Cidades Crônicas Memórias de BH no século XX
Maíra Lobato Marcela Campos Terra Mariana Pires Sálua Zorkot
“Não é toda hora, na fúria da pressão cotidiana, que a gente encontra projetos ousados. Aliás, ousadia já é palavra gasta nos excessos dos discursos publicitários, ao lado de vocábulos como atitude e força. Porém, este trio de palavrinhas mágicas aparece com louvor no trabalho de quatro jovens jornalistas. Maíra, Marcela, Mariana e Sálua resolveram assumir sua paixão pelo universo da crônica, terreno híbrido e plural por excelência, ao resgatar, do limbo pretérito, crônicas de autores esquecidos como Franklin de Salles ou que não devem ser esquecidos, caso de Roberto Drummond. Não satisfeitas com o resgate, o quarteto fantástico de meninas superpoderosas resolveu topar o desafio de reescrever alguns deles, cada qual ao seu estilo. O que poderia ser uma demonstração de arrogância ou arroubo pós-juvenil converte-se em experiência saborosa. Elas sabem que a cidade e os paradoxos que circulam por ela, belos ou tristes horizontes, são textos. E, entre paráfrases e paródias, apostam na alquimia intertextual, des
Cidades Crônicas Memórias de BH no século XX
Maíra Lobato Marcela Campos Terra Mariana Pires Sálua Zorkot
Belo Horizonte | 2008
Este livro 茅 dedicado a todos os mineiros que sempre inspiram escritores a contar boas hist贸rias que traduzem a nossa mineiridade de um jeito singular em cr么nicas primorosas.
Muito obrigado ao professor, mestre e amigo Mozahir Salomão, que acompanhou, incentivou e possibilitou a produção desse livro. Aos escritores Olavo Romano, Alécio Cunha, Eduardo Almeida Reis, Maurício Lara, Márcio Rubens Prado, Lindolfo Paoliello, Roberto Mendonça, que nos possibilitaram uma experiência direta e um contato próximo com o universo fascinante da crônica. Aos ilustradores Marcelo Lelis e Paulo Gomes que gentilmente fizeram as ilustrações para o livro. E a todos que contribuíram com palpites mineiros nos nossos textos.
“A crônica é o ofício de viver em voz alta” Rubem Braga
Índice prefácio
11
Capitulo 1 - Primeira década do Século XX Chronica Azul 14 Daqui se vão Ao Luar 16 Do alto das montanhas
15 17
Capitulo 2 - década de 1910 Chronica Social 20 O cinza que incomoda Chronica Social 22 Olha o Amolador!
21 23
Capitulo 3 - década de 1920 A cidade modelo 26 Um imenso canteiro. De obras 27 Vida Moderna 28 A vida de hoje, a vida do “eu” 30 Capitulo 4 - década de 1930 Aventuras de um turista 34 ‘Turista’ na cidade grande 35 Curral Del Rey 38 Roça Grande 39 Capitulo 5 - década de 1940 Se todos fossem cordiaes... 42 Educação individual Vamos parar com o barulho? 44 Barulho Ambulante
43 45
Capitulo 6 - década de 1950 Um anuncio original 48 A Última 49 Quem Te Viu e Quem Te Vê... 50 Que venha o progresso... 52 Capitulo 7 - década de 1960 Mineiros de ontem e hoje 56 Folia de BH Pai João 58 Filha de Terreiro
57 59
Capitulo 8 - década de 1970 Amor à terra 64 Lembranças H.P.S. O socorro improvisado 68 Hospital mais humano
64 70
Capitulo 9 - década de 1980 Catadores de papel 74 Brincadeira de criança 76 Hoje tem espetáculo 78 Quem não é quadrado, se vira 80 Capitulo 10 - década de 1990 O Santa Maria 84 Mudando com o mundo 86 Batendo à porta do céu 88 Viver é melhor que sonhar 90 Bibliografia
93
Prefácio Cidade e memória. Espaço e tempo. A crônica e o convexo. Sem dualismos, a vida se institui narrativamente. E assim o passado se faz, é dizer, da relação entre o presente e o futuro. Dessa coletiva obra moral e estetizante que é a memória. Essa validação não do que foi, mas do que convém. A todos e a cada um. O habitual e o incomum, na sua efemeridade, registrados a partir do enviesado olhar do cronista: a não-história, a narrativa despretensiosa do recorte e do interdito. A matéria-prima do que atestou, quando presente, o passado, parece permanecer quase a mesma: angústias, fobias, intolerâncias e desejos. E assim se edifica mentalmente uma cidade e sua inscrição no tempo, que são suas histórias possíveis. O passado, revisitado, teima em se apresentar pela sua face mais ingênua. Engano que preserva. A atualização da memória só é possível pela dádiva do tempo. Versão da versão. Convite ao preenchimento de nossas fundantes incompletudes. Paradoxal ressentimento inédito. Dialogismo tardio. Cidades crônicas. Narrativas espacializadas. Novamente, memória. Para sempre, projeções. Este livro é um lugar de desencontros. Vinte, entre infinitas possibilidades, crônicas do passado. Vinte, entre infinitas possibilidades, releituras e reescritas. Livre vintage. No objeto, sua aspiração, objetivo e destino: constituir-se, também, memória. Mozahir Salomão
| 11
06
Capítulo 1
Primeira década do Século XX
Capítulo XX
| Década de 19XX | XX
Chronica Azul E.C. - Diário de Minas -
04 de março
Estas luminosas manhas de junho em que há toda uma orchestraçao de ninhos palpitantes, são os arautos que vem anunciar a Bello Horizonte a sua épocha áurea, o trimestre legislativo, que é para a nossa cidade uma parentheses azul em meio à monotonia que nos cerca. Dentro em breve aqui chagarão elles, os LYCURGOS, cobertos de pó- uns com os ouvidos aoinados pelo trepidar dos comboios nos longos trilhos intermináveis, outros trazendo ainda na retina a paizagem sertaneja, os extensos chapadões immutaveis ou as densas florestas murmuras.. Para uns a travessia foi feita burguemente, no wagon, entre bocejos de tédio e conversações que se arrastam, aspirando o insupportavel carvão de pedra, povilhando-se de poeira, nas grandes lufadas que a rapidez do trecho vae levantando pelas estradas brancas. Para os outros, o trajeto moroso, ao chouto dos animaes, galgando collinas, atravessando vastas planícies silenciosas, teve algo de mais poético, por que eles o fizeram ouvindo. De quando em vez chalrarem pássaros nos altos ramos até que chegasse o repouso amigo, onde o estomago se reconforta nos appetitosos quitutes mineiros, e os membros lassos vão repousar, emquan-
1902
to lá fora a camarada canta para as extrellas, à touda sensida da viola, toda poesia primitiva das trovas do sertão... E assim virão chegando à capital os legisladores. Como elles virão também os dias álacres de Bello Horizonte, que vibrará mais um pouco, movimentando-se, divertindo-se, tendo à noites, no Soncasane, (il.). Da opereta ou o riso da comedia, ambicionados por todos nós neste prolongado lethargo em que temos vivido. Depois de exgottado o trimestre azul, de novo volverá o eyelo pacifico de um viver flamengo, sem mutações, invariável e implacável como afinal é a própria essência da Vida... Mas... não pensemos por emquanto nas tristezas futuras, e saudemos junho que surge annunciando o renascimento da capital nestas manhas sonoras, em que uma pontazinha de frio vae provocando nas águas e nas frondes. Bruscos arrepio de mulher beijada, como se a natureza toda deste torrão abençoado as tivesse na espanejar-se, buscando, num raio de sol bonachão, um abrigo tépido contra o inverno que começa...
(i.l.) – ilegível no original. Algumas crônicas foram retiradas de jornais muito antigos e devido a qualidade dos arquivos não foi possível identificar algumas palavras. Mas isso não invalidou tais textos.
14 |
Capítulo 1
|
Primeira década do Século XX
Daqui se vão Marcela Campos Terra Em mais um ano de eleições, estamos prestes a ver tudo acontecer de novo, todas as campanhas, as carreatas, passeatas, disputa eleitoral, voto a voto. Todos envolvidos numa mesma vida democrática do país. Mas no exato momento os legisladores de nossa capital estão se preparando para voltar pro interior de Minas, mais especificamente de onde vieram, pois é lá o local onde ele ajudará seu partido a ganhar mais votos. É onde serão iniciadas as campanhas políticas. Faz parte também desse momento, esperar pela chegada dos que estão em Brasília, para que os que estão aqui tenham seu apoio. Mas antes de tudo isso, para um breve descanso e preparação estratégica teremos o recesso legislativo. Assim, por volta de agosto, provavelmente, serão intensificadas as conversas, os debates, comícios, mais denuncias de escândalos, personagens, promessas e muita, mas muita sujeira no final. Muitos santinhos, papeis voando, ruas desertas, bares fechados e pessoas caladas. É curioso como o período préeleitoral é curto, mas intenso. Ainda mais por que é ano de eleições municipais, para prefeito e vereadores. São políticos que estão mais perto, por isso, têm mais contato, mais olho no olho, e mais disputa por votos. É por isso, que cada político é tão importante para
a sua cidade, por que ele tem que demonstrar seu apoio aos candidatos de seu partido ou coalisão. É assim que começa o inverno na capital mineira, com o esfriamento e quase congelamento dos trabalhos na Câmara Estadual, já que muitos deputados abandonam a cidade para ter férias tranqüilas, em viagens fantásticas, praias paradisíacas e luxuosos hotéis, outros retornam a seus lares no interior de Minas onde, são recebidos com grande calor humano do seu eleitorado. E a capital fica parada no que se diz respeito aos trabalhos legislativos, da Assembléia Legislativa. Mas é aqui também que se ouvira em breve, o esquentar dos motores das disputas políticas em sua pura demonstração de democracia.
Capítulo 1
| Primeira década do Século XX | 15
Ao Luar Bazilio Silva - Diário de Minas Seriam onze horas da noite. O firmamento estava rigorosamente límpido, azulado, cravejado de (i.l.) de seintillantes estrellas de cujo centro desenrolava se, qual immenso fitão (i.l.), a formosa Via Láctea. Branda a fresca viração perpassava agitando mansamente a folhagem das arvores. A lua coando atravez da espessa copa dos arvoredos, sua luz epsima, desenhava no solo espisado das flores desprendidas ao sopro do (i.l.) vespertino, figuras exóticas, diversas. As vezes ouvia se o farfalhante rumor produzido pelo pesado vôo de alguma ave noturna que atravessava as campinas solitárias do espaço restabelecendo-se logo a rispidez profunda em que fazia a natureza. So de longe em longe vinha (i.l.) em que jazia a cidade, o suave rolar de algum bonde que deslizava por alguma de nossas ruas. Recostado a janella de meu quarto, cigarro entre dedos, contemplava extasiado, a belleza daquelle céo acetinado absorvendo destrahido o perfume trescalante das magnollias que criam a frente de nossas casas. Deslumbrante, arrebatador, era o painel que se desenrolava ante meus olhos! Quadro soberbo! Quadro digno das cores de Marildo e de baril de Miguel Angello! E ao longe restos a se desaparecer por
06 de janeiro de
1908
detraz do (i.l.)esverdeado da montanha que circunda o (i.l.) horizonte a lua ineblinando-se mais e mais, projectava sobre o casario da cidade , um verdadeiro chuveiro de raios pratedaos que refletindo nas vidraças formavam verdadeiras aureolas argênteas. Então, se despertou em meu espírito, um turbilhão de idéias que alli jaziam amorecidas. Tive saudade! Tive saudade dos extensos e verdes prados esmerados de flores que bordam os ribeirões de minha terra natal! Tive saudade das murmurantes fontes que se despenham em estadapes, nos numerosos bosques que se destacam nas campinas de minha terra! Tive saudade do (i.l.) canto das cigarras que só sei pino, fazem (i.l.) moitas de aceiras dos campos. Tive saudade dos bandos de ciriemas que percorrem cacarejando a extensão daquellas várzeas amenas. Tive saudade e saudade tão intensa que se converteu em profunda nostalgia, da qual veio despertar-me o primeiro raio de estrella d’alma que lá surgia rutilla no horizonte. E então esclama com o Poeta Lyrio: “Tem tantas bellezas tantas A minha terra natal Que nem as sonha um poeta E nem as canta um mortal”
(i.l.) – ilegível no original. Algumas crônicas foram retiradas de jornais muito antigos e devido a qualidade dos arquivos não foi possível identificar algumas palavras. Mas isso não invalidou tais textos.
16 |Capítulo 1 |
Primeira década do Século XX
Do alto das montanhas Mariana Pires Em Belo Horizonte, ainda, é possível ver um céu estrelado. Durante o inverno, quando quase não há sinal de chuva ou de nuvens carregadas, as noites belo-horizontinas têm se mostrado um espetáculo à parte: o frio ameno, o céu aberto, as estrelas e a lua compõem um quadro místico e íntimo que leva o cidadão que pára para observar, por um minuto que seja, saindo do trabalho ou indo se deitar, sensação mística e familiar, como se lembrando que Deus está olhando por ele. Talvez na região central da cidade, a poluição do ar, sonora e visual, além dos prédios altos e luzes do comércio, podem atrapalhar o momento de comunhão do cidadão com a natureza. Porém a capital mineira possui outro diferencial: o fato de ter sido construída ao pé das montanhas. O belo-horizontino pode, então, subir nos pontos mais altos da cidade, como a Praça do Papa ou outros diversos mirantes espalhados pelos bairros, e, aí sim, ter a regalia completa de poder observar, mesmo nas noites mais nubladas, todas as estrelas e a lua em um céu que cobre toda a cidade, vista, do alto, como um manto de pequenas luzinhas piscantes. É um belo horizonte. Ele liga pra namorada. Há uma semana não se vêem. Moram na mesma cidade, mas a correria dos dias de hoje
impede os amantes de se ver há uma semana. Incompatibilidade de horários: Ela estuda, ambos trabalham, e quando um tem um tempo pra se encontrarem, o outro já está dormindo, para acordar cedo no dia seguinte. Vantagem, dos dias de hoje, é o telefone celular, encurtando distâncias. – Olha para a lua – diz. Do alto da Savassi ela vê o céu, as estrelas. É noite de inverno e não há nuvens. Ele, de um bairro distante, vê o mesmo cenário. Estão observando o mesmíssimo firmamento, e por alguns instantes, se sentem mais próximos.
Capítulo 1
| Primeira década do Século XX | 17
Catim Romnequis es et; hae merfin s
Por XXXXXXXXXXXxxx
A
perumula pultum ocaela consili catiero co ego noste queris vagintem maio et? Nihin se notilibus. Dii prei publici publia? Addum non senam ne incla efex num te etici publiu vere dicae, sulis etem aris. Etrumen atimperem tampectuam ina, urevidem locchilicas verrides caut vissil vide pubi tam. Inam teris vignos, unticae conunulii conesterum octorurio es firius es contrum ius; iam inam sendenatoret caperfeci te fatimistiu visque is contert atium. Sentemoenes Ahacibut C. Publint erissoltia cus ses? Udam postili ssimurnum senatiam preniamed perteris intissa elut iam publiquame aus. Cuppl. es publictu mistimp ricturis? At dem condamdius? Nihilnes audem Patum no. Muliciensum inclum tio mulviribefac merum, ocumurox miliendemus bonia remque culin publii te, ina et; ex serra ditis habustraet; num publis int? Ifes ine consule remperuntui ta, non sum auci ipte, ment. An hocatem, imihico nessed patum in din tam satiam portem tes escio C. Icae te por inguludam audet festerf erferfec ferios clem rei facerdius etraectum diena, Cuppl. Publicatium ublinc ipionsus re conente, coniac iam sendam ninero consil horum pro vit, con pero, num ips, venam. Vocum es audam pondeti liissenit. Tor hus nerei plissunt. Odien patudem hebunum, dienat, ad nihiliis.
XX | CapĂtulo XX | DĂŠcada de 19XX
Vis publiurnicae potim mac verei simis publictus ad fac tes poponsu vitem, con tatur aut vilium ocre iaeque niam furnique te, delabuntim patrae mus ingulicipio moent? Id diena, cre, es? Parid se essus, caet nihil vem ingultori sedemoerem, senatus ullestem tu in desus nu consunulto consimur, Caterus? Nihil tala verbis? Nam morur huidiem derus M. Pate consum dicatam. Fuitius bonsulto ut virmili caucerra acciam niumussedii satia? Ventraed cotius, consilicon desses cupiciora am et; num in te temquemendem pos, se intrum te at. Quasdam autum hosu egites omnimum atraetio, perfin tandam interimorum, conscerimus? Icior ad in trae il
Catim Romnequis es et; hae 2 Capítulo década de 1910 merfin s
Por XXXXXXXXXXXxxx
A
perumula pultum ocaela consili catiero co ego noste queris vagintem maio et? Nihin se notilibus. Dii prei publici publia? Addum non senam ne incla efex num te etici publiu vere dicae, sulis etem aris. Etrumen atimperem tampectuam ina, urevidem locchilicas verrides caut vissil vide pubi tam. Inam teris vignos, unticae conunulii conesterum octorurio es firius es contrum ius; iam inam sendenatoret caperfeci te fatimistiu visque is contert atium. Sentemoenes Ahacibut C. Publint erissoltia cus ses? Udam postili ssimurnum senatiam preniamed perteris intissa elut iam publiquame aus. Cuppl. es publictu mistimp ricturis? At dem condamdius? Nihilnes audem Patum no. Muliciensum inclum tio mulviribefac merum, ocumurox miliendemus bonia remque culin publii te, ina et; ex serra ditis habustraet; num publis int? Ifes ine consule remperuntui ta, non sum auci ipte, ment. An hocatem, imihico nessed patum in din tam satiam portem tes escio C. Icae te por inguludam audet festerf erferfec ferios clem rei facerdius etraectum diena, Cuppl. Publicatium ublinc ipionsus re conente, coniac iam sendam ninero consil horum pro vit, con pero, num ips, venam. Vocum es audam pondeti liissenit. Tor hus nerei plissunt. Odien patudem hebunum, dienat, ad nihiliis. Vis publiurnicae potim mac verei si-
mis publictus ad fac tes poponsu vitem, con tatur aut vilium ocre iaeque niam furnique te, delabuntim patrae mus ingulicipio moent? Id diena, cre, es? Parid se essus, caet nihil vem ingultori sedemoerem, senatus ullestem tu in desus nu consunulto consimur, Caterus? Nihil tala verbis? Nam morur huidiem derus M. Pate consum dicatam. Fuitius bonsulto ut virmili caucerra acciam niumussedii satia? Ventraed cotius, consilicon desses cupiciora am et; num in te temquemendem pos, se intrum te at. Quasdam autum hosu egites omnimum atraetio, perfin tandam interimorum, conscerimus? Icior ad in trae il
Capítulo XX
| Década de 19XX | XX
Chronica Social Sem autoria - Diário de Minas O pó. Bem merece algumas linhas mais, em sua honra, o pó que, em Bello horizonte, é um dos mais temíveis e cruéis pesadelos, para os que trabalham e até para os smarts sem ocupação... lícita. É um tormento. Não fosse o vento, que nestes meses anda voluptuosamente desenfreiado, e talvez não se soffresse tanto, porque a irrequieta cabulosa da poeira ficaria dormindo, inoffensível, sem os atrevimentos de nos encher olhos, nariz, boca etc. Mas o pó, como actualmente está, com este vento espinoteador, é insupportavel, mata, na alma de quem visita a nossa capital, todo o enthusiasmo despertado pela belleza da nossa terra. Nos bairros, então, o pó dominou tudo. No bairro dos funccionarios, na Serra, Lagoinha, Floresta, em toda a parte o pó está atravancando a rua. Mais uma vez pedimos à prefeitura determine que as suas carroças e automóveis de irrigação levem uma gotta d’agua para attenuar e applacar o pó. É uma medida que se impõe.
