorial contemporânea” COMPETÊNCIAS INFORMÁTICAS: Archicad, AutoCAD, Revit, Sketchup, Office, Photoshop, InDesign, Pinnacle Studio, Illustrator, Adobe Lightroom. CONH. LINGUÍSTICOS: Inglês (FCE) fluente; razoável entendimento de Francês escrito e falado; Espanhol escrito e alguma facilidade em comunicar. INTERESSES: Arquitectura, Cenografia, Design, Moda, Artesanato Performance, Teatro, Escrita criativa, Dramaturgia, Produção, Desporto, Dança Contemporânea, Poesia. OUTRAS ACTIVIDADES: British Council (1992- 2004), Conservatório de Música de Coimbra (1996), ACM (curso musical 1990-1996 sob a direcção do Maestro Virgílio Ferreira), Curso de Edição e Vídeo do IPJ (2000), Curso de Teatro do IPJ (2001), Participação na Exposição de pintura

e Escultura no Café Com Arte (2002); Workshop em Serralves “Iniciação à Arquitectura” e “Iniciação ao Design gráfico” (2003); Workshop de Dança Contemporânea com a Vânia Gala (2005); Participação na Exposição Paisagens Aquáticas Cidade e Mar no âmbito da cadeira de Desenho II (2006); Cartaz para o Campeonato Nacional de Atletismo Esperanças 2007, Mealhada; Workshop de Photoshop e Freehand no dARQ (2007); Workshop Colectivo 84 “Paisagens da cena e dramaturgia contemporâneas” (2011); Curso de iniciação do CITAC (2010/2011); Formação da Ordem dos Arquitectos (2012); formação de Projecto de Execução da OA (2012); Workhsop Critical Lisbon da Trienal de Arquitectura (2012) CONFERÊNCIAS: Iap XXI Inquérito à Arquitectura do Século XX em Portugal (2005); Conferência de Souto Moura e Philippe Starck no âmbito da Experimenta Design (2005); Conferência “Materialidade na Arquitectura Contemporânea” com Souto Moura, Iñaki Aballos e Juan Herreros no âmbito da Concreta (2005);Homenagem a Fernando Távora no Auditório da Faculdade de Direito da U.C. (2005); Conferência Internacional “Cidade e Mar- Paisagens Aquátcas” (2006); Conferência Mário Botta no Auditório da Faculdade de Direito da U.C (2006); Conferência ARQUIBIO 06 no Auditório de Zoologia da U.C (2006); Programas e Equipamentos para o século XXI (2008); Congresso de Ar-

quitectura Sustentável (2008); Conferência de Peter Zumthor no âmbito da Trienal de Arquitectura; Conferências do Bussaco com Kengo Kuma, Bolle Tham, Borre Skodvin e Aires Mateus (2011); Conferência Marco Cruz (Bartlett 2012); Conferências no LUX da OA (2012); Conferências do Conceito à Obra (2012); CONCURSOS: Go Architecture 2011, Pladur 2011 e Exposição no MUDE 2012. VIAGENS: Espanha: Sevilha, Mérida, Córdoba, Santiago de Compostela, Barcelona, Madrid; Suíça: Basileia, Zurique, Haldenstein, Chur, Vals, Lugano (obras de Peter Zumthor, Mário Botta e Peter Markli); França: Paris, Ronchamp e Lyon (obras de Le Corbusier); República Checa, Áustria (Viena), Suécia (Estocolmo), Itália (Milão e Turim), Alemanha (Colónia), Polónia (Cracóvia), Tunísia, Hungria (Budapeste). OUTROS: Participação no Programa de Mobilidade Erasmus em Praga, duração de 10 meses.


SOBRE GM: Em 2004 dava entrada no Colégio das Artes de Coimbra e em 2005 tinha a certeza que a arquitectura era mais do que um diploma. São poucas coisas que ainda movem revoluções e interferem tão intimamente na vida das pessoas. Chamo-lhes os criadores de felicidade como disse Fernando Távora. Sou produto desta cidade, nascida, criada, educada (fora um ano que decidi ir até Leste). Não procuro uma profissão nem um trabalho (embora procure claro), inocentemente é certo, continuo acreditar que só se é dono desta profissão com maturidade e experiência. Procuro essa mesma experiência, a maturidade deixo que a vida me ensine. Deixo-me ser exigente (ainda o posso ser), procuro quem julgo que me vai ensinar bem e deixar aprender. Procuro uma oportunidade num projecto que não se fica por desenhos, mas que me leve à construção, ao sítio da produção exacta. Depois de um ano empenhada numa tese que me haveria de definir, definiu: a sensibilidade e o espírito de sacrifício que julgo ter de se ter quando se ama alguma coisa. Falo de amor, porque não vejo outra relação possível com a arquitectura. (Relembro a inocência da minha idade). Relembro a ingenuidade de quem só trabalhou meia dúzia de meses. Apareço aqui como qual jovem de um “pós” pós-guerra revoltado, ainda a acreditar que os lugares que pudemos construir mudam

o mundo, pessoa a pessoa, comunidade a comunidade. Quero acreditar numa arquitectura que identifique o Homem e não numa arquitectura digital vazia e enevoada, exposta em revistas. Num mundo demasiado rápido procuro alternativa a espaços cheios de vidro, plásticos e luzes que o encadeiam. Quero acreditar numa arquitectura que seja palco para a vida acontecer, que acorde o corpo embriagado pelos media. Não se trata de criar objectos mas lugares. O medo de me afastar da realidade do mundo e da intensidade das coisas faz-me procurar empregadores que sejam fiéis a uma sensibilidade humana. Não sei muito bem ainda como viver sem ela e não sei se quero. Tenho sempre a sensação que mais vale deixar de lado as coisas feitas sem intensidade. Resta-me o tempo, a disponibilidade, a vontade e dedicação profunda a este ofício, isso basta-me para dizer com certeza que farei sempre o meu melhor. Quero acreditar que há em todos nós, depois de um curso destes, a capacidade de criar lugares para a vida que se adivinha. Quero acreditar que quando fazemos as coisas por paixão, elas saem bem. O que os palcos me ensinaram foi isto, que como performer sou um bebé que aprende a caminhar e cai muito, mas a determinação de andar sobre os dois pés conta e faz de mim uma performer aceite que o público gosta de ver, e assim o serei enquanto arquitecta.



Estรกgio Embaixada Arquitectura


COMO SOBREVIVER A UM ESTÁGIO Sobre o processo de fazer qualquer coisa pela primeira vez. Escolhe-se a dedo um atelier (ou não); eu escolhi a dedo e fui escolhida. A Embaixada Arquitectura é um colectivo de arquitectos que procuram a todo o custo projectar vivências contemporâneas sempre de uma forma nova e irreverente. Eu chamo-lhes o colectivo caos (Caos, Subst. masc. Estado de absoluta confusão). Entenda-se este caos como um constante incentivo a sair de uma zona de conforto que tanto caímos na tentação de ter; como um trabalho de limite que se quer a quem projecta um futuro para a humanidade e é neste mesmo limite que nascem as boas ideias, que a arquitectura acontece. Este colectivo trabalha na confusão, confusão de três personalidades distintas e marcantes que há muito entre si se conhecem; neste colectivo há um caos cúmplice, de quem se entende bem e sabe que é assim que se vai mais longe, que se vais caminhando para um objectivo comum. Eu fiz parte deste caos, um caos que não trocaria por ordem alguma. Na Embaixada discute-se e ouve-se; na Embaixada ensina-se e dão-se oportunidades; na Embaixada é-se livre. Com eles ganhei concursos, toquei em cobre, vi dedos cortados em maquetas, sujei-me em casas velhas, visitei casas novas, desenhei parafusos à unha, não dormi, ri muito,

