Revista FBFE

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ROBERTA ZEN E O SOFTWARE RODA GC: OVO DE COLOMBO COMUNICA STAKEHOLDERS NESTA EDIÇÃO: PERFIL Nelson Cury Filho e o desafio da sucessão nas empresas familiares ANO 1 | NO 01 | NOVEMBRO / DEZEMBRO / JANEIRO | 2017/18 | WWW.FBFE.COM.BR

RE VISTA DO F ÓR U M BR A S I L EI RO DA FAM ÍL IA E M PR E S ÁR IA

Quase dois séculos de legado: a saga da família Goyard Aberta em 1853, a empresa familiar une tradição a inovação em nova era suntuosa da marca Ú

LEGADO Presidente da Intermarine, Roberta Ramalho fala sobre a sucessão precoce TERCEIRO SETOR Eduardo Lyra: 100 mil crianças e jovens impactados ao ano pela Gerando Falcões





Nova Intermarine 62. O primeiro barco do mercado com beach club.


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REVISTA FBFE | NOV/DEZ/JAN

Sumário

FOTO DE CAPA: DIVULGAÇÃO MAISON GOYARD

14 SEMPRE NA REVISTA FBFE

10 Notas

Notícias e dicas do universo da família empresária.

12 www.fbfe.com.br

EXPEDIENTE

Acesse o conteúdo de nosso portal.

A revista FBFE é uma publicação trimestral do Fórum Brasileiro da Família Empresária

14 Wish List

Seleção exclusiva de produtos feitos de titânio.

16 Legado

Qual a herança do fundador segundo Roberta Ramalho, da Intermarine.

47 Insiders

Dicas preciosas de cidades icônicas.

48 Agenda

Acompanhe os eventos realizados pelo FBFE em 2017.

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CONSELHO EDITORIAL Nelson Cury Filho Ana Carolina de Andrade Cury PRODUÇÃO EDITORIAL Magu Comunicação

PUBLISHER Gustavo Curcio EDITORA Marília Muylaert MTb 0076427/SP REDAÇÃO: Allaf Barros, Dagomir Marquezi, Fernanda Cury, Isadora Macedo, Lidice-Bá (texto), Amanda Favalli e Nikolas Suguiyama (arte), Nina Zakarenko (revisão) Magu Comunicação Integrada Ltda. www.magucomunicacao.com Impressão: Melting Color Tiragem: 10.000 exemplares Se você tem críticas e/ou sugestões ligue para 11 2385-8012 ou envie um e-mail para contato@fbfe.com.br FÓRUM BRASILEIRO DA FAMÍLIA EMPRESÁRIA — FBFE Rua Áustria, 550 — Jardim Europa São Paulo | SP | BRASIL | Tel.: 00 55 11 2385-8012

NESTA EDIÇÃO

18 Perfil

Conheça o Fórum Brasileiro da Família Empresária — FBFE. Nelson Cury Filho, o fundador, fala sobre os desafios da sucessão.

26 Capa

A saga da família Goyard. Fundada em 1853, a empresa familiar une tradição a inovação em nova fase suntuosa da marca.

32 Ovo de Colombo

Roberta e Daniel Zen apresentam software de governança corporativa.

www.fbfe.com.br Não é permitida a reprodução parcial ou total das matérias sem prévia autorização dos editores. *** A Revista FBFE não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados.

34 Terceiro Setor

Gerando Falcões, a ONG que já impactou 100 mil crianças e jovens.

40 Destinos

Castello del’Nero: hospedagem fora do comum no coração da Toscana.

44 Entrevista

Dulcejane Vaz: espaços de decisão e a liderança feminina.

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Editorial

FOTO Wagner Menezes

Feliz Plano Novo! É com muita satisfação que entregamos em suas mãos mais um projeto 100% dedicado à família empresária brasileira: a primeira edição da revista FBFE. A revista será um espaço destinado a membros de empresas familiares — fundadores, sucessores e acionistas — que buscam conhecimento, tendências, capacitação e soluções para gerir de forma mais eficaz a família e a empresa na qual estão inseridos. O FBFE já reúne mais de 5 mil membros e o sucesso dessa iniciativa se mostra em vários setores. A revista que está em suas mãos é um dos sinais dessa estratégia acertada. Essa iniciativa não seria possível sem o apoio de um time de parceiros alinhados com os nossos objetivos e reforça, acima de tudo, um sonho: crescimento, prosperidade e perenidade das empresas familiares do Brasil. Nas próximas páginas você terá a oportunidade de ver como o Fórum Brasileiro da Família Empresária — FBFE surgiu, fundado pelo meu marido, companheiro de vida e trabalho, Nelson Cury Filho. A reportagem de capa traz a história da família francesa Goyard, que a partir do sonho do fundador, aliado à excelência de sua produção e impecabilidade nos detalhes, se tornou referência mundial e objeto de desejo. Afinal, o que fica para a próxima geração? Desafios, perdas e superação unem a história desses herdeiros que nos enchem de orgulho e nos motivam a continuar em frente: Roberta Ramalho, herdeira da Intermarine Yatchs, divide com a gente como foi assumir o controle da empresa de sua família. Já os irmãos Daniel e Roberta Zen mostram aos nossos leitores uma solução inovadora que surgiu dentro de sua família e se tornou item indispensável para quem pensa em governança. 2017 está terminando e a revista FBFE apenas começando. Uma proposta linda baseada em nossos três pilares: Família, Empresa e Tradição. Esperamos que goste! Boa leitura!

Ana Andrade Cury

“O FBFE já reúne mais de 5 mil membros e o sucesso dessa iniciativa se mostra em vários setores. A revista que está em suas mãos é um dos sinais dessa estratégia acertada.”



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Notas

INSTITUT AUF DEM ROSENBERG

Formação de herdeiros na Suíça Uma das mais antigas e tradicionais escolas da Suíça, em St. Gallen, o Institut auf dem Rosenberg, gerido por Bernhard O. A. Gademann — representante da quarta geração consecutiva da família à frente da instituição — há 150 anos promove a formação de crianças e jovens entre 6 e 19 anos. Com 290 alunos e turmas de apenas oito pessoas, é o mais antigo colégio interno e semi-interno da Suíça. As instalações ficam num parque privativo de 100 mil m2, com edifícios de arquitetura pitoresca. O lema “aprender a viver é o objetivo final de toda a educação” reflete a importância do sistema pedagógico vanguardista, que transcende as habilidades ensinadas nos livros didáticos. A escola promove o pensamento independente, a autodisciplina e a inteligência emocional. Com três alunos brasileiros, o Instituto prepara desde cedo herdeiros para assumir a gestão de empresas familiares. “Liderança é uma habilidade que pode e deve ser nutrida em idade precoce”, afirma Gademann.

FOTOS DIVULGAÇÃO

Institut auf dem Rosemberg: vista aérea do complexo centenário na Suíça.

Empresas familiares no centro da economia francesa

Site: www.instrosenberg.ch E-mail: admission@instrosenberg.ch

afirmou ao Le Figaro a força das empresas familiares diante de depressões e crises econômicas: “Em períodos de crise, a resistência das empresas familiares permite PENSAMENTO A LONGO PRAZO uma reação efetiva diante do cenário de dificuldades, com estratégia e foco no “Em análise a longo prazo, empresas “A RESISTÊNCIA longo prazo”, explica. Na França, apenas familiares se mostram mais ágeis e DAS EMPRESAS 17% das empresas continuam sob o resistentes.” É o que garante o empresário FAMILIARES comando familiar no momento da troca de Guillaume Connan, terceira geração da PERMITE UMA gerações (contra 56% na Alemanha e 70% empresa de transportes Chabé, criada por seu na Itália). Para Olivier Mellerio, herdeiro REAÇÃO avô em 1921. Em artigo do jornal Le Figaro, da joalheria Mellerio Joaillier Paris, isso EFETIVA DIANTE Connan afirma que os laços de sangue entre ocorre por conta da espera demasiada dos DO CENÁRIO DE os administradores ajudam na unidade da gestores para a geração seguinte. Mellerio organização e garantem a sua perenidade. DIFICULDADES, afirmou ao jornal francês que “antecipar a A chave para o sucesso do modelo de negócio, COM migração das responsabilidades ao futuro segundo Alexandre Montay, responsável ESTRATÉGIA diretor é fundamental para que haja pelo movimento ETI — Entreprises de Taille o preparo necessário antes da E FOCO NO Intermédiaire* — está na independência passagem de bastão”. LONGO PRAZ0.” econômica (relativa, é claro) dos grupos Alexandre familiares de investimentos externos e FONTE: Le Figaro Montay *Em português, empresas de médio porte. oscilações na Bolsa de Valores. Montay


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www.fbfe.com.br 4 vídeos imperdíveis em nosso canal

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EMPRESA FAMILIAR X DESAFIOS DA SUCESSÃO Acompanhe a entrevista exclusiva de Hugo Nisembaum, especialista em Talent Performance da Grant Thornton, que fala sobre os desafios no processo de sucessão na empresa familiar. Afinal, como identificar um futuro sucessor? Como escolher um filho em detrimento de outro?

ABC DO ACORDO DE ACIONISTAS PARA EMPRESAS FAMILIARES Dúvidas no Acordo de Acionistas? Adriana Adler, professora da Fundação Dom Cabral e consultora em Family Business, ensina o passo a passo para criar um Acordo de Acionistas campeão, afinado com os interesses da família empresária e da empresa familiar.

POR QUE CAPACITAR A FAMÍLIA EMPRESÁRIA? Apenas 4% das empresas familiares chegam à quarta geração. Acompanhe o vídeo com Juliana Gonçalves, professora da Fundação Dom Cabral e gerente do Programa de Desenvolvimento do Acionista (PDA), sobre a importância da capacitação e amadurecimento.

HERDEIRO CAPACITADO, EMPRESA SEM CONFLITO! A coach e psicóloga Adriana Netto falou ao Fórum Brasileiro da Família Empresária – FBFE sobre os papéis nas famílias empresárias, a diferença entre herdeiros, sucessores, acionistas e executivos e a importância da capacitação para os membros e a idade para iniciar o processo.

Gold & Ko: o DNA fala mais alto

Quem são os melhores líderes: otimistas ou pessimistas?

