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A Propaganda Política Viralizada: O Uso De Memes Na Disseminação De Conteúdo Político1 Guilherme Carniell2; Jiani Adriana Bonin3
Resumo Vivenciamos a crescente fase do compartilhamento de informações que utilizam os memes - conteúdo que se espalha rapidamente pela internet - para criar-se um viral que pode ser idealizado tanto por amadores, quanto por profissionais. Tendo em vista a época de eleições de 2014, pode-se perceber exatamente isso: de um lado, os partidos políticos produzem material publicitário profissional; enquanto que do outro, a população utiliza o humor para remodelar as informações partidárias. Assim, por meio do processo de pesquisa teórico-metodológica exploratória, estudou-se como é que o uso destes memes pode interferir na maneira como a qual a população recebeu dados sobre a corrida presidencial e sobre como o humor foi e é usado para atrair a atenção do público.
Palavras-chaves: memes, viral, propaganda política, real time marketing
Introdução A época de propaganda eleitoral obrigatória gratuita invade todos os meios de comunicação – rádios, televisão, internet, materiais gráficos e digitais - com campanhas publicitárias que tentam influenciar a massa afirmando que tal candidato é o melhor. Entretanto, com o surgimento da internet, a mídia, hoje, torna-se eficaz apenas quando há uma troca de informações por meio de uma massiva produção de conteúdo. Gomes, em seu texto intitulado Ética da Comunicação Social, afirma que deve-se partir do princípio de que a comunicação social é uma das dimensões fundamentais da pessoa (1997), ou seja, o ser humano precisa produzir informação, bem como recebê-la. Logo, o que se dá mais resultados, atualmente, é a interação entre emissor e receptor. As pessoas querem receber e emitir algum conteúdo. Assim, surgiu-se um movimento virtual (que aos poucos ganhou espaço na vida real) no qual utiliza-
1. Este artigo é o trabalho apresentado ao final da disciplina de Iniciação ao Conhecimento Científico do Curso de Graduação em Publicidade e Propaganda, do Curso de Comunicação Social da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, no ano 2014/2. 2. Estudante de Graduação, em Publicidade e Propaganda, do Curso de Comunicação Social da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS. E-mail: gcarniell21@gmail.com. 3. Orientadora do trabalho, professora e pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da UNISINOS. Integrante do Grupo de Pesquisa Processos Comunicacionais – PROCESSCOM do PPGCC/UNISINOS. E-mail: jianiab@gmail.com.
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se do humor para a produção de conteúdo independente e satírico, a memeficação. E neste ano, pela primeira vez, o movimento recém citado ganhou proporções gigantescas no Brasil durante a época de eleições. A criação do viral pode ser produzida comercialmente por empresas que querem que seus produtos estejam em alta na mídia. Como por exemplo o “Pôneis Malditos”4 da Nissan Automóveis. Ou, o contrário. Produzida acidentalmente e que ganha proporções estrondosas: o viral “Meu óculos, ninguém sai.”5. No primeiro caso, a marca pensou estrategicamente numa ação que se disseminaria livre e rapidamente ganhando proporções mundiais. Já, o segundo caso relata um fato real – o acidente de uma lancha em alta velocidade -, mas utiliza o humor para criar uma dublagem que satiriza a imprudência do piloto. Com as eleições partidárias aconteceu a mesma situação. Desde os protestos de 2013, a população, especialmente os jovens, começou a mobilizar-se cada vez mais pelas redes sociais, porque era, e ainda é, onde tem-se a falsa ideia de liberdade de expressão. No ambiente virtual, acredita-se que pode-se postar qualquer material e que o humor sempre será o mais compartilhado. Por exemplo, durante o debate político presidencial do primeiro turno transmitido pela Rede Bandeirantes de Televisão, podiase, em tempo real, acompanhar o que estava sendo discutido pela internet e, principalmente, pelas piadas, trocadilhos e sátiras feitas sobre o que acontecia lá nos estúdios da emissora. Todo esse material era feito por pessoas anônimas e não por grandes empresas de comunicação. Ou seja, todos têm a capacidade de informar. Porém, o amador ganhou investimentos pesados e tornou-se profissional. Agora, algumas marcas agem rapidamente a situações do cotidiano para relacionar a empresa com algum meme do momento, ou seja, executam o real time marketing. Este trabalho tem como objetivo estudar o recebimento de notícias e outras informações de extrema importância por meio da utilização do humor e de memes no período de propaganda eleitoral gratuita. Para isso, analisou-se outros quatro artigos, cada um com um foco diferente. Assim, depois de observá-los, ocorreu a fusão e a filtragem dos dados mais relevantes para a concretização do estudo sobre o uso de virais na disseminação do conteúdo político baseado nas ações de grandes marcas globais e nacionais da atualidade.