aborreci-me, discuti q.b., trabalhei afincadamente, li bons livros, vi bons filmes, conheci gente que fica comigo, diverti-me com caixas e concursos com tempo, aprendi, amuei, fiz rir muita gente, calei-me algumas vezes e chateei todos outras tantas; sonhei, mantive-me no meu canto e saí dele; falhei e fiz coisas certas; ouvi falar de arquitectura e o meu lugar era entre ela. Meus caros, isto é um estágio, um estágio como deve de ser: tocar em tudo, falar de tudo e não ter mão em nada. É a dedicação extrema de quem quer a todo e qualquer custo trabalhar, pôr as mãos na massa, arregaçar as mangas. Durante este tempo acertamos em cheio e falhamos; e falhamos porque a fasquia é alta, porque saímos de um curso cheios de nós e de orgulho mas acima de tudo porque estamos a começar (chama-se a isto fome de saber, fome de se fazer bem). Vemos o que acontece do outro lado da sala e é com isso que sonhamos, é aquilo que queremos fazer: ver entrar gente com planos, sentar-mos com essa gente e ouvir falar de sonhos, esperanças e desejos; depois percebemos que não somos nós, que isto não é nosso e não queremos que seja porque somos novos ainda mas é aquilo que queremos ter. Olhamos para quem nos abriu a porta com orgulho e respeito. Não há patrões nem empregados mas há; não há regras nem limites mas há; e nós andamos por este ser sem ser, por este fazer sem fazer, este andar sem ir - isto é ser um Estagiário. Começa aqui o nosso caminho. Obrigado.




Textos Coisas escritas


POR UMA ARQUITECTURA DOS SENTIDOS

Uma experiência na arquitectura multi-sensorial contemporânea

“A tarefa da arquitectura é de criar metáforas existenciais que concretizam e estruturam a nossa existência no mundo… a arquitectura permite-nos perceber e entender a dialéctica da permanência e mudança, de nos colocar no mundo, e de nos colocar a nós próprios no continuum da cultura e tempo.” Juhani Pallasmaa, 1994 INTRODUÇÃO Capítulo I UMA POSSÍVEL DEFINIÇÃO DE ARQUITECTURA Lugar, Identidade e Semiologia DEPOIS DE UMA ARQUITECTURA MODERNA O Homem e o mundo de hoje Capítulo II CHEGAR A UMA ARQUITECTURA POÉTICA Empatia, Memória e Corpo A ESSÊNCIA DE UMA ARQUITECTURA MULTI-SENSORIAL Carácter e Percepção Capítulo III A EXPERIÊNCIA EM LUGARES MULTI-SENSORIAIS Kolumba, Ronchamp e La Congiunta CONCLUSÃO

Por uma arquitectura dos sentidos, nasceu da necessidade de perceber o meu caminho enquanto futura arquitecta. Talvez num acto de puro egoísmo tento chegar a um entendimento do que será o meu traço e no que vou defender enquanto profissional, falo do que me levou a apaixonar-me por este ofício e daquilo que acredito levar alguém a pagar-me pelo que faço. Reconheço o meu exagero, a minha intensidade que por vezes em demasia me leva a não ser exacta e rigorosa num tema que por si só já é tão abstracto e subjectivo. Mas como não podia se o que falo é de emoção?

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“O mundo foi estetizado e anestesiado, esvaziado de conteúdo. E este estado é especialmente evidente nas páginas acetinadas das nossas revistas de arquitectura e nas disciplinas tão na moda das nossas escolas da especialidade.” Neil Leach Vejo todos os dias uma arquitectura que não se preocupa para quem constrói. Não me identifico com o que vejo e tenho uma visão diferente e mais humanista da construção. Crescemos numa cultura da imagem e num futuro tecnológico que faz dos lugares, caixas vazias de conteúdo, que não têm em conta o corpo ou a cultura do Homem e nos levou a capacidade reflexiva e perceptiva. Queremos viver para sempre sem nos mexermos e por isso a arquitectura perdeu as suas qualidades sensoriais, o corpo perdeu a capacidade de ser corpo. Numa altura de crise é urgente que as pessoas se identifiquem, é preciso que a arquitectura se renove e devolva o sonho ao Homem que perdeu a esperança. Num mundo de fazer arquitectura como se faz uma coisa qualquer, eu remeto-me às teorias que aparecem nos anos 60 - o espaço existencial, a fenomenologia, o being-inthe-world, a poética, a experiência e a experimentação, a percepção e os sentidos. São teorias que reagiram ao vazio das formas do Modernismo levadas a um caos estilístico e conceptual de um pós-modernismo por resolver e definir. Tento perceber a importância que tem a arquitectura nos momentos das nossas vidas. Fica em mim a certeza do poder que é criar um lugar.

“A arquitectura é matéria da arte, um fenómeno de emoções, encontra-se nas questões de construção e além delas. O propósito da arquitectura é fazer com que elas subsistam; que nos toquem.” Le Corbusier, 1985 Procuro uma interacção dos sentidos, uma compreensão da arquitectura detalhe a detalhe, que defenda a percepção num todo e por um todo. Um desenho do verbo, da acção em vez de coisas e objectos, um desenho para o corpo que requer paciência, tempo e intimidade. Quero perceber como é que se define uma arquitectura que não faz parte de um estilo ou de uma época, mas que é intemporal porque tem sempre como tema o Homem e o seu modo de viver. Uma experiência da arquitectura multi-sensorial contemporânea “A teoria não deveria ser um substituto da experiência directa da arquitectura” Norberg-Schulz, 1967 Falo do que vivi, também eu acredito que devemos experienciar directamente a arquitectura e sentir no corpo o que falamos. Cumpro as premissas de uma investigação fenomenológica, a experiência própria e pessoal, que só assim tem validade. Levei o meu corpo aos lugares e tentei perceber como se faz uma arquitectura que respeite e identifique o Homem. Kolumba, Peter Zumthor, 2007 “Eu enfrento a cidade com o meu corpo; (…) os meus olhos projectam inconscientemente o meu corpo sobre a fachada da catedral, onde deambula

pelas guarnições e contornos, sentindo o tamanho das molduras e entradas; o peso do meu corpo encontra-se com a massa da porta da catedral e a minha mão agarra o puxador da porta ao entrar no vazio escuro que há atrás. (…) ” Juhani Pallasmaa, 2006 Entrar no museu de Kolumba é ser recebido por uma generosidade que um museu deve ter. Um guarda mostra-nos uma porta que se acaba de abrir sozinha, entramos para um pequeno entretanto, à frente uma cortina de pele pesada e a porta fecha-se. Devagar abrimos essa cortina e à nossa frente revela-se um segredo. Vemos a história do lugar, desde tempos romanos a tempos pós-guerra a um tempo de hoje, todos eles se unem numa harmonia que nos comove. O elemento-surpresa, o percurso, o objectivo claro do pátio exterior que abriga uma escultura de Richard Serra, a luz que muda durante o dia e durante as estações do ano, o respeito pelo lugar, o encaixar do material novo com o velho; o novo uso do betão e do tijolo criado especificamente para aqui - esta é a dedicação de Zumthor, tudo isto nos prende a atenção - os pilares demasiado finos e altos que nos criam tensão no corpo, a luz artificial cenográfica que ilumina poeticamente as ruínas. O corpo tem frio, tem calor, mexe-se rápido, lento. Tem o tempo preciso, a emoção necessária. P. Zumthor trabalha com o que existe, com a envolvente, com o conforto térmico para que o corpo se sinta bem, com o cheiro que apele a memória, e isto põe a pessoa em alerta para o espaço, dis-

