AMEIzing 2

Page 1

novemBRo 2012 edição 2 | ano 1

R$12

t e n d ê n c i a | d e s i g n | a r q u i t e t u r a

robert

mould




sumário

expediente novembro 2012 | edição 2 | ano 1 | r$ 12

22 Garimpo

} Poltrona Gaivota, cristal Christofle, biombo Decameron e banheira vitoriana da Obra VIP.

paleta de cores

06

} Doces e decoração se misturam no projeto da recém-inaugurada Ladurée do JK Iguatemi.

ameizinG dishes

} Gisela Berland fala da origem do fast-food e apresenta a versão gourmet da refeição rápida.

fazendo arte

} Bem-casados ganham charme e sofisticação em caixas provençais da Fina Nata, de São Paulo.

truques de desiGn

} Espelhos venezianos são parte do projeto de Starck para o novíssimo Le Royal Monceau, de Paris.

48

06 10 12 16 18

ensaio

22

especial

32

fashion desiGn

40

liquidificador sem tampa

46

tendência

48

} Nova coleção Burberry para crianças redesenha peças tradicionais da coleção adulta para o inverno europeu. } Os perfis dos usuários brasileiros no Facebook, de um jeito bem-humorado, por Jerome Vonk. } Regina Gauer apresenta o Instacube, álbum de memórias contemporâneo: futuro sobre a mesa.

detalhe em foco

} Um complexo entrelaçado de fios lembra uma trama sobre o telhado de casinhas enigmáticas.

Roberto Muylaert DIREtORa

20

} O que há de Le Corbusier em Lucio Costa? Descubra a influência do franco-suíço na modernidade brasileira.

DIREtOR

PUBLISHER & EDItOR

Marília Muylaert

joia da capa

} Há mais de um século a britânica Romo desenha estampas inovadoras, como esta que ilustra a capa.

} Visitamos o Quadrilátero da Moda, em Milão, e montamos um guia de compras no centro de tendência.

18

32

50

PUBLISHER E EDItORa

Marília Muylaert EDItOR

Gustavo Curcio REDaçãO Maíra Roman, Patrícia Rodrigues e Priscilla Kanda (texto); Gisela Berland, Jerome Vonk e Regina Gauer (colaboradores); Rosana Manduca (secretária); Dinho Leite (pesquisa fotográfica); Nina Zakarenko (revisão) aRtE Gustavo Curcio (projeto gráfico) Maria Giani Pinho de Sousa, Paula Sperandio e Rodney Monti (design) DEPaRtaMENtO COMERCIaL Marília Muylaert (diretora) Maria Natália Dias (coordenadora) REPRESENtaNtES COMERCIaIS BRaSIL Adelino Pajolla Jr. Ribeirão Preto | SP — 16 3931 1555 Charles Marar Brasília | DF — 61 3321 0305 Dídimo Effegen Vila Velha | ES — 27 3229 1986 Lauro J. S. Alves Rio de Janeiro | RJ — 21 2223 3298 Maria Marta Craco Curitiba | PR — 41 3223 0060 Rogério Cavalcanti Álvares Recife | PE — 81 3222 2544 REPRESENtaNtES COMERCIaIS ExtERIOR Daniel Coronel Montevidéu | Uruguai — 59 82 9005 775 Conover Brown Nova Iorque | EUa — 1 212 244 5610 aDMINIStRaçãO César Luiz Pereira e Daniela Sierra de Paula

RMC EDItORa

Rua Deputado Lacerda Franco, 300 18o andar| CEP 05418-000 — São Paulo, SP telefone (11) 3030 9357 Fax (11) 3030 9370 Impressão: W Gráfica e Editora aMEIZING 2 é uma publicação mensal da RMC Editora. Não é permitida a reprodução parcial ou total das matérias sem prévia autorização dos editores. aMEIZING não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. Matérias não solicitadas, fotografias e artes não são devolvidas.

aSSINatURaS | CONtatO

11 3030 9357

ameizing@rmceditora.com.br Distribuição Nacional pela Dinap S/a – Distribuidora Nacional de Publicações


isadora cruz

arquivo pessoal

EDitORial

D

VEjO flOREs EM VOcê!

o alto dos 89 anos, tia Dora, irmã mais velha do meu pai, oferece almoços ou lanches deliciosos, com destaque para os waffles que aprendeu a fazer quando morou nos Estados Unidos. Não há geração da família que não seja impactada pelos quitutes. Todavia, o que nela mais me surpreende é a cabeça. Lúcida, se interessa por tudo e tem, ou sempre teve, uma pegada supermoderna. Bate papo de igual para igual com gente de todas as idades. Anos atrás, em visita à casa dela, pedi para ir ao banheiro. Como o de hóspedes estava quebrado, usei o do quarto. Ao entrar, mal pude conter a emoção. Estavam ali a cama com a mesinha de cabeceira e uma foto bem grande do Flávio, seu terceiro filho, morto aos 20 anos em um acidente de carro — quando eu tinha apenas 2 anos. A simplicidade daquele quarto, tomada pela linda imagem do primo que mal conheci, fez meus olhos se encherem de água. O Flávio estava com ela todos estes anos e ela seguiu em frente. Aquele vazio refletia a sua grandeza. Recentemente, passamos o fim de semana juntas. Valentina, minha caçula de 4 anos, bagunçava na mesa e não dava sossego. Tia Dora, sempre generosa, a chamou para brincar. Ela foi, desconfiada. Uma hora depois, voltaram as duas, íntimas. Valentina cantou quase que todo seu repertório de canções. Minha tia ficou fascinada. Fiquei amazed, mais uma vez, com a capacidade que ela tem de se comunicar com todas as gerações. E é para ela que dedico a capa desta segunda edição da ameizing. “Vejo flores em você, tia”! ¯

Marília Muylaert publisher & editora

N

O laDO BOM Da cRisE

ão sei se a tão falada crise efetivamente desembarcou por aqui. Recém-chegado de Milão, o que mais ouvi falar na capital da moda é que somos, sim, a bola da vez. Mas já senti, no Brasil, seus possíveis efeitos positivos. Lembro-me de que há alguns anos, num badalado centro de compras de São Paulo, dia 13 de outubro, os enfeites de Natal estavam por toda parte. A impressão era de que as festas chegavam cada vez mais cedo. Mas, este ano, algo mudou. A decoração natalina tardou a chegar. Sempre me perguntei como poderíamos festejar o Natal sem que o advento (período de quatro semanas que precede o 25/12) tivesse ao menos começado. Por isso, é melhor dar tempo ao tempo. Nossa edição de novembro está repleta de novidades. Preparamos um raio X do Quadrilátero da Moda, na capital da Lombardia, lugar perfeito para as compras de fim de ano. O lounge de descanso em plena Via Montenapoleone é apenas um detalhe para quem vira sócio desse clube. Mas as surpresas não param por aí: cores da Ladurée, perfis dos usuários do Facebook, Christofle, espelhos venezianos e a coleção Burberry para criança são destaques. O papo cabeça da vez é um ensaio sobre as influências da obra de Le Corbusier na produção de Lucio Costa. Tudo isso, encartado no papel de parede ultravermelho que ilustra nossa capa, da Romo, com revenda Celina Dias. Não precisa correr, ainda há tempo para renovar a casa antes do Natal. ¯

Gustavo curcio editor


GArimpO


rElEiTurA viTOriAnA

} A banheira Hampshire é a típica peça contemporânea. Com base no desenho vitoriano, tem uma das arestas chanfrada. O conceito free-standing permite a instalação sem alvenaria. Vale r$ 6.879,60 na Obra Vip. ObrA vip | Site: www.obravip.com | Telefones: 11 4063 1226 (São paulo) ou 21 4063 8466 (rio de Janeiro) | Email: atendimento@obravip.com