4. Disponível em http://goo.gl/BeSjZT. Acessado em 22 de novembro de 2014. 5. Disponível em http://goo.gl/dqRgcZ. Acessado em 22 de novembro de 2014.
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A propaganda política nua e crua O primeiro artigo6 foi escolhido para entender melhor a propagando política do ponto de vista ético e poder comparar as eleições do final dos anos oitentas com as que aconteceram em outubro de 2014. A escolha do artigo aconteceu por dois aspectos. O primeiro para valorizar um material publicado na revista científica da UNISINOS (Revista PUBLI). E, o segundo por relatar como eram as eleições antigamente, assim, poder-se-ia criar uma discussão comparativa sobre o que mudou ou não daquelas eleições para as dos dias de hoje. O artigo em si respeita fielmente ao título e à descrição presente no resumo. A autora analisou seis trechos de programas eleitorais da época para a televisão no tão famoso Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral. Ela estuda os discursos de Fernando Henrique Collor e Luíz Inácio Lula da Silva (candidatos que disputaram o segundo turno das eleições do ano em questão) e os confronta eticamente para avaliar cada proposta moral partidária. Após o término da leitura, é possível perceber que o tempo passa, mas a maneira de “politicar” não. A graduanda conclui que ambos os candidatos, Collor e Lula, em algum momento de suas campanhas burlaram os códigos éticos. Como por exemplo, quando o primeiro faz afirmações falsas sobre estar sozinho e sem apoio, enquanto o outro apela pelo auxílio financeiro do telespectador. Portanto, conclui-se que ainda há, às vezes, a quebra da ética no andamento das eleições. Entretanto, um aspecto mudou desde então. O pronunciamento e o posicionamento da população. No final da década de oitenta, durante a disputa pela República, a população recebia a informação e não tinha a possibilidade de realizar um feedback7. A informação seguia apenas um caminho: emissor – receptor. E acabava por assim. Hoje, a linha não é mais reta e em apenas um sentido, ela é infinita: emissor – receptor – feedback – emissor - ... e assim por diante. A principal diferença é que, atualmente, as pessoas podem expressar o que pensam de maneira mais rápida e ampla. Isso deve-se à vontade do ser humano de informar e da necessidade de ser a fonte de compartilhamento entre seu círculo de amigos A sociedade passa por uma transformação midiática lendária, que muda, aos poucos, o nosso jeito de pensar e agir, tornando a nossa cultura, cada vez mais, participativa.
6. SILVEIRA, Juliana Rosa. A Postura Ética Adotada nas Mensagens Veiculadas na Propaganda Eleitoral na Campanha para Presidência da República em 1989. Revista PUBLI, São Leopoldo, n. 00, p. 61-73, abr. 2014. 7. Palavra em inglês que no português significa retorno, resposta ou análise crítica de algo.