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ponível para imaginar e percepcionar. Há na cidade caótica um lugar interior de descanso, um lugar para nós, que nos retira do caos da vida, e nos dá a realidade de uma modernidade superada, de uma modernidade que tem uma paz interior e uma identidade que não se esquece de viver. Alguém que tirou o seu tempo para desenhar meticulosamente aquilo que estou a ver e a sentir. Somos o centro do mundo. Parece tão fácil, dá-nos a sensação de que fomos nós que o fizemos. Subimos uma estreita escadaria, umas escadas estreitas demais para um museu deste tamanho. Somos atraídos pela luz intensa que vem da janela enorme. A luz é direccionada trabalhando com figura-fundo dando o devido protagonismo às obras expostas. Aqui acredita-se no objecto artístico sem ser como um mero investimento. As obras de arte antigas estão ao lado das contemporâneas, tornando-se num lugar de encontros de tempos diferentes. É um lugar justo, um trabalho de intimidade de pequena escala cheio de cuidados com os sentidos - o cheiro, a luz, os materiais, as técnicas de construção, o som, tudo é coerente, tudo faz um todo que exalta os sentidos. Sentimos o cheio e os vazios da organização interior, sabemos para onde temos de ir. As portas e as janelas são todas de tamanho para gigantes. Ficamos rendidos diante destes vidros, experienciamos um dos momentos mais surpreendentes do edifício, vemos o mundo e somos donos dele. É um museu cuidadosamente pen


sado para o que expõe e para quem vai ver o que está exposto.sado para o que expõe e para quem vai ver o que está exposto. Tudo tem o lugar devido, o lugar certo e comovenos a humanidade deste homem. Peter Zumthor olha para os objectos como coisas reais que carregam em si um significado, uma história, um código e com capacidade de comunicar. Reconhecem-se os arquétipos - parede, tecto e chão - e como se pode fazer uma nova coreografia com estes elementos. Isto é o que provoca sentimentos. Há um lugar em Kolumba que nos deixa descansados, é um lugar onírico no meio do caos. Desconfio que o Homem precise de lugares assim. Kolumba diz à cidade que a ama, que a respeita, é uma sensação de futuro vibrante e pacífico. A arquitectura dos sentidos é aquela em que o Homem de hoje, na sua vida agitada, encontra um lugar de conforto. Num mundo de coisas falsas, sentimo-nos em casa nestes edifícios públicos. Ronchamp,1952, Corbusier Ronchamp está entre árvores ao longe, é um sítio sagrado onde as crianças não têm medo de brincar. Imagino sempre que foi um gigante que a construiu. A sua forma é resultado da ligação com o exterior e das viagens que Corbusier tinha feito ao Oriente. Percebi finalmente a curva como elemento com grande grau de concentração, que inclui, é um abraço invisível marcado pelos poros do reboco. Numa constante de vida de destruição era urgente reconstruir Ron-

champ como lugar de esperança e de sobrevivência. Nenhum lado é melhor que o outro. Entramos a Sul, por uma porta cheia de cor que se destaca; há coisas dentro das paredes: há confessionários, há janelas, orações e capelas; o mobiliário é pouco, como se as curvas e a luz chegassem; há a água-benta e o cuidado onde o peregrino poisa a mão; as estrelas na parede Este e o altar interior e exterior partilham a Nossa Senhora, é um espelho um do outro; o púlpito de betão sobressai na parede branca; a frecha entre a cobertura e as paredes faz que essa pareça flutuar; o chão respeita a inclinação do terreno. Viro-me para os cantos aqui estão as torres de luz que nos dão um sentido de individualidade - estamos sozinhos com a nossa fé, este altar é só meu. Concentro-me nesta luz que julgo descer pela parede curva abaixo; é um jogo de luzes que traz para este interior sombrio luz de todos os quadrantes que por isso vai dando um sentido de mudança de tempo ao edifício. Tudo tem um lugar devido e uma característica digna, cada elemento tem uma cor e um material específico: o betão da proa, o branco das paredes curvas, as cores cintilantes das janelas... Há um respeito pelos materiais e um entendimento profundo de quem sabe até onde se pode ir com eles - usar materiais novos de maneiras novas e interessantes é o que torna tudo isto singular. São elementos que reconhecemos mas que nos surpreendem pelo novo contexto. Há altares transformados em

janelas. O que mais queria ver era esta parede triangular a Sul onde acredito profundamente que cada janela recebe uma esperança de uma humanidade que sonha e reza e essa oração transforma-se em luz e cor numa caverna que marca os primórdios de uma humanidade. Não nos esquecemos de onde vimos e sonhamos para onde vamos. Não paro num sítio, exterior e interior incentivam ao caminhar do corpo - é uma igreja de peregrinos, recebe milhares de pessoas por isso o momento de pausa é o caminho. Trata-se de trabalhar com as coisas reais, os fenómenos, como o sol, a madeira, a pedra, a chuva, o frio, a paisagem, a terra, o céu, a água, etc. Sentimos o cuidado do desenho e por isso comovemo-nos. As pessoas sacrificaram-se para lá chegar, ela tem de ser o pote de ouro no fim do arco-íris. O objectivo foi cumprido. Será este o caminho do Modernismo? Num mundo de plásticos e edifícios transparentes, há lugares como estes que são oníricos e de abrigo. La Congiunta, Peter Markli, 1992 “Todos temos uma ideia de um espaço ideal e o podemos lembrar-nos de inúmeros espaços que uma vez nos deixaram uma impressão particular em nós, contudo quem é que consegue descrever exactamente o que foi que produziu essa sensação de espaço?” Herman Hertzberger, 2000 Há uma maneira de chegar às obras que são pensadas com este rigor; o arquitecto desenhou esse momento exacto - quando vemos aparecer a obra ao longe e fazemos o percurso

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até lá chegar. Por isso é necessário entender o lugar para onde se constrói, perceber que o que construímos pode e deve acrescentar algo mais aquele sítio e fazer parte dele. Ser funcional, dar prazer e ser confortável; deve ter segredos, activar a imaginação e fazer sonhar - são lugares da memória, nunca ali estivemos mas tem coisas que me lembram outras coisas e por isso estou comovida e sinto-me bem aqui. São edifícios que têm respeito pela comunidade onde estão. Se um ambiente for feito correctamente e coerente, tem um forte sentido de lugar, o que pode ajudar as pessoas que vivem e usam esse local a ter uma vida mais satisfatória e vibrante. Tenho as chaves de um museu perdido num vale numa aldeia em Ticino. É uma galeria para o artista Hans Josephsohn. Chamo-lhe monumento e templo. Não é mais que uma estilização de uma igreja românica e no entanto carrega em si um forte sensação de novidade e reconhecimento e por isso vemos que é urgente procurar nas coisas velhas - coisas novas - esticar as regras, usar as coisas de sempre de maneiras diferentes. Os materiais rudes e a forma geométrica simplificada lembram-me um trabalho de artesão; a entrada está em cima de uma vinha, a porta é de latão e bem alta, lembrando a porta de latão de casa da minha avó; há um diálogo entre artes, sem tirar à arquitectura o que é dela e sem tirar á arte o que é da arte - não se sabe onde começa um e acaba o outro ou qual foi feito primeiro influenciado ou influenciável; há uma