20 |
Capítulo 2
| Década de 1910
22 de maio de
1914
O cinza que incomoda Mariana Pires A sujeira. Belo Horizonte está ficando cinza. Não totalmente, como é possível perceber na maioria das metrópoles mundiais, onde a poluição do ar já tomou conta e nada se vê, além de uma nebulosa cinzenta que paira sobre a cidade. Mas, se as coisas continuarem como vão, Belo Horizonte já, já, terá incorporado o tom acinzentado que deixa as ruas com ar impessoal e melancólico, característico da vida conturbada e solitária moderna. Quem trabalha ou mora no centro da cidade pode perceber: ao final de um dia de expediente o pó de asfalto misturado com a poluição do ar chega a impregnar na pele. É a sujeira incômoda dos canos de descargas de ônibus e carros, dos pneus, do asfalto. Nas avenidas Afonso Pena e Amazonas, por exemplo, quase não se sabe mais qual a cor dos prédios ali construídos. A exposição, dia e noite, à poluição inevitável dos dias de hoje está ali, visível a todos: Os prédios estão todos cinzas. É impura e triste poluição.
Capítulo 2
| Década de 1910 | 21
Chronica Social Sem autoria - Diário de Minas - 28 de dezembro de 1919 De cima de um carro de praça, em frente ao Bar do Ponto, o <<camelot>> começa a falar, aproveitando um dos instantes de maior movimento. Começa a falar e num minuto, como por encanto, fôrma-se-lhe em torno um mar de cabeças curiosas. Todos anceiam por saber de que se trata. Depois de estafantes tiradas de eloquencia (SIC) barata, o homem diz ao que está ali e que é demonstrar a excellencia de uma pedra de amolar, que elle considera (logo abaixo do telegrapho sem fio) a maior descoberta do seculo. Quando o auditorio, impaciente, tenta dispersar-se, o annunciante saca do bolso a pedra maravilhosa e, sem dar tregua à lingua, põe-se a amolar um facão velho e cego... de nascença. Emquanto amola, o homem fala como uma torrente, sem respirar nem tossir. Afinal, eis o instrumento amolado, cortando papel fino no ar: está provado que a pedra é um amolador prodigioso. Isto só? Não. Provado tambem que ha outro amolador ainda mais prodigioso do que a pedra: o proprio <<camelot>> de língua solta. Que digam quantos têm tido o azar de escutar-lhe as arengas de legua e meia...
22 |
Capítulo 2
| Década de 1910
Olha o Amolador! Maíra Lobato Um assobio inconfundível em uma melodia que fica durante dias e dias na cabeça de quem escuta. O anúncio também não muda. “Ô amolador! Amolo facas, tesouras e alicates de unha”. Quase que diariamente se pode ouvir ele passar na rua oferecendo seus serviços. Mas quem será este amolador? Ele atravessa a cidade. Percorre vários bairros. E em qualquer roda de conversa tem sempre alguém que diz conhecê-lo e vê-lo passar. Curioso é que um mora na Pampulha e o outro na Serra. Ao mesmo tempo, todos se perguntam, será o mesmo amolador? E logo entoam o anúncio dele. E a surpresa é ainda maior. – É esse mesmo, só pode ser. Ver que é bom mesmo, ninguém viu. E não é pela descrição da pessoa que a conclusão é tirada, e sim pela toada do anúncio. Engraçado é que ninguém comenta se de fato, já amolou algum objeto com ele ou não. Mas reconhecer seu anúncio, todos sabem. Se ele amola mesmo ou não, nem vem ao caso. O fato é que belorizontinos, de várias regiões da cidade, ouviram algum dia o canto do amolador. Mas mineiro é curioso demais para não apurar melhor de onde vem aquele canto. E sempre há o comentário de alguém que um dia correu na
janela para ver a cara do tal amolador. Umas vezes com sucesso, outras sem. O rosto dele, uma interrogação. E ele vai por aí, amolando as facas, tesouras, alicates de unha, e o sossego de quem mora por onde ele passa.
Capítulo 2
| Década de 1910 | 23
Catim Romnequis es et; hae merfin s
Por XXXXXXXXXXXxxx
A
perumula pultum ocaela consili catiero co ego noste queris vagintem maio et? Nihin se notilibus. Dii prei publici publia? Addum non senam ne incla efex num te etici publiu vere dicae, sulis etem aris. Etrumen atimperem tampectuam ina, urevidem locchilicas verrides caut vissil vide pubi tam. Inam teris vignos, unticae conunulii conesterum octorurio es firius es contrum ius; iam inam sendenatoret caperfeci te fatimistiu visque is contert atium. Sentemoenes Ahacibut C. Publint erissoltia cus ses? Udam postili ssimurnum senatiam preniamed perteris intissa elut iam publiquame aus. Cuppl. es publictu mistimp ricturis? At dem condamdius? Nihilnes audem Patum no. Muliciensum inclum tio mulviribefac merum, ocumurox miliendemus bonia remque culin publii te, ina et; ex serra ditis habustraet; num publis int? Ifes ine consule remperuntui ta, non sum auci ipte, ment. An hocatem, imihico nessed patum in din tam satiam portem tes escio C. Icae te por inguludam audet festerf erferfec ferios clem rei facerdius etraectum diena, Cuppl. Publicatium ublinc ipionsus re conente, coniac iam sendam ninero consil horum pro vit, con pero, num ips, venam. Vocum es audam pondeti liissenit. Tor hus nerei plissunt. Odien patudem hebunum, dienat, ad nihiliis.
XX | CapĂtulo XX | DĂŠcada de 19XX
Vis publiurnicae potim mac verei simis publictus ad fac tes poponsu vitem, con tatur aut vilium ocre iaeque niam furnique te, delabuntim patrae mus ingulicipio moent? Id diena, cre, es? Parid se essus, caet nihil vem ingultori sedemoerem, senatus ullestem tu in desus nu consunulto consimur, Caterus? Nihil tala verbis? Nam morur huidiem derus M. Pate consum dicatam. Fuitius bonsulto ut virmili caucerra acciam niumussedii satia? Ventraed cotius, consilicon desses cupiciora am et; num in te temquemendem pos, se intrum te at. Quasdam autum hosu egites omnimum atraetio, perfin tandam interimorum, conscerimus? Icior ad in trae il
Catim Romnequis es et; hae 3 Capítulo década de 1920 merfin s
Por XXXXXXXXXXXxxx
A
perumula pultum ocaela consili catiero co ego noste queris vagintem maio et? Nihin se notilibus. Dii prei publici publia? Addum non senam ne incla efex num te etici publiu vere dicae, sulis etem aris. Etrumen atimperem tampectuam ina, urevidem locchilicas verrides caut vissil vide pubi tam. Inam teris vignos, unticae conunulii conesterum octorurio es firius es contrum ius; iam inam sendenatoret caperfeci te fatimistiu visque is contert atium. Sentemoenes Ahacibut C. Publint erissoltia cus ses? Udam postili ssimurnum senatiam preniamed perteris intissa elut iam publiquame aus. Cuppl. es publictu mistimp ricturis? At dem condamdius? Nihilnes audem Patum no. Muliciensum inclum tio mulviribefac merum, ocumurox miliendemus bonia remque culin publii te, ina et; ex serra ditis habustraet; num publis int? Ifes ine consule remperuntui ta, non sum auci ipte, ment. An hocatem, imihico nessed patum in din tam satiam portem tes escio C. Icae te por inguludam audet festerf erferfec ferios clem rei facerdius etraectum diena, Cuppl. Publicatium ublinc ipionsus re conente, coniac iam sendam ninero consil horum pro vit, con pero, num ips, venam. Vocum es audam pondeti liissenit. Tor hus nerei plissunt. Odien patudem hebunum, dienat, ad nihiliis. Vis publiurnicae potim mac verei si-
mis publictus ad fac tes poponsu vitem, con tatur aut vilium ocre iaeque niam furnique te, delabuntim patrae mus ingulicipio moent? Id diena, cre, es? Parid se essus, caet nihil vem ingultori sedemoerem, senatus ullestem tu in desus nu consunulto consimur, Caterus? Nihil tala verbis? Nam morur huidiem derus M. Pate consum dicatam. Fuitius bonsulto ut virmili caucerra acciam niumussedii satia? Ventraed cotius, consilicon desses cupiciora am et; num in te temquemendem pos, se intrum te at. Quasdam autum hosu egites omnimum atraetio, perfin tandam interimorum, conscerimus? Icior ad in trae il
Capítulo XX
| Década de 19XX | XX
A cidade modelo Sem autoria - Diário de Minas B. Horizonte tem em suas mãos todas as armas para vir a ser uma cidade-modelo, como nunca se construiu. E como não existe ainda em parte alguma. Ella teve a felicidade de ser traçada em um plano onde não havia ainda construcções que embaraçassem os seus projectos. Poude idealizar, assim, um traçado perfeito, e adaptar se a todas as exigencias modernas, com ruas largas e com amplas avenidas. Tudo novo. Tudo a exhibir o trabalho de hontem, o trabalho de ha pouco, que o tempo não poude ainda salpicar de altos e baixos, de desproporções e de falhas. E esse aspecto de infancia, de <novinho em folha>, como se diz, que estabelece, aqui, esse contraste violento que existe entre a cidade e o homem. A timidez mineira chega a ficar mal emmoldurada (SIC) por essa natureza polida e disciplinada. De jardins bem feitos. De parques e arborizações exuberantes. E por essa architectura que não possue ainda uma certa uniformização intelligente, variedade infinita que ella exibe dá a idéia da mistura de todas as architecturas possiveis. Mostra um trecho de cada civilização, passada ou futura, com as suas particularidades todas e com todos os desdobramentos de seus gostos incoherentes. Essa variedade architectonica é um facto assombroso. Põe <<bunga-
26 | Capítulo 3 | Década de 1920
26 de outubro de
1926
lows>> de chacaras americanas entre duas casas commerciaes. Encrava entre arvores altas e abafadoras, casas em estylo “protecção contra a neve”, com telhados escorridos, baixos, que são uma quase ameaça de esmagamento. Finca num alto de ladeira, onde a ventania frequente é uma coisa naturalissima, um rendilhado de semi-gothico debil... E tudo isso desorientado, sem o menor bom senso ao menos de experiencia architectonica, quando não é sem o mais ligeiro bom gosto. E é essa a cidade que poderia ser a Cidade-Modelo...
Um imenso canteiro. De obras Maíra Lobato A cidade jardim se transformou em um imenso canteiro de obras. Os costumes e o jeitinho de mineiro estão ficando cada vez mais espremidos entre as poucas casas que resistem na cidade. Em todos os bairros, ao andar pelas ruas, pode-se encontrar uma obra. Uma casa sendo demolida e um prédio sendo erguido. Um amontoado de tijolos num dia e daí a um tempo um belo edifício revestido de granito. Os jardins são reduzidos a jardineiras nas janelas. E as roseiras que antes enfeitavam a frente das casas, se tornam no máximo buquês enviados pelas floriculturas. Cultivar rosas em apartamentos é até possível, mas qual a graça? As casas - casas mesmo, com jardim, quintal, barracão de fundos, cozinha aberta - essas vão ficando cada vez mais raras. E ao ver uma casa mais antiga, em um bairro mais central como Funcionários ou São Pedro, por exemplo, ficamos espantados. Como ela ainda resisti? Mas com essas casas, que viram um monte de entulho, se vão também peculiaridades da cidade que deixam saudade. Os hábitos também mudam muito, não é apenas a arquitetura da capital que se transforma. As pessoas que ali vivem, mudam seus comportamentos, o jeito de falar, o jeito de agir e de viver. A vida se torna vertical. E nós, engaiolados. Triste vida de passarinhos presos em nossos medos e riscos.
Os vizinhos se tornam mais próximos fisicamente, mas agora a distância não é apenas geográfica. Uma distância de sentimentos. Pode ser engano. Mas quando as pessoas viviam em casas, eram mais calorosas e sempre acabavam conhecendo ou tendo amizade com as casas vizinhas. Os corredores dos prédios são verdadeiras geladeiras, onde mal-mal as pessoas dizem bom dia às outras. A razão para tal mudança nem carece de análises. É óbvia. Modernidade, crescimento da população, investimentos, progresso, mercado imobiliário, e essa lista poderia se estender com uma infinidade de motivos. Mas e as casas, e os jardins? A vida é sempre um ciclo.
Capítulo 3
| Década de 1920 | 27
Vida Moderna Sem autoria - Diário de Minas Confessemos que, ao que parece, a furia choreographica, como que insensata, que avassalou a nossa mocidade, vae passando. Sem ninguém perceber. É essa pelo menos a minha opinião, e a minha opinião não deixa de ter o seu valor, porque eu tenho no meu lar um thermometro infallivel: dois filhos moços e uma filha mocinha. Elles, agora, deixaram de falar em charslestons e black-bottons, e, consequentemente, eu deixei de implicar solennemente com essas dansas complicadas e com esses nomes mais complicados ainda. Não sei si o facto é um phenomeno horizontino ou mundial. Tomara que mundial. Na minha casa aconteceu uma coisa, sem duvida alguma, importantíssima: os filhos deixaram a victrola socegada. Muda e socegada. Lá está ella, num canto da sala, quieta. E eu, no outro canto da sala, olho e finjo que leio, pensando que, afinal de contas, foi uma bôa medida de economia doméstica. A nossa maquina falante dera para rebentar cordas pelo menos duas vezes por mez. Adeus meus quarenta mil réis. Isso mesmo, era preço de camaradagem, feito por um mecanico meu conhecido desde os tempos em que tive um automóvel “Benz”, por voltas de 1914, nesta mesma cidade de Bello Horizonte. “Benz”. Bons tempos aquelles. A gente embalava na volta do Gia-
28 | Capítulo 3 | Década de 1920
21 de fevereiro de
1929
como, sem signal de inspeciores de vehiculos, e, para subir a Bahia, era aquella barulhada, aquella fumaceira escapando, que até dava a impressão de uns cem ou cento e cincoenta kilometros por hora. Pelo menos. Agora, no carro mais veloz, eu não experimento sensação de grande velocidade. Sem barulho, não há velocidade, e nesse ponto o progresso automobilístico está, reprovado. O “Benz” agüentava até em frente ao falecido Collegio Dom Bosco, mas, na hora da mudança, é que era o “baraco”, como se diz em gyra moderna. Enguiçava. Dahi, para a officina do mecaninco alemão. Ia me esquecendo de dizer que o mecanico era allemão e que elle hoje progrediu ou regrediu: especializou-se em concertos de maquinas falantes. Só eu, às vezes, é que vou mexer na victrola, ponho um disco de Schippa, e fico escutando com melancolia e cigarro. A voz cresce e decresce, terna e soffredora. Cacête. A chapa acaba, a victrola deixa de rodar, eu continúo fumando. A vida passa. Lá dentro, a Indalecia batuca numa velha máquina de escrever. E eu me lembro do velho, saudoso “Benz”. Bom automovel. Si não fosse aquella duvida na mudança. Fui obrigado, mas por causa de outra mudança, que não vale a pena esclarecer. Duas coisas são necessarias neste mundo: ilusões e dinheiro. E um auto-
movel! O automovel quando pode ser. A Indalecia batuca na velha maquina de escrever, com o seu teclado amarellado e bambo, viciado em abaixar-se, sob dedos velhos e bambos, para formar lá emcima, no papel, palavras, phrases com pretenções humoristicas. A minha filha, que não gosta de humor, que ser uma bôa dactylographa e arranjou um bom emprego. Nada de bailes ou melindrosismos: o emprego. Por que filhinha? Ora, papae, eu quero ser uma moça pratica e efficiente. Imaginem: efficiente. Aquela palavra espantou-me. O mundo está mesmo de pernas para o ar.
Capítulo 3
| Década de 1920 | 29
A vida de hoje, a vida do “eu” Sálua Zorkot Que nostálgico ver uma vitrola em um fundo de quintal como se fosse objeto sem valor. Seu tempo já passou, mas marcou e embalou as festas de gerações. O som que saía das caixas de som era marcado por suas doces notas tocadas ao piano de uma composição erudita ou um acorde forte de samba novo ou jazz. Os passos de dança eram um arrastar de pés pelo chão ou pelas pontas das sapatinhas das bailarinas. Hoje, mal se sabe para onde olhar. Jovens dançarinos mostram suas habilidades numa rapidez de passos que vão de se arrastarem no chão a darem brilhantes cambalhotas no ar seguindo as batidas daqueles sons nada nacionais chamados hip hop, rap, blck music. A leveza com que o corpo esbelto da bailarina flutuava no ar quando dava seus longos saltos agora está marcado pelas pisadas fortes no chão e movimentos bruscos com o corpo que aqueles grupos de jovens dançarinos mostram em suas apresentações. É a dança do momento. É querer ser como seus grandes ídolos da música. O som é alto. Quando você vê, seu corpo segue as batidas da bateria ou efeitos sonoros que compõem a melodia. Mas, talvez, porque o som está alto. Existe algum tipo de poder nessas músicas eletrônicas que envolvem as pessoas a ponto de se reunirem em milhares em um local distante a céu
30 | Capítulo 3 | Década de 1920
aberto para ouvirem um “tunts tunts” e dançarem como robôs. É a nova geração de dançarinos. Mas a música alta e esse som tão diferente das baladinhas do Balão Mágico ou até Ilariê da Xuxa que as crianças ouviam não incomodam tanto os outros. O fone de ouvido trouxe privacidade para uns e descanso para os ouvidos de outros. É a sociedade do individualismo, mas ao mesmo tempo a do para todos. Não se junta mais grupos de pessoas para sentarem em volta do aparelho de som e ouvir uma melodia. É cada um com sua música, no seu ouvido, para não atrapalhar o outro. Mas ao mesmo tempo é o carro do ano passando pelas ruas próximas à PUC Minas com um música muito alta, para que o seu vizinho do décimo segundo andar também possa ouvir. É a sociedade do “não quero ouvir nada que se passa a meu redor” (e dá-lhe o foninho de ouvido) ou é a batida da música eletrônica, que toca na rua, e não permite você ouvir quem está do outro lado da linha telefônica. Nem sempre você escolhe o que quer ouvir. O barulho que o trânsito de Belo Horizonte e os gritos dos vendedores ambulantes fazem, já são o suficiente para você entender que a capital, não só a mineira, está uma confusão. A sociedade do eu, do meu, do
eu quero está em todos os cantos. No garoto que pega o ônibus para o trabalho e sai do Caiçara para ir para Serra com sua música favorita estourando seus tímpanos, na menina que só avisa aos pais que está indo para a festa onde tantos outros vão ouvir a mesma música na maior altura, da juventude que faz da dança rápida e sem passos definidos, extrapolando os limites do corpo, como uma forma de exteriorizar a vida que levamos. O importante é que todos dancem como bem imaginar, como se ninguém estivesse olhando. Se a pilha acabar, basta trocar. Se o seu “ipod” estragar, compre outro ali no Shopping Oi. E o anterior, que nem chega a ficar velho, joga-se fora. Hoje a vida está mais fácil. É tudo descartável e substituível. Não se fazem mais vitrolas como as de antigamente.
