AMEIzing 6

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EDIÇÃO 6 ANO 2 | 2013

R$12

T E N D Ê N C I A | D E S I G N | A R Q U I T E T U R A

KAHLO F RI D A


Foto: Edison Garcia

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SUMÁRIO

EXPEDIENTE

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DIRETORA

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TIPS

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} Quer rachar a conta do jantar? Você pode, sem ser deselegante. Conheça o Dois por Um.

AMEIZING DISHES

} Gisela Berland conta a incrível trajetória do mais apaixonante dos ingredientes: o açúcar.

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CAPA

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AMEIZING PEOPLE

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FASHION DESIGN

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} Direto do México, vida e arte da mais latina das pintoras: Frida Kahlo na intimidade. } Revelações e história da estilista Coco Chanel: um legado de elegância que mudou o cenário da moda. } Mais de um século de evolução: como surgiu e como mudou a vedete da praia. A longa estrada do biquíni.

PELÍCULA

} 5 mulheres africanas ilustres dividem experiências num documentário produzido por brasileiros.

42 44

LIQUIDIFICADOR SEM TAMPA

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} “Mulheres devem ser amadas, não compreendidas.” Descubra o autor da frase que inspirou Jerome Vonk.

TENDÊNCIA

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DETALHE EM FOCO

50

} Sem ele, a mulher moderna não existiria. Dos egípcios aos dias de hoje, a breve história do absorvente. } A periferia da capital esconde um tesouro que muito conforto trouxe à civilização.

Marília Muylaert

PUBLISHER E EDITORA

Marília Muylaert EDITOR

Gustavo Curcio REDAÇÃO Alexandra Gonsalez, Priscilla Kanda e Roberto Muylaert (texto); Domenico Zecchin, Gisela Berland, Jerome Vonk e Regina Gauer (colaboradores); Dinho Leite (pesquisa fotográfica); Nina Zakarenko (revisão) ARTE Gustavo Curcio (projeto gráfico) Rodney Monti (design) DEPARTAMENTO COMERCIAL Marília Muylaert (diretora) Maria Natália Dias (coordenadora) REPRESENTANTES COMERCIAIS BRASIL Adelino Pajolla Jr. Ribeirão Preto | SP — 16 3931 1555 Charles Marar Brasília | DF — 61 3321 0305 Dídimo Effegen Vila Velha | ES — 27 3229 1986 Lauro J. S. Alves Rio de Janeiro | RJ — 21 2223 3298 Maria Marta Craco Curitiba | PR — 41 3223 0060 Rogério Cavalcanti Álvares Recife | PE — 81 3222 2544 REPRESENTANTES COMERCIAIS EXTERIOR Daniel Coronel Montevidéu | Uruguai — 59 82 9005 775 Conover Brown Nova Iorque | EUA — 1 212 244 5610 ADMINISTRAÇÃO César Luiz Pereira e Daniela Sierra de Paula

BOB MUY

} E se eu fosse mulher? Roberto Muylaert responde à pergunta dos editores: quero ser Ilze Scamparini.

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DIRETOR

PUBLISHER & EDITOR

Roberto Muylaert

GARIMPO

} Lançamento revolucionário da Toyota e uma seleção de objetos femininos de encher os olhos.

10

42

BLOOMBERG CONTRIBUTOR|GETTYIMAGES

EDIÇÃO 6 | ANO 2 | 2013 | R$ 12

RMC EDITORA

Rua Deputado Lacerda Franco, 300 o 18 andar| CEP 05418-000 — São Paulo, SP Telefone (11) 3030 9357 Fax (11) 3030 9370 Pré-impressão: Trade Comunicação Impressão: W Gráfica e Editora AMEIZING 6 é uma publicação mensal da RMC Editora. Não é permitida a reprodução parcial ou total das matérias sem prévia autorização dos editores. AMEIZING não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. Matérias não solicitadas, fotografias e artes não são devolvidas.

ASSINATURAS | CONTATO

11 3030 9357

ameizing@rmceditora.com.br Distribuição Mailing VIP e assinaturas


fotos arquivo pessoal

EDITORIAL

A

AMEIZING PEOPLE

ssim que chegamos ao Museu de Arte Latino-Americana, em Buenos Aires, meu filho, que na época tinha uns 10 anos, empacou: “Mãe, museu de novo não!” Depois de entrar a contragosto, logo se distraiu com um quadro. “O Abacoru!”, gritou excitado. Apesar do “c” em vez do “p”, o quadro de Tarsila fascinou. O Abaporu desarmou Theodoro, que passou a observar as obras livre da implicância inicial. Quando vi o Auto-retrato com Macaco e Papagaio, de Frida Kahlo, perguntei: — De quem é este quadro? — É daquela bigoduda... Eu sei, eu sei! Luiza, minha filha mais velha, interrompeu: — É da Frida Kahlo, artista mexicana que sofreu um acidente de trânsito. Ficamos ali observando o retrato, que, além do buço, acentuava a “monocelha”, como dizem os adolescentes, com ojeriza. Mais tarde, avistei um quadro de Diego Rivera, muralista mexicano. Mais uma vez chamei a atenção das crianças: “Vejam o quadro do marido da Frida!” Antes de explicar quem era, Theo, incrédulo, no estilo “Rolando Lero”, disparou: — Não acredito. A Frida casou? Não resistimos à gargalhada. Brincadeiras à parte, a artista, que durante sua vida sofrida pintou cerca de 200 quadros, metade deles autobiográficos, é fantástica. Segundo ela própria, a quantidade de autorretratos se justificava pelo longo período em que ficava sozinha. “Sou o assunto que melhor conheço.” Bonita ou feia? Para mim, linda, forte, intensa: ameizing people que merece o destaque desta capa! ¯

T

DOIS DIAS DE REFLEXÃO

enho um critério próprio para classificar filmes. Quanto mais tempo fica na cabeça, melhor. Pois Mulheres Africanas surpreendeu em todos os sentidos. Martelou a mente, forte e muito. Confesso que não sou fã de documentários, mas a história de vida das ilustres nativas do continente esquecido é de arrepiar. Dentre elas, encantou sobremaneira o depoimento da liberiana Leymah Gbowee. O relato da guerra civil que durou até 2003 mostra um mundo mais do que primitivo. Mas, em meio aos instintos selvagens, conforta a existência de “Leymahs”, espero, por toda parte. Dá para imaginar que, em pleno século 21, cerca de 300 mil indianas não sabem o que é um simples absorvente? Chocante. Egípcias, há mais de 2 mil anos, já serviam-se de modelos primitivos feitos de folhas de papiro. Por esse e outros motivos, o sectarismo do design é, para mim, o mal do século. E, por incrível que pareça — acreditem, não é demagogia! —, você verá, aqui, um paradoxo. Coco Chanel, a diva do famoso e homônimo No 5, criou a mais chique das fragrâncias com um único objetivo: promover o contato das mortais com os produtos da grife. Para as Polianas, a história é prova viva da conquista pela paciência. Aos poucos, afrouxam-se os laços e vão-se as barreiras. Foi assim, por exemplo, que o comportado duas-peças transformou-se em biquíni. Assim, fechamos esta coletânea ameizing. Aproveite nosso mix e inspire-se! ¯

Marília Muylaert

Gustavo Curcio

mariliamuylaert@rmceditora.com.br

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TOYOTA

NOVO MÍNI

TOYOTA LANÇA PROTÓTIPO DE ULTRACOMPACTO COM ALTA PERFORMANCE E DESEMPENHO

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POR GUSTAVO CURCIO

rospectando o futuro da mobilidade, a marca japonesa apresentou recentemente no Salão de Genebra, na Suíça, o i-Road, triciclo conceitual elétrico com autonomia de 50 quilômetros. A máquina de dimensões reduzidas (2,35 m de comprimento, 1,44 m de altura e 1,70 m distância entre-eixos) trafega numa velocidade média de 30 km/h. Para abastecer o veículo, basta plugá-lo na tomada. Nas curvas, inclina bastante e o balanço é controlado por um contra-esterço automático da roda traseira. Não se sabe quando e se o modelo será produzido em série. ¯


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isponível nas melhores livrarias, o guia de bolso Dois por Um - Ame sua Cidade é um convite à degustação pela metade do preço. A proposta da coletânea — que é sucesso há cinco anos na Suíça — é reunir os principais nomes da gastronomia e serviços paulistanos apropriando-se do famoso “leve dois pague um” da linguagem corrente do varejo. Mas, popular, só o conceito. Para adeptos do espírito bien-être francês, a brochura oferece de refeições à leitura. Alliance Française, La Casserole, Ça Vas, Livraria Francesa, Paris 6 e Douce France são algumas das casas que integram o seleto grupo. A economia para quem desfruta de todos os serviços chega a R$ 3 mil e o retorno do investimento vem já na segunda refeição. É garantido!¯