Famílias empresárias costumam diversificar suas atividades de negócios, mas é impressionante como o DNA acaba se impondo com o passar dos anos. A prova está com os Kopenhagen Goldfinger, de São Paulo. Em 1996 a família vendeu sua famosa marca de chocolates, a Kopenhagen, mas não tardou muito: 20 anos apenas para criar uma nova, a Gold & Ko-The Golden Age Chocolate, surgida em 2016, porque se há uma coisa pela qual é apaixonada são os chocolates.

Neste texto de John Davis, você pode conferir como a forma de encarar a realidade pode influenciar na resolução de conflitos. “Otimismo e pessimismo são traços fortes e estáveis que refletem nossas estratégias de enfrentamento. Vivemos em um mundo incerto. Para lidar com a incerteza, a maioria das pessoas basicamente supõe que as coisas vão acabar bem (os otimistas) ou mal (os pessimistas). Então, aqui vai uma pergunta para refletir: é melhor ter um otimista ou um pessimista liderando uma organização familiar? Como vou mostrar a seguir, ambos têm características próprias que podem beneficiar um negócio, mas farão isso de maneira diferente, com objetivos diferentes.”

Leia mais no portal: na busca, digite: Gold & Ko

Leia mais no portal: na busca, digite: John Davis

“OTIMISMO E PESSIMISMO SÃO TRAÇOS FORTES E ESTÁVEIS QUE REFLETEM NOSSAS ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO. VIVEMOS EM UM MUNDO INCERTO.” John Davis


Prepare a sua empresa para o futuro. O tempo de hoje é o presente de amanhã. Os serviços de Family Business da Grant Thornton auxiliam as organizações em todas as suas etapas de crescimento, oferecendo recomendações significativas e customizadas voltadas ao futuro. Na Grant Thornton o seu objetivo é a nossa prioridade. Colaboramos para que você encontre a melhor maneira de expandir seu negócio e ultrapassar gerações.

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Wish List

EDIÇÃO Fernanda Cury

Titânio: elegância a toda prova Tão forte quanto o aço, porém 45% mais leve, há tempos o titânio é utilizado na indústria aeronáutica e na aeroespacial. Graças a sua leveza e resistência, vem alcançando o status de metal nobre. Confira nossa seleção que tem o material como base.

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ICONA VULCANO TITANIUM: O PRIMEIRO AUTOMÓVEL DE TITÂNIO DO MUNDO Com projeto inspirado no avião mais rápido do mundo, o SR-71 Blackbird, este supercarro é uma escultura de titânio que revela as 10 mil horas de trabalho manual em sua forma mais pura. O trem de força do Icona Vulcano Titanium é resultado do trabalho do renomado Claudio Lombardi, ex-diretor técnico de Trem de Força da Ferrari e mentor de vários carros campeões do mundo: é um motor V8 de 6,8 litros com potência de até 1200 HP. O torque máximo é 819 Nm. A velocidade máxima é de cerca de 350 km/h e faz de 0-100 km/h em 2,8 segundos. Toda essa potência envolta por um belo design com formas voluptuosas e harmoniosas, o Vulcano Titanium é o carro que reúne a bela e a fera. “Nosso objetivo foi criar um equilíbrio entre potência e beleza e trazer à tona a verdadeira natureza deste carro de alta performance”, conta Samuel Chuffart, diretor de Projetos da Icona. Preço: a partir de US$ 2.500.000, dependendo das configurações escolhidas.


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SAC: Cartier: www.cartier.com.br | Celina Dias: www.celinadias.com.br | Farfetch: www.farfetch.com | Icona: www. vulcanotitanium.com | Montblanc: www.montblanc.com | Rimowa: www.rimowashop.com.br/ | Tiffany: www.tiffany.com.br

~ ACADEMY 5-PIECE PLACE SETTING Importado, o conjunto de talheres de aço inoxidável e acabamento de titânio da Ralph Lauren Home está à venda exclusivamente na Celina Dias. Preço sob consulta.

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Legado

TEXTO Marília Muylaert | FOTO Wagner Menezes

O QUE FICA PARA A PRÓXIMA GERAÇÃO? Sem abrir mão da própria personalidade, expoentes de diversas áreas contam qual a herança mais valiosa que levam de seus antecessores. Em 2014, com apenas 21 anos, Roberta Ramalho assumiu a presidência da Intermarine Yachts, o estaleiro líder no mercado de barcos de luxo do Brasil. Tudo foi acelerado pela perda inesperada do pai, Gilberto Ramalho, que faleceu em um acidente em 2009 em que ela e a mãe estavam presentes. “Eu tinha apenas 15 anos e precisei de um tempo para me recuperar tanto fisicamente quanto emocionalmente”, conta ela. Roberta é a quarta filha de Gilberto e filha única do segundo casamento dele. Ela descreve o pai como um empreendedor nato que atuou em vários ramos de negócios. “Nasci na fase barco”, completa. “Ele tinha loucura por lanchas, mar e velocidade. Eu fui a raspa do tacho, tive uma criação diferente. Meu pai já era pai velho, então eu era a única criança no meio deles, tinha acesso às conversas de adultos”, relembra. Para ela, Gilberto foi um pai muito presente e ela sempre o acompanhava nas viagens e Boat Shows no Brasil e no exterior. E isso fez com que fosse adquirindo naturalmente a cultura da empresa. Roberta sempre quis trabalhar com o pai. Ela conta que este era um assunto recorrente entre eles, mas que, infelizmente, não deu tempo. No entanto, herdou uma equipe de profissionais muito preparada e coesa que a assessora na administração da empresa. Com mais de 600 funcionários, a Intermarine produz hoje cerca de 40 iates por ano. Em 2018 começará a exportar para a Flórida, EUA.


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Roberta Ramalho, presidente da Intermarine Yatchs.

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Um barco de 80 pés demora seis meses para ficar pronto do ponto zero (laminação) até a entrega para o cliente. “Fazemos tudo aqui (numa área de 50 mil m2 em Osasco - SP) e este é o nosso grande diferencial. Não somos montadores, e sim fabricantes”, conta. A Intermarine tem engenheiros de ponta e profissionais focados em desenvolvimento de produto, além de arquitetos, marceneiros e tapeceiros para personalizar o layout da embarcação. Tudo é feito in loco, com exceção dos motores e eletrônicos. Roberta fala do pai com orgulho: “Ele tinha muita coragem, era extremamente visionário, carismático e determinado. Era um exímio empreendedor e estava acostumado a dar o primeiro passo em negócios em que muitos não se arriscariam”. Ao ser questionada sobre o que ficou do pai nela, responde: “Tudo! Somos muito parecidos nos defeitos e nas qualidades. Sigo a filosofia dele por meio de lemas como ‘o amanhã vai ser aquilo que você quiser’ ”. Segundo ela, nunca é fácil realizar sonhos, mas temos de ter os objetivos bem definidos e perseverar sempre. “Meu pai era um perfeccionista. Se era para executar uma tarefa, tinha de fazer direito, não havia meio-termo.” Roberta conta ainda que, como membro de família empresária, teve sorte: “Meu pai deixou quatro filhas, uma mulher e uma ex-mulher. Todo mundo apostou no caos quando ele partiu, mas foi justamente o contrário que aconteceu. Nos unimos mais e em momento algum houve brigas”, diz, aliviada.


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Perfil

TEXTO Dagomir Marquezi | FOTOS Wagner Menezes Nelson Cury Filho, fundador do Fórum Brasileiro da Família Empresária — FBFE.

Negócio de família Cerca de 90% das empresas brasileiras são familiares. O que implica necessariamente que em algum momento terão que passar de uma geração para a outra.

q

uem vive no universo de empresas familiares sabe o quanto os processos de sucessão podem ser complicados. O que parece um ritual esperado — pais se aposentam, filhos assumem — pode se transformar numa guerra que destrói não só a empresa, mas a própria família. Nelson Cury Filho viveu essa realidade na pele, mas fez do seu limão uma limonada. Montou uma empresa especializada no assunto e o sucesso dela é a confirmação do quanto essa questão é importante e urgente. Como lidar com ela é uma arte cada vez mais necessária. Em 2012, conta ele, “saí da direção dos negócios porque queria dividir minhas experiências com outras famílias empresárias. Saí do dia a dia e passei a integrar o Conselho da empresa”. A reviravolta na vida de Nelson aconteceu quando seu pai anunciou que não tinha planos de se aposentar tão cedo. “Ele disse que se sentia muito novo, não sabia fazer outra coisa. Não queria se afastar do dia a dia, queria continuar na gestão.

Ele estava com 64 anos. Diante disso, perguntei: ‘Até quando você acha que vai trabalhar?’ Ele disse que queria ficar mais uns 15 ou 20 anos. Aí eu pensei: até lá já terei 60 anos! Eu é que vou querer me aposentar (risos)! Algo parecido com a situação do príncipe Charles, da Inglaterra, que aos 67 anos ainda espera assumir o trono da mãe, a rainha Elizabeth II, de 91 anos. Decidi me reiventar.”

“Cada família tem sua própria história, seus valores e tradições. Para conseguir dar continuidade ao legado familiar e perpetuidade aos negócios é preciso um alinhamento entre todos e visão de futuro.”

Nelson Cury Filho, fundador do FBFE e especialista no desenvolvimento da família empresária


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Perfil

Autor de sua própria história Nelson passou por inúmeros dilemas e crises, mas a família unida conseguiu superar a maioria dos desafios. “Quando decidi me afastar, comecei a conversar com muitos dos meus amigos que possuem empresas familiares. E percebi que eles tinham os mesmos dilemas, os mesmos desafios”, declara Nelson. A partir de 2009, Nelson iniciou uma maratona de cursos de especialização. Entre eles, o mestrado Executive Master in Consulting and Coaching for Change - EMCCC, pela Insead (França); o Programa Parceria para o Desenvolvimento do Acionista e da Família Empresária (PDA) e o Programa de Desenvolvimento de Conselheiros (PDC) pela Fundação Dom Cabral; e Formação em Coaching, ICC, pela International Coaching Community; além de um curso de programação neurolinguística com o astro da área, Tony Robbins. Cury Filho é certificado internacionalmente em Family Business Advisors pelo FFI – Family Firm Institute. Em um processo de transição de carreira, Nelson Cury Filho passou de executivo a consultor de empresas familiares. Para isso contou com a ajuda da coach Adriana Netto, psicóloga e professora da Fundação Dom Cabral. “Nelson transformou sua angústia em conhecimento, enfrentou medos e questionamentos para compreender a própria história”, conta Adriana. “Conseguiu estabelecer uma relação madura com a família, definir seu papel dentro e fora dos negócios e atuar como protagonista. Compartilhando o seu conhecimento e expertise com outras empresas familiares”, completa. Um dos mais importantes aprendizados foi saber que é preciso separar três elementos: propriedade, gestão e família. São elementos interligados. “Há na gestão pessoas que podem ser membros da família ou não.

