DE CASA A LAR:
RELAÇÕES ENTRE DESIGN, ARQUITETURA E PSICOLOGIA
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DE CASA A LAR:
RELAÇÕES ENTRE DESIGN, ARQUITETURA E PSICOLOGIA
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO GUILHERME DE ANDRADE ROSA LONGO PROFESSORA ORIENTADORA MARÍA CECÍLIA LOSCHIAVO DOS SANTOS
São Paulo 2015
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AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente às pessoas que gentilmente me concederam entrevistas e responderam questionários para que eu tivesse material suficiente para desenvolver esse trabalho. Em segundo lugar, agradeço aos professores que me orientaram, me deram dicas e me guiaram nesse trabalho: minha orientadora Maria Cecília Loschiavo dos Santos, minha professora na Universidade de Kingston, em Londres, Sorcha O’brien, ao professor Luis Claudio Figueiredo do IPUSP e também ao CNPQ com o programa Ciência Sem Fronteiras que me proporcionou um intercâmbio de grande valia para a minha formação. Por último, agradeço à minha família e amigos que me apoiaram e me ajudaram a seguir em frente em todos os momentos.
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DEDICATÓRIA Dedico este trabalho aos designers de interiores de excelência que diariamente dedicam seu tempo a transformar casas em lares, criando relações fortes entre pessoas e arquitetura. 7
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ÍNDICE Objetivo_____________________________________9 Casa e Lar_____________________________________9 Considerações Iniciais__________________________11 1. Introdução_________________________________13 2. Organização do Trabalho_____________________17 3. Método de Conhecimento do Indivíduo__________19 Parte 1. Múltipla Escolha___________________19 Parte 2. Conhecendo Seu Lar_______________29 Parte 3. Conversa Sobre o Lar______________31 4. Aplicação do Método de Conhecimento do Indivíduo__________________________________33 Entrevista Mariana______________________34 Entrevista Rosa_________________________40 Entrevista Osmar________________________45 Entrevista Andrea_______________________50 Entrevista Victor________________________55 Entrevista Bruno________________________61 5. Ferramentas de Projeto_______________________69 6. Ferramentas do Usuário Genérico______________71 7. Ferramentas do Usuário Específico______________79 8.Utilizando o Método de Conhecimento do Indivíduo para o projeto_________________________83 9. Considerações Finais________________________101 Bibliografia________________________________103
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Objetivo Este trabalho tem como principal objetivo analisar a melhoria de desempenho do projeto residencial, através do uso de métodos da psicologia ambiental, tendo como principal ponto de vista o usuário. CASA E LAR O título deste TFG põe lado a lado duas palavras que algumas vezes são usadas como sinônimos, mas que se diferem no presente através de seus sentidos. Clare Marcus, em House as a Mirror of Self e Dak Kopec em Environmental Psychology for Design consideram esses conceitos como sendo dois diferentes. Ambos concordam que o conceito de “casa”, por eles designada como “house”, tem relação com o físico, com o que o imóvel em si é, sem considerar que existe ali um morador ou um grupo de moradores, sem que exista uma relação entre morador e o imóvel. Já no conceito de “lar”, por eles designado como “home”, há uma pequena divergência entre os dois autores. Para Marcus, uma casa se torna um “lar” a partir apenas das relações psicológicas que são feitas com os objetos e com o lugar em si, sem que esta precise necessariamente atender a todas as necessidades funcionais. Para Kopec é impossível desconectar uma função da outra. Para ele, parte do processo de tornar uma casa um lar é fazer com que esse além das funções básicas funcionais este exerça uma função psicológica de trazer ao morador sentimentos de aconchego, segurança e conforto. Ambos concordam que quanto mais a casa de uma pessoa transparece sua personalidade, maior o conforto psicológico transmitido por esta ao morador e maior o sentimento de pertencimento e ligação deste com o imóvel. Por esta razão este TFG conta com adesivos de personalização da capa e contracapa, como um modo de poder haver de alguma forma um método de personalização do caderno e assim criar um sentimento de pertencimento do leitor em relação a este. 9
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CONSIDERAÇÕES INICIAIS A primeira vez que comecei a pensar sobre o tema deste trabalho foi antes de entrar na faculdade de arquitetura, quando ainda era estagiário do curso técnico em Desenho de Construção Civil. Estagiava em um escritório de arquitetura, com maior foco em design de interiores, de uma renomada e competente arquiteta chamada Cilene Monteiro Lupi. Em um dos projetos que estávamos trabalhando o pé direito de uma casa era de mais de 3,50m e Cilene fez questão de colocar em alguns ambientes um rodateto a uma altura de aproximadamente 2,50m. Quando a questionei sobre o porquê dessa decisão me foi explicado que era para diminuir a sensação de altura do pé direito e tornar os ambientes mais aconchegantes. Vendo depois de algum tempo o resultado final, concordei com o que Cilene havia me dito, e ainda a vi aplicar essas e outras ferramentas em muitos outros projetos. Contudo, jamais achei uma explicação na literatura ou nas aulas para várias dessas ferramentas de projeto que ela me ensinou. Durante a faculdade de arquitetura pouco se falou em arquitetura residencial e mesmo nas matérias de conforto ambiental o usuário era apenas considerado como um termômetro ou uma estrutura que se faz com que a arquitetura tenha que se adequar aos seus movimentos e formas corporais, nunca como um ser pensante com emoções, sentimentos e impressões. Há um tempo tive a oportunidade de ir morar em Londres, fazer uma parte da minha graduação no curso de Design de Móveis e Produtos da Universidade de Kingston, com bolsa do CNPQ do programa Ciência Sem Fronteiras. Lá tive como casa uma típica moradia de estudante do Reino Unido, com quartos de medidas extremamente reduzidas e uma cozinha compartilhada, que pouco tempo depois fui saber que foi construída com base nas medidas mínimas para serem consideradas saudáveis, nos mesmos moldes de uma prisão.
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Assim que eu e vários outros brasileiros que conheci nesse intercâmbio mudamos para esse complexo, todos começamos a procurar objetos e utensílios para transformar aquele quarto minúsculo em algo que teria de ser nossa morada por um ano. Fui percebendo aos poucos como cada pessoa transformava aquele quarto em seu, como enfeitava, como se adaptava às medidas e móveis, como personalizava aquele ambiente que era dado a todos os estudantes exatamente do mesmo jeito, como uma tela em branco. Fui percebendo o quanto cada personalização dizia sobre as pessoas que ali habitavam. E finalmente percebi que por menores que fossem as medidas ali daquele quarto, todos fizeram de sua forma aquilo um lar. Tive a oportunidade de começar esse trabalho com a orientação de Sorcha O’brien, uma professora de Kingston, curiosamente uma historiadora especializada no universo doméstico sob a ótica do design de produtos, que me abriu os olhos para uma literatura que nunca tive contato no brasil, que fala sobre a psicologia ambiental aplicada ao design. Dak Kopec com o livro Environmental Psychology for Design (ainda sem edições traduzidas para o português) está na literatura básica dos cursos que ela ministra. Nessa literatura e em outras que consegui ter acesso, encontrei várias explicações para muito do que vi na prática e no meu dia-a-dia desde que comecei a pensar nesse assunto. Tentei então neste trabalho expor de uma forma didática tudo o que pude recolher desses pesquisadores. Além disso, tentei mostrar através de algumas entrevistas que o conteúdo ensinado por esses autores também funciona em uma cultura e realidade diferentes das quais são provenientes.
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cAPÍTULO 01 INTRODUÇÃO Uma relação de simbiose é aquela onde as duas partes envolvidas se beneficiam e são dependentes desta, como num líquen, que é a relação entre um fungo e uma alga onde o fungo fornece abrigo e umidade e a alga fornece os nutrientes. O mesmo acontece na relação do humano com a arquitetura, onde o humano depende do abrigo e conforto da arquitetura e a arquitetura depende do humano para que exista. O papel do arquiteto é exatamente ser o agente que faz a função do humano acontecer e por isso é necessário que ele tenha pleno conhecimento de todos os aspectos dessa relação já que o desempenho da arquitetura em sua função depende disso. No ambiente urbano, o papel do arquiteto é definir aspectos importantes como traçados de ruas, gabaritos de construções, relações de construções com seus lotes, localização de áreas verdes entre outros aspectos e fazer com que esses estejam de acordo com as necessidades do seu usuário, no ambiente residencial aspectos como iluminação, ventilação, divisões de cômodos e funções, questões cromáticas, interação do mobiliário com o espaço e questões relacionas à psicologia ambiental também que exercem seu papel, visando o melhor desempenho da habitação. Psicologia e arquitetura são duas áreas que se relacionam bastante quando no estudo da relação homem-ambiente. A psicologia gradualmente expandiu sua área de atuação, redefinindo e complementando seu objeto de estudo para abranger as interações ambiente-comportamento, e contribuir para um conhecimento mais amplo da realidade através de uma abordagem ecológica e consistente. Arquitetura, por sua vez, gradualmente observa a mudança de ênfase na análise dos aspectos estéticos / construtivos / funcionais de um edifício, a preocupação com a percepção / satisfação dos usuários e as implicações de intervenções em termos de paisagem, permitindo o desenvolvimento de propostas mais direcionadas ao indivíduo. 13
Uma vez que nem a psicologia nem a arquitetura podem cobrir totalmente o assunto dos estudos da relação ambiente-comportamento, torna-se inevitável a busca de um espaço comum, onde as duas ciências possam se interligar. A Psicologia do Design de Interiores, que é um ramo recente da Psicologia Ambiental, é esse espaço e tem base nos resultados da investigação científica e experimentação. O fundamento essencial dessa área é o amplo universo de investigação neurocientífica das emoções humanas. Dito de outra forma, esta ciência tem o cuidado de entender como os seres humanos reagem em nível emocional e cognitivo, à maneira que os espaços interiores - residenciais e comerciais, individuais e coletivos - são organizados. A partir disso, a Psicologia do Design de Interiores tem como objetivo contribuir para as residências e estabelecimentos comerciais como espaços promotores de bem-estar e qualidade de vida. Não se pode confundir a Psicologia do Design de Interiores com a ergonomia. Enquanto ergonomia volta-se para a criação de ambientes funcionais, a Psicologia do Design de Interiores tem a árdua tarefa de tentar criar ambientes mais felizes, espaços que priorizem as emoções e experiências positivas. Sally Augustin sobre isso disse: “Um lugar por si só não determina
quem terá ou não um bom humor, mas lugares podem inclinar a balança para um dia bom ou ruim. Um lugar com determinados atributos não pode garantir que as coisas darão certo do modo como você gostaria, mas eles podem fazer a sua experiência muito mais agradável. ” (AUGUSTIN, 2009 pág.14, tradução
do autor) Ainda assim, a Psicologia do Design de Interiores também tem sido usada para ajudar profissionais do setor imobiliário na venda e alocação de propriedades, especialmente no que diz respeito à decoração das casas a serem negociadas. No canal de TV a cabo A&E há um reality show, Sell This House (Casa à Venda, em português), no qual o designer Roger Hazard utiliza os princípios da Psicologia do Design de Interiores para ajudar as pessoas a vender suas propriedades. Da 14
mesma forma, a mesma experiência tem sido utilizada por lojas que vendem artigos de decoração para promover uma melhor adaptação dos produtos ao perfil e às necessidades e expectativas dos clientes. Segundo alguns autores (Augustin, 2009 / Kopec, 2012), principalmente ligados à psicologia ambiental, para que uma residência tenha um melhor desempenho do ponto de vista psicológico, há algumas ferramentas de projeto que podem ser usadas. Além de algumas que são apontadas pelos autores como “gerais”, ou seja, que servem a qualquer usuário, onde muitas vezes têm relação com nosso passado evolutivo, há muitas ferramentas que são baseadas no conhecimento específico e profundo do futuro morador dessa residência. Nós como arquitetos temos a função de entender intimamente quem são nossos clientes e traduzir isso em um projeto que servirá por muito tempo como lar para esses cidadãos. Isso na grande maioria das vezes é feito em algumas poucas reuniões, contabilizando poucas horas de contato para que esse íntimo conhecimento seja apreendido e possa se transformar no desejado projeto. Por isso, a busca de ferramentas da psicologia para guiar os arquitetos em um modo de melhor aproveitar esse escasso tempo foi um ponto de partida para esse TFG. No Brasil há uma ampla pesquisa feita tomando com grande relevância o usuário quando tratamos de avaliações pós-ocupação, conhecidas como APO’s. A professora e pesquisadora Dra. Sheila Walbe Ornstein, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo se destaca com uma grande bibliografia publicada sobre o assunto que foi de grande valia para este trabalho. Contudo, bem poucos títulos nacionais são encontrados ao tratarmos dessa pesquisa sendo feita antes do projeto, principalmente quando tratamos do universo residencial. A literatura estrangeira foi então alcança para esclarecer melhor o assunto e foram feitas então algumas aplicações destes métodos no cenário brasileiro. Alguns métodos que foram encontrados são interessantes e por vezes opostos. Alguns tratando o assunto de 15
forma bem pragmática e behaviorista, como o livro Place Advantage, de Sally Augustin e outros de forma mais Gestáltica e humana como o livro House as a Mirror of Self, de Clare Marcus. Com eles busquei traçar perfis, categorias, ou algumas subdivisões que juntassem características comuns das pessoas para que pudesse elaborar algumas ferramentas de projeto respondendo a essas características visando a melhor relação com o ambiente.
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cAPÍTULO 02 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO Um fato é que nenhum de nós precisaria do projeto de um arquiteto se soubesse tudo o que quer e exatamente do jeito que quer e precisa. Além obviamente do conhecimento do estado da arte da arquitetura, o arquiteto tem o papel de fornecer ao cliente através do projeto as funções da construção que estão além de seu conhecimento consciente. Contudo, várias informações que podem ser negligenciadas pelo cliente podem ser úteis para que o arquiteto responda com o melhor projeto. Tendo isso em mente, o presente trabalho mostrará um método de natureza qualitativa, que chamaremos aqui de Método de conhecimento do indivíduo, baseado na revisão de literatura nas áreas de psicologia, design, design de interiores, arquitetura e sustentabilidade, com um peso maior na obra de Sally Augustin e Clare Marcus, que visa conhecer características pessoais dos clientes para que a resposta de projeto seja mais assertiva, principalmente no quesito psicológico. O método consiste em 3 partes, a primeira um questionário com questões de múltipla escolha, a segunda a confecção de um desenho e uma discussão relacionada a esse e a terceira uma série de perguntas livres, que têm relevância para o entendimento das vontades e necessidades do cliente. Todas essas partes serão melhor detalhadas adiante. Após a apresentação mais minuciosa deste método, será apresentado o resultado de uma pesquisa de campo na qual se aplicou este método de modo a fornecer material para a discussão e interpretação do autor da bibliografia estudada para o presente trabalho. Essa interpretação foi feita de forma temática, fazendo uma análise integrada e articulada dos resultados das entrevistas.
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cAPÍTULO 03 MÉTODO DE CONHECIMENTO DO INDIVÍDUO Parte 1. Múltipla escolha Com o questionário baseado no livro “Place Advantage: applied psychology for interior architecture” de Sally Augustin esta parte do método tem como objetivo conhecer aspectos sobre a personalidade do usuário. Esse questionário é dividido em 9 partes, cada uma responsável por descobrir um fator diferente. Fator 1. Captando Energia A primeira parte, denominada como “Captando Energia”, tem como objetivo entender sobre a relação do usuário com as outras pessoas, classificando-o em “Extrovertido” ou “Introvertido”1 . Extrovertidos são, diz Augustin citando Myers2, pessoas que extraem energia das pessoas e das coisas, assim como Introvertidos são pessoas que tem suas energias extraídas por essas. Para fazer tal classificação, a seguinte pergunta é feita: Qual palavra ou frase das seguintes abaixo melhor te descreve? Mesmo se nenhuma das opções o (a) descrever exatamente, alguma chegará mais perto da outra. A B 1. Público 1. Privado 2. Curtir um jantar com al- 2. Curtir festas grandes guns amigos 3. Casas com mais paredes di3. Casas com menos paredes visórias divisórias 4. Precisa de muito tempo 4. Não precisa de muito temsozinho po sozinho 5. Animado 5. Quieto
O uso de aspas aqui é feito porque o conceito de introvertido e extrovertido têm relação com o conceito citado no livro de referência e não necessariamente com o sentido de uso comum. 2 MYERS, I., MCCAULLEY, M., et al MBTI Manual. Ed. Mountain View, CA:CPP 2003 1
Dá-se um ponto para extroversão para cada item que o entrevistado selecionou uma das seguintes respostas: 1A, 2B, 3A, 4B e 5A e dá-se um ponto para introversão para cada item que o entrevistado selecionou: 1B, 2A, 3B, 4A e 5B.