GArimpO

mESA DE cEnTrO liOn } Base de aço inox e tampo de madeira maciça eternizam a mesa de centro Lion, da Breton Actual. O nicho inferior dá múltiplo uso à peça, curinga para qualquer estilo de decoração. Preço sob consulta. brETOn AcTuAl | Site: www.bretonactual.com.br | Endereço: Avenida das nações unidas, 12555, piso superior São paulo-Sp | Telefone: 11 5506 5248

pASTilhAS rETAnGulADAS

} Sequências intuitivas, mas inovadoras, marcam a coleção Retangulados, da Vidrotil. Os tradicionais módulos de 4 cm x 2 cm ganham novos padrões em combinações de cores e formas diferentes. Preço sob consulta. viDrOTil | Site: www.vidrotil.com.br | Endereço: Avenida José maria Whitaker, 833, São paulo | Telefone: 11 5592 5400

inSpirADA nO TApETE } Obra do paulista Sig Bergamin, o potiche de porcelana chinesa tem motivos inspirados nas antigas tapeçarias Ikat, que têm originalmente os fios tingidos antes de serem tecidos. Colocados no tear, dão origem a um padrão específico, reproduzido pelo decorador na louça ao lado. Cada peça vale r$ 1.035. firmA cASA

Site: www.conceito firmacasa.com.br | Endereço: Alameda Gabriel monteiro da Silva, 1522, São paulo | Telefone: 11 3086 3891


*preços pesquisados em setembro de 2012, sujeitos a alteração | fotos divulgação

vOO prEmiADO } Desenhada em 1988 pelo designer Renô Bonzon, a poltrona Gaivota foi vencedora do III Prêmio do Museu da Casa Brasileira, no mesmo ano. Em 1990, foi escolhida na I Bienal Brasileira de Design como o melhor mobiliário do país. Feita de madeira multilaminada, vale r$ 5.090. DpOT | Site: www.dpot.com.br | Endereço: Avenida das nações unidas, 12555, piso térreo, loja 232, São paulo-Sp | Telefone: 11 3043 9159

mix frAncêS

biOmbO Ou cAbiDEirO? } O mix de cores da Coleção Kawali Goblets, da Christofle, é encantador. Com 80 mm de diâmetro, os copos de licor valem r$ 630 cada um. O desenho arrojado com círculos em torno da peça aumentam o atrito e dão toque ergonômico. À venda nas principais lojas de itens para casa, a marca francesa mantém a tradição de qualidade na arte de servir bem. chriSTOflE

| Site: www.christofle.com | Telefone: 11 3864 4288

} Feito de sucupira e desenhado por Juliana LLussá, o cabideiro Clau vale r$ 4.788 na Decameron. Tem ganchos e porta-guarda-chuvas. Pode dividir ambientes. DEcAmErOn DESiGn | Site: www. decamerondesign.com.br | Endereço: Alameda Gabriel monteiro da Silva, 2136, São paulo | Telefones: 11 3097 9344 ou 11 3097 8994


*tons e cores sujeitos a variações

palEta DE cOREs

coral | tapete de Grama 90GY 13/375*

suvinil | ciNZa Espacial D370*

lukscolor | Katmandu lKs12*

paRis é aqui! suvinil | samambaia E050*

coral | laranja chinatown 50YR 18/650*

coral | segredo Negro 00NN 05/000*

com projeto assinado pela panetude, a mais famosa pâtisserie do mundo desembarca em são paulo e conserva o estilo original que a consagrou

O

estilo Napoleão III prevalece, seja na Europa, seja na América. No Brasil, não poderia ser diferente. Assim como os doces, 100% importados da França, o projeto da loja Ladurée, inaugurada no Shopping Iguatemi JK, em São Paulo, tem projeto importado. Assinado pela Panetude, preserva a paleta de cores com predominância no verde pálido. O tom avermelhado da madeira do assoalho se contrapõe ao cinza do carrara com o emblema da marca e os tons dos produtos, que vão do violeta ao alaranjado. ¯


laDuRéE site: www.laduree.com | Endereço: shopping JK iguatemi — avenida presidente Juscelino Kubitschek, 2041, são paulo | telefone: 11 3152 6028


eating on the go Quem pensa que fast-food é o que há de pior em matéria de comida, talvez reveja seus conceitos depois de ler esta matéria Por gisela Berland

n

~ Foto de divulgação do documentário Super Size Me.

© national maritime museum, Greenwich, London

AmeIZInG DISHeS

ão é a falta de qualidade que define o fast-food, mas como o próprio nome diz — comida rápida — a falta de tempo do cliente para consumi-lo. Preparado e vendido nas ruas, caminhões, lanchonetes e bares e devorado on the go, esse gênero de alimentação está em todos os lugares do planeta, desde sempre. Ouso classificar como primeiro restaurante do tipo, a própria “macieira” do paraíso. A chamada árvore da vida reunia os conceitos básicos do fast-food: comida rápida, com embalagem atrativa e ecológica que dispensa o uso de talheres e pode ser consumida de pé, sentado ou andando. Com o passar do tempo, a simples “maçã” evoluiu e se adaptou ao paladar de cada país. Bancas colocavam à disposição dos romanos pão molhado no vinho e legumes cozidos: essa era a refeição da base da pirâmide daquela caótica sociedade autodestrutiva, que não tinha cozinha dentro de casa e se alimentava pelas ruas. Massas, gaufres, tortas de enguia das docas londrinas e crepe de Paris (vendido nas calçadas em charmosos cones de papel) resistem desde a Idade Média num conceito de prêt-à-porter que é sinônimo de praticidade. Nos Estados Unidos, pós-Primeira Guerra a popularização do carro promoveu a implantação de um novo conceito de restaurante. O drive-in era uma cafeteria com cardápio enxuto e grande estacionamento, com serviço ágil. O cliente não precisava sair do carro para ser servido. Garçonetes munidas de um par de patins circulavam entre os veículos e “tiravam” os pedidos. Mas foi em 1921, com a abertura do primeiro restaurante de hambúrgueres do país (o segundo da rede White Castle), nasceu a primeira cadeia de fast-food, é claro, norte-americana. Em poucos anos, a novidade se multiplicou. Com a quantidade de restaurantes, numa curva de crescimento inversamente proporcional, aumentava a rapidez e diminuía a qualidade. Foi o diário de um homem que passou um mês se alimentando exclusivamente de combos gigantescos da principal rede fast-food do planeta e seus resultados desastrosos sobre a saúde que fez soar o alerta. O documentário Super Size Me (2004) venceu seis estatuetas — daquelas, douradas e esguias — da Academia de Cinema de Hollywood. Num momento em que montanhas de carnes processadas e batatas reconstituídas são vendidas, começou uma mudança no perfil da clientela. Se o tempo de pausa e a disponibilidade para gastar com comida diminuíram, a exigência de qualidade além do sabor, aliada à preocupação com a saúde, aumentou. Para atender a essa saudável e apressada demanda, alguns chefs de cozinha, generais estrelados da alta gastronomia, deixaram o orgulho de lado e se lançaram em uma nova empreitada.


De onDe veIo o SAnDuícHe? John Montagu (1718 — 1792), o quarto Conde de Sandwich, era um jogador dedicado. Para não deixar a mesa durante uma partida, comia um pedaço de carne fria entre duas fatias de pão. Assim, batizou-se a forma prática de servir a dupla pão e carne de sanduíche, que já era servida aos trabalhadores do campo antes do início do século 19.