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D

POR GUSTAVO CURCIO

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AMEIZING DISHES

DOCE MEMÓRIA Músicas e perfumes deixam lembranças indeléveis. Mas onde começa o mais antigo dos registros da mente humana? Embalada pela ritmada batida do coração e sentindo o perfume materno, a grande maioria das pessoas sentiu o primeiro sabor POR GISELA BERLAND

D

oce é sinônimo de açúcar, o alimento vital para o homem. É gosto primário do leite materno. A agradável percepção que se renova na ponta da língua é como arco-íris de prazer que colore o céu da boca. Tão reconfortante quanto polêmico, o açúcar foi usado como remédio antes de se transformar no corpo e alma da confeitaria. A cana-de-açúcar já era utilizada na Ásia, muito antes de 300 a.C. quando Alexandre, o Grande, levou o exótico bastão adocicado para a Pérsia. A especiaria viajou pela Grécia e espalhou-se pela Síria e pelo Egito, até chegar ao Mediterrâneo, transportada pelos mouros. Durante as Cruzadas, os europeus habituados à suave doçura do mel e das frutas foram seduzidos pela intensidade dos cristais advindos da cana. Durante muitos anos, era Veneza a detentora do comércio com o Oriente e a distribuição da iguaria se tornou bem inestimável nas cortes europeias. No Castelo de Versalhes os açucareiros eram postos sobre a mesa e fechados à chave. Luís XIV levava algumas das pedrinhas preciosas nos bolsos para presentear cortesãos ilustres… O valor do açúcar primitivo comparava-se ao do ouro e pela sua raridade era incluído nos testamentos entre os bens mais cobiçados na partilha dos descendentes. Durante as Grandes Navegações, a cana-de-açúcar encontrou no solo das colônias tropicais o terreno ideal para se desenvolver. Portugal, Espanha, Inglaterra e França cultivaram nas lavouras em suas colônias o progresso da cana e escreveram a história numa mistura paradoxal: o sal do suor do trabalho escravo era a energia de produção do doce. No Brasil colonial, 5 milhões de negros vindos da África garantiram aos portugueses o monopólio europeu do açúcar durante séculos. Mas, em 1806, o bloqueio continental imposto por Napoleão bloqueou as rotas


PÃO DE AÇÚCAR ❚ Contrariando o senso comum, o nome do cartão-postal carioca não faz referência a um pão doce. Trata-se de uma unidade de medida equivalente a 2 quilos mensurada por um bloco cônico usado desde a Antiguidade para facilitar o transporte e o armazenamento dos cristais de açúcar. Chamado de Qualb Sokor (pão de açúcar), o cone vem acompanhado de um martelinho e até hoje é servido nos países árabes para adoçar o tradicional chá de hortelã.

fotos dreamstime

inglesas de açúcar para a Europa. A Inglaterra, em resposta, proibiu o fluxo açucareiro das colônias francesas. O velho continente sufocava de abstinência! Encorajados por Bonaparte, pesquisadores franceses buscaram uma alternativa à cana, encontrada na beterraba. O açúcar extraído da raiz branca, embora menos intenso, divide até hoje prateleiras com o produto da cana e continua sendo o principal item da indústria agrícola na França. Açúcar, no singular, é o termo usado para os derivados da cana e da beterraba. Todos os outros, sintéticos ou naturais, são chamados de açúcares: mel de abelha, bordo extraído das árvores canadenses, stévia e agave azul são adoçantes naturais, às vezes mais potentes e menos nocivos se comparados ao açúcar comum. Em 1975, um livro chamado Sugar Blues dissecou a história e as consequências da invasão do açúcar na vida moderna. Desde os doces até os cigarros, o pozinho branco onipresente foi comparado aos pós-derivados do refino da papoula e da coca, que causam dependência, distúrbios físicos e mentais. O autor experimentou, relatou e defendeu a vida sem açúcar. Mas como engolir a pílula sem o copo de água doce? Se a diferença entre remédio e veneno é a dose, o mesmo serve para o açúcar. Fonte de doçura, gosto feminino e indulgente, o açúcar é divino porque é pecado, veneno irresistível… Diante do perigo iminente, como não se aventurar? Quem nunca comeu a verdura depressa pensando na recompensa da sobremesa? Quem nunca voltou a ser criança com uma bala colada no céu da boca? Diante do prazer, perigo e saciedade, uma coisa é certa: o açúcar compensa! ¯

COCADA DE FORNO Ingredientes ❚ 1 garrafinha de leite de coco 200 ml ❚ 1 lata de leite condensado ❚ 3 ovos ❚ 2 gemas ❚ 1 xíc. (chá) de açúcar ❚ 200 g de coco ralado ❚ 100 g de chocolate branco derretido ❚ Manteiga para untar Modo de preparo Misture o leite de coco e o leite condensado. Reserve. Bata os ovos e as gemas com o açúcar até obter um creme claro e espesso. Junte o coco ralado aos ovos e misture. Adicione o chocolate derretido e por último a mistura dos leites. Coloque em um prato refratário untado com manteiga. Leve para assar em forno médio preaquecido até ficar levemente dourado. Desenforme.

Coco e açúcar se fundem no talvez mais brasileiro dos doces. Tropical na essência, a cocada é deleite às papilas aguçadas. Viva o açúcar!


CAPA

ALAS PARA

VOLAR

~Raízes, 1943. Arrematado em leilão da Casa Sotheby’s, em Nova Iorque, por U$ 5,6 milhões. Há rumores de que o comprador anônimo seria a cantora Madonna.

“Pies, para que los quiero si tengo alas para volar?” Dor e sofrimento foram as bases da arte singular de Frida Kahlo. A mais reconhecida pintora latino-americana tem obras avaliadas em quase U$ 6 milhões!

Q

POR GUSTAVO CURCIO

uem reconhece em 50 Tons de Cinza, de E. L. James, a máxima reprodução do lirismo erótico não conhece o Diário Íntimo de Frida Kahlo. “Nada comparable a tus manos ni nada igual al oro-verde de tus ojos. Mi cuerpo se llena de ti por días y días. Eres el espejo de la noche. La luz violenta del relámpago. La humedad de la tierra. El hueco de tus axilas es mi refugio. Mis yemas tocan tu sangre. Toda mi alegría es sentir brotar la vida de tu fuente-flor que la mía guarda para llenar todos los caminos de mis nervios que son los tuyos”1. Mas as palavras da mexicana em suas confissões a Diego Rivera escondem o talvez principal motivo da singularidade de sua obra: seu corpo não respondia à velocidade de sua mente. As limitações físicas foram, para Frida, a justificativa de sua produção: “Mi pinto a mí misma porque estoy con frecuencia sola y porque soy la persona a cual mejor conozco”2.

O leito que numa primeira análise limitou a artista, na verdade a fez. A figura inconfundível do buço aparente e da sobrancelha virgem fazem da excêntrica imagem a marca de Frida Kahlo. Mas a poliomielite enquanto criança somada às sequelas físicas deixadas pelo acidente de ônibus foram alicerces para a formação singular da mais curiosa mulher mexicana. Frida e sofrimento são sinônimos. Doenças à parte, sua vida foi marcada por decepções. Há quem diga que Diego Rivera, seu grande amor, tenha sido o grande responsável por sua amargura. Depois de uma série de abortos, Frida sentiu, segundo ela própria, a maior de suas dores: Diego tomou sua irmã mais jovem como concubina. “Esta pena es la que mas me duele”3. Talvez a desaprovação de sua mãe ao matrimônio, em 21 de agosto de 1929, tivesse algum fundamento. “Mama no aprueba a mi Diego porque es demasiado viejo, demasiado gordo y todavia peor, un comunista y un ateo”4.

TRADUÇÃO 1. Nada se compara às suas mãos nem nada é igual ao ouro-verde dos seus olhos. Meu corpo é preenchido pelo seu dia após dia. És o espelho da noite. A luz violenta do relâmpago. A umidade da minha terra. O vazio de suas axilas é o meu refúgio. Meus dedos tocam teu sangue. Toda a minha alegria é sentir brotar a vida da tua fonte-flor para encher todos os caminhos dos meus nervos que são teus. 2. Pinto a mim mesma porque estou com frequência sozinha e porque sou a pessoa a qual conheço melhor. 3. Esta dor é a que mais machuca. 4. Mamãe não aprova o meu Diego porque é muito velho, muito gordo e, ainda pior, um comunista ateu.