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Fator 2. Processando informação A segunda parte, denominada “Processando Informação”, tem como objetivo entender como a pessoa absorve as informações que estão à sua volta. Para isso, classifica as pessoas em “Processador Explícito” ou “Explícitos”, que significa que a pessoa toma as informações do ambiente à sua volta de um modo mais direto, já os “Operadores implícitos” ou “Implícitos” têm o hábito de colocar o seu próprio jeito em cada situação. Para isso, ela faz a seguinte pergunta: Qual palavra ou frase das seguintes abaixo melhor descreve você ou suas atitudes? Mesmo se nenhuma das opções o (a) descrever exatamente, alguma chegará mais perto da outra. A B 1. Desconfortável com am- 1. Confortável com ambigubiguidade idade 2. Não nota detalhes sutis 2. Nota detalhes sutis 3. Intuitivo (a) 3. Racional 4. É ligado em novas modas 4. Ignora novas modas 5. Ruim ao consertar coisas 5. Bom ao consertar coisas Dá-se um ponto de “processador explícito” para cada uma das respostas que o entrevistado selecionou: 1A, 2B, 3B, 4B e 5B. Dá-se um ponto de “operador implícito” para cada uma das respostas que o entrevistado selecionou: 1B, 2A, 3A, 4A e 5A. Fator 3. Organizando a vida Essa terceira parte, chamada pela autora como “Organizando a vida” pretende tirar informações do usuário de como são as relações de organização dele quanto ao ambiente ao seu redor. Ela classifica como “Planejadores” aqueles que são pessoas que estão preocupadas em manter uma vida organizada, diferentemente dos que classifica como “improvisadores” que são pessoas mais espontâneas. Para obter essa informação ela faz a seguinte pergunta: Qual palavra ou frase das seguintes abaixo melhor te descreve? Mesmo se nenhuma das opções o (a) descrever exatamente, alguma chegará mais perto da outra.
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A B 1. Mais organizado 1. Menos organizado 2. Meticuloso 2. Adaptável 3. Pode tomar decisões mes- 3. Precisa estar bem informamo sem todas as informações do para tomar decisões 4. Mais casual 4. Mais casual 5. Espontâneo 5. Premeditado Dá-se um ponto de “planejador” para cada uma das respostas que o entrevistado selecionou: 1A, 2A, 3B, 4B e 5B. Dá-se um ponto de “improvisador” para cada uma das respostas que o entrevistado selecionou: 1B, 2B, 3A, 4A e 5A. Fator 4. Reagindo a eventos Na quarta parte, o interesse é saber como o usuário reage aos eventos que acontecem na vida diariamente de modo a entender o quão ambientalmente sensível é esse usuário. Respondendo a pergunta que segue logo abaixo, o usuário é classificado como mais ou menos ambientalmente sensível. Qual frase das seguintes abaixo melhor te descreve? Mesmo se nenhuma das opções o (a) descrever exatamente, alguma chegará mais perto da outra. A B 1. Se assusta fácil 1. Não se assusta fácil 2. Prefere música de fundo 2. Prefere música de fundo baixa mais alta 3. Prefere silêncio quando se 3. Silencio não é primordial concentra para concentrar-se 4. Sensível a fortes perfumes 4. Não é sensível a fortes per5. Consegue dormir sobre fumes qualquer circunstância 5. Acorda facilmente com barulhes e luzes Dá-se um ponto de mais ambientalmente sensível para cada uma das respostas que o entrevistado selecionou: 1A, 2A, 3A, 4A e 5B. Dá-se um ponto de menos ambientalmente sensível para cada uma das respostas que o entrevistado selecionou: 1B, 2B, 3B, 4B e 5A.
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Fator 5. Direcionando a vida Nesta quinta parte, obtemos a informação de quanto o usuário acredita que controla sua própria vida. Por isso o classificamos com os termos “controla seu destino” ou “controlado pelo destino” e para isso a seguinte pergunta é feita: Qual palavra ou frase das seguintes abaixo melhor te descreve? Mesmo se nenhuma das opções o (a) descrever exatamente, alguma chegará mais perto da outra. A B 1. Sucesso na vida é determi- 1. Sucesso na vida não é denado por oportunidade terminado por oportunidade 2. Felicidade é determinada 2. Felicidade não é determipelo destino nada pelo destino 3. Supersticioso (a) 3. Não supersticioso (a) 4. Planejamento de longo 4. Planejamento de longo prazo é útil prazo é inútil 5. Minha vida é controlada 5. Eu controlo minha própria por outros vida Dá-se um ponto de “controla seu destino” para cada uma das respostas que o entrevistado selecionou: 1B, 2B, 3B, 4A e 5B. Dê-se um ponto de “controlado pelo destino” para cada uma das respostas que o entrevistado selecionou: 1A, 2A, 3A, 4B e 5A. Fator 6. Monitorando os outros A sexta parte procura saber do entrevistado o quanto ele se deixa influenciar pela sociedade para formar as suas opiniões e conceitos sobre as coisas e o quanto ele forma isso por si próprio. Com a pergunta que segue, classificamos o entrevistado entre “Grande monitorador externo” ou “Menor monitorador externo”. Qual frase das seguintes abaixo melhor te descreve? Mesmo se nenhuma das opções o (a) descrever exatamente, alguma chegará mais perto da outra
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A 1. Anima-se para festas 2. Faz amigos facilmente 3. Sente-se confortável em público 4. Modifica o comportamento em diferentes situações 5. As vezes meus pensamentos não correspondem às minhas ações
B 1. Não anima-se para festas 2.Acha difícil começar amizades 3. Mais confortável em situações privadas 4.Não modifica o comportamento em diferentes situações 5.Minhas atitudes e pensamentos coincidem Dá-se um ponto de grande monitorador externo para cada uma das respostas que o entrevistado selecionou: 1A, 2A, 3A, 4A e 5A. Dá-se um ponto de menor monitorador externo para cada uma das respostas que o entrevistado selecionou: 1B, 2B, 3B, 4B e 5B. Fator 7. Procurando animação A sétima parte extrai do entrevistado a informação do quanto ele é agradado pelas sensações que chegam a ele através dos ambientes. Pessoas com maior disposição a procurar sensações, dá-se aqui o nome de “grandes procuradores de sensações” e para os seus opostos damos o nome de “menores procuradores de sensações”. Qual frase das seguintes abaixo melhor te descreve? Mesmo se nenhuma das opções o (a) descrever exatamente, alguma chegará mais perto da outra. A B 1. Mais opções na vida é 1. Menos opções na vida é desejável desejável 2. Ambientes perigosos são 2. Lugares perigosos são asanimadores sustadores 3. Visitar novos lugares é ex- 3. Visitar novos lugares é decitante sagradável 4.Gosta de montanhas-russas 4. Não gosta de montanhas-russas 5. Dirigir rápido é mais legal 5. Dirigir rápido não é mais legal 23
Dá-se um ponto de grande procurador de sensações para cada uma das respostas que o entrevistado selecionou: 1A, 2A, 3A, 4A e 5A. Dá-se um ponto de menor procurador de sensações para cada uma das respostas que o entrevistado selecionou: 1B, 2B, 3B, 4B e 5B. Fator 8. Preocupação com limites Nesta oitava parte procuramos saber o quanto o entrevistado se preocupa com os limites à sua volta. Para isso, lhe oferecemos esse desenho de uma fileira em uma possível sala de aula e lhe perguntamos qual seria a sua escolha de assento. Cada cadeira tem um significado, como uma graduação, do quanto o entrevistado se importa com os limites à sua volta, neste desenho representados pelas paredes. Uma melhor explicação sobre os significados dessa escolha virá adiante no capítulo a tratar de como processar as informações coletadas nessa entrevista.
Fator 9. Sentido dominante Nesta nona e última parte do questionário, através de 19 perguntas fazemos uma tentativa de descobrir qual o sentido dominante do entrevistado. Vale ressaltar que não é o único sentido atuante no entrevistado, e sim o dominante, ou seja, que exerce maior influência sobre ele. Sobre isso, Augustin coloca:
“.... Nosso sentido dominante é a rota direta para nosso emocional, psicologicamente falando. Nós percebermos ou não a sensação não tem relação alguma com nosso sentido dominante. A sensação pode estar influenciando nosso canal do sentido dominante mesmo que não percebamos. ” (AUGUSTIN, 2003, pag. 103, tradução do autor)
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Responda cada uma das questões seguintes selecionando uma das respostas apresentadas. Escolha a opção que melhor descrever você. 1)Se você estivesse se consultando com uma companhia que desenhasse chuveiros, o que você ansiaria para que os designers melhorassem? O modo que a água: a)Aparenta enquanto sai se move até seu corpo b)Faz um som ao tocar sua pele, paredes do banheiro ou o chão c)Tem sabor ou cheiro d)Te provoca sensações enquanto bate do seu corpo 2)Depois de ir a um jantar na casa de um amigo, qual dos atributos da experiência você se sente mais apto a descrever em detalhes para um amigo no dia seguinte? a)Aparência da sala de jantar b)Música que tocava enquanto comia c)Sabores da comida d)Textura da comida 3)Em uma viagem longa de avião, qual dos seguintes você estaria mais propenso a considerar mais atordoante? a)Uma estampa feia no estofamento da poltrona a sua frente b)Barulho alto do motor c)Cheiro de comida queimada d)Cabine estando muito quente ou muito fria 4)Você está mais interessado no modo como um novo par de sapatos: a)Aparenta em seus pés b)Faz barulho em diferentes superfícies c)É ventilado de modo a evitar chulé d)Sente ao andar 5)Quando você seleciona um novo ventilador para a cozinha, qual qualidade você lhe influencia mais enquanto faz uma compra? a)A estética do ventilador 25
b)O barulho que faz quando funciona c)Cheiros que o ventilador irá remover do ar d)Modo como sente o vento criado pelo ventilador 6)Qual dos seguintes você mais gostaria de fazer? a)Ver arte que você gosta b)Ouvir música que você gosta c)Comer comida que você gosta d)Boiar em água que esteja na temperatura perfeita 7)Quando você está visitando uma casa que considera comprar, qual é a primeira modificação da lista seguinte que vem à sua mente? a)Mudar a cor de algumas paredes b)Instalar seu sistema de som c)Colocar um aromatizador d)Trocar o piso de modo a ficar confortável de se andar 8)Se você estiver saindo de férias para um lugar novo, qual dos seguintes você teria mais vontade de aprender uma coisa nova sobre? a)Cores e padrões de texturas que são os mais populares na população local do lugar que você estiver visitando b)Sons e músicas populares no lugar que visitar c)Essências especiais do novo lugar d)Sensação do ar, a temperatura, a umidade, os ventos predominantes do lugar visitado 9)Quando você conhece uma pessoa pela primeira vez, qual dos seguintes você está mais apto a perceber? a)Estampa da sua camiseta b)Tom da sua voz c)Cheiro da pessoa d)Textura das suas mãos quando vocês se tocam 10)Quando você se lembra do seu lugar favorito, que tipo de memórias vêm primeiro à sua mente? a)Imagens visuais b)Sons 26
c)Cheiros d)Texturas em sua pele 11)Se você estiver comprando presentes para si mesmo, qual desses você compraria? a)Coisas que você gosta de olhar para b)Coisas que você gosta de ouvir c)Coisas que você gosta de comer d)Coisas que você gosta de tocar 12)Quando está escolhendo um novo filhote de cachorro, qual qualidade te influenciará mais? a)Suas pintas e marcas b)O som do seu latido c)O seu cheiro d)O tato de seus pelos 13)O que mais lhe incomodaria em uma nova torradeira que você recebeu de presente? a)É feia b)Faz um som estranho quando em funcionamento c)O pão cheira ruim quando tostado d)A textura da peça é desagradável ao toque 14)Durante uma caminhada em uma tarde agradável de verão, qual das seguintes você está mais apto a notar? a)Padrões que a luz e sombra fazem b)Sons feitos pelos pássaros c)Cheiro das flores que desabrocham ao anoitecer d)Temperatura do ar 15)Quando está relaxando na praia, no que você mais foca? a)Desenhos na areia ou nas nuvens b)Som das ondas c)Cheiro do protetor solar e do mar d)Sensação da areia e da água
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16)Quando está escolhendo um carro novo, no que está mais interessado? a)Cor do estofamento b)Som que o motor faz c)Cheiro do interior e do filtro de ar d)Vibrações (não as do som) enquanto você dirige 17)Qual dos seguintes você curtiria mais em uma chuva calorosa de verão? a)Aparência das gotas de chuva b)Sons dos trovões c)Gosto das gotas de chuva d)Sensação das gotas ao tocar sua pele 18)Qual seria o melhor aprimoramento que os engenheiros poderiam fazer a computadores? a)Fazer as imagens que aparecem na tele serem mais vívidas b)Criar melhores sistemas de som c)Adicionar capacidade de sentir cheiro dos itens mostrados nas telas d)Melhorar o modo como os botões do teclado se comportam nas minhas pontas de dedo 19)O que seus amigos tendem a perguntar mais a sua opinião sobre? a)Padrões de papel de parede b)Sistemas de som c)Aromatizadores d)Chuveiros massageadores
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Parte 2. Conhecendo o seu lar Método Gestalt, descrito por Clare Marcus no livro “Home as a mirror of self: exploring the deeper meaning of home”3. O método consiste em uma entrevista ao vivo com o usuário com o objetivo de entender a relação deste com a sua casa. Para isso, é preciso ir até a casa que o entrevistado mora no momento e aplicar algumas formas de entrevistas que serão descritas a seguir. Com as informações tiradas dessa entrevista, de um modo bem diferente do que Augustin propõe, pode-se entender em um sentido gestáltico o que o lar significa para o cliente e aproveitar-se disso para fazer decisões quanto ao novo projeto a ser executado. Marcus diz que o objetivo é achar significados de sentimentos escondidos de um modo que não seja prejudicial ao informante. Começa-se pedindo para que o usuário desenhe a própria casa, não com objetivo de ver as habilidades manuais deste, mas sim para dar-lhe um tempo (aprox. 15 a 20 minutos) para que ele pense na sua casa e na relação que os dois tem. Por isso é ideal que se diga ao entrevistado que nenhum julgamento sobre as qualidades gráficas será feito e que o importante é o significado dos elementos ali expressados. Enquanto o entrevistado faz o desenho, peça licença para andar pela casa e se possível tirar algumas fotos. Se não for possível, faça anotações. Segundo Marcus, “nós expressamos aspectos de nosso subconsciente no nosso ambiente, assim como fazemos em nossos sonhos” . É interessante tomar nota de alguns aspectos que possam ser notados nesse passeio pelos ambientes, de modo a utiliza-los no novo projeto. Kopec, sobre isso coloca: “designers residenciais precisam primeiro entender os interesses pessoas de um cliente, seu estilo de vida, preferências, arranjo familiar, e identidade cultural para desenvolver um projeto que o cliente vá aceitar. Muitas dessas informações podem ser obtidas pela análise dos arredores existentes do cliente. ” 4 Usar um marcador de ponta grossa, que camufla um pouco os defeitos, faz as pessoas mais confortáveis ao desenharem na frente do pesquisador. Outra dica que pode ajudar o entrevistado a ser encorajado a desenhar é fornecer uma
MARCUS, 1995, pág. 7 3
KOPEC, 2006, p. 182, tradução do autor
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boa gama de opções de instrumentos de desenho, como diferentes tipos de canetas, lápis, hidrocores, réguas e em diversas cores. Assim que o desenho é declarado pronto é pedido ao entrevistado para que esse explique o desenho. O que representa cada parte, cada risco, cada palavra, as cores usadas, tudo, deve ser destrinchado. É interessante que se note as alterações no tom da voz, no modo como fala e se expressa sobre os elementos para entender a importância destes. Em seguida, é pedido ao entrevistado que coloque o desenho feito à sua frente, olhando para o desenho como se este fosse sua casa. Pede-se então que o entrevistado converse com a sua casa (representada pelo desenho), dizendo-lhe quais são os seus sentimentos em relação a ela. Se o entrevistado ainda parecer resistente, tente fazer perguntas que lhe incitem a falar mais. Faça perguntas como: Se sua casa fosse uma pessoa, como ela seria? Que tipo de pessoa sua casa deveria ser? No que ela trabalharia? Que tipo de roupas ela usaria? Que tipo de hobbies essa pessoa teria? Que idade ela teria? Se você, ou o entrevistador, for arquiteto haverá uma tendência de que o entrevistado fale muito sobre aspectos práticos e físicos, o que não é ruim, mas tente também ir além desses aspectos e force com perguntas que estejam relacionadas aos sentimentos em relação ao lugar. O próximo passo é inverter os papéis entre desenho e o entrevistado. Peça ao entrevistado que ele fale ao seu desenho agora como se ele fosse a casa e o desenho fosse ele. Peça que ele diga ao desenho, que é agora ele, o que a casa diria a ele se pudesse expressar seus sentimentos verbalmente.
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Parte 3. Conversa sobre o lar Trata-se de uma série de perguntas de um modo mais informal, perguntando sobre tudo o que for relevante ao projeto e sobre as prioridades e relações que o entrevistado tem com o lar. Pergunte sobre antigas moradias, lembranças de casas que já esteve e se sentiu bem. Ideais de moradia perfeita. Tente elaborar questões que lhe tragam informações sobre como é a relação que o seu cliente quer estabelecer com esse novo lar que você está prestes a projetar. Seguem aqui alguns exemplos de questões que podem ser dirigidas aos entrevistados: 1.Se você ganhasse hoje R$10.000,00 reais para investir na sua casa. O que você faria? 2.O que mais lhe surpreendeu no seu primeiro dia aqui? 3.Qual é a única coisa (ou mais importante) na sua casa hoje que você não mudaria? Porque? 4.Você já viu em algum lugar uma casa que você acha mais apropriada para você do que a que você vive agora? De que forma ela era mais apropriada? 5.Quais são os 3 adjetivos que você daria para a sua casa ideal? E para a sua casa atual? Porque? 6.Qual foi o espaço mais interessante que você já entrou? (Perguntar sobre localização, iluminação, tipo de móveis no local, como os móveis estavam dispostos, que cores estavam lá, cheiros, texturas, etc.) 7.Qual a casa que você mais gostava de estar na sua infância. O que você mais gostava nela?