Em 2007, Ferrán Adriá abriu a Fast Good, uma moderna rede de lojas baseada no trinômio qualidade, rapidez e economia. Se a invenção era um “fast”, certamente traria no cardápio o tradicional hambúrguer. A diferença era a origem da carne, servida com tapenade de azeitonas e acompanhada de batatas douradas em puro azeite de oliva extra-virgem. Em 2008, foi a vez de Paul Bocuse abrir em Lyon a Ouest Express. No perímetro do salão, très design, um balcão de saladas, sanduíches e sobremesas de primeira qualidade seduzia os clientes do café da manhã ao lanche da tarde. No ano seguinte, o Cozna Vera, com um ar campestre e uma vista deslumbrante do lago de Annecy, abria as portas do mercado fast para Marc Veyrat, com pratos rápidos servidos em vidros de conserva e produtos orgânicos que mostravam a nova face do segmento. A guerra, de uma certa forma, foi vencida. Embora as redes continuem em expansão, tiveram de contra-atacar as críticas com menus alternativos e informações nutricionais detalhadas na embalagem dos produtos. Na França, por exemplo, versões locais de hambúrguer de carne de gado charolês — segundo eles, o melhor do mundo para corte —, na baguete com o queijo da região do Cantal. No Brasil, restaurantes híbridos, mais ou menos fast, oferecem opções de hambúrguer saudáveis e criativos para gourmets, vegetarianos ou simples gourmands. ¯

} Hambúrguer de lentilha: adicione sementes de gergelim salteadas em azeite ou nozes picadas na massa do hambúrguer.

fotos reprodução

fast-food em cASA: veggie HAmbúrGuer Ingredientes ❚3 col. (sopa) de azeite de oliva ❚1 cebola picada ❚100 g de champignons fatiados ❚2 abobrinhas raladas ❚2 cenouras raladas ❚100 g de lentilhas cozidas e escorridas ❚Sal, pimenta-do-reino e salsinha picadinha ❚Alho em pó (facultativo) ❚1 ovo ❚3 fatias de pão integral batidas no liquidificador modo de preparo Em uma frigideira coloque 1 colher de azeite e doure a cebola. Junte os champignons e frite até secar toda a água. Coloque no processador a abobrinha, a cenoura e a lentilha. Misture rapidamente para não virar purê. Transfira os legumes para uma bacia e adicione o sal, a pimenta-do-reino, o alho e a salsinha. Junte o ovo e o pão batido. Misture tudo até obter uma massa homogênea. Molde os hambúrgueres e frite-os numa frigideira com o restante do azeite. montagem Sirva o hambúrguer com tomates fatiados, queijo de cabra ou mussarela de búfala, alface, rúcula, cogumelos salteados (você pode reservar alguns antes de processá-los) e molho pesto em um pão integral redondo.




fazENDO artE

} Prata, madrepérola e cristais finos abrigam a mais preciosa das iguarias: os bem-casados. Os recheios inusitados podem ser saboreados por r$ 4,70. A fatia do bolo de mesmo conceito vale r$ 7,90 e o porta-joias com 6 unidades r$ 189. fiNa Nata bEM-casaDOs E algO Mais

site: www.finanata.com.br | Endereço: alameda tietê, 43, são Paulo | telefone: 11 3061 1605

DOcE quE Vira jOia

cada vez mais sofisticados, os bem-casados ganham versões incrementadas, recheios inusitados e embalagem top. o status inédito do doce é reforçado pelo material do invólucro inspirado na joalheria provençal: prata, madrepérola e cristal

u

m novo conceito de presente tomou conta de São Paulo: o fast-gift. A novidade é a opção perfeita para mimos de boa-vindas ou uma visita rápida a um amigo querido. Prova disso é a proposta arrojada da novíssima Fina Nata, especializada em bem-casados gourmet em dez versões de recheios que passam por capim-santo com limão, chocolate com pimenta, papaia com cassis e baba de moça com geleia de damasco. O doce que transcende o casamento chegou ao ápice da sofisticação após longa pesquisa. “Sabemos que tem origem portuguesa no casadinho, que simboliza a união. Esse histórico influencia a escolha de produtos, como vinhos de mesma procedência, e detalhes de decoração, como as coroas que estampam as paredes”, explica Gustavo Soncini, sócio da casa. O fato é que, ao colocá-los em embalagens ímpares como o porta-joias ao lado, os bem-casados sobem de patamar e aproximam-se do provençal numa versão luso-franco-brasileira. ¯



truquEs DE DEsigN

iDEia DO starck

Presente e passado convivem no reformadíssimo Le royal monceau de paris. O luxuoso hotel teve projeto de remodelação idealizado por Philippe starck e traz conceitos inovadores na combinação de materiais e texturas. inspire-se na mudança!

fotos talchá | secto design oy

} Espanta o mosaico de espelhos venezianos do spa, que reflete as águas da piscina com 23 metros de extensão. A composição cuidadosamente idealizada por Starck é destaque do Le Royal Monceau.


} O Spa My Blend é uma obra-prima à parte. Primeiro do mundo da marca Clarins, apresenta na decoração contemporânea espaços únicos para relaxar. Massagem capilar, facial ou com pedras quentes são alguns dos serviços oferecidos pelo maior complexo de Paris. sPa My bLEND site: www.my-blend.com | telefone: 33 1 4299 8899

MOsaicO VENEziaNO Por si só, espelhos venezianos são sofisticados. Pois imagine uma extensa parede forrada por vários deles, numa composição harmônica que encaixa um a um com maestria. Assim, Philippe decorou a parede oposta à piscina do Spa My Blend by Clarins. O espaço de 1.500 metros quadrados oferece personal coach e 23 metros de raias para relaxar sob a água.


joia Da capa


harmônico floral ingleses são experts em combinações de cores e estampas. Talvez por isso, sejam eles os principais criadores de papéis de parede. nossa joia da capa é, desta vez, a estampa que cobre a parede ao lado

r

Por gustavo curcio e marília muylaert

} Importado da Inglaterra, o papel Beatrix Rocoto da coleção Fougere Wallcoverings tem fina estampa floral impressa sobre fundo vibrante, em sete tonalidades diferentes. O rolo de 8 m x 0,68 m vale r$ 605, na Celina Dias, e é de fácil instalação. celina Dias | site: www.celinadias.com.br | endereço: alameda Gabriel monteiro da silva, 1417, são paulo | Telefone: 11 3062 0466

fotos divulgação celina dias / romo

obert Mould, em 1902, fundou a Romo — uma junção da primeira sílaba de cada um dos seus nomes. Há mais de um século, a empresa britânica especializada em tecidos para decoração e wallcoverings produz texturas e combinações inovadoras direto da cidade de Nottingham, na Inglaterra. Estampas contemporâneas compõem a coleção Fougere que tem no Beatrix Rocoto — padrão ao lado — todo o esplendor da junção dos terrosos. Inspirada nos jardins botânicos europeus, a estampa explora estruturas orgânicas justapostas a elementos geométricos numa espécie de treliça gráfica. No Brasil, a revenda é feita, há 15 anos, pela já consagrada Celina Dias.¯


ensaios

} Quatro muros bem definidos em planta formam as quatro fachadas e representam os quatro pontos cardeais no projeto da Capela de Notre Dame de Ronchamp, projetada por Le Corbusier e construída em 1955. Pesada e sinuosa, é feita de concreto armado aparente e foi concebida para substituir um templo destruído em um bombardeio durante a guerra.

Luci0 costa: muito De Lecorbusier eliminação do supérfluo e fim dos ornamentos não apagam, na obra dos arquitetos modernistas, a importância da estética precedente. mas o que poucos sabem é que uma das principais influências do modernismo nacional é herança corbusiana de um suíço no brasil Por gustavo curcio



ensaios

*tradução do francês: ornar ou não ornar, decorar ou não decorar, enriquecer ou não enriquecer. enobrecer ou não enobrecer.