beleza inerente a funcionalidade de receber as obras expostas; a imagem da perspectiva deste eixo que define os três espaços que se desenvolvem neste mesmo eixo, o último ladeado por pequenos outros espaços. ladeado por pequenos outros espaços. As divisões pequenas como cantos e quartos de Bachelard - cantos de intimidade. São refúgios da imaginação. Noto a obsessão do arquitecto pela proporção e os princípios clássicos, a secção dourada, a distribuição de luz, o tratamento da superfície do betão. Isto é o que sentimos no corpo. O que percepciono e experiencio foi meticulosamente pensado por Markli. É uma sensação de passado, de ruína, de história. Não há luz, nem água nem ventilação, vale o tecto, parede e chão em qualquer outro artifício. O som, a reverberação que nos faz crer gritar, o eco que inclui e afasta a solidão. O betão é o mais tosco e a claraboia parece de um material velho e usado. O ferro está há muito oxidado e lembra-nos que o edifício está vivo e respira. São coisas rudes, que nos lembram o trabalho do artesão. Não há o bonito nem feio, nem decoração, nem excessos. O ser humano foi formatado para coisas perfeitas, mas não é isso que nasce connosco, nascemos com um lado poético e emocional que é confrontado sempre que vemos uma coisa feita com dedicação e emoção. Estou numa ruína num edifício contemporâneo, gosto da tensão que sinto aqui; quero descalçar-me e ser como o bailarino que percepciona e experiencia o espaço

sem o questionar sem reflectir; queria que o edifício fosse palco - levo a sensação de dança deste lugar. Com a minha experiência nestes sítios, tento comprovar que a emoção existe, que é possível comover e se fazer lugares melhores que se liguem ao Homem. Para chegar a uma arquitectura dos sentidos “É que a arquitectura, que é uma questão de emoção plástica, devem no seu próprio domínio começar no inicio também, e deve usar esses elementos que são capazes de afectar os nossos sentidos, e de recompensar o desejo ou os nossos olhos, e deve dispô-los de tal forma que ao avistá-los nos afecte imediatamente pela sua delicadeza ou brutalidade, a sua tensão ou serenidade, a sua indiferença ou interesse; esses elementos são plásticos, formas que os nossos olhos vêem claramente e que a nossa mente pode medir. Estas formas, elementares ou subtis, dóceis ou brutas, trabalham fisiologicamente nos nossos sentidos, e excita-os. Comovendo-nos, somos capazes de ir além das sensações mais cruas; certas relações nascem que trabalham sobre as nossas percepções e nos põe num estado de satisfação (…), em que o homem pode aplicar os seus dons de memória, de análise, de raciocínio e de criação.” Le Corbusier, 1985 O arquitecto deve responder a questões de linguagem de uma forma clara, como é que o meu corpo se relaciona com este tipo de espaço? O que é que

o edifício me diz? Como é que se entra? Como é que vou daqui para ali? Como é que paro? Como é que olho lá para fora? O que é que o edifício me deixa ser? Desenhamos acções, sem cairmos numa obsessão funcionalista nem num domínio exclusivamente estético. Quero acreditar que há em todos nós a capacidade de criar lugares para a vida que se adivinha. Que como Homens de hoje somos capazes de criar uma arquitectura que nos identifica e nos respeita, usando linguagens que conseguimos entender. Acredito que é preciso que as cidades tenham em si, casa oníricas, lugares públicos que nos deixem ter devaneios e nos incentivem à imaginação - como a sala de Kolumba (mais tarde ou mais cedo o mais frio dos homens comovese ou quer se comover). O que escrevo está longe de ser uma pretensão de revolucionar o que quer que seja ou de pôr em causa o que quer que seja. Trata-se de uma inquietação pessoal e do que vejo acontecer à minha volta. As pessoas para quem espero construir não sabem o que faço e o que podem esperar de mim e por isso é preciso estar consciente do impacto que é criar um lugar. Talvez não diga nada de novo, mas para mim a oportunidade de pensar nisto um ano inteiro, é de um valor incalculável para o meu futuro profissional. Tendo perfeita consciência da imutabilidade das coisas como emoções, percepções, experiencias, sensações, sei que falo de um plano da subjectividade que pode levantar inúmeras criticas e desacordos. Contudo, parece-me inegável a existência de

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uma poética em tudo o que homem faz, incluindo a arquitectura. Foi a oportunidade de recordar a uma humanidade citadina o valor da memória, dos lugares que guardamos do nosso passado que construem a nossa identidade e ao qual assemelhamos os lugares do presente e ansiamos construir num futuro. O terraço de casa da avó, o som dos passos do pavimento de madeira gasto, a parede de reboco húmido que vai caindo - resumindo, a história das nossas vidas é a história dos nossos lugares. Não é só uma questão de criar uma arquitectura que tenha em atenção o corpo, o homem também terá que saber usá-lo; apelar a um sentido mais desperto de quem vive a arquitectura, experiencia-la, estar atento, ter consciência dos passos que se dá, das coisas que se toca, dos sons que se ouvem, daquilo que se vê. O tempo é pouco e certamente deveria ter ficado por um só tema específico de tantos que trago aqui, mas este entusiasmo que tenho pela profissão levou-me a querer ir sempre mais longe, tão longe que ficou muita coisa por escrever e por explorar. A minha satisfação com o que encontrei é o que gerou fora dele: as perguntas que ficam no ar, a vontade de saber mais, o caminho a ser estudado, a oportunidade de ter feito duas viagens tão intensas e me ter confrontado comigo mesma e com o mundo que influenciarão de facto o meu modo de trabalhar. Não se trata de conclusões exactas e objectivas, mas do que fica ainda por saber e a potencialidade de uma outra investigação no futuro de uma preocupação que levo comigo.



Projectos Coisas acadĂŠmicas



Moradia e atelier Um lugar para um pintor

Uma casa é um lugar de refúgio do sonho e de intimidade, dizia Gaston Bachelard. Uma casa é a identidade de um Homem, o seu abrigo, a sua solidão e por isso só quando este habita é que é capaz de se identificar no mundo. Desenhar uma casa para alguém é por isso desenharlhe uma identidade. Desenhamos para aquela pessoa e por isso temos que saber dela, saber dos seus movimentos, dos seus sonhos, das suas esperanças, dos seus hábitos e mais do que tudo, é preciso adivinharlhe os passos e os tempos e saber que o que será construído será acima de tudo - casa. E não há nada mais poético do que a memória desta nem nada mais gratificante do que o Homem que abre a sua porta feliz

(2007) No âmbito da cadeira de Projecto III



Memória de um lugar para um pintor

Imagino um pintor que acabou por cair no sistema, casou e teve dois filhos - um rapaz e uma rapariga que terão entre 6 e 10 anos e por isso esta casa tem de ter três quartos e obrigatoriamente uma garagem com acesso ao interior (descrito no programa). Na verdade não me interessou muito perceber que família era esta, às vezes sentia até que este pintor vivia sozinho e aqueles outros quartos seriam espaços para ninguém. Apesar de ter escrito num programa a necessidade desta agregado de quatro pessoas, sei que nunca as imaginei filhos e esposa ou sequer outros. Imagino-os vazios sem saber bem porquê.