Você tem o patrimônio que pode fazer parte do seu negócio ou não. E você tem a família que depende desse negócio ou não. Às vezes, o fundador é sócio, executivo e detém o patrimônio. É o líder da família, o patriarca. E os filhos estão só na gestão, ou são herdeiros ou às vezes são acionistas. É necessário separar bem esses papéis. Ou começam a surgir os conflitos de interesse”, alerta Nelson. O mestrado na Insead, na França, foi indicado para quem procura reposicionamento ou transição de carreira. O curso trabalha as dinâmicas que permeiam as relações na família, na empresa e na sociedade, construção de identidade e a importância do autoconhecimento. “Durante o curso, pude experimentar algumas áreas que me interessavam. Trabalhei como gestor de patrimônio, mas vi que não era isso que queria. Foi então que decidi trabalhar com famílias empresárias. Descobri que meu legado era contribuir com a perenidade das empresas familiares no Brasil e no mundo.” Como nasceu o FBFE Nelson começou seu novo trabalho de maneira bem informal. “Eu reunia num jantar cerca de dez amigos que estavam passando por processos semelhantes e chamava um especialista para falar sobre um determinado tema. Era um ‘encontro de sucessores’, a cada um ou dois meses”, conta. Assim surgiu o Fórum Brasileiro da Família Empresária — FBFE. Para isso, contou com a parceria de sua esposa, Ana Carolina de Andrade Cury, jornalista de formação, que abraçou a sua nova proposta. “Eu tinha uma agência em Florianópolis, de assessoria de imprensa, relações públicas e eventos. Quando me mudei para São Paulo, vi que o trabalho do Nelson vinha se desenvolvendo e tinha grande potencial para se transformar em uma marca e virar um negócio. Começamos a pensar em nome, desenvol-


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ver uma estratégia, fazer um planejamento, etc. Lançamos o FBFE em maio de 2015 com a presença de Stephen Kanitz. Já naquele momento reunimos 100 membros de famílias empresárias”, lembra. As pessoas que frequentavam o Fórum vinham de várias cidades. Eram fundadores, herdeiros, sucessores, e começaram a pedir que os levássemos para fora de São

Paulo. Naquele mesmo ano, o FBFE foi lançado em Ribeirão Preto (SP), Florianópolis (SC) e Goiânia (GO). “Em cada uma dessas cidades um empresário de visibilidade convida e recebe, com o FBFE, amigos e pessoas que sejam membros de empresas familiares”, explica Ana Carolina. Consultores e executivos não são permitidos nos encontros. O convite é intransferível.

ENTENDA O QUE É O

Fórum Brasileiro da Família Empresária - FBFE O FBFE é um fórum exclusivo e privado direcionado a herdeiros, sucessores, acionistas e executivos membros de empresas familiares, que buscam conhecimento e troca de experiências para gerir de forma mais eficaz a família e a empresa na qual estão inseridos. O FBFE já atingiu mais de 5 mil membros de empresas familiares e surgiu da necessidade de um ambiente seguro para essas trocas. É conduzido por profissionais e acadêmicos especializados no universo da família empresária, sempre trazendo assuntos atuais e diretamente ligados ao Family Business. Rea-liza fóruns, palestras e cursos de imersão em todo o Brasil que contribuem com o desenvolvimento da família e da empresa, trabalhando a dinâmica que permeia as relações intrafamiliares e a comunicação entre gerações.

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Fórum FBFE — São Paulo O palestrante internacional David Bentall (foto no alto), Luiza Trajano (foto à esquerda) e o presidente do banco Fator, Marco Antonio Bologna (foto à direita) — executivo responsável pela fusão das gigantes familiares Lan e Tam — são alguns dos palestrantes que já estiveram nos encontros mediados por Nelson Cury Filho


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Perfil

Uma estratégia única Nelson trouxe a dinâmica dos debates que presenciou na faculdade para os Fóruns. Apostou na hipótese de que, para haver uma troca de experiência real, é necessário criar um ambiente seguro em que as pessoas possam falar abertamento sobre o que pensam. “Pensei: por que não trazer esse método de ensino para dentro do Family Business no Brasil? Os eventos destinados a este nicho geralmente são muito grandes, com mil, mil e quinhentas pessoas. Muitos desses convidados estão lá com o intuito de vender algo”, explica. Faltava um momento de conversa entre membros e acionistas do negócio para entender as dificuldades de cada um. Aí, sim, é possível a troca. É como aprender pelo olhar do outro. “Afinal, o dono de empresa quer falar com o dono de empresa”, conclui. Partindo desses princípios, Nelson e Ana desenvolveram um modelo que visava discussões sérias num ambiente de informalidade. Por ser pioneiro e necessário, o FBFE cresceu rapidamente. Com o sucesso, o cuidado com o evento também aumentou. “Os eventos são focados nos donos de empresa e herdeiros, então partimos do princípio de que tudo o que proporcionamos no evento é como se fosse uma extensão da casa dessas pessoas. Servir um bom vinho, ter um bom serviço não são nada mais do que pré-requisitos. Buscamos a excelência desde a produção até o conteúdo a ser tratado; da escolha do anfitrião ao palestrante; do tema do encontro aos mínimos detalhes”, lembra Ana Carolina. “Excelência em tudo: conforto e, acima de tudo, informalidade. Quem trabalha o dia inteiro não quer chegar no final da tarde e ir para mais um evento chato, cheio de burocracias ou formalidades”, completa. O FBFE recebe empresas com faturamento maior do que 50 milhões de reais ao

ano, de todos os segmentos. É um evento fechado, gratuito, apenas para convidados. Ana procura fazer do evento uma experiência de mão dupla. “Acreditamos que os convidados têm tanto a agregar — ou até mais — do que os próprios palestrantes. Histórias de vida, soluções empresariais e desafios… Todo mundo quer saber como aquele empresário de sucesso chegou lá. Não é comum no Brasil as pessoas falarem como chegaram lá”, revela. O FBFE procura criar um ambiente intimista onde as pessoas se sintam à vontade em compartilhar suas experiências, positivas ou negativas, e se sentem à vontade para isso. “Criamos uma forte conexão porque no final das contas os problemas são muito parecidos.” “Os herdeiros muitas vezes têm um futuro predestinado, predefinido. São induzidos, desde pequenos, a assumir esse ou aquele papel. Mesmo que não seja o que eles gostariam de fazer”, lembra Cury Filho. Geralmente, segundo ele, há três tipos de herdeiros: um que realmente tem uma paixão, que se identifica com o negócio e quer e se prepara para trabalhar na empresa familiar. Há aquele que não se identifica com o negócio, mas se sente obrigado e culpado em trair o pai. Aí, assume o papel por obrigação. O terceiro tipo vai por acomodação. Ele tem todas as benesses de uma empresa familiar: bom salário, carro, plano de saúde... “Se ele paga as contas, por que sair da zona de conforto?”, pergunta. Mas como é possível resolver essa situação? Nelson defende uma solução chamada fair process, ou processo justo. “Deve-se tratar todos da mesma maneira. Num processo meritocrático, escolher entre eles aquele que tem realmente vocação, talento, formação e vontade. E, depois, deve-se alinhar essas características com aquele que tiver o melhor perfil com relação ao planejamento estratégico da empresa. A empresa, às vezes, precisa de alguém mais


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Ana Carolina de Andrade Cury, realizadora do Fórum Brasileiro da Família Empresária — FBFE e Nelson Cury Filho.


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Perfil

comunicativo, e você não deve colocar alguém fechado, difícil de se relacionar. Ele teria que escolher um sucessor com o perfil mais ligado à empresa naquele momento. Ou ainda complementar as habilidades dele com outro herdeiro, por exemplo. A saída para essa situação é a capacitação. “Só por meio da educação e de uma boa formação é que o herdeiro vai ter sucesso”, garante Nelson. “É a carta de alforria.” Apenas por meio da educação é que o herdeiro vai ter total liberdade para decidir ou não se vai querer trabalhar na empresa familiar. E tudo isso pode levar tempo. “Ele pode começar trabalhando fora da empresa, indo para fora do Brasil, tendo experiência internacional e experiência de mercado. E, se for bem capacitado, se provar ser um bom profissional, a decisão é apenas dele. Ele vai ser dono do próprio destino, sabendo que tem potencial para permanecer no mercado e não viver da empresa da família; talvez usufruir do rendimento do negócio, mas não do seu dia a dia. E, se for um bom profissional, poderá contribuir: sendo um executivo, conselheiro ou acionista”, explica Nelson. Segundo o fundador do FBFE, é comum no Brasil, quando o sucessor faz 17 anos, entrar na faculdade e ganhar uma mesada que vira salário. “Se você não trabalhar aqui na empresa, não vai ter mesada”, ouve-se comumente. Para Nelson, com quanto mais comunicação e transparência as empresas familiares tratarem os assuntos delicados como sucessão e divisão de dividendos, menor serão as chances de haver conflitos. Em se tratando de patrimônio, é possível, por exemplo, fazer a transferência dos ativos do patriarca em vida. Isso evita que a família passe por um desgastante processo de testamento para saber quem vai ficar com o quê. Outra situação muito delica-

da é quando o sucessor ou a sucessora se casam sem esclarecer os direitos dos cônjuges. Tudo precisa ser muito bem acertado previamente para evitar as zonas cinzentas que geram dúvidas e consequentemente conflitos. A transparência é a chave para evitar os embates. CONHEÇA O

FBFE Mulher O FBFE Mulher surgiu da necessidade de um espaço dedicado a todas as mulheres inseridas no universo da empresa familiar, sejam fundadoras, herdeiras, acionistas, sucessoras ou agregadas; ativas no dia a dia da empresa ou não. Uma família alinhada supera desafios com maturidade e maestria, e a mulher é o pilar, muitas vezes invisível, que sustenta

as relações do grupo familiar. É o elo entre a família, o patrimônio e os negócios. Os fóruns de debates são mediados pelos melhores profissionais e acadêmicos do Brasil e do mundo, que trazem os temas mais relevantes e desafiadores do Family Business à mesa. Muitas vezes, por não ter um cargo de liderança na empresa,

a mulher é desvalorizada, desconsiderada e afastada dos assuntos ligados ao negócio. “Independentemente de a mulher participar ou não do dia a dia dos negócios, é de fundamental importância que ela participe de questões e processos ligados à família, ao patrimônio e à empresa.” Ana Carolina de Andrade Cury, realizadora do FBFE.

