Guilherme Henrique de Almeida Orlandin
FAU-RP o edifício como extensão da cidade Trabalho Final de Curso
apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Moura Lacerda, como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Arquitetura e Urbanismo, sob orientação da Prof. Me. Regina Lúcia Angelini
Ribeirão Preto 2017
Agradecimentos A minha família, por tudo. A minha orientadora Regina, por todas as assessorias e por me guiar no desenvolvimento do trabalho, sempre em busca do melhor. Ao professor Onésimo pelas dicas e orientações durante as bancas de aconselhamento. A Leticia, Thaline, Mariana, Vanessa, Vitor, Leonardo e Renê. Vocês fizeram esses cinco anos complicadíssimos valerem a pena. A Janaina, pelas dicas na diagramação do trabalho.
“They say we are what we are, but we don’t have to be” Immortals - Fall Out Boy
Justificativa Bruno Ferraz, importante arquiteto brasileiro e sócio do escritório B’Ferraz Arquitetura, em entrevista para o porta do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil, diz que produção arquitetônica brasileira passa por uma crise e, apesar de ainda ter destaque, vem perdendo espaço na arquitetura mundial e sulamericana. Os porquês dessa crise são vários: a grande influência que a iniciativa privada tem sobre as cidades, a politização nas decisões também sobre a cidade, a mercantilização do arquiteto e a espetacularização da arquitetura estão entre elas. Mas talvez uma grande parcela dessa crise venha do ensino da arquitetura e urbanismo, onde este se encontra cada vez mais defasado devido à tendência de crescimento desordenado na criação de novas escolas de arquitetura. O ditado já é conhecido há muito tempo. Quantidade não é sinônimo de qualidade. Assim, a oportunidade de criar o projeto de uma faculdade exclusiva de arquitetura e urbanismo e poder melhorar a qualidade arquitetônica de nossas cidades e nossos edifícios, é um grande desafio. Pretende-se mostrar que os espaços de ensino não precisam ser sempre enrijecidos, lineares e sem graça. Podem ser dinâmicos, flexíveis e interdisciplinares, provocando e incentivando a discussão e o ensino, e consequentemente a melhora na arquitetura e do urbanismo em Ribeirão Preto.
Introdução Transmitir conhecimento é a forma mais importante para se gerar conhecimento. Desde os primeiros homens inteligentes, ensinar e transmitir o que se sabia foi a maneira mais eficiente para garantir a sobrevivência e o desenvolvimento do homem. Durante a Grécia Clássica, os grandes mestres já reuniam os homens e crianças e transmitiam seu saber. Segundo Jaeger: “Conhecida como Paideia, a educação grega buscava a completude, a excelência e o alcance máximo das potencialidades do homem”. Jearger, W. 2001. Paideia. São Paulo, Brasil. Revista História Ilustrada da Grécia Antiga. Editora Martins Fontes Até hoje, mesmo com o advento dos equipamentos, o ensino sempre foi e sempre será o modo mais comum, fácil e importante de transmitir o conhecimento. O ensino da arquitetura e urbanismo vem se alterando com o passar do tempo. Vitrúvio, desde a Renascença, já considerava a importância de se passar o conhecimento quando publicou seus tratados. Seja por meio de livros, tratados ou por meio do ensino convencional na área acadêmica, grandes arquitetos e urbanistas vem contribuindo na difusão do conhecimento. A responsabilidade na transmissão desse conhecimento é grande, uma vez que a arquitetura e o urbanismo tem uma influência gritante na vida das pessoas, mesmo que esses passem despercebidos por grande parte delas. O Brasil possui grandes escolas de arquitetura e urbanismo. Seja dentro da FAUUSP, seja na belíssima paisagem que os alunos da FAU/UFRJ tem da Ilha do Fundão, ou até mesmo no prédio improvisado ocupado pela Escola da Cidade no centro de São Paulo, é nítido que o espaço onde essas são inseridas influencia na qualidade do ensino ministrado. Assim, o presente trabalho tem como objetivo geral desenvolver um projeto para uma faculdade de Arquitetura e Urbanismo em Ribeirão Preto. São objetos deste projeto também: - promover a valorização da região central de Ribeirão Preto por meio do projeto, bem como do entorno imediato do novo edifício; - apresentar a ideia do edifício como uma “extensão” da cidade; - Informar os dados gerais dos cursos de arquitetura e urbanismo das instituições de ensino superior da cidade de Ribeirão Preto;
A discussão sobre o ensino da arquitetura e do urbanismo e o local onde este é transmitido é válida, pois é o lá que os possíveis influenciadores da dinâmica urbana da cidade em um futuro próximo serão formados. Um espaço de qualidade propicia um conhecimento de qualidade, e consequentemente um ambiente urbano melhor.
Sumário O ensino de 1.Arquitetura e Urbanismo 1.1. Um panorama geral do ensino da Arquitetura e Urbanismo no mundo............................................... 10 1.2. Histórico do ensino de Arquitetura e Urbanismo no Brasil................................................................... 14 1.3. O ensino da arquitetura e urbanismo no Brasil nos dias atuais............................................................ 16 1.4. O ensino de arquitetura e urbanismo em Ribeirão Preto.......................................................................25
O projeto 2.arquitetônico 2.1. O local escolhido....................................................... 30 2.2. O patrimônio histórico do local ................................ 32 2.3. Levantamentos urbanísticos e legislação..................... 35 2.4. Programa de necessidades........................................ 36 2.5. Leituras projetuais de referência................................. 37 2.6. Primeiras intenções, croquis e maquetes..................... 44 2.7. O projeto.................................................................. 46
Conclusão 3.
............................................. 63
Referências 4.bibliográficas
65 ............................................
O ensino 1.Arquitetura e
de e Urbanismo “A crise no ensino de arquitetura ou de suas estratégias para aprendizagem do nosso ofício está inserida na crise mundial da educação, esta sim a maior crise da contemporaneidade”. Ciro Pirondi
1.1. Um panorama geral do ensino da Arquitetura e Urbanismo no mundo Embora não haja um ponto de partida conhecido para o ensino da Arquitetura e do Urbanismo, é importante ressaltar a contribuição de algumas pessoas na transmissão do conhecimento nesse amplo campo que é a arquitetura. Segundo Cassia Souza, em seu texto “O ensino da Arquitetura no Brasil” (2013), Marcus Vitruvius Pollio (81 a.C.-15 d.C.) foi uma figura importante, conhecida por elaborar o único tratado europeu do período greco-romano conhecido hoje. É possível que outros tratados e escritos tenham sido produzidos, mas este foi o único que chegou aos nossos dias. Vitruvius foi um arquiteto e engenheiro romano que viveu no século I a.C. e escreveu a obra “De Architectura”, um tratado dividido em dez volumes e que viria a ser fundamental para o desenvolvimento da arquitetura clássica.
Figura 1 - Homo Bene Figuratus Fonte: www.depts.washington.edu (2017)
Naquela época a arquitetura não era ensinada em escolas, mas sim através de um processo prático, onde os arquitetos mais jovens aprendiam com os arquitetos mais experientes. Assim, a teoria desenvolvida por Vitruvius alavancou a qualidade da arquitetura, já que o conhecimento passou a ser mais difundido. Segundo o arquiteto romano, um arquiteto deveria possuir um conhecimento amplo e generalista, passando por áreas da ciência, da matemática, da geometria e até de astrologia, medicina e filosofia. Portanto, o arquiteto, ao contrário do que ocorre em algumas profissões, não deveria se especializar em uma única área, mas sim possuir o conhecimento de diversas áreas.
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“Só podem chamar-se com justiça arquitetos, as pessoas que desde pequenas avançaram passo a passo nos seus estudos e ao formar-se de modo geral no conhecimento das artes e das ciências, alcançaram o Templo da Arquitetura no cume” Marcus Vitruvius Pollio (CAU/CONFEA – A Formação do Arquiteto e Urbanista, 2014)
A influência de Vitruvius é tão grande que o gênio, e também italiano, Leonardo da Vinci se baseou em seu tratado para desenvolver seus estudos de proporção. Essa influência ainda pode ser notada atualmente, onde o profissional de arquitetura e urbanismo de hoje deve possuir conhecimento das mais variadas áreas, transitando do micro ao macro. Apesar de sua grande importância, o conhecimento passado por Vitruvius ficou “esquecido” durante a Idade Média, conhecida como Idade das Trevas justamente por não apresentar grandes inovações, tanto na arte como na ciência. Foi só no Renascimento que os ensinamentos de Vitruvius voltaram por meio de outro importante arquiteto, novamente com um italiano, Leon Battista Alberti (1404-1472). Em seu tratado “De Re Aedificatoria”, Alberti também exalta a generalização do conhecimento por parte dos arquitetos fazendo questão de mostrar a conexão entre a arquitetura, a música e a matemática e de defender a arquitetura como também sendo prática, que se baseia na junção de habilidades que necessitam de conhecimentos variados. Fazia amplo uso das maquetes para a representação da arquitetura.
“Quanto a mim, proclamarei que é arquiteto aquele que, com um método seguro e perfeito, saiba não apenas projetar em teoria, mas também realizar na prática todas as obras que, mediante a deslocação de pesos e a reunião e conjunto dos corpos, se adaptam da forma mais bela às mais importantes necessidades do homem”. Leon Battista Alberti (Tratados renascentistas, 2009) Outro importante tratadista e influenciador do ensino da arquitetura e urbanismo foi Jean-Nicolas-
Figura 2 - Cartaz original da escola com o retrato dos professores da Bauhaus Fonte: www.bauhaus-dessau.de/en (2017)
Louis Durand (1760-1834), durante o final do século XVIII. O francês foi responsável por romper com os ideais de Vitruvius e Alberti durante suas aulas em Paris, apesar de ainda concordar em que o arquiteto deveria possuir um amplo conhecimento generalista. Professor da prestigiosa École Polytechnique, Durand abandonou os conceitos antigos e propôs que os projetos de arquitetura fossem realizados através da geometria descritiva, tanto é que seus alunos faziam todos os seus desenhos em folhas de papel quadriculadas. Além disso, mais aulas de projeto foram implantadas em detrimento das aulas teóricas, grandes debates e sessões de estudo eram feitos e até concursos para os estudantes eram realizados. Mais a frente, após a Revolução Industrial, a tecnologia e a modernidade mudaram a arquitetura de forma exorbitante. Surge o uso do aço e do vidro, como podem ser vistos no Palácio de Cristal (1851) de Joseph Paxton (1803-1865) e no edifício de múltiplos andares Schlesinger & Meyer Building (1899), do grande arquiteto americano Louis Sullivan (1856-1924). Ambas são consideradas importantes obras da arquitetura pré-moderna. Abre-se o caminho para a modernidade. Já no século XX, a última grande influência
no que se refere ao ensino da arquitetura, no panorama mundial, surgia na Alemanha. Com o advento da arquitetura moderna, tivemos um dos maiores nomes do ensino da arquitetura, o arquiteto alemão Walter Gropius (1983-1969), fundador da mundialmente famosa Bauhaus. Talvez a principal contribuição de Gropius no campo do ensino da arquitetura foi a relação entre a teoria e a prática, entre “a cabeça e a mão” como ele costumava dizer. Com a colaboração de diversos célebres artistas e artesãos, a Bauhaus discutia a integração de todos os gêneros artísticos e de todos os tipos de artesanato sob a supremacia da arquitetura. No conteúdo programático havia disciplinas como ensino artesanal, tipografia, desenho de produtos, mobílias, tecidos, fotografia, cinema, pintura, ensino gráfico-pictórica, além da formação teórico-científica.