Regressemos ao que interessa. Este pintor na casa dos 40 anos acabou por herdar um terreno um pouco longe do centro de Coimbra e escolheu fazer o seu atelier ali mesmo e a sua casa. Estava a primeira questão levantada: o que seria este edifício? Uma casa dentro de um atelier ou um atelier dentro de um casa? Definir coisas básicas como que raio de pessoa seria este pintor, como gosta ele de chegar às coisas, de descansar, de pintar; se gosta de olhar pelas janelas muito tempo; se gosto do escuro ou prefere luz; se lhe apetece o exterior ou se prefere resguardar-se; se gosta de andar vestido ou nu; onde gosta de comer, de dormir; se lhe agradam escadas e corredores; etc.. Não me julguem, como se estes passos fossem ditatoriais de um desenho que o próprio cliente acabará por definir, o que retiro disto são sensações de vivência e principalmente perceber que estes passos não se devem mais do que às memórias que este pintor tem de uma casa, e são essas memórias que gosto de manter e que acredito que o vão fazer sentir-se em “casa”. Sabia que me apeteciam os jardins, a intimidade e os pátios. Sempre gostei de pátios, de estar rodeada de paredes sem tecto. Chamo-lhes lugares de conforto e segurança. O desenho do terreno fez-me acreditar num edifício que se desenvolvesse encosta abaixo, dividindo claramente o atelier da habitação (sendo que esse fará sempre parte da função de habitar). Estava assumido que se iria

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trabalhar sob a sensação de se pintar em casa mas sendo sempre preciso ir ao exterior, como se de repente aquele pátio fosse o momento neutro, um entretanto, entre um lado e o outro. Imagino telas demasiado grandes e um chão sujo de tintas. Há muito que tinha imaginado este boomerang de xisto ( chamo-lhe antes de armarchitecture, como qual braço do pintor, o seu atelier torna-se uma extensão de si mesmo e entranhase). Queria que tivesse um ar sólido e de muro que protege e alegrava-me a textura conseguida. Para que não de destrua este muro resolve-se a luz para o atelier através de claraboias estreitas e longas. Este pintor não queria ver além de si mesmo, estima a sua solidão e a sua intimidade. Desci as claraboias e fiz delas rasgos na parede produzindo um ritmo de luz onde ele se pudesse esconder. A história repete-se na habitação. Mais tarde percebi que estas janelas seriam estreitas demais para que o edifício funcionasse bem. Mas foi tarde demais. Contudo, alegram-me estes rasgos que imagino serem pontos fortes de quem quer por momentos olhar uma luz poética que lhe entra por casa/atelier a dentro. As grandes janelas abrem-se por dentro e no topo da habitação e a intimidade é a todo o custo mantida. O que eu queria era que esta casa fosse muro, com tudo o que isso significa. Resta-me esperar que para este pintor, tudo isto seja mais que uma casa, seja mais que um atelier, seja um lugar de refúgio e de criação.


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COR TE B

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CORTE A A’

CORTE B B’

ALÇADO SUL

ALÇADO NORTE

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Habitação Colectiva

Uma velha forma de habitar a Solum Ficou-me uma imagem de há uns tempos que havia visto numa qualquer revista. A imagem mostrava umas quantas crianças a correrem numa varanda. Dessa imagem, de repente atrás das crianças via perfeitamente uma mãe preocupada pela janela da cozinha; no apartamento ao lado, dois velhos partilhavam uma mesa de jardim e riam-se da vida; a vizinha do andar de cima chegava cheia de compras pelas escadas e é subitamente atropelada pelas crianças; um grupo de jovens sobe ao terraço enquanto fazem quase o elevador parar; numa outra ponta desta varanda há um homem que observa tudo e não gosta muito de sair de casa; o gato passa aqui praticamente os seus dias e é alvo da atenção da senhora já velha que rega as plantas de rolos na cabeça. Chamemos-lhe a varanda bairrista. A mim, sempre me irritou os prédios perderem a mais simples básica função que haviam de cumprir: habitar. Não falo do habitar prático e funcional, falo do emocional, do ser lar, de ser um canto de intimidade e refúgio. Comecei por aqui. Trazer a este canto de Coimbra uma nova esperança de um habitar bairrista era uma ordem a cumprir. Tinha na ponta da Bic já o desenho exacto desta varanda, como um elemento à parte que se encaixa numa estrutura de comodidade. Como se fosse mais uma camada da vida, a parte social que falta à casa - a vizinhança.

(2007) No âmbito da cadeira de Projecto III



Memória de um edifício galeira

Para mim sempre foi bastante claro o trabalho com módulos construtivos e o repensar exaustivo numa economia da construção e de materiais, mas nunca em deterioramento da qualidade do lugar, até porque penso que tudo tem uma razão de ser, e por isso mesmo , a melhor solução construtiva seria neste caso a melhor espacialmente. Há uns bons 20 anos que vivo na Solum, zona nova da velha cidade de Coimbra, por ela se constroem estádios, centros comerciais, habitações ditas luxuosas sem varandas, piscinas e pavilhões multiusos, parques infantis sem sombras, rotundas com bancos e lagos e casas e mais casas para ninguém. A Solum está cheia de coisas e vazia de pessoas. Há um espaço vazio entre o comboio que chega à Lousã e o último complexo habitacional construído. É um vazio que já se encheu

de sonhos de escolas, mercados, piscinas, campos de jogos, El corte inglês, etc. No 3º ano de um curso de arquitectura, decidiram enchê-lo de mais habitação. Como construir um programa sobrelotado num lugar cheio de casas vazias? Como construir por desculpa um lugar que relembre a época áurea da Solum onde as crianças brincavam na rua, os velhos liam no jardim e os pais chamavam os filhos da janela e iam a pé ao café? Não se começa uma obra com drama. O segredo é o sítio, sempre foi mas nesta cultura de super máquinas numa atitude de se querer avançar sempre mais do que o tempo, esquecemo-nos que há coisas que foram sempre fundamentais na arquitectura. A arquitectura vai ter sempre um lugar, este é o meu, onde vivo há mais de 20 anos. Um lugar que estudei cuidadosamente com os sentidos e o corpo. Sei bem o que precisa, tento dar-lhe o que precisa e mais um pouco de mim. Vou montar uma composição de vidas alinhadas e sobrepostas num terreno plano, sem coisas caóticas, simplificar a vida de um tipo de pessoas que acorda e se deita a trabalhar, vou dar-lhes tempo, sossego e espaço para a vida acontecer. A galeria é a atmosfera que sonhei no início, é o sentimento que se encaixa à caixa da intimidade, o limite do interior/exterior, do social e do privado. Esta galeria leva-nos a casa, à rua, aos elevadores, às escadas, às lojas, à vida exterior. A galeria é rua, é um espaço percorrível e de estar, é o sítio exacto para a criança que anda

de bicicleta enquanto espera pelo jantar ou os velhos que apanham sol de manhã ou os jovens que fumam um cigarro. Interessa-me que esta rua seja apropriada, que traga um sentimento de pausa de um dia agitado. Esta é a experiencia que tenho dos prédios com galerias - a de ter sempre uma sensação de descanso. No horizonte, na linha do olhar, as lojas rematam um espaço de lazer minimal - são planos que preenchem a vista e a vida. A laje - o chão que pisamos - o contacto com o terreno é o que sobressai, é o que vai dando escala e grita: eu sou o chão. Começo pelo início. A garagem tímida desce para debaixo da terra, o piso zero liberta-se da exigência das regras e os pilares vão rematando essa liberdade do chão, vão limitando o vazio. É a vontade de uma planta miesiana, sabendo porém que são espaços encharcados de ar-condicionado e disposição funcional livre, mas apeteceme a potencialidade de um espaço rematado por planos de vidro, de parede que organiza outros tantos espaços livres limitados por courettes. Esta galeria é feita de ferro, dando-lhe um carácter efémero, como um acrescento à vida. Faço uso do excesso da regra, como se a regra simples simplificasse também a vida. Se tudo bater certo ela acontece naturalmente entre os pilares e as paredes. Não sei se Deus está nos detalhes ou se menos é mais, mas sei que coisas simples dão origem a outras coisas simples. Falo da importância da construção e do cuidado do pormenor:

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a meticulosa escolha dos caixilhos; o significado da janelas, a janela pequena versus a janela grande; o cuidado dos painéis desenhados especificamente para aqui, para esta luz, para esta casa, para este sítio; os remates dos cantos; o desenho dos pilares do chão; os painéis laminados em fole, os encaixes da galeria; a laje nos alçados e no chão ou se menos é mais, mas sei que coisas simples dão origem a outras coisas simples. Falo da importância da construção e do cuidado do pormenor: a meticulosa escolha dos caixilhos; o significado da janelas, a janela pequena versus a janela grande; o cuidado dos painéis desenhados especificamente para aqui, para esta luz, para esta casa, para este sítio; os remates dos cantos; o desenho dos pilares do chão; os painéis laminados em fole, os encaixes da galeria; a laje nos alçados e no chão; o recúo dos vidros para o encaixe perfeito dos caixilhos de ferro; o espaço que o revestimento metálico deixa para as tubagens caírem na terra. Manter simples, manter-me simples, sem exuberâncias sem páginas de teorias e desenhos tridimensionais, com o sonho desta galeria e desta casa simples modular. A repetição económica e funcional foi o entusiasmo de quem fez copy e mirrors que significam qualquer coisa. A criação da regra simplificadora e por fim limpa de excessos. Fica-me a sensação de que o ferro é o elemento-chave: resolve a luz, quebra a rigidez da implantação e do desenho, provoca sombras, resolve o vazio, o cheio, a luz nascente e poente e dá lugar à sensação bairrista.