Nelson Cury Filho no FBFE Mulher Plateia reunida durante o encontro que aconteceu em Ribeirão Preto (SP).


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SAIBA MAIS

“Sucessão ou morte da empresa familiar?” Foi para compreender e analisar essa realidade que Nelson Cury Filho, escreveu “Sucessão ou Morte da Empresa Familiar? Impactos Emocionais de Fundadores Narcisistas nos Membros Familiares Durante o Processo Sucessório.” O livro, fruto de um trabalho ampliado de sua dissertação de mestrado em Sucessão Familiar, centrou-se no impacto emocional causado por fundadores narcisistas em seus familiares durante o processo sucessório. Ou seja, é possível que o maior desafio a ser enfrentado por uma empresa familiar durante o processo de transição para a próxima geração seja o modo como pensa e age seu fundador. Bem diferente do líder com autoestima – qualidade indispensável em quem ocupa posições de liderança –, o fundador narcisista sofre de

uma patologia psicológica. E tal patologia pode responder por muitos dos fracassos nas empresas familiares. Nesse caso, o patriarca estaria concentrado apenas em atingir seus objetivos de poder, status, prestígio e superioridade, relegando a família a segundo plano. Não consegue construir e nutrir um relacionamento interpessoal maduro e sadio com as futuras gerações, algo indispensável à continuidade do legado familiar. No fim, alguns desses fatores, ou a soma de todos eles, podem, além de gerar conflitos, que por vezes tornam-se irreversíveis, destruir a empresa e até desmantelar a família. Para entender os aspectos emocionais causados nos membros familiares por fundadores com perfil narcisista, bem como suas consequências, Cury Filho busca relacio-

nar, a partir do mito de Narciso, a abordagem psicanalítica do narcisismo como aspecto fundamental para a formação do Eu. Isso porque o narcisista é alguém centrado em si mesmo, portanto, um ser que acredita ser especial, diferenciado, com pouca ou nenhuma empatia com as pessoas e com tendência a menosprezar o próximo. No processo sucessório, isso se traduz em fundadores que não conseguem dividir poder, delegar funções, acreditar que exista alguém capaz de sucedê-los. Muitas vezes são avessos à capacitação e educação de seus descendentes. Tendem a se comunicar de forma autoritária, o que impede que seus conhecimentos, experiências e percepções sobre o negócio sejam repassados de forma construtiva.

Onde encontrar: www.livrariacultura.com.br | SUCESSÃO OU MORTE DA EMPRESA FAMILIAR?, Editora Empresa, Nelson Cury Filho, 2017. R$ 49,90 | Acesse o QR-Code para comprar online.


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TEXTO Gustavo Curcio | FOTOS Divulgação Maison Goyard

Vanguarda no transporte. Diante do impulso tecnológico e expansão da rede ferroviária por Napoleão III, nasceu a Maison Goyard.

Sucessão de famílias, valores intactos De Pablo Picasso, duquesa de Windsor e Coco Chanel ao rapper A$AP Rocky, a Maison Goyard mantém clientes seletos, mas diversos. Entenda como a marca francesa conserva seu DNA há séculos.

p

rimeiro presidente francês eleito pelo voto direto, Napoleão III era sobrinho e herdeiro de Napoleão Bonaparte. Impedido de concorrer ao segundo mandato pelo Parlamento, organizou um golpe em 1851 e assumiu o trono como imperador no final do ano seguinte. Influenciado pela fervente modernidade britânica, foi responsável pela grande arrancada industrial da França com expressivos avanços nos âmbitos econômico e financeiro. Ao lado do prefeito Georges Eugène Haussmann — ou simplesmente Barão Haussmann — eternizou a imagem que segue até hoje de Île-de-France com a reforma urbana de


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Fachada inaugurada em 1853. O endereço da Rue Saint-Honoré, 233, permanece até hoje ao lado do Jardin des Tuileries.

Paris. Construiu ferrovias e casas populares, abriu canais, encorajou a agricultura, a indústria e o comércio, favoreceu as instituições de crédito, fundou sociedades de ajuda mútua e organizações de trabalhadores. Foi nesse contexto — e um ano após o início da reconstrução e remodelação da capital francesa pelo Barão — que nasceu a Maison Goyard, com sua emblemática butique no 1er arrondissement: número 233 da célebre Rue Saint-Honoré, junto do Jardin desTuileries. A sofisticação da região, com joias como o Hotel Le Meurice da Dorchester Collection, na Rue de Rivoli, e diversas marcas de equivalente valor histórico permanecem incólumes até hoje. A revolução tecnológica promovida por Napoleão III acelerou o ritmo das viagens e encurtou distâncias, principalmente graças ao transporte ferroviário culturalmente intrínseco à cultura francesa desde estes tempos. Surgiu assim demanda pelo público abastado por baús e contêineres adaptados aos novos meios de transporte. “Ao longo de 164 anos de história, a Maison Goyard foi venerada por expoentes como Pablo Picasso, Cristóbal Balenciaga, Karl Lagerfeld e Coco Chanel”, disse a jornalista Sarah Young ao Independent em março deste ano. “Desde o chef Alain Ducasse (que tem um baú custodiado para suas facas) ao rapper A$AP Rocky, e até mesmo grandes nomes como Jacques Cartier, passeavam pelo mundo com suas criações”, publicou a revista Elle há alguns meses. O célebre chef Alain Ducasse, conhecido pelo restaurante 3 estrelas Michelin localizado no hotel Plaza Athénée, endereço da alta-costura em Paris, guarda suas facas em um baú exclusivo desenvolvido pela Goyard.

AS ORIGENS:

da Borgonha a Paris Originária da Borgonha, a família Goyard especializou-se no transporte pluvial de madeira. Edmé Goyard fazia parte do que se chamava de compagnon de rivière, ou seja, era membro de uma associação de transportadores de madeira por rios, e sua função era montar e deslocar troncos em formato de trem, que mediam 75 metros de comprimento por 5 metros de largura, das florestas de Morvan. Os troncos seguiam flutuando do Rio Yonne ao Sena e, mais além, até a periferia de Paris. Naquele tempo, o trajeto levava 11 dias. Sonhando com uma vida melhor, Edmé Goyard decidiu mudar-se para Paris em 1832. Dotado de conhecimento especializado em madeira, seu filho François ingressou na Maison Morel, que produzia maletas, baús e caixas para embalagem desde 1792. À época, a Morel era a líder na fabricação de baús em Paris, tendo comprado a prestigiosa Maison Martin, empresa que fornecia caixas para embalagem e baús para sua majestade, a duquesa de Berry, nora do rei Carlos X. Em 1853, quando monsieur Morel faleceu, François Goyard, filho de Edmé, aprendiz na empresa desde 1845, assumiu o comando e assim foi criada a Maison Goyard.


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Edmond Goyard, o fundador

Com o tempo, o filho de François, Edmond, assumiu a empresa e em 1892 inventou um revestimento à prova d’água, altamente resistente, feito de linho, algodão e cânhamo, para cobrir os baús. Começava uma era de glória, em que o nome Goyard tornava-se sinônimo de excelência, tendo sua reputação estendida para muito além da França. Seus produtos passaram a ser reconhecidos instantaneamente a partir de então, com a inclusão do famoso logo em quatro cores, composto por emblemas justapostos em formato de “Y”. A letra tem vários significados: é uma referência ao nome Goyard, uma alusão ao símbolo do homem universal e uma homenagem ao comércio original de madeira flutuante da família. A disposição dos troncos inspirou o design do logo para o revestimento. Considerada favorita no ramo dos fabricantes de bagagens entre a alta sociedade, a Goyard atendeu o presidente dos Estados Unidos, à realeza britânica e o imperador da Rússia. A Maison Goyard coleciona inúmeros nomes famosos que compuseram sua clientela: o marajá de Kapurthala, o grão-duque Paulo Alexandrovich, da Rússia, sir Arthur Conan Doyle, Sarah Bernhardt, Sacha Guitry, Barbara Hutton, Gary Cooper, Romy Schneider, Estée Lauder, o duque e a duquesa de Windsor, as famílias Rockefeller e Rothschilds e César Ritz.

Robert Goyard, o sucessor

Em 1925, Edmond introduziu seu filho Robert no negócio, rebatizado de E.Goyard Ainé. Mais para a frente, Robert aprimorou a técnica da empresa na fábrica e apresentou bagagens menores e mais leves para suprir a nova era da aviação. Em 1928, ele adquiriu uma parte das ações e a empresa passou a chamar-se E.Goyard Ainé et fils (Ed-

gard e filhos). Foi Robert Goyard quem fundou o Comité Vendôme e foi nomeado presidente da Fédération Française de la Maroquinerie (Associação Francesa dos Fabricantes de Produtos de Couro). Por fim, Robert passou o negócio a seu filho François, que o vendeu para a família Signoles em 1998.

Onde encontrar: GOYARD | Shopping JK Iguatemi (Piso Térreo) – São Paulo | Tel.: (11) 3152-6999 Ateliê da Maison Goyard, (foto na página ao lado) final do século 19.

A GOYARD HOJE:

valores intactos No começo do século 21, Jean-Michel Signoles desenvolveu verdadeira paixão pela Maison Goyard e a comprou, dando início a uma nova era suntuosa. Em 2002, ele criou uma nova variação de cores, saindo do preto para uma paleta de vermelho, verde, azul, bordô, amarelo, branco, laranja, prata e dourado, ao mesmo tempo que modernizava o serviço de customização das bagagens com a introdução de iniciais, listas e brasões. Em junho de 2008, abriu uma loja no número 352 da Rue Saint-Honoré para vender acessórios destinados a animais de estimação, remetendo, assim, a um ramo bastante familiar para a Goyard, que contou com um departamento dedicado a “cachorros, gatos e macacos”, por volta de 1890.