“De fato, a arte não é um ramo da ciência que pode ser aprendido, passo a passo, de um livro. Habilidade artística inata pode ser intensificada, não ensinada, pela influência do ser integral; (...) a habilidade para desenhar é muito frequentemente confundida com a habilidade de produzir um
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Figura 3 - Interior da GSD Harvard University Fonte: www.gsd.harvard.edu/gund-hall/ (2017)
projeto criativo. Assim, tal como a destreza em artesanato é, no entanto, nada mais do que uma perícia; (...) virtuosidade (...) não é arte.” Gropius, W. 1955. Scope of total architecture. New York, EUA. Editora Harper & Brothers, p. 18-19
Possuía também um ensino de forte caráter social, onde se dizia que a produção arquitetônica deveria estar de acordo com as necessidades da faixa mais ampla da população, os pobres, e não da faixa privilegiada dos ricos. Isso se reflete na produção de habitação social na Alemanha. Nenhum país europeu produziu mais habitações sociais do que os alemães no período em que a Bauhaus funcionava. Em resumo, a Bauhaus revolucionou os métodos de ensino não só da arquitetura, é importante ressaltar, através dos ideais de que o trabalho manual era considerado o meio mais apropriado para a formação integral do homem. A escola visava desenvolver a sensibilidade do indivíduo por meio da valorização da educação pelo trabalho. Para Gropius, a educação era a maneira mais eficaz de se conseguir uma grande reforma social. Hoje, ainda temos importantes escolas de arquitetura, no Brasil e no mundo. Podemos destacar as grandes universidades americanas como o Massachesetts Institute of Technology, a Harvard University e a University of California, Berkeley. A GSD (Graduate School of Design) da Harvard University é uma das melhores do mundo e tem um papel de muita atuação na discussão da arquitetura na contemporaneidade. Seu programa tem uma dimensão social voltada
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para as construções alternativas e sustentáveis além do estudo de toda a complexidade dos problemas globais como desastres naturais, as desigualdades sociais e o impacto da rápida urbanização das cidades. Vale destacar também o valor arquitetônico do prédio onde a GSD Harvard funciona. Projetado em 1972 pelo australiano John Andrews (que é formado pela mesma instituição), o Gund Hall como é chamado, é um grande edifício de concreto, mas o que mais chama atenção é sua fachada inclinada de vidro, o que proporciona a possibilidade da criação de uma cobertura zenital que inunda os grandes ateliers com a luz natural. Os ateliers, que acompanham a inclinação da fachada, são todos integrados entre si, onde apenas a diferença de nível funciona como separador entre eles. Rafael Moneo, Rem Koolhaas e Jacques Herzog fazem parte do corpo docente da GSD. Grandes universidades europeias como a University College London (Inglaterra), a Universidade do Porto (Portugal), a Delft University Technology (Holanda) e a ETH Zurich – Swiss Federal Institute of Technology in Zurich (Suíça) também são expoentes da arquitetura contemporânea. A Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto teve alunos como os ganhadores do Pritzker Eduardo Souto de Moura (2011) e o mestre Álvaro Siza Vieira (1992). O prédio atual onde funciona a Faculdade de Arquitectura foi projetado pelo próprio Álvaro Siza, entre os anos de 1985 e 1986 e teve seu programa dividido em 10 volumes distintos, cada um com suas próprias características, mas sempre respeitando uma mesma identidade. O enquadramento das vistas foi uma grande sacada de Siza, uma vez que ele privilegiou essas vistas para os ateliers e as salas de aula, estas com uma
Há também as asiáticas National University of Singapure (Singapura) e a University of Tokyo (Japão). Fechando as instituições que estão na vanguarda do ensino da arquitetura e do urbanismo, temos na América Latina, os cursos de arquitetura e urbanismo que são os oferecidos pela FAUUSP (Brasil), a Universidad de Buenos Aires – UBA (Argentina) e a Pontificia Universidad Católica de Chile – PUC (Chile). Todas as opções acima são reconhecidas e sempre figuram nas listas dos melhores cursos de arquitetura e urbanismo do mundo. A julgar pelas grades curriculares destas instituições, todas são unânimes em concordar com Vitruvius no que se refere ao conhecimento generalista do arquiteto e urbanista. Tudo deve ser conhecido
Figura 4 - Um dos edifícios da Faculdade de Arquite ctura da Universidade do Porto Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/805973/faculdade-de-arquitectura-dauniversidade-do-porto-pelas-lentes-de-fernando-guerra (2017)
belíssima vista do Rio Douro. Entre os ângulos retos dos edifícios fica um grande pátio aberto, que funciona como uma extensa área de convivência para os alunos.
Figura 5 - Faculdade de Arquite ctura da Universidade do Porto Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/805973/faculdade-de-arquitectura-da-universidade-do-porto-pelas-lentes-de-fernandoguerra (2017)
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1.2. Histórico do ensino de Arquitetura e Urbanismo no Brasil
Figura 6 - Fachada da Esola Nacional de Belas Artes Fonte: www.riodejaneiroaqui.com.br (2017)
Segundo Romullo Baratto, em seu texto “200 anos de ensino da arquitetura no Brasil”, publicado no site Archdaily, o ensino da Arquitetura e Urbanismo no Brasil tem início com a criação da Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro, em 1826. A corte portuguesa chegou ao Brasil em 1808 e era necessária a criação de instituições e atitudes que contribuíssem para o estabelecimento da coroa. Uma dessas atitudes foi a vinda da Missão Artística Francesa, que tinha como objetivo ensinar artes plásticas desenvolver a cultura da nova capital Rio de Janeiro. Diversos artistas importantes, de diferentes áreas, chegaram ao Brasil, incluindo o arquiteto Grandjean de Montigny, que chegou a ganhar o importantíssimo prêmio Prix de Rome. Dom João então estabeleceu o decreto para a criação da Escola Real e grupo da Missão Artística Francesa organizou aqui a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios.
“Atendendo ao bem comum, que provem aos meus fiéis vassalos de se estabelecer no Brasil uma Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios em que se promova, e difunda a instrução, e conhecimentos indispensáveis aos homens (…)” Transcrição do decreto de D. João, em 12 de agosto de 1816 (Romullo Baratto, 2016) Nessa época, o arquiteto era considerado um artista, por isso o ensino da arquitetura se fez presente na Escola Real, que também ensinava pintura e escultura. As primeiras matérias ensinadas na Escola Real eram: - História da Arquitetura - Construção e Perspectiva - Estereotomia - Desenho - Cópia de Modelos - Estudo de escalas - Composição Em 1822 veio a Independência do Brasil e a Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios passou a ser chamada de Academia Imperial de Belas Artes. Sua inauguração aconteceu em 1826, em um novo prédio projetado pelo próprio Grandjean
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de Montigny e contou com a presença do então imperador D. Pedro I. O ensino da arquitetura foi se modernizando junto com a Academia, com a criação de novas disciplinas. Em 1890, a Academia passou a se chamar Escola Nacional de Belas Artes em 1890 durante o Estado Republicano e foi extinta em 1959, porém o ensino da arquitetura já havia deixado a Escola Nacional com a criação de um decreto por Getúlio Vargas em 1937, onde foi criado o Museu Nacional de Belas Artes, que abrigou o curso. Mais tarde, houve uma nova desvinculação do ensino da arquitetura com o Museu Nacional de Belas Artes e o curso passou a ser oferecido pela Universidade do Brasil, hoje a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Já o ensino do urbanismo aconteceu mais tardiamente do que o da arquitetura. Durante a década de 20 tentou-se criar a matéria e até mesmo a Associação Brasileira de Urbanismo. Mais tarde, na década de 30, o grande mestre Lúcio Costa, até então professor da Escola Nacional de Belas Artes, já incluía o ensino do urbanismo e do paisagismo na discussão da reforma da grade curricular da Escola. Entretanto, todos esses esforços fracassaram e o ensino do urbanismo e do paisagismo só foi efetivamente implantado em 1939, na Universidade do Distrito Federal, ainda no Rio de Janeiro e como disciplinas de pós-graduação. Hoje, o ensino da arquitetura e do urbanismo é unificado, fato que ocorreu na Reforma do Ensino Superior realizado pelo Conselho Federal de Educação em 1969. Sem dúvida o Rio de Janeiro teve uma
Figura 7 - FAUUSP Fonte: www.archidaily.com.br (2017)
importância muito grande no desenvolvimento do ensino da arquitetura e do urbanismo, porém outros lugares também tiveram contribuições significativas e ajudaram no desenvolvimento do ensino. Conforme Elena Salvatori (2008, p. 6) “De acordo com a Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura - ABEA (2003) -, em 1933, ano da primeira regulamentação profissional no Brasil, existiam quatro escolas de Arquitetura no país. Além dos cursos da ENBA do Rio de Janeiro, da Escola Politécnica e da Escola de Engenharia do Mackenzie de São Paulo, havia uma Faculdade independente, a da Universidade de Minas Gerais, criada em 1930”. No começo do século XX era comum que o ensino da arquitetura acontecesse junto ao ensino da engenharia nas chamadas escolas politécnicas, conferindo ao aluno formado o título de engenheiro-arquiteto. Foi somente mais tarde que esse sistema começou a ser separado, sendo a engenharia “engenharia” e a arquitetura “arquitetura”. Em São Paulo, por exemplo, a Escola de Engenharia do Mackenzie deu origem a primeira faculdade de arquitetura autônoma do estado, a Faculdade de Arquitetura da Universidade Mackenzie, em 1947, com base em um conteúdo programático americano, trazido pelo professor Christiano Stockler das Neves, que havia se formado nos Estados Unidos.