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Capítulo 04 APLICAÇÃO DO MÉTODO DE CONHECIMENTO DO INDIVÍDUO Como parte da pesquisa para este trabalho, algumas pessoas foram entrevistadas para testar o Método de Conhecimento do Indivíduo. Outro motivo para isto foi o desejo de entender se haveria alguma mudança nos resultados quando o método é utilizado em uma cultura diferente da cultura em que já foi testado, pois toda a literatura utilizada como referência para a criação do método foi baseada em pesquisas americanas. Para efeito de comparação e teste de resultados também foi pedido que os entrevistados enviassem fotos dos ambientes de suas residências que tivessem a maior predileção. No dia da entrevista com cada um deles, foram mostradas as fotos de uns aos outros e foi pedido que a partir da imagem descrevessem como seriam os moradores daquela residência. Isso foi feito como método para provar ou mesmo entender o conceito citado por vários autores, como Clare Marcus, de que o sentimento bom em relação a um ambiente está relacionado ao quanto esse ambiente representa a sua personalidade ou pelo menos uma face desta. Para que fosse assegurado que se entrevistasse em profundidade pessoas com diferentes visões e personalidades, de modo a trazer ao TFG uma maior variedade de material para ser trabalhado, em um primeiro momento foi enviado eletronicamente apenas a Parte 1 do método a 30 pessoas, que por se tratar de um teste de múltipla escolha que não precisaria da presença de um entrevistador. A tabulação desses resultados permitiu ter um maior conhecimento dos respondentes e assim escolher 6 entre os 26 respondentes desta primeira parte. Além das perguntas já mencionadas na parte um, foram feitas perguntas sobre renda, grau de felicidade com o lar atual, grau que o lar atual reflete a personalidade do entrevistado e condições de moradia (imóvel alugado ou próprio e com quem este é compartilhado). Isso teve como 33
razão assegurar-se de abordar diferentes condições econômicas (pessoas entre classes C e A foram entrevistadas), com diferentes visões sobre o lar atual e vivendo em diferentes condições, como aluguel, casa própria ou com parentes e amigos. Todos os participantes das entrevistas têm ciência do propósito da entrevista e concordaram com a divulgação dos resultados. Contudo, para lhes preservar a identidade, aqui no presente trabalho terão seus nomes mudados. Neste capítulo apenas serão apresentadas as entrevistas exatamente como foram feitas. Mais à frente, no capítulo 09 serão apresentados os resultados que foram encontrados a partir do que foi coletado nessas entrevistas. Entrevista Mariana As seguintes fotos foram apresentadas escolhidas por Mariana, nessa ordem:
Residência de Andrea Quarto da filha Foto do Autor 2014
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Residência de Andrea Sala de Estar Foto do Autor 2014
A (autor): Eu vou te mostrar fotos de ambientes e você vai me dizer como você acha que é pessoa que mora nesses ambientes. Por favor, escolha 2 ambientes desses e me diga. E (entrevistado): Bom, está tudo super arrumadinho pra foto, então... Ai que difícil isso! (risos) Esse parece mais fácil. Esse parece uma pessoa meio “nhé nhé nhé”, assim, organizada, mais detalhista assim... Obviamente deve ser novinha, porque pra botar um quarto com borboletinhas... Um lugar de estudo... Acho que é isso, não sei se você quer que eu fale mais alguma coisa.
A: Não, fale o que você pega do ambiente. Você falou que acha que é uma pessoa organizada, o que mais? E: Acho que é isso, uma pessoa organizada. Assim, não pode ser que o quarto não fique o tempo todo assim, mas parece organizada, que gosta de um detalhezinho... A: É, eu pedi para que as fotos fossem tiradas do modo que os ambientes são, sem muita produção. E: Nossa! Que vergonha da minha foto comparada com isso! (risos) A minha sala normalmente é horrível! (risos) É... deixe-me ver qual outra foto, então... é... esse aqui (pegan-
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do na mão outra foto de outro ambiente). Esse aqui tem cara de apartamento de solteiro, difícil saber se é uma pessoa extrovertida ou introvertida, mas como não tem muito quadros... eu acho que mais pra introvertida. Acho que não é uma pessoa tão novinha quanto do ambiente anterior, parece uma pessoa um pouquinho mais velha. Acho que é isso. Depois desse momento de análise das fotos de ambientes de outras pessoas, peço ao entrevistado que desenhe sua própria casa. Pedindo que use esse tempo para refletir na relação que o mesmo possui com essa. A seguir o desenho feito pelo entrevistado:
Desenho de Mariana 2015
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A: Agora vou pedir que você me explique o seu desenho. E: Então, na verdade eu quis dizer assim: a casa em si, a construção, eu gosto. Eu não gosto da decoração interna, eu gostaria de mudar muita coisa. Gosto da minha área em volta da casa. Aqui na área da piscina eu gosto, mas queria mudar tudo, queria modernizar, queria deixar uma área mais aproveitável, porque é uma área que eu acho legal mas que a gente não aproveita porque só a piscina é legal, o resto precisaria modificar. E assim, dentro da casa eu até gosto da
disposição, gosto assim da lareira, acho que dá um aconchego. Gosto. Só não gosto do bairro! Acho que poderia assim pegar a casa e colocar em outro bairro. (risos) Assim, gosto de uma maneira geral, mas assim, a parte interna, por exemplo os móveis estão muito colocados em retalhos, porque muda um e não muda outro, não consegui fazer alguma coisa mais coesa, que tivesse mais unidade. Por exemplo: “vou fazer esse ambiente todo de uma vez, do jeito que eu quero”. Tentei deixar bonito o que disse, mas é isso mesmo. A: Interessante. Agora vou colocar o desenho aqui na sua frente e você vai falar com o desenho como se ele fosse a sua casa. Você vai falar então pra sua casa, como você se sente em relação a ela. E: Posso pedir que ela seja auto limpante? (risos) Não, eu gosto da minha casa. Coitadinha assim, ela é um pouco abandonada, mas agora eu estou retomando, então eu gosto dela, gosto da distribuição dos ambientes, acho que está um pouco mal aproveitado, mas eu gosto dela. A: Legal! Agora nós vamos fazer o inverso. Agora você falará como se você fosse a sua casa, e seu desenho é você. Quero então que você diga o que a sua casa diria pra você, que você diga o que você acha que a sua casa diria pra você se ela pudesse falar, diga como a sua casa se sente em relação a você. E: Nossa! O que minha casa sente em relação a mim? Hum... que falta cuidado. É isso, acho, que falta cuidado de uma maneira geral.... Nossa! Agora me senti péssima! (risos) Que horrível! (mais risos) A: Agora vou te fazer mas perguntas: Se você ganhasse hoje R$10000,00 reais para investir na sua casa. O que você faria? E: 10 mil? Nossa, tem tanta coisa! De construção ou de qualquer coisa? De qualquer coisa, algo que te faria se sentir melhor em relação à sua casa. Agora, nesse momento, eu gostaria de fazer a área externa, 37
ali (apontando pra fora, na área da churrasqueira e piscina). Eu acho que eu tenho uma piscina legal mas em volta não tem nada a ver com o que eu gostaria que fosse. Eu tentaria mudar isso. Ache 10 mil não é suficiente, mas tentaria mudar isso. Se não desse pra isso, acho que eu refaria essas salas. A: O que mais lhe surpreendeu no seu primeiro dia aqui? E: O que mais me surpreendeu? Ter espaço! Assim, uma casa legal, espaçosa. Apesar que assim, o bom é ter espaço, e de ruim é que é uma casa escura, principalmente por ser de madeira. Então tem dois lados. Acho que é uma casa que tem um espaço razoável, legal. A: Qual é a única coisa (ou mais importante) na sua casa hoje que você não mudaria? Porque? E: Nossa, acho que eu mudaria tudo! (risos) Bom, acho que eu não mudaria o quarto. Em termos de tamanho, não acho que eu preciso de grandes coisas lá. A: Você já viu em algum lugar uma casa que você acha mais apropriada pra você do que a que você vive agora? De que forma ela era mais apropriada? E: Bom, começando pelo bairro, pela localização da casa. Agora em relação a casa em si, eu gostaria de uma casa com mais ambientezinhos pequenos, aconchegantes, um cantinho de leitura... Já vi algumas casas assim. Com desníveis, com cantinhos legais, um escritório... Em termos gerais, isso. A: Quais são os 3 adjetivos que você daria para a sua casa ideal? E para a sua casa atual? Porque? E: Minha casa ideal: que ela fosse espaçosa, bem iluminada e que fosse confortável. Minha casa atual, acho ela confortável, porque ela atende ao que eu preciso... Mais adjetivos? (risos) Bom, acho ela bonita sim! Poderia estar muito mais bonita do que ela é, mas é bonita sim. Acho ela muito mais bonita externamente. E é uma casa acolhedora, eu acho... Nossa! Difícil isso! (risos)
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A: Qual foi o espaço mais interessante que você já entrou? (Perguntar sobre localização, iluminação, tipo de móveis no local, como os móveis estavam dispostos, que cores estavam lá, cheiros, texturas, etc.) E: Então, não tenho um espaço específico assim. Uma coisa que eu descobri é que eu gosto de espaços que integram cozinha com sala. Porque eu gosto de cozinha, gosta de cozinhar, então eu gosto de que o espaço seja integrado. Acho isso legal, acho que dá uma sensação de amplitude. Eu gosto disso, mas é gosto também quando dá pra fazer cantinhos. Espaços que são bem iluminados. Já percebi que eu gosto disso, porque eu chego e sempre acendo todas as luzes. É isso, acho que o que mais me chamou atenção nas casas que vi ultimamente é isso, essa integração por exemplo da cozinha com a sala, com uma mesa, um balcão, um passa pratos. Os móveis que imagino são mais clean, sem muito detalhe. A: Muita cor? Pouca cor? E: Não, eu acho legal alguma coisa que dê uma cor, uma vida. Por exemplo, eu fui recentemente na casa da minha sobrinha, achei tudo muito branco. O ambiente era legal, mas eu jogaria uma cor. Então acho que meu ambiente teria que ter um pouquinho de cor em alguns detalhes. Teria que ser ao mesmo tempo clean mas com toque de cor, algo mais moderno.
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Entrevista Rosa As seguintes fotos foram apresentadas escolhidas por Rosa, nessa ordem:
Acima fotos fornecidas ao autor pela residente 2015 Abaixo foto fornecidas ao autor por outro residente 2015
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A: Eu vou te mostrar fotos de ambientes e você vai me dizer como você acha que é pessoa que mora nesses ambientes. Por favor, escolha 2 ambientes desses e me diga. E: Me parece uma pessoa mais conservadora, com um pouco mais de idade. Pelo torneado da mesa, pela descrição do quadro, uma coisa bem mais conservadora. Pela luminária... Aqui parece ser uma pessoa mais jovem, embora tenha esse espelho com essa moldura mais rebuscada. Parece ser uma pessoa mais simples, eu acho. Em relação ao poder aquisitivo, uma coisa mais simples mesmo. Eu gosto de tudo muito claro. Eu me sinto muito sufocada em um ambiente assim, muita coisa escura, o piso, o sofá... eu não moraria num ambiente desse. É lógico que tudo é relativo, na época da escola, de faculdade, por exemplo, a gente mora em qualquer
canto e está tudo ótimo, depois que a gente vai ficando mais velho a gente vai ficando um pouquinho mais exigente. Se fosse então pra escolher, eu escolheria a primeira, porque tem um tapete, tem mais claridade, acho um pouquinho mais aconchegante.
A: Agora vou pedir que você me explique o seu desenho. E: Eu acho que as coisas principais são funcionalidade, assim, você tem que ter espaço pra você guardas as coisas, de uma forma bem organizada, senão eu não consigo funcionar, não consigo me organizar. E o ambiente pra mim tem que ser claro. Minha maior tristeza foi quando o vizinho aqui do lado construiu e bloqueou a luz da janela. Aí a gente teve que ir atrás de outras formas de rebater luz. Eu acho que a luz influencia muito no humor da gente. Detesto casa que tem muito enfeitinho, muito objeto, muita quinquilharia. Sabe assim, aqui e ali e lá. Eu prefiro assim, concentro ali e fim. O resto fica livre. Até pela facilidade da gente se encontrar, de limpeza, isso aí... A presença da claridade, se possível sol, e planta. Adora planta, flor, essas coisas.
Desenho de Rosa 2015
A: Interessante. Agora vou colocar o desenho aqui na sua frente e você vai falar com o desenho como se ele fosse a sua casa. Você vai falar então pra sua casa, como você se sente em relação a ela.
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E: Ah, bem-estar, né. Segurança, conforto, tranquilidade, paz... parece que quando eu entro eu penso: “poxa, meu cantinho! ”. Parece que tudo fica lá fora, tudo. Fica tudo lá fora, você chega, tira o sapato e pronto, você está na sua intimidade. Casa eu acho que é bem isso, seu cantinho de paz. Por menor que seja, mas é o lugarzinho que você chegou e: “Puxa! Meu porto seguro. ” A: Legal! Agora nós vamos fazer o inverso. Agora você falará como se você fosse a sua casa, e seu desenho é você. Quero então que você diga o que a sua casa diria pra você, que você diga o que você acha que a sua casa diria pra você se ela pudesse falar, diga como a sua casa se sente em relação a você. E: Eu acho que ela diria que nós somos um casamento perfeito (risos). Que um escolheu outro e o outro escolheu o um. Acho que é isso. Mas eu sou assim em qualquer casa que eu more, a menos que seja um lugar muito traste, entendeu? A: E o que faz a sua casa não ser esse lugar traste? O que é importante pra você ter essa relação? E: Eu acho que o diferencial aqui, que é um lugar que quando a gente adquiriu, a gente foi fazendo as coisas aos poucos, demorou muito tempo pra mobiliar, deixar a coisa pronta. Então tudo o que a gente colocou a gente pensou do jeito que a gente queria, do jeito que nós imaginamos. Tanto eu quanto meu marido. E felizmente nós gostamos das coisas na mesma linha, essa coisa mais “clean”, mais... Pra mim armário não precisa nem ter puxador, quanto mais limpo for, pra mim é melhor. E pra ele também, então acho que isso deixou a gente numa harmonia. Então eu acho que a casa quem faz é você. O espírito de quem mora é que faz a casa. A: Então você acha que pra você se sentir assim, o que foi importante é fazer essa casa ter a sua cara, ser do jeito que você queria? E: Nesse caso aqui eu acho que sim. Mas assim, quando você não pode fazer isso, como por exemplo quando as crianças eram pequenas, a casa cheia de brinquedos, cheia de coisa, 42
você tem que sempre se adequar e fazer o que você pode. Você tem que sempre pegar o limãozinho e fazer uma limonada, né? Eu acho que tem que ser assim, por isso que eu falo que eu consigo vive em qualquer lugar. Se chegar alguém amanhã e me disser que eu tenho que mudar pra um lugar pequenininho, eu vou pegar aquilo lá e deixar o melhor possível. Tem “any” ideias aí pra você enfiar as coisas, guardar, ajeitar, uma parte você se desfaz. Isso é uma coisa que tem relação com o interior das pessoas.... Isso na minha opinião, talvez até pela maturidade. Porque você passa a dar valor pra outras coisas que não o espaço, entendeu? Não sei se hoje isso pra mim diz tanto. A: Agora vou te fazer mas perguntas: Se você ganhasse hoje R$10000,00 reais para investir na sua casa. O que você faria? E: Eu mudaria o revestimento do móvel do escritório que está precisando, trocaria o piso dele e mexeria na minha lavanderia, trocaria o piso e o revestimento. No escritório porque deteriorou o móvel por causa do calor. Não trocamos o piso dele quando trocamos da casa toda porque já tínhamos mexido lá, mas depois eu me arrependi. E na lavanderia a mesma coisa. A gente arranjou um empreiteiro ruim, que me deixou na mão e acabou não mexendo ali. Então por isso eu queria mexer. A: O que mais lhe surpreendeu no seu primeiro dia aqui? E: Era um outro momento da vida, né? Minha filha tinha só 4 anos, e eu estava casada há uns 6 ou 7 anos. Então a gente tinha uma vida inteira pra frente... pensamos que a casa era grande, que seria bom. Mas o que mais me cativou nessa casa foi a luminosidade. Não tinha ainda o vizinho do lado, tinha muita luz. Gostei dos armários, uma casa ampla, com esse conceito mais aberto pra época. O fato de ter um escritório separado também. A: Qual é a única coisa (ou mais importante) na sua casa hoje que você não mudaria? Porque? 43
E: Eu não mudaria o mezanino que tem aqui. Eu acho ele perfeito. A: Você já viu em algum lugar uma casa que você acha mais apropriada pra você do que a que você vive agora? De que forma ela era mais apropriada? E: Ah, é lógico que você vê casa em programa de televisão que você pensa: nossa, que casa maravilhosa. Mas eu não invejo nem um pouco, entendeu? Porque é mais coisa pra limpar, mais coisa pra fazer, mais coisa pra consertar...A: Mas o que você acha interessante nessas casas? E: Ah, hoje em dia tem recursos de tudo quando é tipo. Mas no final tem um monte de coisa que você acaba nem usando. Tem espaço, mesmo aqui, que venho no final de semana e as vezes nem entro. A: Quais são os 3 adjetivos que você daria para a sua casa ideal? E para a sua casa atual? Porque? E: A casa ideal acho que tem que ser agradável, arejada e tem que ter a funcionalidade boa. Aqui eu tenho a funcionalidade, acho que ela é confortável, e segura né. Nos dias de hoje acho que a casa tem que ser segura. Infelizmente. A: Qual foi o espaço mais interessante que você já entrou? (Perguntar sobre localização, iluminação, tipo de móveis no local, como os móveis estavam dispostos, que cores estavam lá, cheiros, texturas, etc.) E: Acho que o espaço que mais me chamou atenção foi um hall que vi quando a gente foi pras Bahamas. Tão lindo, umas colunas enormes, enfeitadas com umas conchas, um espaço grande, com um restaurante lá no fundo. Muito lindo, muito harmônico. De móvel eu me lembro de uma poltrona bem grande, rebuscada, onde tirei uma foto das meninas, que cabia as duas sentadas juntas com folga. Tudo em granito, granito azul, aquela coisa do barulho da água... um lugar sensacional.