P

ara Corbusier, como para Costa, “a arquitetura se apoia necessariamente na definição racional do problema social e econômico a enfrentar, isto é, no programa e na utilização rigorosa da técnica e do cálculo”. É esse o trecho extraído de Lucio Costa e o Brasil Modernista, de João Masao Kamita, que despertou a vontade de escrever esse breve ensaio. E só nesta ameizing seria possível publicá-lo. Fascina a proximidade nada evidente dos dois arquitetos. Para começar, vale analisar a divergência de visões de ambos quanto ao meio através do qual se faz o projeto que realmente atende às necessidades humanas. Para Costa, a arquitetura está muito além do cálculo. Trata-se de uma intervenção movida pelo sentimento, que representa a intenção plástica do autor. Para Corbusier está, depois do cálculo, armada de paixão e lirismo. Apesar da suposta disparidade entre os sentidos de atuação do arquiteto frente a uma problemática, ambos estabelecem uma estreita relação entre o ato de projetar e a produção através de uma intenção plástica com efeitos sociais. A relação de pensamentos costa-corbusiana mostra real preocupação com as mudanças advindas do movimento moderno. Para a interpretação feita em território nacional, vale ressaltar a presença do suíço também no Brasil, já que, como afirma Costa, foi necessário “chamar Le Corbusier para elaborar um projeto para o edifício-sede do novo Ministério da Educação”, empreitada até então sob responsabilidade de um grupo formado por arquitetos expoentes, como Niemeyer, Reidy, Carlos Leitão, Jorge Moreira e Ernani Vasconcelos. Ao se pensar a arquitetura proposta por Le Corbusier, tanto em seu Vers une Architecture — obra em que expõe a base de seus conceitos —, quanto no artigo A Arquitetura e as Belas-Artes, fica evidente o conceito: a chamada máquina de morar. A eliminação do supérfluo sem negar a importância do classicismo, pressupõe uma arquitetura preocupada com as artes figurativas. Tratase de uma convivência entre a produção do edifício e os elementos que serão responsáveis pela sua respectiva representação. A célebre Villa Savoye, em Paris, é exemplo dessa intersecção. Nota-se a alusão à obra de Mondrian (foto) no reticulado do caixilho e a escolha das cores. Le Corbusier, apesar de propor uma ruptura com a estética até então desenvolvida, não deixa de valorizar a importância da arquitetura clássica ou renascentista. Valorização é diferente de imitação. Nesse sentido, tem uma de suas principais citações: “... orner ou ne pás orner, décorer ou ne pás décorer, enrichir ou ne pás enrichir. Ennoblir ou ne pás ennoblir*”. Siegfried Giedion, em seu prefácio ao livro de Henrique Midlin, Modern Architecture in Brazil, afirma que, sem dúvida, “... a vinda de Le Corbusier para o Brasil em 1936 ajudou as vocações brasileiras a encontrar os seus próprios caminhos”, mas também adverte que “... Le Corbusier tinha visitado muitos outros países sem que nada resultasse, salvo manchetes hostis nos jornais, como aconteceu certa vez em Nova Iorque”. Se foi em solo tupiniquim que o suíço fez valer sua tese, foi aqui que o legado atingiu discípulos ainda mais estrelados, como Costa e Niemeyer. ¯


fotos reprodução | arquivo

} A influência das artes figurativas na obra de Corbusier reforça a valorização dos movimentos artísticos como fonte de inspiração. A Villa Savoye, em Paris, é certamente exemplo vivo da aplicação do traçado idealizado por Piet Mondrian na retícula da caixilharia.


foto reprodução revista life

ensaios

o gênio suíço no brasiL Le Corbusier (foto ao lado) não veio ao Brasil para instituir um movimento, mas sim para fortalecêlo. Vem cravar, sim, conceitos novos no contexto ainda conturbado da arquitetura moderna nacional. Trata-se do estabelecimento do purismo como principal diretriz projetual, no qual a beleza é uma tentativa de identificação de tudo aquilo que permanece no tempo. A obra de arte (ou arquitetura) não mais corresponde à sua função social, ou seja, a perda do conhecimento das condições técnico-construtivas ou sociais que lhe deram origem e sentido. Perde-se, segundo Corbusier, a capacidade de emocionar. Levando-se em conta a valorização da arquitetura clássica, o arquiteto estabelece um dilema diante do Partenon. Ao descrever a obra emblemática, define como “uma terrível máquina de emocionar”. Pode parecer difícil uma associação do emocionar de Partenon com a habitação proposta por Le Corbusier. Entretanto, deve-se ater à relação descrita pelo próprio arquiteto que trabalha os conceitos de beleza

mecânica e beleza perene. Através do binômio “máquina-beleza”, a estética corbusiana procura relacionar a “máquina de habitar” com a “máquina de emocionar”. Corbusier defendeu, acima de tudo, uma arquitetura cheia de intenção, com propósito definido. Segundo ele, deve-se ter sempre em mente, ao projetar, a criação de ambientes que serão utilizados por homens e, dessa forma, que atendam de maneira rápida e eficiente às necessidades humanas. Para Corbusier, criar tem sentido de satisfazer, sabendo-se que o objetivo final dessa arquitetura é o de suprir demandas impostas pela própria natureza. Nessa discussão, critica-se a relação sedimentada da construção com o homem. Fica difícil, dentro da perspectiva apresentada, entender a associação das formas dóricas, jônicas e coríntias às figuras masculinas e femininas. Corbusier propõe uma produção arquitetônica atenta à escala humana do edifício para que o usuário possa ter a melhor percepção possível do espaço que permeia.

~ Localizado na Cité Universitaire de Paris, o conjunto de elementos vazados lembra muxarabis e tem sua forma evidenciada pelas paredes recobertas por tons fortes.

}Mas a semelhança do conjunto arquitetônico da Cité Universitaire em muito se aproxima da estética modernista brasileira. O motivo? A aliança de Corbusier com o parceiro Lucio Costa, que com ele concebeu o projeto de 1953.



ensaios

a ProPosta De costa Lucio Costa não introduziu o modernismo no Brasil, mas foi o principal condutor do amadurecimento da arquitetura moderna por aqui. E fez isso com a discrição de um erudito que, no percurso da história, ora acelera e, anos depois, pisa no freio, em movimento pendular entre o passado e o futuro. Poucos sabem do seu estilo neocolonial precedente ao moderno. Formou-se arquiteto em 1924, pela Escola Nacional de Belas-Artes, e trabalhou em seguida como desenhista em escritórios técnicos. Em 1922, associou-se a Fernando Valentim. Dessa sociedade, que durou até 1929, nasceram casas ecléticas e, sobretudo, neocoloniais, uma espécie de estilo de vanguarda ufanista da época. De certa forma, a iniciativa andava de acordo com o nacionalismo exacerbado instituído na Semana de Arte Moderna de 1922. Em 1927, depois de longa temporada na Europa, voltou às cidades mineiras, que percorrera em 1924, e disse perceber o “equívoco do estilo neocolonial”. Em 1930, instalado em Petrópolis, Rio de Janeiro, a vida profissional de Costa e a arquitetura brasileira começaram a mudar. Nesse ano, sem conhecer as ideias da vanguarda europeia, foi incumbido por Rodrigo Mello Franco de Andrade de reorganizar o ensino de belas-artes. Radical, a famosa reforma propunha o afastamento do neocolonial e o alinhamento com o movimento moderno. Como tinha bons relacionamentos, Lucio Costa trouxe para lecionar com ele, entre outros, o russo Gregori Warchavchik. Depois de uma batalha pública com os arquitetos que defendiam o neocolonial, foi afastado da direção da escola. Apesar de não ter dado certo, a reforma trouxe resultados positivos.

|Lucio Costa, Gregori Warchavchik e Frank Lloyd Wright, vanguarda da arquitetura moderna e representantes do movimento no Brasil, Rússia e Estados Unidos.

O mais imediato foi a montagem do Salão de 1931, que, com a participação de artistas Candido Portinari e Di Cavalcanti, é considerada a primeira exposição oficial de arte moderna no país. Houve ainda a influência positiva sobre a produção de alunos que, mais tarde, tornaram-se importantes personagens da movimento arquitetônico no país. Outro reflexo indireto da atuação de Costa foi a sociedade que manteve com Warchavchik entre 1931 e 1933. São desse período as primeiras obras de inspiração moderna executadas por ele, como a residência Schwartz e o conjunto para operários na Gamboa, ambas de 1932 e construídas no Rio. Lucio Costa deve a Warchavchik e a Carlos Leão (com quem foi associado de 1933 a 1935) o contato com a obra de Le Corbusier. Em 1934, participou de concurso para vila operária em Monlevade-MG, que possui unidades assemelhadas à Maison Loucheur, desenvolvida por Le Corbusier em 1929.