Capítulo 3
| Década de 1920 | 31
Catim Romnequis es et; hae merfin s
Por XXXXXXXXXXXxxx
A
perumula pultum ocaela consili catiero co ego noste queris vagintem maio et? Nihin se notilibus. Dii prei publici publia? Addum non senam ne incla efex num te etici publiu vere dicae, sulis etem aris. Etrumen atimperem tampectuam ina, urevidem locchilicas verrides caut vissil vide pubi tam. Inam teris vignos, unticae conunulii conesterum octorurio es firius es contrum ius; iam inam sendenatoret caperfeci te fatimistiu visque is contert atium. Sentemoenes Ahacibut C. Publint erissoltia cus ses? Udam postili ssimurnum senatiam preniamed perteris intissa elut iam publiquame aus. Cuppl. es publictu mistimp ricturis? At dem condamdius? Nihilnes audem Patum no. Muliciensum inclum tio mulviribefac merum, ocumurox miliendemus bonia remque culin publii te, ina et; ex serra ditis habustraet; num publis int? Ifes ine consule remperuntui ta, non sum auci ipte, ment. An hocatem, imihico nessed patum in din tam satiam portem tes escio C. Icae te por inguludam audet festerf erferfec ferios clem rei facerdius etraectum diena, Cuppl. Publicatium ublinc ipionsus re conente, coniac iam sendam ninero consil horum pro vit, con pero, num ips, venam. Vocum es audam pondeti liissenit. Tor hus nerei plissunt. Odien patudem hebunum, dienat, ad nihiliis.
XX | CapĂtulo XX | DĂŠcada de 19XX
Vis publiurnicae potim mac verei simis publictus ad fac tes poponsu vitem, con tatur aut vilium ocre iaeque niam furnique te, delabuntim patrae mus ingulicipio moent? Id diena, cre, es? Parid se essus, caet nihil vem ingultori sedemoerem, senatus ullestem tu in desus nu consunulto consimur, Caterus? Nihil tala verbis? Nam morur huidiem derus M. Pate consum dicatam. Fuitius bonsulto ut virmili caucerra acciam niumussedii satia? Ventraed cotius, consilicon desses cupiciora am et; num in te temquemendem pos, se intrum te at. Quasdam autum hosu egites omnimum atraetio, perfin tandam interimorum, conscerimus? Icior ad in trae il
Catim Romnequis es et; hae 4 Capítulo década de 1930 merfin s
Por XXXXXXXXXXXxxx
A
perumula pultum ocaela consili catiero co ego noste queris vagintem maio et? Nihin se notilibus. Dii prei publici publia? Addum non senam ne incla efex num te etici publiu vere dicae, sulis etem aris. Etrumen atimperem tampectuam ina, urevidem locchilicas verrides caut vissil vide pubi tam. Inam teris vignos, unticae conunulii conesterum octorurio es firius es contrum ius; iam inam sendenatoret caperfeci te fatimistiu visque is contert atium. Sentemoenes Ahacibut C. Publint erissoltia cus ses? Udam postili ssimurnum senatiam preniamed perteris intissa elut iam publiquame aus. Cuppl. es publictu mistimp ricturis? At dem condamdius? Nihilnes audem Patum no. Muliciensum inclum tio mulviribefac merum, ocumurox miliendemus bonia remque culin publii te, ina et; ex serra ditis habustraet; num publis int? Ifes ine consule remperuntui ta, non sum auci ipte, ment. An hocatem, imihico nessed patum in din tam satiam portem tes escio C. Icae te por inguludam audet festerf erferfec ferios clem rei facerdius etraectum diena, Cuppl. Publicatium ublinc ipionsus re conente, coniac iam sendam ninero consil horum pro vit, con pero, num ips, venam. Vocum es audam pondeti liissenit. Tor hus nerei plissunt. Odien patudem hebunum, dienat, ad nihiliis. Vis publiurnicae potim mac verei si-
mis publictus ad fac tes poponsu vitem, con tatur aut vilium ocre iaeque niam furnique te, delabuntim patrae mus ingulicipio moent? Id diena, cre, es? Parid se essus, caet nihil vem ingultori sedemoerem, senatus ullestem tu in desus nu consunulto consimur, Caterus? Nihil tala verbis? Nam morur huidiem derus M. Pate consum dicatam. Fuitius bonsulto ut virmili caucerra acciam niumussedii satia? Ventraed cotius, consilicon desses cupiciora am et; num in te temquemendem pos, se intrum te at. Quasdam autum hosu egites omnimum atraetio, perfin tandam interimorum, conscerimus? Icior ad in trae il
Capítulo XX
| Década de 19XX | XX
Aventuras de um turista Lucilio Mariano - O Diário Passo pela rua barulhenta. Uns sujeitos, desconjuntando o corpo em requebrados incríveis, recordam o homem-borracha do circo de minha infância. Erraram a vocação. Um mulato espadau’do (SIC) empurra a pequenez de um homenzinho gordo, em que o chopp puzera velleidades de tenor. Dois braços abertos se estendem á minha frente me segregam da multidão. Era o cel. Polycarpo, abastado fazendeiro e proprietário em Potymirim. Abraços, perguntas do estylo a respeito da família, dos amigos, dos conhecidos. Fulano morreu. Sicrano se casou, até que emfim. O menino do Manoel dói para o collegio (SIC), estudar para doutor. – E o sr., coronel, é um dos nossos turistas, hein? – Eu sou um homem serio, seu Lucilio. Não sou essa coisa não. Era. Tinha muita vontade de conhecer a Capital. Precisava mesmo de fazer umas compras. E, com o abatimento na estrada de ferro, ajuntára-se a fome com a vontade de comer. Viera, sozinho. A Rosinha (ah! A Rosinha!) ficára em casa, porque a mãe andava meio perrengue. Mas o coronel estava gostando da animação, dos carros correndo, das gentes cantando. A passagem dos carros allegoricos encheu-o de admiração. – Seu Lucilio, menino, olha só! Elles chamam esse trem de “pres-
34 | Capítulo 4 | Década de 1930
25 de fevereiro de
1936
to” e o negócio presta mesmo... *** Eu não acreditava no turismo carnavalesco, mas o encontro que tive com o coronel Polycarpo fez com que me rendesse á evidencia dos factos. Bello Horizonte só tem a lucrar com a affluencia de visitantes do interior. O coronel, por exemplo, veiu de Potymirim com a bolsa cheia. Inicialmente, hospedou-se em casa de um compadre. Sahia á rua depois do jantar, encostava-se á parede do Bar do Ponto e ficava espiando. As horas corriam, e o homem immovel. A’s onze e meia seguia para casa e dormia socegado. Comprou dois vestidos para a mulher e a filha, um par de botinas, um chapéu; somando com a passagem deu tudo em 100$000. – Gostei dessa festa da Capital, disse-me o coronel. Agora, de vez em quando, daqui a uns quatro ou cinco annos, appareço aqui outra vez, mas trago a família para ver tambem. E vou me hospedar em sua casa. *** Ah! o turismo carnavalesco, o turismo mineiro, como é interessante! Não sei si deu algum lucro aos commerciantes, a hoteleiros bellorizontinos. A mim, si não me deu uma chronica que prestasse, deu-me, pelo menos, o prazer de pagar um cafezinho para o coronel.
‘Turista’ na cidade grande Sálua Zorkot Não sei se as pessoas que chegam à cidade grande ainda se maravilham com as belezas locais – se é que depois de anos de depredação ainda é possível isso. Chegar a Belo Horizonte, por exemplo, pela Via Expressa, a avenida Teresa Cristina, não é tão empolgante assim. A idéia da bela capital mineira planejada e desenvolvida vai rapidamente se desmanchando ao ver quilômetros não arborizados e muros e paredes sujos e pichados. O turismo aqui não é de Carnaval, nem somos forte aqui nisso, apesar das árduas tentativas dos governantes locais de fazer com que a data seja motivo de atração de pessoas de outros lugares. Tudo bem que o carnaval mais recente proporcionou a felicidade de várias pessoas, mas não ouvi falar de turistas que aqui vieram para prestigiar nossos carros alegóricos e a desenvoltura de nossas mulatas sambando. Quem chega, vai logo aonde precisa - fazer compras, visitar algum parente, fazer algum tratamento médico ou procurar um emprego. Poder andar sem compromisso já não faz parte da realidade do homem do século XXI, e sair por aí admirando as novidades ao redor então é algo não muito aconselhável quando você pensar que aquele que vem atrás pode estar, na verdade, seguindo-o e querendo assaltá-lo. A idéia do turista que vem
para conhecer as belas paisagens ficou para trás. Passear pelo Parque Municipal pode ser sinônimo de perigo, mas ainda são pequenos locais em que procuramos o “ar puro” no meio da gigante BH. Apreciar a capital vista pela praça do Papa já não se faz tanto assim e um passeio pelo centro parece mais uma corrida entre as pessoas sempre apressadas que seguram com firmeza suas bolsas. *** As ruas estão cada vez mais barulhentas e isso não atrai as pessoas de hoje, isso não é mais visto como “avanço” ou “modernização”, hoje as pessoas se cansaram dessa loucura e procuram paz. Talvez seja por isso que raramente chamamos de turista alguém que vem do interior. O contato dele com o corre-corre de grandes centros pode ser sentido até pelos telejornais que ele mesmo, talvez, não se sinta um turista. Para quem mora no interior, a capital já não é mais tão grande, por mais que seja maior que suas cidades natais. A área que, hoje, Belo Horizonte abrange já não assusta tanto. E tenho dó desses que se aventuram em visitar entes queridos, por exemplo, que moram na antiga Curral Del Rey, mas se prendem dentro de grandes construções cercadas de cercas, muros e seguranças. Se saem às ruas, é como se aventurasCapítulo 4
| Década de 1930 | 35
sem e deixassem inseguros aqueles que ficam em casa, sem saber como vão voltar. Talvez a frase “me deixa admirar os concretos aqui da janela do quarto” , que se ouve, vez ou outra, de quem fica em casa me aperte o coração, sabendo que do lado de fora existem belos parques e praças e uma quantidade enorme da história de minas, mas me sinto segura em saber que nada de mau vai acontecer à quem eu gosto. Mas a vista não é tão feia assim... Dá até para ver a Serra do Curral!
36 | Capítulo 4 | Década de 1930
Ilustração: Paulinho Miranda
Capítulo 4
| Década de 1930 | 37
Curral Del Rey Franklin de Salles - Folha de Minas Na data remota de 11 de Agosto de 1829, (i.l.) a informação do livro clássico de Abílio Barreto, o Padre Francisco de Paula Arantes, falando sobre Curral d’El Rey, informava a cúria de Marianna: “– A natureza creou este logar para huma linda e formosa cidade, se algum dia for auxilliada esta lembrança”. Sessenta e oito annos depois deste vaticínio, instalava-se aqui a Capital de Minas. Por aquelle tempo, a impressão era creada apenas pela belleza da vista panorâmica salpicada aqui e ali de pequeninas casas de taipa, quebrando a monotonia dos (i.l.) e dos campos agrestes. Depois o povoado foi crescendo e se espalhando. E os homens, sem ambições desmedidas, faziam da vida de trabalho, a única preoccupação do logarejo. Por isso o logar era conhecido por “terra das fructas” e as galinhas punham os seus ovos de tal maneira conveniente, que uma dúzia delles se pagava pela ridícula importância de 200 réis. A tardinha, na rua do Capim, de Sabará ou de Congonhas, assentadas nas soleiras das portas ou debruçadas no peitoril tosco das janellas, as comadres ficavam “batendo papo”, commentando a vida alheia, até que o relógio marcasse as nove, hora de um povo honesto se recolher. Decorrido algum
13 de dezembro de
1939
tempo, notava-se que no ambiente sereno de curral d’El-Rey iam-se formando algumas sombras inquietantes daquella gente simples e feliz. A política iniciava a sua acção dispersiva. O córrego do Acaba Mundo dividia os homens por suas opiniões: do lado direito viviam os “conservadores”; do esquerdo os “liberaes”, e, em vesperas das eleições, quando a panella da intriga entrava em ebulição, se um liberal saltasse para o lado de lá, ou um conservador puzesse o pé da banda de cá o bengalão de peroba e o cacête de “tres-folhas” eram os elementos mais convincentes para que os contendores voltassem às suas posições, occultando discretamente em tiras de lenções a brecha da cabeça. E assim foi vivendo o povoado, onde se havia erigir Bello Horizonte. Não supponham os leitores, entretanto, que esta transição se fez suavemente, sem perigos e ameaças. Logo às primeiras noticias, quando se começou a cuidar seriamente do assumpto, a velha Ouro Preto acordou e ficou nova, para a grande affensiva. E cobrindo-se com as galas de sua justa indignação, vociferou de dentro de suas montanhas, mandando para cá o seu grito de rebeldia e de guerra: “– Quando chegar o momento decisivo, nem todos terão tempo de fugir e Ouro Preto saberá honrar a memoria de Tiradentes”.
(i.l.) – ilegível no original. Algumas crônicas foram retiradas de jornais muito antigos e devido a qualidade dos arquivos não foi possível identificar algumas palavras. Mas isso não invalidou tais textos.
38 | Capítulo 4 | Década de 1930
Roça Grande Marcela Campos Terra Há pouco tempo, vi em um telejornal de Minas, ao vivo, um repórter perguntou a varias pessoas que estavam na Praça da Liberdade, o que elas achavam da capital mineira. O reporter perguntou a um garoto se ele gostava de Belo Horizonte. O garoto, sentado no banco de praça na hora do almoço, vestido todo de preto com correntes saindo de toda sua roupa. E o garoto respondeu que não, que Belo Horizonte não passava de uma roça grande. O repórter sem reação, olhou estagnado para o garoto e saiu atrás de outra pessoa que ali se encontrava para continuar nas entrvistas. Em uma manha de primavera, o chão da praça aparentava estar molhado pela chuva da noite anterior, tudo que poderia aparentar uma manhã tranqüila, em uma praça cheia de pessoas em uma situação tranquila, o repórter entrevistou a pessoa mais mal humorada que poderia ter na praça. Realmente Belo Horizonte é uma roça grande, mas por azar, não no sentido pejorativo que o garoto usou, mas sim por que é uma cidade que conservou e preservou os hábitos antigos, ainda usados nas cidades do interior de Minas. É claro que o crescimento próprio da cidade e o desenvolvimento econômico, inferior aos de outras capitais como Rio e São Paulo, contribui com o mau uso do termo “roça grande”, o que é nítido até mesmo nas
dimensões dessas cidade, com certeza aqui se demora muito menos tempo em trânsito. Por isso não enxergam o lado negativo de morar numa “roça grande”, conservou-se o que deveria conservar e está caminhando para a evolução que deve ser seguida. O belorizontino perde muito quando se compara a vida cultural dessas capitais. Infelizmente aqui são muito menos espetáculos, shows, exposições e festivais culturais. Não acredito que seja culpa somente do publico daqui, por que sempre que a programação é boa tem muita fila. Como no show do Chico Buarque de Holanda, em que quem quisesse ver o cantor, pagou 140 reais em cada ingresso. No meu caso também contem com a ajuda de uma grande, ficou 12 horas na fila para comprar. A procura foi tanta, que foi aberto mais um dia de show, e 10 horas antes de abrir as portas do Palácio das Artes, algumas pessoas já se encontravam na fila. Sendo que no Rio, o mesmo espetáculo custou 30 reais e durou mais de um mês. Infelizmente ainda não nos vêem como consumidores de cultura. O que resta é esperar que as pessoas comecem a enxergar o grande mercado que a capital mineira é, e se não der, contar com os amigos de verdade, que suportem ficar tanto tempo numa fila. Capítulo 4
| Década de 1930 | 39
Catim Romnequis es et; hae merfin s
Por XXXXXXXXXXXxxx
A
perumula pultum ocaela consili catiero co ego noste queris vagintem maio et? Nihin se notilibus. Dii prei publici publia? Addum non senam ne incla efex num te etici publiu vere dicae, sulis etem aris. Etrumen atimperem tampectuam ina, urevidem locchilicas verrides caut vissil vide pubi tam. Inam teris vignos, unticae conunulii conesterum octorurio es firius es contrum ius; iam inam sendenatoret caperfeci te fatimistiu visque is contert atium. Sentemoenes Ahacibut C. Publint erissoltia cus ses? Udam postili ssimurnum senatiam preniamed perteris intissa elut iam publiquame aus. Cuppl. es publictu mistimp ricturis? At dem condamdius? Nihilnes audem Patum no. Muliciensum inclum tio mulviribefac merum, ocumurox miliendemus bonia remque culin publii te, ina et; ex serra ditis habustraet; num publis int? Ifes ine consule remperuntui ta, non sum auci ipte, ment. An hocatem, imihico nessed patum in din tam satiam portem tes escio C. Icae te por inguludam audet festerf erferfec ferios clem rei facerdius etraectum diena, Cuppl. Publicatium ublinc ipionsus re conente, coniac iam sendam ninero consil horum pro vit, con pero, num ips, venam. Vocum es audam pondeti liissenit. Tor hus nerei plissunt. Odien patudem hebunum, dienat, ad nihiliis.
XX | CapĂtulo XX | DĂŠcada de 19XX
Vis publiurnicae potim mac verei simis publictus ad fac tes poponsu vitem, con tatur aut vilium ocre iaeque niam furnique te, delabuntim patrae mus ingulicipio moent? Id diena, cre, es? Parid se essus, caet nihil vem ingultori sedemoerem, senatus ullestem tu in desus nu consunulto consimur, Caterus? Nihil tala verbis? Nam morur huidiem derus M. Pate consum dicatam. Fuitius bonsulto ut virmili caucerra acciam niumussedii satia? Ventraed cotius, consilicon desses cupiciora am et; num in te temquemendem pos, se intrum te at. Quasdam autum hosu egites omnimum atraetio, perfin tandam interimorum, conscerimus? Icior ad in trae il
Catim Romnequis es et; hae 5 Capítulo década de 1940 merfin s
Por XXXXXXXXXXXxxx
A
perumula pultum ocaela consili catiero co ego noste queris vagintem maio et? Nihin se notilibus. Dii prei publici publia? Addum non senam ne incla efex num te etici publiu vere dicae, sulis etem aris. Etrumen atimperem tampectuam ina, urevidem locchilicas verrides caut vissil vide pubi tam. Inam teris vignos, unticae conunulii conesterum octorurio es firius es contrum ius; iam inam sendenatoret caperfeci te fatimistiu visque is contert atium. Sentemoenes Ahacibut C. Publint erissoltia cus ses? Udam postili ssimurnum senatiam preniamed perteris intissa elut iam publiquame aus. Cuppl. es publictu mistimp ricturis? At dem condamdius? Nihilnes audem Patum no. Muliciensum inclum tio mulviribefac merum, ocumurox miliendemus bonia remque culin publii te, ina et; ex serra ditis habustraet; num publis int? Ifes ine consule remperuntui ta, non sum auci ipte, ment. An hocatem, imihico nessed patum in din tam satiam portem tes escio C. Icae te por inguludam audet festerf erferfec ferios clem rei facerdius etraectum diena, Cuppl. Publicatium ublinc ipionsus re conente, coniac iam sendam ninero consil horum pro vit, con pero, num ips, venam. Vocum es audam pondeti liissenit. Tor hus nerei plissunt. Odien patudem hebunum, dienat, ad nihiliis. Vis publiurnicae potim mac verei si-
mis publictus ad fac tes poponsu vitem, con tatur aut vilium ocre iaeque niam furnique te, delabuntim patrae mus ingulicipio moent? Id diena, cre, es? Parid se essus, caet nihil vem ingultori sedemoerem, senatus ullestem tu in desus nu consunulto consimur, Caterus? Nihil tala verbis? Nam morur huidiem derus M. Pate consum dicatam. Fuitius bonsulto ut virmili caucerra acciam niumussedii satia? Ventraed cotius, consilicon desses cupiciora am et; num in te temquemendem pos, se intrum te at. Quasdam autum hosu egites omnimum atraetio, perfin tandam interimorum, conscerimus? Icior ad in trae il
Capítulo XX
| Década de 19XX | XX
Se todos fossem cordiaes... Franklin de Salles - Folha de Minas Se todos fossem cordiaes como eu sou, a vida seria um delicioso passatempo. Comigo não tem esse negócio de fazer pouco caso dos outros porque um é preto, outro é pobre, aquelle outro está mal vestido. Para meu fraco entender, todo vivente é filho de Deus e nosso irmão em Jesus. E só evito esse irmão quando elle, toda vez que me encontra, me pede dinheiro emprestado. Uma das condições que impuz lá em casa é não se conservar, durante o dia, a porta da rua fechada. Quero-a sempre aberta, feito porta de igreja – aberta de par em par. Isto, aliás, me veio dos meus ancestrais remotos, senhores de casas – grandes, cujas portas, de frente e do fundo, se abriam às 5 da manhã, para só se fecharem às 8 da noite. Bemdita herança. Porque este negócio de chegar na varanda dos outros, apertar um botãozinho e ficar ali pubando, esperando a vida inteira que venha alguém lá de dentro para que venha nos atender, não se dá com meu gênio, definitivamente. E o que não desejo para mim, não quero para mais ninguém. Só não sou um espelho vivo da formula democrática, porque saúde não está em mim tei-a quanto queria, mas fraternidade – chegou aqui e parou. Infelizmente, neste particular, estou em minoria, num quase isolamento absoluto. Quando ouço, em discursos comovidos, o eterno louvor aos “laços indissolúveis da amizade que reina no seio da família mineira” – eu me re-
42 | Capítulo 5 | Década de 1940
22 de janeiro de
1941
cordo sempre, todo inundado em amarga desilusão, daquele nosso incauto irmão, sobre quem aplicaram, num cinema, uma surra exemplar. Forçado a sair apressadamente do recinto, o infeliz, assaltado por justo rancor, entre apudos, doestos, e empurrões, ainda poude enfrentar a multidão amotinada, para verberar-lhe o gesto pharisaico: - “fica ahi, classe desunida!” Se todos fossem cordiaes como eu sou, em Belo Horizonte, pelo menos, viveríamos como Deus com os anjos e isto aqui seria como um seio de Abrahão. A Capital seria uma casa imensa e cada bairro como um quarto enorme, onde seus moradores vivessem na maior intimidade e na mais confiante e fraterna amizade. Se fosse assim, ontem mesmo, no bairro Santo Antônio, que seria, então, meu quarto, teria passado uma noite alegre e divertida. É que, mesmo defronte de minha casa, houve um casamento. Desde cedinho, aquele ar festivo, aquela alegria nupcial transbordou pela rua. Um cheiro de flor de laranja que até me deu vontade de tomar chá della. Lá às tantas, compareceu o jazz e o baile se prolongou pela noite a dentro. Senti não ter sido convidado. Alta madrugada, ouvindo jazz furioso e a alegria irreprimível que acordava o bairro sossegado, sorri ao barulho que me despertou e bradei contra o egoísmo humano, que me afastou daquella festa nupcial: – Se todos fossem cordiaes...