BLOOMBERG CONTRIBUTOR|GETTYIMAGES


CAPA

Mas recentes descobertas revelaram, por meio de documentos históricos, que a relação de Frida com Diego foi intensa e amorosa. Fato é que, em meio às intempéries de um casamento marcado por traições e desencontros, Frida vingou-se das transgressões de Rivera e satisfez-se com relações nem um pouco amenas. Dentre seus casos, que incluem homens e mulheres, destaca-se ninguém menos que Leon Trotsky. A identificação, nesse caso, transcendeu sem dúvida o ideal político comum. O Universo Íntimo de frida Em entrevista exclusiva para ameizing, Hilda Trujilo Solo, diretora do Museu Frida Kahlo, La Casa Azul, revelou particularidades sobre a pintora. “Quando se aprofunda o conhecimento da obra de Frida, descobre-se a intensa relação que há entre sua produção e a casa onde viveu”, conta. Segundo Hilda, todo o universo da controversa artista encontra-se na Casa Azul, local onde nasceu e morreu. “Depois do casamento com Diego, Frida viajou pelo México e chegou a viver no exterior, mas sempre regressou ao casarão em Coyocán.” Dentre as obras do acervo que chega a quase 100 itens, Trujilo destaca os quadros Frida y la Cesárea (1931), Retrato de mi Padre Wilhem Kahlo (1952) e Viva la Vida (1954). Encanta o universo da pintora. Sobre a cabeceira da cama, intacta, repousam os retratos de Lenin, Stalin e Mao Tsé-Tung. Contraditoriamente, no ateliê vê-se um cavalete presenteado por Nelson Rockefeller, entre livros e pincéis. Do affair Isamu Noguchi, escultor, Frida herdara a coleção de borboletas. Em 1955, Carlo Pellicer descreveu o espaço como um pedaço do céu. “Pintada de azul, por fuera y por dentro, parece alojar un poco de cielo. Es la casa típica de la tranquilidad pueblerina donde la buena mesa y el buen sueño le dan a uno la energía suficiente para vivir sin mayores sobresaltos y pacíficamente morir...” 5. Originalmente a Casa Azul não era grande. Erguida em 1904, tem hoje 800 m2. “Guillermo Kahlo, pai de Frida, construiu a casa aos modos do estilo da época: pátio central rodeado por quadros e fachada afrancesada”, conta a historiadora Beatriz Scharrer. “Foi quando Trotsky viveu ali, em 1937, que as paredes foram pintadas de azul”, conta. Paredes de uma vida. ¯

TRADUÇÃO 5. Pintada de azul, por fora e por dentro, parece alojar um pouco do céu. É a casa típica da tranquilidade do povo onde a boa mesa e o belo sonho dão a qualquer um energia suficiente para viver sem maiores problemas e morrer pacificamente.

| Retrato de mi Padre Wilhem Kahlo, 1952, Museu Frida Kahlo La Casa Azul.

~ Viva la Vida, 1954, Museu Frida Kahlo La Casa Azul.


Hilda Trujillo, diretora do Museu Frida Kahlo em Coyoacán, Cidade do México, México

POR QUE FRIDA FASCINA TANTO? Por meio de sua vida e produção artística, Frida responde a questões sociais. Sua arte ultrapassa os limites do tempo, persiste atual e sincera. CONTE-NOS, EM POUCAS PALAVRAS, O QUE CARACTERIZA A PRODUÇÃO ARTÍSTICA DE FRIDA. QUAIS EVIDÊNCIAS, EM TERMOS ESTÉTICOS, FAZEM DE SUA PINTURA UMA MANIFESTAÇÃO ÚNICA NO MUNDO? A produção artística de Frida é rica, única e original. Representa sentimentos e experiências profundas de uma vida. Sua arte tem relevância sociológica e simbólica que transcende o valor estético. EM QUE SENTIDO O ACIDENTE, AINDA NA JUVENTUDE, INFLUENCIOU SUA ARTE? O acidente fez a arte de Frida. No início, ela queria ser médica. O longo período sobre o leito, somado à influência do pai fotógrafo, é a base para a Frida pintora, sobretudo, de autorretratos. Além da imagem própria, Frida pintou durante a convalescência sobre a cama paisagens, objetos e a casa onde vivia. Cada elemento encontrado na Casa Azul, hoje museu Frida Kahlo, teve um significado especial para ela. QUANDO FOI FUNDADO O MUSEU E QUANTOS TRABALHOS TEM A COLEÇÃO? O museu foi aberto em 1958, tem quase 100 obras da artista, entre desenhos e objetos relacionados a ela. CONSIDERANDO AS DIFICULDADES ENFRENTADAS PELAS MULHERES EM CONQUISTAR ESPAÇO NA SOCIEDADE E REALIZAR-SE ECONOMICAMENTE, COMO FRIDA CONTRIBUIU PARA O RESPEITO DA FIGURA FEMININA NAS SOCIEDADES MEXICANA E NORTE-AMERICANA? Frida não contribuiu para a conquista das mulheres. Ainda contribui hoje, agora. Ela sofreu um recente e surpreendente boom. Muitas pessoas visitam seu museu. O interesse por seu trabalho é a resposta do mundo às questões de liberdade e tolerância, a construção de uma identidade seguida de um fundo social. É ser livre na expressão estética e no trato com qualquer tema ou ideal. Isso é o que atrai a juventude feminina. Frida foi tão criativa e expressiva, graças à sua curiosidade intelectual. Esse foi o subsídio de sua liberdade. As mulheres de

hoje, que ainda buscam igualdade, veem em Frida um exemplo de quem conseguiu conquistar seu espaço com conhecimento, pesquisa e leitura, em vez da autopunição. RIVERA ENCORAJOU FRIDA EM SUA PRODUÇÃO ARTÍSTICA? Ele sempre foi amigo e companheiro. Sempre a encorajou e insistia em dizer à esposa que ela era uma artista formidável. A relação entre os dois era bem diferente do que se imaginava no princípio. Acreditava-se que Rivera se comportava como o macho da relação e causava sofrimento a Frida. Entretanto, a descoberta de documentos importantes revelou uma relação saudável e estreita do casal. Frida sempre consultava o marido e imperava entre os dois um profundo respeito. FRIDA ERA REALMENTE COMUNISTA? FALE-NOS SOBRE A TRAJETÓRIA POLÍTICA DA ARTISTA. Frida foi uma das poucas mulheres que estudaram numa comunidade predominantemente masculina. Vivia num tempo anterior à Revolução Mexicana, em meio a um movimento social e político iminente. Simpatizava com um grupo chamado Os Cachuchas, que não tinha identificação política e pertencia à classe média alta. Quando conheceu Diego, começou a participar de encontros políticos do Partido Comunista e apaixonouse por esse ideal. Era contra desigualdades, acreditava num país mais homogêneo, com menos contradições sociais. Seu marido era realmente engajado. Militante do Partido Comunista, Rivera levou a mulher para perto de si e a artista identificou-se diretamente com os ideais da Revolução Mexicana que tinha como meta o desenvolvimento de uma nação onde trabalhadores e agricultores teriam melhores condições de vida. FRIDA FICOU FAMOSA ANTES DE MORRER? Frida não foi famosa. Organizou apenas três exposições de seu trabalho ao longo de toda a vida, uma na Galeria Julien Levy, em Nova Iorque, outra na Galeria de Arte Mexicana e outra em Paris. ALÉM DE DIEGO, FRIDA TEVE OUTROS AMORES? Frida amou e relacionou-se, além de Diego, com Nicolas Muray, Leon Trotsky e Isamu Noguchi, entre outros. COMO CLASSIFICAR A ARTE DE FRIDA? SURREALISTA, NATIVA? FRIDA FOI ARTISTA DE UM ESTILO SÓ? Frida foi um pouco de tudo isso, e por esse motivo foi única e singular.

FOTOS REPRODUÇÃO / MUSEU FRIDA KAHLO

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ENDEREÇO LA CASA AZUL: MUSEU FRIDA KAHLO Endereço: Londres 247, Del Carmen, Coyoacán, 04100 Cidade do México, DF, México | Telefone: 52 55 5554 5999 | Site: www. museofridakahlo. org.mx Aberto às terças, das 10 às 17h45, quartas, das 11 às 17h45, e de quinta a domingo, das 10 às 17h45.


CAPA

LINHA DO TEMPO 1907 Nasce na Casa Azul, em Coyocán, México, Magdalena Carmen Frieda Calderon, filha do casal Matilde Calderon y Gonzales, mestiça de índio e espanhol, e Guillermo Kahlo, judeu de origem húngaro-germânica. 1913 Aos 6 anos, vítima de poliomielite, Frida tem o crescimento da perna direita afetado pela doença. Mesmo com o esforço do tratamento, as deformidades permanecem. 1922 Inicia os estudos na Escola Nacional. Frida era uma das 35 mulheres que frequentavam a escola e tinha a esperança de tornar-se médica. Com o Movimento Muralista Mexicano efervescente, a jovem conhece Diego Rivera e torna-se membro do grupo Los Cachuchas. Seu namorado, Alejandro Gómez Arias, era líder do grupo. Nesse momento, Frida passa a divulgar seu ano de nascimento como 1910, data da Revolução Mexicana. 1924 Frida começa a trabalhar no estúdio de seu pai, fotógrafo. 1925 Começa a ter aulas de desenho com Fernando Fernandez, amigo de seu pai. No dia 17 de

setembro, Frida sofre um grave acidente a bordo de um ônibus atingido por um bonde. Com o osso pélvico fraturado, a jovem sofre meses durante a recuperação. 1926 Na convalescência, começa a pintar e faz seu primeiro autorretrato, presente a Alejandro. 1927 Alejandro vai à Europa e Frida, recuperada, volta à vida normal. 1928 Junta-se a um grupo político liderado pelo comunista cubano Julio Antonio Mella. Termina com Alejandro.

a Filadélfia. Tem o segundo aborto. 1933 Rivera tem desentendimento com Rockefeller Center por insistir em manter a figura de Lenin no mural de Nova Iorque. 1934 Sofre o terceiro aborto. 1937 Frida e Rivera recebem o casal Leon Trotsky e Natalia Sedova na Casa Azul. Em setembro, tem suas pinturas incluídas na Exposição da Galeria Nacional das Artes no México. 1938 Frida tem trabalhos expostos na Julien Levy Gallery, em Nova Iorque.