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Capa

Linha do tempo Acessórios para cachorros da coleção atual. O portfólio retomou iniciativa de vanguarda do final do século 19.

Conjunto de baús identificados de Jacques Cartier. O serviço de gravação pode ser feito na butique do JK Iguatemi, em São Paulo.

Cartão-postal, Fachada da E. Goyard Ainé.

1853

1885

1890

1892

1900

A Maison Goyard é aberta no número 233 da Rue Saint-Honoré, em Paris, vendendo baús e caixas para embalagem.

François Goyard passa o negócio para seu filho Edmond, E. Goyard Ainé.

Criação do departamento de acessórios para animais de estimação (cachorros, gatos e macacos).

Estreia da logomarca padrão nos revestimentos.

Inauguração da butique Goyard em Monte Carlo.

Fachada inaugurada em 1853. O endereço da Rue Saint-Honoré, 233, permanece até hoje ao lado do Jardin des Tuileries.

1925 1908 a 1930 Inauguração de lojas em Biarritz e Bordeaux.

Acordos com distribuidores internacionais: Wanamaker, nos Estados Unidos; Old England, em Biarritz.

Baús da duquesa de Windsor. A Goyard não investe em campanhas de marketing.


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Tradição e valores preservados. Habilidades tradicionais, alta qualidade e venda exclusiva dos produtos.

1929 1928 a 1930

1974

O dono atual Edmond A crise da empresa Goyard traz financeira vê um baú seu filho força a Maison Goyard pela Robert para o Goyard a primeira vez, o negócio, que é fechar suas que faz aguçar rebatizado de butiques seu interesse E. Goyard regionais, pela marca. Ainé et fils. porém a empresa abre loja no Hermitage Hotel, em Monte Carlo.

1998

2000

2008

2012

A família Goyard vende seu negócio para o dono atual.

Inauguração de loja exclusiva para animais de estimação e acessórios de viagem, no número 352 da Rue SaintHonoré.

Inauguração de loja em Mayfair, Londres.

Inauguração da Boutique São Paulo, no Shopping JK Iguatemi.

Clientes de todos os estilos. A Maison Goyard não investe em publicidade ou influencers.

Portfólio variado de produtos. Linha completa de acessórios.


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Ovo de Colombo

TEXTO Isadora Macedo | FOTO Divulgação Daniel e Roberta Zen, os criadores do aplicativo de governança corporativa que disponibiliza as informações em tempo real.

Sua empresa na palma da mão O software de Roberta e Daniel Zen — herdeiros da Zen S.A. — veio para revolucionar a comunicação entre todos os envolvidos e a governança corporativa e facilitar o relacionamento entre os membros das empresas, sejam elas familiares ou de capital aberto.

q

uem não gostaria de ter acesso a todos os documentos da própria empresa no celular a qualquer hora? O que num passado próximo parecia ficção, hoje é bem palpável e tem nome: Roda Governança Corporativa. Segundo Daniel, o software foi criado para facilitar a vida e a comunicação entre todos os en-

volvidos e a governança corporativa e organizar o fluxo de informações dos fóruns entre os conselheiros da empresa, membros de seus comitês e de suas assembleias. “O Roda GC facilita a vida do secretário da reunião criando, desde a convocação, até a pauta desses fóruns”, explica Daniel.


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Daniel esclarece que o Roda GC não presta consultoria para as empresas, mas cria um espelho virtual da governança que já existe nela. “O que fazemos na prática é sistematizar a organização que a empresa já criou e disponibilizá-la, por meio de um browser, em apps, tablets e smartphones nas versões IOS e Android”, conta. Tudo é customizado, cada empresa tem o seu modelo criado pelo Roda GC que atende a empresas familiares, de capital aberto ou cooperativas. A importância do software é enorme, pois ele armazena o legado do trabalho feito em uma empresa e, principalmente, facilita o acesso à informação. Fica tudo guardado no histórico. Por meio do sistema é possível acessar o DRE — Demonstração do Resultado do Exercício — mais atualizado possível, assim como uma ata de anos atrás. Hoje os protocolos ou regimentos de família são documentos complexos de serem produzidos. Levam até cinco anos para ficarem prontos. Imagina somar os desejos de todos os responsáveis por uma empresa e condensá-los em um documento único? Muitas vezes estes documentos, por não estarem disponíveis no dia a dia da operação da empresa, se perdem ou são subutilizados. “É muito tempo e recurso jogado fora”, aponta Daniel. E é aí que o Roda GC se destaca ao disponibilizar esse tipo de informação dentro do próprio celular. É comum, segundo ele, em reuniões do conselho, o membro da empresa não lembrar a cláusula com exatidão, mas por meio dessa tecnologia poder consultar na hora os seus documentos. Rápido e prático. “Na hora em que acessam a informação precisa, acaba a discussão”, revela Daniel. Segundo Daniel, o Roda GC é baseado em três pilares de governança: equidade,

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prestação de contas e responsabilidade corporativa.“Quando informo João, informo, ao mesmo tempo, Pedro. Não há informação privilegiada. E o Pedro pode ver se o João acessou a informação”, revela. O software tem filtros, claro, mas são criados de comum acordo entre os membros da organização. São eles que determinam quem tem acesso a quê. Por ter nascido após a era da nuvem, onde não precisa bancar os custos de armazenamento em sua própria estrutura, o Roda GC tem um preço mais competitivo do que os concorrentes e o torna mais acessível. Daniel explica que a cobrança do uso do aplicativo é feita por meio de pacotes de usuários de 10, 30 ou 100 pessoas e que eles são preestabelecidos segundo a necessidade de cada empresa. “A gente não cobra por usuário unitário, porque senão as pessoas acabam não considerando os membros das empresas que acessam pouco a plataforma para não encarecer o uso do serviço. Nosso objetivo é facilitar a informação para todos. Para a coisa funcionar bem, todos têm de ter acesso”, finaliza.

Jovens, MAS EXPERIENTES Quando tinham 12 e 14 anos, Daniel e Roberta perderam a mãe e viram cair em seus colos as ações da empresa do avô. “Nossa mãe era a sucessora entre seis irmãos. Meu pai era CEO, mas abdicou de seus direitos por nós para que a empresa permanecesse com os consanguíneos. Fomos emancipados e começamos a participar do conselho. Observávamos como ocorriam as contratações de sócios e conselheiros, como funcionava o conselho, quem mandava em quem. Acompanhamos acertos e desacertos. E é por isso que temos tanta bagagem, embora sejamos jovens. Entendemos que não há um sócio que queira o que o outro quer e que os conflitos são mais de natureza emocional do que prática. No fundo o que temos de ter em mente é que todos querem que a empresa dê dinheiro e prospere. Isso é ponto pacífico. Daí nossa ideia de criar o Roda: ajuda com transparência e respeito.”


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Terceiro Setor

TEXTO E FOTOS Marília Muylaert O que é felicidade plena para você? Estar com a minha família, praticar esporte e fazer o bem para a sociedade. Qual é o seu maior medo? Que as pessoas que eu amo sejam atingidas pela violência do dia a dia e eu não possa fazer nada.

Vai que dá! Prestes a completar 30 anos, Eduardo Lyra foi apontado pelo Fórum Econômico Mundial em 2014 como um dos 15 jovens brasileiros que podem mudar o mundo.

n

ada mal para um menino que nasceu em uma favela em Guarulhos, São Paulo, e viu, ainda em sua tenra infância, o pai entrar para o mundo do crime e ser preso. Sua mãe, no entanto, foi o contraponto da história, estimulando-o a sonhar alto. Sempre dizia que não importava de onde ele tinha vindo, mas sim para onde queria ir. Com o apoio dela, Edu escapou das estatísticas e não se envolveu com o mundo da criminalidade. Estudou duro e se formou jornalista. Lançou o livro Jovens Falcões (sucesso de vendas) onde escreveu a história de 14 jovens que nasceram em condições de extrema pobreza, mas, por determinação pessoal, transcenderam à origem humilde e conquistaram posições de destaque na sociedade. Quando estava prestes a assumir um bom cargo em uma multinacional, a

sensibilidade social bateu mais forte. Teve um chamado interno para olhar para o próximo. E foi assim que criou, em 2013, a Gerando Falcões, uma ONG de educação em Poá, município da Grande São Paulo, com foco em esporte, cultura, qualificação profissional e geração de renda. No momento, mais de 1.200 crianças e jovens estão sendo beneficiados pela ONG, que impacta em média 100 mil pessoas por ano. Segundo Lyra, o jovem deve se inspirar em alguém ou em algo para se mover, mas tão importante quanto se sentir motivado para crescer e lutar é ter ferramentas para fazê-lo. E isso a Gerando Falcões tem de sobra. Conheça melhor este jovem balzaquiano que é um exemplo de vida e inspiração para uma multidão que dia a dia só faz crescer.

Qual a característica que menos admira nos outros? Se deixar corromper; ser corrupto. Isso me entristece muito, pois o resultado é trágico para a sociedade que acaba recebendo educação, saúde e transporte de má qualidade. É simplesmente inconcebível. Qual a pessoa viva que mais admira? Em primeiro lugar, minha mãe. Minha grande inspiração e força. Depois o Obama. Acho que ele tem habilidades como líder que são raras. Admiro o jeito de ele lidar com a própria família. São equilibrados, unidos. Um desafio para quem vive num ambiente sedutor como o dele. Obama consegue dialogar com as pessoas num mundo tão diverso e faz com que elas se sintam próximas a


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ele. Sentem verdade naquilo que ele diz. Jorge Paulo Lemann não poderia ficar fora da lista. Ele é um grande filantropo e agrega muito na construção da minha forma de liderar; me deu uma bolsa para eu ir para Harvard, me provocou para aprender inglês saindo do zero e me instigou muito a sonhar

grande, sempre me fazendo pensar em como dar escala para o meu projeto e não transformá-lo em algo local. Ele sempre disse: “Vai que dá!”. Admiro quem ajuda não só com dinheiro, que é muito importante, mas quem dá algo a mais que vitamina a sua alma e nutre a sua esperança no futuro.