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PISO -1 | GARAGEM

PISO 0 | LOJAS

MÓDULO

Edifício 1

Edifício 2 portfolio coisas académicas | edifício galeria | plantas


SECTION A A’

SECTION B B’

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Escola de Arquitectura Complemento do Colégio das Artes de Coimbra Nenhum arquitecto deveria desenhar a sua própria casa. Perde-se a liberdade e percebe-se que nós, teimosos compulsivos, numa enchente de reclamações sobre as limitações dos clientes. Nós, coitados de nós, somos mais prisão que cadeira, mais ditadores que as leis e damos connosco quadrados ao limite, à impossibilidade, tal é tanta a ideia, tal é tanto o pensar “ na nossa escola”. O desenho não pode falhar e o material não pode ser “basic” nem de imitações, e claro está, o dinheiro não chega para tudo. Não há pior cliente que nós mesmos. Portanto, fica aqui dito, que nenhum arquitecto deveria desenhar a sua própria casa. Vamos ao que interessa. Pergunto-me nestes dias qual o preço a pagar por este projecto... É tão cedo e já me apertam os calos, já me dói a cabeça, já não como, já não durmo. é cedo demais digo eu. Talvez este seja daqueles projectos que dói no início mas se acalma no fim. O que me inquieta é a ânsia pelo futuro. A torre é estúpida. Ninguém quer saber de memórias de torres medievais e sensações de massa e vislumbres da cidade. Mas a verdade é que cada vez que a desenho ela parece ter encontrado o seu lugar. Ela faz falta, e vejo-a lá, exactamente ali. Mas a torre continua a ser estúpida. A intuição vale o que vale. Pronto, o meu projecto é uma torre. (2009) No âmbito da cadeira de Projecto IV



Memória de uma Escola de Arquitectura

“Eu sou tal como me vês, e daqui faço parte” (Peter Zumthor, “Pensar a arquitectura”) Foi onde quis chegar desde o início. Olhar de longe esta torre e perceber

que estava bem. Hoje não me remeto à simplicidade de uma memória que se quer directa e concreta e objectiva e todas essas coisas formais e distintas que cativam profissionalmente alguém. Hoje, tomo a liberdade de respirar e sentir que é a última. Começa a chegar ao fim a vida dos projectos agarrados ao papel. Hoje tomo a liberdade de contar as memórias desta escola. Ponto de partida | A ideia de uma escola de arquitectura. Desta vez é mais que um projecto no papel, é a oportunidade de fazer escola, de criar um projecto habitado por nós e para nós, é a resolução das críticas a que fomos submetendo este já gasto e velho Darq.“Uma imagem desfocada, talvez uma torre medieval, enquanto subia a ladeira”. As intuições são isso mesmo: intuições. Acredito, que não nascem do acaso. Os primeiros desenhos são preenchidos com isto, com o desejo inicial que o projecto criou em mim. São certamente produto da memória e do que experienciei, do que sei da Alta, do que foi, do que sempre pensei que seria, da sua história, do seu percurso. A torre fazia sentido. Fazia sentido na história da Alta, nos seus acrescentos, nos seus novos espaços construídos pelo tempo e necessidade. Fazia sentido a massa da torre medieval, maciça, compacta, sólida, coerente, com uma posição estratégica, bem demarcada, como ponto de referência na cidade, como ponto de observação da cidade, de inspiração. Implantação | A dificuldade de implan-

tação resolveu-se por si só, sem demoras, sem atrasos, sem conflitos. Aconteceu. Julgo eu agora que a torre quando me apareceu já estava resolvida por si só, eu era mera intermediária, (se é que há projectos que acontecem, e se resolvem por si mesmos) isto querendo acreditar que a torre se resolveu. O que é uma escola de arquitectura? O que é que eu quero que seja a minha escola de arquitectura? Como é que se inventa uma escola depois de cinco anos neste claustro? A vontade de roubar esta atmosfera é maior que todo o resto, portanto, os espaços querem-se livres e quer-se privilegiar os espaços de estar. É assim que se aprende arquitectura, num espaço comunitário, onde as pessoas se cruzam regularmente e comunicam, um espaço que por ser livre, dá liberdade e reclama liberdade. Assumo a tensão. Posiciono este corpo novo num lugar de tensão com o antigo e limito-o. Limito-lhe a altura e a largura. Limito-lhe ainda a cor. “Foi da intuição”, respondo eu. Materialidade | A torre é de betão branco à vista pelo interior e exterior. Sei o risco de ter betão também pelo interior (saber bem não sei, senão não o teria feito). Procuro a construção destas paredes contínuas grossas. Recorro à laje mista com estrutura à vista e acentua-se a ideia de torre, o vazio da torre, as lajes que parecem quase temporárias. Parecem. Estava definido o sistema construtivo. Restava-me a angústia da organização do programa, não que não estivesse inerente até agora,

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porque esteve, mas porque queria crer que se iria resolver como tudo até então, de uma forma clara, lógica e imediata. Não que ache que os projectos se resolvem assim, de forma tão clara e imediata, porque acho e acredito hoje passado um ano, que o sofrimento está e deve estar inerente ao acto de projectar. Mas estando certa, que há dramas a evitar e que contudo, um projecto pode e terá talvez, sempre alturas de angústias, mas se for certo, se for capaz e coerente, estou certa que o prazer que dará na sua resolução compensará esse sofrimento. Programa | “Não cabe nada”. Ponho as mãos à cabeça e grito: “não cabe nada! Eu já devia saber que não cabia nada.” Saio para respirar fundo, volto, sento-me ao estirador e convenço-me:” Há-de caber.” Recuso o programa. Peço desculpa, a torre recusa o programa. Passo um risco por cima da desorientação e vazio que me deu a meio do processo. Limpo a cabeça e concentro-me no meu bloco de esquiços. Concentro-me. Há um desenho que faço repetidamente, distraída, despreocupada, é o que faço para explicar a alguém o meu projecto ou simplesmente quando estou bloqueada. Os três espaços.“São só limitações, se mexo aqui, muda ali, se ponho aqui, já não dá! Mas porque é que eu fiz uma torre?!” Se cedo pensei que não seria tão penoso resolver a torre porque havia cedo também definido inúmeras coisas, apercebi me rapidamente que isso não eram mais que limitações,