1929 No dia 21 de agosto, torna-se, numa cerimônia civil, a terceira esposa de Diego Rivera.

1939 Participa de exposição na Galeria Colle, em Paris. Depois de brigas com Diego, começa o processo de divórcio.

1930 Sofre seu primeiro aborto. Muda-se, no mês de novembro, para São Francisco com o marido.

1940 Com o assassinato de Trotsky, Frida sofre dois anos com interrogatórios da polícia.

1931 Enquanto Rivera ocupa-se com um mural na cidade norte-americana, a saúde de Frida piora. As deformidades da perna direita aumentam e, com elas, a dor. Volta para o México e envolve-se com Nickolas Muray.

1944 A saúde de Frida começa a piorar.

1932 Muda-se com Rivera para

1946 Recebe o Prêmio Nacional de Artes e Ciências do México pelo quadro Moisés (à direita). 1950 Fica internada por nove meses com o agravamento

dos problemas na coluna. 1953 Lola Alvarez Bravo organiza a primeira exposição solo de Frida, no México. 1954 No dia 13 de junho Frida dá entrada no hospital, já morta, com suspeita de tentativa de suicídio. O atestado de óbito registra embolia pulmonar, mas desconfiouse de overdose. A última anotação do diário, diz: “Espero que minha partida seja feliz, e espero nunca mais regressar”.

} El Abrazo de Amor del Universo, la Tierra (México), Diego, Yo y el Señor Xólotl, 1949. Coleção de Jacques e Natascha Gelman, Cidade do México, México.



ETERNA

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CHANEL A dama das pérolas e dos vestidos pretos revolucionou o mundo da moda. Ela libertou as mulheres das amarras dos espartilhos democratizando peças de uso exclusivo masculino. Criativa, empreendedora e polêmica, Coco Chanel ergueu um império avaliado em 6 bilhões de dólares POR ALEXANDRA GONSALEZ


N

o mundo ocidental, mulheres de todas as idades e classes sociais caminham apressadas pelas ruas. Elas usam calças compridas, bijuterias, malhas e vestidos leves. Os cabelos vão soltos, muitas vezes curtinhos e práticos. Uma cena comum que não chama a atenção. Mas se hoje esse visual feminino é tão trivial, devemos dar graças a uma pobre garota francesa, criada em um orfanato, e que, para ganhar alguns trocados, se dividia entre cantar em cabarés e costurar em uma pequena alfaiataria. Seu nome? Gabrielle Chanel, mais tarde consagrada como Coco Chanel, uma das pessoas mais famosas e influentes do século 20. Desde 1909, quando começou a trabalhar com moda, a estilista foi a responsável por libertar as mulheres dos espartilhos, dos tecidos pesados e dos penteados elaborados daquela época – um estilo de vida que não cabia mais na sociedade que vinha se modernizando. Ela criou uma moda de linhas simples, prática e fluida, à frente de seu tempo, fazendo uma verdadeira revolução no guarda-roupa feminino. Antes de 1930, já havia introduzido no vestuário delas a calça de look masculino e as bijuterias. E ainda criou o “pretinho básico”, o tailleur, os escarpins bicolores e um corte de cabelo na altura da nuca que imortalizou seu nome. “Chanel construiu um estilo universal, atemporal e imortal”, afirma Luciana Parisi, consultora de moda do Senac Moda Informação. Coco era o apelido tirado do refrão da canção Qui Qu’a Vu Coco, que ela cantava nos bares em companhia da irmã, Adrienne. Nesses locais, a jovem magérrima, de traços fortes e andrógenos, passava despercebida. Não era considerada bonita. Sua inteligência, elegância e articulação, porém, atuaram a seu favor ao longo dos 87 anos de vida. Uma parte do segredo do sucesso de Chanel foi manter um ininterrupto networking de peso, o que lhe garantiu bons contatos para que, com seu talento e tino para os negócios, construísse um império. Sua marca vale hoje cerca de 6 bilhões de dólares, conta com butiques em 40 países – quatro delas no Brasil – e oferece uma gama de produtos que inclui

roupas, perfumes, bijuterias, acessórios, maquiagem e cosméticos. Amantes influentes e poderosos De acordo com Luciana Parisi, essa rede de contatos importantes teve início com o exmilitar Étienne Balsan, o primeiro de seus diversos amantes. “Ao ir viver em seu castelo, ela foi introduzida num mundo de aristocratas e artistas. Com Balsan, aprendeu que a sedução era um bom caminho para abrir portas”, afirma. Segundo a consultora de moda, a estilista manteve romances com pessoas influentes, ligadas à aristocracia e à política. Seus biógrafos dizem que ela viveu apenas um grande amor, com o playboy inglês Arthur Boy Capel, que morreu em um acidente de carro em 1919, quando mademoiselle já era uma referência em Paris. Seus amores e a ascensão profissional foram retratados no filme Coco antes de Chanel (2009), no qual a genial criadora é interpretada pela atriz francesa Audrey Tautou, então garota-propaganda do icônico perfume Chanel No 5. Agora, quem assume o posto é o galã Brad Pitt, primeiro homem a ser a cara da fragrância. Depois da morte de Boy, Chanel se tornaria mais fria e calculista nos relacionamentos. Independente e audaciosa, nunca se casou. Viveu durante 33 anos em um luxuoso quarto do Hotel Ritz, em Paris, com vista para a Place Vendôme. “Ela se envolvia com quem pudesse lhe trazer mais vantagens”, explica Luciana. Um desses casos, com o barão alemão Hans Gunther von Dincklage, que era, na verdade, um espião nazista, rendeu uma mancha em sua biografia. Durante a Segunda Guerra Mundial, na França ocupada pelo exército alemão (1940-1944), Coco circulava tranquilamente entre os salões dos invasores. No livro Dormindo com o Inimigo – A Guerra Secreta de Coco Chanel, seu autor, o jornalista Hal Vaughan, expõe o lado colaboracionista da estilista e conclui que ela foi mesmo uma oportunista. Para Vaughan, Chanel estava acostumada a pender para o lado do poder, que naquele momento estava nas mãos dos na-


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zistas, mas ela de fato não se importava com a guerra ou suas implicações. Estava mais preocupada em se aliar com quem parecia estar no comando e continuar mantendo seu patrimônio próspero, como sempre fez. Retorno triunfal Com a derrota da Alemanha na guerra, Chanel acabou sendo punida com o exílio. Odiada na França, se refugiou na Suíça, de onde só regressou em 1954. “Ela voltou a Paris de cabeça erguida, retomou seus negócios e recuperou o prestígio da marca”, afirma Luciana. Para a consultora de moda, nessa época sua carreira teve um renascimento e as grandes responsáveis por seu retorno triunfal foram as americanas, em especial Jacqueline Kennedy, ex-primeiradama dos Estados Unidos. “O cardigã, o tailleur e as pérolas tornaram-se marcas registradas do estilo Chanel, adotadas e incensadas por Jacqueline”. A atriz Marylin Monroe, por ironia amante do presidente John Kennedy e rival de Jackie, também contribuiu para a consolidação da grife ao afirmar, em 1955, que vestia para dormir apenas algumas gotas de Chanel Nº 5. A frase bombástica da loira mais desejada do cinema fez com que as vendas do perfume dobrassem, gerando à marca um lucro de 160 mil dólares naquele ano. Até sua morte, em 1971, Coco Chanel continuou inovando e sendo sinônimo de elegância e refinamento. Em 1983, o estilista alemão Karl Lagerfeld foi nomeado diretor artístico de moda da Maison, assumindo as

funções de desenhista de todas as coleções de alta-costura, prêt-à-porter e acessórios. Extremamente criativo e respeitado, Lagerfeld permanece no cargo até hoje. “Depois de tantos anos à frente da marca, ele incorporou o estilo Chanel e preserva a essência da grife, uma referência contínua no mundo da moda autoral”, afirma a consultora. Para Luciana Parisi, chega a ser curioso que o nome Chanel tenha sido relacionado ao alto luxo desde o princípio. “Ela queria o oposto: desejava democratizar a moda, tornando-a acessível. Por isso, criou os jérseis e as bijuterias: acreditava que todos, e não apenas os aristocratas, deviam desfrutar da elegância e da beleza”, diz. Não se pode afirmar que suas roupas sejam acessíveis a qualquer mortal, mas ao menos seu estilo prático e libertador foi democratizado e copiado à exaustão, sendo encontrado em qualquer magazine. Toda mulher tem o poder de usar calças, cardigãs e um pretinho básico sem precisar desembolsar centenas de euros. Entretanto, aquelas com folga na carteira certamente devem ir a Paris, no no 21 da Rue Cambon, para adquirir uma eterna peça Chanel. Nesse endereço a estilista abriu seu primeiro ateliê, onde morou durante anos, e agora abriga sua principal butique. A fragrância de Chanel Nº 5 recepciona as felizardas de bom gosto que saem de lá cheias de estilo, portando as sacolas enfeitadas com as famosas camélias de tecido. Como diria a própria Coco, “as modas passam e o estilo permanece”. ¯