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A Internet participativa e insaciável Depois de estudar como era o perfil político publicitário dos anos oitenta e compará-los com o de hoje em dia, parte-se para o que é a comunicação em si e tentar compreender como ela influencia a participação massiva na produção de conteúdo. Para isso, o segundo trabalho8 escolhido foi aquele cujo escopo é explicar o funcionamento do marketing viral por meio das redes sociais. Em seu resumo, o artigo afirma analisar a questão participativa que envolve redes sociais, principalmente o site de vídeos Youtube. A afirmação é cumprida. Os mestrandos apresentam, primeiramente, como a internet mudou o comportamento social do homem no ambiente virtual. Porém, não deixam claro como foi realizada a pesquisa para tal feito. Ao final da introdução, entretanto, há um enxurrada de citações de autores, logo, pode-se suspeitar, pelas referências apresentadas, que se trata de uma pesquisa exploratória por haver o levantamento de determinadas informações já existentes. O processo de pesquisa pode até estar duvidoso, entretanto o objetivo dela é claro: analisar como o agenciamento sociotécnico molda as relações de interesse dos públicos utilizando o marketing viral. O conteúdo apresentado no artigo é rico em informações atuais e a maneira como é escrita proporciona ao leitor um caminho argumentativo facilmente compreendido. Primeiramente, os autores nos mostram o processo de desenvolvimento das mídias, destacando a rapidez do crescimento da internet, bem como do ambiente virtual. Portanto, utiliza-se esse conceito para explicar de onde surgiu a necessidade excessiva do homem moderno de compartilhar. Assim, conclui-se que isso acontece por causa da grande oferta de feedbacks que a mídia nos oportuniza diariamente. Em outras palavras, é uma construção social e coletiva do conhecimento. Ainda, nesta parte do trabalho, cita-se que é a primeira vez na história da comunicação que os jovens estão assistindo cada vez menos televisão. Isso deve-se, totalmente, à internet. Hoje, como citado na introdução, a comunicação deve ser infinita para tornar-se eficaz. Assim, surge um conceito de que as pessoas não apenas informam, mas elas também produzem, e, além de produzir, elas curtem, comentam e compartilham (PEREIRA et al, 2013). Ou seja, criou-se um diálogo que o fim de um é o começo de outro e assim sequencialmente.
8. PEREIRA, Ana Maria de Sousa; RAMALHO, Raul Augusto; PAIVA, Cláudio Cardoso. Cultura Participativa e Marketing Viral no YouTube e Redes Sociais. Trabalho apresentado no DT 2 – Publicidade e Propaganda do XV Congresso de Ciências da Comunicação da Região Nordeste. João Pessoa, jun. 2013.
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Depois da explanação sobre a cultura participativa e a interação crescente nas redes sociais, o texto guia o leitor para um dos principais canais de divulgação de conteúdo, o Youtube. Nesta parte, destaca-se o fato de este canal de vídeos ter sido um dos sites pioneiros em indicar conteúdos relacionados aos interesses do visitante. Depois passa um pouco pela história e dados do website (que para este artigo não são relevantes) até afirmar que ele é um incentivador de conteúdo colaborativo, ou seja, qualquer um pode produzir uma notícia. Isto ocorre em outras redes sociais. Ao final do capítulo, confrontam-se dois apostos: a informação produzida por profissionais (jornalistas) versus aquela postada por amadores. Assim, finalizase a segunda parte afirmando que quem souber aproveitar-se das vantagens da mídia participativa terá um material bastante visualizado e com baixo custo de disseminação. Falando mais uma vez sobre as eleições, várias marcas agiram rapidamente e conseguiram sucesso criando memes baseados em referências eleitorais. Durante o último debate do primeiro turno das eleições de 2014, promovido e transmitido pela Rede Globo de Televisão no dia 2 de outubro, uma imagem tornou-se viral em questão de segundos. Na ocasião, além de montagens com expressões dos candidatos, o que ganhou força foi a viralização do sorteio das perguntas feitas pelo apresentador e jornalista William Bonner. A câmera, colocada sobre a urna, mostrava ao