Qual a sua virtude mais superestimada? Várias pessoas dizem que eu tenho empatia e sensibilidade social suficientes para não esquecer que muitas pessoas vivem em situação de ampla vulnerabilidade e que é preciso haver alguém que jogue a corda para elas. Tento alimentar essa sensibilidade.

Em que ocasião você mente? Ai (pensativo); acho que às vezes acabo contando mentira ou tento não contar a verdade para as crianças. Para a Lara, minha filha do coração de 8 anos, acabo não dizendo tudo sobre como o mundo é. Qual a pessoa que você mais despreza?

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Desprezo as pessoas que causam matanças pelo mundo. Hitler e todas as outras pessoas que mataram movidas, em especial, por uma motivação ligada ao preconceito. Acho isso desprezível. Qual a qualidade que você mais admira em uma pessoa? A capacidade de se doar por completo e


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Terceiro Setor perdoar o sofrimento. Jesus, por exemplo, chegou a ponto de morrer por nós. Uma prova surreal de amor ao próximo. Mandela também me impressiona. Conseguiu perdoar aqueles que o prenderam por 27 anos. Ao sair da prisão, disse: “Se não perdoar as pessoas que me prenderam por todos estes anos eu vou continuar preso para sempre”. Perdoar é muito difícil. Envolve a alma. Quais são as palavras ou frases que você mais usa? “Não importa de onde você vem. Na vida o que importa é para onde você vai”; “tamo junto!” e “vai que dá”. O que te faz feliz? Os meus momentos de maior alegria têm sido aqueles em que eu consigo colocar um jovem no mercado de trabalho. Sempre me emociono porque este jovem, geralmente, vive numa situação de ultrapobreza; alvo do tráfico de drogas. E conseguimos que acabe indo trabalhar em empresas de ponta, em endereços nobres de São Paulo, junto de profissionais que estudaram em Harvard, por exemplo. Isso é surreal! O momento em que se derrubam muros e se

constroem pontes. Não há nada que me faça mais feliz do que quando a gente vê que colocou um par de asas no jovem e ele conseguiu voar! Também fico extremamente feliz todas as vezes em que conseguimos colocar um presidiário no mercado de trabalho. Qual o talento que você gostaria

percebi que tudo era possível e que eu poderia dar um encaminhamento pessoal da minha própria vida indo para uma multinacional, mas resolvi criar o Gerando Falcões. Foi a decisão acertada de olhar para o outro. Se você pudesse hoje reencarnar em outra pessoa, quem gostaria de ser?

Não poder colocar comida na mesa para os filhos. É uma combinação de impotência e vergonha social muito grande. Na infância vivi isso, de às vezes fazer só uma refeição por dia; ou almoçava ou jantava. Aquilo para o meu pai era terrível. Machucava muito. Mas ele tinha uma habilidade enorme de

“Sempre me emociono porque este jovem, geralmente, vive numa situação de ultrapobreza; alvo do tráfico de drogas. Numa linha tênue entre trabalhar para o tráfico ou ir para o mercado de trabalho.“ de ter que acha que não tem? Gostaria de ser um melhor gestor. Apesar do meu esforço, queria ter uma capacidade maior de cobrança e de acompanhamento. Não tive este background, não é da minha natureza. O que você considera a sua maior conquista? Minha maior conquista foi o momento em que

Gostaria de ser um artista. Michelangelo; John Lennon ou Drummond de Andrade. Imagine produzir arte e tocar o coração das pessoas? E também Martin Luther King. Apesar do nível elevado de sofrimento, ele foi um grande. O que você considera ser o mais baixo grau da miséria?

contornar a situação com criatividade. Inventava que éramos convidados para jantar na casa dos amigos da comunidade. Chegava sempre bem próximo da hora do jantar e conquistava a todos com a sua simpatia. E, dessa forma, éramos convidados a repartir o pão. Na época não desconfiava de nada. Hoje eu sei. Lembra o filme A Vida é Bela, de Roberto Benigni.

Qual é a sua atividade preferida? É derrubar muros e construir pontes. Me relacionar com pessoas, especialmente o mais diferentes de mim possível. Que cresceram em lugares diferentes, comeram comidas diferentes, viajaram para lugares diferentes. Minha paixão é juntar o diferente e fazer uma coisa bonita pelo meu país. Liderar para mim é isso. Qual a sua característica mais marcante? A persistência. Se eu estiver numa mesa eu aceito que o outro tenha viajado mais do que eu, estudado mais, conhecido mais pessoas, mas ele não pode ser mais persistente do que eu. É isso que me move. Acreditar no 1% de chance, quando 99% diz que não é possível. Quais são os seus escritores favoritos? Não sei, mas gostei de ler a biografia da Olga (Fernando Morais), do Mandela e do Steve Jobs. Também gostei muito do livro Sonho Grande do Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira. No momento estou lendo uma biografia sobre o Churchill. Adoro biografias.


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Qual o seu maior arrependimento? Não ter começado a estudar inglês cedo. O que te move? Causar uma transformação no meu país. Acho que o povo brasileiro merece algo muito maior e uma vida muito melhor do que a que tem hoje. Por que o nome

Gerando Falcões? Porque falcão é o jovem que não se limita ao pó do chão. Ele voa. E quem voa consegue enxergar tudo de cima e, quem enxerga de cima, em vez de enxergar crises, dilemas, consegue enxergar oportunidades. Como influenciar jovens tão carentes em um mundo tão

desigual? Qual é o mote da virada? Acho que são duas coisas: primeiro, compartilhar inspiração, compartilhar uma história, uma crença que faça este jovem ser movido por ela, Mas não se deve apenas compartilhar a crença, tem de colocar na mesa uma ferramenta em que ele, ao se apropriar

dela, vai de fato mudar a sua vida. Por isso é que no Gerando Falcões a gente oferece diversos cursos, desde aula de programação até de sommelier. Como mudar a cabeça dos políticos brasileiros? (risos) Votando em outros políticos! Acho que as pessoas boas do país

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precisam ingressar na política. Se elas não o fizerem, vai sempre haver espaço para gente ruim ocupar o lugar. Elas têm de aparecer e a população tem de reconhecê-las como boas para haver a tão sonhada renovação. Tem de mudar! Você se veria como esse ar novo na política no Brasil?


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Terceiro Setor Tem pretensão política? Essa pergunta é difícil, se eu falo que não, por hoje estar em uma posição de liderança, desestimulo outros jovens a ingressar na política. Me vejo contribuindo muito com o país. Mas sou muito realizado como empreendedor social. Não pretendo ir para a política, mas não quero que

Como uma pessoa normal contribui para a sua ONG? Como voluntário, Como você vê a sua participando de ONG em 10 anos? programas, visitando Eu vejo Gerando Falcões no Brasil inteiro a Gerando Falcões ou criando um legado de doando. As pessoas superação da pobreza acham que filantropia tem de ser feita por extrema e criação de muitas oportunidades caras como o Bill Gates e Jorge Paulo Lemann. para as pessoas Temos de criar um acessarem renda e modelo de muitas dignidade. E quem pessoas doando sabe vê-la espalhada pouco. Uma das pelo mundo. os jovens não sonhem com isso.

maneiras de a pessoa doar é se tornar amiga da comunidade por meio de um programa que criamos. Ela se inscreve no nosso site (gerandofalcoes.com), faz uma assinatura e passa a doar um valor pequeno que não vá fazer falta no dia a dia dela, mas que vai resultar numa contribuição grande na comunidade. Para a gente virar o Brasil,

o Brasil tem de doar de forma pequena, mas recorrente. Cultura de doação, independentemente se for para a Gerando Falcões ou não. Há uma pesquisa que aponta que pessoas que vivem com 2 mil reais ou mais já estão melhores do que 65% da população brasileira. Necessitamos de ajuda, sim.


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O grande negócio da sua empresa começa pela comunicação. Em 4 anos, a Magu revolucionou o jeito de comunicar de 40 grandes marcas. Venha fazer barulho com a gente.

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Destinos

TEXTO Marília Muylaert | FOTOS Divulgação

Autêntica experiência toscana Situado entre Siena e Florença, na pequena cidade de Tavarnelle Val di Pesa, o hotel e spa Castello Del Nero é uma atração à parte. Por si só, um destino que vale a pena ser visitado. Um tesouro sofisticado e escondido.


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a

meia hora de Florença ou de Siena, o hotel Castello Del Nero, datado do século 12, foi totalmente reformado em 2006 e é considerado o mais luxuoso da região do Chianti, conhecida pela qualidade dos vinhos que levam o seu nome. Há por trás desta grande empreitada, um imigrante italiano que, embora tenha nascido nos Estados Unidos e more hoje em Nova Iorque, nunca deixou para trás a Itália, terra natal de seus ancestrais. Robert T. Trotta é um homem de negócios da área imobiliária, tem mestrado em história europeia e paixão por história da arte.

Belvedere toscano. O hotel ocupa uma área de 740 hectares em pleno coração da região mais cobiçada do país.


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Destinos

A história da propriedade Leading Hotels of the World remonta ao século 12, quando se tornou a casa de campo dos Nero, família nobre florentina que ficou com o imóvel até a data, ocasião em que um membro da família casou-se com o marquês de Torrigiani, outra família influente da época. Foi a partir daí que a produção de azeite e vinho se modernizou na propriedade de 740 acres (cerca de 3 quilômetros quadrados). Trotta ao adquirir o imóvel no ano 2000, quis fazer uma reforma à altura dos nobres que ali viveram e não poupou esforços para chegar a um resultado autêntico que remontasse aos tempos áureos, mas que incorporasse requisitos de um hotel luxuoso. A reforma durou três anos e contou com vasta colaboração da Comissão de Belas Artes italiana, além do designer Alain Mertens que decorou as casas de Madonna e Sting, entre muitos famosos. Chegar lá é um impacto. O hotel, extremamente bem cuidado, tem apenas 50 quartos, cada um com uma decoração diferente, mas todos com vista para as oliveiras e parreiras a perder de vista no campo. Parece que se está entrando em outra época. A luminosidade do local, própria da Toscana, encanta. O chão de terracota é marca registrada da região, mas a restauração dos afrescos originais das paredes da propriedade nos faz sentir realmente em outra era. Isso sem contar os brasões das famílias que por lá passaram.Trotta construiu um spa superbem equipado no subsolo do hotel. As massagens são incríveis. Tudo é sofisticado, sem ser pedante. Todos os funcionários do hotel são da região e primam pela boa educação e cordialidade. Por lá a comida também é assunto levado a sério. Como se já não bastasse estar na Toscana, onde todo o ingrediente é especial e extrafresco, o hotel conta com

um restaurante 1 estrela Michelin. O La Torre oferece uma experiência gastronômica inesquecível. Serve um menu escolhido pelo chef para deleite do hóspede a cada prato que chega. O mais incrível é que o hotel oferece aulas de culinária com o chef estrelado. Mas não se assuste! Ele ensina a preparar pratos típicos da região, tais quais macarrão à bolonhesa e tiramisu. Todos os ingredientes são locais e a massa é feita na hora, cortada com a faca do chef. Parece difícil, mas com ele do lado não é. E o resultado é servido a você no restaurante com vista para as colunas e ciprestes da Toscana. Quando você se dá conta, já está totalmente entregue a uma rotina nada estressante, onde a beleza do local, somada à gentileza dos funcionários, te faz reviver a infância, onde as horas vão passando e você, sem culpa, vai se entregando ao dolce far niente.