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PARA SABER MAIS | CHANEL: THE VOCABULARY OF STYLE (2011) Composto pelo especialista em fotografia e história da indumentária, o livro tem 11 capítulos e é ilustrado com 209 imagens assinadas pelos mais badalados fotógrafos de moda, incluindo suas criações mais emblemáticas. } COCO CHANEL: A LENDA E A VIDA (2012) Ex-editora da Vogue britânica, Justine conta detalhes pessoais da vida de Gabrielle. A publicação é fruto de quase dez anos de entrevistas com Karl Lagerfeld, amigos íntimos e familiares de Chanel. | COCO CHANEL E IGOR STRAVINSKY (2009) Coco está em luto pela morte de seu amante, Boy Capel, quando conhece o compositor russo Igor Stravinsky, autor do balé A Sagração da Primavera. Recém-chegado a Paris como exilado da União Soviética, a estilista oferece a casa de campo ao músico e sua família e os dois vivem um tórrido romance. | DORMINDO COM O INIMIGO — A GUERRA SECRETA DE COCO CHANEL (2011) O envolvimento da estilista com a alta inteligência nazista durante a ocupação alemã em Paris, entre 1941 e 1944, é o tema central desta polêmica biografia. } COCO ANTES DE CHANEL (2009) O filme mostra o abandono das irmãs Chanel em um orfanato, a luta pela sobrevivência cantando em cabarés, seus romances e o começo da carreira de sucesso como estilista em Paris.


PERFUME DE MULHER Coco Chanel tinha um talento excepcional para detectar tendências. À medida que vai expandindo seu império da moda, a francesa se associa a experts de outras áreas para desenvolver novos produtos, como os perfumes. “Ela foi a primeira estilista a relacionar sua grife a fragrâncias”, conta a perfumista Luciana Knobel, da Givaudan Aromas e Fragrâncias. Segundo a perfumista, Coco investiu em ingredientes ricos, revolucionando o mundo das fragrâncias ao compor o Chanel N° 5, lançado em 1921. Criado por Ernest Beaux, antigo perfumista dos czares da Rússia, diz a lenda que o N° 5 recebeu este nome porque foi a quinta amostra apresentada à estilista no processo de testes. Coco queria um perfume feminino com cheiro de mulher. Na fórmula original há mais de 65 ingredientes, como jasmins de Grasse e rosas de maio. “Para obter 1 kg de óleo de rosas é preciso destilar cerca de seis toneladas de pétalas, num processo caro e artesanal”, afirma Luciana. Outra inovação foi usar aldeído floral, um composto sintético então inédito. “O perfumista exacerbou essa substância e criou uma nova família olfativa que inspirou o mercado de cosméticos.” Ela também se preocupou com a embalagem, incorporada à coleção do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, em 1959. “O frasco art déco é de cristal, com uma espécie de selo identificador no fecho”, conta a perfumista. Para a consultora de moda Luciana Parisi, do Senac, a perfumaria é complementar às marcas de luxo e grande responsável por seus lucros. “Uma mulher pode não ter dinheiro para comprar um tailleur Chanel, mas poderá adquirir um perfume e, assim, sentir-se parte de um seleto grupo que consome alta-costura”, diz. Se a grife e a embalagem de um perfume seduzem num primeiro momento, é a fragrância que fideliza o uso. “Somos atraídos pelo nome e o frasco desses produtos: por isso os compramos. Mas, se o cheiro em nossa pele não agradar, não há segunda chance”, afirma Luciana Knobel. Para a perfumista, a marca Chanel acerta ao investir com força no marketing. “A Maison mantém a imagem de ícones atemporais e segue criando novas fragrâncias de sucesso.”

| CHANEL NO5 Aos 92 anos, segue como um dos perfumes mais vendidos em todo o mundo, comercializado em mais de 140 países.

~ COCO MADEMOISELLE Outro acerto da marca é de 2001. A fragrância fresca e oriental exala notas de laranja, bergamota e florais.

} CHANEL NO19 Concebido em 1970, pelo mestre perfumista Henri Robert, este aroma floral possui infusões de íris e uma combinação de notas verdes e amadeiradas.

~ BLEU DE CHANEL Embora as fragrâncias masculinas não sejam o forte da grife, em 2010 este perfume sensual, combinação de citrinos e notas amadeiradas, agradou bastante ao mercado. | ALLURE É lançado em 1996. Uma fragrância feminina, oriental e fresca, acentuada por delicadas notas de jasmim e rosas de maio. Ganhou uma versão masculina de muito sucesso.


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O LEGADO DA FRANCESA

De acordo com a consultora de moda Luciana Parisi, Chanel operou uma grande revolução de costumes na moda. “Ela admirava a praticidade e o conforto em se vestir. Além disso, convivia com pessoas formadoras de opinião, gente capaz de dar um up to date na nova moda”, diz. A ex-menina pobre aproveitou a liberdade de costumes na sociedade parisiense dos “loucos anos 20” para impor o seu estilo e mudar o look feminino para sempre.

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GRANDES INVENÇÕES CHANEL BIJUTERIAS Chanel adorava usar pérolas, mas sabia que a maioria das mulheres não tinha acesso a joias. Por isso, criou as falsas. As bijuterias se transformaram em colares de várias voltas e em aviamentos para enfeitar roupas.

PRETINHO BÁSICO Usado pela primeira vez em 1926, o vestido de crepe com linhas simples, gola redonda, foi capa da conceituada revista Vogue. Até hoje é sinônimo de mulher moderna, profissional e feminina em qualquer situação.

CABELOS CURTINHOS O corte de cabelo Chanel, rente à nuca, também segue popular, com inúmeras variações, 100 anos após sua invenção. Mais uma vez, a praticidade falou mais alto na hora de lançar moda e rendeu o nome do corte eterno.

}TAILLEUR A mistura de saia e casaquinho, confeccionados em tweed, agradou em cheio as ricas e influentes. Seu modelo inconfundível acabou sendo copiado à exaustão ao redor do mundo.

MALHARIA Ela imortalizou o suéter listrado ao criar a malharia circular, produzindo seu próprio jérsei. Pegou o tecido barato usado pelos operários, trouxe fibras mais nobres e melhorou a indumentária feminina e casual.

} SAPATOS CONFORTÁVEIS Mademoiselle tinha pés grandes e, para resolver o problema, criou o escarpim, delicado e confortável. Aberto atrás e com alças finas ajustadas com elásticos laterais fez enorme sucesso.

CALÇAS COMPRIDAS Coco gostava muito de equitação, esporte que exigia das amazonas (de saias) grandes malabarismos. Depois que introduziu as calças no guarda-roupa feminino, a liberdade de movimentos tornouse obrigatória.

} ESCARPINS BICOLORES O primeiro modelo de escarpim bicolor feminino era feito de couro bege e tinha como detalhe a biqueira preta. Disponível até hoje nas butiques da marca, vale, em média, 4 mil dólares (o par).



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LINHA DO TEMPO 1883 Gabrielle Chanel nasce na pequena vila francesa de Saumur no dia 19 de agosto, sob o signo de Leão e de família paupérrima. Órfã de mãe, que morreu de tuberculose, seu pai, Albert Chanel, interna a ela e a irmã, Adrienne, em um orfanato.

1978 A Maison expande-se com a introdução da primeira linha de prêt-à-porter e com a distribuição mundial de acessórios.

1981 O célebre perfumista Jacques Polge é nomeado mestre perfumista da grife, seguindo os passos de Ernest Beaux e Henri Robert.

1905 Ao lado da irmã, começa a cantar em cabarés. O que recebia como costureira não dava para o sustento de ambas.

1972 O empresário francês Jacques Wertheimer, perfumista responsável pelo Chanel No 5, comprou a marca. Seu filho fez disparar as vendas ao proibir o varejo nas farmácias.