~Injustamente, os louros do plano piloto de Brasília não são distribuídos corretamente. Lucio Costa concebeu a base para o revolucionário projeto.


ensaio

a viraDa Do ministério Em 1936, depois de tumultuado processo que envolveu a anulação de um concurso, Lucio Costa foi designado pelo ministro Gustavo Capanema para projetar o edifício-sede do Ministério da Educação e Saúde Pública (foto abaixo), atual Palácio Gustavo de Capanema, no Rio de Janeiro. Formada uma equipe de arquitetos cariocas (Affonso Eduardo Reidy, Carlos Leão, Ernani Vasconcellos, Jorge Machado Moreira e Oscar Niemeyer), ele insistiu com o ministro e com o presidente Getúlio Vargas até viabilizar a vinda de Le Corbusier ao Rio, onde ficou por quatro semanas, como consultor. O projeto, marco internacional da arquitetura moderna, foi o primeiro em grande escala a aplicar os cinco pontos da arquitetura postulados por Le Corbusier: planta livre, fachada livre, pilotis, teto-jardim e aberturas horizontais. Foi também o primeiro edifício desse porte a utilizar a cortina de vidro e brises móveis. O projeto marca a revelação de Oscar Niemeyer, que integrou a equipe por ser um jovem desenhista de Lucio Costa. No texto Razões da Nova Arquitetura, escrito por Costa, nota-se interessante interface com o ideal corbusiano, em primeiro lugar, pelo aspecto social da arquitetura. Devese atentar para o importante comprometimento do projeto proposto por Costa com relação à adaptação da forma e do espaço às necessidades humanas. Trata de um ideal préinstituído por Le Corbusier no qual afirma que “La societé est criminelle si elle édifie des constructions ne servant à rien, servant mal lês besoins dês usagers*“. Nesse trecho, percebese a preocupação do arquiteto com a produção de edifícios descomprometidos com a demanda social. Esse aspecto em muito se faz presente na obra de Lucio Costa. A discussão acerca das interrelações existentes entre as artes e a arquitetura proposta por Costa difere, entretanto, daquela proposta por Le Corbusier. O primeiro defende, acima de tudo, a liberdade de expressão do artista, a arte pela arte, a arte descompromissada. Corbusier, por sua vez, defende uma arte sempre engajada, criticando severamente a arte casual e meramente figurativa. Costa defende um corpo único formado por “arquitetura, escultura, pintura”, que dá origem a um “corpo coeso, um organismo vivo de impossível desagregação”. Com relação a esse aspecto, Le Corbusier afirma que “... les peintres ont, hélas, très peu le don profond de l’observation**”. Desprovido do dom da observação, diz Le Corbusier, seriam limitados à produção de uma arte que não sai do papel.

~ Embora critique a arte pela arte, Corbusier reconhece nos pintores e escultores o valor da vanguarda. No próprio projeto do Ministério de Educação e Cultura, no Rio de Janeiro, convidouse Candido Portinari para ornamentar murais azulejados. A estética inaugurada pelo grupo de revolucionários incendiou a classe de arquitetos em todo o país e influenciou a produção de obras comerciais, públicas e residenciais. A evidência da influência está até hoje em São Paulo, no Edifício Prudência, situado à Avenida Higienópolis.

*tradução do francês: a sociedade é criminosa se edificar construções que de nada servem, atendendo mal às necessidades dos usuários. **pintores têm pouco dom da observação.

fotos reprodução | arquivo


FOTO: ALMIR PASTORE

Jテ的AS Tel. (11) 3022-6396 atelier@juliameirelles.com.br juliameirellesjoias.blogspot.com.br


fotos reprodução | arquivo

especial

quaDrilátero Da

moDa

nenhuma novidade fashion escapa dos olhos atentos dos vitrinistas da montenapoleone. Fomos a milão conferir de perto o complexo de compras que é respiro de novidade constante Por gustavo curcio


a

qui está reunida toda a excelência do made in Italy. Para Guglielo Miani, presidente da Associazione della Via Montenapoleone, o Quadrilátero da Moda — referência mundial de conjunto de marcas e butiques considerado por críticos superior à região da Champs Elysées em Paris —, “combina moda, luxo e lifestyle como verdadeiro símbolo do estilo de vida italiano. A Via Montenapoleone não é um simples aglomerado de grifes. É um celeiro do saber fazer do italiano”, garante. O quarto eixo mais importante de compras de luxo no mundo — se considerado isoladamente —, ganha ao ser complementado pelas ruas adjacentes, que integram o circuito chamado por Miani de “imersão no mundo do luxo”. Para hóspedes de hotéis estrelados da cidade, como o Principe di Savoia, parte da Dorchester Collection, uma limusine exclusiva faz o trajeto hotel, na Piazza della Republica —Via della Spiga—Via Montenapoleone—Teatro La Scala, com saídas a cada 15 minutos. 70 marcas estão presentes apenas na via principal (vide mapa na página 35). O complexo é responsável por 25% da receita do comércio de varejo em toda a capital Lombardia. Durante as compras, vale uma pausa no Emporio Armani Caffe (que fica numa simpática pracinha, parte da Via Alessandro Manzoni). Diante do investimento do dia, parece ínfima a quantia deixada no bar/restaurante para consumir um excelente minipolvo — servido individualmente — acompanhado de espinafre ao vapor. Diante do esplendor da região, a visita à Rinascente (espécie de Gallerie Lafayette italiana), em frente ao Duomo, é dispensável. Benvenuti!

Impecáveis fachadas colocam a Montenapoleone à frente de “concorrentes” internacionais como a rua Oscar Freire, em São Paulo. O Quadrilátero da Moda tem reunidas grifes vanguardistas que preservam o savoir faire italiano e orgulham-se do made in italy. Abaixo, fachada da Blumarine, na Via della Spiga.


especial

um passeio à parte Que Milão é o berço do design, todos sabem. Mas consumir parte dele in loco é, sem dúvida, incomparável. Não desdenhamos da Champs Elysées de Paris ou da Via del Corso, em Roma. Tampouco da cosmopolita 5th Avenue. Mas estar no Quadrilátero da Moda é singular. Primeiro, pela incrível unidade das fachadas, com mesmo recuo e tamanho ideal de abertura das vitrines. Com a moldura cinza, salta o conteúdo sob as luzes aos olhos do consumidor. Cada loja é uma surpresa. Ali, não existe a compra pela compra. Isso porque reina entre as Via della Spiga ou Alessandro Manzoni o design irrepreensível e, com ele, aflora uma busca aguçada pelo belo-contemporâneo. Difícil explicar, mas a Prada de Milão é única e com ela cada uma das butiques. Versace, Armani, Zegna...

fotos reprodução | arquivo

tuDo junto no mesmo espaço Levantamos o conjunto de lojas da região e desenhamos um mapa com a localização de cada uma delas. Para a Montenapoleone, nada mais justo que separá-la num esquema à parte, disposto nas páginas a seguir. Estar presente no Quadrilátero da Moda é existir no mundo do fashion design. Confira se sua marca favorita pertence ao hall milanês.


quaDrilatero Della moDa

Byblos Colombo Piquadro Rocco Barocco De Nicola

Castello d’Oro Viebrequin Douglas Bottega del Cashmere De Mattia

a ll De

vi a

a vi

a.