Educação individual Marcela Campos Terra A boa educação da vida contemporânea é mesmo muito estranha. Sempre com pressa, às vezes passamos por conhecidos, amigos, pessoas que não vemos há muito e simplesmente não paramos para cumprimentar e colocar o papo em dia. Mesmo por que normalmente não estamos com tempo, muito menos com paciência para ouvir de sempre: Como você está? Tudo bem? Você está sumido? Daí é só passar direto, fingir que não viu e continuar o caminho que estava fazendo. E o pior ou melhor não sei. Provavelmente essa pessoa até agradeceria por não ter parado-a. Não é por falta de educação, muitas vezes nem por desatenção, mas principalmente por falta de tempo. Ainda mais morando no centro de uma cidade grande como Belo Horizonte. Na região central de BH, todo mundo passa a trabalho, saindo ou voltando do serviço, sempre atrasado, em um transito caótico, e com poluições visuais, sonoras e no ar. É um lugar onde se fica louco durante o dia. O excêntrico acontece à noite. As ruas se calam, as lojas fecham, as pessoas vão para suas cara dormirem tranqüilas. Mas o “voltar pra casa” dos que moram no centro é sempre mais perigoso, mais amedrontador. É de se estranhar mesmo, você vê a sua rua abarrotada o dia inteiro, cheia de sons e ruídos, e de noite escuta os moradores de rua discutindo. As poucas pessoas
que restam nas ruas estão somente de passagem, com os rotos para baixo, a bolsa grudada no corpo, os passos rápidos, e o medo de ser assaltado a qualquer instante. O pior é que, para muitos, chegar em casa, depois de enfrentar um frenético corpo a corpo pelas ruas lotadas, não é garantia do merecido descanso. Pelo contrario, pode, na verdade, ser a hora de enfrentar os vizinhos.. Aqueles que estão mais perto e não te deixa ir dormir sossegado. Por que os vizinhos estão perto de mais. Quase dentro da nossa casa, e todos os dias tem som alto, briga de namorados, truco, poquer, winning eleven para atormentar mais ainda os ouvidos. E fica ouvindo para que se pode reclamar? Não adianta muito na maioria das vezes, mas pelo menos dá para estragar a festa dos outros. Mas as ruas estão quietas como se fosse uma rua de bairro, onde só se escuta alguns poucos ônibus passando. Isso entre onze da noite e cinco da manha, por que antes e depois disso não é nada calmo. Assim fica parecendo que as noites do centro duram menos, quando olho no relógio já passou da meia noite e ainda estou tentando escrever.
Capítulo 5
| Década de 1940 | 43
Vamos parar com o barulho? Franklin de Sales - Folha de Minas Há muitos anos – lembro-me bem – antes do advento da radiofonia, o gramofone e o zonofone eram verdadeiros instrumentos de suplício. Em São Paulo, onde eles mais se espalharam, já não se podia suportar tanto barulho. Quem tivesse a sua casa para alugar, não a alugaria nunca se não declarasse, no fim do anuncio, a única condição indispensavel: - “Não tem gramofone perto”. Quem vive hoje em Belo Horizonte, pode avaliar exatamente a extensão desse tormento. Passando-se a qualquer hora pelas ruas da cidade, ouve-se forçosamente a gritaria dos altos falantes que, rompendo os limites da conveniencia e da urbanidade, tira o sossego dos infelizes transeuntes. A isso, a esta barulheira infernar, chamam eles, orgulhosamente, a “Voz de Minas”. Pobre Minas caluniada! Porque, no meu fraco entender, a voz de Minas deve sempre ser, para refletir a sua formação, a do equilíbrio, da discreção, da serenidade, que não vive gritando desesperadamente para as ruas, senão em dias de Carnaval, quando todo mundo enlouquece e aqueles que não se enlouquece desculpam os excessos dos outros. A voz de Minas deve ser como a de um cidadão educado, como convem a todos que vivem como parte integrante de uma sociedade policiada, onde gosam de certos direitos e rega-
44 | Capítulo 5 | Década de 1940
05 de março de
1943
lias, até os limites dos direitos e regalias de seus semelhantes. Se não claudico em minha exegese, eu posso reclamar contra esse barulho. O decreto 3688, que é a Lei das Contravenções, dispõe em seu art. 42, que perturbar alguem, o trabalho ou o sossego alheio com gritarias ou algazarras, ou abusando de instrumentos sonoros, etc., pode sofrer a pena de prisão de 15 dias a 3 meses, ou multa de 200 a dois mil cruzeiros. A voz de Minas é suave, branda, macia e não incomoda ninguem, gritando para as ruas, em aparelhos ampliadores de sons. Ela reflete, isto sim, a boa educação do povo mineiro, que tem a noção exata de que não vivemos aqui em eterno Carnaval e que Belo Horizonte não pode se transformar, de uma hora para outra, em pandemonio, para satisfação de um grupo reduzido de pessoas, – Vamos parar com esse barulho?
Barulho Ambulante Maíra Lobato A cidade grande fala. Uma fala que não é poética e nem musical. A cidade grande grita um emaranhado de sons que se misturam e não nos permite se quer diferenciar que barulho vem de onde. Belo Horizonte é uma cidade barulhenta. Com certeza, menos do que outras capitais, mas muito mais do que as pessoas gostariam para viver com a tranqüilidade inerente ao mineiro. Desconfiado sim, mas agitado não. O mineiro é alguém que aprecia montanhas, um friozinho no mês de julho, uma boa cachaça, um dedo de prosa, e o silêncio. Ah! Com certeza, o silêncio. As pessoas só se dão conta quanto a cidade é barulhenta, na medida em que tomam os rumos do interior e no clima das fazendas descansam seus ouvidos do enorme barulho da cidade grande. O silêncio chega a ser tão grande e discrepante do dia a dia que até incomoda nos primeiros minutos. Depois, a cabeça vai desacelerando e o corpo se acostuma com o cantar de pássaros, zunidos de árvores, e às vezes uma galinha ou outra que canta. Buzinas de carros, ônibus, caminhões. Anúncios de ambulantes com alto falantes vendendo de tudo o quanto há. Pamonha, laranja, verduras, panos de chão, sorvete, biju, CD’s, pilhas, e até bilhete de loteria. E músicas, essas são as mais insensatas. Os carros se tornaram verdadeiros trios elétricos, com músicas altíssimas, em toda parte da
cidade. Não se pode sentar em um bar ou em uma praça sem que, em algum momento, pare um carro com o Bonde do Tigrão tocando no último volume. A opção de ouvi-lo ou não, definitivamente não existe. Ligar para o Disque-Sossego ou chamar a polícia, tentativas em vão. Eles informam que não podem resolver o problema, apenas pedir que abaixem. Mas que para ter uma punição efetiva, você precisa solicitar medição de decibéis, dar queixa na Secretaria de Meio Ambiente, entrar com um processo na justiça, e por aí vai. O barulho agora, se move. Como se já não bastasse ser um barulho, ele agora é ambulante. E há quem se lembre de quando a própria cidade grande era menos ruidosa. Quando a Ave Maria tocada nos alto falantes das igrejas era a única coisa que se destacava no ritmo pacífico da capital. Algumas igrejas, como a de Santa Tereza, por exemplo, continuam tocando sua sagrada oração às 6 horas da tarde, em ponto. E hoje, em contraste com o enorme barulho do horário de rush da cidade, talvez este seja o momento de mais silêncio em alguns bairros da capital.
Capítulo 5
| Década de 1940 | 45
Catim Romnequis es et; hae merfin s
Por XXXXXXXXXXXxxx
A
perumula pultum ocaela consili catiero co ego noste queris vagintem maio et? Nihin se notilibus. Dii prei publici publia? Addum non senam ne incla efex num te etici publiu vere dicae, sulis etem aris. Etrumen atimperem tampectuam ina, urevidem locchilicas verrides caut vissil vide pubi tam. Inam teris vignos, unticae conunulii conesterum octorurio es firius es contrum ius; iam inam sendenatoret caperfeci te fatimistiu visque is contert atium. Sentemoenes Ahacibut C. Publint erissoltia cus ses? Udam postili ssimurnum senatiam preniamed perteris intissa elut iam publiquame aus. Cuppl. es publictu mistimp ricturis? At dem condamdius? Nihilnes audem Patum no. Muliciensum inclum tio mulviribefac merum, ocumurox miliendemus bonia remque culin publii te, ina et; ex serra ditis habustraet; num publis int? Ifes ine consule remperuntui ta, non sum auci ipte, ment. An hocatem, imihico nessed patum in din tam satiam portem tes escio C. Icae te por inguludam audet festerf erferfec ferios clem rei facerdius etraectum diena, Cuppl. Publicatium ublinc ipionsus re conente, coniac iam sendam ninero consil horum pro vit, con pero, num ips, venam. Vocum es audam pondeti liissenit. Tor hus nerei plissunt. Odien patudem hebunum, dienat, ad nihiliis.
XX | CapĂtulo XX | DĂŠcada de 19XX
Vis publiurnicae potim mac verei simis publictus ad fac tes poponsu vitem, con tatur aut vilium ocre iaeque niam furnique te, delabuntim patrae mus ingulicipio moent? Id diena, cre, es? Parid se essus, caet nihil vem ingultori sedemoerem, senatus ullestem tu in desus nu consunulto consimur, Caterus? Nihil tala verbis? Nam morur huidiem derus M. Pate consum dicatam. Fuitius bonsulto ut virmili caucerra acciam niumussedii satia? Ventraed cotius, consilicon desses cupiciora am et; num in te temquemendem pos, se intrum te at. Quasdam autum hosu egites omnimum atraetio, perfin tandam interimorum, conscerimus? Icior ad in trae il
Catim Romnequis es et; hae 6 Capítulo década de 1950 merfin s
Por XXXXXXXXXXXxxx
A
perumula pultum ocaela consili catiero co ego noste queris vagintem maio et? Nihin se notilibus. Dii prei publici publia? Addum non senam ne incla efex num te etici publiu vere dicae, sulis etem aris. Etrumen atimperem tampectuam ina, urevidem locchilicas verrides caut vissil vide pubi tam. Inam teris vignos, unticae conunulii conesterum octorurio es firius es contrum ius; iam inam sendenatoret caperfeci te fatimistiu visque is contert atium. Sentemoenes Ahacibut C. Publint erissoltia cus ses? Udam postili ssimurnum senatiam preniamed perteris intissa elut iam publiquame aus. Cuppl. es publictu mistimp ricturis? At dem condamdius? Nihilnes audem Patum no. Muliciensum inclum tio mulviribefac merum, ocumurox miliendemus bonia remque culin publii te, ina et; ex serra ditis habustraet; num publis int? Ifes ine consule remperuntui ta, non sum auci ipte, ment. An hocatem, imihico nessed patum in din tam satiam portem tes escio C. Icae te por inguludam audet festerf erferfec ferios clem rei facerdius etraectum diena, Cuppl. Publicatium ublinc ipionsus re conente, coniac iam sendam ninero consil horum pro vit, con pero, num ips, venam. Vocum es audam pondeti liissenit. Tor hus nerei plissunt. Odien patudem hebunum, dienat, ad nihiliis. Vis publiurnicae potim mac verei si-
mis publictus ad fac tes poponsu vitem, con tatur aut vilium ocre iaeque niam furnique te, delabuntim patrae mus ingulicipio moent? Id diena, cre, es? Parid se essus, caet nihil vem ingultori sedemoerem, senatus ullestem tu in desus nu consunulto consimur, Caterus? Nihil tala verbis? Nam morur huidiem derus M. Pate consum dicatam. Fuitius bonsulto ut virmili caucerra acciam niumussedii satia? Ventraed cotius, consilicon desses cupiciora am et; num in te temquemendem pos, se intrum te at. Quasdam autum hosu egites omnimum atraetio, perfin tandam interimorum, conscerimus? Icior ad in trae il
Capítulo XX
| Década de 19XX | XX
Um anuncio original Franklin de Sales - Folha de Minas Ao passar por umas das ruas da Capital, leia um anuncio que, pelo seu laconismo, me deixou em dúvida: - “Precisa-se de uma moça com urgência”. Moça não é um desses remédios de urgência que devem ser ingeridos sem perda de tempo, podendo a sua ausência no organismo ser fatal no doente. Depois esse laconismo, esta necessidade, sem dizer para que precisa da moça, poderão, talvez, classificados de acouto de anúncios. E a ingênua que se apresentar e levar acento não há de encontrar muita gente para ouvir suas lamentações. O anuncio faz mesmo desconfiar. Se fosse uma necessidade seria, não custava nada o anunciante declarar para que fim precisava da moça com urgência. Mesmo porque tudo falado em meias palavras, e sempre mal entendido e, no fim, dá enguiço. E o negocio dá para desconfiar. Se fosse o contrario a moça precisando de um emprego, com urgência, poder-se-ia imaginá-la desamparada, sem arrimo e, mesmo, passando fome. Mas assim como está o melhor que a moça fez e não procurar esse necessitado. O mundo anda de tal modo atrapalhado que o homem só tem urgência quando está palmilhando o mau caminho e pretende fazer alguma besteira. Em casa, no escrito, na repartição, onde quer que esteja honestamente,
48 | Capítulo 6 | Década de 1950
17 de março de
1950
sem maus pensamentos nunca precisou de coisa alguma com urgência e, muitas vezes se mostra irritantemente calmo. Na boca das esposas, todos os maridos são umas lesmas. Entretanto, ganhando a rua, esta lesma, muitas vezes, adquire qualidades imprevistas. O moleirão, o desalmado toma novo alento, bebe nos ares da rua novos energias. Não falo por experiência própria: se não chego a ser uma lesma, não aprecio muito os negócios que demandam muita urgência. Conservador por índole, acredito nos velhos provérbios, nascidos sempre da experiência e da sabedoria popular. E um deles diz assim: - Quem corre cansa, de vagar se vai ao longe. Vamos, pois de vagar com esse negocio de urgência. Mas, é um anuncio comercial, dirão os incautos. Sim, não duvido. Mas a vida está de tal jeito e os homens de tal jeito estão, que hoje comerciável está sendo tudo, desde o café até a honra. O meu conselho, pois, é não facilitar com a urgência desse anunciante. Posso estar enganado. Pode ele estar agindo com a melhor das intenções. Mas confiando, desconfiando sempre, que a urgência nunca foi boa conselheira, E HOJE
A Última Marcela Campos Terra Julia, Carol, Marina, Paula, Poliana, Samara, Duda, Fernandinha e Rainha Luma se descrevem mulheres bonitas, dispostas, carinhosas, fogosas, amorosas, e trabalham nas mais diversas posições. É quase incontável o numero de mulheres que estão nas paginas do jornal, especificamente nos classificados, na parte Relax. O nome já diz tudo, quem procura nessas paginas uma boa companhia está querendo o relaxamento que toda libertinagem pode oferecer. Algumas moças chamam atenção pela descrição feita. Marina se diz uma loira, 1,60 de altura, dona de um belo rosto, que encanta suas companhias, alem de ser carinhosa e de não ter pressa em seus encontros. Paula, outra boa companhia, diz ter o “BB” grande e duro, boca carnuda e belo corpo. As duas escrevem assim: Sou toda sua. Deve ser uma bela saída já que se trata de damas tão bem afeiçoadas e de fino trato. Outras garotas descrevem seu trabalho completo nos classificados, dizem que fazem inversão de papel, massagem erótica, stripitise, aceitam outras pessoas, sabem ate mesmo a arte do pompoir, quase sempre fazem de tudo que seu cliente quiser em atendimento de 24 horas. O encontro com uma dessas garotas pode sair caro, algumas colocam preços que varias de 200 a 400 reais, por uma noite de puro prazer e
luxuria. Em duas paginas de classificados, o espaço dedicado ao relax é quase total. Mas não são apenas anúncios de moças ansiosas por uma noite de devassidão, são encontrados também rapazes, travestis e casais, como Igor e Íris, que se dizem um casal jovem, com programa criativo, alem de estarem 24 horas por dia juntos, segundo eles, não há decepção. Universitárias, inteligentes, dedicadas, saradas, bronzeadas e bonitas, quando se ver por esse lado, mais parece um convite ao casamento. Por que são moças perfeitas, que além das inúmeras qualidades descritas, ainda são boas de sexo. O único problema para casar, nesse caso, é o trabalho da senhora esposa.
Capítulo 6
| Década de 1950 | 49
Quem Te Viu e Quem Te Vê... Franklin de Sales - Folha de Minas - 26 de abril de 1950 Quem um dia se entregar ao gôzo espiritual de rever a cidade, desde Curral del Rei até os nossos dias, acompanhando a evolução da grande urbe, terá que reservar bastante espaço para certos tipos, que marcam, sem dúvida, o nosso progresso. Tipos característicos, encontradiços em toda a parte, mas que em Belo Horizonte oferecem motivos da maior importância para que o estudioso por êles determine as fases por que passou a Capital mineira. Outrora, no tempo do arraial, a mendicância era ambulante, esmolando, aos sábados, de casa em casa. Hoje, o mendigo, como o chofêr de praça, compra o local de estacionamento. As escadas da Igreja São José, a estação da Central, os pontos de ônibus, porta da Livraria Rex, têm um valor maior que os outros pontos mais despovoados. Outro fato, pelo qual se poderá estabelecer a diferença, diz respeito, propriamento à esmola. Antigamente, em Curral del Rei, os (i.l.) abastados, os coroneis locais, trocavam 10$000 em 40 réis («um cobre», grande, preto e azinhavrado). Se os «cobres» acabavam, o esmolér, naquele sábado, havia atendido 250 pobres. Outros, ao invés de dinheiro, distribuíam mantimentos e entre êstes, o fubá era o preferido. De arroz, não sei porque, nunca se fazia distribuição com a pobreza. Outro tipo que tem evoluído consideravelmente é o ladrão.