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imposições a mim própria que imposições a mim própria que me levaram tantas vezes à angústia. A altura igual à do Darq, os 20 metros de largura (que mais tarde cederam para os 21), as três entradas que faziam querer que a torre nascera exactamente ali, naquele sitio… Tornei-me eu própria prisioneira das minha regras e limitações, limitei cedo um projecto que queria que fosse livre, e deixasse ser livre. “Se quer ser livre, deixai-o ser. A torre liberta-se. Decido-me por átrios trocados, quero apropriar-me do chão, da terra que vai abraçar a minha torre, quero fazer de conta que ela esteve sempre aqui. Três entradas distintas, átrios distintos. As minhas limitações são no fundo a minha liberdade.” Três espaços: programa, átrio, serviços. Abandono todos os ruídos e remeto-me ao silêncio, apago o barulho de todas as coisas que percebo agora não interessarem e concentro-me neste desenho. Sei que esta zona de serviços tem de ser escura, nela existem as casas de banho, as escadas de acesso e emergência e o elevador monta-cargas, é uma zona toda ela corta-fogo. Tem de ser escura. Tem de ser mas não para se esconder, mas para revelar a luminosidade daquele interior mais à frente branco. O átrio, é o espaço mais livre, sem o programa de cada piso, um espaço com área suficientemente grande para ser o que quisessem que ele fosse. Para um puff no chão, um estirador farto da sala, uma discussão entre alunos, uma exposição de trabalhos, uma con-

versa da Nu…. O que fizessem dele. Resta o espaço do programa propriamente dito, que aqui divergia três vezes. Salas de projecto, salas de aula e a cafetaria. No piso das salas de projecto funcionam também os gabinetes, por cima do átrio, que olocados estrategicamente servem ainda para dar escala a esse. Sentidos | Quer-se que os sentidos funcionem. Apelo ao sentido do corpo, à experiência sensorial, de fisicamente e sensorialmente percebermos que os espaços são diferentes, que se querem diferentes porque albergam acções diferentes. Este apelo aos sentidos faz-se pela métrica definida e estruturante do projecto, pelos diferentes pésdireitos e pela luz e sombra. Desde a passagem do Darq pela galeria à torre, até à passagem dos átrios às salas de projecto. O corpo sente o espaço. Eu espero que o corpo sinta o espaço. O elevador panorâmico que nos transporta transmite visualmente o que o corpo quer experimentar, reforça a vontade. Percebe-se o edifício, namora-se a torre. Sobe-se à cobertura e admira-se a paisagem. O edifício quer dar inspiração, liberdade. O edifício que quer ser palco de momentos e experiências e criar memórias. Não se trata de dar à Escola de Coimbra um ícone da sua arquitectura, até porque julgo não o termos, temos sim a liberdade da criar boas arquitecturas, independentemente do resto. Trata-se de criar um ambiente livre de preconceitos e neutro o suficiente para permitir a criação de outras obras. A respon-

sabilidade de dar abrigo a futuros estudantes, acresce, a torre não quer ser modelo, não quer ser guia de nada, que ser isso mesmo, abrigo. Quer dar liberdade e invocar aquilo que eu acredito ser verdade na arquitectura: o sítio, a envolvente, as pessoas, a materialidade, a construção, a vida Construcção | Definidos os traços da planta, regressa-se à construção e resolve-se a ausência de pilares e ao mesmo tempo o que seriam as paredes divisórias das salas de projecto, com vigas de treliça. Estas vigas vão ser extremamente importantes no avanço do projecto. Os átrios mexem-se e afastam-se das paredes, a torre ganha mais liberdade e dinamismo sendo possível perceber sempre o que se passa na sua extensão. As vigas definem os limites dos envidraçados das salas de projecto, definem a parede e aberturas das salas de aula e definem a abertura da cafetaria para o átrio. A cobertura rasga-se com uma clarabóia que mantém a ideia tripartida da planta, clarabóia esta, que rezo para que inunde de luz todo o espaço de átrio da torre. Os vãos nascem da necessidade do espaço. Na torre menos é mais: poucas janelas, as suficientes para cumprir térmica e ventilação. Manter a torre construtivamente simples foi sempre um objectivo, as janelas são todas do mesmo tamanho, as do átrio andam à face, espelham a paisagem, e as restantes andam recuadas para concretizar sombras e serem quadros da paisagem no interior. A me-

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dida foi definida pelo que era comum a todos os pisos, os 4 metros, tirando as salas de aulas que pelo programa não necessitariam de tanta luz. Criaram-se estes quadrados de 4 m por 4m, com caixilharia de alumínio, com elevada expressão. A cafetaria é um espaço completamente aberto que invade o átrio por ter o mesmo a carácter. Aqui, encaixa a secretaria e o balcão de atendimento, uma cozinha, um balcão de cafetaria, um espaço de reprografia, livraria e papelaria e um espaço de computadores. Este é o lugar de contacto com o exterior por excelência, é o sítio dotado de varanda interna e de ligação com o Darq pela galeria de treliça. As salas de aula estão num espaço único dividido por portadas, que permite a criação de uma, duas ou três salas. Foi desenhada com um aumento da grossura da sua parede de ligação com o átrio para reforçar a sua ideia de sala fechada e de modo a permitir o encaixe das portadas quando fechadas. Também o seu pé direito (3 metros) contribui para que o corpo sinta que o espaço é mais comprimido, também este é um piso de ligação com o Darq. Tudo no desenho serviu para realçar esta conquista dos três espaços, da mutabilidade dos átrios e da experiencia sensorial do corpo. Chego ao fim cansada, com pesadas noites de angústia, mas segura. A paixão foi igual à terrível sensação de desespero. Chego ao fim, e penso: a torre está bem.


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PERFIL 2

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CORTE CONSTRUTIVO CORTE B B’


PISO 2 | 95,20

CORTE C C’ PISO 1 | 92,30


CAIXILHO DE ALUMÍNIO (SCHUCCO)


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Centro Cultural v Praze SKLAD

A primeira vez que fui a este sítio, ficou-me dele estes velhos edifícios que serviam como uma espécie de muro desta pequena península onde me apetecia gozar o rio parado. Ficou-me este tamanho longo dos conjunto dos velhos armazéns e o seu cheiro, ficou-me ainda a quantidade de árvores e mato em seu redor. Era como que um lugar secreto na cidade. Como um daqueles armazéns que encontramos num passeio de aventuras com amigos quando somos pequenos que imaginamos inúmeras histórias.

(2009) No âmbito da cadeira de Projecto V em Praga, Républica Checa



Memória de um lugar para ficar

Começa assim, com os sentidos. A inspiração é uma coisa que nasce do lugar e por isto tomo atenção a todas estas coisas que ficaram depois da visita. Vou ao lugar muitas vezes, e fico por ali a imaginar umas quantas opções e visões. Chamo-lhe a intuição do lugar, do programa, da forma, da atmosfera. O quer quero dizer com o meu edifício? O que quero que ele seja para esta cidade? Para estas pessoas? Começo com o material. Quero que ele envelheça e preserve esta coisa gasta e usada que este lugar tem. Sei que repetidamente nos desenhos me sai um objecto longo e por isso sei que me vem à cabeça uma materialidade permeável e transparente. Vem me o

cheiro da madeira que preserva este ar de mato e floresta que acontece em redor. A madeira é um material que tem a capacidade de nos fazer sentir confortáveis e quentes. Pego num desenho de estacaria de madeira fina que deixe entrar a luz e faço com ele um objecto inspirado nos armazéns (sklad em checo) perdidos por ali. É um desenho simples e lógico que vai aparecendo de uma forma pacífica. Deixa de ser uma ideia de armazém para se tornar uma ideia de luz e percurso. Este edifício demasiado longo torna-se um lugar de luz e sombras, de entradas e saídas, de caixas dentro de caixas, de momentos de surpresa de encerramento e abertura, de vistas e de estar . Um lugar que deixa o corpo mover-se e que lhe vai provocando tantas e tão diferentes sensações. Há lugares dentro deste lugar, é uma tensão criada pelo diferente uso da madeira. Por fora o invólucro maior é construído de uma estacaria velha, com idade e uso, enquanto as caixas interiores são feitas de uma estacaria tratada, clara e vidro entre ela para que se feche e cumpra bem as funções que alberga. O que sonho é criar um lugar para se estar, para se ficar um dia inteiro quem sabe. Um lugar de descanso e tranquilidade. Praga está cheia de turistas, este não é um lugar para eles. É um lugar para quem vive nesta cidade, um lugar para quem quer por momentos sair do caos. Por causa do tempo, foi-nos pedido que resguardassemos os visitantes da chuva e da neve, por isso mesmo o parque de estacionamento é interior