O mesmo processo ocorreu na Universidade de São Paulo. Em 1948, a prestigiada Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP) foi criada se derivando da Escola Politécnica de São Paulo, uma escola de engenharia. Diferentemente do curso oferecido pela Universidade Mackenzie, a FAUUSP oferecia um curso com um conteúdo programático baseado no modelo europeu. Apesar de na Europa o Movimento Moderno estivesse em ampla ascensão, demorou um pouco para que este fosse implementado nas escolas de arquitetura e urbanismo. A partir daí, houve um crescimento exponencial grande de faculdades que ofereciam o curso em conjunto com o desenvolvimento econômico e social do país. Em 1955, já existiam sete cursos de arquitetura e urbanismo independentes no Brasil, sendo que os três novos criados foram os da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Rio Grande do Sul, o da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia e o da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal de Pernambuco. Em 1966, segundo dados da Associação Brasileira de Ensino da Arquitetura – ABEA, eram doze cursos existentes. Em 1977 vinte e oito, em 1994 setenta e dois e em 2002 cento e oitenta e quatro cursos oferecidos. A ABEA foi justamente
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criada, em 1973, para gerir o ensino da no país. Segundo a própria instituição: “A ABEA vem trabalhando desde 1989 na implantação de uma política nacional para o estabelecimento de perfis e padrões que assegurem a qualificação do profissional arquiteto e urbanista a altura dos desafios sociais do país e das demandas internacionais, presentes no processo atual de globalização. A entidade tem participado ativamente, junto ao Ministério de Educação – MEC, no processo de avaliação da qualidade do ensino superior do país. Contribuiu de forma eficaz, na elaboração das Diretrizes Curriculares para os Cursos de Arquitetura e Urbanismo exigidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB e em conjunto com a Comissão de Especialistas de Ensino de Arquitetura e Urbanismo – CEAU/SESu/ MEC. Acompanhou e participou da Comissão de Avaliação do Curso de Arquitetura e Urbanismo e das Comissões específicas para as formulações das diretrizes para o Exame Nacional de Cursos (Provão)e Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) junto ao INEP, onde a área da arquitetura e urbanismo estreou em 2002, e nas formulações das diretrizes para a avaliação in loco dos cursos”.
1.3. O ensino de arquitetura e urbanismo no Brasil nos dias atuais Atualmente no Brasil existem 466 cursos de graduação em arquitetura e urbanismo oferecidos em 210 cidades, nos 27 estados da federação. Dos 466 cursos oferecidos no país, segundo dados de 2015 da ABEA, a região sudeste é a que tem mais cursos e São Paulo desponta como o estado com o maior número de cursos oferecidos, sendo 133 cursos em 50 cidades diferentes. As regiões norte e nordeste apresentam as menores quantidades. Nota-se que esse grande abismo entre os números acompanha o desenvolvimento econômico e social das cidades onde os cursos são oferecidos. Em Roraima, por exemplo, há apenas 1 curso oferecido em apenas 1 cidade, na capital Boa Vista. Desse total, 17% são públicas e 83% são privadas. Hoje, o ensino da arquitetura e do urbanismo segue a LDB 9394/1996 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação – que estabelece as diretrizes do ensino superior no país de modo geral e, mais importante, a Resolução CNE 02/2010 – Resolução do Conselho Nacional de Educação – que estabelece as diretrizes curriculares mínimas para o ensino da arquitetura e do urbanismo. Segundo o artigo 3º da Resolução CNE 02/2010: “A proposta pedagógica para os cursos de graduação em Arquitetura e Urbanismo deverá assegurar a formação de profissionais generalistas, capazes de compreender e traduzir as necessidades de indivíduos, grupos sociais e comunidade, com relação a concepção, à organização e à construção do espaço interior e exterior, abrangendo do patrimônio histórico, a edificação, o paisagismo, em como a conservação e a valorização do patrimônio construído, a proteção do equilíbrio do ambiente natural e a utilização racional dos recursos disponíveis”. Para isso, a proposta pedagógica deve ser dividida em núcleos, conforme o artigo 6º da resolução acima citada: “Os conteúdos curriculares dos cursos de graduação em Arquitetura e Urbanismo deverão estar distribuídos em dois núcleos e um trabalho de curso (TFG), recomendando sua interpenetrabilidade: I – Núcleo de Conhecimentos de Fundamentação; II – Núcle de Conhecimentos Profissionais; III – Trabalho de Curso” O Núcleo de Conhecimentos de Fundamentação apresenta as disciplinas que forneçam um embasamento teórico para os discentes. Devem compor esse núcleo as disciplinas de
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Quantidade de cidades
Acre
2
1
Alagoas
6
2
Amapá
3
2
Amazonas
7
1
Bahia
14
7
Ceará
10
4
Distrito Federal
15
1
Espiríto Santo
14
8
Goiás
10
3
Maranhão
5
2
Mato Grosso
7
5
Mato Grossodo Sul
7
4
Minas Gerais
50
31
Pará
5
2
Paraíba
8
5
Paraná
36
14
Pernanbuco
9
3
Piauí
4
1
Rio de Janeiro
27
8
Rio Grande do Norte
7
3
Rio Grande do Sul
37
22
Rondônia
7
3
Roraima
1
1
Santa Catarina
37
23
São Paulo
133
50
Sergipe
2
2
Tocantins
3
2
Total
466
210
Estética e História das Artes; Estudos Sociais e Econômicos; Estudos Ambientais; Desenho e Meios de Representação e Expressão. O Núcleo de Conhecimentos Profissionais é composto pelas diciplinas destinadas a caracterização da identidade profissional do discente, sendo composta pelas diciplinas de Teoria e História da Arquitetura, do Urbanismo e do Paisagismo; Projetos de Arquitetura, de Urbanismo e de Paisagismo; Planejamento Urbano e Regional; Tecnologia da Construção; Sistemas Estruturais; Conforto Ambiental; Técnicas Retrospectivas; Informática Aplicada à Arquitetura e Urbanismo; Topografia. O Trabalho de Curso é sempre supervisionado por um docente, de modo que envolva todos os procedimentos de uma investigaçao técnicocientífica de um tema. É composto pela disciplina de Trabalho Final de Gradução.
Ainda segundo a ABEA, podemos citar também a preocupação com o ensino da Carta para a Formação dos Arquitetos, da UNESCO/UIA (União Internacional dos Arquitetos), lançada na Assembléia Geral da UIA realizada em Tokyo, em 2011. O objetivo da carta é em primeiro lugar, criar uma rede global de arquitetos, na qual, cada progresso individual possa ser compartilhado por todos e que ela aumente a compreensão de que a formação dos arquitetos é um dos desafios ambientais e profissionais mais significativos do mundo contemporâneo. A carta também exalta a formação generalista dos profissionais, porém com mais enfase em temas sociais como os assentamentos urbanos em áreas de riscos e na diversidade cultural, como na validação de diplomas obtidos em diferentes países. Além disso, levanta até a possibilidade de que algumas questões relacionadas à arquitetura e ao
Tabela 1 - Cursos de Arquitetura e Urbanismo oferecidos no país Fonte: ABEA – censo 2015
Quantidade de cursos
Figura 8 - Distribuição dos cursos de arquitetura e urbanismo no Brasil Fonte: CAU/BR – censo 2015
Estado
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Figura 9 - Legislações vigentes para o ensino da arquitetura e do urbanismo Fonte: CAU/BR (2017)
houve a desvinculação da Faculdade Nacional de Arquitetura da Escola Naciona de Belas Artes, quando passou a se chamar FAU/UFRJ, tendo este nome até hoje. A graduação também ocorre em cinco anos e é organizada em quatro grandes eixos de conhecimentos: o eixo Dicussão aborda os aspectos históricos, teóricos, estéticos e sócio-enconômicos da arquitetura e da cidade; o eixo Concepção visa as atividades de projeto em todas as suas escalas; o eixo Representação compreende o estudo da representação geométrica dos espaços e dos meios de expressão criativa; e por fim, o eixo Construção, que visa os diferentes aspectos técnicos, científicos e as tecnologias da execução dos objetos arquitetônicos e da cidade. Hoje, os alunos da FAU/ UFRJ contam com as seguintes disciplinas: ambiente sejam introduzidas nas escolas de ensino fundamental e médio. Segundo a Carta da UIA, os futuros arquitetos e urbanistas devem possuir conhecimentos em: - Estudos artísticos e culturais: compreensão das questões patrimoniais, precendetes históricos e das artes plásticas;
Período
História da Arquitetura e das Artes I Concepção da Forma Arquitetônica I 1º
Isostática Historia da Arquitetura e das Artes II Estudos Sociais 2º
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Geometria Descritiva II Topografia História da Cidade e do Urbanismo II Resistência dos Materiais
- Estudos Profissionais: compreensão das diferentes formas de contratação dos serviços de arquitetura, das legislações profissionais e da ética profissional;
O curso de arquitetura e urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro é o mais antigo do país, tendo origem direta do curso ministrado na Academia de Belas Artes, iniciado em 1816. Porém, foi somente em 1945 que
Concepção da Forma Arquitetônica II Desenho de Observação II
- Estudo de Projeto: compreensão da teoria e dos métodos e processos de projeto;
Todas essas diretrizes, tanto da legislação oficial brasileira quanto da UIA, que não é oficial, são o mínimo que deve ser oferecido em todos os cursos de gradução no país, mas nada impede que novas diciplinas sejam incoporadas ao projeto pedagógico, que pode ser mais dinâmico.
Desenho de Observação I História da Cidade e do Urbanismo I
- Estudos Técnicos: compreensão dos sistemas estruturais, dos materiais e da construção;
- Habilidades gerais: compreensão do trabalho coletivo com outros profissionais, dos diferentes meios de comunicação e da utilização de habilidades manuais.