ma nz on i

¤Pakerson Barbara Bui¤ ¤Monnalisa ¤ ¤Pretty Ballerinas Nijole¤ ¤ ¤¤ ¤Marisa Bellora¤ ¤ ¤ ¤Virginia Preo ¤Seventy ¤ Manila Grace¤ ¤Marni ¤De Wan ¤ Anna Rita N¤ ¤Blugirl Blumarine ¤De Mattia ¤ ¤Miss Blumarine Illulian¤ ¤Simonetta ¤ ¤Bang and Olufsen ¤Martinelli Primus Ruco Line¤ ¤Semoneta Gloves ¤Torras Manzoni Bistrot¤ Tavecchi¤ ¤Roberto Botticelli ¤Grant I P. Pallino¤ Grimoldi¤ ¤Fabiana Filippi ¤Sahrai M. Canelli¤ ¤I Pinco Pallino Flou¤ ¤Hackett Armandola¤ ¤Egò ¤Serapian Illulian¤ ¤For all 7 Mankind ¤Roberto Cavalli ¤Hora ¤Patrizia Pepe ¤Alan Journo ¤Schreiber ¤Twin-Set Moschino¤ Armani Dolci¤ ¤Mega Fashion ¤Paul Smith Versace ¤Gaudenti Antichità Armani Fiori¤ ¤Nilufar ¤BManzoni Home¤ Lanvin¤ ¤Neck and Neck ¤Brunello Cucinelli Phillip Plein¤ ¤Pellinni ¤Gallucci Armani/Manzoni 31¤ ¤Blumarine Krizia¤ Young ¤Antomani and Sons ¤Pal Zileri ¤Moschino Armani Caffè¤ ¤Galleria Silva Gandini Tessuti¤ ¤Profumeria Versace¤ ¤Ristorante Bice Cantarelli Enzo Foschi¤ ¤Bruno Magli ¤Alessandro Oteri Pennisi¤ ¤ Shirò¤ Tiffany&Co ¤Top Time Musa ¤Dolce&Gabbana Drogheria Walter Voulaz¤ ¤M.Denti Parini¤ La Piramide¤ ¤Marsol ¤Frey Wille ¤Tod’s Kiton¤ Belstaff¤ Kenzo¤ ¤Sebastian v ¤Sibernagl ¤Sport Max Frank Muller¤ Freddy¤ ¤Coccinelle ia ¤Salvatore Rivolta¤ S. Lattanzi¤ ¤Prada mo Ferragamo Fay¤ Santoni¤ n te ¤Sacappino Pollini¤ Tincati¤ ¤Chopard na vi Doriani ¤Wolford a po Hermes¤ Cashmere¤ ¤Scavia bi ¤Tie-Ups l Miu Miu¤ e Zilli¤ gl ¤Fendi on Barbara Bui¤ ¤Gallo Brioni¤ ¤Michael Kors La Caramella i e ¤Doucal’s Roger Vivier¤ ¤Radaelli Mimí¤ ¤Cherardini d'Oro¤ Antonio Fusco¤ rea ¤Sebastian Husky¤ Loro Piana¤ Chrch's¤ nD ¤C. National Al Gingillo¤ ¤Pasquale Bruni Gio Moretti¤ ¤Chanel a ¤Yves Saint Cartier¤ ’ Acqua di Parma¤ Malo¤ Laurent Armani Casa¤ ant ¤Iris ¤Peuterey ¤Valentino Orlandi Moncler¤ ¤Massimo Sforza ¤Yves Saint Carlo Eleiteri¤ a s¤Ballantyne Brunello Cuccinelli¤ Trussardi¤ Laurent i ¤Banner ¤Nella Longari v ¤Longchamp Gilli¤ Ludicious¤ ¤Cesare Paciotti ¤Clory Jay Liu Jo¤ Le Silla¤ Stuart Weitzman¤ ¤Renè Caovilla ¤Tantras Eres¤ Car Shoe¤ ¤Doriani ¤Gio Moretti Guido Pasquali¤ ¤D Magazine Gioielli di via della Spiga¤ L. Padovan¤ Jimmy Choo¤ ¤Missoni Outlet ¤De Padov Chimento¤ Casadei¤ Dolce& ¤Renè Caovilla Falconeri¤ Gabbana ¤Miscky House ¤Aspesi ¤ ¤L’Orecchino Premiata¤ ¤Cova ¤Stone Island G. Lorenzi¤ Herno¤ Promemoria¤ Pisa O.¤ ri ¤Larusmiani Allegri¤ ¤Brooksfield Phillippe¤ er Cntichita Piva&C.¤ Patek Dolce&Gabbana¤ v ¤Van Cleef&Arpels Burberry¤ ¤Wolford Etro¤ p.¤Gucci ¤Ristorante Bagutta Flavio Castellani¤ ¤Gianna Meliani John Richmond¤ ia¤Alexander Old America¤ v ¤L’Artisan Burberry Brit¤ ¤Gagà Milano Nespresso¤ MacQueen Parfumeur Nero Giardini¤ Pia Maniani¤ ¤Navigare Cravatterie COS¤ Paper Moon¤ Il Gufo¤ Vic Matiè ¤Mec&Gregory’s ¤ Berluti¤ ¤Brooks Brothers Claudio Calestani¤ ¤Ultima Edizione ¤ Agent Provocateur¤ Grimoldi¤ ¤Dsquared ¤Isaia ¤Nomination Tumi¤ Pinko¤ ¤La Martina B. A. ¤Mandarina Duck ¤Christofle Tom Ford¤ Prada¤ ¤Lario ¤Bagutta Timberland ¤Alberto Guardiani Lanificio di Tollegno¤ Braccialini¤ ¤1a Classe Mazzolari ¤Paolo Tonali Harmont& Canali¤ Sant’Ambroeus Marchina¤ ¤ ¤ ¤ Blaine ¤ ¤ Baldini¤ ¤MCS Marlboro Classics Pelleterie Milano Pirelli¤ ¤ ¤ ¤ ¤ ¤ Zara Home¤ Lo sacarabeo ¤ ¤Missoni ¤ ¤Dodo d’oro ¤Max&Co ¤Hugo Boss Versace¤ Finart piazza Valli¤ Borbonese san babila Napapijri¤ Gravati Conti Confetteria¤ Jackerson Samsonite¤ Fornasetti Mauro Leone¤ Pikenz Post Card¤ Frankie Morello Bose¤ ¤Brooks Brothers ¤Pronovias ¤Marco ¤Pam ¤McKenzy

ge su

vi a

a vi

a ll De

ve ne zi a

a ig sp

a vi

a tt gu ba

co rs o

vi a

sa nt o

vi a

sp ir it o

bo rg os pe ss o

a ig sp

a vi

ne eo ol ap en nt mo

¤Salmorag hi&Viganò ¤Escada ¤Just Cava lli

i

¤Tombolin

¤Unifor

¤Rodo ¤Moroni G omma ¤S. Ferraga mo ¤

Abercrombi e rto ’o ¤Aldo Bruè all tro pie s. via


a vi

fotos reprodução | arquivo

especial

vi a

a.