A PRODUÇÃO

Saiba mais: www.castellodelnero.com

Mão na massa. O hotel oferece aos hóspedes aulas de culinária com o chef estrelado Michelin.

vinícola

A produção vinícola na Toscana teve início com a ocupação da região e abasteceu por séculos as famosas festas romanas. O vinho tornou-se, então, uma tradição à mesa. Na década de 1970, as vinícolas receberam investimentos em tecnologia e passaram a produzir novos produtos. Os rótulos mais procurados são o Chianti Clássico (best-seller no mundo todo), o Montepulciano (considerado superior ao Chianti) e o Brunello di Montalcino (tinto de uva Sangiovese). É comum os vinicultores abrirem suas propriedades para visitas turísticas e degustações.


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O QUE HÁ DE ESPECIAL

na Toscana

Por que a Toscana, região central da Itália, é uma espécie de queridinha dos turistas do mundo inteiro? Sem medo de errar, deve ser porque lá as pessoas curtem mais a vida, comem uma das melhores comidas do mundo e bebem excelentes vinhos. E, além do mais, tem seis destinos eleitos pela Unesco como patrimônios culturais da humanidade. São eles: Florença; o centro histórico de Siena; a praça da Catedral de Pisa, incluindo a famosa torre inclinada; San Gimignano; a medieval Pienza; e Val d’Orcia. A paisagem é linda, caracterizada por vastos campos cheios de ciprestes centenários, oliveiras e videiras. Vale destacar que o conhecido Chianti é de lá. Foi na Toscana também que surgiram os mestres da Renascença e gênios como Leonardo da Vinci, Michelangelo, Dante Alighieri e Galileu, entre outros. Seu ponto de partida é Florença, a capital. A cidade do poderoso clã Medici choca pela quantidade de arte por metro quadrado. E não tem como não ficar boquiaberto com a beleza das construções, tais quais a catedral Santa Maria del Fiori com o magnífico Duomo de Brunelleschi ou com a Galleria degli Uffizi, o melhor museu da região. E a comida? Come-se bem em qualquer lugar, mesmo no boteco mais chinfrim de beira de estrada. É que os ingredientes são regionais, sempre frescos. A burrata (queijo de mozarela cremoso) com tomate é pedida certeira, assim como o prosciutto crudo e a famosa bistecca alla fiorentina (corte tradicional de carne da região que fica localizada no início do T-Bone, também conhecido como chuleta).

Patrimônio ao alcance dos hóspedes Os afrescos foram recuperados com supervisão da Comissão de Belas Artes italiana. Olhar para o forro de uma das 50 suítes é como dormir sob um tesouro digno de museu. À esquerda, escada preservada da construção orginal, do século 12.


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Entrevista

TEXTO Lidice-Bá | FOTO Rafael Cusato

Ambiente igualitário, melhor performance Conheça essa e outras ideias da economista Dulcejane Vaz, que assumiu o cargo de assessora da vice-presidência do Banco do Brasil para ser head do programa Equidade de Gênero com uma missão que pode transformar o mundo ao redor em outro melhor.

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Qual é a sua missão no cargo de assessora da vice-presidência do Banco do Brasil para ser head do programa Equidade de Gênero? Promover a Equidade de Gênero é uma das prioridades estratégicas do atual CEO, Paulo Rogério Caffarelli. Nesse contexto, minha missão é relacionar e articular com as diversas áreas, internas e externas, para alinhar práticas, propor iniciativas de sensibilização e conscientização sobre a importância do equilíbrio entre homens e mulheres nos cargos de liderança — lembrando que esse tema é transversal e envolve não somente a área de gestão de pessoas, embora esta seja fundamental para o sucesso do Programa.

primeira mulher a se graduar no ensino superior brasileiro foi a gaúcha Rita Lobato, formada em 1887 pela Faculdade de Medicina da Bahia. Hoje, as faculdades de engenharia civil, direito e medicina — as três carreiras mais bem remuneradas do país, de acordo com o Ministério do Trabalho — têm cada vez mais mulheres. Segundo uma pesquisa da empresa de consultoria IDados, na última década elas se tornaram maioria no curso de direito (de 49% dos alunos em 2005 passaram a ser 55%); cresceram de 21% para 30% nas aulas de engenharia civil; e de 50% para 57% no curso de medicina. Mas não é porque hoje a mulher estuda, trabalha, vota — e se elege presidente da República — que a luta pelos seus direitos já avançou o suficiente no Brasil. “O maior desafio da mulher nas próximas décadas é não retroceder. Não achar que a causa já atingiu o objetivo e desmobilizar”, afirma a economista mineira Dulcejane Vaz. Funcionária de carreira do Banco do Brasil há quase 30 anos, recentemente Dulcejane assumiu o cargo de assessora da vice-presidência para ser head do programa Equidade de Gênero. Na entrevista a seguir, ela explica qual é sua missão nesse cargo, enumera as barreiras que impedem a ascensão das mulheres Como surgiu o seu no mesmo ritmo de seus pares masculinos e revela como os interesse pelo tema liderança feminina? homens podem contribuir para a causa.

Ele é fruto da maturidade. Com o tempo, a presença rarefeita de mulheres a partir de determinados níveis da organização começou a me incomodar e percebi que eu poderia ser uma agente de transformação, abandonando o papel de vítima e assumindo o protagonismo de um movimento com propósito que poderia inspirar muitas outras pessoas. Já sofreu por ser mulher no trabalho? Trabalho no setor financeiro, mercado tradicional e cujas regras foram feitas pelos homens para os homens. Não é fácil mudar isso. Quais as principais barreiras que impedem hoje a ascensão das mulheres no mesmo ritmo de seus pares masculinos? Há o trinômio


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clássico — casamento, maternidade e a dupla jornada de trabalho. Mas o que dá origem a essa percepção equivocada sobre o real potencial das mulheres é um mecanismo denominado “vieses inconscientes de gênero”. É um conjunto de estereótipos que mantemos sobre as pessoas a partir de situações que vivenciamos ao longo da vida. Esse processo é tendencioso e faz com que enxerguemos as mulheres não como elas são, mas como

queremos enxergálas. No ambiente corporativo, essa barreira restringe substancialmente as oportunidades de atuação da mulher ao percebê-la muito aquém de sua real capacidade de performar, liderar e entregar resultados. Ou seja, precisamos focar em desconstruir o estereótipo de gênero, para que transformações concretas ocorram na cultura organizacional das empresas e mais mulheres assumam os altos cargos de liderança.

“Não somos contra o homem. Somos a favor das mulheres”, diz a empresária Luiza Trajano. Qual é a sua leitura dessa colocação? Participo do Grupo Mulheres do Brasil e comungo dessa afirmação. Há um erro grande de contrapor o machismo ao feminismo. O machismo prega a superioridade masculina, enquanto o feminismo prega a igualdade de direitos e oportunidades entres homens e mulheres. Ao afirmar que somos a favor das mulheres, há

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“Precisamos focar em desconstruir o estereótipo de gênero para que transformações concretas ocorram na cultura organizacional das empresas e mais mulheres assumam os altos cargos de liderança.”


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Entrevista

gêneros é quando, na infância, meninos “mandões” são considerados líderes, já meninas “mandonas” são tidas como “chatas”. Qual é (ou deveria ser) o papel dos pais para que as meninas Qual é o maior desafio que a mulher possam ser vistas naturalmente como contemporânea terá que vencer nas próximas décadas? Não retroceder. Não achar que a causa já atingiu o objetivo e desmobilizar. As estatísticas mostram que ainda há muitos desafios a superar: as mulheres ocupam menos de 10% das cadeiras de conselhos de administração; menos de 10% dos cargos eletivos do Congresso; menos de 20% dos cargos de diretoria das grandes organizações. No Brasil, a cada uma hora e meia, uma mulher morre vítima de violência e cerca de 50% das líderes também? profissionais que A escritora nigeriana são mães perdem Chimamanda Ngozi o emprego até Adichie escreveu dois anos após o um livro interessante retorno da licençade como criar maternidade. Lutamos não porque crianças feministas [Para Educar queremos, mas Crianças Feministas: porque precisamos. Um Manifesto, Companhia das Um exemplo da Letras]. Está desigualdade de um olhar atento no sentido de mobilizar a sociedade para a importância de incluir, respeitar e apoiar as mulheres em sua jornada de crescimento.

comprovado que o estereótipo de gênero é um processo histórico, social e cultural, e os pais têm uma grande responsabilidade em fazer suas filhas se sentirem confiantes, permitindo que exerçam os papéis que desejam e

desconstruindo o estereótipo de que a rua, por exemplo, seria espaço dos meninos — enquanto as meninas ficariam confinadas em casa, brincando com suas bonecas. Acrescenta-se ainda o movimento espontâneo e vindo

“Entender que a maior presença feminina nos espaços de decisão e de poder traz resultados econômicos concretos. Ambientes igualitários geram maior performance financeira, decisões empresariais de maior qualidade, mais inovação. Todos saem ganhando.” criando condições para que isso aconteça. O projeto conjunto da ONU Mulheres e o Instituto Mauricio de Sousa usa os personagens da Turma da Mônica para disseminar a ideia de que o lugar de menina é onde ela quiser,

de várias direções de “desprincesamento” de meninas, oferecendo a elas outras referências inspiradoras. Qual seria a melhor contribuição do homem? Apoiar a mulher nessa jornada.