Geometria Descritiva I Desenho de Observação I
- Estudos Sociais: compreender as necessidades da sociedade, do contexto social em que a arquitetura é criada, de filosofia, ética e política; - Estudos Ambientais: compreensão dos sistemas naturais, conservação e manejo de resíduos, ciclo de vida dos materiais, teoria e história do paisagismo e a gestão de recursos naturais;
Disciplinas
Historia da Arquitetura e das Artes III Projeto de Arquitetura I 3º
Perspectiva Conforto Ambiental I História da Cidade e do Urbanismo III Análise da Forma Urbana e da Paisagem Concepção Estrutural Teoria da Arquitetura I Gráfica Digital
4º
Projeto de Arquitetura II Processos Construtivos I Saneamento Predial Projeto Paisagístico I Ateliê Integrado I
Período
Disciplinas Trabalho Final de Graduação - 1 Projeto de Execução para Habitação Multifamiliar - Grupo 2 Projeto de Execução para Edifícios Comerciais - Grupo 2
9º
Projeto de Execução para Restauro Grupo 2 Ética e Exercício Profissional Orçamento e Gerenciamento Obra Projeto de Execução para Interiores Grupo 2
Figura 10 - Exterior FAU/UFRJ Fonte: www.archidaily.com.br (2017)
Período
Disciplinas Estruturas de Concreto Armado I Historia da Arquitetura e das Artes IV Arquitetura no Brasil I
5º
Projeto de Arquitetura III Conforto Ambiental II Processos Construtivos II Urbanismo e Meio Ambiente Estruturas de Concreto Armado II Teoria da Arquitetura II Arquitetura no Brasil II
6º
Projeto de Arquitetura IV Projeto de Interiores
Gestão de Processo de Projeto 10º
Trabalho Final de Graduação - 2
A Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP), por exemplo, foi fundada em 1948, quando se derivou do antigo curso de engenheiro-arquiteto da Escola Politécnica da USP. No início, a FAUUSP combinava as disciplinas técnicas originais do curso da Escola Politécnica, que eram ministradas por engenheiros, e as disciplinas básicas do currículo padrão da Escola Nacional de Belas Artes, que eram Plástica, Arquitetura de Interiores, Grandes e pequenas composições, etc... Foi somente na reforma curricular proposta em 1962 por João Batista Vilanova Artigas que se estabeleceram os fundamentos da estrutura de ensino que são utilizados na grade curricular da FAUUSP até hoje, que é a divisão do curso em três departamentos: Projetos, História da Arquitetura e Tecnologia da Arquitetura, o que garante ao aluno uma formação ampla e generalista em todos os campos da arquitetura. Atualmente, a FAUUSP tem a seguinte grade curricular ao longo dos cinco anos de graduação:
Processos Construtivos III Planejamento Urbano e Regional
7º
Período
Estruturas de Aço e Madeira
História e Teorias da Arquitetura I
Teoria da Arquitetura III
História da Arte I
Arquitetura no Brasil III
Fundamentos de Projeto
Saneamento Urbano Expressão Gráfica do Urbanismo
1º
Projeto Urbano I
Projeto Paisagístico II Ateliê Integrado II
Geometria Aplicada à Produção Arquitetônica Homem, Arquitetura e Urbanismo
Teoria da Arquitetura IV Conservação e Restauro do Patrimonio Cultural
Construção do Edifício 1
Geometria Descritiva
Sistemas Estruturais
8º
Disciplinas
2º
Fundamentos Sociais da Arquitetura e Urbanismo I História e Teorias da Arquitetura II Arquitetura da Paisagem
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Figura 11 - Sala de aula da FAUUSP Fonte: www.archidaily.com.br (2017)
Período
Disciplinas
Período
Construção do Edifício 2 Desenho Arquitetônico
2º
Luz, Arquitetura e Urbanismo 4º
Projeto Visual Gráfico
Construção do Edifício 1
Técnicas Retrospectivas - Estudo e Preservação dos Bens Culturais
Sol, Arquitetura e Urbanismo
Estudos de Urbanização II Arquitetura - Projeto III
Planejamento Urbano: Introdução
Arquitetura e Indústria
Linguagem Visual Gráfica Fundamentos Sociais da Arquitetura Urbanismo II
5º
Construção do Edifício 5 Estatística Aplicada
Arquitetura - Projeto I
Estruturas na Arquitetura I: Fundamentos Arquitetura, Espaço e Sociedade: teoria e crítica
Computação Gráfica Equipamentos e Instalações Hidráulicas I
História do Urbanismo Contemporâneo
Cálculo
Arquitetura - Projeto IV
Planejamento Urbano: Estruturas
Organização Urbana e Planejamento
Linguagem Visual Ambiental História da Arte II Estudos de Urbanização I
6º
Estrutura na Arquitetura II: Sistemas Reticulados
Arquitetura - Projeto II
Desempenho Acústico, Arquitetura e Urbanismo
Design do Objeto
Infraestrutura Urbana e Meio Ambiente
Construção do Edifício 4
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Planejamento da Paisagem
História e Teorias da Arquitetura III Construção do Edifício 3
4º
História do Design II
Topografia
Introdução À Arte e Arquitetura II
3º
Disciplinas
Período
6º
Disciplinas
Período
História do Design IV
História da arquitetura e da arte II
Áreas Centrais e Históricas: Temas de Patrimônio Urbano
Introdução ao projeto arquitetônico II
Projeto Visual Ambiental
2º
História e Teorias da Arquitetura IV
Arquitetura no Brasil
Habitabilidade das edificações I
Estruturas na Arquitetura III: Sistemas Reticulados e Laminares
História da arquitetura e da arte III 3º
Resistência dos materiais para arquitetos
Projeto da Paisagem
Desenho arquitetônico III
Estágio Obrigatório Supervisionado
Mecânica dos Solos e Fundações 8º
Projeto arquietetônico I Representação gráfica II
Desempenho Ambiental, Arquitetura e Urbanismo
Subsídios Investigativos e Projetuais para a Preservação do Patrimônio Edificado da FAUUSP
Mecânica para arquitetos Topografia I
Projeto dos Custos
Cultura Urbana na Contemporaneidade I
Linguagens gráficas II Representação gráfica I
Desenho Urbano e Projeto dos Espaços da Cidade
7º
Disciplinas
Evolução urbana Habitabilidade das edificações II 4º
História da arquitetura e da arte IV Instalações hidráulicas prediais A
Mecânica dos Solos e Fundações
Instalações hidráulicas prediais B
Cultura Urbana na Contemporaneidade II
Projeto arquietetônico II
9º
Trabalho Final de Graduação I
10º
Trabalho Final de Graduação II
Técnicas de edificação A Análise dos sistemas estruturais Estabilidade das edificações 5º
Projeto arquietetônico III Técnicas de edificação B
Ao longo de cinco anos, são ministradas as seguintes disciplinas: Período
Disciplinas Cálculo e geometria analítica para arquitetos Geometria descritiva aplicada à arquitetura
1º
História da arquitetura e da arte I Introdução ao projeto arquitetônico I Linguagens gráficas I Maquetes Técnicas de representação arquitetônica
Teorias sobre o espaço urbano Estrutura de aço e de madeira A Estrutura de aço e de madeira B 6º
Projeto arquitetônicos IV Técnicas de edificação C Teoria da arquitetura I Urbanismo I
Figura 12 - Exterior Faculdade de Arquitetura da UFRGS Fonte: www.estadodedireito.com.br (2017)
A Faculdade de Arquitetura da UFRGS foi fundada em 1952 nasceu através do impulso da mobilização estudantil da época, que exigiram que a universidade tivesse a graduação em arquitetura e urbanismo. O curso abrange toda a teoria e história da arquitetura e do urbanismo, a representação do projeto espacial, as tecnologia da construção, a relação desenho-equilíbrio, além da prática do atelier integrado.
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Período
Disciplinas Acústica aplicada Economia e gestão da edificação
7º
Estrutura de concreto armado A Morfologia e infraestrutura urbana Projeto arquitetônicos V Urbanismo II Estágio supervisionado em arquitetura e urbanismo Estrutura de concreto armado B Legislação e exercício profissional na arquitetura
8º
Planejamento e gestão urbana Práticas em obra Projeto arquitetônicos VI Teoria da arquitetura II Teoria da arquitetura II Climatização artificial – arquitetura
9º
Projeto arquitetônico VII Técnicas retrospectivas Urbanismo IV
10º
privada, nova, que obteu o reconhecimento do Ministério da Educação e Cultura (MEC) apenas em 2001. Em 2005, o projeto pedagógico do curso de arquitetura e urbanismo recebeu nota máxima na avaliação do MEC. Até sua localização foi pensada para facilitar a vida dos futuros arquitetos, já que é instalada bem no centro de São Paulo, propiciando aos alunos o contato diário com edifícios históricos e com os diversos problemas sociais e urbanos da capital. Talvez a principal diferença seja o modo como as disciplinas são ministradas ao longo de seis anos, e não cinco, além de o conteúdo programático ser divido em anos, e não em semestres como ocorre comumente nas outras instituições. O período da aula é integral, começando as 14h30 e indo até as 20h30, onde das 14h às 17h são ministradas as disciplinas teóricas de Urbanismo, Desenho, Tecnologia e História. Já das 17h30 até às 20h30 é realizada a disciplina de Estúdio Vertical, que é o atelier coletivo de projeto, desenvolvido junto pelos alunos de todos os anos juntos. As seguintes disciplinas são ministradas: Período
Trabalho de conclusão de curso de arquitetura e urbanismo
Disciplinas Planejamento urbano e regional I e II Topografia e análise do ambiente Desenho do ambiente e da paisagem I e II
Todas as universidades citadas acima apresentam destaque no cenário nacional e nos rankings internacionais. Os alunos das instituições acima sempre alcançam as melhores posições em concursos para estudantes, tanto é que são as três instituições mais vencedoras do Concurso Ópera Prima, que premia os melhores Trabalhos Finais de Graduação do Brasil, dado pelo site www.arcoweb. com.br.