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Entrevista Osmar As seguintes fotos foram apresentadas escolhidas por Osmar, nessa ordem:
Acima fotos da casa de Mariana e ao lado fotos de outra residencia fornecidas pelo morador 2015
A: Eu vou te mostrar fotos de ambientes e você vai me dizer como você acha que é pessoa que ora nesses ambientes. Por favor, escolha 2 ambientes desses e me diga. E: Aqui eu acho que é um casal, acho que são pessoas que curtem a casa e gostam de receber pessoas. Acho que são
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pessoas mais simples, mais despojadas. Acho que a casa transmite aconchego. Eu me sentiria bem nesse ambiente, me sentiria em casa. Nessa outra, eu acho que não é uma pessoa sozinha, pois a casa tem muitos sofás. Acho que é uma família de uns 4 ou 5 no máximo. Acho que são pessoas um pouco mais sofisticadas que na outra, mas pessoas comuns. Acho que são pessoas mais fechadas, que não gostam muito de receber visitas, pessoas mais “na delas”. Os objetos me sugerem pessoas com um pouco mais de idade. Depois desse momento de análise das fotos de ambientes de outras pessoas, peço ao entrevistado que desenhe sua própria casa. Pedindo que use esse tempo para refletir na relação que o mesmo possui com essa. A seguir o desenho feito pelo entrevistado: Desenho de Osmar 2015
A: Agora vou pedir que você me explique o seu desenho. E: Então, a ideia é uma casa protegida. Eu gosto de visão, não gosto de morar num lugar “enfiado”, gosto de lugar
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onde sua visão alcance longe, como aqui. Gosto bastante de árvores, como você vê no desenho. A casa é simples, não gosto de casa chique. É bem o que você vê aqui. A minha casa trás para mim segurança e aconchego, isso que considero o principal. A: Interessante. Agora vou colocar o desenho aqui na sua frente e você vai falar com o desenho como se ele fosse a sua casa. Você vai falar então pra sua casa, como você se sente em relação a ela. E: Primeiro, você me traz muita segurança, muito conforto. Aconchego, gosto muito. E eu tento dar a você a minha cara, o que eu sinto pelo meu dia a dia, pela minha vida, tento transmitir, passar pra minha casa. Não sei se isso muda alguma coisa, não é uma mansão, não é nada, mas pra mim é uma mansão. No meu íntimo é uma mansão. Não em valores, é uma casa simples, não é pequena, mas pra mim é uma mansão. A: Você disse que tenta dar pra sua casa a sua cara. Como você faz isso? E: No dia a dia, assim. Plantando uma árvore, pintando uma parede de uma cor diferente.... Tá certo que no final quem manda é a patroa, mas eu tenho que dar a minha cara também. Assim, a churrasqueira eu tentei fazer com a minha cara, os móveis aqui fui eu que fiz. Porque eu queria que fizesse parte da casa, não queria ir lá na loja, comprar, escolher, queria e fazer pra, como se diz, pra unir as duas coisas, poder dizer “eu fiz”, está na minha casa e tal. Seria diferente que eu fazer pra vender. Queria isso mesmo, pra poder ter em casa algo que eu fiz. A: Legal! Agora nós vamos fazer o inverso. Agora você falará como se você fosse a sua casa, e seu desenho é você. Quero então que você diga o que a sua casa diria pra você, que você diga o que você acha que a sua casa diria pra você se ela pudesse falar, diga como a sua casa se sente em relação a você. E: Puta cara chato! Que pentelho! (risos) 47
A: Porque você acha que sua casa diria isso? E: Porque eu sei que eu sou meio chato. Porque no dia a dia eu sou muito chato. Porque ela diria que eu sou muito cheio de detalhes, muito meticuloso, minucioso... isso eu sei porque os meus colegas de trabalho me falam. Acho que ela reclamaria muito. Se eu fosse a minha casa eu não me aguentaria. A: Agora vou te fazer mas perguntas: Se você ganhasse hoje R$10000,00 reais para investir na sua casa. O que você faria? E: Poxa! Se você me perguntasse um pouco antes de terminar a churrasqueira... (risos). Mas acho que trocaria o portão lá na frente. Faria um outro muro, uma outra entrada. E melhoraria a frente toda, pois acho que está faltando isso. A: O que mais lhe surpreendeu no seu primeiro dia aqui? E: Eu não acreditei que tinha a minha casa do jeito que ela era e do tamanho. Porque era muito bom. Quase não dava pra acreditar. A: Qual é a única coisa (ou mais importante) na sua casa hoje que você não mudaria? Porque? E: A lareira. Não mexeria de jeito nenhum. Ou a varanda. Ou a churrasqueira. A: Você já viu em algum lugar uma casa que você acha mais apropriada pra você do que a que você vive agora? De que forma ela era mais apropriada? E: Ah, a minha é a mais apropriada. Não tenho dúvida. A: Quais são os 3 adjetivos que você daria para a sua casa ideal? E para a sua casa atual? Porque? E: Conforto, segurança e localização. Pra casa atual seria segurança, mas ela não é segura. Assim, digo que ela me traz segurança no sentido de me sentir seguro, não no sentido de violência, porque hoje em dia o problema de segurança está
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muito grave. Além disso acho que seria ter boa vizinhança e outro seria que ela é uma casa prática. A: Qual foi o espaço mais interessante que você já entrou? (Perguntar sobre localização, iluminação, tipo de móveis no local, como os móveis estavam dispostos, que cores estavam lá, cheiros, texturas, etc.) E: Eu uma vez um cara ligou pra mim e queria comprar um jogo de dardos (o entrevistado tem uma fábrica de alvos e dardos no estilo inglês). Me pediu uma visita pra mostrar onde ele gostaria de colocar a pista de dardos. Quando cheguei era uma casa grande, com um terreno inclinado. Então a casa era construída em vários platôs. Embaixo no terreno até tinha um campo de futebol. Quando eu entrei, a sala era toda em madeira, um negócio magnífico! Fiquei doido. Tinha um pé direito bem alto e um mezanino igual ao daqui de casa mas bem alto, com umas vigas de uns 40cm por 10cm cada viga sustentando. Um mezanino bem grande mesmo, do outro lado tudo em vidro, onde a vista dava pro fundo da casa dele, pra piscina, pro campo de futebol. Embaixo, tinha num canto uma salinha com lareira rebaixada, com uns bancos. Fiquei fissurado nesse ambiente, achei a coisa mais linda e até hoje não esqueci disso. Móveis rústicos, madeira, madeira, madeira, piso de tacão... lindo!
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Entrevista Andrea As seguintes fotos foram apresentadas escolhidas por Andrea, nessa ordem:
No topo duas fotos da casa de Victor e logo abaixo fotos da casa de Bruno 2015
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A: Eu vou te mostrar fotos de ambientes e você vai me dizer como você acha que é pessoa que ora nesses ambientes. Por favor, escolha 2 ambientes desses e me diga. E: A pessoa que mora nessa casa eu acho que é solteira, entre 20 e 30 anos. Eu diria que não é bagunceira, é até que organizada. É uma pessoa moderna, é mais extrovertida, porque ela usa vermelho na decoração. Moderna. Eu me sentiria um pouco sufocada, porque o lugar pequeno. Não conseguiria viver num lugar tão pequeno assim. Nossa, muito preto. Triste, sem vida, muito clássico. Acho pesado. Acho que a pessoa é séria, mais velha. Não tem detalhes, não tem quadro, não tem nada. Parece um quarto de hotel, tirando a estante de livros. Achei muito sem vida.
Depois desse momento de análise das fotos de ambientes de outras pessoas, peço ao entrevistado que desenhe sua própria casa. Pedindo que use esse tempo para refletir na relação que o mesmo possui com essa. A seguir o desenho feito pelo entrevistado:
Desenho de Andrea 2015
A: Agora vou pedir que você me explique o seu desenho. E: Aqui é a frente da minha casa. Gosto da frente da minha casa apesar dos portões pink, já acostumei com isso (se refere a uma escolha de cor errada feita para os portões). O jardim está ficando bem legal, gosto dessa entrada. Aqui tem esse projeto feito por uma pessoa, que é uma estante divisória,
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que eu gostei muito, que me agrada muito. Ali exponho objetos que eu escolhi, que comprei, que estamos colocando com cuidado. Ainda tem dois espaços vagos para serem preenchidos. São coisas que compramos em viagem, que eu vi em lojas de decoração e comprei. E aqui tem o que eu não gosto, que eu defini aqui em 4 itens que eu coloquei como mais urgentes que eu gostaria de modificar. Que são o piso dos quartos, modificar os banheiros, o forro, uma coisa que me incomoda demais é esse forro de madeira, e a cozinha. A: Interessante. Agora vou colocar o desenho aqui na sua frente e você vai falar com o desenho como se ele fosse a sua casa. Você vai falar então pra sua casa, como você se sente em relação a ela. E: Primeiro que casa é uma coisa que eu não curto muito, porque eu não fico muito em casa. E infelizmente, a parte que poderia curtir mais, no final de semana, trazer alguns amigos, é uma coisa que eu não gosto de fazer. Porque eu acho feio, eu não gosto de trazer as pessoas pra ver este lugar do jeito que ele está. Por isso que a gente acaba não recebendo muito em casa. Mas é uma coisa que eu gostaria de modificar. Eu diria então pra minha casa que eu não gosto de ficar nela. Eu não me sinto bem. A: Legal! Agora nós vamos fazer o inverso. Agora você falará como se você fosse a sua casa, e seu desenho é você. Quero então que você diga o que a sua casa diria pra você, que você diga o que você acha que a sua casa diria pra você se ela pudesse falar, diga como a sua casa se sente em relação a você. E: Ela diria que eu não trato ela bem. Não invisto nela, não faço o que tem que fazer pra que ela me sirva, pra que ela me seja agradável. É isso. A: Agora vou te fazer mas perguntas: Se você ganhasse hoje R$10000,00 reais para investir na sua casa. O que você faria?
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E: 10 mil? Só isso? (Risos). Eu arrumaria os banheiros e dava um jeito na churrasqueira. A: Porque essa é a sua escolha principal? E: Porque eles não estão me servindo. Estão com problema. É um lugar que eu uso bastante e me incomoda todo dia tomar banho e ver paredes descascadas, não ter um box de blindex que tem uma higienização muito melhor. E arrumar a churrasqueira pra eu poder chamar meus amigos pra ficar aqui comigo. A: O que mais lhe surpreendeu no seu primeiro dia aqui? E: Nossa, essa casa estava um lixo. Me surpreendeu como ela estava malconservada, a sujeira. A: Qual é a única coisa (ou mais importante) na sua casa hoje que você não mudaria? Porque? E: Eu não mudaria mais as salas, porque foi um lugar que a gente já investiu, já deixou dentro do possível agradável pra gente usar. A: Você já viu em algum lugar uma casa que você acha mais apropriada pra você do que a que você vive agora? De que forma ela era mais apropriada? E: Sim. Ela era mais nova, mais moderna, mais “clean” que é uma coisa que eu gosto. E tinha um acabamento com materiais que eu gosto mais A: Quais são os 3 adjetivos que você daria para a sua casa ideal? E para a sua casa atual? Porque? E: A casa ideal acho que tem que ser prática, bonita e funcional. A atual eu diria que ela é velha, mal-acabada, no sentido de ser acabada com materiais de qualidade ruim e malconservada. A: Qual foi o espaço mais interessante que você já entrou? (Perguntar sobre localização, iluminação, tipo de móveis no local, como os móveis estavam dispostos, que cores estavam lá, cheiros, texturas, etc.)
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E: Vou falar um que me lembro de há muitos anos atrás, que me deu essa sensação de que poderia morar lá. Foi a casa de um casal de amigos que a cozinha era integrada com a churrasqueira e com a área gourmet, um ambiente bem interessante. Me lembro que a praticidade de a cozinha ficar perto dessa área, pois você tem tudo disponível perto. No balcão tinha uma pia, um fogão industrial, uma chapa.... Muito legal. Tudo bem moderno, bem planejado, bem pensado. Forno de barro, a churrasqueira, freezer horizontal.... Então fica tudo bonito, fica prático, funcional. Assim que eu gosto.