1983 O estilista alemão Karl Lagerfeld foi nomeado diretor artístico de moda da Chanel, desenhista de todas as coleções de alta-costura, prêt-à-porter e acessórios. Segue no cargo atualmente.

1909 O envolvimento com o milionário oficial da cavalaria Etienne Balsan a impulsiona. Monta a primeira loja, Chanel Modes, em Paris.

1971 Aos 87 anos, Coco morre no dia 10 de janeiro, no Hotel Ritz de Paris. A estilista teria dito a uma camareira: “Vê? É assim que se morre. Sozinha, mas chique”.

1993 Lançamento da primeira coleção de alta joalheria, em Paris. Hoje, o segmento tem sede própria e dedicação exclusiva de um grupo de profissionais.

1910 Abre a loja da Rue Cambon no 21. Estilista preferida entre as atrizes francesas, os vestidos com estilo simples e elegante ajudam a estabelecer a sua reputação.

1960 O fascínio pela grife aumenta com as estrelas de Hollywood. Todas queriam imitar Elizabeth Taylor, Jane Fonda, Jackie Kennedy e Grace Kelly.

1994 Sob o comando de Lagerfeld a marca explode. As 19 lojas vão se transformando em 40 butiques próprias. Uma das inaugurações mais marcantes daquele ano foi a primeira unidade em Tóquio, para alegria das japonesas.

1913 Antes da Primeira Guerra Mundial inaugura duas butiques, uma em Deauville, outra em Paris. Começa a criar peças esportivas femininas, como blusas com golas rulês feitas de malha e tricô.

1957 } Desenha o primeiro par de sapatos bicolores feminino. Inspirado no guarda-roupa masculino, o calçado tem biqueira ligeiramente quadrada, privilegiando o conforto.

2000 Criação do relógio esportivo J12, de cerâmica preta, branca ou cromado.


1921 1916 Já chefiava um exército de 300 funcionários e não se importava em ser copiada por outros estilistas; o que mais alegrava Coco era ver as mulheres vestindo suas criações.

1955 Lançamento da clássica bolsa de matelassê 2.55. Ao combinar couro e corrente de ouro, Coco inventa um novo estilo de alça flexível, leve e resistente, que permite às mulheres ficarem com as mãos livres.

1920 Introduz no vestuário feminino as calças com corte masculino, inspiradas nas peças de boca larga usadas por marinheiros.

Apresenta sua primeira fragrância, o icônico Chanel N° 5. Clássico e atemporal, o perfume continua sendo um símbolo de feminilidade.

1924 Cria a primeira linha de maquiagem para os lábios e, em seguida, para o rosto. No mesmo ano funda a “Société des Parfums Chanel”.

1926 Produz o eterno vestido “pretinho básico”. No mesmo ano, lança o tailleur de tweed, um blazer feminino usado com saia e inspirado em viagens à Escócia. O clássico tem o casaquinho com quatro bolsos, decorado com botões dourados.

1931 1954 Aos 71 anos, Chanel prepara a reabertura da Maison em Paris. A grande sensação da coleção foram os tailleurs de debrum.

2004 A atriz Nicole Kidman e o brasileiro Rodrigo Santoro estrelam a caríssima campanha publicitária do Chanel No 5, inspirada no filme Moulin Rouge. A propaganda foi orçada em 20 milhões de dólares.

1944 ~ Durante a Segunda Guerra Mundial, na Paris ocupada pelos alemães, Coco envolve-se com um espião da Gestapo, o que lhe custa o exílio na Suíça.

2007 ~ Lançamento da Vélo Chanel, primeira bicicleta da grife francesa. O modelo, que custava cerca de 9 mil euros, vinha equipado com duas sacolas de couro em matelassê com o logotipo da marca.

1932 ~ Apresenta a exposição de joias Bijoux de Diamants. No auge dos anos 1930, e mpregava mais de 4 mil pessoas envolvidas na produção de roupas, perfumes, joias e maquiagem.

2011 Inauguração, na China, das exposições Culture Chanel, no Museu de Arte Contemporânea (MOCA), em Xangai, e no Museu Nacional de Arte da China (NAMOC), em Pequim.

A convite do executivo Samuel Goldwyn, dos estúdios MetroGoldwyn-Mayer, Coco vai a Hollywood criar roupas para estrelas como Greta Garbo.

2012 Abertura de uma butique-joalheria no Principado de Mônaco, na Europa. A nova loja apresentou a coleção 1932, que homenageia os 80 anos da Chanel Joaillerie com a mostra de 80 peças especiais.


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ELE COMEร OU COMPORTADO... ... e bem recheado: Rita Hayworth, Ava Gardner, Ursula Andress, Norma Jean, a matinal moรงa que estampa esta pรกgina e que, depois, viria se tornar a tempestuosa Marilyn Monroe


~ Abaixo, Norma Jean, acima Marilyn Monroe. Mesma base, rótulos diferentes. Talvez o biquíni seja um dos responsáveis pela mudança radical da jovem que encanta marmanjos até os dias de hoje.


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| Ava Gardner, com o grand-pois, viés e babado. Muito pano revela o necessário.

s homens nem acreditavam naquela deusa suíça — sim, suíça, não sueca —, biquíni branco ressaltando o bronzeado contra o mar azul, cinto largo com uma faca de caça submarina presa do lado... A cena de Ursula Andress no filme 007 Contra o Satânico Dr. No (foto à direita), de 1962, tornou-se clássica — assim como essa estonteante apresentação do biquíni no cinema. Os homens podem continuar não acreditando, mas é só olhar direitinho para perceber quanto evoluiu esse traje de banho. O corpo da loiraça de 26 anos mostra o biquíni primitivo (na página de abertura). Note bem: cheio de dobras, até meio desengonçado perto dos de hoje, mesmo porque os tecidos ainda não eram tão maleáveis, a Lycra® havia sido inventada poucos anos antes, não havia corte a laser... La Andress, amiga de James Dean (dizem que desistiu da carona naquele dia do acidente que matou o jovem ator), foi mãe aos 44 anos. O biquíni, esse, chegou aos 62. E os paradoxos continuam, no “desvestir para vestir bem”. Por mais que os designers de moda apresentem coleções e mais coleções ao longo das déca-

} Brigitte Bardot e a sensualidade da estampa. Rosto e barriguinha naturais.

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das com modelos maiores, mais elaborados, as alças do bustiê e laterais das calcinhas mais largas, até bordados com paetês — que sempre encarecem as peças —, é o biquíni mais pequenininho que reina nas praias brasileiras, sob a máxima do “quem tem corpo é para mostrar”. Pois recentemente voltou até o fio-dental, mesmo com morte decretada pelos estilistas por conta de “breguice crônica”. Voltou atrás dos modelos que reviveram os práticos lacinhos do lado, que podem dar uma refrescada se a pele estiver muito queimada, ardendo, enquanto a parte de cima anda para cá e para lá nos modelos “cortininha”, para tirar marcas brancas muito acentuadas. O destaque deste verão ficou por conta de argolas, algumas alças amarradas no meio do bustiê, estamparias diferenciadas, acetinados, cores ácidas ou prata, tecidos metalizados, dourado, prata, bronze. Brilhos. E pronto. Na luta pelo mínimo, as controvérsias vêm desde o inventor. Para alguns, um engenheiro mecânico, mas à frente de uma loja que vendia peças para praia; para outros, já estilista. Louis Réard percebeu que, com o fim da Segunda Guerra Mundial, era hora de ganhar dinheiro — e em 1946 inventou uma novidade para as mulheres voltarem a desfilar na Côte d’Azur: o maiô duas-peças, que batizou de biquíni por conta do Atol de Bikini, no Pacífico Sul, onde os norte-americanos faziam experiências com bombas atômicas, que recortavam os ares em forma de cogumelo. Réard dizia que seu modelo era “menor que o menor maiô do mundo”, o que seria uma resposta a Jacques Heim, que teria apresentado o atome como “o menor maiô do mundo”. A fama ficou com Réard. Foi tamanho o escândalo que apenas uma stripper profissional, do Cassino de Paris, aceitou aparecer mostrando o tal biquíni no lançamento, em uma piscina às margens do Rio Sena. Mas, com o tempo, também veio o sucesso, primeiro disseminado pelas praias francesas do Mediterrâneo, quando as mulheres começaram a deixar os maiôs de lado (as brasileiras só lançavam mão dessa peça “de corpo inteiro” para os passeios da tarde, pós-praia, já de banho tomado...), e passaram aos duas-peças ainda comportados: na verdade, quase um maiô cortado

} Ursula Andress, no filme 007 contra o Satânico Dr. No. Cintos afivelados ainda eram acessórios comuns.

60'S } Jill St. John, com o "folgado" duas-peças.


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| As pregas no bustiê e sobre a parte inferior do duas-peças disfarçam a silhueta enxuta, para a época, de Marilyn Monroe.