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e o primeiro ponto deste lugar. Entramos neste primeiro bloco e paramos o carro. Para quem vem de metro ou a pé percorremos dentro do edifício entre o invólucro e esta primeira caixa, ou por fora. Estes espaços corredores, são espaços de percurso para a frente, para trás e para cima. Neles há elevadores, rampas e escadas ou simples corredores direitos de acesso a outros lugares. No topo deste primeiro são escritórios iluminados por pátios interiores e vãos abertos neste bloco que trespassa a sua protecção. Mais à frente está o centro , uma espécie de praça, átrio para onde dão os programas colectivos deste centro cultural. As lojas, a livraria. Do lado esquerdo está a recepção , a cafetaria e o restaurante estrategicamente colocado no bloco que está metade fora, metade dentro, que permite funcionar mesmo quando o centro está fechado. À sua frente, do lado oposto, poisado no rio está a galeria. No último bloco, está a bilheteira e o bengaleiro, os camarins, a casa de banho, a biblioteca e a sala de crianças que tem entrada pelo fundo do terreno , pelo exterior. Do lado direito desta caixa, está o acesso ao auditório. Este auditório está rematado nos seus topos por zonas de relax. É um programa para todos e para qualquer um. Não se trata de desenha rum lugar bonito de madeira, trata-se de desenhar diferentes sensações que um lugar secreto pode dar. É um lugar onde o tempo pára e boas coisas acontecem. É um lugar para ficar.


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EAST ELEVATION

WEST ELEVATION

NORTH ELEVATION

SECTION B B’

SOUTH ELEVATION

SECTION C C’

SECTION A A’

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PISO ZERO

PISO UM

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Urbanismo v Praze THE STRIP

Há um ano já havia feito um pequeno plano estratégico para a Alta de Coimbra, mas esse lugar conhecia-o eu bem e já há muito que tinha ideias concretas e tinha um ano para o fazer e um grupo. Aqui, sou só eu e 4 meses numa cidade em que vivo há pouco mais de 6 meses e num lugar onde não vou, porque não há nada para fazer ali. Começa assim então a minha primeira motivação, como tornar este lugar apetecível e útil à cidade?

(2010) No âmbito da cadeira de Projecto V em Praga, Républica Checa, Atelier Krátky


Memória de um novo plano para Invalidovna

Fazer urbanismo parece-me sempre uma tarefa demasiado utópica. Como podemos prever que mais que algumas centenas ou milhares de pessoas se organizem no que desenhamos? Como podemos ter a certeza que o que fazemos vai de certo facilitar a vida já por si caótica? Que vamos conseguir suavizar esse caos e dar tranquilidade a uma vida agitada e desorganizada? (Isto, acreditando eu profundamente que é para isso que se faz urbanismo). Eu que sou pessoa de detalhe e de cuidado minucioso, começo sempre com um certo receio destas escalas cheias de zeros onde edifícios gigantes parecem formigas. Contudo, a ideia de poder dar vida a um lugar na cidade e de tornar a vida um pouco melhor é o que me faz perder noites a ver a cidade mexer-se e tentar adivinhar como pode ela mexer-se e crescer melhor. Há um lugar em Praga inundado de edifícios novos onde antes no ano 2000 tinha sido inundado por água. É um lugar perto do rio Vltava , de estações de metro, de casas históricas

museus militares, escolas, escritórios e mais escritórios. Invalidovna está cheio de pessoas que não têm para onde ir nem o que fazer fora de horas. É preciso habitação nova, zonas de lazer e comércio para que este sítio não fique vazio depois do horário laboral. Este lugar tão perto do centro, tão perto do rio, precisa de dar vontade de vir. Seguindo o conceito de “Strip”, queria-se criar um ritmo de programas ao longo deste caminho. Cada parcela do terreno tem a sua tipologia própria e necessária criando assim uma específica atmosfera para cada lugar. O acesso para o outro lado (pedido no programa) é feito por um momento cenográfico, um vão abre-se sobre o muro que vai conferindo interioridade a esta praça que se constrói em frente ao novo mercado que imaginei. Uma escadaria sobe o muro até a um viaduto que nos coloca mais perto do rio. Mas se há um sítio elevado também há um sitio subterrâneo, um túnel suficientemente largo para não ser claustrofóbico, um túnel que atravessa a correria da estrada demasiado rápida adjacente ao lugar. O betão branco desenha o chão e os edifícios, fazendo uma imagem conjunta, criando uma linha guiadora para o plano urbano. Os pisos do chão dos edifícios de habitação abrem-se para estas áreas novas formando uma continuidade de programa de lazer mas com mais intimidade, onde se imaginam crianças num dia de chuva ou num dia de sol muito forte. À frente a monumen-

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tal escadaria faz-nos chegar à praça referida onde o Mercado faz reunir aos fins-de-semana inúmeras quantidades de gente e onde por vezes à noite se fazem destas escadas um auditório ao ar livre. Este mercado não é um mercado com comida no chão e barulhos perturbadores, é um lugar inspirado nos mercados de natal e de páscoa deste lado do mundo. Em Praga, vendem-se coisas feitas à mão e comida feita em barraquinhas que cheiram a Leste. As pessoas não se fecham em centros comerciais e não têm medo da neve. Este mercado tenta ser um lugar assim, meio fechado, meio aberto inspirado numa viagem que tinha feito há pouco tempo à Polónia e dos seus mercados que tanto me deram vontade de roubar num desenho. Atravessamos impiedosamente o mercado e a rua e chegamos a um ponto desportivo que tanto faz falta em Praga. Grandes parques e campos de jogos, complexos de Squash, ginásio e piscinas. Atravessamos a rua e apanhamos o metro e esperamos que Invalidovna se torne num ponto de paragem. Este conceito de Strip, permite a criação de espaços de relax, de lazer suficientemente dinâmicos e flexíveis. Habitação, galerias, campos de jogos, mercado, praça, parques infantis, áreas verdes, passeios lentos, momentos cenográficos, travessias, movimento e pausa. Betão branco, água, relva, árvores, madeira, vidro - a Strip. Um novo plano para Invalidovna, uma vida para este lugar.


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Concursos Coisas desafiantes


Go Architecture Em parceria com Daniel Bento e Rui VĂ­tor Baltazar

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Desenhos Coisas que tentei perceber


Desenhos coisas que tentei perceber


Desenhos coisas que tentei perceber



Fotografias Coisas que visitei


(coisas que visitei) Capela de Ronchamp, Le Corbusier Fotografia por GM 2011


(coias que visitei) Ronchamp, Franรงa, Le Corbusier Fotografia por GM 2011


(coisas que visitei) Kolumba Museum, Peter Zumthor Fotografia por GM 2011


(Coisas que visitei) Museu Kolumba, Alemanha, Peter Zumthor Fotografia da autora 2011


(coisas que visitei) Bruder Klaus, Alemanha, Peter Zumthor Fotografia da autora 2011


(coisas que visitei) La Congiunta, Suiรงa, Peter Markli Fotografia da autora 2011



“Nevertheless there does exist this thing called ARCHITECTURE, an admirable thing, the loveliest of all. A product of happy peoples and a thing which in itself produces happy peoples.� Le Corbusier, 1985


GM


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