telespectador, antecipadamente, o que o candidato responderia. Não demorou muito para que piadas sobre esse momento começassem a circular pela internet9. Como por exemplo: “Ivete ou Cláudia Leitte?” ou então, “William, traz pão... bjs (sic) Fátinha”. Todos os exemplos citados (além dos que se encontram no link no rodapé da página) foram criados por anônimos, logo, algumas marcas10 perceberam uma oportunidade de divulgação com baixo investimento. O Habib’s, rede brasileira de fastfood árabe, atuou rapidamente e criou uma publicação11 no Twitter. Recriou a cena do sorteio, entretanto no papel havia escrito: “Carne, queijo ou frango?”, com a seguinte legenda: “Vossa Excelência tem 30 segundos para escolher sua Bib'sfiha.”. Com este exemplo, pode-se aprender uma lição valiosa: que para criar um marketing viral é necessário seguir três passos: Acompanhar o que está acontecendo na atualidade. Adaptar um viral para a sua marca. E por fim, compartilhar (saber onde e como) o material produzido. Seguindo o fluxo literário do trabalho, passa-se do conteúdo geral para o focalizado. O terceiro capítulo analisa sites socioculturais que monitoram o usuário para apresentá-lo um
9. Disponível em http://goo.gl/4EBlfQ. Acessado em 22 de novembro de 2014. 10 Disponível em http://goo.gl/W0cUuq. Acessado em 22 de novembro de 2014. 11 Disponível em http://goo.gl/86HQuq. Acessado em 22 de novembro de 2014.
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conteúdo de seu agrado. Isso ocorre, fortemente, no Facebook e Twitter, ambos sites de comunidades e conversação virtual. Por fim, os autores, antes da conclusão, mostram dois exemplos, um de vídeo profissional, outro de amador e a reação da sociedade digital para cada um deles. Só então, na conclusão, os estudantes escandalizam com um questionamento sobre a situação midiática virtual brasileira atual: “Será que essa tendência crescente na era da cultura de participação cidadã terá permanência e continuidade ou tem seus dias contados?” (PEREIRA et al, 2013, p. 13). Logo, força-se uma reflexão sobre a pergunta feita ao final do artigo. Para responder a tal questionamento, utiliza-se como exemplo as próprias eleições (já que o presente trabalho as envolvem). Como elas serão no futuro? Pode-se comparar com as de 2012. Naquela época, as piadas eram mais raras e escassas, empresas e grandes marcas nem se preocupavam em criar publicações e materiais usando a técnica do real time marketing para interagir com o público. Portanto, acredita-se que a tendência é só crescer. E como a cultura participativa precisa de um viral para impulsioná-la, a sociedade virtual, entre um meme e outro, pode respirar e buscar referências para as futuras piadas que surgirão a qualquer momento. Esse tempo para reflexão encaixa aos padrões empresariais também. As marcas querem tornar a comunicação e a publicidade cada vez mais próximas e ilimitadas ao público alvo, dessa forma, e os partidos políticos almejam o mesmo resultado. E o grande segredo para o sucesso de uma ação é promovê-la por meio do boca a boca virtual. O telefone sem fio, ou melhor, wireless12 Primeiro, analisou-se a propaganda política como ela é feita. Em seguida, a cultura participativa para entender mais sobre porque o ser humano compartilha informações. Agora, no terceiro artigo13 lido, estudou-se o marketing viral. Como ele é criado, controlado e esquematizado para sempre estar superior ao da concorrência. O título e resumo são fiéis ao trabalho que se segue. Inicialmente, os autores optaram em destacar a importância de três palavras para a construção do marketing digital: inovação, revolução e interação. A introdução é clara, inspiradora e bem escrita, entretanto, incompleta. Em nenhum momento eles explicaram o processo de pesquisa e de estudo, ou como coletaram os dados apresentados dentro do trabalho. Eles preocuparam-se tanto com as palavras que
12. Expressão inglesa para o termo sem fio em português. 13. THÉ, André; BRITTO, Caroline; NARLLA, Hayanne; RIOS. Marketing Viral: O Boca a Boca na Era Digital. Cultura Participativa e Marketing Viral no YouTube e Redes Sociais. Trabalho apresentado no DT 1 –Jornalismo do XIII Congresso de Ciências da Comunicação da Região Nordeste. Fortaleza, jun. 2011.