Resistência dos materiais Tecnologia da construção I Estudos sociais e ambientais Fundamentos socioeconômicos I e II 1º ano
História, teoria e crítica da cidade e do urbanismo I História, teoria e crítica da arquitetura e do paisagismo I e II
Percebe-se que todos, apesar das nomenclaturas diferentes e do período em que a disciplina dada também diferentes, todas as três universidades cumprem as diretrizes mínimas dispostas na Resolução CNE 02/2010. Apesar da Resolução CNE 02/2010 estipular os requisitos mínimos para a graduação em arquitetura e urbanismo, há na capital paulista uma instituição de ensino que inovou em sua grade curricular, claro, sem descumprir as diretrizes. A Escola da Cidade é um centro de estudos fundada por professores de arquitetura e urbanismo que tem como objetivo principal introduzir e reinterpretar as diferentes formas de ocupação do espaço e que oferece exclusivamente o curso de arquitetura e urbanismo. Trata-se de uma instituição
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História, teoria e crítica da arte I
Desenho de expressão e cidade I (formação do olhar) Desenho e representação gráfica Geometria aplicada Metodologia do projeto I e II Planejamento urbano e regional III e IV Desenho do ambiente e da paisagem III 2º ano
Tecnologia da construção II e III Sistemas estruturais I e II Equipamentos (hidráulica e elétrica) Canteiro de obras I e II História, teoria e crítica da arte II
Figura 13 - Aula expositiva na Escola da Cidade Fonte: www.escoladacidade.org (2017)
Período
Disciplinas História, teoria e crítica da cidade e do urbanismo II
Período
Metodologia do projeto V e VI 3º ano
História, teoria e crítica da arquitetura e do paisagismo III e IV Desenho de expressão e cidade II (formação do olhar)
Tecnologia da construção VI e VII
Desenho arquitetônico e detalhamento construtivo I
Estética I
Sistemas estruturais V e VI
Metodologia do projeto III e IV Projeto de arquitetura e urbanismo e paisagismo I
4º ano
História, teoria e crítica da arte IV Meios de expressão, mídias contemporâneas e crítica
Tecnologia da construção IV e V Sistemas estruturais III e IV
Metodologia do projeto VII e VIII
História, teoria e crítica da cidade e do urbanismo III
Projeto de arquitetura e urbanismo e paisagismo IV e V
História, teoria e crítica da arquitetura e do paisagismo V e VI
Planejamento urbano e regional IX Tecnologia da construção VIII
História, teoria e crítica da arte III Programação visual I e II (desenho do objeto)
História, teoria e crítica da arquitetura e do paisagismo VII e VIII Campo ampliado – arte e arquitetura
Planejamento urbano e regional V e VI
3º ano
Projeto de arquitetura e urbanismo e paisagismo II e III Planejamento urbano e regional VII e VIII
Técnicas retrospectivas I 2º ano
Disciplinas
Sistemas estruturais VII 5º ano
Estética II
Modelo tridimensiona I e II
Técnias retrospectivas II
Informática aplicada a arquitetura V e VI
Desenho arquitetônico e detalhamento construtivo II
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Período
Disciplinas Metodologia do projeto IX
5º ano
Projeto de arquitetura e urbanismo e paisagismo VI Estágio supervisionado Intercâmbio acadêmico Projeto de arquitetura e urbanismo e paisagismo VII
6º ano
Prática profissional e legislação Perspectivas profissionais Trabalho de curso
Com um conteúdo programático inovador, professores renomados e seminários internacionais, a Escola da Cidade vem ganhando prestigio e destaque no cenário nacional rapidamente, obtendo a nota 4 de 5, no último examo do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE) realizado no ano de 2015. As instituições descritas acima são consideradas de boa qualidade para o padrão brasileiro. Entretanto, é necessário comentar o outro lado. Será que todas as instituições do Brasil cumprem as diretrizes da Resolução CNE 02/2010? Há espaço para melhorias ou as diretrizes já são suficientes? Vale ressaltar que, com o desenvolvimento econômico e social do país nas últimas décadas e o barateamento do ensino superior brasileiro e consequentemente o crescimento do número de cursos oferecidos, a tendência é de acomodação da qualidade do ensino superior da arquitetura e urbanismo. Muitas instituições de ensino superior se restringem somente ao mínimo necessário exigido pelo Ministério da Educação para poder oferecer o curso, e sendo assim, não buscam novas iniciativas e atitudes que melhorem a qualidade do ensino e nem buscam utilizar um conteúdo programático mais inovador. O conteúdo programático utilizado hoje visa formar um profissional generalista que consiga compreender as inúmeras atribuições do arquiteto e urbanista. Segundo o coordenador da Comissão de Coordenação do Curso de Arquitetura e Urbanismo da USP, Francisco Segnini Junior: “O MEC, por meio das Diretrizes Curriculares, tem tentado garantir que os conteúdos básicos estejam presentes em todos os cursos de arquitetura e urbanismo do País. Entretanto, o que se observa é que nem sempre a aplicação dessas diretrizes se faz adequadamente. O rápido crescimento do número de cursos se dá, principalmente, por meio do ensino superior
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privado. Entre eles, a maioria é ministrada no período noturno.Tal situação tem provocado distorções no processo de ensino e aprendizagem, permitindo que profissionais com preparo insuficiente detenham qualificações para o exercício da profissão. Eles tendem a representar riscos à sociedade. Além disso, a carga horária destinada às disciplinas técnicas tem diminuído. Arquitetura é projeto e construção. É necessário que as escolas retomem e aprofundem o ensino da tecnologia - esta, cada vez mais complexa e variada”. Francisco Segnini Junior O arquiteto Ciro Pirondi, diretor da Escola da Cidade, em recente publicação da revista PRUMO, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Pontíficie Universidade do Rio de Janeiro (PUC-Rio) concorda e vai mais além. Pirondi nos diz que a crise no ensino da arquitetura está inserida em uma crise mundial na educação, já que os governantes passam tanto tempo pensando a respeito da crise econômica e esquecem da importância da mesma. O mundo vem mudando radicalmente no seculo XXI e a competição tomou conta dele. O lema do mundo atual é a eficiência, que refletida na educação, nos ensina a produzir sem refletir, sem crítica Trata-se de uma máquina do ensino. Ciro nos diz que o cientificismo encontrado nas universidades prejudica o ensino da arquitetura. Falta espontaneidade nas escolas de arquitetura, onde ocorre o triunfo da ação sem pensamento. Também faz uma crítica quanto as disciplinas ministradas. Não há a necessidade de existirem tantas, mas sim disciplinas que foquem na formação de professores. A qualidade destes com certeza se sobressai as disciplinas ministradas. Outra importante característica que as escolas de arquitetura deveriam se aventurar é acabar com a rigidez do espaço físico. Ser itinerante, como a própria Escola da Cidade é. Algumas aulas devem ser realizadas fora da universidades, de preferência com professores do local onde o estudo for realizado, para o perfeito entendimento da dinâmica urbana e das diferenças sociais e culturais do local. Por fim, Pirondi expressa sua opinião de que as escolas de arquitetura devem estar livres da produção e do rigor acadêmico. Estas devem ousar mais, serem mais livres. As opiniões de especialistas sobre o ensino da arquitetura e urbanismo divergem bastante, porém todas são quase que unanimes que deve haver mudanças, pois o conteúdo programático e a má qualificação das instituições de ensino superior prejudicam e muito o futuro do ensino da arquitetura e urbanismo.
1.4. O ensino de arquitetura e urbanismo em Ribeirão Preto O estado de São Paulo desponta como o principal centro de ensino de arquitetura e urbanismo do Brasil. Quase 30% dos arquitetos e urbanistas do Brasil são formados em São Paulo, onde a relação arquiteto x habitantes é de 0,73, a maior do país. Ao todo são 133 cursos distribuídos por 50 cidades e a cidade de Ribeirão Preto tem um valor significativo, já que apresenta sete cursos de arquitetura e urbanismo, sendo um deles a distância (EAD).
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Em Ribeirão Preto, as seguintes instituições possuem o curso de arquitetura e urbanismo: 1 - Centro Universitário Moura Lacerda (CUML) 2 - Centro Universitário Barão de Mauá (CBM)
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3 - Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP) 4 - Faculdade Anhaguera de Ribeirão Preto 5 - Centro Universitário Estácio de Ribeirão Preto 6 - Universidade Pitágoras (UNOPAR) – a distância EAD – possui sede em Londrina /PR, porém é oferecido em Ribeirão Preto – número vagas total para todas as unidades
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7 - Universidade Paulista Nota-se a semelhança entre os cursos no que se refere a carga horária, numa média de 3900 horas. A maior diferença entre os cursos da cidade é a quantidade de vagas autorizadas, já que o conteúdo programático é praticamente igual. É claro que nem sempre todas as vagas autorizadas são preenchidas e nem mesmo o número de formandos é igual ao número de alunos que ingressaram, além de muitos alunos serem das cidades ao redor, porém é importante ressaltar a enorme quantidade de novos profissionais que ingressam no mercado de trabalho todo ano. Mas será que o número de novos profissionais atendem a demanda do mercado? Há mercado para todos os profissionais na cidade? Isso é uma outra questão e que não será avaliada neste trabalho. Entretanto, como resultado do ensino da arquitetura e do urbanismo no país, temos mais de 110.000 arquitetos e urbanistas no país. Porém, apesar do grande número de formados todos os anos, em comparação com o mundo, o Brasil não apresenta uma das maiores posições na relação arquitetos e urbanistas x população por mil habitantes. A relação brasileira é de 0,42 profissionais a cada mil habitantes. Já os países da Europa apresentam uma relação bem maior, como é o caso da Alemanha com 1,28, da Itália com 1,73 e da Bélgica, com 1,09. O número de formados todos os anos só aumenta, o que
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pode ser assustador para os reçém-formados que iniciam a vida profissional. Apesar disso, uma pesquisa feita pelo CAU/BR mostra que apenas 18% da população em geral contrata um arquiteto e urbanista para a realização de projetos. Assim, devemos pensar como sempre diz um professor do Centro Universitário Moura Lacerda, em suas aulas:
“Não falta trabalho para os arquitetos. Para se ter sucesso, cabe aos profissionais buscarem trabalho nos outros 82% da população que não contrata nos contrata”. José Antônio Lanchoti
Figura 16 - Unaerp Fonte: www.wikimedia.org/wikipedia/UNAERP_ (2017)
É claro que a questão não é tão fácil assim. Nem todas as pessoas sabem o que um arquiteto faz por exemplo e muitos também não podem pagar pelo serviço prestado. Mas o exemplo citado pelo professor é importante para ressaltar que a gama de serviços que podem ser executados por um arquiteto e urbanista é muito ampla, o que traz um certo alívio para os recém formados.