50 | Capítulo 6 | Década de 1950
Hoje em dia, a cidade que se orgulha de seus arranha-céus, que se envaidece com os encantos da Pampulha, não pode admitir que indivíduos desclassificados, venha, noite alta, perturbar a paz de seus galinheiros ou surripiar as roupas nos varais. O último furto de galinhas perpetrado em Belo Horizonte, depois que ela se fez a Cidade-Vaidosa, se caracterizou pelo humorismo, perdendo, com isto, o seu sentido delituoso. O engraçado penetrou o quintal alheio e vendo o galinheiro com as «voantes», quis deixar ali o sinal de seu espírito jovial e não os sinais de sua delinqüência. Apanhou duas ou três galinhas imprudentes, deixando o galo sozinho, com um papelão dependurado no pescoço, com os seguintes dizeres melancólicos: - Fiquei só! A cidade agora, se orgulha de seus ladrões. Insolentes, audazes, de habilidade espantosa, desenvolvem aqui a arte de furtar com requintada sabedoria. Ladrões grãfinos que na «boite» do Acalaca se confundem com o que de mais elegante possuimos no domínio de grãfinismo. Ladrões de ministros, dispondo de um harem de mulatas, usando brincos de pérolas e margaridas no cabelo, mostrando os dentes alvos num sorriso tentador, de atriz de cinema. Isto, sim, é o que a cidade admite, na sua vaidade de mulher bonita e cheia de namorados. Já não concebemos mais êsses ladrões
vagabundos, sujos e esfarrapados que, para uma confissão ridícula de um furto de alfinete, tomavam incriveis surras de borracha. Esse tempo acabou. Tempo em que, organizada a «canoa», iam todos, de segunda classe, num trem misto da Central, até serem despejados em Barra do Pirai. Agora o chumbo mudou: - É Milton de Souza, o respeitável ladrão dos milhões do ministro Clemente Mariani, viajando comodamente, para o Rio de Janeiro em avião de Aerovias. Em verdade, Belo Horizonte evolui. Quem te viu e quem te vê...
Capítulo 6
| Década de 1950 | 51
Que venha o progresso... Sálua Zorkot A beleza de se ver tantos edifícios serem levantados em pouco tempo, a cidade crescendo, passando dos limites que um dia imaginaram que Belo Horizonte ficaria, abrindo caminhos que sobem a Afonso Pena como se fossemos chegar na Serra do Curral, as vezes é quebrada quando em meio às nossas andanças somos abordados por alguém não identificado que diz gentilmente que os nossos pertences agora o pertence. Felizes daqueles que caminhavam sem serem perturbados até pelo próprio medo de passear. Cidade grande é assim mesmo... pode ser que tenha mais oportunidades de emprego, estudos, cultura. É o progresso. Que transforma a realidade de uma cidade com muita rapidez, em pouco mais de cem anos, para o bem e para o mal. As pessoas não batem às portas pedindo comida ou ajuda para a família que passa fome ou, como tantas vezes já presenciei, para entidades filantrópicas. Pode ser que eles deram um descanso para a gente e outros tenham tomado o seu espaço de nos perturbar. O que se precisa não vem mais pela a ajuda do próximo, mas pela força própria, nem que seja a força das próprias mãos para arrancar a bolsa da senhora que sai do banco depois de ter retirado o dinheiro da aposentadoria. O ladrão não é mais só o de galinha ou de roupas no varal. Ele agora pula os altos muros
52 | Capítulo 6 | Década de 1950
que levantamos, aborda os seguranças que pagamos e coloca, discretamente, até mesmo na cueca, o dinheiro que não o pertencia. Coisas do Brasil... As ruas vão, rapidamente, perdendo cada vez mais sua natureza de espaço de todos. De exercício coletivo e livre. Quer parar seu carro em alguma das ruas da região da Savassi para poder almoçar com um amigo? Então deixe um “troquinho” para o guardador de carros. “Dois reais na volta, amigão”. E você, que nem entende, exatamente, por que seu carro tem que ser vigiado, acaba pagando. O flanelinha olha seu carro para ninguém arranhá-lo ou roubá-lo... No fundo, a gente opta pelo prejuízo menor. Pior é que os impostos que se paga ainda não são suficientes para segurança pública ser um ítem básico e garantido na vida das pessoas. Aí, entra o ilustre guardador de carro. Mas, na vida, cada um faz o que pode. Ou o que consegue. Engraxar sapato ficou para trás. Na rua, os garotos, viajam de ônibus em ônibus vendendo suas balas. “Eu poderia estar roubando, eu poderia estar matando, mas estou aqui vendendo as minhas balas”. Mas que absurdo é esse que tenho que ouvir quando pego um ônibus para o centro da cidade? E eles gritam em alto e bom tom, para que a gente ouça, se comova e faça uma doação em troca dos doces que estão dentro da caixa. E
dizem bem baixinho quando não são bem sucedidos: depois acham ruim a gente roubar. Roubar e matar ficaram banais, é sempre mais espetáculo na capa do jornal. A tranqüila e bela capital mineira em que as mulheres passeavam no parque segurando suas sombrinhas e os homens sentavam calmamente para ler seu jornal ou um livro, já ficou para trás. O progresso chegou, e com ele novos valores e realidades da vida. Não deixe seus filhos brincando na rua, não saia sozinho, olhe para todos os lados o tempo todo, segure bem a sua bolsa, dessa forma você pode prevenir vários inconvenientes. Mas não se esqueça de admirar: o progresso chegou!
Capítulo 6
| Década de 1950 | 53
Catim Romnequis es et; hae merfin s
Por XXXXXXXXXXXxxx
A
perumula pultum ocaela consili catiero co ego noste queris vagintem maio et? Nihin se notilibus. Dii prei publici publia? Addum non senam ne incla efex num te etici publiu vere dicae, sulis etem aris. Etrumen atimperem tampectuam ina, urevidem locchilicas verrides caut vissil vide pubi tam. Inam teris vignos, unticae conunulii conesterum octorurio es firius es contrum ius; iam inam sendenatoret caperfeci te fatimistiu visque is contert atium. Sentemoenes Ahacibut C. Publint erissoltia cus ses? Udam postili ssimurnum senatiam preniamed perteris intissa elut iam publiquame aus. Cuppl. es publictu mistimp ricturis? At dem condamdius? Nihilnes audem Patum no. Muliciensum inclum tio mulviribefac merum, ocumurox miliendemus bonia remque culin publii te, ina et; ex serra ditis habustraet; num publis int? Ifes ine consule remperuntui ta, non sum auci ipte, ment. An hocatem, imihico nessed patum in din tam satiam portem tes escio C. Icae te por inguludam audet festerf erferfec ferios clem rei facerdius etraectum diena, Cuppl. Publicatium ublinc ipionsus re conente, coniac iam sendam ninero consil horum pro vit, con pero, num ips, venam. Vocum es audam pondeti liissenit. Tor hus nerei plissunt. Odien patudem hebunum, dienat, ad nihiliis.
XX | CapĂtulo XX | DĂŠcada de 19XX
Vis publiurnicae potim mac verei simis publictus ad fac tes poponsu vitem, con tatur aut vilium ocre iaeque niam furnique te, delabuntim patrae mus ingulicipio moent? Id diena, cre, es? Parid se essus, caet nihil vem ingultori sedemoerem, senatus ullestem tu in desus nu consunulto consimur, Caterus? Nihil tala verbis? Nam morur huidiem derus M. Pate consum dicatam. Fuitius bonsulto ut virmili caucerra acciam niumussedii satia? Ventraed cotius, consilicon desses cupiciora am et; num in te temquemendem pos, se intrum te at. Quasdam autum hosu egites omnimum atraetio, perfin tandam interimorum, conscerimus? Icior ad in trae il
Catim Romnequis es et; hae 7 Capítulo década de 1960 merfin s
Por XXXXXXXXXXXxxx
A
perumula pultum ocaela consili catiero co ego noste queris vagintem maio et? Nihin se notilibus. Dii prei publici publia? Addum non senam ne incla efex num te etici publiu vere dicae, sulis etem aris. Etrumen atimperem tampectuam ina, urevidem locchilicas verrides caut vissil vide pubi tam. Inam teris vignos, unticae conunulii conesterum octorurio es firius es contrum ius; iam inam sendenatoret caperfeci te fatimistiu visque is contert atium. Sentemoenes Ahacibut C. Publint erissoltia cus ses? Udam postili ssimurnum senatiam preniamed perteris intissa elut iam publiquame aus. Cuppl. es publictu mistimp ricturis? At dem condamdius? Nihilnes audem Patum no. Muliciensum inclum tio mulviribefac merum, ocumurox miliendemus bonia remque culin publii te, ina et; ex serra ditis habustraet; num publis int? Ifes ine consule remperuntui ta, non sum auci ipte, ment. An hocatem, imihico nessed patum in din tam satiam portem tes escio C. Icae te por inguludam audet festerf erferfec ferios clem rei facerdius etraectum diena, Cuppl. Publicatium ublinc ipionsus re conente, coniac iam sendam ninero consil horum pro vit, con pero, num ips, venam. Vocum es audam pondeti liissenit. Tor hus nerei plissunt. Odien patudem hebunum, dienat, ad nihiliis. Vis publiurnicae potim mac verei si-
mis publictus ad fac tes poponsu vitem, con tatur aut vilium ocre iaeque niam furnique te, delabuntim patrae mus ingulicipio moent? Id diena, cre, es? Parid se essus, caet nihil vem ingultori sedemoerem, senatus ullestem tu in desus nu consunulto consimur, Caterus? Nihil tala verbis? Nam morur huidiem derus M. Pate consum dicatam. Fuitius bonsulto ut virmili caucerra acciam niumussedii satia? Ventraed cotius, consilicon desses cupiciora am et; num in te temquemendem pos, se intrum te at. Quasdam autum hosu egites omnimum atraetio, perfin tandam interimorum, conscerimus? Icior ad in trae il
Capítulo XX
| Década de 19XX | XX
Mineiros de ontem e hoje Franklin de Salles - Folha de Minas Afinal terminou o Carnaval. Não devia se assim, tão curto. Três dias apenas não chegam a suavisar os recalques que nos pensam na consciência. É uma alegria momentânea, que faz bem, mas não cura definitivamente os males que ferem a nossa alma. Por isso, entendo que devíamos viver em continuo Carnaval. Quem não fosse folião, quem não acredita no poder curativo da alegria que ficasse em casa, choramingando suas magoas. A folia mineira troxe-nos a impressão de eu o mineiro está reagindo contra o marasmo que até agora o tem envolvido colocando-o, evidentemente, num plano inferior. Com o seu temperamento pouco expansivo, perdemos oportunidades excelentes para a conquista de uma situação inconfundível destaque. Quando os craques do nosso futebol se preparavam para a conquista do campeonato brasileiro essa atitude foi alvo de contundentes chacotas, mesmo por partes de seus patrícios, e quando o time de São Paulo, aqui veio disputar com os mineiros o tal campeonato, nenhum de seus jogadores levou a serio seus adversários, julgando “canja” a peleja. Vitoriosos sangrando-se campeões brasileiros após algumas lutas memoráveis, parece que esse triunfo trouxe um certo alento aos mineiros que sentiram profundamente o incenti-
4 de março de
1963
vo da vitória. Entretanto força é confessar, esse conformismo do mineiro hoje persiste, em seus nítidos (il.) . Ainda hoje, no fundo de nossa consciência esse homem rural ainda vive em nos. Veio a imprensa, veio a estrada de ferro, o radio, o avião, o cinema e a televisão. E embora o trabalho da civilização seja incessante o mineiro resiste sem o saber, pois aquele antigo senhor de casa-grande ainda vibra dentro dele. Entretanto o trabalho inconsciente vai conduzindo o mineiro para novos rumos e, um dia, ele se esquecerá do homem que ele foi. Ainda agora, no aeroporto da Pampulha supus estar assistindo a um novo carnaval. Mas não era. Eram os craques do futebol mineiro que seguiam para o Paraguai e daí para La Paz. Onde disputarão o campeonato Sul Americano de Futebol. Evidentemente, os mineiros estão andando para frente.
(i.l.) – ilegível no original. Algumas crônicas foram retiradas de jornais muito antigos e devido a qualidade dos arquivos não foi possível identificar algumas palavras. Mas isso não invalidou tais textos.
56 | Capítulo 7 | Década de 1960
Folia de BH Marcela Campos Terra Todo carnaval acaba, graças a Deus, mas aqui na capital mineira parece que ele nem passa. Não por que os foliões continuam no clima, mas por que não se vê muito da alegria e da festa do carnaval por aqui. Alias, quem passa o carnaval em Belo Horizonte está querendo a tranqüilidade de um feriado prolongado, onde pode-se descansar, não tem transito nas ruas, não tem barulho, nem mesmo pessoas embriagadas e inoportunas pelas ruas. A cidade não é um atrativo turístico para o carnaval e o belo-horizontino, que quer carnaval de rua, vai para as cidades históricas e para a praia. La sim acontece tudo que pode acontecer e o que não pode no carnaval. Os mineiros parece ser mais introspectivos durante o ano todo, mas os belo-horizontinos não deixa de sê-lo no carnaval. Os que ficam, por que os que vão fazem de tudo fora de casa. Mas é verdade que a cidade nunca teve uma cultura e um histórico de grandes carnavais de rua, e festas como Salvador, Olinda, Recife. O que sempre existiu, e ainda há por ai, são as brincadeiras nos blocos caricatos, com a participação de alguns poucos. E o desfile de poucas escolas que sobrevivem quase que heroicamente. O único lugar que se vê bem cheio na cidade é a Rodoviária, são
centenas e centenas de ônibus muito atrasados. Mundos de malas e pessoas que se batem e se apertam. Sempre tentando conservar o bom humor da folia que está prestes a chegar, em outra cidade, depois de horas de viagem. Muitas outras festas são comemoradas, muito bem por sinal, por aqui, algumas religiosas como Corpus Christi, Semana Santa em suas longas procissões que percorrem boa parte da cidade, com grandes preparativos. E em clássicos do futebol como Cruzeiro e Atlético. BH se pinta das cores dos times, a rivalidade acirrada, mas sempre com a tensão de um jogo imprevisível. Do Mineirão, os torcedores saem em grandes carreatas buzinando e gritando a vitória do seu time.
Capítulo 7
| Década de 1960 | 57
Pai João Franklin de Salles - Folha de Minas - 10 de janeiro de 1964 Pai João, velho cabinda (SIC), pai de terreiro, habitava uma casinha la pelas bandas da rua serro frio. Quem o visse agora, dentro daquela pele que os anos embaciavam, com aquela figura trôpega, de gestos tardos e sonolentos, a voz enrolada e tremida, cabelos lanzudos e olhos mansos e marejados de lagrimas, sob aiavos (SIC) de sangue, nem por sonho poderia recompor-lhe a mocidade alegre e sem cuidados. Trazido numa leva de escravos para a fazenda dos Angicos, desde aqueles tempos já praticava, nas suas folgas, a feitiçaria. Sobrevindo a abolição pode, de corpo e alma, se entregar a sua verdadeira vocação. Logo na entrada de sua casa, na sala da frente, Pai João, erigira o seu atar, numa mesa muito grande por sobre a qual dispusera, obedecendo as determinações dos Orixás de seu culto, os objetos mais estranhos. E o que mais despertava a atenção era uma imagem tosca. De Nossa Senhora do Rosário, a que Pai João chamava – Yemanja – protegida por uma camparruba (SIC) de vidro, colocada num prato grande de barro, a transbordar azeite de dendê. Vigiando a santa, um gato preto empalhado. Em frente a esse prato simetricamente dispostos, sete montes de terra roxa, e um bem maior, que era de cemitério e duas tíbias grandes, cruzadas, cabalísticamente. Espalhados aqui e ali, búzios, contas, milho torrado, varias pernas
58 | Capítulo 7 | Década de 1960
sexas (SIC) de galo claçudo, de carne preta e uma caveira de lobo. A parede de abode (SIC) se achava quase toda revestida, na parte que ficaria atrás da mesa, com as coisa mais esquisitas: três cobras secas, uma trança de cabelos corridos, dois couros de jacaré e uma de tamanduá. E aqui e ali, num sincretismo flagrante de mistura com a mística ritual da macumba, grandes rosários de sementes pretas, muitas estampas de santos, um punhado de orações, em ma caligrafia. E a noite de quarta-feira, quando o candomblé regurgitava e a macumba recrudescia, todo o terreiro se povoaca (SIC) de sobrevivências totêmicas. E antigas crenças, em requintes de velhas práticas de ritos exóticos, que se supunham desfeitos, desenquistavam-se de inconsciente coletivo e se exteriorizavam e se expandiam em uivos reprimidos, em risos estericos em soluços irreprimíveis. Lá dentro nas divisas do quintal , havia outro altar, de proporções mais modestas, em frente a uma estrada funda, que ali as bifurcava. Um dia perguntaram a pai João, porque colocara aquele altar na encruzilhada dos caminhos. O negro velho, com um sorriso enigmático, cerrou os olhos e nada quis responder. Talvez estivesse conversando com Exu.
