Ética na mídia

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Ética na mídia A filosofia moral da comunicação social Guilherme Carniell1

A liberdade de expressão sempre foi o sonho supremo de toda a sociedade, principalmente dos profissionais que trabalham com a comunicação. Entretanto, esta liberdade está prestes a sair dos eixos éticos e morais. Atualmente, no mundo moderno e inflado de informações e notícias, nós precisamos repensar no quão libertos podemos e devemos ser. O quão libertos podemos aceitar uma opinião e/ou crítica. O quão libertos podemos ser ao ponto de respeitarmos o outro. Sabe-se que o ser humano tem o direito de informar, de ser informado e, acima de tudo, de ser livre. Porém, a liberdade de um acaba quando perturba-se outro. Em um dos textos estudados – Dicionário da Ética e Filosofia Moral, volume 2-, o autor Boris Libois nos propõe uma reflexão sobre o falso conceito de liberdade de expressão que presenciamos, agora, no início do século vinte e um. Ao passo que o segundo texto – Ética da Comunicçaão Social, elaborado por Pedro Gilberto Gomes, nos leva à uma viagem histórica para explicar um pouco melhor sobre a ética em si, trazendo aos poucos, a aplicação dela em nossas profissões, bem como algumas falhas existentes nos códigos deontológicos. Para melhor entender a evolução da ética no meio comunicativo, precisa-se, antes de tudo, tratar dela historicamente. Com base no artigo de Gomes, pode-se, mais uma vez, afirmar que a ética é ahistórica. Ela não muda conforme os tempos. Muda-se a maneira de pensar e de agir. Pedro defende, ainda no primeiro parágrafo do texto, que “a ética seria uma intromissão externa ao agir profissional” (GOMES, Pedro Gilberto, 1997, p.61). Em outras palavras, que é mais fácil ser anti-ético no trabalho, especialmente. Assim, inicia-se uma das crises éticas. Logo, o autor defende que a crise surge quando o homem não reconhece os limites dos próprios paradigmas, voltando, assim, mais uma vez, à liberdade de expressão. Ele destaca, ainda, que a ética deve ser e é maior do que a legislação. Portanto, às vezes, misturase conceitos éticos e legais para defender ou derrubar uma argumentação. Por exemplo, o

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. Estudante de Graduação, em Publicidade e Propaganda, do Curso de Comunicação Social da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. E-mail: gcarniell21@gmail.com.


humano tem o direito de ser informado. É lei! Mas também pode-se pensar que é um fator ético tornar o homem um ser informado. O que Gomes realmente nos quer passar é que a comunicação é a saúde da sociedade atual. Se ela estiver controlada e cuidada, tudo funcionará perfeitamente. Entretanto, no momento que uma epidemia informativa a atacar, perder-se-á vitalidade, tornando a sociedade desinformada, ou seja, fraca e indefesa. E antes de preparmos um diagnóstico para a sociedade, Pedro nos alerta sobre sabermos a real diferenciação de comunicação para informação. A comunicação tem os dois lados, ida e volta. Enquanto a informação só tem a ida. Alguém informa, e outrém é informado. Ao passo que na comunicação, há um intercâmbio de ideias. E pelo motivo de a comunicação fazer parte do ser humano, sem ela, não poderíamos ser considerados tal ser. Por isso, estabalece-se um parâmetro ético-moral sobre todas as profissões, e claro, principalmente dos comunicadores. Não podemos simplesmente sair comunicando e/ou informando o que bem entendermos. Precisamos, antes de tudo, saber qual emissor somos e como o nosso receptor é. O que o comunicador precisa informar, como e para quem. Deve-se lembrar que toda ação tem uma reação. E um meio para manter equílibrio ético em nosso dia a dia é utilizando como base os códigos deontológicos. Sabe-se, porém, que nem sempre eles são seguidos e, de vez em quando, descobre-se um meio de burlar alguns parágrafos deles. Para provar a teoria citada acima, (saber o que, como e para quem comunicar medindo as consequências que serão atribuídas à ação) utilizamos como exemplo o mito da origem da fábula. Diz a lenda, que durante a idade média, uma rei tirano era tão perverso e poderoso que todos eram tratados como escravos, e, quando alguém se rebelava contra o monarca era cruelmente torturado. Entretanto, por baixo de todo o mal e tirania, o rei era um amante de literatura, e para isso, ele realizou um concurso literário que premiaria a melhor história sobre ele próprio. Logo, inúmeras histórias apareceram, todas falando sobre o quão malvado e cruel era o rei, fazendo com que, consequentemente, os escritores fossem punidos. Até que certo dia, um rapaz escreveu a mesma história, só que diferente. Ele tornou os humanos em animais. O rei era representado pelo leão, a população era formada por porcos e galinhas, ao passo que os guardas eram jacarés. Em resumo, o rei adorou a história por achá-la totalmente diferente das outras.