Figura 17 - Anhanguera Fonte: www.vaievemdavida.com.br/media/cache/f2 (2017)
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Figura 14 - Moura Lacerda - campus Fonte: www.portalmouralacerda.com.br/institucional/ personagens-da-nossa-historia/ (2017)
Figura 18 - Estácio Fonte: www.portal.estacio.br/media/2397/02.jpg (2017)
Figura 15 - Barão de Mauá Fonte: www.revide.com.br/editorias/ribeirao-preto-160-anos/ centro-universitario-barao-de-maua/ (2017)
Figura 19 - UNIP Fonte: www.eletroriomontagens.com.br/imagens/projetos/16/ unip_ararq.jpg (2017)
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Figura 20 - Localização das escolas de arquitetura e urbanismo em Ribeirão Preto Fonte: arquivo pessoal (2017)
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O projeto 2.arquitetônic “A arquitetura tem que se fundir com o entorno, não ser um elemento diferenciador” Toyo Ito
o co
Figura 21 - Muro externo do terreno Fonte: arquivo pessoal (2016)
Ribeirão é um grande e importante polo regional do interior paulista. Sua história se inicia nas margens do Ribeirão Preto, que deu o nome a cidade. A região central estabelecida a partir dali cresceu muito ao longo de aproximadamente 160 anos, se tornando um local único na cidade por ser totalmente de uso misto. Tudo é encontrado no centro de Ribeirão Preto. É o principal ponto de giro na economia da cidade, possui escolas e faculdades, grandes empresas, praças, edifícios importantes, e, sobretudo, muita história. Assim, nada mais justo de que uma faculdade de arquitetura e urbanismo, que visa promover a melhora da produção arquitetônica e do crescimento urbano da cidade e que busque um avanço do ensino da arquitetura e urbanismo, fique no centro de Ribeirão Preto. Três localizações foram pré-estabelecidas, sendo uma em um edifício que teve sua construção paralisada a mais de 15 anos e que hoje se encontra abandonado (1), uma em um estacionamento bem no coração do centro (2) e outra na periferia do centro, próximo ao terminal rodoviário da cidade (3). Todos possuem características favoráveis e potencialidades para receber um projeto desse porte, porém a alternativa (3) foi a selecionada. No local há um terreno subutilizado de aproximadamente 3.150,00m². Está localizado na esquina das ruas Campos Sales com José Bonifácio, e fica próximo a uma subestação elétrica da CPFL que abastece a região central. Sua escolha se deu principalmente por já se encontrar em uma
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região onde a verticalização é bem estabelecida, pela facilidade de acesso devido proximidade com os terminais rodoviários, o que facilita muito o acesso tanto para estudantes de Ribeirão Preto como para os vindos das cidades próximas. Além disso, apresenta uma característica ímpar e que visa definir o partido arquitetônico do projeto: um desnível de aproximadamente 9,00m de altura. Outra característica muito relevante para o projeto e a de que no local também há um galpão que pertencia à antiga Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo S/A, e que está tombado pelo CONPPAC/RP conforme será mais bem explicado no capítulo seguinte.
Figura 22 - Centro de Ribeirão com a localização dos terrenos pré-selecionados Fonte: arquivo pessoal (2016)
2.1. O local escolhido
Figura 23 - Localização do terreno em relação ao centro e seus principais equipamentos Fonte: arquivo pessoal (2017)
Legenda: 1 - Catedral Metropolitana 2 - Terminal Rodoviário 3 - Mercado Municipal 4 - Centro Popular de Compras 5 - Terminais urbanos 6 - Câmara Municipal 7 - Parque Ecológico Maurílio Biagi 9 - Pronto Socorro Central
Figura 24 - Detalhes do terreno: planta e corte Fonte: arquivo pessoal (2017)
8 - Quarteirão Paulista
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Figura 25 - Logomarca das Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo S/A Fonte: Arquivo Histórico RP (2017)
2.2. O patrimônio histórico do local Não se sabe muito a respeito da história do galpão em específico que está na área. O que se sabe, é que três galpões foram construídos, provavelmente na década de trinta, para servir como depósito de algodão, e que pertenciam as Indústrias Reunidas Fábricas Matarazzo S/A. As Indústrias Matarazzo tinha como dono o distinto Conde Francisco Matarazzo, importante figura do estado paulista no século XX. Tinha fábricas por todo o estado e era produtora de tecidos, latas, óleos comestíveis, açúcar, sabão, presunto, pregos e diversos outros produtos. Chegou a Ribeirão Preto por volta de 1932. Segundo Vichnewski (2004):
“No final de 1934 a empresa Matarazzo adquiriu um terreno entre as ruas Saldanha Marinho, José Bonifácio, Campos Salles e Prudente de Moraes, para construção de uma fábrica para beneficiamento de algodão e de azeite (e para extração de querosene); a construção estava prevista para o ano de 1935. O requerimento solicitando aprovação do projeto para construção da citada fábrica foi encaminhado ao Prefeito Municipal de Ribeirão Preto em 21 de agosto de 1935. Todo o projeto ficou a cargo do arquiteto Francisco Verrone”. A partir de 1935, não se sabe o que ocorreu com os galpões. Em 1945, as Indústrias Matarazzo comprou outro terreno para a instalação de uma fábrica maior, no bairro Barracão, atualmente chamado Campos Elíseos. Aparentemente, após a construção da nova fábrica, o terreno e os galpões ficaram inutilizados, se degradando mais e mais com o passar do tempo. A história das Indústrias Matarazzo termina em 1981, quando foi à falência, sendo posteriormente comprada pela Companhia Nacional de Estamparia (CIANE), que também decretou falência em 1994. O terreno então foi para nas mãos da Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), que havia acabado de construir uma subestação no terreno ao lado. Porém, sem planos para o mesmo, o terreno foi novamente vendido, agora para a Igreja Internacional da Graça de Deus, que é a atual proprietária. Atualmente, apenas um fragmento de um galpão está no local, em péssimas condições. Os outros dois galpões foram demolidos não se sabe quando. O processo de tombamento do galpão restante foi aberto em meados de 2004 pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural do Município de Ribeirão Preto (CONPPAC/RP), após uma vistoria realizada por fiscais do órgão, que constataram que haveria uma “possível” (e contestável)
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importância arquitetônica, histórica e cultural no galpão, e portanto deveria ser preservado. A Igreja Internacional da Graça de Deus, que tinha e ainda tem a intenção de abrir um novo templo no local, apresentou um pedido de impugnação do processo de tombamento, uma vez que outros profissionais foram vistoriar a edificação a pedido da Igreja e os mesmos verificaram o seu péssimo estado de conservação, que o sistema estrutural estava comprometido, além de diversas alterações, tanto internas quanto externas, que desfiguraram a arquitetura original. Assim, foi atestado que uma restauração do galpão era inviável devido ao péssimo estado. Após diversas reuniões entre as partes desde 2004, atualmente ainda há um empasse na situação. O CONPPAC/RP cedeu um pouco às exigências da Igreja, e apesar de ainda ser um bem tombado, apenas os frontões devem ser preservados. O restante do galpão pode ser demolido. Recentemente a Igreja apresentou um projeto para o novo templo, com a preservação dos frontões originais, e o mesmo passa por processo de análise pelo CONPPAC/RP. Como é sabida a importância da preexistência em um contexto arquitetônico, é evidente que a resolução do CONPPAC/RP deva ser seguida e os dispostos nela serão atendidos. Em seu texto “Velha-nova Pinacoteca: de espaço a lugar”, para o site Vitruvius, o arquiteto Fabio Muller expõe a importância fundamental que os edifícios antigos tem para a arquitetura contemporânea. Explorando como exemplo a intervenção realizada por Paulo Mendes da Rocha para a Pinacoteca, Muller nos diz que esse tipo de projeto deve representar somente a arquitetura em si, sem muitos vinculos com os fatores históricos e meros detalhes e materiais construtivos antigos. Deve-se buscar a complementaridade entre o velho e o novo, um diálogo entre os dois. A criação de novos espaços e principalmente a criação de uma nova dinâmica através de gestos simples fizeram a intervenção realizada na Pinacoteca um modelo
Figura 28 - Fachada posterior do galpão Fonte: Arquivo Histórico RP (2017)
Figura 29 - Projeto de restauro da fachada proposto pela Igreja Fonte: Arquivo Histórico RP (2017)
Figura 27 - Fachada frontal do galpão Fonte: Arquivo Histórico RP (2017)
Além do grande valor arquitetônico da junção entre o velho e do novo, é de fundamental importância que o galpão continue para uso do próprio aprendizado dos alunos, já que o estudo do patrimônio deve estar na grade curricular de uma faculdade de arquitetura e urbanismo. Assim, será buscado essa integração entre a antiga arquitetura do galpão e a contemporaneidade do edifício da faculdade.
Figura 26 - Interior degradado do galpão Fonte: Arquivo Histórico RP (2017)
a ser seguido. O próprio Paulo Mendes da Rocha deixa claro essa intenção quando diz que “...não simplesmente restaurar, mas também criar novos desenhos que abriguem, amparem e expressem hábitos contemporâneos, do tempo que vivemos”.
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Figura 30 - Uso do solo Fonte: arquivo pessoal (2017)
O uso do solo do entorno imediato do terreno é bem misto, uma característica da região central da cidade. Porém, nota-se uma predominância do uso habitacional, seguido do uso do serviço. Poucos comércios são encontrados na região, e estes são prequenos estabelecimentos. Diversos equipamentos institucionais são encontrados, como uma unidade de saúde, uma instituição de ensino superior privada, os terminais de ônibus municipais, alpem do Parque Maurílio Biaggi.
Figura 31 - Ocupação - gabarito Fonte: arquivo pessoal (2017)
A região central é marcada pela verticalização. Sendo assim, o entorno imediato também apresenta essa característica, porém não de maneira predominante. Assim, como o uso do solo, verifica-se uma grande variação da altura das edificações desse entorno. Verifica-se também, que os edifícios verticalizados não ficam na Av. Gerônimo Gonçalves, pois a Lei de Uso e Ocupação do Solo da cidade não os permite na face lindeira a avenida.
Figura 32 - Ocupação - figura-fundo Fonte: arquivo pessoal (2017)
A ocupação na região central é muito forte, propiciando a essa região uma das maiores densidades da cidade. O entorno imediato segue tal característica. As áreas vazias que existem geralmente são destinadas a estacionamentos, salvo no terreno que foi escolhido para receber o projeto, onde o mesmo apresenta áreas vazias mas que estão abandonadas e sem nenhum uso.
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2.3. Levantamentos urbanísticos do entorno e legislação Após a realização dos levantamentos urbanísticos, foi possível concluir que o entorno imediato do terreno selecionado segue um padrão urbanístico encontrado em toda a região central da cidade. O uso do solo misto, apesar de uma leve predominância do uso habitacional, a grande quantidade de equipamentos urbanos, a verticalização e a grande densidade são características dessa região. Sendo assim, percebese que a implantação de um projeto desse tipo é viável urbanisticamente, sendo facilmente integrado ao contexto da área e do restante do centro. Além disso, é possível que um projeto assim traga uma valorização da área, podendo atrair novas iniciativas e novos empreendimentos, contribuindo para a melhora estética, econômica, social e histórica do local.