Filha de Terreiro Maíra Lobato Filha de terreiro, nunca foi. Mas sempre ouviu a avó dizer que havia lhe entregado a um certo Pai Antônio. Crença ou não, ele sempre atendeu todos os pedidos da família. A imagem do preto velho sempre ficou na cozinha da casa com um copo de cachaça, ao lado. Alvo das mais diversas brincadeiras, o fato é que Pai Antônio sempre esteve presente. Duvidar da palavra de uma avó, quem seria capaz? E um dia a dedicada avó faz um pedido: preciso ir ao Mercado Central, quero comprar um preto velho. Os corredores do antigo mercado, agora reformado, se cruzam e misturam-se num emaranhado de lojas. Há todo tipo de artigos. As tradicionais lojas de umbanda saltam aos olhos dos fregueses. São muitas lojas, e de aparência peculiar. Quase não se pode ver o vendedor lá dentro. A variedade de artigos é enorme. Terços, rosários, guias, velas de todas as cores, incensos, banhos, pinga calcinha, chama homem. Tem vela preta, roxa, vermelha, cada uma com sua função exata. Rosários, têm dos tipos de sementes mais variadas que se pode imaginar, e cada semente tem um santo. O de conta de lágrimas, por exemplo, é pra rezar pra Nossa Senhora Aparecida. Os banhos então, vixe maria, têm abre caminho, descarrego, contra mau olhado, de preto velho, pomba-gira. De tudo, há um pouco. As imagens quase que se misturam às pessoas. O interessante é que tem ima-
gens do candomblé e da umbanda. Ali do lado convivem em paz, parecendo aceitar tacitamente tanto sincretismo, uma imagem cândida de Nossa Senhora e um preto velho. O vendedor, com paciência, explica uma a uma. Este aqui é o Zé Pilintra, ele gosta muito de festas, presentes, e é vaidoso. Ele é da linha dos baianos, preto velhos, fuma cigarro de palha e bebe pinga. Apesar de bonita, a imagem dá medo. Era do tamanho de uma pessoa. A roupa e o sapato brancos, uma gravata vermelha, um chapéu branco e um cravo na lapela. Aquele outro ali é o Tranca Rua. Ele é chefe da falange dos espíritos da esquerda. Toma conta de pessoas que ficam na noite. Essa é a pomba gira, ela é conselheira do amor. É ligada a cor vermelha, é vaidosa e gosta muito de perfumes, batons, colares e brincos. A rosa vermelha, ela coloca no cabelo quando chega nas reuniões. Uma imagem grande chama atenção, era São Jorge Guerreiro, vencedor de demandas. Ele tira todo tipo de mau olhado, olho gordo, feitiçaria e todas as energias negativas. No fundo da loja, em uma prateleira de vidro estavam as imagens dos pretos velhos. Tinham vários, Pai Joaquim de Aruanda, Pai Cambino, Pai Joaquim de Imbaé, Pai Arruda, e Pai Antônio. A vó logo reconheceu seu santo de devoção. Com a imagem embrulhada em um pedaço de jornal demonstra carinho e respeito pelo Pai Antônio. Mas quem Capítulo 7
| Década de 1960 | 59
pensa que a missão estava completa, se engana. A vó explica com candura que agora é preciso levar o preto velho em um centro de umbanda para firmá-lo. Um velho amigo, que sempre atendia aos pedidos de benzeção da avó, Carmo, era a pessoa mais indicada para o trabalho. Numa noite de terçafeira o santo segue em direção ao centro, era uma casa simples na Sagrada Família. Uma fila no corredor aguardava o início da reunião. A fumaça da defumação do terreiro antes de começar saia pela janela e entorpecia os que aguardavam lá fora. Aquele era um dia de festa na umbanda, dia de São Jorge, o culto seria de comemoração. Todos entraram, homens de um lado e mulheres de outro. O altar era lindo, todo branco, com uma fonte de água a direita cheia de pedras. No centro uma mesa com várias coisas, um machado, vários cachimbos de preto velho, várias ervas, arruda, guiné, comigo ninguém pode, manjericão, folhas de espada de São Jorge, muitas guias de cores variadas, alguns terços de conta de lágrimas, velas, banhos, vinho tinto, pães recheados com peixe, e muitas imagens de santos da umbanda. No meio, uma fogueira onde seriam queimados os pedidos. A porta se fecha e começam os trabalhos. Uma senhora comenta, a porta é trancada, só se pode sair quando termina. A cantoria era alta e animada. Um dos hinos falava da defumação. Casa nova
60 | Capítulo 7 | Década de 1960
incensada, de incenso embalsamado, incensando essa casa. A reunião prosseguiu. E o Pai Antônio, presente da avó, lá estava no meio da mesa do altar, sendo firmado. Para os marinheiros de primeira viagem, o jeito era olhar o que as pessoas faziam e fazer igual. Todos comeram os pães recheados e beberam o vinho. A benzeção foi feita com a espada de São Jorge. Na hora dos pedidos, as listas eram imensas, todos direto pra fogueira. Ao final da festa, Pai Antônio já estava firmado, agora era santo santificado. Na saída o último ritual, todos saiam de costas para a porta, fazendo reverência aos santos do altar e cruzando as mãos quatro vezes. E a vó só soube das notícias pelo telefone. A neta pergunta: Por que a senhora não foi? Nada, lá tem gente tomada, tenho muito medo de reunião de umbanda.
Ilustração: Lelis
Capítulo 7
| Década de 1960 | 61
Catim Romnequis es et; hae merfin s
Por XXXXXXXXXXXxxx
A
perumula pultum ocaela consili catiero co ego noste queris vagintem maio et? Nihin se notilibus. Dii prei publici publia? Addum non senam ne incla efex num te etici publiu vere dicae, sulis etem aris. Etrumen atimperem tampectuam ina, urevidem locchilicas verrides caut vissil vide pubi tam. Inam teris vignos, unticae conunulii conesterum octorurio es firius es contrum ius; iam inam sendenatoret caperfeci te fatimistiu visque is contert atium. Sentemoenes Ahacibut C. Publint erissoltia cus ses? Udam postili ssimurnum senatiam preniamed perteris intissa elut iam publiquame aus. Cuppl. es publictu mistimp ricturis? At dem condamdius? Nihilnes audem Patum no. Muliciensum inclum tio mulviribefac merum, ocumurox miliendemus bonia remque culin publii te, ina et; ex serra ditis habustraet; num publis int? Ifes ine consule remperuntui ta, non sum auci ipte, ment. An hocatem, imihico nessed patum in din tam satiam portem tes escio C. Icae te por inguludam audet festerf erferfec ferios clem rei facerdius etraectum diena, Cuppl. Publicatium ublinc ipionsus re conente, coniac iam sendam ninero consil horum pro vit, con pero, num ips, venam. Vocum es audam pondeti liissenit. Tor hus nerei plissunt. Odien patudem hebunum, dienat, ad nihiliis.
XX | CapĂtulo XX | DĂŠcada de 19XX
Vis publiurnicae potim mac verei simis publictus ad fac tes poponsu vitem, con tatur aut vilium ocre iaeque niam furnique te, delabuntim patrae mus ingulicipio moent? Id diena, cre, es? Parid se essus, caet nihil vem ingultori sedemoerem, senatus ullestem tu in desus nu consunulto consimur, Caterus? Nihil tala verbis? Nam morur huidiem derus M. Pate consum dicatam. Fuitius bonsulto ut virmili caucerra acciam niumussedii satia? Ventraed cotius, consilicon desses cupiciora am et; num in te temquemendem pos, se intrum te at. Quasdam autum hosu egites omnimum atraetio, perfin tandam interimorum, conscerimus? Icior ad in trae il
Catim Romnequis es et; hae 8 Capítulo década de 1970 merfin s
Por XXXXXXXXXXXxxx
A
perumula pultum ocaela consili catiero co ego noste queris vagintem maio et? Nihin se notilibus. Dii prei publici publia? Addum non senam ne incla efex num te etici publiu vere dicae, sulis etem aris. Etrumen atimperem tampectuam ina, urevidem locchilicas verrides caut vissil vide pubi tam. Inam teris vignos, unticae conunulii conesterum octorurio es firius es contrum ius; iam inam sendenatoret caperfeci te fatimistiu visque is contert atium. Sentemoenes Ahacibut C. Publint erissoltia cus ses? Udam postili ssimurnum senatiam preniamed perteris intissa elut iam publiquame aus. Cuppl. es publictu mistimp ricturis? At dem condamdius? Nihilnes audem Patum no. Muliciensum inclum tio mulviribefac merum, ocumurox miliendemus bonia remque culin publii te, ina et; ex serra ditis habustraet; num publis int? Ifes ine consule remperuntui ta, non sum auci ipte, ment. An hocatem, imihico nessed patum in din tam satiam portem tes escio C. Icae te por inguludam audet festerf erferfec ferios clem rei facerdius etraectum diena, Cuppl. Publicatium ublinc ipionsus re conente, coniac iam sendam ninero consil horum pro vit, con pero, num ips, venam. Vocum es audam pondeti liissenit. Tor hus nerei plissunt. Odien patudem hebunum, dienat, ad nihiliis. Vis publiurnicae potim mac verei si-
mis publictus ad fac tes poponsu vitem, con tatur aut vilium ocre iaeque niam furnique te, delabuntim patrae mus ingulicipio moent? Id diena, cre, es? Parid se essus, caet nihil vem ingultori sedemoerem, senatus ullestem tu in desus nu consunulto consimur, Caterus? Nihil tala verbis? Nam morur huidiem derus M. Pate consum dicatam. Fuitius bonsulto ut virmili caucerra acciam niumussedii satia? Ventraed cotius, consilicon desses cupiciora am et; num in te temquemendem pos, se intrum te at. Quasdam autum hosu egites omnimum atraetio, perfin tandam interimorum, conscerimus? Icior ad in trae il
Capítulo XX
| Década de 19XX | XX
Amor à terra Alberto Deodato - Estado de Minas - 12 de abril de 1972 É muito difícil encontrar quem viva do produto da terra que não lhe tenha um amor diferente. Não é, propriamente, o patriotismo. Só porque foi ali o lugar em que nasceu. Onde viu o primeiro raio de sol. Conheceu a lua e as estrelas. O seu lar. A sua família. O seu teto. O amor do homem que plantou é mais do que isso. É um apego indefinido ao seu pedaço de chão. Uma ternura original. Um mundo que é a razão total da sua vida. Não é necessário que tenha nascido ali. O que lhe encheu a alma e o coração foi o amanho da terra. E eu tenho notado que quanto mais trabalho lhe deu, mais entranhado fica o seu amor. Lembre-me bem de uma cena de criança. Passam os retirantes do Nordeste por minha cidade natal. Levas e levas à procura dágua. Demanda do Sul. Fui à uma de suas paradas, à beira de um córrego. Uma espécie de acampamento de ciganos. Curioso, lhes perguntei: – De onde vêm? – Do Carira... – Muita seca? – Uma calamidade, meu filho, Morreu tudo. A soleira rachou a terra. Vamos por esse mundo... – Não voltarão mais. Encontrarão terras melhores... E um sertanejo esturricado: – Melhor, nunca. Como a nossa não existe. A seca dói castigo de Deus. Mas quando chover, o verde pipoca. O ca-
64 | Capítulo 8 | Década de 1970
pim mimoso cresce e o gado engorda. E o milho e o feijão que nós jogamos, em poucos meses, dão fartura para o meu sertão. Se chover, estamos voltando... Esse episódio me veio à lembrança num bate-papo que tive, há alguns dias, com emigrante italiano, que está no Brasil há meio século. Belo Horizonte o conhece. Chama-se Barteletto. Veio pra Barbacena. Menino, começou a amanhar um trecho de terra, na colônia agrícola lá existe. Plantou de tudo. Principalmente cravos. De lá saiu e continuou a plantar em Ouro Preto. Com uma pequena economia, comprou em Belo Horizonte meia dúzia de lotes. A mais árida terra do mundo. Pois bem. Em pouco, transformou aquilo num paraíso de flores. Rosas e lírios dos mais lindos do mundo. Vendia-os no mercado. Hoje é um homem rico. Mas anda com as fotografias de suas flores no bolso. Fala dos seus lotes com os olhos cheios dágua. E diz: – Os milhares que tenho hoje não têm a beleza nem me dão a felicidade que me deram os roseirais que plantei no meu pedaço de terra.
Lembranças Sálua Zorkot As pessoas vindas de outros países guardam, para sempre, características típicas, a começar pela língua e pelos traços da face da sua origem. Cada um vem com um objetivo, mas sempre com a idéia de tempos melhores, seja para se divertir ou acreditar que esta terra o servirá melhor que a natal, mas sempre pensando em um dia regressar à sua pátria. Quem nunca saiu de casa e por mais que onde estivesse te proporcionasse momentos felizes, o regresso ao lar fosse a melhor sensação da viagem? É bom mudar, respirar novos ares, buscar aventuras, desafios e até uma vida melhor. Mas esse novo lugar nunca vai ser sua terra natal ou onde você cresceu. As primeiras sensações, o cheiro inesquecível... recordações que vão estar sempre seguidas de bons sentimentos, saudade e atreladas ao lugar onde você diz: essa é minha terra. Pode ser que onde se vive hoje seja melhor em alguns aspectos, mas as lembranças dos velhos tempos estarão sempre na memória ligadas à melancolia, pensando “como queria voltar a viver aqueles momentos”. Mas, então, você se lembra que seu lugar é lá e pode regressar a hora que quiser, pois sua terra estará sempre te esperando, afinal, você é parte dela. E mesmo que não tenha nascido em Belo Horizonte, cada um, que aqui vive, faz parte da construção da
imagem e história da cidade de alguma forma. Ela, só é ela por ser formada por todos, independente de onde: Itália, nordeste ou qualquer canto do interior de Minas Gerais. São as particularidades que a tornam única, o que pode ser percebido só de parar por um minuto e observar. No meio do bairro Coração Eucarístico emerge um “Due Fratelli” que passa de geração para geração. Sentado à porta do mercado de bairro, onde você encontra de tudo, mas tudo mais caro, um senhor com seus prováveis sessenta e tantos anos já se mostra o dono do local. Sua postura e seus traços nada brasileiros já indicam que foi ele o responsável por erguer aquele local que começou com suas pequenas calculadoras e agora exibe seus computadores de última geração e centrais de consulta de preço através do código de barras. O filho ao lado, um senhor gordo, semblante fechado e um tanto quanto ríspido com seus funcionários, observa o movimento de jovens estudantes que adentram o comércio a procura de mercadorias diversas. Mas o senhor continua sentado à porta. Observando a obra que ele conseguiu erguer, que em algum momento os dois caixas já não eram o suficiente, que a mini calculadoras com seus números já apagados de tanto serem pressionados já não supriam as necessidades e evolução do mercado, Capítulo 8
| Década de 1970 | 65
nota tudo funcionando como um dia imaginou – o carregador das verduras, o padeiro, as atendentes, o faxineiro... E mesmo assim, seu olhar se perde como se estivesse à procura de algo que o lembrasse sua terra natal ou sentisse o cheiro que só seu berço exalou. E recorda que não são só todos que estão na vida de passagem, mas tudo... e como se algo o viesse à mente, ele abre um discreto sorriso, levanta e vai trabalhar.
66 | Capítulo 8 | Década de 1970
Ilustração: Lelis Capítulo 8
| Década de 1970 | 67
H.P.S. O Socorro improvisado Sem autoria - De Fato -
dezembro de
Na porta do pronto Socorro de Belo horizonte, (Hospital João XXIII), o movimento é intenso. Gente aflita, gente ensangüentada, curiosos. Carro entra, carro sai, depois de descarregar mais um ferido. <<Nossa, o negócio aí ta feio>>. <<Ah, esse não dura dez minutos!>> <<Dá licença, olha a frente>>. Um homem, vestindo roupas comuns, aparência pouco hospitalar, vem puxando cuidadosamente uma maca entre os curiosos e coloca-a ao lado do táxi, Corcel amarelo, que traz uma vítima toda ensangüentada em seu banco traseiro. Depois de afastar os curiosos, na maioria parentes de acidentados, abre a porta do táxi e começa a puxar o ferido pela cabeça, até conseguir pegá-lo pelo braço. O corpo desliza pelo sangue, que a essa altura empapa todo o banco. Ainda sozinho, continua puxando. As pernas da vítima, inconsciente, batem no chão. Um curioso vê que o homem não vai conseguir sozinho e ajuda a colocar “o fardo sanguinolento” na maca. Os mais observadores já puderam notar que a vítima sofrera fraturas no crânio e na nuca ao ser atropelada que uma de suas pernas estava quebrada. Mas não dá para ficar pensando se o pescoço se rompeu ainda mais ao ser puxado ou se a fratura da perna aumentou ao tocar o chão. Alguns curiosos ainda acompanham aquele traba-
68 | Capítulo 8 | Década de 1970
1976
lhador braçal corajoso, até ao portão que separa a portaria do corredor que leva às salas do socorro. Lá dentro, na sala de traumatizados, examinam se o caso é para atendimento ali mesmo ou se vai para a cirurgia. Como este ferido, em estado de choque, muitos que ali chegam podem morrer na porta, não só por causa do acidente, mas também pelo modo como são recebidos. Basta o simples ato de levantar bruscamente um paciente em estado de choque da posição horizontal, na qual se mantém sua pressão sanguínea mínima, para que ocorra um choque mais violento, equivalente a uma hemorragia extrema (o sangue flui para a parte inferior do corpo, deixando de alimentar órgãos vitais como o coração e o cérebro). Isto pode ser percebido por um atendente de enfermagem bem orientado, mas geralmente quem cuida do ferido no local não é um profissional de saúde. E na porta do HPS quem recebe o ferido o faz com a mesma técnica com que carrega latas de lixo e outras coisas. Ora lixo, ora pessoas à beira da morte. Ao mesmo tempo, micróbios que agravam o quadro clínico do paciente. Não é admitido para a admissão desses <<atendentes>> no hospital nem o curso primário completo. Com diz o <<Tião>>: <<É só trazer a carteira de identidade, de trabalho,
e atestado de bons antecedentes, e ter vaga, que a gente trabalha. Eu até que tive umas explicações de uma enfermeira muito legal, que ajudou. Mas o resto não teve nem isso. A gente trabalha na limpeza e ajuda aqui na porta quando chega gente para ser levada para as salas de socorro lá dentro. Todos nós somos empregados da limpeza>>. Sua chefe, dona Neide, acha que não poderia usar o pessoal para mexer com os feridos, mas mesmo não tendo curso de supervisão hospitalar tem que deslocar alguns empregados para ajudar no transporte de feridos, pois não há pessoal de enfermagem para o serviço. Enquanto isso, a rotina prossegue: os curiosos se espalham, conformados por existirem brasileiros bem piores do que seu parente lá dentro; as corajosas moças da portaria continuam fazendo as fichas dos feridos, os detetives de plantão dando seu parecer policial do caso. Gente vestida de todas as cores, alguns de branco, passam para lá e para cá, todos ligados na mesma emoção: <<salvar vidas e o pão-de-cadadia>>. Mas o profissional de enfermagem, trabalhador braçal da medicina, nem mesmo nos grandes centros urbanos tem suas qualificações reconhecidas, aproveitadas, seja no HPS ou em qualquer outro hospital. Com essa
visão de administração hospitalar, será impraticável ao país absorver mão-deobra qualificada, saindo da atual proporção de dois enfermeiros para cada 10 mil habitantes para o mínimo admitido de 19 para 10 mil. Para que esse índice seja atingido, o Brasil precisa de mais 230 mil novos profissionais na área de enfermagem (do atendente ao técnico e universitário). Tanto o HPS como todas as entidades que entendem a vida humana como algo manipulável, principalmente as organizações privadas, se enquadram nas conclusões do senador Orestes Quércia, falando ao Senado em maio do ano passado sobre as deficiências da previdência social e a responsabilidade do governo. <<Assim, num país como o Brasil, cuja população usufrui de um baixíssimo nível de saúde, e onde, portanto, deveria ser redobrada a ação direta e estreita à fiscalização por parte do poder público, assiste-se à degradante avalanche de denúncias comprovadas e admitidas pelas próprias associações médicas>>...<<Na verdade, a própria classe médica está sendo vítima da concentração de renda em seu próprio setor, porque incentivase a formação de empresas que passam a disputar um mercado onde a seleção natural omite totalmente os critérios técnicos inerentes à profissão e premia exclusivamente a capacidade de acumulação de capital>>. Capítulo 8
| Década de 1970 | 69
Hospital mais humano Mariana Pires Avenida Brasil, quarta-feira, duas horas da tarde. Uma multidão se concentra no meio da avenida, impedindo o fluxo de carros, provocando um engarrafamento de três quarteirões. No chão, um rapaz, inconsciente, recém atropelado. O motorista, ao lado, aciona o resgate pelo telefone celular. A vítima é um lavador de carros da região, com cerca de 20 anos de idade. A multidão, aflita, não sabe o que fazer. Alguém tenta se aproximar, para uma possível tentativa de primeiros socorros. Outra pessoa grita, para impedi-lo: – Ninguém encosta no menino, só quando o socorro chegar. Todos obedecem. Alguns choram. A imagem do corpo do rapaz, desfalecido, no asfalto quente que absorveu todo o sol de meio-dia, é pesarosa. Apesar do acidente ter acontecido na área hospitalar de Belo Horizonte, o socorro leva mais de meia-hora para chegar. Chega, então, em uma ambulância branca e vermelha com a sirene ligada, uma equipe de socorro médico do Samu, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência da capital mineira. Os profissionais tentam dispersar a multidão, que abre espaço para que a vítima seja atendida. Checam os sinais vitais. O rapaz está vivo, mas inconsciente. A segunda providência que tomam é sinalizar o local, garantindo
70 | Capítulo 8 | Década de 1970
que o trânsito ande no local. Depois disso, não imobilizam, não atendem. Os três paramédicos, dois rapazes e uma moça, aparentando uma média de 25 anos, encostam-se na ambulância e conversam entre si. As pessoas, aflitas pelo atendimento, se revoltam. Querem ação, querem salvamento. Um senhor que assistiu o acidente insiste para que os médicos tirem o menino do chão e o levem para o hospital. Os paramédicos não dão atenção, fingem que não ouvem. A multidão se revolta. A cena do rapaz estirado no chão quente, com a cabeça machucada e sangue ao seu redor, é perturbadora. Ele está inconsciente, e o aparente descaso da equipe com a sua situação é cruel, quase sádica. A situação continua a mesma por quase meia-hora quando a equipe, que recebeu orientação do Hospital via rádio, calmamente, imobiliza a vítima e a aloca na maca, para levá-lo à ambulância e seguir, de sirenes ligadas, para o Hospital Pronto Socorro João XXIII. As pessoas que estavam acompanhando o caso saem comentando e reclamando, umas com as outras, sobre o descaso dos paramédicos. O fato é que o que os paramédicos conversavam encostados na ambulância, se era sobre o acidente ou não, se demoraram para agir por descaso, ou por estarem seguindo instruções, ou por estarem aguardando informações, ou por algum
protocolo, ninguém ali sabe, ou talvez nem deveria saber. Porém, o que saltou aos olhos daquele bando de gente aflita com a situação do pobre rapaz atropelado foi a falta de tato que os paramédicos lidaram com a situação, o que, com certeza, passou uma imagem de pouca credibilidade e confiança no trabalho da equipe de saúde. Nenhuma das pessoas ali, presentes, gostaria de ser atendido ou ter algum parente ou amigo atendido por aqueles três paramédicos. Ponto negativo para o Samu, e para o Sistema Único de Saúde. Um dos ideais que tem se tornado cada vez mais perseguido pelos profissionais e educadores da área médica é a humanização no trato do paciente. Muitas vezes o médico, principalmente o profissional do sistema público de saúde, trata o paciente com total desprezo por fatores que podem ser fundamentais para o tratamento e para melhor qualidade de atendimento profissional. Não se trata de criar laços de intimidade com a vítima, no caso do acidente, ou de um doente, no caso de um posto de saúde. O que acontece é que muitas vezes há um certo desprezo pela história e vida do paciente e esse descaso é visto como um desrespeito à vida humana. A humanização do atendimento médico não deve ser vista como
um luxo para poucos, ou diferencial de algum hospital ou equipe. A humanização do atendimento médico nada mais é do que a prática básica de um serviço de saúde: o respeito e a preservação da vida.