bo rg os pe ss o

a ig sp

ma nz on i

a ll De

ge sù

vi a

sa nr o

mo nt en vi Banca Intesa Sanpaolo¤ ap ¤Salvatore Ferragamo Man ol a bi eo gl Sergio Rossi¤ n i e ¤Valentino

sp ir it o

vi a

vi a

¤Bruno Magli ¤Corneliani ¤Geox Ermenegildo Zegna¤ ¤Pisa Orologeria-Rolex Boutique Vierre¤ ¤Giuseppe Zanotti Design Loro Piana¤ ¤Vetrerie Di Empoli Montblanc¤ Vertu¤

vi a

Toy Watch¤ Céline¤ Premier Tax Free¤ Omega¤ Alberta Ferreti-Philosophy Tosca Blu¤ Hogan¤ ¤Drumohr Buccellati¤ La Murrina Angelo Galasso¤ Cusi Montenapoleone¤ ¤Rubinacci Conti Café¤ Frette¤ Agnona¤ ¤Cartier A. Testoni¤ ¤Paul & Shark Men’s ea Conti Café¤ ¤Dior Homme Dr n Breguet¤ a ¤Emilio Pucci Fabi¤ nt ¤Swatch sa Baldinini¤ a Melegari e Costa¤ vi ¤Burberry Il Bacaro del Sambuco¤ Aspesi¤ ¤Iceberg Uma iniciativa da Associazioni Versace¤ ¤Damiani Venini¤ della Via Montenapoleone em Faraone¤ G. Lorenzi¤ conjunto com a Premier Tax Free ¤Cova Pisa Orologeria¤ lançou o Montenapoleone Card. Além ¤Prada Donna Larusmiani¤ ¤Ars Rosa do tradicional Tax Free Refund, obtido Gucci¤ ¤Fedeli mediante apresentação de formulário Etro¤ ¤Bally Nara Camicie¤ nos aeroportos de Malpensa (Milão) Bottega Veneta¤ ¤Sabbadini e Fiumicino (Roma), o cartão dá um Sutor Mantellassi¤ Villa Meissen¤ bônus de 15% em compras nas butiques ¤Camper Dior¤

montenapoleone shopping carD

a vi

a tt gu ba

a vi

corso matteo tti

ne eo ol ap en nt mo

premier tax Free lounge

aberto de segunda a sexta, das 10h30 às 19h, e, aos sábados, das 13h às 19h | endereço: via montenapoleone, 21 | telefone: 39 02 6269 4032

to ’or all tro pie st via

cadastradas. Além disso, deixa à disposição um lounge de descanso com plataforma em italiano, inglês, chinês e russo. Para associar-se, basta pedir no caixa de qualquer loja um convite para o Premier Tax Free e apresentá-lo no lounge.

¤Mattia Cielo Salvatore Ferragamo Woman¤ La Perla¤ ¤Prada Uomo Paul & Shark Ladies-Cadets¤ ¤Audemars Piguet Officine Panerai¤ ¤Ralph Lauren Simonetta Ravizza¤ ¤Giorgio Armani Jaeger-LeCoultre¤ ¤Louis Vuitton Gioielleria Pederzani¤ Fratelli Rossetti¤

¤Bulgari

corso matt eotti



especial

Não é apenas o Duomo — imperdível — que se destaca como monumento em Milão. Realmente, a quantidade de pináculos que despontam sobre a cobertura da nave esculpida em mármore parece interminável. Caminhar sobre o teto da catedral gótica que levou 500 anos para ser construída é obrigatório. Na mesma praça, visite a Galleria Vittorio Emanuelle II e a loja de departamentos Rinascente. Vale conhecer a Basilica di Sant’Ambrogio, igreja de estilo românico erguida em 387 d.C. e que serviu como modelo do movimento arquitetônico para as demais construções de mesmo estilo na Lombardia. Uma antiga fortaleza militar, o Castello Sforzesco, abriga uma coleção de pinturas de Tiziano e obras de Michelangelo. Assistir a um concerto no Teatro Scala, conhecido como Scala di Milano, também é indispensável. Confira a agenda da casa de 1778 no site www.teatroallascala.org. Discotecas de altíssimo nível fazem do bairro I Navigli o mais boêmio de Milão. Romântico, recebeu esse nome devido aos seus inúmeros canais navegáveis na Idade Média. Três deles ainda estão abertos. Como as distâncias são curtas, vale abusar do táxi como meio de transporte.

A cada parada, faça um giro de 360o. Milão terá sempre um detalhe para surpreender, seja nos detalhes esculpidos nas fachadas, seja nos bondes da década de 1930 que ainda circulam pela capital da Lombardia. Conhecer a cidade é vivenciar o celeiro do berço mundial do design.

onDe Ficar? hotel principe Di savoia

fotos divulgação principe di savoia | dorchester collection

caleiDoscópio na metrópole italiana

endereço: piazza della repubblica, 17, milão | telefone: 39 02 6230 1 | site: www.hotelprincipedisavoia.com | reservas: reservations.hps@dorchestercollection.com

onDe comer? Cozinha regional milanesa e uma espécie de museu do vinho são detalhes se comparados aos menus completos que valem €40, como o Pescatore, à base de peixe ou o tradicional Alpi. osteria mamma rosa

fotos reprodução | arquivo

endereço: piazza cincinnato 4, milão | telefone: 39 02 29522076 | site: www. osteriamammarosa.it | reservas: info@osteria mammarosa.it

Chuteiras de jogadores estrelados como Ronaldo, Baggio, Pato e Kaká adornam a vitrine no hall de entrada do restaurante jovem. Imperdível o espaguete ao vôngole com adição de botarga €16.

botinero restaurant ‘n’lounge

endereço: via san marco, 3, milão | telefone: 39 02 65560840 | site: www. botinero.it | reservas: reservation@botinero.it



FAshion Design

bAbY bUrberrY A rica herança da marca aliada ao estilo jovem faz da inglesa o celeiro perfeito para vestir adultos e crianças com elegância comedida. sem extravagâncias, a burberry traz na coleção outono-inverno da linha infantil — seguindo o calendário europeu — trench-coats, saias, capas, calças e t-shirts divertidas para deixar os pequenos confortáveis para a brincadeira. Para quem quer antecipar um bom presente de natal, vale investir em peças cheias de estilo

Por domenico zecchin


fotos burberry | childrenswear autum/winter collection


FAshion Design

Adaptado do modelo adulto, o trench-coat de tweed e algodão gabardine tem botões traspassados e faixa em destaque. Quente e confortável, traz bolsos nas laterais, ideal para crianças. Cotton tWeeD trenCh-CoAt

Preço sob consulta, sujeito a envio de remessa

~ Releitura do trench-coat original da marca, a jaqueta é 100% lã e deve ser lavada a seco. Com elástico na parte de trás, a peça italiana é resistente e perfeita para dias muito frios. hoUnDstooth WooL JACKet

r$ 3.495 | à venda pelo site ou em lojas físicas


onDe enContrAr

site: www.burberry.com Shopping iguatemi (df) | telefone: 61 3468 6286 | site: www.iguatemibrasilia.com.br Shopping iguatemi (sp) | telefone: 11 3032 7274 | site: www.iguatemisp.com.br Pátio higienópolis (sp) | telefone: 11 3662 4262 | site: www.patiohigienopolis.com.br

~ Saia com listras horizontais azul-marinho e marrom, evasê. O fechamento é feito com zíper na parte de trás. Feita na Itália, a peça leva tecido 66% algodão e 33% seda. striPeD Cotton AnD siLK sKirt

r$ 2.095 | à venda pelo site ou em lojas físicas


FAshion Design

Feita de tecido 100% poliéster, a jaqueta verde e púrpura pode ser lavada à máquina. Com capuz recolhido na gola, bolsos generosos e forro, é feita na Itália e perfeita para jogar sobre jeans. tonAL striPeD FieLD JACKet

r$ 3.995 | à venda pelo site ou em lojas físicas

~ Camiseta de jérsei macio com aplique em forma de coruja. Com gola careca clássica, é 100% algodão. Para meninos de 4 a 14 anos. oWL grAPhiC t-shirt

r$ 350 | à venda pelo site ou em lojas físicas



LIQUIDIFICADOR SEM TAMPA C o lunismo s o c i a l p o l it i c a m e n t e i n c o r r e t o

FACE

BOOK

Por conta própria, pesquisei e apresento aqui a lista enviesada dos tipos de mensagem que mais são postados no Facebook brasileiro. Dividem-se em onze categorias, enumeradas em ordem decrescente de ocorrência. Curtiu? POR JEROME VONK, DA EDITORA O FIEL CARTEIRO — WWW.OFIELCARTEIRO.NET

2 1 VENDENDO AI, MEU O PEIXE

 Trata-se de autopromoção descarada daquilo que a pessoa faz ou comercializa, sem nenhum tipo de pudor. O emprego de comparativos e superlativos, além de fazer inveja a Fausto Silva, comprova que aprendemos corretamente a lição: o importante é o marketing! Postura ética, respeito ao próximo e civilidade que se f*dam.