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esqueceram dessa explanação, mas não do objetivo. Eles afirmaram, de maneira direta, que o objetivo do trabalho é caracterizar o marketing viral e sua eficácia devido às redes sociais (THÉ et al, 2011, p. 02). Porém, o marketing em sua forma teórica é mais fácil ao passo que na prática é mais complicado conseguir torná-lo em um produto eficiente. O artigo tem o conteúdo dividido em quatro partes. A primeira foca no contexto geral do webmarketing e suas estratégias na internet, destacando, sempre, a importância da interatividade entre empresa e cliente. Depois, parte para ferramentas digitais que promovem o crescimento marqueteiro digital, como a criação de um site dinâmico, atraente, interativo e de fácil compreensão. Ao final desta parte, percebe-se que é o marketing viral o principal responsável pela influência do público-alvo. Entretanto, são as duas últimas seções que mais importam para a pesquisa deste artigo. Os dois últimos capítulos dedicam-se inteiramente ao viral e como essa estratégia utiliza as redes sociais a fim de promover seus produtos e/ou ideologias, sem transformá-los em spams aos olhos da grande massa. Baseados nos argumentos bibliográficos referenciais, THÉ et al afirmam que o marketing viral ganha proporções gigantescas se aplicado na mídia certa (2011). Ou seja, precisa-se transformar o material num vírus e saber a melhor e mais rápida maneira de infestar a sociedade, tornando o conteúdo em uma epidemia primeiramente virtual e, consequentemente, presencial. É saber usar a necessidade primária que as pessoas tem de comunicar e presenteá-las com doses letais deste vírus comunicacional, já que o viral é transmitido por qualquer tipo de pessoa e em qualquer lugar. Assim, os estudantes afirmam que se bem conduzida, a estratégia pode atingir proporções gigantescas, fazendo surgir fenômenos de popularidade em crescimentos exponenciais. Por conseguinte, o artigo torna-se – em partes – nulo por apresentar o viral aplicado ao marketing 2.0. O problema, aqui presente, é que agora estamos presenciando o 3.0, ou seja, a era em que o marketing centraliza o homem e não mais a marca. Uma era em que as principais palavras são interatividade, tecnologia e valores na produção de conteúdo. Por fim, os autores alertam sobre o excesso destes materiais ao que podem se tornar incômodos, transformando-se em verdadeiras aberrações para os internautas que classificarão o viral como um spam e não como uma tentativa de marketing. Na política é igual. Os partidos, em época de eleições, tem liberdade e quase que ilimitação para usarem quaisquer espaços comunicacionais. Pense na sua cidade; ao acordar, de manhã cedo, e ligar o rádio e/ou a televisão você receberá uma infinidade de propostas partidárias. Ao sair de casa, deparar-se-á com folders, placas, adesivos, chaveiros e outdoors
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dos candidatos. E ao acessar seu perfil online, a sua timeline14 estará repleta de compartilhamentos sobre assuntos políticos. Logo, as pessoas incomodar-se-ão com o excesso da mesma informação em todos os tipos de mídia e passarão a ver a política como um estorvo para a comunicação social. Uma solução para isso, além de amenizar repetição da mesma informação, é utilizar o humor viralizado para assuntos sérios para atrair e não afastar o interesse da massa. Como o caso do perfil Dilma Bolada.