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Entrevista Victor As seguintes fotos foram apresentadas escolhidas por Victor, nessa ordem:
Ambas as fotos dessa pĂĄgina sĂŁo da casa de Andrea 2015
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Ambas as fotos dessa página são da casa de Rosa 2015
A: Eu vou te mostrar fotos de ambientes e você vai me dizer como você acha que é pessoa que ora nesses ambientes. Por favor, escolha 2 ambientes desses e me diga. E: Eu acho que nessa primeira é uma pessoa mais velha, mais tradicional, deve ter uma família grande, com filhos e talvez netos. Essa pessoa liga pra decoração, mas não muito. Porque tem umas coisas na foto que não necessariamente ornam, mas mostra que ela tem algum cuidado. Nessa segunda acho que ela tem um cuidado maior, parece uma pessoa mais jovem que a primeira, porque aparenta ser um lugar mais moderno. Talvez tenha fi-
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lhos, mas não necessariamente. Talvez seja um casal novo, mas com grana. E que liga mais pra decoração. No primeiro eu acho um ambiente mais aconchegante, parece mais uma casa de família, que parece receber gente. Esses nichos parecem algo mais casinha, mais aconchegante, tem lareira, parece que é um ambiente de convivência pra fazer as pessoas se sentirem bem. O segundo, a cozinha, é uma coisa mais fria pela decoração, não parece uma área de convivência, parece uma área de passagem. Parece que a pessoa vem, só como uma refeição rápida e sai. É um ambiente mais frio, mais impessoal. Depois desse momento de análise das fotos de ambientes de outras pessoas, peço ao entrevistado que desenhe sua própria casa. Pedindo que use esse tempo para refletir na relação que o mesmo possui com essa. A seguir o desenho feito pelo entrevistado:
Desenho de Victor 2015
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A: Agora vou pedir que você me explique o seu desenho. E: Eu quis resumir os fatores que mais eu gosto aqui na minha casa que é a janela, o janelão, que é um dos motivos que me fez alugar esse apartamento. Porque eu gosto de observar a cidade, ficar vendo o movimento da rua, ver as pessoas passando. É um momento que eu até gostaria de ter mais, de aproveitar mais essa janela. Acho que é por isso que minha cama é do lado da janela. Eu gosto muito de dormir com a janela aberta, sentir o vendo, sentir frio, sentir calor... E eu acho a vista dessa janela incrível. Eu me sinto privilegiado de ter essa janela. Bom, coloquei luz aqui em cima, porque é algo que é muito importante pra mim. Apesar de não conseguir deixar do jeito que eu queria. Eu gosto de deixar um clima mais intimista, com menos luz, uma luz mais quente, enfim. E isso é meio que um resumo de todos os cacarecos que eu tenho na minha casa. Porque a minha casa é cheia de coisas e são coisas que tem significado pra mim. A maior parte delas eu acho que foi presente. Cada uma delas tem uma história na verdade. E é isso que eu gosto na minha casa, porque ela tem história. Nada aqui foi comprado, montadinho. Foi tudo construído por mim mesmo, eu que tive a ideia. Então isso aqui é meio que a junção da minha história e cada espaço tem coisas a serem contadas. E plantinhas também, que eu gosto. Eu queria saber cuidar na verdade, eu sempre deixo ela morrerem, mas acho que agrega muito ao visual e eu me sinto bem. A: Interessante. Agora vou colocar o desenho aqui na sua frente e você vai falar com o desenho como se ele fosse a sua casa. Você vai falar então pra sua casa, como você se sente em relação a ela. E: Ultimamente eu tenho sentido que você tem me recebido melhor que nos últimos tempos. Eu tenho aprendido a viver mais você ultimamente. Tenho aproveitado mais você, tenho ficado mais com você... Nossa, isso parece uma relação de namoro! (risos). E eu tenho gostado muito disso, porque isso tem feito eu crescer mais, e ficar mais comigo e acho que 58
isso é importante. Gostaria que você fosse um pouco maior, mas acho que isso não é possível. Gostaria de fazer algumas mudanças também.... Eu acho que eu tenho aprendido mais a viver você e você tem aprendido mais a me acolher. Além disso você é pra mim uma representação de conquista, já que é a primeira vez que eu moro sozinho, pago por você e tudo mais. A: Legal! Agora nós vamos fazer o inverso. Agora você falará como se você fosse a sua casa, e seu desenho é você. Quero então que você diga o que a sua casa diria pra você, que você diga o que você acha que a sua casa diria pra você se ela pudesse falar, diga como a sua casa se sente em relação a você. E: Acho que ela reclamaria que eu bagunço muito ela, deixo ela bagunçada por muito tempo. Preciso trabalhar nisso.... Ela teria dito mais no passado, dizendo pra eu ficar mais com ela, aproveitar mais ela, porque antes eu não ficava muito com ela, sempre tava querendo ficar com os amigos, fugir. No presente ela diria mesmo em relação à bagunça mesmo. Pra eu cuidar mais dela. A: Agora vou te fazer mas perguntas: Se você ganhasse hoje R$10000,00 reais para investir na sua casa. O que você faria? E: Mudaria o piso, mudaria a iluminação. Colocaria novas cortinas. O piso porque ele é muito frio e feio. Gostaria de ou madeira ou cimento queimado, que não sei como ficaria nesse apartamento. A luz eu tiraria essa luz central, ou faria um projeto melhor que eu não sei pensar agora, mas mudaria a luz porque é importante pra mim. A cortina eu mudaria porque ela é horrorosa, é um improviso e eu nunca parei pra resolver ela. Mudaria o armário também que ele é velho, colocaria algo mais prático. Mesmo ele encaixando bem ali, eu mudaria, colocaria algo mais novo. A: O que mais lhe surpreendeu no seu primeiro dia aqui? E: A janela. Totalmente. A: Qual é a única coisa (ou mais importante) na sua casa hoje 59
que você não mudaria? Porque? E: Eu não mudaria os objetos, minhas coisas, meus cacarecos. A: Você já viu em algum lugar uma casa que você acha mais apropriada pra você do que a que você vive agora? De que forma ela era mais apropriada? E: Sim. Praticamente todas as casas dos meus amigos que são maiores. É mais relacionada ao tamanho mesmo, porque aqui é muito pequeno A: Quais são os 3 adjetivos que você daria para a sua casa ideal? E para a sua casa atual? Porque? E: A casa ideal diria conforto, bonita e significativa. A atual eu diria pequena, bonitinha porque ela é pequena e importante, porque ela representa uma conquista na minha vida. A: Qual foi o espaço mais interessante que você já entrou? (Perguntar sobre localização, iluminação, tipo de móveis no local, como os móveis estavam dispostos, que cores estavam lá, cheiros, texturas, etc.) E: Uma sala de um apartamento em Higienópolis que era incrível. Ela era toda produzida assim. Tinha um espaço aberto entre a cozinha e a sala que depois e fiquei sabendo que tiraram um quarto pra deixar a sala maior. E era toda bem decorada, mas também nesse sentido de significado. Era uma coisa toda pensada, decorada, mas ao mesmo tempo tinha o dedo do morador lá, os objetos dele e tal. Tinha uma varanda imensa e a parede pra varanda era de vidro. Os móveis tinham uma mistura de madeira com ferro, um sofá grande e umas poltronas modernas. Uma mesa grande de jantar que não lembro como era. O piso era de cimento queimado, e tudo tinha cores mais sóbrias eu acho. Era assim.
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Entrevista Bruno As seguintes fotos foram apresentadas escolhidas por Bruno, nessa ordem:
A intenção nessa entrevista foi exatamente mostrar a Bruno as mesmas fotos que já haviam sido mostradas a Osmar para que pudesse haver uma comparação de opniões diferentes sobre um mesmo material
No topo fotos da casa de Mariana e logo abaixo fotos de outra residencia fornecidas pelo morador 2015
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A: Eu vou te mostrar fotos de ambientes e você vai me dizer como você acha que é pessoa que ora nesses ambientes. Por favor, escolha 2 ambientes desses e me diga. E: Eu diria que essa pessoa tem de 40 a 55 anos. Ela passou por algum momento que deu uma bagunçada na vida, em algum momento as coisas desandaram. Porque na foto tem umas coisas que não estão tão conectas, então eu acho que isso é muito resultado de quando a pessoa vai vivendo e... por exemplo, aconteceu alguma coisa e furou o sofá, então a pessoa coloca uma manta que não necessariamente tem a ver com a sala pra cobrir aquilo. Mas ao mesmo tempo eu acho que as pessoas têm boas referências, que trazem bons elementos, porque tem essa coisa do degrau essa coisa da lareira no meio, parece que ela tem boas referências de decoração, mas eu particularmente não gosto de parede de madeira. Não sei porque, mas acho que é uma casa de um homem, um pouco mais velho e é isso. Se fosse minha, o que eu faria de diferente é pintar essa parede de madeira. Tiraria um pouco dessa decoração toda, eu gosto de uma decoração mais clean. Colocaria um outro sofá, porque eu não gosto de sofá em L, no geral. Eu daria uma limpadona, porque acho que tem muitos elementos. E elementos desconexos, tipo o quadro que não combina com a cortina, que não com isso aqui... e tudo mais. Nessa outra eu acho que está mais difícil. Alguma coisa me diz que pessoas, que não tem uma relação familiar ou fraternal ou não namoram moram nessa casa. Tem elementos também legais, mas que não se conectam. Tipo esse quadro, é muito bonito, essa cor de parede é interessante, mas eles não necessariamente combinam com essa mesinha. Mas me sinto mais confortável aqui. De qualquer modo não me sentiria a vontade pra chegar em nenhuma dessas casas e deitar no sofá. Tem casa que eu entro e digo: ah, aqui eu moraria. Mas em nenhuma dessas casas eu me sinto assim. Também não gosto desse sofá, não parece confortável. E a sala me parece ter uma boa dimensão. Daria pra fazer algo legal. E agora estou vendo e penso que quem mora aqui é um 62
jovem, mas não um jovem tão da faculdade assim, acho que mais velho, entre uns 25 e 35 anos. Talvez uns 26, 27 anos. Acho que colocaria aqui um sofá, mudaria esse sofá pra duas poltronas, ou um rack, com uns elementos que me representem, sabe? Algo baixo. Algo pra aproveitar a claridade, porque esse ambiente tem muita claridade e não está sendo bem aproveitada, ainda mais com essas cortinas aqui. Mas esse quadro é bem legal. Depois desse momento de análise das fotos de ambientes de outras pessoas, peço ao entrevistado que desenhe sua própria casa. Pedindo que use esse tempo para refletir na relação que o mesmo possui com essa. A seguir o desenho feito pelo entrevistado:
Desenho de Bruno 2015
A: Agora vou pedir que você me explique o seu desenho. E: Olha eu coloquei algumas coisas que pra mim significam conforto. E pra mim conforto significa acolhimento, segurança, uma percepção de que ali está tudo tranquilo. Então eu acho que uma iluminação que é aquela iluminação de meia luz, que ela não é nem o sol tão forte, nem tão fraco, que ela tem o sol, mas é bloqueado por uma cortina que não
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bloqueia totalmente, ele traz essa meia luz. Também coloquei a iluminação de abajur, que eu acho que pra mim traz uma sensação muito boa. Coloquei umas coisas que tenho reparado nos últimos tempos que é os sons do lugar, então na minha casa nós sempre tivemos uma relação muito forte com a música. Musica me traz muito conforto, sempre. Em casa eu sempre acordei ouvindo música, faço tudo ouvindo música. Então a música ela transpassa esse conforto, assim como os cheiros. Eu tenho uma relação muito forte com comida, e aí eu acho que eu comecei por isso na direita, como se fosse esse cheiro e música que vem da porta, mas que me acolhe. Isso vem muito dos meus pais, mas que hoje já está inserido em mim. E me traz o conforto do ninho. Sem querer desenhei um ninho aqui. E tem a coisa dos livros, tanto livro na cabeceira, como na estante. Pra mim é um elemento que eu me sinto confortável tendo o livro ali por perto. Não pra eu consultar, mas pra me levar pra outras janelas. Acho que é isso, o conforto pra mim é isso, poucos elementos, uma boa luz e a possibilidade de descanso. O descanso vem com a música, vem com a luz... isso. A: Interessante. Agora vou colocar o desenho aqui na sua frente e você vai falar com o desenho como se ele fosse a sua casa. Você vai falar então pra sua casa, como você se sente em relação a ela. E: Eu gosto muito de você, eu me sinto no geral muito confortável. Nos últimos anos eu criei uma relação muito forte com meu quarto. Como um local onde eu me sinto.... Acho que nos últimos anos, desde a época da faculdade, eu me expus muito ao mundo, me permiti ser invadido pelo mundo e meu quarto é onde me sinto muito acolhido, onde eu me sinto de volta ao meu aconchego. Eu durante muito tempo eu não me senti muito bem em você. Me senti muito excluído, mas acho parte disso é pessoal, não pela casa. Eu particularmente não gosto muito da distância entre as paredes e a cama. Acho que aquela parede poderia ser menor, a gente ia se dar muito melhor. E eu gosto muito da iluminação da casa no geral, você me acolhe bem. Acho que muito tempo 64
eu não gostei de você, por onde você fica. Mas acho que hoje isso faz parte de mim também. E tentar afastar você de mim não vai trazer conforto em lugar nenhum, então eu acho que eu aceitei você bem e acho que hoje a gente se dá super bem. A: Legal! Agora nós vamos fazer o inverso. Agora você falará como se você fosse a sua casa, e seu desenho é você. Quero então que você diga o que a sua casa diria pra você, que você diga o que você acha que a sua casa diria pra você se ela pudesse falar, diga como a sua casa se sente em relação a você. E: Eu acho que ela ia falar pra eu ser um pouco mais organizado as vezes, você tem que manter um pouco mais de rotina muitas vezes. Tem semanas que você deixa tudo jogado no seu quarto, não arruma nada, você poderia colocar um tapete na sala, porque eu sinto frio na sala. E aquela cozinha seus pais encheram muito de armário e me sufoca um pouco. E acho que você poderia colocar mais plantas em mim, no geral. A: Agora vou te fazer mas perguntas: Se você ganhasse hoje R$10000,00 reais para investir na sua casa. O que você faria? E: Eu mudaria o quarto dos meus pais, porque está muito complicado, muito bagunçado. Compraria um tapete pra sala também. A: O que mais lhe surpreendeu no seu primeiro dia aqui? E: É difícil porque eu moro lá desde sempre. Mas como já fizemos muitas reformas me surpreende como a gente consegue usar muito bem os espaços. A: Qual é a única coisa (ou mais importante) na sua casa hoje que você não mudaria? Porque? E: Eu acho que eu não mudaria o meu quarto. Porque de fato é um lugar que eu me sinto muito acolhido. Gosto muito da sala também, embora precise de um tapete e um móvel pros CD’s, se a casa ficasse pra mim hoje, a sala seria o que eu menos mudaria. 65
A: Você já viu em algum lugar uma casa que você acha mais apropriada pra você do que a que você vive agora? De que forma ela era mais apropriada? E: Diversas vezes. Bem menos elementos, quando digo elementos digo cadeira, armário, móvel e tudo mais. Gosto de bem menos elementos, acho que tem que ter poucas coisas. Acho que a disposição, que é mais um problema de arquitetura do que decoração, é ser mais ampla. A decoração também pode ajudar nisso. Por exemplo o meu sofá e acho muito grande, pro meu estilo, mas eu entendo que é o estilo de vida dos meus pais ali. E acho que a cozinha da minha casa é muito cheia de armários. Prefiro mais luz e espaço. A: Quais são os 3 adjetivos que você daria para a sua casa ideal? E para a sua casa atual? Porque? E: Segurança, mas não segurança no sentido de violência. No sentido de confortável, de entrar ali e me sentir “pé no chão”. Ela tem que ser aconchegante e tem que ser iluminada. Pra casa atual eu acho que ela é movimentada, eu gosto disso, acho que ela tem uma boa iluminação e eu gosto do cheiro dela. A: Qual foi o espaço mais interessante que você já entrou? (Perguntar sobre localização, iluminação, tipo de móveis no local, como os móveis estavam dispostos, que cores estavam lá, cheiros, texturas, etc.) E: O apartamento do meu amigo de Nova Iorque. Eu gostei muito. É assim, você entra, logo a sua direita tem um lavabo, à esquerda tem um armário embutido, logo depois uma poltrona e aqui tem uma cozinha super pequena. A cozinha é a única coisa que eu não gosto, porque não tem janela, não tem nada. É daquelas que é um L, tem uma pia, um fogão, uma geladeira e é isso. Só que aí o que eu gosto é que você entra, tem uma escadinha de 3 degraus, e aí tem a sala. Toda de madeira, um sofá, o rack com a TV com uma parede cheia de elementos que ele gosta. E acho que isso é muito importante, porque são coisas que as vezes nem parecem conectadas, mas que ele gosta, e assim elas super se conectam. E 66
aí tem uma mesa e duas janelas bem grandes. Tem aí uma escada em espiral, que eu não gosto muito, mas é o que dava pra fazer ali, e tem o quarto, sem nada. O quarto é aberto. Aí tem a cama, ele tem uma arara com as roupas e é isso. E um banheiro lá em cima. Aí tem uma claraboia, mas a claraboia não é em cima da cama. É ela junto com a inclinação do telhado. E eu achei ótima. Ela é super iluminada, super aberta, tem o pé direito alto, o que eu gosto. E ao mesmo tempo tem aquela coisa de que cada ambiente tem o seu pequeno conforto. Ah, e ainda tem uma mesa de centro na sala. Com vários livros, várias coisas.
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Capítulo 05 FERRAMENTAS DE PROJETO Até aqui tratamos nesse TFG de modos de conhecer muitas características dos clientes de um projeto residencial. O objetivo destes métodos usados é angariar informações para um projeto mais rico em soluções que se adequem melhor ao perfil psicológico do cliente. Como dito no início deste trabalho, na seção de título Casa e Lar, parte da satisfação psicológica do morador em relação à sua casa está intimamente ligada à expressão de sua personalidade nesta, por isso é extremamente importante que o arquiteto se utilize destes e outros métodos para entender a personalidade de seus clientes e poder transmitir para o projeto. Nos capítulos que seguem, o objetivo é mostrar como utilizar as informações recolhidas com os métodos dos capítulos anteriores. As ferramentas de projeto estão separadas em dois grandes grupos. O primeiro deles é o grupo do projeto para o usuário genérico. Esse grupo representa um conjunto de soluções e dicas de projeto que podem ser utilizadas em quaisquer situações, ou seja, que não precisam de um conhecimento específico do usuário do imóvel a ser construído ou reformado. Essas ferramentas contribuem para o conforto psicológico de qualquer morador e consequentemente fará com que seja ainda mais fácil que este faça do seu imóvel um lar. Esse grupo de soluções é interessante pois pode pautar várias decisões quando se trata de uma edificação de uso residencial multifamiliar, por exemplo, que são bem comuns no mercado imobiliário atual, principalmente nas grandes cidades. Além disso, as ferramentas também são válidas quando o usuário é conhecido. As soluções para o usuário específico se somam a essas na hora da elaboração de um projeto. As ferramentas do usuário específico são aquelas que só devem ser utilizadas depois de um conhecimento maior do morador do imóvel a ser projetado, ou seja, através do Método de Conhecimento do Indivíduo mostrado anteriormente. Com as respostas obtidas através desse método é possível caminhar para uma maior personalização do projeto, além 69
de poder responder melhor às características dos moradores de uma forma que dificilmente seria abordada não fosse a eficácia do método citado em identificar necessidades que não estamos acostumados a estar atentos.