O que podemos levar de lição com o mito da fábula é que devemos saber como informar. O jovem escritor de fábulas falava de todas as trapaças e falcatruas que o leão aprontava. No final das contas, o principal objetivo não era entreter o rei, mas sim informar a população de maneira subentendida. Os servos e os escravos percebiam que eles eram os porcos e as galinhas nas fábulas. Assim, eles podiam pensar numa hipótese de como fujar das garras do temido leão. A escrita era livre, o rapaz pensou, apenas, numa maneira de não tornála tão agressiva ao ponto de o rei banir a fábula que contava. Ou seja, o escritor foi sabiamente esperto e soube aproveitar a liberdade de expressão oferecida a ele. Esse é o principal assunto no texto de Boris. Libois afirma um controle na liberdade de expressão. Ele não defende um controle absoluto ou extremamente autoritário, mas sim mais ético. Hoje em dia, os comunicadores querem sentirem-se livres e ilimitados para fazer, informar e comunicar o que bem entenderem, ignorando, na maioria das vezes, as consequências destas ações. Porém, no momento em que são barrados e suas asas cortadas, eles se revoltam. Logo, pode-se dizer que nós, profissionais da comunicação, somos, nessas situações, mimados ao passo de não aceitarmos um não. O principal pensamento deixado por Libois é que devemos saber, como o escritor da fábula soube, balanciar o poder que temos em nossas mãos. Os jornalistas, por exemplo, têm total liberdade para informar, deveriam ter pelo menos, o problema encontra-se no momento em que não conhecem o limite e acabam estrapolando os conceitos éticos. Isso, aplica-se, também, na publicidade. Será que realmente seria perfeito se a propaganda fosse ilimitada e livre para fazer o que bem entendesse? Quem deve julgar o certo ou errado devem ser as pessoas. Hoje em dia, são elas quem definem se algo é ofensivo ou não, por exemplo. Além do mais, até os profissionais mais livres devem seguir o cógido ético e deontológico. Assim, colocamos, mais uma vez, a ética na frente da legislação. Por fim, Boris defende a ideia de que a comunicação deve ser para fins públicos e não lucrativos. Para isso, ele nos apresenta as quatro principais doutrinas da ética na comunicação: libertária, liberal, autoritária e responsabilidade social. O que ele nos propõe é um mix dessas quatro. Nada em excesso, e nada em falta. Só quando o lado autoritário equalizar-se com o liberal é que teremos uma comunicação próxima da ideal. Este ponto é, talvez, mais delicado para o comunicador. Afinal de contas, é um trabalho e precisa-se de um salário, logo, cabe a nós seguirmos o código deontólogico para não tornar a informação tão


mercantil quanto elaé hoje, assim, mantendo-a como sempre deveria ser, um serviço de utilidade pública. Ao término da leitura dos dois textos, podemos notar a questão a liberdade da informação e, ao mesmo tempo, do aprisionamento da ética. Porém, até que ponto a liberdade de expressão pode e deve ser livre? Como saber quanto um código deontológico está atualizado ou não? Juntos, Libois e Gomes obriga-nos a refletirmos sobre as limitações que nós, comunicadores, precisamos ter em nossas profissões. Não podemos, simplesmente, sair contando o que quisermos. Toda ação tem uma reação e cabe a nós utilizarmos a ética para melhor avaliar essas reações. Devemos seguir os conselhos de Boris sobre as muralhas éticas e morais que a liberdade de expressão deixa sem patrulheiros, tornando a informação ilimitada e, também, descontrolada; sem esquecer das falhas apresentadas por Gomes nas arestas da muralha deixando os códigos deontológicos desprotegidos, podendo qualquer um, assim, pulá-la facilmente. Por fim, sempre caberá a nós mesclarmos as duas realidades (liberdade de expressão versus controle da informação) e lembrar do que os dois autores querem nos dizer: a comunicação deve ser livre não para fins econômicos e/ou pessoais, mas para fins sociais, ou seja, para o bem comum.

REFERÊNCIAS Textos: GOMES, P.G. Ética da Comunicação Social. In Comunicação Social: Filosofia, Ética e Política. São Leopoldo: Ed. Unisinos, 2001. pp. 61-92. LIBOIS, BORIS: “Mídia”. In Dicionário de ética e Filosofia. São Leopoldo: Unisinos, 2003, pp. 175-178. l, vol. 1.


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