80'S | A parte de cima lembra um top, mas o laço lateral sobe ainda mais a curva da calcinha. Viva a Lycra®!

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90'S

na cintura, que pouco mostrava de barriga. É citado, por exemplo, o traje de Deborah Kerr na cena do beijo na praia com Burt Lancaster no filme A Um Passo da Eternidade, de 1953. Será? As deusas do cinema dariam uma forcinha às mortais no encorajamento de mostrar um pouco mais nas piscinas e praias. Se Hollywood arrumou um código proibindo exibir o umbigo em fotos e filmes, Jayne Mansfield desceu a cintura 1 centímetro e deixou o dela à mostra, já nos últimos anos da década de 1950, em outra foto já clássica, posando no ombro do marido, Mickey Hargitay, recheando uma estampa de oncinha. Em seguida veio Brigitte Bardot, que descobriu Búzios para o mundo, de chinelinhos. O marido, Roger Vadim, já havia desvestido a mulher devidamente aos 22 anos, em E Deus Criou a Mulher, de 1956. Veio então Ursula Andress, para arrasar, com o Satânico Dr. No e despachou o biquíni, agora sim, dos filmes e fotos para as praias, devidamente avalizado pelas mulheres. O tal “engana-mamãe”, emendado na frente, com recortes nas

| A jovem Angelina Jolie dos anos 1990 exibia asa-delta comportado.


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laterais e sem costas, não enganou ninguém. De fato, o biquíni é que reinaria após o maiô. E, depois, que homem iria se importar com o tal Mil Séculos Antes de Cristo, filme de 1966 dirigido por Don Chaffey, não fosse o modelo usado por Rachel Welch, que virou pôster para concorrer com o do Che? Mas a “verdadeira” tanga ainda seria inventada nas praias cariocas. E as controvérsias continuam. No anos 1970, teria sido a modelo Rose di Primo quem cortou as laterais do biquíni e as amarrou, criando o “asa-delta” (foto ao lado). Depois, diz-se que Zilda Maria Costa, enrolando as laterais de seu biquíni e puxando-o mais para cima, na cintura, criou a tanga. David Azulay já contou que a história partiu dos modelos de crochê (celebrizados por Fernando Gabeira na volta do exílio), que ficavam tortos — por isso, as mulheres enrolavam as laterais quando saíam do mar. Daí para o fio-dental... (Será que Jane Fonda, como Barbarella, em 1968, deu um empurrãozinho para a tanga?) Mas revolução de costumes, mesmo, quem provocou foi Leila Diniz, uma grávida de biquíni na Praia de Copacabana, em 1971, já mostrando o que viria a ser a tal da liberação da mulher nos anos 1970. De lá para cá, as mulheres aceitaram mudar cores e estampas. Nenhuma outra revolução social emplacou – nem qualquer “reforma” da moda voltada para modelos maiores, cheios de muitos penduricalhos. Ah, se existe uma unanimidade com relação ao biquíni, tanto por parte dos homens como das mulheres, é referente à tecnologia. Uma saudação à “deusa” Lycra®, lançada pela Dupont, que abriu caminho com tecidos mais maleáveis, colados ao corpo, que ficam bem com qualquer invenção de modelagem, de recortes adrapeados. Com qualquer babado. ¯

FOTOS REPRODUÇÃO

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} Paris Hilton, com modelo geométrico. Nos anos 2000, volta o conjunto de duaspeças e mesmo acabamento.


10'S | Megan Fox, no Havaí. Desconexas, as partes não conversam entre si. Desleixo ou tendência?


PELÍCULA

MULHERES

emocionante e de fotografia irretocável, o documentário mostra uma África moderna que desponta para um mundo novo

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epois de estrear com sucesso em um dos festivais de documentários mais importantes da África, o 7o Dockanema, em Moçambique, e participar do último Festival do Rio, o filme Mulheres Africanas – A Rede Invisível está em cartaz em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre e Brasília. Dirigido e roteirizado por Carlos Nascimbeni, com argumento de Mônica Monteiro, o docu-

POR DOMENICO ZECCHIN

mentário com narrativa da atriz Zezé Motta mostra a experiência de cinco grandes mulheres africanas: a moçambicana Graça Machel, ativista política e esposa de Nelson Mandela; a liberiana Leymah Gbowee, vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 2011; a tanzaniana Mama Sara Masari, empresária; Luisa Diogo, ex-primeira-ministra de Moçambique; e a sul-africana Nadine Gordimer, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura (1991). ¯


NADINE GORDIMER ~ Escritora sul-africana, recebeu o Book Prize em 1977, o Prêmio Nobel de Literatura em 1991 e a Legião de Honra, da França, em 2007. Ativista política, ficou conhecida durante o Apartheid, regime racista da África do Sul.

divulgação ®cinevideo

AFRICANAS LUISA DIOGO } Ex-primeira-ministra de Moçambique, fundou o Instituto de Desenvolvimento Tiri Pamodzi, que luta pelos diretos da mulher. Apareceu três vezes na lista das 100 mulheres mais poderosas do mundo da Forbes.

SARA MASASI } Líder empresarial da Tanzânia, é expoente do mundo dos negócios em um país muçulmano. É reconhecida e ouvida como liderança no universo político e econômico e tratada como “Mama Sara”.

GRAÇA MACHEL } Moçambicana, realizou trabalhos com a Frente de Libertação de Moçambique. Fugiu de Portugal após perseguição de Salazar. Foi ministra da Educação de seu país e é casada com Nelson Mandela.

LEYMAH GBOWEE } Ativista liberiana, liderou o movimento que acabou com a guerra civil do país, em 2003, e resultou na eleição da primeira presidente mulher da África. Em 2011, recebeu o Prêmio Nobel da Paz.


CRÔNICA BOB MUY

QUERO SER ILZE SCAMPARINI

endo mulher quero ser Ilze Scamparini, da Rede Globo. Uma combinação da Madona Sistina de Rafael (1513), e suas madeixas castanho-claras, e as opulências carnais de O Banho Turco de Ingres (1862). Ela faz ligação da Rede Globo com Deus, intermediação do Vaticano. E a coisa parece dar certo. Refiro-me ao resultado das Organizações no último período: crescimento de 36% em 2012, com lucro de R$ 2,94 bi, 36% maior, com receita de R$ 12,5 bi, num setor em que a maioria das empresas vive pedindo perdão a Deus ao divulgar seus resultados anuais. Aquela chaminé preta meio enferrujada ganha os spots de todas câmeras de televisão do mundo, até soltar uma fumacinha menor que churrasco classe média. Elegante, Ilze pensa sugerir chaminé de prata ao cardeal camerlengo, ou no mínimo niquelada, à altura do requinte da Santa Sé. E vai que ele aceita a ideia. Não importa por onde saia, fumaça branca é sempre encantada, com versão em português de... Ilze Scamparini. No resto do ano é aquela Roma sem graça, onde não acontece quase nada, a não ser quando Berlusconi ou Grillo resolvem ani-

mar o panorama humorístico do país. É verdade que as crises acabam levando a nossa (con)sagrada jornalista a tratar de assuntos menores, como a saída ou não do euro, ouvindo vitupérios em grego, que podem agredir seus delicados ouvidos, habituados a finas homilias. Mas quando chega a hora papal... lá vai ela, voz de quem fala latim todo dia com o mesmo desembaraço com que circula, entre garbosos guardas suíços multicores, pelo território branco e amarelo. Dá impressão de que pode conseguir uma entrevista exclusiva com o papa a qualquer hora: só não o faz para não incorrer no pecado capital da soberba. Uma eleição papal sem Ilze não teria a menor graça. Chez elle? De certo discreta, vida espiritual elevada, jamais rebaixada a Video Show, ou a papagaio de Braga. Eu, mulher, faria em casa o que Ilze deve fazer: carinho no marido, macarronada da mamma aos domingos, voz sempre suave no resto do dia, sem rugas, rusgas, maus-humores terráqueos. Um segredo que Ilze não revelaria a ninguém, nem a mim, mulher: acha parvenue a Capela Sistina. ¯

Madona Sistina de Rafael, 1513

Roberto Muylaert é jornalista, editor e escritor, diretor da RMC Editora. Foi presidente da ANER — Associação Nacional dos Editores de Revistas, presidente da TV Cultura e ministrochefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.

fotos reprodução

S

POR ROBERTO MUYLAERT


O Banho Turco de Ingres, 1862


WOMEN ARE MEANT TO

BE LOVED, NOT UNDERSTOOD*

*tradução do inglês: mulheres devem ser amadas, não compreendidas.