Figura 33 - Hierárquia viária Fonte: arquivo pessoal (2017)
Figura 34 - Corte esquemático das vias Fonte: arquivo pessoal (2017)
As legislações consultadas foram a Lei Complementar nº 267/2006, que dispõe sobre o parcelamento, uso e ocupação do solo no munício de Ribeirão Preto e na Lei Complementar nº 362/2006, que dispõe sobre o Código de Obras do município de Ribeirão Preto. Segundo as mesmas, o terreno escolhido fica na ZUP – zona de urbanização preferencia e na AQC – área especial do quadrilátero central. O gabarito básico é de 10,00m, podendo ser superado. A taxa de ocupação é de 80% e o coeficiente de aproveitamento é de 3x a área do terreno. É obrigatória a implantação de uma área permeável de 10% da área do terreno. Os recuos mínimos serão estabelecidos através da fórmula R = H / 6 (frontal mínimo 5,00m; lateral mínimo 2,00m; fundo mínimo 2,00m).
O local escolhido é próximo a importantes vias da cidade, como é o caso da Av. Gerônimo Gonçalces, que é uma via estrutural e que comporta um grande tráfego diário de veículos. A Rua Prudente de Morais e a Alameda Botafogo funcionam como vias de distribuição e coletoras justamente por coletar e distribuir o tráfego entre o Centro e a Vila Tibério. É no cruzamento da avenida com essas duas vias coletoras que o maior ponto de conflito é encotrado, sobretudo nos horários de pico e pelo constante movimento de ônibus na região. As demais vias são apenas vias locais, sem tráfego constante e que dão apenas acesso aos lotes.
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2.4. Programa de necessidades O programa de necessidades foi estabelecido para uma quantidade prévia de 250 alunos por turno e um total de 500 alunos. O programa foi dividido nos setores pedagógicos, administrativos, convivência e serviços para uma melhor compreensão. O setor pedagógico concentra as atividades de aula, sejam elas teóricas ou práticas; no setor administrativo ficam as atividades e espaços de administração e secretaria; no setor de convivência ficam as atividades e espaços de integração e convivência entre os alunos; e por fim, o setor de serviços concentra as atividades e espaços dos funcionários
Figura 35 - Programa de necessidades Fonte: arquivo pessoal (2017)
Figura 36 - Corte esquemático das atividades Fonte: arquivo pessoal (2017)
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2.5. Leituras projetuais de referência Três referências projetuais foram selecionadas para o projeto, duas nacionais: a Faculdade de arquitetura e urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP) e a Faculdade de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FAU/UFRJ) e um projeto internacional: o Centro Educacional Roy and Diana Vagelos. Independente da época, todos esses projetos foram selecionados por sua importância e inovação, tanto no ensino quanto arquitetonicamente. A contribuição das faculdades nacionais no ensino foram muito significantes, servindo de modelo para diversos cursos que vieram depois. Já a internacional mostra que uma instituição de ensino superior não precisa ser “engessada”, podendo ter espaços flexíveis e abertos, melhorando a qualidade do lugar.
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FAUUSP Projeto: João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi Ano: 1961 Local: campus da USP em São Paulo Estrutura: concreto armado Materialidade predominante: concreto e vidro
Figura 37 - FAUUSP Fonte: www.archidaily.com.br (2017)
O projeto Artigas e Cascaldi projetaram o edifício da FAUUSP do modo mais simples possível, para que fosse de fácil entendimento para qualquer um. Trata-se de uma caixa de concreto aparente medindo 110m x 66m, levemente pousada em outra caixa menor. O volume retngular é organizado ao redor de um grande pátio interno. São sete pavimentos intercalados, sendo acessados ou por escadas ou pelas rampas. Trata-se de um edifício típico do período modernista. Simples, sem muito acabamento, de planta livre e que defende a tese de continuidade espacial
Figura 38 - Pátio central da FAUUSP Fonte: www.archidaily.com.br (2017)
Figura 39 - Planta baixa - pisos FAUUSP Fonte: arquivo pessoal (2017)
Uso Os usos são todos bem distribuídos pela FAUUSP, não há um uso determinado para cada local ou pavimento. No subsolo, por exemplo, ficam os departamentos junto ao auditório maior. No térreo ficam as atividades mais públicas, como o grande pátio, a cantina e o museu. Já os demais pavimentos são mais reservados para as atividades de aula, onde ficam as salas e os estúdios. Figura 40 - Corte - FAUUSP Fonte: arquivo pessoal (2017)
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Tecnologia O sistema estrutural da FAUUSP é todo em concreto armado, sendo os pilares externos em forma triangular e os internos de forma retangular. As grandes esquadrias de vidro atuam como fechamento, garantindo uma boa visibilidade das áreas verdes de fora, criando uma relação interior x exterior muito forte. A cobertura zenital é em grelhas, o que também garante uma iluminação natural boa
Figura 42 - Fachada com concreto aparente Fonte: www.archidaily.com.br (2017)
Figura 41 - Detalhe da cobertura zenital Fonte: www.archidaily.com.br (2017)
Figura 44 - Circulação vertical Fonte: www.archidaily.com.br (2017)
Figura 43 - Detalhe caixilharia de vidro Fonte: www.archidaily.com.br (2017)
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FAU/UFRJ Projeto: Jorge Moreira Ano: 1957 Local: campus da UFRJ no Rio de Janeira Estrutura: concreto armado Figura 45 - Edifício da FAU/UFRJ Fonte: www.arqguia.com.br (2017)
Materialidade predominante: concreto, aço e vidro
O projeto A sede do curso de Arquitetura e Urbanismo da FAU/UFRJ é um edifício projetado por Jorge Moreira como um objeto isolado no meio do grande campus da UFRJ. Por isso o edifício não tem uma realçaõ com os edifícios ao redor definida. Entretanto, o projeto é magnífico, sendo premiado na IV Bienal de São Paulo. Trata-se de um bloco vertical, de seis pavimentos, atravessado por um outro bloco menor. O edifício é todo ortogonal, com execessão do mezanino que é o único elemento curvo no prédio. Suas dimensões são sempre proporcionais e múltiplas. Figura 46 - Sala de aula da FAU/UFRJ Fonte: www.arqguia.com.br (2017)
Figura 47 - Planta baixa - pisos FAU/UFRJ Fonte: arquivo pessoal (2017)
Uso Diferentemente da FAUUSP, a FAU/UFRJ apresenta uma setorização de usos e atividades bem definidas, sendo que no térreo ficam concentrados os usos de administração, a biblioteca, auditório e os grandes espaços de convivência. Já os demais pavimentos abrigam as atividades de aula, sendo cada pavimentos para um ano da graduação e o último para a pósgraduação.
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Figura 48 - Vista interna da FAU/UFRJ - detalhe para a caixilharia de vidro Fonte: www.arqguia.com.br (2017)
Tecnologia O sistema estrutural é todo em concreto armado, sendo em pillotis na parte exterior do edifício. Como o edifício é todo envidraçado, na fachada norte há o uso de brises-soleil horizontais para garantir sua proteção. Já na fachada sul, como não há incidência solar, os panos de vidro cobrem toda a extensão do prédio. Em todo o seu entorno há vegetação, o que garante um bom conforto térmico.
Figura 49 - Brises-soleil do edifício Fonte: www.arqguia.com.br (2017)
Figura 50 - Pillotis na área externa Fonte: www.arqguia.com.br (2017)
Figura 51 - Pátio interno Fonte: www.arqguia.com.br (2017)
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ROY AND DIANA VAGEL EDUCATION CENTER Projeto: Diller Scofidio + Renfro Ano: 2016 Local: Nova York - EUA Estrutura: concreto e aço Materialidade predominante: concreto, aço e vidro Figura 52 - Circulação interna Fonte: https://www.archdaily.com/793971/roy-and-diana-vageloseducation-center-diller-scofidio-plus-renfro/57bd9bf1e58ecec6fd00012froy-and-diana-vagelos-education-center-diller-scofidio-plus-renfro-photo (2017)
O projeto A torre de vidro projetada tem 14 pavimentose abriga o curso de Medicina da Columbia University,. O volume final é um pouco disforme, com cheios e vazios e superfícies que saem um pouco desse volume original. A relação com o exterior é muito forte, já que os grandes panos de vidro permitem uma vista do entorno imediato, além de uma bela vista para o Rio Hudson, que fica próximo ao edifício.
Figura 53 - Corte longitudinal Fonte: arquivo pessoal (2017)
Figura 54 - Planta baixa - pisos Fonte: arquivo pessoal (2017)
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LOS
Figura 55 - Exterior do edifício Fonte: www.archdaily.com/793971/roy-and-diana-vagelos-education-center-diller-scofidio-plus-renfro/57bd9b9ce58ececd450001ad-roy-anddiana-vagelos-education-center-diller-scofidio-plus-renfro-photo (2017)
Tecnologia O sistema estrutural do projeto é em estrutura metálica revestida em concreto. Uma das preocupações é a sustentabilidade, então o edifício apresenta cobertura verde, o que auxilia no conforto térmico. Além de um sistema de minimiza o uso de água e de energia. A fachada apresenta um sistema de revestimento cerâmico posicionado sobre o vidro exterior que ajuda a difundir a luz natural. A decoração interna apresenta fibra de vidro em diferentes cores. Figura 56 - Anfiteatro da faculdade Fonte: www.images.adsttc.com/media/images/57bd/9c47/ e58e/cecd/4500/01b0/slideshow/Iwan_Baan_6. jpg?1472044068 (2017)
Uso O uso como é definido pelos próprios arquitetos é estruturado e informal, de modo que todos os pavimentos possuam espaços de uso social, privado, comunitário e de estudo. O térreo é mais focado para as atividades de administração e de convivência. Já os demais pavimentos combinam todos os usos, tendo as salas de aulas, laboratórios, áreas de convivência e de serviço. A circulação vertical se dá através de escadas e elevadores.
Figura 57 - Área de convivência Fonte: www.e-architect.co.uk/wp-content/uploads/2017/03/ roy-and-diana-vagelos-education-center-x250317-5.jpg (2017)
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2.6. Primeiras intenções, croquis e maquetes As primeiras ideias surgiram através, principalmente, do desnível do terreno. Pretende-se usar o desnível do terreno para fortalecar a relação de público privado do edifício. Optou-se pela escolha de não haver estacionamento, justamente para inibir a utilização de veículos e estimular o uso do transporte público, amplamente ofertado no entorno do edifício. O edifício será totalmente em estrutura metálica, assim, o mesmo pode fazer parte do processo de aprendizado dos alunos, já que estes terão contato diário com o sistemas construtivo específico, aumentando a capacidade de entendimento estrutural dos alunos. Os croquis e volumetrias foram pensadas de acordo com as metragens especificadas no programa de necessidades e nas referências estudadas.