Capítulo 8
| Década de 1970 | 71
Catim Romnequis es et; hae merfin s
Por XXXXXXXXXXXxxx
A
perumula pultum ocaela consili catiero co ego noste queris vagintem maio et? Nihin se notilibus. Dii prei publici publia? Addum non senam ne incla efex num te etici publiu vere dicae, sulis etem aris. Etrumen atimperem tampectuam ina, urevidem locchilicas verrides caut vissil vide pubi tam. Inam teris vignos, unticae conunulii conesterum octorurio es firius es contrum ius; iam inam sendenatoret caperfeci te fatimistiu visque is contert atium. Sentemoenes Ahacibut C. Publint erissoltia cus ses? Udam postili ssimurnum senatiam preniamed perteris intissa elut iam publiquame aus. Cuppl. es publictu mistimp ricturis? At dem condamdius? Nihilnes audem Patum no. Muliciensum inclum tio mulviribefac merum, ocumurox miliendemus bonia remque culin publii te, ina et; ex serra ditis habustraet; num publis int? Ifes ine consule remperuntui ta, non sum auci ipte, ment. An hocatem, imihico nessed patum in din tam satiam portem tes escio C. Icae te por inguludam audet festerf erferfec ferios clem rei facerdius etraectum diena, Cuppl. Publicatium ublinc ipionsus re conente, coniac iam sendam ninero consil horum pro vit, con pero, num ips, venam. Vocum es audam pondeti liissenit. Tor hus nerei plissunt. Odien patudem hebunum, dienat, ad nihiliis.
XX | CapĂtulo XX | DĂŠcada de 19XX
Vis publiurnicae potim mac verei simis publictus ad fac tes poponsu vitem, con tatur aut vilium ocre iaeque niam furnique te, delabuntim patrae mus ingulicipio moent? Id diena, cre, es? Parid se essus, caet nihil vem ingultori sedemoerem, senatus ullestem tu in desus nu consunulto consimur, Caterus? Nihil tala verbis? Nam morur huidiem derus M. Pate consum dicatam. Fuitius bonsulto ut virmili caucerra acciam niumussedii satia? Ventraed cotius, consilicon desses cupiciora am et; num in te temquemendem pos, se intrum te at. Quasdam autum hosu egites omnimum atraetio, perfin tandam interimorum, conscerimus? Icior ad in trae il
Catim Romnequis es et; hae 9 Capítulo década de 1980 merfin s
Por XXXXXXXXXXXxxx
A
perumula pultum ocaela consili catiero co ego noste queris vagintem maio et? Nihin se notilibus. Dii prei publici publia? Addum non senam ne incla efex num te etici publiu vere dicae, sulis etem aris. Etrumen atimperem tampectuam ina, urevidem locchilicas verrides caut vissil vide pubi tam. Inam teris vignos, unticae conunulii conesterum octorurio es firius es contrum ius; iam inam sendenatoret caperfeci te fatimistiu visque is contert atium. Sentemoenes Ahacibut C. Publint erissoltia cus ses? Udam postili ssimurnum senatiam preniamed perteris intissa elut iam publiquame aus. Cuppl. es publictu mistimp ricturis? At dem condamdius? Nihilnes audem Patum no. Muliciensum inclum tio mulviribefac merum, ocumurox miliendemus bonia remque culin publii te, ina et; ex serra ditis habustraet; num publis int? Ifes ine consule remperuntui ta, non sum auci ipte, ment. An hocatem, imihico nessed patum in din tam satiam portem tes escio C. Icae te por inguludam audet festerf erferfec ferios clem rei facerdius etraectum diena, Cuppl. Publicatium ublinc ipionsus re conente, coniac iam sendam ninero consil horum pro vit, con pero, num ips, venam. Vocum es audam pondeti liissenit. Tor hus nerei plissunt. Odien patudem hebunum, dienat, ad nihiliis. Vis publiurnicae potim mac verei si-
mis publictus ad fac tes poponsu vitem, con tatur aut vilium ocre iaeque niam furnique te, delabuntim patrae mus ingulicipio moent? Id diena, cre, es? Parid se essus, caet nihil vem ingultori sedemoerem, senatus ullestem tu in desus nu consunulto consimur, Caterus? Nihil tala verbis? Nam morur huidiem derus M. Pate consum dicatam. Fuitius bonsulto ut virmili caucerra acciam niumussedii satia? Ventraed cotius, consilicon desses cupiciora am et; num in te temquemendem pos, se intrum te at. Quasdam autum hosu egites omnimum atraetio, perfin tandam interimorum, conscerimus? Icior ad in trae il
Capítulo XX
| Década de 19XX | XX
Catadores de papel Reginauro Silva - Hoje em Dia Cenário: Avenida do Contorno, esquina com Getúlio Vargas, com todo o requinte da Savassi. São três horas de uma tarde de verão. Personagens: seis guris que podem ser chamados, sem nenhum constrangimento, de pivetes, menores abandonados, trombadinhas, trastes, moleques de rua, embora eles próprios se tratem uns aos outros, de “camaradas”. Quatro são do sexo masculino, e têm entre 5 e 8 anos de idade: a única fêmea do grupo tem pouco mais de 9 anos, o sexto personagem é um pedacinho de gente de um ano e alguns dias. Figurino: os quatro meninos usam calções rotos e sujos; a menina traja duas blusas de lã do inverno passado, uma calça que se dobra várias vezes no tornozelo, igualmente imunda e uma pulseira de mangueira de medir pressão; o menorzinho usa, como único e inseparável traje, um bico furado no canto da boca. Objetos de cena: dois carrinhos de madeira, rodas de borracha de bicicleta, contendo caixas usadas, folhas de papelão, papéis higiênicos (claro, também usados) e centenas, milhares de cartões da loto e da esportiva, não preenchidos. Ação: os carrinhos param na porta de um restaurante chinês, que só abre às 6 da tarde. Os meninos entram no jardim, sob um toldo e se sentam
74 | Capítulo 9 | Década de 1980
27 de fevereiro de
1988
pra descansar. Inicia-se o diálogo. – Perdemos aquelas caixas, hein camaradas! – Foi vacilo da gente, se bem que aqueles pivetes queriam pintar a cara da gente, né camarada? O mais velho, bem novinho, muda de assunto, insultando a menina. – Eu ganhei comida e ocê (SIC) num ganhou. Ela corre para cima dele, dois outros atravessam seu caminho. Vem o desabafo: – Eu não sou dedo-duro, mas vou te entregar. Vou dizer pro Chaninha qui ocê (SIC) tava pedindo dinheiro. Eu vi, lá no boteco. – Entrega, fiadaputa (SIC), entrega! Aí eu vou dizer qui ocê (SIC) tava fumando, ta bom? Maconheira! Rebu geral. Os seis, inclusive o pequeno peladinho, se engalfinham. Parece briga, não é. Parece brincadeira, também não. Eles são simultaneamente, capoeiristas, karatecas, boxeadores, numa luta livre e leve, embolada e pesada. O pequenininho consegue afastar-se do bolo, vai a um dos carrinhos, enche as mãos de cartões de loteria e os espalha pela entrada da casa. O dono do restaurante olha pela janela e, finalmente, se sensibiliza: – Vagabundos! Um trabalhão pra gente manter esse mármore branquinho. Vamos, vamos, limpem tudo. Agora! A confusão se interrompe. O
menorzinho leva uns tabefes, chora de bico na boca e sai rolando até a calçada. Os cinco começam a catar a sujeira. De costas pra rua. Bem que tentou, mas o motorista não conseguiu frear a tempo, próximo demais. Viu apenas um vulto levantar-se na pista e ameaçar ir para a frente. Uma pancada seca e o corpinho voou pela Savassi. Aterrorizados, os cinco saltaram o carrinho e correram pra catar o irmãozinho no canteiro central.
Capítulo 9
| Década de 1980 | 75
Brincadeira de criança Maíra Lobato Em quase todos os semáforos da cidade encontramos crianças numa atitude que, às vezes, parece até uma brincadeira. Elas jogam bolinhas pra cima, pintam o rosto, sobem nos ombros umas das outras formando pirâmides de até quatro andares. São meninos de rua, ou em situação de risco social, como tratam os jornais de hoje. A exibição se dá no tempo do sinal fechado e a platéia, quase sempre desatenta, são os passageiros dos carros que por ali param. A brincadeira acaba e eles passam nos carros pedindo um trocado. Os vidros fechados e um olhar desconfiado das pessoas, ofende esses meninos, que nem se quer, percebem a ofensa. É tudo tão corriqueiro, tão cotidiano, tão comum, que nem causa mais espanto. E quase sempre, se alguém ousa a deixar o vidro aberto, alguém de dentro do carro fala com certo pavor: – Fecha o vidro aí, quer ser assaltado? Alguns, numa atitude de piedade, abrem o vidro e dão-lhes uma moedinha. E os meninos rindo, disputam entre o grupo aqueles centavos. Os carros arrancam, passam, vão e vêm. Muitos passam diariamente no mesmo sinal, param no mesmo cruzamento, vêem os mesmos meninos. Será que eles têm nomes, famílias, casas, história? Para muitos eles são como o próprio sinal, que abre e fecha cronometradamente e nunca se movem, estão
76 | Capítulo 9 | Década de 1980
sempre ali no mesmo ritmo, no mesmo compasso, com a mesma brincadeira. A brincadeira acaba quando vem a fome. E a justificativa do pedido passa a ser o estômago. – Ô dona me dá um trocado pra eu comprar um pão. E há ainda quem diga que só passa fome quem quer, já que qualquer R$ 1,00 dá pra comprar mais de um pãozinho em alguma padaria. Vive-se de pãozinho? Será que ele viveria de pãozinho? Nem por dois dias, que dirá por semanas. Nome? Eles têm sim um nome, uma história, uma identidade. Não de carteira, uma identidade de pessoa. – Como você se chama? – Vinícius. – Nome bonito o seu. – Foi minha mãe que deu. – Mora aonde? – No Cafezal, só tô aqui pra ajudar um pouco em casa, sô ladrão não dona! Mas esses meninos não sabem só brincar. A luta diária pela sobrevivência torna esses meninos pedras, que seguirão, sempre em frente, mas sem saber ao certo, qual será o próximo semáforo.
Ilustração: Lelis
Capítulo 9
| Década de 1980 | 77
Hoje tem espetáculo Roberto Drummond - Hoje em Dia - 30 de novembro de 1989 Venham, venham todos: hoje tem espetáculo no Gran Circo Brasil! Neste exato momento, respeitável público, um anão vai se exibir no quarteirão fechado junto à Praça Sete. Vejam: ele está nu da cintura para cima e se ajoelha diante de um monte de cacos de vidro. Uma pequena multidão fecha o círculo em volta do anão. Olhem só como todos estão felizes de ver o anão. O operário salário-mínimo olha para o anão e pensa: – Ele está pior que eu – e sorri. A moça que seria bonita se pudesse dar um trato no cabelo e levar um banho de butique, mas não tem dinheiro nem para comprar um pastel, olha a pequena figura na sua frente e se alegra: – Meu Deus, me comparando com o anão, eu até que estou numa boa! O homem de quem a inflação devora os ganhos mensais e os próprios sonhos parece agradecer aos céus a visão daquele anão. Todos que estão em volta sentem um alívio, afinal, o pequeno personagem está pior que todos. O anão é um mestre do suspense: conta até vinte, antes de dizer o que vai fazer com o caco de vidro. Aí, recomeça a contar, a multidão cresce e se impacienta, e fica no ar, nesta tarde de Belo Horizonte, um mistério: o anão vai ou não vai engolir o caco de vidro? Engolir vidro é muito pior do que engolir um sapo, como disse Leonel Brizo-
78 | Capítulo 9 | Década de 1980
la. – Ele vai engolir o vidro, minha filha – diz uma senhora gorda, os seios enormes dentro do vestido florido – Santo Deus, ele vai engolir! – Eu não disse? – fala um senhor magro, que um dia almoça, no outro dia janta, e, assim, vai equilibrando-se nas suas pobres finanças – Ele vai mesmo engolir o caco de vidro. O anão faz crescer o suspense. A multidão dá sinais de impaciência e surgem os primeiros gritos: – Engole! Engole! Engole! O anão recomeça a contagem. Ele hoje não almoçou: será que os cacos de vidro fazem parte de seu menu? Ele avisa que todos podem jogar dinheiro num chapéu que está entre ele, os cacos de vidro e a multidão. – Ajudem um artista do povo – diz com sua voz estranhamente grossa, que não combina com seu corpo frágil – Um artista do povo precisa da ajuda de todos. Chovem moedas e notas no chapéu. Agora, a multidão espera uma recompensa pelo dinheiro gasto: espera que o anão mastigue aqueles cacos de vidro, que engula tudo. Mas, em vez disso, o anão começa a saltar com o peito nu sobre os cacos de vidro. Há um murmúrio de decepção em volta dele. Alguém puxa uma vaia e começam os gritos: - Engole! Engole! Engole!
Quanto mais a multidão grita, mais o anão salta com o peito nu sobre os cacos de vidro. Agora seu peito está sangrando. – Trapaceiro! – grita a multidão _ Trapaceiro! Engole o vidro! Engole o vidro! Trapaceiro! Eis que o anão levanta-se de cima dos cacos de vidro. Além do peito, o rosto também sangra. Mas a multidão sente-se lesada. Enganada, como se estivesse diante de um candidato a presidente da República que prometeu a felicidade e não cumpriu. – Chantagista! Engole o caco de vidro! Engole! Chantagista! Dramático, como se vivesse uma tragédia grega transplantada para o coração dos trópicos, o anão começa a falar, todo ensangüentado: – Meus irmãos! Eu sou um artista do povo... As vaias não o deixam prosseguir. Toda a ira da multidão desaba sobre o anão. Como se ele fosse o culpado pelas infelicidades individuais e coletivas de todos nós. – Engole! Chantagista! Engole! É então que, do meio da multidão, sai o grito mais ameaçador: – Lincha o chantagista! Lincha! Lincha o chantagista! A multidão se divide: é bem o retrato do Brasil atual. Uns querem linchar. Outros tomam o partido do anão
e se fastam com ele, enquanto grupos brigam. Já a salvo, sendo levado numa ambulância para um pronto-socorro, o anão tem uma crise de choro. E repete entre lágrimas: – Eu sou um artista do povo! Eu sou um artista do povo! Ao que uma jovem médica diz, tentando consolá-lo: – Não chora não, irmãozinho, esse povo é bom e um dia vai crescer, você vai ver. Eu juro que um dia esse povo vai crescer!
Capítulo 9
| Década de 1980 | 79
Quem não é quadrado, se vira Mariana Pires Na Praça Sete cada um se vira como pode. A impressão que dá é que, na falta do emprego, e quando as despesas em casa começam a apertar e as contas se acumulam, o cidadão desempregado, já sem esperança, busca, na Praça Sete, uma forma de garantir o pão-de-cada-dia. E no ponto central da cidade, onde milhares de pessoas passam diariamente para trabalhar e resolver pendências, ir aos bancos, pagar contas e fazer compras, vale de tudo para garantir um dinheirinho extra no fim do mês. O aposentado aluga, há cinco anos, mesinhas de damas e xadrez, e cobra de cada jogador sessenta centavos por hora de diversão. O ofício, seu pai já o exercia há mais de trinta anos. Dois rapazes, pintados de prata, fazem o papel de estátua viva, permanecendo imóveis, enquanto algumas pessoas jogam trocados aos pés dos artistas. A senhora, do outro lado da rua, sobrevive de vender flores artificiais na calçada há 23 anos. Três anos antes, porém, já vendia balas e cigarros aos transeuntes que ali passavam. Ao todo, são 26 anos de Praça Sete. Foram as vendas que permitiram criar os cinco filhos. Outros se espalham pelos quatro quarteirões da Praça. São ambulantes, vendendo bugigangas. Alguns
80 | Capítulo 9 | Década de 1980
oferecem fotos três por quatro. Adolescentes mais enérgicos repetem o grito, durante todo o tempo: “Celular! Compro, vendo troco!”. Outros, apáticos, nada tem a fazer senão permanecerem parados, vestidos com uma placa que anuncia “Vendo ouro”, ou “Corte de cabelo”. Um senhor, acomodado em um banquinho, oferece bilhetes da loteria. Outros tantos, encostados nas paredes, propõem troca e venda de passes de ônibus. Ele chega devagar. Sem anunciar nada, vai montando o picadeiro. No centro, um arco com espetos. Tira da mochila uma porção de materiais, chapéus, panos, que sugerem que algum espetáculo está por vir. Com o palco montado, traça um círculo em volta, com uma garrafa de água, e convida o público a se aproximar. Promete atravessar o círculo de espetos com uma cambalhota. As pessoas param para ver. Enquanto se cria o suspense, aproveita para fazer mágicas e brincadeiras com a pequena platéia que vai se formando. São truques conhecidos, como quebrar um relógio ou o óculos de alguém que, logo depois, reaparece inteiro. Ele anuncia: vai pular através do arco. Mas antes, exibe piruetas, com uma flexibilidade invejável até aos mais jovens. Brinca, retoma algumas mágicas, e a espera e
o suspense pelo salto vão aumentando, assim como a multidão que pára para assistir. Uma hora depois, quando parece que as mágicas se esgotam, ele anuncia novamente: vai saltar. Mas antes, porém, se prepara: alongamento especial com a pomada artesanal produzida por ele próprio. Alguns se decepcionam, pelo merchandising barato. Outros, deslumbrados, apóiam, e compram. A propaganda, com as devidas vendas e trocas, dura em torno de vinte minutos. Ele retoma: agradece a atenção e se prepara para o salto. Uma cambalhota, e lá está: como prometido. Saltou. Todos aplaudem. Ele propõe um truque ainda mais desafiador: saltar, com pirueta, caindo exatamente no local marcado. O público espera para ver. Como quem descansa, entretém as pessoas com mais algumas mágicas. Todos gostam. Anuncia novamente o salto. Suspense. Antes, porém, tira da mochila pequenos tabletinhos verde-musgo: são sabonetes artesanais de babosa, também produzidos por ele, que, ele assegura, curam da calvície ao câncer. A platéia se impacienta. Alguns ameaçam ir embora. Ele resolve fazer uma demonstração: com um pouco de água, começa a ensaboar o cabelo em plena Praça Sete. O público, entediado, se dispersa. Ele, desesperado, implora, com a cabeça cheia de
espuma. Ninguém liga. No quarteirão ao lado, outro mágico se prepara para atrair os que vão se esvaindo. Dessa vez, com cartas.