Da sátira ao grotesco Para finalizar o estudo sobre o marketing viral fundido com a política, nada melhor do que analisar um quarto e último artigo científico15 que fala sobre um tema que une comunicação, memes, real time marketing, sátiras e política: o perfil16 falso e humorístico da Presidenta da República. No artigo em questão, a estudante de graduação, guiada pela orientadora, discute como a sátira - que antigamente era impressa em folders, revistas e jornais – transformou-se num humor grotesco quando migrou para o ambiente virtual. Ao início do trabalho, a autora peca, levemente, no resumo com o excesso de repetição de termos. As oito linhas que o compõe poderiam ter sido condensadas em apenas três, máximo quatro. Porém, o que realmente importa é que ela cria expectativas no leitor que fica curioso para ler o texto e observar as soluções dos problemas para os quais Ferreira nos indica. Como por exemplo, ao afirmar que o grotesco tem se manifestado [...] nas redes sociais digitais, através do humor. Os agentes de conteúdo na busca por audiência passam a valer-se de elementos grotescos, que, no entanto causam riso (2013). Assim, ela guia-nos para a introdução já ressaltando que como a internet é uma extensão do homem, os usuários sentem mais liberdade para publicação, além do imediatismo que a rede proporciona (FERREIRA, 2013, p. 01). Após explanar, brevemente, sobre o ambiente virtual e como ele funciona, a estudante, ainda na introdução, diz que a problemática do trabalho encontra-se ao redor das questões morais que envolvem perfis em redes sociais. Ou seja, ela analisa a falta de capacidade de usar o humor de maneira respeitosa e inteligente. Para a definição desse conceito, a autora explica que usou como procedimento metodológico a pesquisa bibliográfica e documental, além da 14. Expressão inglesa que significa linha do tempo em português. No caso, refere-se ao conteúdo que o usuário visualiza em seu perfil numa rede social. 15. FERREIRA, Larissa de Sousa; SALES, Judy de Lima Tavares. A Evolução do Grotesco no Twitter, uma Análise do Perfil Dilma Bolada. Trabalho apresentado na Divisão Temática Estudos Interdisciplinares da Comunicação da Intercom Júnior – IX Jornada de Iniciação Científica em Comunicação, evento componente do XXXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Manaus, set. 2013. 16. Com o usuário no Twitter @diImabr. Disponível em https://twitter.com/diImarbr.
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observação de perfis grotescos no Twitter e Facebook. E no encerramento da introdução, descobre-se que o artigo sobre o perfil o Dilma Bolada, na verdade, é uma continuação de um outro trabalho17 anterior da mesma aluna que analisa o perfil humorístico Gina Indelicada18. Assim, descobre-se que o artigo já tem um estudo mais aprofundado por ser a continuação de outro. Isso faz com que o trabalho ganhe credibilidade. Ao início do texto científico, explica-se a origem do grotesco (que veio das sátiras) e como ele age atual e diariamente na sociedade, podendo, assim, concluir que quando o humor causa um impacto negativo ele atrai mais o público. Por isso, Ferreira ressalta que as pessoas preferem sempre ser os agentes do riso do que serem produtos dele (2013). Entretanto, às vezes, as pessoas pensam em compartilhar primeiro e analisar as consequências depois. Assim, perdese, cada vez mais, a noção do que é e do que não é grotesco, deixando de lado pretextos básicos da ética e da moral. Ao finalizar esta parte do artigo, pode-se afirmar que o riso tornou-se uma mercadoria. A citação acima aplica-se a todos: pessoas e marcas. As pessoas querem destacar-se na internet por existir uma infinidade de outros perfis. A mesma situação ocorre com as marcas. Nos dois casos, o objetivo é sobrepor-se de outro (do concorrente). Seja por um duelo de maior número de curtidas, ou por clientes novos. O riso agora é um investimento. As piadas online não servem mais para fazer as pessoas rirem, mas sim para seus idealizadores ganharem destaque no ambiente digital. A expressão popular “nada é de graça” ganha cada vez mais veracidade. Dessa forma, segue-se para a segunda seção do artigo que fala sobre o ambiente virtual. Neste trecho, percebe-se que o ambiente online passou a ser uma extensão da realidade. E como acontece no mundo físico, no digital, a informação também perde controle e qualquer um pode fazer o que bem entender (claro, depois terá alguma consequência) por não existir um manual de instruções para os navegadores da internet. O descontrole acontece nas redes sociais, no Twitter, por exemplo, e é sobre isso o próximo assunto tratado no trabalho. A estudante de graduação explica a história da rede social que tem como característica o uso limitado de 140 caracteres por publicação. Isso faz com que haja um excesso de informação vaga, porém é uma maneira de marcas e empresas, e até personalidades,
17. A Presença do Grotesco em Forma de Humor na Página Gina Indelicada. Trabalho apresentando na Divisão Temática de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, da Intercom Júnior – Jornada de Iniciação Científica em Comunicação, evento componente da XII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Norte. Manaus, mai. 2013. 18. Com o usuário no Twitter @GINAINDELICADE. Disponível em https://twitter.com/glnaindelicada. E no Facebook com o usuário Gina Indelicada. Disponível em https://www.facebook.com/GinaIndelicada.