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Capítulo 06 FERRAMENTAS Do usuário genérico As soluções genéricas são aplicadas sem o conhecimento prévio do usuário, podendo servir como uma ferramenta base como forma de trazer a residência o mais próximo do conforto psicológico possível. A teoria dessas soluções é muito bem explicada por Augustin ao dizer:
“As sensações físicas que experimentamos influenciam as nossas vidas de muitas formas que são compatíveis com nosso passado evolutivo. (...) Todas as nossas reações psicológicas não podem ser explicadas pelo nosso passado evolutivo, mas quando planejar espaços, pense nos nossos dias nas savanas quando estiver confuso. ”
(Augustin, 2009, p.12, Tradução do autor) Ao dizer isso, Sally nos faz entender que soluções genéricas têm forte relação com nossos instintos, são inerentes às nossas vontades, crenças e gostos. Isso explica, por exemplo, porque gostamos de nos sentar em ambientes que se pareçam com refúgios, que tem contraste com o ambiente a ser visto, mais calmo, com o teto mais baixo, mais escuro. Esse ambiente de refúgio nos remete ao tempo das savanas, onde achar um lugar com essas características era se proteger dos perigos. Outro exemplo que pode ser tirado disso é nosso gosto por luz salpicada, que obtemos por brises, venezianas, cobogós e pergolados. Essa luz nos remete à luz proveniente da sombra das copas das árvores, onde nos tempos das savanas podíamos nos abrigar do sol forte. Muitas de nossas decisões e comportamentos do diaa-dia são pautados em nossas emoções. O que raramente notamos – pelo menos não conscientemente – é como os ambientes que vivemos influenciam nossas emoções através de nossos sentidos. Muitas das ferramentas de projeto que podemos utilizar para satisfazer nossas necessidades humanas, e consequentemente nossas necessidades psicológicas – já que muitas de nossas necessidades humanas estão relacionadas com nosso inconsciente – podem ser exploradas atra-
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Disponível em: http://www. placeadvantage. com/designscience.html Acesso em 15 de abril de 2015
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vés de nossos 5 sentidos. O Fator 9, do Capítulo 3, Parte 1, desse TFG trata de descobrir qual o sentido dominante de uma pessoa. Um ambiente pode fornecer experiências sensoriais contraditórias a uma pessoa, seus sentimentos nesse espaço serão formados por um balanço desses elementos, com maior inclinação para serem influenciados pelas sensações recebidas através do sentido dominante.5 Cheiros influenciam como nós executamos e percebemos as situações. Cheirar limão melhora o desempenho em tarefas cognitivas (para que as pessoas que tomam exames para tirar a carta de motorista, por exemplo, devem chupar balas de limão), enquanto o cheiro de hortelã-pimenta melhora o desempenho em tarefas físicas. As pessoas devem esfregar loções de hortelã perfumado em seus corpos antes de começar a exercer atividades físicas. A sudorese vai lançar ainda mais o cheiro de menta - o que faz as pessoas trabalharem por mais tempo e a achar seus treinos mais fáceis. As pessoas que cheiram limão relatam menos queixas de saúde, portanto, usando limão perfumado produtos nos estabelecimentos de saúde pode ser uma coisa boa6 .
““Uma essência que você adiciona a um espaço não precisa ser tão forte ao ponto de os usuários sentirem constantemente – cheiros continuam a influenciar as pessoas mesmo depois de seus olfatos terem se adaptado a eles. ” (Augutin, 2009, p.44, Tradução do autor)
Segue aqui uma pequena tabela feita pelo autor deste TFG com informações do livro de Augustin sobre as essências e seus efeitos psicológicos:
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Fazer tarefas mentais Fazer esforço físico Completar tarefas tediosas Melhorar humor Reduzir tensão Reduzir ansiedade
Limão, lavanda Menta Menta Limão, canela, baunilha Lavanda, cedro Laranja, bergamota, manjerona, essências florais (jasmim, jacinto, rosa) Relaxar Lavanda, rosa, amêndoas, cedro/pinho, bergamota, camomila, manjerona, sândalo, baunilha Melhorar o sono Jasmim Energizar Menta, limão, jasmim, manjericão, patchoulli, toranja e alecrim Aumentar o estado de alerta Menta Melhorar a criatividade Canela, baunilha Melhorar a memória Alecrim Sentir-se mais saudável Talco de bebê Reações a informações visuais estão fortemente ligadas à cultura do expectador.7 Nós julgamos quão longe estamos de outras pessoas, em parte, pela forma como eles olham para nós. Nós combinamos as nossas impressões visuais com outras pistas para determinar a nossa distância de outras pessoas - e essas percepções da matéria distância determinam o quão formal ou informalmente estamos agindo. Palavras faladas que refletem em um teto mais alto pode fazer a pessoa que fala parecer mais distante (e, portanto, tornar as interações mais formais) do que palavras faladas que ressoam em tetos mais baixos, o que faz as pessoas parecem mais próximas.8 As cores quentes nos atraem - o que não é surpreendente, porque os incêndios são vermelho e laranja e antes de termos tantas conveniências modernas (como o aquecimento), éramos atraídos pelo brilho caloroso e aconchegante de uma fogueira. Os varejistas usam esta informação para atrair
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as pessoas para áreas marginais de lojas ou para mover as pessoas através de lojas de uma forma desejável (geralmente a parte de trás da loja para que as pessoas andam por lotes de mercadorias).9 Cores claras influenciam como nós respondemos ao mundo que nos rodeia. Luz branca quente nos coloca em um estado de espírito positivo e nos torna mais interessada em resolver os desacordos por meio da discussão - mas também nos faz assumir mais riscos. Saturação e brilho influenciam nossas respostas psicológicas de cores. Cores que são menos saturadas e mais brilhantes são mais relaxantes e agradáveis, por exemplo. Mas cores precisam ser usadas com cuidado em todas as culturas, porque diferentes culturas podem ter reações contrárias à mesma tonalidade - por exemplo, em alguns países vermelho é visto como uma cor de sorte e em outros países é visto como azar ou sinal de perigo.10 Nós gostamos de ver cenas da natureza fora de nossas janelas ou em pinturas - mas as cenas da natureza que mais gostamos não são as totalmente naturais. As preferidas têm grupos de árvores e uma característica da água - mas há prados de grama curta, cortada entre esses elementos. Imagens que reproduzem intensa vegetação de selva pode nos tornar tensos. Além disso, imagens abstratas nunca devem ser usadas nos serviços de saúde - é muito fácil para as pessoas que estão sob um estresse ou que estão medicadas “ver” algo malévolo nessas formas abstratas.11 Há muitas informações, como as citadas anteriormente, que podem ser levadas em consideração para o projeto de uma residência. Contudo, não há um espaço que esteja “correto” para todas as pessoas o tempo todo. Há além de diferentes tipos de pessoas, diferentes tipos de lugares e situações que essas pessoas estarão submetidas. Como um modo de organizar essas informações dadas anteriormente e as que puderem vir a seguir, Augustin propõe um modelo para auxiliar o arquiteto/designer a responder melhor aos espaços. Através do gráfico12 a seguir, Augustin separa os usos dos espaços através de duas linhas. Uma linha, vertical, repre-
sentando o quanto o evento praticado no espaço é social ou não social e outra linha, horizontal, representando o quanto o evento é mais ativo, de maior energia física ou menos ativo, de menor energia física. Artesã Mais energia física Mais ativo Grupal
Não Social
Intelectual Menos energia física Menos ativo Sofisticada
Social Essas duas linhas dividem os espaços em 4 quadrantes, representando as atividades praticadas no espaço, que podem ser: Artesã, Intelectual, Grupal e Sofisticada. A seguir, será mostrado um resumo de algumas ferramentas de projeto que são apontadas por Augustin no capítulo 10 de seu livro Place Advantage. As ferramentas foram traduzidas, resumidas e selecionadas pelo autor deste TFG, contudo fazer parte da pesquisa da autora do livro. • Atividade Intelectual Atividades intelectuais são aquelas que envolvem esforço mental. Geralmente exercemos atividades intelectuais em escritórios, estúdios de artes, bibliotecas e quartos. Inclui-se quartos pois o processo de cair no sono é nada mais que um processo não social mental. Ambientes como esses são melhores aproveitados em um clima relaxante, com uma ambientação mais simples, pois desse modo permitem que a mente se acalme e dê liberdade aos pensamentos, sem estímulos externos ocorrendo a cada olhar. Efeitos visuais: cores das paredes, estofamentos e móveis devem harmonizar e serem relaxantes, sem grandes contrastes. Deve-se evitar o uso excessivo de branco e bege, pois podem trazer o ocupante a um estado introspectivo, o
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que pode ser improdutivo. As cores devem ser menos saturadas e mais claras. A iluminação pode ser baixa no cômodo em geral, mas com pontos de iluminação maior onde o foco é necessário. Sons: Os de baixa frequência são mais relaxantes. É interessante se atentar ao fato de que “musica menos complexa, sem palavras (ou pelo menos que não possam ser entendidas), é o melhor som de fundo para tarefas que exijam concentração. ”13 . Os decibéis devem girar entre 50-70 para que não afetem demais as atividades. Estímulos táteis: As texturas desses ambientes devem ser limitadas, com maior tendência para o liso e macio. Mas tomando cuidado para não exagerar na maciez e conforto de modo a deixar as pessoas em estado de repouso. Acabamentos foscos são preferíveis aos brilhantes. Cheiros: Baunilha ou Lavanda são as essências mais recomendadas. Organização espacial: Os assentos devem ser arranjados de forma que as pessoas não façam contato visual, para evitar que se distraiam. O lugar de cada pessoa deve estar bem definido, pois para concentração é necessário privacidade. Também é interessante que esteja à vista das pessoas algo que possam se reestabelecer do trabalho intelectual, com elementos naturais, que podem ser chamas, uma janela para o exterior, um aquário, etc. • Atividade Artesã A autora chama de atividade artesã aquela atividade que não envolve convívio social, mas que é necessário dispender de energia física para exercer. Não envolve o lado contemplativo da atividade intelectual, e sim o lado prático. As atividades em um lar que são consideradas na categoria podem ser: cozinhar, serviços na lavanderia, exercitar-se sozinho, fazer atividades manuais, hobbies, entre outros. Efeitos visuais: Cores mais saturadas, e moderadamente vibrantes são adequadas para estes usos. Cores quentes, bem iluminadas são uma boa pedida. Fazer uso dos contrastes, principalmente os que se utilizam de cores opos-
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tas na roda das cores é um bom jeito de fazer as pessoas no ambiente se sentirem ativas. Estampas com padrões mais complexos em estofamentos e papéis de parede também ajudam a manter os estímulos para o propósito. Sons: Alta frequência, de ritmo acelerado e em alturas entre 70 e 85 decibéis contribuem na hora de estimular as atividades físicas. Para essas atividades músicas cantadas, com letras estimulantes são bem-vindas. Estímulos táteis: Superfícies brilhantes, e algumas texturas estimulantes são pontos positivos a serem adicionados ao projeto desses ambientes. Cheiros: Odores de menta provaram ser estimulantes para estes tipos de atividades físicas. Organização espacial: Providenciar que os ocupantes desses ambientes tenham privacidade quando necessário é importante. A distração que podem ter ao serem estimuladas pelo convívio com outras pessoas pode atrapalhar as tarefas que têm a desenvolver. • Atividade Grupal As atividades grupais são, naturalmente, aquelas desenvolvidas em grupo, que requerem o uso de energia física. Essas atividades no ambiente doméstico podem ser: jantar em família (ou amigos, grupo de pessoas, etc.), cozinhar com alguém, praticar esportes ou fazer exercícios acompanhado, etc. Efeitos visuais: cores não tão claras, mais saturadas e contrastes dramáticos sã ótimos para atividades em time. Pode-se até usar o artifício dos vermelhos ultra-energizantes, assim como outras cores quentes, porém não como cores dominantes dos espaços. Luzes de cores quentes ajudam a melhorar o humor. Iluminação difusa ajuda a tirar o foco de apenas um lugar e nos estimula a ser mais sociáveis. Padrões geométricos, angulados, com formas assimétricas são interessantes de serem usados pois ajudam no estímulo físico. Podem ser usados em revestimentos, móveis 77
e até mesmo em estampas de tecidos e papéis de parede. Sons: Assim como para as atividades artesãs devem ser estimulantes, contudo o volume deve ser menor para que não atrapalhe o convívio social. Estímulos táteis: Texturas variadas e acabamentos brilhantes agem como estimulantes e devem ter preferência para esse uso dos espaços. Cheiros: Cravo, manjericão e alecrim são estimulantes que podem ser usados para aromatizar esses ambientes. Organização espacial: Organizar assentos de forma em que as pessoas façam contato visual é interessante. Colocar pessoas sentadas em um ângulo de 90 graus uma da outra é interessante pois faz com que possam além de ter contato visual, olhar ao redor. Providenciar que hajam também pequenas fugas do convívio social nesse ambiente é saudável, seja através de um olhar sendo direcionado a uma janela ou mesmo em um quadro. É interessante notar que nesses espaços o espaço pessoal de cada indivíduo diminui, sendo assim os ocupantes se permitem uma proximidade maior uns dos outros. • Atividade Sofisticada As atividades sofisticadas são sociais, porém de baixa atividade física. No ambiente doméstico podem ser: salas de estar, salas de música ou em ambientes que são usados para conversas. Efeitos visuais: As cores para esses ambientes devem ser mais calmas, com pouca saturação e uma claridade maior. Não é indicado o uso de contrastes dramáticos, mas o uso de cores neutras com alguns destaques de cor é bem-vindo. Paredes mais escuras, e uma iluminação mais intimista favorece o convívio social, o que pode ser bom nesses ambientes. Padrões simétricos, curvos e formas mais harmônicas são desejadas aos móveis e objetos, assim como menos estampas e estampas mais simples. Sons: Batidas mais calmas, sons relaxantes, sons naturais e a não mais de 55 dB tornam-se relaxantes. 78
Capítulo 07 FERRAMENTAS DO USUÁRIO ESPECÍFICO As soluções específicas estão diretamente relacionadas ao usuário, por isso para que seja possível a aplicação dessas ferramentas é necessário que se conheça em profundidade o usuário final da residência. O método recomendado por este trabalho é uma união entre o método apresentado por Sally Augustin e o método apresentado por Clare Marcus, como sendo o método Gestalt. Sally Augustin apresenta em seu livro que para se obter o conforto psicológico pleno, um indivíduo precisa ter ambientes que lhe proporcionem 5 conceitos definidos por ela: confortável, comunicativo, coerente, desafiador e contínuo.14 Nem todos esses conceitos precisam estar presentes em todos os ambientes de uma residência, mas é desejável que todos estejam presentes no conjunto de ambientes que constituem uma residência. Para David Kopec, por exemplo, o bom design deve possibilitar: comunicação, acessibilidade, liberdade, ocupação e relaxamento. 15 Todos esses conceitos estão embutidos em algum dos conceitos de Sally, por isso escolhi usar como base para a divisão das soluções específicas a solução de Sally e adicionar nas definições e aplicações os apontamentos feitos por outros autores. 1. Confortável O principal aspecto para o ambiente confortável é o controle. Controle sobre um espaço é sempre uma situação confortável, seja em espaço residencial ou de trabalho. “As pessoas se sentem melhor quando eles estão no controle de seu ambiente. Se as pessoas podem reconfigurar móveis, ajustar a temperatura, alterar a iluminação, escolher onde sentar, e tem opções para completar as tarefas, eles experimentam um lugar mais positivo. Controle aumenta a satisfação com um ambiente. ” 16 Por isso, tendemos a recriar experiências passadas nos ambientes novos,17 de modo a recriar a sensação de controle sobre esse novo ambiente, isso cria uma ligação
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AUGUSTIN, 2009, Cap. 4
KOPEC, 2006, p. 180 - 181 15
Disponível em: http:// researchdesignconnections. com . Acessado em 08 de junho de 2015 16
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AUGUSTIN, 2009, p. 169
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emocional no novo ambiente por se relacionar com uma experiência positiva já adquirida. Por isso é importante conhecer do usuário as experiências passadas que ele obteve em ambientes considerados por ele confortáveis. Outro aspecto importante de um ambiente confortável é que ele tem sempre uma fuga. Seja uma fuga para uma situação de estresse em que se necessita ficar sozinho ou somente uma fuga para os olhos cansados de olhar o mesmo livro, computador ou algo em que esteja se concentrando. Oferecer um canto onde se possa ter privacidade, mesmo que momentânea ou oferecer uma paisagem, natureza ou qualquer outra distração, são modos de deixar o ambiente mais confortável.
MARCUS, 1995, cap. 3
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2. Comunicativo O aspecto comunicativo refere-se à necessidade que o usuário tem que o ambiente comunique algo sobre ele. Nós estamos a todo tempo usando a linguagem não verbal nos ambientes em que frequentamos, e os nossos próprios ambientes devem fazer parte dessa comunicação. Se não necessariamente sua personalidade, algo que ele deseja que as pessoas vejam sobre você. Nossa busca por esse tipo de informação é uma das razões pelas quais os programas em que mostram as casas de pessoas famosas fazem sucesso, mostra como sabemos que conhecer a casa de uma pessoa é um modo de obter mais informações sobre ela. Outro fato que evidencia esse aspecto como positivo é uma pesquisa apresentada por Sally que diz que o bem-estar dos funcionários de uma empresa é melhor quando elas têm a possibilidade de customizar seu espaço de trabalho. Também é importante que o ambiente comunique aspectos culturais sobre o usuário. Clare Marcus18 , em “Home as a mirror of self ”, confirma isso, dizendo que as pessoas usam suas casas para expressar algo sobre elas mesmas. Sobre isso, Kopec diz:
“ Personalização geralmente reflete identidade própria; a maneira como as pessoas decoram suas casas reflete as imagens reais ou ideais que têm de si mesmos. ”
(Kopec, 2006, p. 178, Tradução do autor) O aspecto coerente refere-se aos quesitos funcionais do ambiente. É imprescindível que o ambiente seja funcional e atenda às funções que se espera dele. Um espaço bem projetado fornece as ferramentas necessárias para que o usuário possa cumprir as tarefas que ele pretende cumprir. Por isso é importante sempre entender quais são todas as necessidades que o cliente usuário daquele imóvel tem. Entender quais atividades serão desenvolvidas naquele local, qual a lógica de vida desta pessoa para que a casa possa lhe fornecer com facilidade todas as ferramentas para que o desenvolvimento dessas seja pleno. 4. Desafiador Um ambiente desafiador é aquele que favorece o usuário a fazer as atividades que estão além do seu limite, além da sua mediocridade. Um ambiente a prova de som favorece a pessoa que precisa estudar em silêncio para uma prova/exame. Um ambiente que te limite pouco te desafia a sair do óbvio. Partindo desse ponto de vista, é interessante perguntar ao cliente quais são as atividades que ele gostaria de desenvolver e não consegue por algum motivo, quais seus hobbies, passatempos e paixões. A partir disso há algum material para ajudar o arquiteto/designer a projetar ambientes que favoreçam, estimulem e desafiem os moradores a desenvolver tais atividades. 5. Contínuo A noção de continuidade é feita pela mutação. Um ambiente que não é mutável está fadado ao fracasso, já que os usuários também se transformam ao longo do tempo. Um ambiente bem projetado tem que ser capaz de ser adaptar às mudanças
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do usuário, deve ser flexível e poder ser reconfigurado prontamente. É importante nas reuniões com os clientes, falar também sobre o futuro. Erra o arquiteto/designer que projeta apenas para o presente. O bom projeto obviamente tem que atender todas as necessidades atuais do cliente, mas não devem de forma alguma engessar as possibilidades de mudanças ao longo dos anos.