Capítulo 9
| Década de 1980 | 81
Catim Romnequis es et; hae merfin s
Por XXXXXXXXXXXxxx
A
perumula pultum ocaela consili catiero co ego noste queris vagintem maio et? Nihin se notilibus. Dii prei publici publia? Addum non senam ne incla efex num te etici publiu vere dicae, sulis etem aris. Etrumen atimperem tampectuam ina, urevidem locchilicas verrides caut vissil vide pubi tam. Inam teris vignos, unticae conunulii conesterum octorurio es firius es contrum ius; iam inam sendenatoret caperfeci te fatimistiu visque is contert atium. Sentemoenes Ahacibut C. Publint erissoltia cus ses? Udam postili ssimurnum senatiam preniamed perteris intissa elut iam publiquame aus. Cuppl. es publictu mistimp ricturis? At dem condamdius? Nihilnes audem Patum no. Muliciensum inclum tio mulviribefac merum, ocumurox miliendemus bonia remque culin publii te, ina et; ex serra ditis habustraet; num publis int? Ifes ine consule remperuntui ta, non sum auci ipte, ment. An hocatem, imihico nessed patum in din tam satiam portem tes escio C. Icae te por inguludam audet festerf erferfec ferios clem rei facerdius etraectum diena, Cuppl. Publicatium ublinc ipionsus re conente, coniac iam sendam ninero consil horum pro vit, con pero, num ips, venam. Vocum es audam pondeti liissenit. Tor hus nerei plissunt. Odien patudem hebunum, dienat, ad nihiliis.
XX | CapĂtulo XX | DĂŠcada de 19XX
Vis publiurnicae potim mac verei simis publictus ad fac tes poponsu vitem, con tatur aut vilium ocre iaeque niam furnique te, delabuntim patrae mus ingulicipio moent? Id diena, cre, es? Parid se essus, caet nihil vem ingultori sedemoerem, senatus ullestem tu in desus nu consunulto consimur, Caterus? Nihil tala verbis? Nam morur huidiem derus M. Pate consum dicatam. Fuitius bonsulto ut virmili caucerra acciam niumussedii satia? Ventraed cotius, consilicon desses cupiciora am et; num in te temquemendem pos, se intrum te at. Quasdam autum hosu egites omnimum atraetio, perfin tandam interimorum, conscerimus? Icior ad in trae il
Catim Romnequis es et; hae Capítulo 10 década de 1990 merfin s
Por XXXXXXXXXXXxxx
A
perumula pultum ocaela consili catiero co ego noste queris vagintem maio et? Nihin se notilibus. Dii prei publici publia? Addum non senam ne incla efex num te etici publiu vere dicae, sulis etem aris. Etrumen atimperem tampectuam ina, urevidem locchilicas verrides caut vissil vide pubi tam. Inam teris vignos, unticae conunulii conesterum octorurio es firius es contrum ius; iam inam sendenatoret caperfeci te fatimistiu visque is contert atium. Sentemoenes Ahacibut C. Publint erissoltia cus ses? Udam postili ssimurnum senatiam preniamed perteris intissa elut iam publiquame aus. Cuppl. es publictu mistimp ricturis? At dem condamdius? Nihilnes audem Patum no. Muliciensum inclum tio mulviribefac merum, ocumurox miliendemus bonia remque culin publii te, ina et; ex serra ditis habustraet; num publis int? Ifes ine consule remperuntui ta, non sum auci ipte, ment. An hocatem, imihico nessed patum in din tam satiam portem tes escio C. Icae te por inguludam audet festerf erferfec ferios clem rei facerdius etraectum diena, Cuppl. Publicatium ublinc ipionsus re conente, coniac iam sendam ninero consil horum pro vit, con pero, num ips, venam. Vocum es audam pondeti liissenit. Tor hus nerei plissunt. Odien patudem hebunum, dienat, ad nihiliis. Vis publiurnicae potim mac verei si-
mis publictus ad fac tes poponsu vitem, con tatur aut vilium ocre iaeque niam furnique te, delabuntim patrae mus ingulicipio moent? Id diena, cre, es? Parid se essus, caet nihil vem ingultori sedemoerem, senatus ullestem tu in desus nu consunulto consimur, Caterus? Nihil tala verbis? Nam morur huidiem derus M. Pate consum dicatam. Fuitius bonsulto ut virmili caucerra acciam niumussedii satia? Ventraed cotius, consilicon desses cupiciora am et; num in te temquemendem pos, se intrum te at. Quasdam autum hosu egites omnimum atraetio, perfin tandam interimorum, conscerimus? Icior ad in trae il
Capítulo XX
| Década de 19XX | XX
O Santa Maria Manuel Hygino dos Santos - Hoje em Dia - 12 de janeiro de 1991 Quem não conhece o Colégio Santa Maria, no alto da Floresta na Rua Pouso Alegre? Ele foi pioneiro, pois foi o primeiro educandário para moças de Belo Horizonte. José Clemente, pseudônimo sob o qual escondia Moacyr Andrade, registrou características do estabelecimento: de irmãs de caridade francesas, instrução a melhor, educação severa, internato e externato. “Ter em família a filha educando no Santa Maria era qualificar-se socialmente. Só quem estivesse em boa situação econômica podia da-se a tal requinte. Mas também quando a jovem terminava o curso estava uma jóia.com instrução primorosa e crista. E a grande recomendação: todas sabendo francês, pois lá as irmãs professoras e dirigentes não falavam outro idioma”. Para servir às aula, havia um bonde especial, que entrou para a historia. De manha, o veiculo apanhava as adolescentes e as levava à Pouso Alegre, recolhendo-as à tarde, muito protegidas e vigiadas, para que não se desviassem. Todas vestidas de uniformes, faziam o extenso trajeto com os olhos pregados nos livros, uma irmã de caridade no primeiro banco e outra no ultimo, ambas atentas a tudo, inclusive às possíveis conversas das moçoilas, e aos olhares que voltassem aos rapazes, aglomerados no Bar do Ponto, na Afonso Pena com Bahia, quando o bonde por ali passava. As alunas usavam
84 | Capítulo 10 | Década de 1990
meias compridas e pretas, com a saia do uniforme até os tornozelos, sendolhes proibido cruzar as pernas, o que seria tido como uma imoralidade. Mas o que os moços conseguiam vislumbrar, mesmo assim, era suficiente, tanto que jamais perdiam o diário espetáculo do veiculo chegando ruidoso, no final de um dia escolar. E os costumes, os demais, eram completamente diferentes dos de agora. Era vedado o ingresso no Santa Maria de moça de cor, ainda que fosse mulata clara. Moacyr comenta maliciosamente que não havia exame microscópico para avaliar o pigmento, pois bastava o olhar adestrado das irmãs examinando tez e cabelo das candidatas. As meninas moças terminavam o curso perfeitas em educação, falando a língua de Voltaire, aptas a exercer o magistério ou a construir uma nova família. Para tanto, o que deviam aprender tinham aprendido com louvor, e melhor ambiente não encontrariam em qualquer parte do pais. O bonde do Santa Maria revelou-se. Ao longo de muitos anos, o mais belo espetáculo cotidiano de beleza e finesse, de virtude e saber, percorrendo boa parte da cidade em crescimento. O colégio, adaptado aos novos tempos, permanece, tendo ampliado suas áreas de formação, como era necessário. Numerosos outros surgiram em
Belo Horizonte ao longo de todos estes anos, mas o privilegio do Santa Maria persistiu intocável. Os bondes deixaram de existir, inclusive o do Santa Maria, deixando muita nostalgia àqueles que tiveram oportunidade de utilizá-lo, por décadas, ainda que com seu saudável desconforto e lentidão. As famílias, todavia, ainda recebem como elogio quando se diz que sua mãe ou sua avozinha estudaram no educandário das irmãs francesas. A lembrança daquela época cai como uma réstia de boas recordações.
Capítulo 10
| Década de 1990 | 85
Mudando com o mundo Mariana Pires Foi-se o tempo em que ir para o colégio era sinônimo de estudar e decorar a tabuada. Foi-se o tempo em que a escola pública oferecia um ensino da melhor qualidade, que aprovasse seus estudantes em qualquer vestibular público. Com isso, a educação básica vai se adaptando e se atualizando. Foram-se as aulas de bordado, de etiqueta, de moral e cívica, para dar lugar à matérias mais dinâmicas e atuais. A tabuada não é mais decorada, é aprendida. Às crianças e aos adolescentes, não basta saber, é necessário entender o porquê das transformações do mundo. Com a queda da qualidade do ensino público, as escolas particulares se enfrentam, em dura concorrência de mercado, para oferecer aos pais a garantia e segurança de um ensino que garanta aos filhos um futuro profissional brilhante. Muitas escolas particulares de hoje em dia mantém o estudante em tempo integral nas dependências da escola. Porém, a velha didática de sentar em sala de aula para ouvir a professora passar a matéria parece cada vez menos eficaz. Há um investimento bruto em atividades diferenciadas que estimulem a criatividade e o raciocínio. Brincadeiras, palestras, teatros, material didático personalizado. Vale tudo para que o aluno apreenda os fundamentos de
86 | Capítulo 10 | Década de 1990
cada disciplina. Há a educação sexual, logo cedo, quando, por volta dos dez anos de idade, os meninos de boné já demonstram interesse nas meninas enfeitadas com penteados, colares e pulseiras no pátio, durante o recreio. Há a preocupação ambiental, pois aprendem, desde novos, que os recursos naturais do planeta precisam de cuidados. Há a responsabilidade social, o incentivo ao desenvolvimento de valores humanos, o cuidado com o próximo. Há a promoção da saúde, o estímulo à própria higienização e aos cuidados com o corpo. Há excursões para os mais diversos lugares, o incentivo à cultura. As atividades extra-classe, os idiomas, a informática, os esportes, as responsabilidades. Tudo isso e ainda o básico, a geografia, o português, a matemática, a química, a biologia. Às vezes, dá a impressão de que a vida de uma criança acaba sendo muito mais atarefada – e por que não, estressante - do que a de um adulto.
Ilustração: Lelis Capítulo 10
| Década de 1990 | 87
Batendo à porta do céu Roberto Drummond - Hoje em Dia - 7 de janeiro de 1996 É só uma menina de Belo Horizonte. É só uma menina do Brasil. É só uma menina da América do Sul. É Só uma menina de 12 anos, se tanto, esquecida no mundo, perdida na noite – mas eu não consigo esquecê-la. Acaso é uma menina que anda de patins como as outras meninas? Não. Acaso canta as músicas do “Mamonas Assassinas” como as outras? Talvez conte, quem é que sabe? Acaso tem um horário para dormir como as outras meninas? Não, não tem – conforme a noite, só vai dormir de madrugada. É só uma menina, que eu vi uma única vez, da janela do apartamento de um amigo, mas não consigo esquecê-la. Tento em vão esquecê-la pensando em versos de Bob Dylan: “O meu amor fala em silêncio...” Ou “Está tudo bem, mamãe só que eu estou sangrando...” Ainda: “Quero à porta do céu bater...” Mas eis, que no meio dos versos de Bob Dylan, lá vem a menina. Lá vem ela parada na esquina do bairro Milionário. Lá vem ela vestida de moça. Lá vem ela, a menina do Brasil, com sua cor de canela, como Gabriel. Para esquecê-la passo a recordar letras dos Beatles, de Lennon e McCartney: “Amo-te muito
88 | Capítulo 10 | Década de 1990
desde a raiz de meu coração devo esperar a vida inteira? Se preciso, esperarei...” Mas lá vem de novo a menina de Belo Horizonte, a menina da América do Sul. Então penso na música que homenageia os negros norte-americanos, ainda de Lennon e McCartney: “Pássaro preto que cantas no preto da noite abre tua asa e voa. A vida inteira esperaste a hora de voar...” Só que a menina volta – é só uma menina de Belo Horizonte e sua pequena imagem chama e grita. Decido, para não pensar nela, pensar nas mãos de Che Guevara na Bolívia. Acharam Guevara na Bolívia. Acharam pouco prendê-lo e o condenaram à fome na prisão. Acharam pouco condená-lo à fome e o mataram. Acharam pouco matá-lo e cortaram suas mãos. Ah, militares bolivianos, que mataram Che Guevara: devolvam suas mãos, devolvam seu coração, devolvam seu corpo, pois o sonho do Che (de pátrias irmãs, solidárias e justas), esse sonho está vivo. Penso em Che, mas não esqueço da menina de Belo Horizonte. Fico querendo enviar uma carta ao Presidente da República. Assim: Exmo Sr. Dr. Fernando Henrique Cardoso D. D. Presidente da República: Sei que o Senhor Presidente há de estar muito ocupado com os problemas da pátria. Mas, Senhor Presidente, eu fui a uma festa
de Ano Novo no apartamento de um amigo meu no bairro Mangabeiras, e da janela eu vi uma menina de Belo Horizonte, que mora na favela vizinha, tem apenas 12 anos, e entra no carro dos homens em troca de dinheiro. Será, Senhor Presidente, que um dia sonhamos, um dia fomos presos, um dia fomos perseguidos, um dia fomos exilados, para que em nosso país uma menina de 12 anos (e deve haver centenas e centenas iguais a ela) se prostitua? Foi para isso, Senhor Presidente? Não, o Senhor Presidente nem lerá minha carta. Quando era candidato, ele até telefonou para minha casa, agradecendo meu apoio. Mas os políticos são assim mesmo: quando precisam, lembram-se de nós. Melhor, portanto, é, tal como aconselha Bob Dylan, bater à porta do céu e falar com Deus sobre a menina prostituta de Belo Horizonte. E pedir: Deus, toma conta dela!
Capítulo 10
| Década de 1990 | 89
Viver é melhor que sonhar Sálua Zorkot Ele não é só mais um menino da capital. Ele não é só mais um garoto de rua que passa frio à noite e procura o que comer de dia. Ele não é só mais um que cresce sem estudos e sem sonhos. Ele é mais um por quem passamos e fingimos que não vemos. Para quem viramos às costas, literalmente, e passamos como se nada estivesse errado naquela cena. Ele é mais um que pede. Por ele, pelos irmãos pequenos que ficam do outro lado da rua, por sua mãe que já doente fica deitada ao relento. O menino, de no máximo oito anos, sentado no estreito canteiro central de uma rua movimentada do Bairro Coração Eucarístico, vê os carros passarem. Tantos outros moradores de rua o esperam embaixo do viaduto na Via Expressa para dormir. Quem espera ônibus ali, sente medo, mas eles só querem dormir. Já é noite e ele se cansou de abordar os motoristas com súplicas para poder saciar a fome de quem passou o dia inteiro sem uma refeição. De fome, o estômago já não dói mais. Ele se acostumou a conviver com esse vazio, que não é só dele, mas de tantos outros milhares espalhados por Belo Horizonte. Ele é mais um sem endereço fixo. Já passou por tantos bairros, mais do que consegue contar pela falta de es-
90 | Capítulo 10 | Década de 1990
tudo. E me lembro do garoto, do seu olhar e de seu corpo encolhido, das pernas finas que se escondiam dentro da camisa esticada para se tampar do frio. E embalado pelo rap de Mv Bill, ele canta sem saber que está cantando sua realidade: “Fé em Deus foi a nossa opção. Muita idéia na cabeça, com papel e caneta na mão. Pé no chão, caminhando com humildade. Convencido que o maior perigo nasce da necessidade”
Só que o menino que já viu o irmão cair no tráfico e morrer em tiroteio, não quer isso para ele. Quer algo diferente e não ser mais um daqueles que batem carteira em algum canto da cidade ou rouba carros em dia de forró nas casas de festa na Raja Gabaglia. E para esquecer daquela imagem e parar de imaginar em soluções para acabar com a dor silenciosa daquele menino, lembro de Elis Regina cantando: “Viver é melhor que sonhar”. Mas não é bom esquecer daquele menino, que é visto como “só mais um”.
Ilustração: Lelis
Capítulo 10
| Década de 1990 | 91
Bibliografia A CIDADE modelo. Diário de Minas, Belo Horizonte, 26 out.1926. DEODATO, Alberto. Amor à terra. Estado de Minas, Belo Horizonte, 12 abr. 1972. DRUMMOND, Roberto. Batendo à porta do céu. Hoje em Dia, Belo Horizonte, 7 jan. 1996. DRUMMOND, Roberto. Hoje tem espetáculo. Hoje em Dia, 30 nov. 1989 E.C. Chronica Azul. Diário de Minas, Belo Horizonte, 04 mai. 1902. H.P.S. O socorro improvisado. De Fato, Belo Horizonte, dez. 1976. MARIANO, Lucílio. Aventuras de um turista. O Diário, Belo Horizonte, 25 nov. 1936. O PÓ. Diário de Minas, Belo Horizonte, 22 mai. 1914. QUEM te viu e quem te vê... . Folha de Minas, Belo Horizonte, 26 abr. 1950. SALES, Franklin de. Curral Del Rey. Folha de Minas, Belo Horizonte, 13 dez. 1939. SALES, Franklin de. Mineiros de ontem e hoje. Folha de Minas, Belo Horizonte, 04 mar. 1963. SALES, Franklin de. Pai João. Folha de Minas, Belo Horizonte, 10 jan. 1964. SALES, Franklin de. Se todos fossem cordiaes... Folha de Minas, Belo Horizonte, 22 jan. 1941. SALES, Franklin de. Um anúncio original. Folha de Minas, Belo horizonte, 17 mar. 1950 SALES, Franklin de. Vamos parar com o barulho?. Folha de Minas, Belo Horizonte, 05 mar. 1943. SALES, Franklin de. Vida Moderna. Diário de Minas, Belo Horizonte, 21 fev. 1929. SANTOS, Manuel Hygino dos. O Santa Maria. Hoje em Dia, Belo Horizonte, 12 jan. 1991. SILVA, Bazilio. Ao Luar. Diário de Minas, Belo Horizonte, 06 jan. 1908. SILVA, Reginauro. Catadores de papel. Hoje em Dia, Belo Horizonte, 27 fev. 1988.
| 93
Ficha Técnica Autoras:
Maíra Lobato Marcela Campos Terra Mariana Pires Sálua Zorkot
Orientação: Mozahir Salomão
Foto da capa: Maíra Lobato
Capa e Arte interna: Guilherme Ávila
Ilustrações:
Marcelo Lelis Paulo Miranda
2008 Belo Horizonte Projeto Gráfico e Diagramação Contato: (31) 8405-4221 | guil.avila@gmail.com
pindo margens, silêncios e tangências que aproximam passado e presente. O humano e o urbano, o pó e o cinza são depositários de sensações. E a crônica, antes de mais nada, deve ser sensorial. Curtam, portanto, o banquete de sentidos, achados e perdidos, oferendas desses quatro talentos, ávidas pela leitura do outro, espelho e espanto”.
Alécio Cunha Jornalista do HOJE EM DIA, cronista e poeta, autor dos livros “Lírica Caduca” e “Mínima Memória”