LIQUIDIFICADOR SEM TAMPA Colunismo social politicamente incorreto

E se você fosse mulher? Nunca gostei dos “Se...”, essa fabricada e antinatural invenção cartesiana. A grande maioria das perguntas e afirmações cotidianas — que começam com essa conjunção condicional — não passam de retumbantes estupidezes JEROME VONK, DA EDITORA O FIEL CARTEIRO | WWW.OFIELCARTEIRO.COM.BR


Do tipo: — Se Winston Churchill estivesse vivo, ele faria 139 anos. (Como assim? Mortos envelhecem e aniversariam, e eu não estou sabendo?) — Se Janis Joplin não tivesse se drogado tanto, ela provavelmente estaria entre nós até hoje. (Pode até ser, mas não foi o que aconteceu. Ela morreu. Ponto final.) — Se eu tivesse estudado economia em vez de psicologia, hoje seria mais feliz. (Sem comentários.) — Se eu fosse mais magro e andasse sobre as águas, eu seria Cristo. (This is probably the beer talking.) — E se você fosse mulher? — Eu seria um travesti. O “Se” é a ponta do iceberg de uma doença exclusivamente humana e extremamente contemporânea. Ele representa a patológica necessidade de sempre se estar justificando os atos e (sobretudo) os fracassos próprios. E, pior, é também uma maneira aparentemente inofensiva (e extremamente perigosa) de se reescrever o passado e jogar a culpa em ombros alheios. — E se você fosse mulher? — Eu seria um travesti. — Mas, assim, você ainda seria homem.

— E se você fosse mulher? — Eu seria um travesti. — Mas, assim, você ainda seria homem. — Exatamente... Se eu fosse mulher, não passaria de um homem disfarçado de mulher. Women are meant to be loved, not understood. Oscar Wilde, cujas observações e pinçadas sobrevivem há mais de um século, afirmou que as mulheres devem ser amadas e não compreendidas. Qualquer homem (putz, O Inevitável Oposto aparece de novo!) concorda, sem pensar nem piscar os olhos. A comum explicação masculina – que se ouve por aí ou na qual se tenta acreditar desesperadamente, para não se perder o orgulho e a razão – é que as mulheres não são racionais. (pausa para uma reflexão paralela e correlata) Confesso estar incomodado com a pergunta “E se você fosse mulher?”. A bronca decorre da ocasião na qual e pela qual a pergunta me foi feita — a comemoração do dia 8 de março. Ampliando a crítica, meu desconforto diz respeito às efemérides e de nossa necessidade doentia de evidenciá-las em nosso calendário. Dia disto, dia daquilo, semana do sei lá o quê, ano da casa do chapéu e por aí vai. Se o assunto é importante, deveria ser observado todos os dias.

Os “Se” normalmente envolvem certas entidades mentais — Os Inevitáveis Opostos — que insistem em povoar nossa realidade e controlar nosso entendimento, Neste sentido, proponho a abolição do inseridos e martelados a golpes de matraca Dia da Mulher e de todas as outras datas em nossos crânios. artificialmente impostas e automaticamente comemoradas, por força do hábito. (Neste quesito — diga-se de passagem — os sistemas educacionais e os meios de Women are to be loved, not understood. comunicação são campeões olímpicos). (Oscar Wilde) Women do love us and Alguns exemplos: homem/mulher, DO understand us (o colunista). capitalista/comunista, pró/contra, aquele que tem fé/ateu, preto/branco, bonito/feio, As mulheres nos amam, sim, e jovem/velho, rico/pobre... Dividir o mundo em dicotomias, classes, além disso nos compreendem. A recíproca, porém, não é verdadeira. cotas (aaaarghh!) é um vão exercício para A responsabilidade é nossa, não delas. quem não tem o que fazer, quando não a expressão de um sadismo disfarçado de Desculpem a(s) nossa(s) erudição e requinte. falha(s), e obrigado por nos Que, no final das contas, deturpa e amarem e nos entenderem. corrompe a visão da realidade.

JEROME VONK ADORA AS MULHERES, ESPECIALMENTE UMA: AQUELA QUE SORRI PARA ELE TODAS AS MANHÃS.


TENDÊNCIA

INTIMÍSSIMO!

G

SEGREDINHOS DESTES QUE ACOMPANHAM AS MULHERES DESDE O EGITO ANTIGO POR REGINA GAUER

rande, pequeno, com abas laterais, interno, desenhado e até colorido, o absorvente feminino foi uma das invenções que nasceram não só por questões de higiene. O acessório permitiu às mulheres participar da vida social em suas comunidades todos os dias do mês. Já imaginou como seria sem ele? Essa conquista não foi simples, mas as soluções e o design se aperfeiçoaram para facilitar a vida feminina e torná-la mais prática. Por séculos, diversas culturas buscaram soluções para esse probleminha mensal. No Egito antigo, por exemplo, folhas de papiro amaciadas (1) eram transformadas em absorventes íntimos. Na Grécia, utilizavam-se pedaços de madeira envoltos em linho (2), o que com certeza não devia ser nada confortável, e em Roma usavam chumaços de lã (3). Durante a Idade Média, retalhos de tecido eram dobrados em formato de toalhinhas (4), que eram lavadas e reutilizadas. Todas essas técnicas bastante precárias propiciavam a proliferação de bactérias e o aparecimento de alergias, não sendo muito funcionais. A grande mudança veio com a criatividade das enfermeiras americanas, que em posse de algodão e gaze (5) criaram os primeiros modelos descartáveis para o próprio uso. Daí para a frente, o absorvente evoluiu para modelos presos à cintura, como uma calcinha, e mais tarde ganharam a aplicação de fita adesiva, evitando o uso de alfinetes. Os formatos também foram se alterando com o tempo, deixando de lado o retangular e acolhendo curvas que o tornaram mais anatômico e confortável. Surgiram soluções alternativas como os copos reutilizáveis de material flexível, uma invenção da Segunda Guerra que ganhou visibilidade recentemente com a crescente preocupação com relação à sustentabilidade.

A evolução do absorvente enfrentou desafios não apenas no campo da tecnologia e do design, mas principalmente na construção de sua imagem perante as consumidoras. Durante muitas décadas, a indústria investiu na divulgação dos benefícios do produto para incentivar sua aceitação, combater a vergonha e o preconceito. A imagem da liberdade da mulher foi explorada pelas empresas, que investiam na ideia de que agora era possível fazer as mesmas atividades de um dia normal graças ao milagroso produto. As mocinhas modernas não precisam mais escrever absorvente em pedaços de papel e discretamente entregar ao balconista na farmácia, nem muito menos se preocupar em esconder as caixinhas, disfarçando-as como pacotes de lenço ou bombons. O grande desafio agora está em fazer os absorventes chegarem à população de baixa renda, como na Índia, onde ainda hoje 300 milhões de mulheres não têm acesso a ele e acabam perdendo grandes oportunidades de vida e estudo por conta disso. Projetos inovadores vêm criando produtos de custo acessível, como os absorventes feitos de folha de bananeira em Ruanda (6). Em Uganda, um produto sustentável produzido pelas comunidades foi ganhador do prêmio de design da revista Core77, em 2012. Desenvolvido por designers a partir de pesquisas etnográficas, ele pode ser recheado com papel higiênico ou tecido. Estas são as verdadeiras inovações que prometem transformar a vida de milhões de mulheres, através de um produto à primeira vista simples e quase óbvio, mas que tem poder de alterar largamente o papel social delas, dando novas oportunidades e perspectivas. Quantas outras revoluções sociais não estão bem debaixo de nosso nariz, camufladas sob a forma de objetos aparentemente banais?¯

Absorventes sustentáveis criados em Uganda em uma parceria entre designers e a comunidade: revolução.

Regina Gauer é apaixonada por livros e obstinada por viajar e aprender novas coisas. Arquiteta pela FAU-USP com MBA pela FGV, atua como consultora de tendências para empresas ao redor do mundo, oferecendo insights criativos e inovadores.


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DETALHE EM FOCO

} Escultura, edifício, obra de arte, objeto de design. A cada edição, lançaremos o desafio aos leitores de, a partir de um recorte da obra, decifrar a origem do nosso Detalhe em Foco. Mande suas sugestões para ameizing@rmceditora.com.br No próximo número revelaremos de onde vêm as retículas brilhantes da foto.

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NA EDIÇÃO PASSADA: a Mesquita Sheikh Zayed fica em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. Mais de 3 mil operários foram responsáveis pela construção do templo majestoso, que teve matéria-prima importada de diversos países, como Itália (mármore), Alemanha (cristais), Marrocos, Índia e Paquistão (tapeçaria), entre outros. A mesquita coberta de ouro 24 K pode receber até 40 mil visitantes. Inaugurada em 2007, tem 80 cúpulas e mais de mil colunas. O interior é coberto pelo maior tapete do mundo, que mede 5.627 m2 e pesa 47 toneladas.

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Num sítio ao sul da capital, o complexo original foi sinônimo do poder do império. Erguidos entre os anos de 212 e 217 d.C., os arcos abrigaram o maior complexo termal de todos os tempos, alimentado por um sistema inteligente de abastecimento de água


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