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Capítulo 08 UTILIZANDO O MÉTODO DE CONHECIMENTO DO INDIVÍDUO PARA O PROJETO PARTE 1: Multipla Escolha Augustin explica detalhadamente como cada questão da Parte 1 pode ser interpretada. A seguir será feito uma breve explanação de como é possível usar as informações de cada questão para levar o projeto a um nível de maior excelência em se tratando das questões psicológicas do indivíduo que ocupará o ambiente. No paradigma da eficiência versus humanização, essa parte do método tende mais para o lado da eficiência, que segue por um viés mais “behaviorista” no modo de apresentar soluções para se atingir um projeto rico em ambientes com excelência nas questões citadas acima. Fator 1 Extrovertidos têm mais prazer em espaços sensorialmente ricos, com múltiplas cores vibrantes, música mais alta e rápida, texturas mais extremas, caminhos curvos e incenso dramático, gostam de ambientes que mudam, gostam mais de ambientes que possam dispor seus objetos que dizem coisas sobre eles que acham importante. Gostam de estar perto das outras pessoas e poder manter contato visual com eles, por isso quando compram móveis, preferem usar mais sofás em suas salas do que poltronas, preferem que não haja nada entre as pessoas que conversam. Preferem casas com planta livre, onde os espaços se misturam, com menos paredes. Em ambientes que é preciso concentração, para extrovertidos o melhor é que qualquer contato visual com outras pessoas seja evitado e que o som dos outros não chegue a eles, contudo esses ambientes precisam ser altamente estimulantes, para cativar a atenção do extrovertido de modo a ele não querer mudar de espaço. Rádio ou música pode ser uma forma estimulante, o que seria distrativo para introvertidos.
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Dos entrevistados para esse trabalho, Victor e Bruno são os dois que foram identificados como extrovertidos. A casa de Victor reflete bem essa característica, com planta aberta e ambientes se integrando. Na casa de Bruno isso pouco se nota, mas é entendível já que ainda mora com os pais. Contudo, quando Bruno comenta sobre um ambiente que gostou muito, fala de um loft de um amigo em Nova Iorque, exatamente nos moldes que pareceriam adequados a um indivíduo extrovertido. Já os introvertidos gostam de ambientes que não diferem com o tempo. Quando compram móveis gostam de arranjar os assentos em torno de móveis e preferem poltronas ou assentos móveis, onde possam proteger a sua zona de conforto. Gostam de ter algo por perto que possa desviar a atenção de alguma forma do contato visual: uma janela ou arte pode fazer as vezes dessa distração, ou mesmo um arranjo semicircular dos móveis ao invés de um circular. Preferem mesas retangulares a redondas, pois essas impõem um sentimento de união que pode deixar o introvertido tenso. Na pesquisa os entrevistados identificados como introvertidos foram Mariana, Rosa, Osmar e Andrea. Na casa de Osmar podemos notar alguns desses elementos. A sala toda se volta para uma televisão e para uma grande porta que dá acesso à varanda. Durante toda a entrevista, Osmar desviava o contato visual para algum dos dois elementos. Rosa, por mais que sua sala estivesse livre, preferiu que a entrevista acontecesse em uma pequena mesa, com cadeiras de braço alto e uma janela ao lado. Além disso em todas as casas dos introvertidos, o arranjo dos sofás era feito ao redor de grandes mesas de centro, o que não acontecia na casa de nenhum dos introvertidos. Fator 2 Pessoas absorvem informações a sua volta de maneiras diferentes. Algumas de forma mais racional e direta, os chamados aqui de “processadores explícitos” e outros de forma a interpretar mais as informações de sua forma, que chamamos aqui de “operadores implícitos”. 84
Os “processadores explícitos” (que chamaremos de explícitos daqui em diante) dão preferência a plantas simétricas, ao estilo mais clássico, estão mais atentos com seus arredores, pensam mais em função do que estética e tendem a pensar mais nos componentes individuais do espaço do que no espaço holisticamente. Mariana, Rosa e Osmar são os explícitos no grupo de entrevistados. Nos três lares é facilmente identificado o gosto pelo estilo mais clássico, através dos móveis, escolha de revestimentos, tecidos e outros detalhes. Na entrevista com Mariana, ela também deixa claro a sua preferência pelo aspecto funcional, comentando sobre as reformas que gostaria de fazer em sua casa, querendo uma cozinha mais funcional, melhor integrada com as áreas sociais, dando várias soluções práticas para uma necessidade que ela se ateve naquele momento. Já os “operadores implícitos” (que chamaremos de implícitos daqui em diante) são mais distraídos com o entorno, por isso estão mais vulneráveis a serem distraídos por suas experiências sensoriais imediatas. Implícitos tendem a gostar mais de mobiliário moderno e contemporâneo, em espaços com plantas menos convencionais. Objetos novos para um implícito precisa ter uma conotação, seja relaxante, inspirador ou qualquer outra sensação oportuna ao espaço. Por isso pode-se dizer que pensam no espaço holisticamente, com todos os seus componentes. Andrea, Victor e Bruno são os implícitos entre os entrevistados. Em todas as casas se nota um tom mais moderno na decoração e no mobiliário. Contudo na casa de Andrea alguns dos acabamentos são um pouco antigos, sendo esse um ponto que ela toma fortemente como negativo em sua casa e reclama bastante sobre isso. Na casa de Victor, os objetos que ele ali detém são de suma importância para sua satisfação com o lar e é revelado por ele que todos possuem uma conotação importante para ele.
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Fator 3 “Planejadores” são pessoas que estão preocupadas em manter uma vida organizada, diferentemente dos “improvisadores” que são pessoas mais espontâneas. Planejadores precisam de espaços que lhes permitam organizar suas coisas e serem eficientes; improvisadores preferem espaços mais casuais além de mais originais e alegres. Improvisadores não são tão organizados, embora tentem ser. Eles mantêm suas vidas em ordem com objetos que lhes lembrem dos afazeres, por isso precisam de espaço para arranjar e dispor esses objetos. Isso pode significar que eles precisam de painéis para pendurar contas, referências além de bancadas para pilhas de papéis, por exemplo. Já que são menos organizados, tendem a ser mais frenéticos assim que os prazos se aproximam, por isso seus espaços de trabalho não devem ser muito estimulantes. Improvisadores também estão mais propensos a perder o foco do que planejadores, por isso seus espaços de trabalho devem ter a capacidade de afasta-los das distrações. Improvisadores tendem a juntar mais material antes de tomarem decisões, portanto precisam de mais espaço para dispor todos esses materiais enquanto tomam decisões. Além disso precisam de espaço para guardar todo esse material. Material esse aliás que costumam guardar baseado no discurso de que o material “pode ser útil no futuro”. Na aplicação do método desse TFG identificamos como sendo planejadores os entrevistados Rosa, Osmar e Bruno. A casa de Rosa era realmente impecável, nada fora do lugar, tudo organizado, parecendo ser devidamente planejado para estar no lugar que estava. Osmar, que também trabalha em casa, tem ali seu método bem particular de organizar todos os itens relacionados ao trabalho. Mariana e Andrea foram classificadas como improvisadoras. Não que os ambientes de suas casas estivessem desorganizados, mas com certeza tinham um aspecto menos formal. Andrea também trabalha em casa e a descrição acima de um improvisador parece lhe cair como uma luva. Pilhas de papéis, contas a pagar por todos os lados. Talvez a 86
recomendação dita anteriormente de ter um trabalho menos estimulante lhe coubesse bem, pois seu ritmo de trabalho acelerado favorece esse tipo de organização. Fator 4 Pessoas que estão mais sensíveis à entrada sensorial precisam de ambientes que reduzam ou atenuem a estimulação que eles experienciam. Por exemplo. Pessoas mais sensíveis devem certificar-se que seus quartos tenham boas cortinas que tapem bem a luz da manhã e diminuam sons de pássaros ou da cidade. Eles também se beneficiam com o uso de materiais absorventes de som em seus escritórios e casas como carpetes e móveis estofados. Música calma e contínua também é uma boa ferramenta para mascarar barulhos e ajudar no sono. O mesmo tipo de música é útil para ajudar na concentração. Pessoas mais sensíveis aos estímulos dos ambientes preferem estudar ou fazer trabalho intelectual em espaços isolados, no que se assemelham aos introvertidos. Visões e sons não relacionados com seu projeto em mãos são mais distrativos para essas pessoas do que para as menos sensitivas. Simplesmente colocar uma música em um canto sem distração não vai necessariamente conduzir um bom trabalho intelectual, contudo é uma ferramenta que pode ajudar. Visões de natureza, aquários, chamas de velas ou lareiras são ferramentas que ajudam a fortalecer a energia mental das pessoas ambientalmente sensitivas. Introversão é diferente de sensibilidade ambiental pois introvertidos querem estar em ambientes menos sensorialmente ricos ao passo que as pessoas ambientalmente sensíveis precisam estar em ambientes que não lhes causem sensações que consideram desagradáveis. Introversão é, portanto, um conceito mais amplo que sensibilidade ambiental. Dos entrevistados para este trabalho, Mariana, Rosa, Osmar e Victor são entendidos como mais ambientalmente sensíveis. Todos menos Victor têm lareiras em suas casas e em certo ponto citam a importância disso para eles em seus 87
ambientes. Além disso, uma das reclamações de Victor quanto à sua casa é sobre a cortina do quarto, pois embora goste muito da visão de sua janela, o barulho e iluminação que não são bloqueados lhe incomodam bastante. No quarto de Andrea, por exemplo, que foi entendida como uma pessoa menos sensível ambientalmente, as janelas eram brancas e deixavam passar uma boa quantidade de luz e som mesmo quando completamente fechadas, mas que não lhe causam incômodo.
AUGUSTIN, 2009, p. 97
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Fator 5 Os indivíduos podem se sentir mais ou menos no controle de seus próprios destinos. Pessoas que caem mais facilmente na categoria “controla seu destino” requerem mais flexibilidade em seus ambientes do que pessoas “controladas pelo destino”. Pessoas que sentem que controlam seu destino preferem modificar seus espaços de modo a atender suas necessidades do momento. Eles selecionam móveis que podem se mover e os utilizam em várias e diferentes formas. Eles gostam de ter uma mesa que pode ficar em diferentes alturas e que pode funcionar ao mesmo tempo como uma mesa lateral, uma mesa para refeições e um local para estudar, por exemplo. Eles preferem o mesmo tipo de arranjo de cadeiras (em ambientes de trabalho) que os extrovertidos. Pessoas que sentem que controlam seu destino preferem ambientes com elementos mais lineares, enquanto pessoas que se sentem controladas pelo destino preferem espaços com mais curvas, como apontam os estudos de Juhansz e Paxson (1978)19 . Formas orgânicas e sofás moles são mais apropriados para pessoas que se sentem controladas pelo destino. No quesito cortinas, pessoas que se sentem no controle preferem as com pregas verticais do que aquelas presas por um tieback. Indivíduos que se sentem no controle do seu destino são mais preocupados com a questão de preservação ambiental. Isso pode repercutir na escolha de materiais e na incorporação de soluções baseadas nos princípios do design responsável.
Na pesquisa feita para esse trabalho, apenas Victor e Osmar foram identificados como controlados pelo próprio destino. Isso talvez explique o caráter setorizado que suas casas possuem. Na casa de Victor, mesmo sendo um ambiente bem pequeno, os móveis têm apenas uma função, sem qualquer mobilidade, o que diante das medidas reduzidas do espaço pode contribuir para diminuí-lo ainda mais. Fator 6 Grandes monitoradores externos regulam seu comportamento baseado na informação que recebem de seus ambientes sociais, enquanto menores monitoradores externos acham essas informações por eles mesmos. As mensagens simbólicas que objetos emitem são de suprema importância para grandes monitoradores externos. Esses podem ser muito afetados pelo que está na moda e em geral são rápidos ao copiarem comportamentos de outros que eles acham agradáveis ou úteis. São muito motivados a fazer boa impressão e a agir de um modo que os outros achem que é apropriado. Menores monitoradores externos estão menos preocupados com as opiniões alheias. Mariana e Victor foram identificados como menores monitoradores externos enquanto Rosa, Osmar, Andrea e Bruno foram identificados como grandes monitoradores externos. Fator 7 Algumas pessoas são mais animadas por fortes sensações externas do que outras. Pessoas que tem uma reação mais positiva proveniente de atividades mais excitantes são procuradores de sensações. Essas pessoas gostam de estar em montanhas-russas e de visitar novos lugares. Pessoas que tem um forte desejo por sensações que consideram animadoras gostam de estar em espaços que são mais sensorialmente intensos, com grandes níveis de som ambiente, essências fortes, cores luminosas e iluminação forte, por exemplo. Eles categorizam espaços bagunçados como sendo mais positivos do que ambientes arrumados, 89
enquanto pessoas que estão menos preocupadas em procurar sensações fazem o oposto. Nas condições menos arrumadas, uma grande quantidade de informações é transmitida visualmente; há mais variedade de objetos visíveis. Espaços mais bagunçados são também mais visualmente complexos – condição ideal para um grande procurador de sensações. Menores procuradores preferem espaços mais ordenados, contendo uma variedade menor de itens. Também tendem a sentir que os ambientes são maiores do que grandes procuradores porque focam menos em objetos do que no volume do ambiente propriamente dito. Grandes procuradores de sensações estão mais propensos a serem “multi-tarefeiros” do que pessoas que são menores procuradores de sensações. Esses grandes procuradores também tem uma tendência a olhar para do lado direito de algo ou de algum espaço, enquanto a população em geral é mais predisposta a olhar para o lado esquerdo, isto é, eles veem o meio como estando mais para a esquerda do que ele realmente está. Isso significa que pessoas que são grandes procuradores de sensações estão mais aptas a gostar de itens que estejam na direita do que na esquerda. Mesmo que essa procura de sensações pareça se sobrepor significativamente com os conceitos de extroversão-introversão e de sensibilidade ambiental, pesquisas têm mostrado que essa é uma construção psicológica diferente. Mariana, Victor e Rosa são aqui identificados como menores procuradores de sensações. Isso explica um pouco do que Mariana cita em sua entrevista por gostar de ambientes “clean” e também nos dá uma dica do porquê Victor deixa apenas alguns objetos em suas estantes. Quanto a Rosa, ela mesma cita em sua entrevista que prefere o menor número de elementos possível em um espaço, menciona inclusive que prefere armários sem puxador, para que transmitam menos informação visual. Osmar, Andrea e Bruno são identificados como maiores procuradores de sensações. Na casa de Osmar é possível notar que ele dá preferência a espaços ricos em in90
formações sensoriais e visuais. Há muitos elementos como diferentes tipos de madeira, texturas de tijolos contrastando com paredes lisas e de cores diferentes, além da informação produzida pelo piso de pedras. Na casa de Andrea a mesma história se repete, com diferentes estampas nos tecidos dos 4 sofás em suas salas, paredes com texturas aplicadas e cores ressaltantes e com um piso na mesma pedra que na casa de Osmar. Fator 8 Pessoas que têm consciência dos limites que lhe acercam gostam de ter mais claros os limites dos seus ambientes no dia-a-dia. Esses limites podem ser colocados com diferenças de pé direito, mudança de piso ou carpete, mudança de cor em paredes ou até mesmo por paredes. No teste aplicado, uma pessoa que gosta de ter os limites mais claros, escolherá as cadeiras mais próximas à parede, onde é possível ter melhor noção de onde são os limites que lhe acercam. Ao responder essa pergunta no questionário, curiosamente Rosa, Andrea, Victor e Mariana escolheram a cadeira de número 3, ao meio de todas as outras. A última reforma que Rosa fez em sua casa foi justamente para integrar ambientes, sala de almoço e cozinha, assim como Mariana revelou que pretende fazer em sua casa. Andrea quando cita um ambiente que gostou muito também fala de algo onde a parte externa é integrada à parte interna da casa. Victor por sua vez, vive em um espaço onde toda a distribuição de funções da casa se dá no mesmo ambiente. Bruno e Osmar escolheram cadeiras de números opostos, 6 e 1 respectivamente, contudo ambas bem junto à parede. Na casa de Bruno, os ambientes são por si só compartimentados por paredes e Bruno não revela desejo em uni-los. Osmar tem em sua casa ambientes aparentemente integrados, contudo há uma clara divisão de ambientes através de mudanças de altura de pé direito.