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transmitirem um conteúdo de maneira ágil, podendo até alcançar proporções mundiais. E observa-se, ainda, que a popularidade do Twitter deve-se à criação de perfis de celebridades no website. Assim, os fãs podiam interagir facilmente com seus ídolos e saber, quase que 24 horas por dia, o que estava acontecendo na vida deles, uma espécie de diário virtual. Logo, pode-se afirmar que é um lugar propício para formar opiniões. O que é postado lá dissemina-se rapidamente e influencia todos os seguidores. Basta somar os cálculos: informação curta, mais visualizada em questão de segundos, é igual a imediatismo. Por todos os aspectos apresentados, principalmente, neste parágrafo, assegura-se que atualmente os usuários sentem uma maior liberdade e já entendem que tipo de conteúdo é ou não aceito pelos seguidores e o humor se torna mais presente (FERREIRA, 2013, p. 8). Isso acarreta uma briga pela piada mais original ou pelo real time marketing mais rápido. Uma verdadeira briga por audiência. Observando o cenário digital e, principalmente, twitteiro, o publicitário Jéferson Monteiro, de 23 anos, usou o humor, a criatividade e uma personalidade forte para criar o perfil falso da Presidenta Dilma. Originada no Twitter, o sucesso foi tanto que criou-se, também, uma página no Facebook19, por ser a rede social mais popular no Brasil. Os dois perfis são identificados como personagens fictícios para que usuários dessas redes não se confundam com os perfis oficiais da Presidenta. Nesta parte, a estudante analisa o posicionamento do perfil perante as situações do dia a dia e critica a falta de senso em usar as plataformas eletrônicas e a popularidade dos perfis20 para informar dados relevantes e não apenas para produzir conteúdo humorístico. Ela destaca casos ofensivos que partiu de publicações do perfil, como por exemplo quando a Dilma Bolada satirizou21 o fato do empresário Eike Batista ter perdido grande parte de sua fortuna (92%) com os dizeres: “Fizeram uma macumba forte pro Eike...”. O tweet22 gerou discussões na rede social por ser considerado ofensivo. Hoje, observando o perfil da Dilma Bolada, é possível notar que o escopo, agora, também, é informar, oficialmente, o que a Presidenta faz por meio do humor. Cita-se como exemplo uma postagem23 na qual o perfil falso fala sobre a abertura do curso de Letras no Programa Idiomas sem Fronteiras. Ou seja, aos poucos, o perfil começou a usar um humor informativo. Um caso parecido com esse é o da Prefeitura de Curitiba24, que usa piadas para
19. Com o usuário no Facebook Dilma Bolada. Disponível em https://www.facebook.com/DilmaBolada. 20. Na página no Facebook, há 1.614.932 de curtidas, ao passo que no Twitter, tem 323.000 seguidores. Além da conta no Instagram com 109.000 seguidores. 21. Tweet do dia 04 de julho de 2013. Disponível em https://twitter.com/diImabr/status/352805759370805251 22. Como é chamada uma publicação no Twitter. 23. Publicado em 17 de novembro de 2013. Disponível em https://www.facebook.com/DilmaBolada/posts/508337999304862. 24. Com o usuário Prefeitura de Curitiba. Disponível em https://www.facebook.com/PrefsCuritiba.