UMBIGO. ..

 Consequência emocionalmente lógica do item 1, o segundo assunto mais em pauta tem a ver exclusivamente com a pessoa que se comunica. Galileu estava mesmo errado — a Terra não gira em torno do Sol, mas em volta de mim.

4 3 PHOTOSHOP DATAS É REAL!

E DATAS

 A realidade pede fotos absolutamente irreais, onde a velha quadricromia não tem mais voz nem vez. Só se utilizam cores especiais em montagens fantásticas e oníricas, que espelham tudo menos a realidade.

 Obrigado, Mark Zuckerberg, por limpar a barra. Vamos lá, diariamente, cumprimentar quem mal conhecemos e de cujo aniversário nunca lembraríamos, não fosse o aviso automático desta aldeia global digital.

5 VIDA NO VÍDEO!

 Antigamente, levávamo-la (obrigado, Jânio Quadros) na flauta, agora é no vídeo. Qualquer coisa é desculpa para se propagar qualquer coisa, por pior que seja a qualidade artística e por menor que seja a relevância.


À BRASILEIRA 6 MELHOR ONTEM

7 A VIDA

É LINDA!

8 VIVA OS

9 (RES)

10 SALVEMOS

 Belchior tinha razão e Elis cantou isto a plenos pulmões: ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais. Ou seja, no passado.

 Mensagens (auto) laudativas de estourar o saco de qualquer terapeuta, guru de autoajuda ou coelho mago. Não bastasse isso, a grande maioria das frases e trechos transmitidos é atribuída a pessoas que não os escreveram (Clarice Lispector deu umas três voltas no caixão agora, como forma de agradecimento).

 Tudo bem, eles são bacanas e tudo mais. Mas parece que só eles importam. Já o sofrimento de nossos semelhantes é assunto para quem não tem assunto.

 Nietzsche colocou o dedo na ferida na segunda metade do século 19: ninguém faz força para entender (ou querer entender) o que fazemos. O que importa é elogiar ou criticar — essa é a nossa especialidade. Além, obviamente, de patrulhar a vizinhança.

 Fazer a revolução em tempos digitais é prático, gostoso e não custa nada. Basta escolher as causas (uma só, para quê?), escrever algo bonitinho ou copiar de alguém — tanto faz — e apertar a tecla enter. Pronto! Já fizemos nossa parte e podemos dormir com a consciência tranquila. O que importa é a liberdade de expressão. A liberdade de pensamento deixamos para mais tarde, na vida, quando não tivermos mais nada a fazer, não pudermos fazer mais nada ou quando a conexão cair.

ANIMAIS SENTIMENTO O PLANETA

A GRANDE MÍDIA É UMA M*RDA,VIVA A GRANDE MÍDIA!

11

 Só se fala mal dela, mas só se reproduz o que é veiculado nela. Não é preciso mais assistir televisão, ouvir rádio e ler jornal para estar “informado”. Nossos amiguinhos do Facebook se encarregam de divulgar as notícias. (E pensar que a internet é uma das poucas e verdadeiras oportunidades de ocuparmos o tempo, o espaço e a mente com assuntos que poderíamos escolher livremente.)


TenDência

memórias conTemporâneas o charme Dos anTigos álbuns De FoTos reinvenTaDo num proDuTo-conceiTo que resgaTa memórias e o orgulho De exibir lembranças aos queriDos

F

por regina gauer

otografia já foi o hobby da realeza, tendo entre seus precursores nosso próprio imperador Dom Pedro II, que difundiu a tecnologia pelo país. Naquela época, os negativos eram feitos em placas de vidro em grande formato, com um custo absolutamente inacessível para a população em geral. Durante muito tempo, fotografar foi uma atividade que exigia preparo prévio e a compra de rolos de filme, que ocupavam espaço na porta da geladeira até que chegasse uma ocasião digna de ser fotografada. Vinha então, como em um ritual, o processo de abrir a embalagem, desenrolar o filme e colocá-lo com cuidado. E, finalmente, escolher o momento certo para acionar o disparador, em um jogo quase empírico de sorte e azar para que a foto estivesse no foco e com a exposição correta. Depois de uma viagem, qual não era a ansiedade para finalmente descobrir se os momentos únicos em Estocolmo tinham sido eternizados ou se a tampa da lente tinha sido esquecida novamente na frente das imagens do voo de balão! A revolução trazida pelas fotos digitais e celulares com câmera democratizou a fotografia, dando feedback instantâneo sobre a qualidade das imagens e permitindo refazêlas imediatamente. Criou-se, diante disso, uma geração de fotógrafos que apontam seus celulares para as situações cotidia-

nas e geram registros como os das antigas Polaroids. Em seu lugar, surgiram aplicativos para celulares como o Instagram, que nos tornam reféns de seus filtros que transformam qualquer foto em uma memória vintage dos álbuns, um quase paraíso idílico. A geração conectada não poderia deixar esses registros presos à nuvem, em telas de celulares ou Facebook. Para transformar as memórias em uma verdadeira experiência interativa online, a empresa Design 2 Matter criou o Instacube, uma espécie de porta-retratos digital wireless (sem fio) que se atualiza em tempo real com fotos do Instagram e do Facebook. O cubo também pode mostrar fotos que contenham #hashtags de temas escolhidos pelo usuário, podendo receber feeds de diversas pessoas ao mesmo tempo, como em uma festa de casamento ou em uma loja. O produto se tornou rapidamente viável através da plataforma do Kickstarter, que ajuda a financiar projetos inovadores através de crowdfunding, outra supertendência. Guardar memórias e, principalmente, compartilhá-las com a comunidade na qual se está inserido é essencial para a formação de nossa identidade cultural. Inovações como o Instacube materializam essas trocas e as tornam mais palpáveis, próximas e reais. Como no tempo dos álbuns de fotografia, só que de maneira ampliada e com muito mais alcance. E você, já compartilhou suas memórias hoje? ¯

Regina Gauer é apaixonada por livros e obstinada por viajar e aprender novas coisas. Arquiteta pela FAU-USP com MBA pela FGV, atua como consultora de tendências para empresas ao redor do mundo, oferecendo insights criativos e inovadores.


divulgação instacube

~”Criar maior apelo ao público mais jovem e normalmente desinteressado pelas obras clássicas foi a base para o desenvolvimento do audioguide, que combina o rico patrimônio cultural do museu com o que há de mais evoluído em entretenimento digital interativo.”


reprodução

DEtalhE EM fOcO

} Escultura, edifício, obra de arte, objeto de design. A cada edição, lançaremos o desafio aos leitores de, a partir de um recorte da obra, decifrar a origem do nosso Detalhe em Foco. Mande suas sugestões para ameizing@rmceditora.com.br! No próximo número revelaremos de onde vêm as retículas brilhantes da foto. Na edição passada: caixilhos do Instituto do Mundo Árabe, em Paris, foram o foco. Construída entre 1981 e 1987, a obra teve alta tecnologia empregada, seja nos métodos construtivos, seja no projeto em si. Criada por Jean Nouvel, tem a caixilharia fotossensível como destaque principal. iNStitutE Du MONDE arabE

| Site: www.imarabe.org

© Vladimir Melnik

| Endereço: rue des fossés-Saint-bernard, 75005, paris, frança | telefone: 33 1 4051 3838

tapEtE NO tElhaDO

É possível cobrir uma casa com tapeçaria? pois é, o jogo de cores lembra um complexo entrelaçado de fios sobre as telhas da construção. Mas qual será o tamanho desse conjunto de “águas” amontoadas? São reais ou apenas detalhes de uma casinha de bonecas?




Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.