Entender que a maior presença feminina nos espaços de decisão e de poder, além de ser uma questão de direito, traz resultados econômicos concretos onde todos ganham. Estudos diversos comprovam que ambientes igualitários geram maior performance financeira, decisões empresariais de maior qualidade, mais inovação. Todos saem ganhando. Qual é a melhor contribuição que a mulher pode dar à causa feminista? Ter consciência do seu poder e agir em sintonia com sua essência. Há um provérbio judaico que diz: ”As mulheres são metade da população do mundo e mães da outra metade”. Isso mostra a força do feminino. Como não se tornar um “ecochato” do feminismo? Praticando a empatia. Tomando o cuidado para não achar que somos donas da verdade e que só há um ponto de vista: o nosso. Precisamos aprender a nos colocar no lugar do outro.


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Insiders

TEXTO Marília Muylaert

Cafe Luxembourg Bem pertinho do museu Guggenheim, encontra-se o Cafe Luxembourg, um pedacinho de Paris em Nova Iorque. O bistrô tem um quê do Spot, restaurante de São Paulo; é moderno e clean, mas tradicional em seu menu: depois de degustar um autêntico Kir Royale, é possível pedir um apetitoso Steak Tartar com salada e fritas como entrada e Moules Frites como prato principal. Não tem como não se sentir na França. É um restaurante tradicional de Nova Iorque pouco frequentado por turistas, mas onde se pode encontrar pessoas famosas. Bem descolado e delicioso!

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Cafés descolados na Big Apple Por mais que você conheça Nova Iorque, a cidade, assim como São Paulo, muda constantemente e é sempre bom chegar lá munido de dicas de locais. E, claro, fazer reserva com antecedência.

Site: www.cafeluxembourg.com Reservas: (+1)(212) 873 7411

Cafe Sabarsky Uma das atrações da Neue Galerie — museu da arte alemã e austríaca (que por si só já é uma grande dica) — é o Cafe Sabarsky onde é possível experimentar pratos típicos austríacos. O ambiente é muito chique e remonta ao século 19. O restaurante serve o famoso café vienense com suas tortas incomparáveis e fica aberto desde às 9 horas da manhã. Vale a pena experimentar a salada Paprika-Wurstsalat mit roten Zwiebeln & 18 Apfel-Birnen-Vinaigrette que tem entre seus ingredientes nozes, vinagrete de maçã e pera. A Neue Galerie é conhecida pela sua vasta coleção de arte alemã e austríaca. Alguns quadros de Klimt, autor do quadro “O Beijo”, estão expostas lá.

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Café Boulud

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Site: www.neuegalerie.org Reservas: (+1) (212) 288 0665

Construído em 1926 como um hotel residência, o Surrey original foi a casa das celebridades mais excêntricas de Nova Iorque, entre elas, JFK e Bette Davis. Hoje, o The Surrey, hotel butique Relais Chateaux, reformado, mantém a discrição do hotel tradicional no Upper East Side, região ultrassofisticada da Big Apple, e é isso que atrai até hoje celebridades do porte de Bill Clinton. O hotel abriga uma vasta coleção de arte moderna e fica bem pertinho do The Metropolitan Museum of Art. Uma de suas atrações mais notáveis é um quadro/tapeçaria da top model inglesa Kate Moss feito pelo artista Chuck Close. Outro destaque do hotel é o Café Boulud (1 estrela Michelin), simplesmente imperdível. Necessita fazer reserva. Site: www.thesurrey.com | Reservas: (+1) (212) 288 3700


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MARÇO DE 2017

Eduardo Lyra, 29 anos, eleito pelo Fórum Econômico Mundial como um dos 15 brasileiros que podem mudar o mundo e pela revista Forbes como um dos jovens mais influentes do país, fundador da ONG Gerando Falcões, emocionou os presentes no primeiro encontro do FBFE do ano, em 22 de março, em São Paulo. O jovem falou sobre liderança, perspectivas, educação e necessidade urgente de união entre as classes sociais do país para termos um Brasil melhor. Entre os presentes estavam Cassio Guimarães, diretor de Private Banking do Banco Fator, patrocinador oficial do evento, Daniel Maranhão, um dos diretores da Grant Thornton, e Marcelo Barros, diretor de Corporate Sales da Audi. Durante o evento, houve sorteio de um final de semana no Hotel Unique pela agência Teresa Perez Tours. O jantar foi harmonizado pela Grand Cru com os vinhos Felino. A Omega, que também patrocinou o encontro, ofertou livros com o histórico da marca e expôs itens de seu portfólio de relógios.

“Minha mãe conseguiu colocar em mim a cidadania. É o que há de mais rico no ser humano. Ela utilizava o cenário em volta para me dizer que eu podia mudar aquilo. Com isso ia despertando dentro de mim meu senso de responsabilidade com aquele espaço, com aquelas pessoas, e eu não deveria esperar pelo outro.”

FOTOS GABRIEL BESSA

FBFE São Paulo

Eduardo Lyra, da ONG Gerando Falcões, foi o palestrante da noite.

Adriano Iódice.

Bruno Setúbal.

Destaque da fala de Eduardo Lyra durante a palestra. Nelson Cury Filho e Maria Helena Zacharias Cury.

Ana Andrade Cury e Heloísa Rios.

Lucas Diniz Abrão.

Rodrigo Yazbek, Anthony Furmanovich, Guilherme Americano Vidigal e André Foz.


ABRIL DE 2017

FBFE Ribeirão Preto O restaurateur Tullio Santini Junior abriu as portas do seu novo empreendimento, o Cappo Espaço, para o FBFE Ribeirão Preto, realizado em 5 de abril. A Grant Thornton se uniu à Audi Eurobike e à recém-criada B3, resultante da integração das operações da BM&FBovespa com a Cetip, e trouxeram ao encontro o economista Milton Dallari. Um dos responsáveis pelo planejamento e implementação do Plano Real no Brasil, durante o governo FHC, o consultor empresarial palestrou sobre o tema “Os Desafios da Empresa Familiar em Época de Crise”. A Grand Cru harmonizou o menu de Santini com os vinhos argentinos da vinícola Escorihuela Gascón. A Teresa Perez Tours ofereceu diárias no hotel Unique Garden.

Nelson Cury Filho, fundador do FBFE, abre o evento.

Otávio Roxo Nobre Barreira.

José Roberto Pereira Alvim.

Marcelo Ometto e Clemente Lunardi.

FOTOS MURILO CORTE

“Como as crises comprovadamente são propícias ao crescimento, em tempos bicudos a perseverança é que manterá ativa e forte a empresa familiar.” Destaque da fala de Milton Dallari durante a palestra.

MAIO DE 2017

Túllio Santini Júnior, o anfitrião da noite.

Lourenço Biagi.

Jorge Dourado, Luiz Branquinho e Karla Branquinho.

Nelson Cury Filho e Ruben Fontes.

José Alves Filho.

Ana Gequelin Fontes e Larissa Câmara.

Marco Antonio Bologna, presidente do Banco Fator, falou aos empresários do Centro-Oeste. “Quando a empresa familiar está se profissionalizando deve haver paciência e diálogo entre CEO, fundadores, sucessores e acionistas para que se chegue ao alinhamento necessário.” A Grand Cru harmonizou o jantar oferecido por Ruben Fontes e a Teresa Perez Tours sorteou noites no Palácio Tangará de São Paulo. Patrocinaram o evento Audi, Banco Fator, B3 (nascida da união entre BM&FBOVESPA e Cetip) e Grant Thornton, uma das maiores empresas de auditoria do mundo.

“Não existem CEOs milagreiros, mas existem pessoas profissionalmente preparadas para administrar.” Marco Antonio Bologna, do Banco Fator

Marco Antonio Bologna.

FOTOS GEOVANA CRISTINA DA PURIFICAÇÃO

FBFE Goiânia


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FOTOS GABRIEL BESSA

JUNHO DE 2017

FBFE Mulher Na 2ª edição do FBFE Mulher SP, Daniela de Rogatis diz que o papel feminino é estratégico na transmissão de valores às futuras gerações. “Quanto maior a empresa e o patrimônio da família empresária, maiores serão os desafios aos herdeiros. Daí a advertência da educadora, preocupada com os efeitos perniciosos do ultraliberalismo: liberdade ilimitada, proteção exagerada e serviçais fazendo tudo para crianças e adolescentes.” O evento foi realizado com o apoio de empresas parceiras, como Urban Remedy, Grand Cru e Gold & Ko. A Teresa Perez Tours sorteou voucher para o hotel Bahia Vik, no Uruguai. Durante o evento foi exposto o Audi SUV Q3. A Audi sorteou vouchers de descontos aos presentes.

Marcelo Barros, Paula Cadette e Nelson Cury Filho.

Sabrina Cury, Gisele Avelino Abrão e Júlia Toledo.

Daniela de Rogatis.

Adriana Netto e Karina Diniz.

Valéria Natal e Nelson Cury Filho.

Wallace Soares, o anfitrião da noite.

Luciana Mertens, Flavia Laborne Soares e Marcela Carvalho.

“O papel das mulheres se torna estratégico daqui em diante na preparação dos filhos para os desafios que o século 21 lhes colocará, ainda mais quando se trata de herdeiros de famílias empresárias” Daniela de Rogatis, fundadora da Rogatis Family

JUNHO DE 2017

O economista Milton Dallari foi o palestrante da segunda edição do FBFE BH. Dallari sugeriu às famílias empresárias que comecem investindo na implantação de governança corporativa, como conselho deliberativo, política de cargos e meritocracia, governança familiar e na criação do conselho de família e acordo de acionistas. Para Daniel Maranhão, da Grant Thornton, os temas debatidos nos eventos promovidos pelo FBFE “têm o total apoio e alinhamento com a visão da empresa. Nós ajudamos empresas familiares em suas diversas fases com diagnósticos para entender suas necessidades e implementação de plano estratégico, governança corporativa e sucessão familiar”. Banco Fator, Audi, Grand Cru e Teresa Perez Tours apoiaram o evento.

FOTOS CARLOS OLIMPIA

FBFE Belo Horizonte

José Milton Dallari.

Wallace Soares e Raphael Silva.

Jaime Morais, Henrique Freire e Emerson Murta.



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