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informar sobre o que o governo municipal está fazendo pela cidade. Nos dois exemplos citados, notaram-se que o alcance das publicações aumentou relativamente depois do uso dos memes em informações oficiais. Isso faz com que pensamos sobre o conteúdo postado na internet. Vale mais a pena ganhar curtidas do que compartilhar algo realmente relevante? Por que não misturar os dois tópicos? É com essa pergunta que a aluna finaliza o seu trabalho. Obrigando-nos a refletir sobre o que acontece na rede mundial de internet atualmente.
Conclusão Sabe-se que o humor é uma ferramenta forte para a disseminação de informação, e que, diferente de textos, críticas ou teses, ele atrai o público. Logo, tendo como base os artigos estudados e a observação do comportamento virtual durante as eleições de 2014, pode-se concluir que sim, o humor, atualmente, é uma arma poderosa na disseminação de conteúdo. Nota-se, também, que os jovens recebem notícias virtualmente, deixando os jornais televisivos e impressos de lado, optando em adquirir dados por meio digital que tem informações curtas, rápidas, objetivas e engraçadas. Entretanto, precisa-se estar atento ao quão cômico pode ser um conteúdo, e controlá-lo para se tornar ofensivo. Ressalta-se que nem sempre o humor é verdadeiro. Esse é um outro problema da atualidade. A falta de percepção para diferenciar o sarcasmo do real. Outro aspecto negativo em relação ao material online é que os usuários querem compartilhar algum conteúdo o quanto antes para serem os primeiros em seus círculos de amizade, deixando de lado, a confirmação. E como o viral é um dos principais influenciadores e formadores de opinião no meio virtual, uma piada não compreendida pode danificar a imagem de uma marca e/ou de uma pessoa. Nas eleições aconteceu o mesmo. Depois de a candidata à presidência Marina Silva negar que era a favor do casamento homo afetivo, espalhou-se pela internet piadas sobre a bipolaridade da partidária. Logo, cabe, principalmente, aos comunicadores saberem administrar para criarem um viral ético sem deixar o objetivo de lucro e visibilidade de lado. Além do mais, se é possível realizar um marketing viral utilizando como referência as eleições presidenciais de um país, que é um assunto mais sério e formal, pode-se utilizar da mesma técnica em quaisquer assuntos. Basta observar a situação do mercado atual e recriar o que a mídia nos mostra diariamente com criatividade, interatividade e inovação.
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Referências FERREIRA, Larissa de Sousa; SALES, Judy Lima Tavares. A evolução do humor grotesco no twitter, uma análise do perfil Dilma Bolada. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 36, 2013, Manaus. Artigo. Manaus: UFAM, 2013. Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2013/resumos/R8-1045-1.pdf, Acesso em 26 set. 2014. GOMES, Pedro Gilberto. Comunicação social; filosofia, ética, política. In: ELY, Décio Remigius. Ética da Comunicação Social. São Leopoldo: Unisinos, 1997. p. 60-93. PEREIRA, Ana Maria de Sousa; RAMALHO, Raul Augusto; PAIVA, Cláudio Cardoso de. In: CONGRESSO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO NA REGIÃO NORDESTE, 15, 2013.
Mossoró.
Artigo.
Mossoró:
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Disponível
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<http://www.portalintercom.org.br/anais/nordeste2013/resumos/R37-1005-1.pdf>. Acesso em 26 set. 2014. SILVEIRA, Juliana Rosa; TREIN, Dr. Sérgio Roberto. A postura ética adotada nas mensagens veiculadas na propaganda eleitoral na campanha para presidência da república em 1989. Revista PUBLI. São Leopoldo, n. 00, p. 61-75, abr.2014. THÉ, André; BRITTO, Caroline; NARLLA, Hayanne; RIOS, Riverson. Marketing Viral: o boca a boca na era digital. In: CONGRESSO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO NA REGIÃO NORDESTE, 8, 2011, Maceió. Artigo. Maceió: UFC, 2011. Disponível em: <http://www.intercom.org.br/papers/regionais/nordeste2011/resumos/R28-0387-1.pdf>. Acesso em 26 set. 2014.