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Fator 9 O sentido dominante de uma pessoa é nada mais que uma ferramenta que serve como atalho para chegar nas emoções dela. Por isso, é interessante conhecer esse aspecto do cliente a quem se faz um projeto como um recurso para facilitar e agilizar sensações que se pretende atingir em algum ambiente. Por exemplo, se encontramos através do questionário que o sentido dominante de um cliente é o olfato, podemos optar por escolher as essências certas em um ambiente em que pretendemos lhe proporcionar relaxamento para mais facilmente para o cliente uma relação positiva onde a sensação de relaxamento é atingida com mais rapidez e naturalidade que em outros ambientes. Na pesquisa feita nesse trabalho, os entrevistados foram identificados como: visual, Victor e Bruno; tátil, Andrea; auditivo, Osmar; olfativa, Rosa; e Mariana apresentou um resultado curioso, com um balanço igual entre auditiva, olfativa e tátil.
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Parte 2: Conhecendo seu lar e Parte 3: Conversa sobre o lar 1.A necessidade de mais espaços de convívio Mariana tem 48 anos, mãe de 2 filhos, vive no interior de São Paulo com o marido em uma casa própria de aproximadamente 140 metros quadrados com 3 quartos, salas, cozinha piscina e churrasqueira. Em uma escala de 1 a 5, considera sua satisfação com o lar nível 3 e nessa mesma escala considera também nível 3 a graduação que sua casa representa a sua personalidade. Em sua entrevista, Mariana nos atenta para a necessidade dos espaços de convívio em sua casa, espaços esses que sejam mais acolhedores e com funções mais claras. A sua sala de estar tem hoje um visual muito rico em texturas e estampas, por ser em uma casa de madeira, onde o padrão natural da madeira é exposto em quase cem por cento das paredes e do teto. Por ser um ambiente onde são praticadas atividades sociais, de baixo desprendimento de energia, as Atividades Sofisticadas citadas anteriormente, seria interessante mudar a forma como toda essa informação chega aos olhos das pessoas. Ainda na sala, o teto, parede e piso escuros, dão à Mariana a impressão de um ambiente menor do que é e com pouca iluminação, outro ponto que é de seu desagrado em sua casa. É interessante o fato de que mesmo Mariana sendo uma pessoa Introvertida, o ponto principal de suas questões quanto a sua casa sejam as áreas sociais. Contudo, em uma certa parte da entrevista, Mariana aponta para o desejo de pequenos ambientes de recolhimento, referindo-se a esses como “ambientezinhos pequenos, aconchegantes”. Isso mostra como mesmo sem a consciência do que isso representa no âmbito psicológico, Mariana sente intuitivamente a necessidade desses ambientes. Por ser uma pessoa definida pela pesquisa desse trabalho como introvertida, a presença desses ambientes em uma situação de interação social significa para Mariana uma possibilidade de refúgio, o que lhe serve como um calmante. 93
“Assim como os animais precisam saber o status relativo dos outros animais do grupo, eles também precisam interagir com os outros membros daquele grupo. Até mesmo os mais introvertidos humanos precisam de contato regular com pessoas. Quando temos privacidade, podemos controlar quando e como nós interagimos com outros humanos. Interação social incontrolável é muito ruins para humanos; deixa-nos tenso e apavorados”
(Augustin, 2009, p. 17, tradução do autor) Sendo assim, a atitude de projeto mais adequada em relação à Mariana seria planejar os espaços de convívio que deseja, mas sempre de uma forma que lhe permita um maior respeito ao seu espaço pessoal, em salas com mais poltronas, em mesas com distâncias maiores entre as cadeiras, providenciando sempre uma fuga rápida para que possa interagir com as pessoas dentro de seus limites. Outro fato interessante de se comentar é que Bruno ao comentar a foto da casa de Mariana parece adivinhar só pela imagem a história do imóvel. Mariana comenta em sua entrevista que sente certo pesar em relação à decoração de sua casa pois nunca nada foi pensado como um todo, e sim fazendo-se aos poucos, sem muita ordem, de acordo com as possibilidades econômicas. Bruno diz praticamente isso, ao falar dos móveis desconexos (em sua opinião), da falta de combinação entre tecidos, quadros e objetos de decoração. 2.A casa como porto seguro Rosa tem 52 anos, mãe de 2 filhas, vive em São Paulo com o marido e filhas mas teve boa parte da vida em uma casa no interior de São Paulo, a qual se refere nessa entrevista, uma casa própria de aproximadamente 250 metros quadrados com 3 quartos, salas, cozinha, piscina e churrasqueira. Em uma escala de 1 a 5, considera sua satisfação com o lar nível 3 e nessa mesma escala considera também nível 3 a graduação que sua casa representa a sua personalidade. É notável a satisfação de Rosa com a sua casa, que podemos com certeza chamar aqui de Lar. O sentimento des-
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crito por ela de segurança, de ter a casa como um porto seguro e até mesmo o jeito amoroso como descreve os ambientes são um claro retrato do significado e da relação que Rosa tem com seu lar. Rosa conta toda a sua história de relação com a casa, o processo de mobiliar, de reformas, de mudanças, de construir aos poucos e do jeito que desejava. O que é por ela descrito como sendo ideal, ou como de sua preferência é facilmente notado em um breve passeio por sua casa.
“Nós formamos ligações com lugares que não somente definem ou expressam quem nós somos (isto é, dá suporte à nossa imagem de si) ou de quem nós queremos ser, mas também que nos dão um senso de pertencimento, de liberdade, ou os dois (isto é, nos fornecem segurança psicológica). (Kopec, 2006, p.178, tradução do
autor) É, portanto, possível relacionar nesse caso que o fato de sua casa representar sua personalidade e gostos pessoais com o sentimento de ligação, de pertencimento e de acolhimento que ela tem com o local.
3.A casa como um reflexo de si Osmar tem 56 anos, pai de 1 filha, vive no interior de São Paulo com a esposa em uma casa própria de aproximadamente 120 metros quadrados com 2 quartos, salas, cozinha e churrasqueira. Em uma escala de 1 a 5, considera sua satisfação com o lar nível 5 e nessa mesma escala considera também nível 5 a graduação que sua casa representa a sua personalidade. Outro entrevistado que se demonstra plenamente satisfeito com seu lar é Osmar. Aos poucos ele vai nos revelando cada etapa alcançada no local, as várias adaptações, reformas e adições que aos poucos foi fazendo, sempre seguindo os seus padrões e gostos junto com os da esposa. A importância que Osmar dá ao fato de ele ter literalmente ajudado a construir elementos da casa é notável e isso certamente é responsável pelo sentimento de apego e
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segurança que ele tem com a casa, assim como no caso de Rosa. Sua capacidade de transmitir sua personalidade e suas ideias ao seu imóvel é impressionante, um breve passeio e conversa com o entrevistado são suficientes para entender essa relação. Além disso, quando Osmar descreve o ambiente mais interessante que já entrou a é impossível não notar a relação de tudo o que diz com a sua casa atual. Nesse caso também parece seguro dizer que a relação entre satisfação com a casa, sentimento de aconchego, proteção e ligação estão associados ao fato de a personalidade do morador estar exibida através dos elementos de sua casa. Esse ponto é de total concordância entre os 3 principais autores desse trabalho, Augustin, Kopec e Marcus. Todos concordam que o processo de personalização, de transferência da personalidade para o design da casa é benéfico e cria entre imóvel e indivíduo uma ligação saudável do ponto de vista psicológico. Para completar isso, é por mais que seja em um estilo totalmente diferente da sala de estar de Rosa, a sala de estar de Osmar possui da mesma forma uma combinação de elementos como descrito neste trabalho anteriormente como ideal. 4.A insatisfação na casa que não se tornou Lar Andrea tem 54 anos, mãe de 2 filhos, vive no interior de São Paulo com o marido em uma casa própria de aproximadamente 200 metros quadrados com 3 quartos, salas, cozinha e churrasqueira. Em uma escala de 1 a 5, considera sua satisfação com o lar nível 3 e nessa mesma escala considera também nível 3 a graduação que sua casa representa a sua personalidade. A insatisfação de Andrea com o lar é clara. O seu desenho expressa de várias formas o quanto ela não se sente bem no ambiente em que vive, pois expressa logo de cara os elementos que não lhe agradam e aponta em letras garrafais que deve-se modificar. Adiante na conversa, Andrea vai dizendo o que lhe 96
incomoda em relação ao seu lar e o predomínio no que diz está relacionado aos acabamentos. Não somente pelo que são em si, mas pela história que carregam consigo. Andrea cita por algumas vezes que esses acabamentos não são atuais, que já estavam no imóvel quando por ela foi ocupado, deixando transparecer que não é só o aspecto dos acabamentos em si que lhe incomodam, mas também o fato de pertencerem a uma história que não é a dela. Já foi citado anteriormente que Andrea é uma pessoa que está antenada com as novidades do mercado e se coloca em uma posição onde se importa com isso. Uma informação bastante relevante que Andrea dá em sua entrevista é sobre a sua relação com o morar. Andrea não é uma pessoa que gosta de ficar em casa, tem uma vida muito ativa, tanto no quesito social quanto em relação ao trabalho. Mas ao ponderar um pouco um dos motivos de não ficar em casa, diz que não se sente bem em trazer as suas relações sociais para casa, pois não se sente bem trazendo pessoas para ver algo que ela não gosta. Neste caso, a falta de expressão de personalidade da moradora em sua casa cria uma relação oposta à apresentada por Osmar e Rosa. Cria uma relação de desapego, de insatisfação. Andrea assume também não tratar bem sua casa, não investir para que ela fique do jeito que gosta, o que pode criar um ciclo sem fim, ocasionando mais insatisfação. Outro ponto interessante da entrevista a salientar é que o espaço que Andrea relata mais gostar em sua casa hoje é um espaço onde ela colocou algum esforço para ter as coisas que gosta, onde escolheu os objetos cuidadosamente para serem expostos, ou seja, é um espaço que de alguma forma transparece um pouco de sua personalidade. 5.O Lar temporário feito através de objetos com histórias Victor tem 25 anos, solteiro, vive em São Paulo sozinho em um apartamento alugado de aproximadamente 35 metros quadrados com 1 ambiente de quarto e sala conjugados, cozinha e banheiro. Em uma escala de 1 a 5, considera sua satisfação com o lar nível 4 e nessa mesma escala 97
KOPEC, 2002, p. 103
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considera nível 5 a graduação que sua casa representa a sua personalidade. Impossível não notar a importância que os objetos e seus significados têm na casa de Victor só pela visita. Cada cantinho e cada espaço parece ter sido pensado especificamente para expor essas materializações de histórias que esses objetos são. A entrevista com Victor só confirma o que lá e possível de se ver. E confirma ainda o quanto a presença desses objetos faz com que o imóvel alugado por Victor se torne seu lar, lhe proporcionando o acolhimento e ligação inerentes a esse. Cada objeto tem uma história, e essas histórias são parte também da história de vida de Victor, fazendo então de sua casa uma exposição de quem ele é. Victor é o único dos entrevistados que se pode dizer que vive em uma situação imobiliária temporária, pois vive em um imóvel alugado. Kopec diz: “Pessoas que enxergam suas moradas como temporárias não estão preocupadas qualidade funcional e estrutural, desejam itens que sejam facilmente levados a novos lares, e frequentemente não se preocuparão com jardinagem ou design de interiores. ”20 . Um fato curioso sobre a entrevista de Victor é que o item que mais lhe surpreende e agrada na casa é o item que lhe relaciona com a cidade, a janela. Ao mesmo tempo ele admite até o momento ter se relacionado pouco com a casa em si e mais com a cidade, relatando que a mudança nos últimos tempos desse comportamento, lhe trazendo mais para dentro de casa, o fez olhar de outra forma e gostar mais do ambiente em que vive. 6.O apego sentimental à uma casa da infância Bruno tem 26 anos, solteiro, vive em São Paulo com os pais em uma casa pertencente aos pais de aproximadamente 120 metros quadrados com 3 quartos, salas e cozinha. Em uma escala de 1 a 5, considera sua satisfação com o lar nível 3 e nessa mesma escala considera nível 5 a graduação que sua casa representa a sua personalidade. Por viver na mesma casa desde que nasceu, Bruno mostra que vários objetos, móveis e elementos da casa
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tem uma conotação sentimental muito grande, lhes trazem memórias afetivas da infância, assim como os sons, cheiros e eventos que acontecem na casa. Isso tudo lhe dá a sensação de seguridade e conforto que necessita, fazendo dessa casa para ele um lar. Assim como previsto por Marcus21 , Bruno entende que seu lar tem o domínio de seus pais, contudo o seu quarto é o ambiente que ele criou um sentimento de pertencimento, por isso é o que escolhe desenhar em sua entrevista como sua representação de sua casa, diferente de todos os outros entrevistados que desenharam figuras mais genéricas ou de mais partes da casa. Uma passagem que merece atenção da entrevista de Bruno é quando menciona a quantidade excessiva de elementos escolhidos por seus pais para alguns cômodos. Os pais de Bruno e ele tem claramente personalidades e sensações diferentes quanto a esses elementos, mas por ser este um ambiente compartilhado há uma certa tolerância.
MARCUS, 1995, p. 160
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Capítulo 09 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir da transição do método de manufatura para o método de produção industrial nossos produtos começaram a perder o caráter artesanal e consequentemente o caráter pessoal. Para a produção em massa os produtos tiveram que perder seus adornos para se encaixar nesse novo método de produção. A escola Bauhaus, ajudando a divulgar essa nova estética, condenou a ornamentação tornando corrente a máxima “Se funcionar bem, será bonito” e Mies Van der Rohe com a máxima do minimalismo de “Menos é mais”. Essa nova estética foi extremamente importante para firmar o desenvolvimento industrial pois a indústria de produção em massa não suportava tecnologicamente nenhum tipo de personalização nos objetos produzidos. Esse pensamento chegou também fortemente na arquitetura na medida que as cidades foram crescendo e uma produção grande de moradias foi necessária. Quase como um carimbo, plantas de apartamentos e casas foram repetidas em inúmeras cidades, em vários tipos de climas, terrenos e bairros, alterando paisagens e cidades com uma arquitetura nomeada por Alain de Botton de “Pastiche”, a arquitetura do “mais do mesmo”. Há pouco tempo a indústria tem se desenvolvido de tal forma que a produção em massa personalizada está cada vez mais perto. As impressões em três dimensões, as máquinas CNC (Controle Numérico Computadorizado) e outras têm facilitados essa nova produção. A empresa de calçados Nike foi recentemente pioneira nesse quesito permitindo a customização de vários itens de alguns de seus calçados pelo site da empresa, onde havia uma conexão direta com a fábrica que produz. Victor Papanek, em seu livro “The green imperative: ecology and ethics in design and architecture” (2003), entende a moda do “tunning”, que é a personalização de carros, 101
PAPANEK, 2002, p. 65
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Disponível em: http:// vejasp.abril.com. br/materia/ moda-hipster/ acessado em 21 de junho de 2015
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como um recado dos consumidores às montadoras dizendo que estão cansados das mesmices dos carros produzidos.22 Recentemente, a moda “hipster” tomou conta das grandes cidades. “O termo começou a ser utilizado em Nova York lá pelo início dos anos 2000, e vem da palavra “hip”, que pode ser traduzida como inovador. ”23 . Essa moda nada mais é do que pessoas que ao invés de seguirem as modas e tendências mundiais, aplicam parte de sua personalidade no seu jeito de vestir, decorar e morar e curiosamente são copiadas por pessoas que preferem seguir modas. Todos esses fatores mostrados até agora são indicadores de que as pessoas estão cada vez mais voltando os olhos para a personalização e entendendo o quanto isso é importante para elas. A tese defendida nesse TFG aponta para o fator que essa “moda” apresentada anteriormente não é apenas algo passageiro, e sim uma necessidade humana de nos comunicar através de nossos objetos, roupas e lares. É algo que é positivo para o nosso bem-estar psicológico. Com o que foi apresentado neste TFG, houve a intenção de dar ao leitor um conjunto de ferramentas para proporcionar a um projeto uma percepção diferente do morar, uma percepção mais humana, onde o morador com seus sentimentos, sentidos, preferências, bagagem cultural e personalidade são levados em consideração e sendo colocado como prioridade no mesmo patamar das funções físicas de abrigo, estanqueidade e proteção de uma edificação.
“O morar vem antes do construir. (...) Só quando somos capazes de morar é que conseguimos construir. (...) Morar significa ser, ser com outros, ser no interior do ser do mundo. Graças ao morar, tornamo-nos e somos. Morar não é morar em, mas estar com. ” (FRY, 2009,
p. 133 – 134)
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TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO GUILHERME DE ANDRADE ROSA LONGO São Paulo 2015