Figura 60 - Desenvolvimento da volumetria Fonte: arquivo pessoal (2017)
Figura 58 - Croqui Fonte: arquivo pessoal (2016) Figura 61 - Desenvolvimento da volumetria Fonte: arquivo pessoal (2017)
Figura 59 - Croqui Fonte: arquivo pessoal (2016)
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Figura 62 - Desenvolvimento da volumetria Fonte: arquivo pessoal (2017)
Figura 63 - Desenvolvimento da volumetria Fonte: arquivo pessoal (2017)
Figura 64 - Desenvolvimento da volumetria Fonte: arquivo pessoal (2017)
Figura 65 - Croquis Fonte: arquivo pessoal (2016)
Figura 67 - Maquete de estudo Fonte: arquivo pessoal (2016)
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Vista interna
2.7. O projeto O principal ponto de partida para o projeto da FAU-RP foi a topografia do lote, com 9,00m de desnível. Assim, foi necessária a realização de cortes no terreno, dividindo o programa estabelecido em vários níveis diferentes. Cada nível desses possui um acesso diferente, mesmo para aquelas pessoas que não serão alunos da faculdade. Isso ocorre devido a uma “rua interna” que foi proposta no projeto. Apesar de passar
Área de exposição na preexistência
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dentro do edifício, todas as pessoas conseguem percorrer toda a extensão do terreno através dela. Essa característica traz um fortalecimento da relação público-privado que os edifícios devem ter com o seu entorno. O conceito de “intervalo” descrito por Herman Hertzberger, em seu livro Lições de Arquitetura, que é o elemento que faz a transição e a conexão entre duas demarcações territoriais diferentes (público / privado), acontece no projeto de maneira tênue. Esse tipo de edifício
Rua Campos Sales
Rua Prudente de Moraes
Rua José Bonifácio
Rua Saldanha Marinho
Implantação Vista exterior
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Vista exterior circulação vetical costuma ser uma extensão da cidade, propiciando espaços que colaborem com a coletividade e que possam ser usufruídos por todos. Tanto a rua interna, quanto a praça seca na frente do edifício da FAU-RP podem ser considerados um presente para a cidade. Apesar de se encontrar em um lote privado, o espaço é de todos. Principalmente através da materialidade (fechamentos em panos de vidro) e também pela criação de fossos ao redor do terreno, foi possível
Vista exterior
48
rua
Colocar acesso esquema rua acesso interna
na
inter
acesso
3
4
4 5
1 6
2
2 10
9
8
7
Planta baixa - EL. -7,50 Legenda: 1 - Preexistência (área de exposição) 2 - Praça seca 3 - Sala dos professores 4 - Sanitários 5 - Adminitração / Secretaria 6 - Coordenação 7 - Gerador de energia 8 - Revista institucional 9 - Copiadora 10 - Plataforma elevatória PNE 11 - Área de convivência funcionários
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Sala de aula teórica
realizar a separação entre o interno do lote com o externo de forma suave. Mesmo sendo privado, todas as pessoas conseguem ver toda a dinâmica que ocorre no interior do edifício. Essa mesma ideia segue acontecendo no interior do edifício, onde praticamente todas as suas dependências tem no vidro a função de deixar a visão livre. Todos podem ver o que ocorre nas salas de aula, laboratórios e ateliers. Os vazios centrais também colaboram nesse sentido, já que as pessoas podem ver o que
Atelier
50
acontece nos diferentes níveis. O nível -7,50 é semienterrado e está ligeiramente acima do passeio público. Nele, está concentrada a parte administrativa da faculdade, que é fechada para garantir o seu controle. Além disso, haverá uma praça seca onde todas as pessoas podem circular ou permanecer junto à preexistência, que servirá como área de exposição não só para a faculdade, mas para outros eventos
7
8
8
9
10
11
12
12
5 6
3
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1 2
Legenda:
Planta baixa - EL. -4,50
1 - Atelier 2 - Hall acesso 3 - Laboratório de construção civil 4 - Maquetaria 5 - Pário interno 6 - Pátio externo descoberto 7 - Área de serviço 8 - Vestiário 9 - Cantina 10 - Cozinha industrial 11 - Depósito 12 - Sanitários
51
Rua interna (uso público)
também. Optou-se por fazer uma mínima alteração no fragmento do galpão tombado como patrimônio histórico, que será apenas envelopado por uma caixa de vidro, funcionando como um elemento protetor para a já fragilizada condição do galpão existente, mas que mesmo assim o deixa a mostra. Para garantir a total acessibilidade, haverá rampa e uma plataforma elevatória que dará acesso aos outros níveis do edifício. O nível -4,50 acontece todo de forma privada, já que não há acesso público. Nele estão concentradas as áreas de serviço da
Auditório
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faculdade, como a cozinha, cantina, vestiários dos funcionários, mas também há a parte pedagógica, contando com um atelier, a maquetaria e o laboratório de construção civil. Além do grande espaço de convivência do pátio interno, onde as pessoas que frequentam o edifício podem realizar suas refeições, ou simplesmente permanecerem, descansando, socializando, etc... O nível 0,00 funciona como elemento de transição. Além da rua interna pública, que tem como continuação um grande terraço com vista para o Parque Maurílio Biaggi, há um grande
4
4
3
1
2
Planta baixa - EL. 0,00 Legenda: 1 - Terraço 2 - Rua interna 3 - Área de exposição 4 - Sanitários
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8
1
8
1
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9
Planta baixa - EL. +3,50
espaço livre de convivência e permanência para as pessoas da faculdade e que faz a conexão com os outros pisos, já de forma privada e com controle de acesso. Neste espaço também podem ser realizadas exposições, que também podem ser vistas publicamente, através da rua interna. Os demais níveis (+3,50, + 7,50 e +11,20) concentram as atividades pedagógicas, que vão desde as salas de aula teórica, os ateliers, a biblioteca, os laboratórios e o auditório, além das áreas de uso comum e de convivência. Todos os pisos são servidos de escadas e elevadores para a circulação vertical, garantindo a total acessibilidade do edifício, que também conta com banheiros para pessoas com mobilidade reduzida em todos os pisos. A utilização do aço como sistema estrutural principal foi importante para a obtenção de vãos maiores, e consequentemente, de ambientes mais amplos, principalmente no grande átrio central. Junto aos pilares e vigas metálicas, foi usado a laje do tipo steel deck, onde há uma combinação de concreto e perfis de aço que garante uma laje resistente e com menor espessura. Os vidros utilizados nas esquadrias serão tratados tanto acusticamente quanto para conter a forte
54
Legenda: 1 - Atelier 2 - Sala de aula teórica 3 - Laboratório de informática 4 - Sala privada de estudo 5 - Biblioteca 6 - Auditório 7 - Apoio auditório 8 - Sanitário 9 - Área de convivência
8
8
4 2
5
3 2
Planta baixa - EL. +7,50
7
8
2
8
6
1
Planta baixa - EL. +11,20
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Biblioteca
iluminação natural oriunda do sol, já que boa parte do edifício fica voltada para oeste, ou seja, recebe o sol da tarde por um longo período de tempo. Para ajudar na diminuição dessa luz natural, foi utilizado um tipo de brise metálico feito em chapas metálicas de aço carbono perfuradas, em forma de tela. Este tipo de brise filtra bem a luz solar ao mesmo tempo em que deixa o interior do edifício visível. Por fim, optou-se por não haver um estacionamento para o edifício, uma vez que há
Pátio interno
56
uma enorme oferta de transporte público, com todos os terminais rodoviários encontrados no entorno. Como trata-se de um projeto que privilegia o coletivo, e não só os usuários da faculdade, o transporte público é a alternativa mais eficaz, além do fato de que não haver estacionamento pode desestimular o uso de automóveis em uma região que já se encontra com o trânsito saturado.
Externo
Terraรงo
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EL. +16,00
Rua Campos Sales
EL. +12,40
EL. +7,50
EL. +3,50 EL. +0,00
EL. -4,50 EL. -7,50
Corte AA
EL. +16,00
Rua Campos Sales
EL. +11,20
EL. +7,50
EL. +3,50 EL. +0,00
EL. -4,50 EL. -7,50
Corte BB
58
Rua José Bonifácio
Rua Saldanha Marinho
EL. +16,00
EL. +11,20 EL. +7,50
EL. +3,50 EL. +0,00
EL. -4,50 EL. -7,50
Corte CC
Rua Saldanha Marinho
EL. +16,00
EL. +11,20 EL. +7,50
Rua José Bonifácio
EL. +3,50 EL. +0,00
EL. -4,50 EL. -7,50
Corte DD
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Rua Campos Sales Rua Campos Sales
Fachada - Rua José Bonifácio
Fachada - Rua Saldanha Marinho
60
Rua Saldanha Marinho Rua José Bonifácio Fachada - Rua Campos Sales
Detalhe do brise em malha perfurada
Detalhe do brise metálico
61
ConclusĂŁo 3.
Através do presente trabalho, constatou-se que o ensino de arquitetura e do urbanismo, assim como o dos demais cursos, ainda deve ser tratado com mais cuidado por parte das instituições de ensino superior do Brasil. Nota-se que o ensino passou por um período de transformação grande nesses últimos anos, onde houve muita oferta de vagas, muitas novas instituições surgiram e o acesso ao ensino superior vem sendo facilitado. Isso pode implicar em uma série de consequências ruins para o ensino de arquitetura e urbanismo. O número de profissionais pouco capacitados cresce a cada ano, devido principalmente a má gestão e ao pouco investimento realizado, seja nas esfera pública ou privada, na melhoria da qualidade dos cursos. A mesma situação vale para Ribeirão Preto, onde o número de instituições que oferecem o curso é grande, e consequentemente, o número de egressos todos os anos também é grande. No que refere-se ao projeto, o mesmo pode ser objeto de utilização para a também discussão da relação público x privado. Essa ideia, apesar de não ser nova, ainda é tendência na arquitetura atual. Os edifícios devem ser cada vez mais abrangentes com o entorno e com as pessoas que não necessariamente o utilizam, que aumentem essa relação e não funcionem como um objeto divisor de exterior x interior. Esse tipo de edifício mais abrangente é ótimo para melhorar a dinâmica das cidades e para a criação de espaços cada vez mais democráticos, que beneficiem todas as pessoas. Portanto, conclui-se que o projeto da FAU-RP pode trazer tanto benefícios urbanísticos para a região central da cidade de Ribeirão Preto quanto para contribuir com um debate mais aberto sobre a qualidade das instituições de ensino de arquitetura e urbanismo. É de interesse de todos os cidadãos que todos os arquitetos e urbanistas tenham a maior capacidade e qualidade possíveis, já que este é um dos principais agentes de mudança das nossas cidades.
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4.
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Laus Deo
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